2ª EDIÇÃO
2019
DOMINIC
1 mês atrás
DOMINIC
AGATHA
DOMINIC
AGATHA
AGATHA
O club estava vazio hoje, não vaziiiio, mas com menos homens que o
habitual. Nesse momento levava uma bebida para um homem barbudo que
aparentava estar na faixa dos 50 anos de idade, e que já havia bebido uns
cinco copos de whisky. Ele me olhava e se insinuava para mim, todavia, eu
nem dei atenção nas primeiras vezes, mas agora...
— Qual seu preço, docinho? — Indagou, após me analisar.
— Para um homem que nem você? Nem todo o dinheiro do mundo! —
Sorri sarcasticamente.
Tomei um tapa na bunda, e ele me olhou de uma forma divertida.
— Toda mulher tem um preço. — Grunhiu.
— Se me tocar de novo eu juro que arrebento sua cara! — Olhei furiosa
na direção dele, e quando o homem fez menção de falar alto ou se agigantar
perante mim, rapidamente fez uma cara preocupada, voltando-se para outra
direção.
Eu boto medo nos homens!
Me virei para continuar o meu trabalho e Dominic estava atrás de mim
olhando irritado para o cara.
Ou não boto tanto medo assim!
— Do que precisa? — Disse rispidamente.
— Percebi que precisava de ajuda, por isso vim até aqui.
— Não mais. E pare de ficar me observando lá de cima! — Me referi
ao camarote.
Saí do seu campo de visão.
É incrível! Parece que Dominic tem olhos por toda a extensão da casa
noturna, especialmente quando estou em um local teoricamente isolado.
— Jesus! Por que ser tão arisca assim?
— Você está em todos os lugares, e isso me chateia. Me irrita, na
verdade. — Bufei.
— Do jeito que fala comigo parece que você é a chefe e eu o
subalterno.
— E você adoraria isso, não é? — Forcei um sorriso.
— Talvez.
Alguns segundos se passaram e sorri de forma verdadeira, ficando até
mesmo um pouco sem graça. Dominic fez o mesmo, e por um momento,
apenas por uma fração de segundo, reparei que seu rosto estava diferente do
habitual.
O que esse homem guarda para si?
— Aproveitaria e lhe cantaria de alguma forma, como habitual, mas
hoje não. Bom restante de trabalho.
Ele se virou.
— Aonde vai? — Perguntei já me arrependendo.
— Quer saber mesmo?
— Por que não? — Tentei sorrir.
— Fui pago para transar com uma mulher teoricamente famosa, e estou
indo fazer o serviço.
Era melhor não perguntar.
— Entendo. Eu... — Travei.
O que diria para ele? Vai lá, bom trabalho! Ou poderia dizer "goze
rápido”. Ah, sei lá.
— Como você disse uma vez, eu sou um prostituto. E, por mais que
não pareça, estou bem com esse título.
Dominic não disse mais nenhuma palavra, e logo depois sumiu das
minhas vistas...
DOMINIC
Não sei o que me deu em pedir para ser amiga de Dominic. Acho que
tenho necessidade de ter alguém para conversar. Não... Isso soa muito fora do
padrão. O que ganho perto desse homem?
Pense, Agatha!
Ele me provoca, me irrita, se insinua, me atiça...
Já sei!
A resposta é que meus hormônios estão pulando, e pelo visto eles
querem dançar com Dominic. Não vejo outra resposta possível, e nem quero
ficar remoendo esse homem em minha cabeça.
— O que tanto pensa para que essas fumaças estejam se dissipando da
sua cabeça?
— Na vida.
Eu e Laura estávamos assistindo Grey's Anatomy em nossa casa. Em
alguns momentos eu queria ser igual às personagens da série: elas transam
como se o mundo fosse acabar amanhã, parecem não se importar muito com
a opinião alheia, e nem mesmo se apegam aos homens, em alguns casos.
— Você precisa de um macho alfa em sua vida. — Disse.
— Eu sei.
— Concordando com tudo o que digo? — Indagou me olhando.
— Sim.
— Respostas curtas... A coisa tá feia.
Gargalhei.
— Me diz... Depois da noite com Dominic, você teve mais... Alguma?
— Me virei a fitando, querendo conversar mais sobre esse assunto.
— Com ele não. Nenhuma de nós teve.
— "Nós"?
— Estou me referindo às garçonetes. Ele foi claro que seria somente
uma vez, e foi.
Uma vez...
— É sério? Por que uma vez?
— Dominic falou para não confundirmos trabalho com prazer.
Mencionou que transar com ele faria com que trabalhássemos melhor, e
também disse que ele não é o espelho de homem para nós.
É típico de ele dizer uma frase assim...
— E vocês aceitaram, pelo visto.
— Claro! Até porque foi verdade! Me sinto leve feito uma pluma até
hoje. — Ela simulou voar e dei risadas estridentes.
— O que ele faz de tão especial?
— Vou contar no seu ouvidinho, amiga... — Laura chegou perto de
mim, e quando pensei que ouviria algo decente, a louca disse: — Descubra
por si só!
— Te odeio! — Uma das almofadas foi de encontro ao seu corpo, e
começamos uma guerra nada convencional.
Depois de cairmos exaustas no sofá e rirmos pra caramba, olhei para
cima, imaginando como seria passar uma noite com Dominic.
— É normal, amiga. Não é o que Dominic faz com a gente, e sim o
modo como ele nos tratou. Posso falar por todas, visto que o jeito que ele nos
fez sentir foi único.
— Laura...
— Pode parecer esquisito o que falarei agora, mas ele nos fez sentir
como princesas, mas minutos depois... Como prostitutas.
Uma risadinha abafada saiu de sua boca, e a curiosidade aumentou
mais ainda em minha mente. O que será que essa mulher quis dizer com isso?
CAPÍTULO 6
AGATHA
É estranho dizer que tenho uma potencial amiga, ainda mais um cara
como eu. Quer dizer... Somente se for normal ter desejos insanos por essa
mulher. Sendo assim, tudo bem, posso me conformar com essa alcunha.
Agatha não sabe ainda o efeito que causa em minha cabeça, e não estou
acostumado a ser rejeitado sexualmente por uma mulher, ainda mais por uma
que desejo a todo custo ter em minha cama. A questão é que ela está
conseguindo não se deixar seduzir, e não entendo o porquê. O que há de
errado comigo?
Seria tão mais fácil se ela se entregasse... Me pouparia tempo, e além
de tudo faria maravilhas com o corpo dela uma única vez. O que há de tão
ruim nisso? Sou bom em proporcionar prazer, contudo, a pequena continua
relutante...
O club estava fechando, e de relance a vi conversando com uma das
garçonetes. O sorriso de Agatha é lindo, e por mais que não seja o que eu
observo inicialmente em uma mulher, posso dizer que sua boca chama
bastante atenção. Ela toda, na verdade.
Fui em sua direção decidido. Adoro provocá-la, e tenho consciência
que um dia ela irá ceder. Bem, vamos ver até onde a minha amiga aguenta...
— Você poderia ser minha secretária particular. — Recostei meu corpo
perto do bar temático.
— Depende... — Parou. — Eu ganharia mais e lhe veria menos?
Gargalhei, a analisando de cima a baixo.
— Acho que sabe que é o contrário. A intenção é outra.
— Não, obrigada. Eu passo. — Piscou e entrou no bar à procura de
algo.
— Que tal outra massagem?
— Que tal me deixar trabalhar? — Devolveu a pergunta com outra.
— Estamos no fim do expediente. Outra garçonete pode fazer o seu
serviço, se quiser...
— Não! Odeio passar para terceiros meus afazeres.
— Hum.
— Precisa de mais alguma coisa além de me provocar, amigo? —
arrastou a palavra, como fiz da última vez.
— Não.
Por enquanto não...
AGATHA
Bati duas vezes na porta do camarim, e logo depois ouvi uma voz
dizendo: — Pode entrar!
Quando entrei em seu camarim... Jesus!
— O que foi, meu bem? — Dominic sibilou com o semblante inocente.
Inocente uma ova! Ele está de cueca vindo em minha direção...
— Nada.
Dominic se dispôs a centímetros de mim, e minha respiração ficou
pesada.
— Pode soltar o ar, pequena. Não irei lhe fazer mal algum.
Merda! Ele sabe!
— O que... Quer? Falaram que você havia me chamado. — Sibilei, me
controlando para não enrolar as palavras.
— O que eu quero? — Ele olhou para o teto, tentando relembrar algo.
Logo depois suspirou. — Sendo direto: você! A quero nua em minha cama, e
o mais rápido possível!
Dominic roçou seu corpo no meu, e nesse momento vi que estava
completamente perdida. Estava sem transar a muito tempo, sem ter um
orgasmo decente há meses e com os hormônios pulando ao observar o corpo
de Dominic. E o pior de tudo é que esse homem não ajudava em nada, pois
além de ser um deus grego, ainda me olhava como se eu fosse um pedaço de
carne suculenta, e isso estava fugindo do meu controle.
— Na maioria das vezes não temos o que desejamos. — Saí do seu raio
de ação, não querendo sair.
Deus...
— E a nossa amizade?
Que tipo de pergunta idiota é essa?! Que amizade?! Acho que Dominic
não é capaz de ter esse tipo de relação com uma mulher.
— Poderíamos esquecer por hoje. Há quanto tempo não transa? Seis
meses!
Mas como esse homem sabe tanto sobre mim só me olhando? Não é
possível que deixo transparecer que estou há tanto tempo sem um sexo
decente...
— Isso não vem ao caso agora. Minha vida sexual não é algo que fico
discutindo com terceiros.
— Se tivermos uma noite, é você quem irá pedir uma segunda. —
Piscou, e refleti sobre suas palavras. Como é difícil se portar como uma
mulher indiferente quando ele está por perto...
— Duvido! — Menti.
— Posso te provar... — Foi chegando mais perto, e uma pequena brasa
se intensificava em mim.
— Pare com isso! É golpe baixo! Você não sabe nada sobre mim. Eu...
Não me entrego, não mais! — Me atrapalhei com as palavras, falando
rapidamente. Logo após, reparei em seu corpo e o cobicei.
Deus... É errado ter desejos carnais por alguém como ele? Se Dominic
fosse pelo menos um homem normal.
— Qual o mal de se entregar, pequena?
— Os homens não prestam! — Disse com raiva, o olhando firmemente.
— Tenho certeza que não é exceção a essa regra, muito pelo contrário, você é
exatamente a perfeição desse princípio.
— Gostaria de saber mais... — Segurou uma mecha do meu cabelo e
sorriu.
— Não posso lhe explicar. Você nunca gostou de fato de uma mulher.
— Falei, com esperança de estar dizendo a verdade.
— Você tem razão. — Foi chegando mais perto, e a distância estava
arriscada, pois seu corpo...
Preciso sair daqui, não posso me entregar...
— Pare! Eu não quero!
— Seu corpo fala por si, Agatha. Quando é que irá perceber a verdade,
me diz? — Parou, me analisando friamente. — Em minha opinião, você já
tem a absoluta certeza que me quer, entretanto, está se fazendo de forte por
um motivo até então desconhecido por mim. Mas... Irei descobrir.
— Boa sorte com isso!
Lentamente cortei o contato com Dominic, e ele me deixou ir sem dar
um passo sequer. Seu semblante estava divertido, e tenho certeza que sua
diversão é me deixar embaraçada. Realmente preciso de um homem em
minha vida o mais rápido possível...
CAPÍTULO 7
DOMINIC
Sweet dreams are made of this / Bons sonhos são feitos disso
Who am I to disagree? / Quem sou eu para discordar?
I've traveled the world and the seven seas / Eu viajei pelo mundo e pelos sete
mares
Everybody's looking for something / Todo mundo está procurando alguma
coisa
AGATHA
Não pude conter a felicidade em receber esse beijo, e fiquei por mais
uma hora no club, pensando se voltaria ou não para dizer a Dominic o efeito
que esse acontecimento provocou em mim.
Depois de pensar muito no que faria, dei passos firmes na direção do
seu camarim. Bati uma vez na porta...
Nada de ser atendida ou ouvir sua voz!
Bati novamente, e ao olhar a fechadura, notei que a porta não estava
trancada. Resolvi girar a maçaneta; quando adentrei no espaço, percebi
Dominic se contorcendo na cama, e aparentemente se debatendo. Fui para
mais perto do seu corpo, e fiquei tensa por ver a maneira que ele se
encontrava na cama.
— Acorde! Acorde!
Ele parecia estar alucinando. Não, ele realmente estava tendo
alucinações. Seus olhos estavam diferentes, não fixados em ponto algum.
Com muito custo, consegui trazê-lo à “realidade”. Ao me observar, ele não
percebeu de imediato quem eu era, somente momentos depois.
— O que está fazendo aqui? — Arregalou os olhos, se esquivando de
mim.
— Dominic... Você precisa de um médico!
— Não! — Falou alto. — Só preciso de um tempo. — Prosseguiu,
tentando ficar de pé, mas com grande dificuldade.
A preocupação era evidente em meu rosto, e não entendi o porquê
Dominic fica assim algumas vezes.
O que tanto o aflige? Não sei exatamente o motivo, entretanto, segurei
seu rosto com minhas duas mãos, quase suplicando para que ele contasse o
que se passava em seu coração e, principalmente, em sua cabeça.
— Dominic... Me diga, o que está havendo com você? — Tentei
inspirar confiança, com a face convidativa.
— Não lhe interessa! — Bradou e desviou o olhar.
— Por favor! Somos amigos!
— Amigos... — Debochou. — É sério que acha isso? Eu quero foder
com você, não quero sua amizade!
Por que ele está falando assim comigo? Não entendo esse nervosismo.
— Dominic, não...
— Saia, Agatha. Por favor, saia daqui, eu... Irei ficar bem. — Me
cortou, ainda com o semblante transpassado.
— Não saio! — Bati o pé.
— Agatha... Não vou falar de novo! Saia! Agora! — Gritou.
— Não! — Berrei de volta.
— Que inferno, mulher! Do que precisa para sair daqui? Dinheiro! Eu
tenho guardado aqui, espere... — Tentou ir em direção a uma gaveta, mas
caiu perto da cama. O ajudei a levantar, mesmo contra sua vontade.
— Me largue! — Cuspiu essas palavras.
— Você é uma babaca se acha que dinheiro é tudo na vida! Maldita
hora que te conheci! Na verdade, nem sei o que estou fazendo aqui! Você não
merece minha preocupação!
— Concordo. O que continua fazendo na minha presença?
O observei com perplexidade, mas certa que ficaria com ele até essa
crise ser amenizada. Não sou o monstro que aparento.
Sentei-me na poltrona, o fuzilando com o olhar.
— É incrível sua teimosia... — Disse, mas depois virou-se para o lado.
Não falamos mais nada, e durante os minutos seguintes fiquei de olho
em Dominic. Ele se deitou e fitou o teto sem fechar os olhos. Pelo visto, os
demônios dele são mais fortes do que imaginei inicialmente...
CAPÍTULO 9
AGATHA
AGATHA
Um dia se passou desde que Agatha viu o que realmente sou por
dentro, o homem que desejo esconder a todo custo. Ela viu minhas fraquezas,
vulnerabilidades, e mesmo assim quis me ajudar. Não sei qual o problema
dela em auxiliar um homem sem perspectivas como eu. Não entendo e nunca
irei.
O que não estou conseguindo aceitar é o porquê não paro de pensar
nela e em suas últimas palavras para mim. É difícil ter pensamentos em
alguém que não seja eu mesmo, e por isso estou me sentindo estranho,
tentando desesperadamente explicar para o meu consciente o motivo de ela se
fazer presente em minha vida dessa maneira.
Saí do club e fui em direção à academia. Precisava malhar e espairecer.
AGATHA
DOMINIC
Faz uma semana que Agatha está trabalhando como coordenadora das
garçonetes, e estou surpreso por ela amenizar algumas questões recorrentes
no club. Além de bastante comunicativa, Agatha conseguiu resolver
problemas até mesmo com certos homens que assediavam algumas meninas.
Dei carta branca a ela. Disse que o intuito do club são os homens se
entreterem com as strippers, e não com as garçonetes, e disse para Agatha
que tomaria uma medida drástica quanto a isso, visto que percebi que essa
atitude estava se repetindo.
Em suma, acabei decretando que se qualquer homem assediasse alguma
garçonete seria expulso imediatamente do club. Confesso que levei muito
tempo para tomar uma atitude dessas, mas não foi por birra ou algo parecido,
simplesmente pensei que algo assim não daria certo, só que, pelo visto, nessa
semana nenhuma das meninas reclamou com Agatha a respeito de serem
assediadas.
Foi ela quem clareou minha mente para fazer isso, e vi que foi uma
ótima ideia. Eu dobrei o salário de Agatha, e percebi que ela estava
trabalhando mais feliz. Sei que ela tem dificuldades com grana, e depois que
ouvi a história do seu ex-namorado tive vontade de ajudá-la de algum jeito.
Entendam: eu não a promovi por causa disso, e sim por sua competência. Ela
notoriamente é a mais forte das garotas, e preciso de alguém com pulso firme.
Hoje é o dia de folga dela no club, mas Agatha disse que viria para me
contar algo. Confesso que estou curioso, e essa mulher me atiça
continuamente, de forma proposital, há de se destacar. Ainda pensando sobre
o que Agatha diria, me deparei com a pequena vindo sorrindo em um dos
bares temáticos, em minha direção.
Meu Deus...
A mulher estava um espetáculo! Seu vestidinho preto, bem como seu
batom vermelho e seu salto alto me deixaram hipnotizado. Além de tudo,
suas vestimentas estavam requintadas de um modo nunca presenciado por
mim.
— Oi, amigo.
A encarei por alguns segundos, curioso. Por que ela está tão enfeitada?
Algo não está certo...
— Por que está assim?
— Ah, gostou? — Deu uma voltinha e meu pau começou a latejar.
Além de gostosa é provocante...
— Gostei tanto que estou pensando seriamente em te agarrar nesse
instante.
— Se controle! Hoje é uma ocasião especial! — Mudou de assunto,
simulando descontentamento.
— Sério?
— Sim. Dia do “desencalhamento”.
— O quê? — Essas gírias malucas dão um nó em minha cabeça.
— Tenho um encontro em algumas horas! — Bufou, contrariada por eu
não ter entendido sua palavra esquisita.
— Você... — Parei. — O quê?! — Por um momento a ficha não caiu,
entretanto, instantes depois raciocinei bem sobre as suas palavras.
Nem preciso dizer que meus olhos soltaram faíscas. Por que essa
mulher não me disse uma coisa dessas antes? Tinha mesmo que ser no dia, ou
melhor, na hora?
— Você me parece nervoso. O que houve?
— Não é isso. — Desconversei. — É que... Por que não me falou sobre
esse encontro?
— Ah... Estou dizendo agora. — Sorriu. — É que tudo aconteceu pelo
Tinder, e você sabe, melhor contar no dia, você não é muito fã do aplicativo.
— O que eu disse a você sobre o Tinder?
— Ah, me erra! Hoje você irá se divertir também. Pelo que fiquei
sabendo uma mulher maravilhosa se entregará a você.
Bem lembrado...
Rosana, uma mulher da alta sociedade, marcou uma pequena noite
comigo, mas não consigo pensar mais nela, não vendo esse espetáculo de
mulher com a bunda empinada bem em minha frente. Sei que um dia Agatha
irá me matar de tesão.
— Agatha, você não se importa em ter um amigo que faz esse tipo de
coisa? Que usufrui das mulheres para benefício próprio, e que ganha dinheiro
com isso?
Não entendi o motivo de eu tocar nesse assunto, mas disse o que estava
pensando.
— Um prostituto. — Disse. — Pode falar. É estranho, mas se gosta
disso, o que posso fazer?
Caminhei para mais perto dela, e foquei em seu rosto. Quero fazer
tantas perguntas para essa pequena, indagações para as quais nem eu mesmo
tenho resposta certa.
— Em sua opinião, você acha que eu conseguirei gostar somente de
uma mulher até eu morrer?
— Quer que eu seja sincera?
— Esse é o ponto.
— Não. Em minha opinião você nunca se livrará dessa alcunha.
Realmente acho que você gosta dessa parte do seu trabalho. Dificilmente uma
mulher mudará isso em você.
Continuei a fitando por vários segundos, e certo receio tomou conta do
meu corpo. Quando a observo algumas coisas fogem do meu controle, mas a
vendo falar assim...
Pelo menos ela é sincera...
— Você está certa. — Virei-me.
— Era essa a resposta que queria ouvir de mim?
— Sim. — Menti. — Não esperaria outra coisa vinda de você. Sua
sinceridade me encanta.
Seu olhar tomou uma forma emblemática.
— Espero que tenha um bom encontro. Até amanhã.
Sorri forçadamente e virei-lhe as costas, indo para um dos locais em
que mais me acostumei estar: meu camarim.
Estava precisando descansar. Hoje passaria a noite com Rosana, e
preciso que meu corpo esteja em harmonia com a minha cabeça. Dou valor
ao dinheiro que ganho com minhas noites, e isso não pode mudar. Preciso
tirar Agatha da minha cabeça, ao menos por hoje...
***
Minha mãe não fixa mais o olhar no meu, e a cada dia que passa toma
mais remédios. Estava com ela em seu quarto, a observando.
Seus olhos abriram e sorri. Logo depois fui em direção ao guarda-
roupa pegar uma pequena manta para envolvê-la.
— Você é uma aberração, sabia?
Não disse nada, somente a enrolei na coberta. Minha mãe estava com
olheiras e seu rosto continuava pálido, sem vida. Não suportava vê-la assim,
e daria tudo para ter morrido no lugar da minha irmã.
Lucy...
A filha preferida da minha mãe estava enterrada, a pessoa que mais
amei em toda a minha vida. Tenho que confessar que nem mesmo por minha
mãe eu consigo ter sentimentos tão fortes quanto por Lucy. Apesar das
brigas e discussões acaloradas, eu amava de verdade a minha irmã, e por
mais que fôssemos meio-irmãos, sempre a vi como igual.
— Vá embora, Dominic!
— Estou indo, mãe, lhe deixarei confortável primeiro, e depois...
— Não! Vá embora dessa casa! Você não é bem-vindo aqui. A pessoa
responsável pela morte da sua irmã é você! Eu te odeio!
— Mãe, você não está bem. Eu cuidarei da senhora.
— Eu deveria ter feito um aborto! Quem em sã consciência teria um
filho de um estuprador?! Você me dá nojo! Saia daqui! — Gritou.
Comecei a tremer, e algumas lágrimas escorreram do meu rosto.
Pensei que nunca mais ouviria isso da boca de minha mãe, mas novamente a
verdade veio me assombrar. Ser filho de alguém assim é... Não sei expressar.
Uma maldição!
Há cerca de duas décadas minha mãe saiu à noite para fazer compras
e, enquanto colocava as sacolas no carro, um homem se aproximou dela,
forçando-a contra o carro. Minha mãe se desesperou e tentou fugir, todavia,
o homem bateu muito nela, a deixando desacordada. Após isso acontecer, a
levou para o interior do carro dela, e no banco de trás... Acho que já sabem.
Além de agredida ela foi estuprada. O culpado nunca foi pego, e ninguém viu
ou ouviu nada.
Sabe o que é o pior de tudo? É que eu sou fruto desse estupro! Após
descobrir que estava grávida, minha mãe pensou em me abortar. Não a
culparia por isso, era melhor eu não existir. Fui um erro!
Depois de pensar muito, ela resolveu dar à luz, mas nunca me tratou
como um filho. Minha mãe era casada na época, e depois de eu nascer, ela
ficou grávida do seu esposo. Posso dizer que Lucy foi a salvação do
casamento deles durante um tempo.
Os dois se confrontavam direto antes da minha mãe resolver me
conceber, e ele sempre a ameaçava dizendo que iria embora se eu nascesse.
Acho que ele ficou por causa de Lucy, quando descobriu que minha mãe
estava grávida novamente; essa é minha opinião.
Só que não durou muito tempo, e a convivência entre nós quatro na
mesma casa não era boa, principalmente quando atingi minha adolescência.
Harold também me tratava como um lixo, como um erro. Não o culpo, eu sou
uma aberração e não posso julgá-lo.
Depois de alguns anos, ele a abandonou e estou ciente que fui o
motivo. Mesmo assim, minha mãe não me expulsou de casa, e me aproximei
mais ainda da minha irmã. Agora uma coisa dessas acontece...
Perder a minha irmã e melhor amiga está sendo um baque para mim.
As pessoas à minha volta estão fadadas a se afastarem ou... Morrer!
— Eu te odeio, Dominic!
— Eu te amo, mãe!
Saí do quarto, e não sabia bem o que fazer. Os sentimentos pela minha
mãe continuavam crescentes apesar de tudo, e nesse momento eu e ela
estamos sozinhos contra o mundo. Eu tenho ela, e minha mãe tem a mim. O
problema disso tudo é que não estou mais aguentando ser tratado assim...
AGATHA
Foi difícil revelar o meu maior segredo para Agatha. Meu maior medo.
Me sinto vulnerável revelando essas informações para alguém. Apesar
de ter certeza que ela deseja me ajudar, tenho receio da maioria dos fatos que
envolvem meu passado, para não dizer tudo. Prefiro que certas lembranças e
acontecimentos fiquem em minha memória, mas essa pequena está
quebrando barreiras que julguei serem intransponíveis, e isso não é algo
normal.
Eu e Eduardo estávamos no camarote do club, porém, não havíamos
conversado sobre quase nada. Minha mente estava longe, e a conversa com
Agatha ainda não havia sido digerida completamente. Posso dizer que estou
surpreso comigo mesmo por revelar o modo como nasci; só que agora não
tem mais volta, e por mais que tenha sido errado expor esse acontecimento, o
que foi dito não pode ser apagado.
— Você está preocupado.
— É impressão sua.
Eduardo me analisou friamente e coçou a cabeça. Não sei bem o que
ele pensava, mas acabou não demonstrando inicialmente.
— Todos nós temos dias ruins. Até entendo você não compartilhar, só
que lhe conheço melhor que imagina. E outra coisa: eu e você temos poucas
amizades. Então, querendo ou não, acabamos reparando mais em alguns.
— É estranho que diga isso. Não sou do tipo que gosta quando um
homem repara em mim. — Tentei contornar a situação.
— Você entendeu o ponto. Vai me dizer do que se trata ou prefere
guardar para você?
Essa é uma resposta bem óbvia e fácil.
— Prefiro manter comigo. Você não pode me ajudar, e para algo assim
acontecer, eu precisaria nascer de novo. — Pigarreei. — Sabemos que isso
não acontecerá, então... — Deixei no ar, torcendo para que ele não retornasse
ao assunto.
— Certo.
Por alguns minutos analisamos o movimento da casa, e certo orgulho
tomou conta de mim. Apesar de inexperiente na parte de empreendimentos
em geral, estou notando que o club está crescendo e atraindo cada vez mais
clientela. Estou observando também que as garçonetes estão sobrecarregadas
e que as strippers estão dividindo suas atenções para mais homens. Acho que
precisarei contratar mais mulheres para essas duas funções.
— E a menina? Como é o nome dela mesmo... Ah, Agatha. Conseguiu
alguma coisa?
Ele tinha que tocar no nome dela, logo a mulher que não sai mais da
minha cabeça... E isso porque nunca a tomei!
— Não.
— E Heitor?
Havia contado a ele a proposta que meu amigo fez alguns meses atrás.
Na verdade, a proposta foi direcionada a ela, mas o idiota aqui deu uma de
“mensageiro”. Agora me arrependo disso, porque ela não me vê como um
homem que impõe confiança.
— Ela quase me mandou à puta que pariu depois que mencionei que
Heitor queria pagar para ter uma noite com ela.
Eduardo gargalhou no sofá em que estávamos sentados, e devido à
intensidade tive que esboçar um sorriso discreto também. Não esperava
menos de Agatha, não a conhecendo melhor como agora.
— O que esperava, Dominic? Você realmente acha que todas as
mulheres colocam preço em si mesmas? Se acha isso posso dizer que está
precisando conhecer mais sobre elas.
— Eu já devia esperar algo assim. Ela é diferente.
Eduardo me olhou desconfiado. A forma como falei foi dotada de
admiração, e tenho certeza que nem mesmo ele está acostumado a ouvir isso
de alguém como eu.
— Você passou alguma noite com ela? — Inquiriu, me analisando
friamente.
— Não. — Respondi quase no mesmo instante.
— E por que está falando desse jeito? Nunca ouvi você dizer algo
admirável sobre alguma mulher.
Eu sabia...
— Eu falei normalmente. Ela trabalha para mim. Nada mais, nada
menos. — Menti.
— Sei...
— Vai ficar me julgando? Logo eu que passo a noite com várias
mulheres que não significam absolutamente nada para mim? — Olhei
enfezado para ele.
— Me desculpe. Não está mais aqui quem falou. — Levantou as mãos,
simulando estar rendido.
— Aproveite o club, e não fique tentando descobrir episódios que me
rondam, por favor.
— Na verdade, acho que irei conversar com Agatha. Quem sabe eu
tenho uma sorte melhor que Heitor, não é? Sou mais bonito e gentil, não fico
taxando preços. Que tal?
Pelo meu olhar em sua direção ele deve ter percebido o quanto “gostei”
da ideia da menção de abordar Agatha. Não sei o que me dá, todavia, nos
últimos tempos não gosto quando se referem a ela com desejo, e estou
deixando isso bem claro.
— Entendi. — Sorriu e se levantou. — Vou analisar o ambiente. Até
mais.
Acenei com a cabeça, e logo depois voltei minhas atenções a certa
mulher que estava trabalhando sem parar. Não pude conter o desejo em meus
olhos, mas quando ela me viu, logo dispôs um sorriso sincero, e meu coração
começou a pulsar descompassado.
Que raios Agatha está fazendo comigo...?
Havia acabado de chegar em casa. Estava exausto, pois tive que vir a
pé de um local muito distante. Não dispunha de muito dinheiro, e isso era um
grande problema. Depois que abri a porta, notei minha mãe sentada no sofá,
contudo, após me avistar ela se levantou. Percebi uma mala enorme no chão,
mas não havia entendido inicialmente o motivo de ela estar disposta naquele
local.
— O que está acontecendo? Estamos de mudança?
— Não! Você está se mudando! — Seu olhar tornou-se severo, e alguns
calafrios percorreram meu corpo.
— Mãe, me desculpe! Não protegi Lucy, mas por favor, não me expulse
de casa. Eu não tenho para onde ir. Sou seu filho...
— Você não é meu filho! — Bradou.
— Claro que sou! — Retruquei asperamente.
— Você não entendeu ainda? Eu não quero você presente em minha
vida. Já fiz algo impensado te deixando nascer, e a todo o momento te falo
que isso é um erro, só que mesmo assim você continua dizendo que me ama.
Qual o seu problema, Dominic?
— Você é a minha mãe... — Disse baixinho. — Eu... Não sei o que quer
que lhe diga. Por mais que eu tenha nascido da atitude nojenta de um
homem, ainda assim continuo sendo seu filho. Se não quisesse conviver
comigo, você teria abortado, então...
— Então o quê?! — Berrou! — Você acha que para mim foi fácil dar
à luz ao filho de um estuprador?!
— Se foi ou não você fez uma escolha, e estou vivo graças a você. Por
mais que jogue na minha cara esse acontecimento, sei que me ama.
— Amar?! — Riu debochadamente. — Realmente, você é um homem
que não sabe o real significado dessa palavra. Na verdade, tenho pena de
você.
Essas palavras doeram bem no fundo, e depois de vários anos sendo
tratado mal por minha mãe, percebi que ela não mudaria de opinião sobre
mim. Eu a amo, mas não posso ficar na presença de alguém que me trata
dessa maneira. Quanto mais ficarmos juntos, mais irei sucumbir, e temo que
isso me afetará pelo resto da vida.
— Você está certa. Irei embora.
Peguei a mala que ela havia colocado perto do sofá e fui em direção à
porta.
— Espero que seja feliz. — Disse, mas dessa vez com um tom suave.
— Não se preocupe. Feliz ou não, te pouparei dos detalhes da minha
vida. Você nunca mais me olhará como sendo o filho de um estuprador, e
não quero que me procure nunca mais.
Saí e jurei nunca mais olhar para trás. Essa foi a decisão mais difícil
da minha vida...
CAPÍTULO 14
DOMINIC
AGATHA
AGATHA
Fui despejado pela segunda vez, e não tive outra opção senão morar
na rua, nos arredores da Coronado Bridge, a ponte mais famosa de San
Diego. Ainda não consegui digerir que minha própria mãe me expulsou de
casa, e para mim, ser fruto de algo tão repugnante me deixa mais abatido
ainda. Além de tudo, havia sido demitido alguns meses atrás, e não me
preparei para o que isso poderia impactar em minha vida.
Em um primeiro momento, tive sorte de juntar uma pequena economia
vendendo vários objetos que dispunha: meu violão, álbuns de baseball de
alguns anos, certas camisas de marca...
Realmente me desesperei e não consegui outra forma de ganhar
dinheiro nesse meio tempo. Pelas minhas contas eu teria grana para comer
por no máximo sete dias, e ainda não sabia como faria para me alimentar
depois desse período, visto que não arranjei emprego, principalmente por
não ter um lugar fixo para morar.
Não conseguia pensar em muita coisa, somente em minha irmã. Sentia
tantas saudades de Lucy que chegava a doer meu coração. A única pessoa
que me entendia era minha irmã, e por mais que fosse arisca e durona, tenho
certeza que Lucy nunca me abandonaria. De fato, eu a decepcionei e sempre
carregarei a culpa pela sua morte em meu peito, só que nunca a esqueceria.
Caminhei um pouco pela cidade. Eu precisava comer, e por alguns
minutos fitei uma lanchonete que ficava perto da ponte, o meu “novo lar”.
Não podia me distanciar do local porque meus pertences estavam lá; apesar
de poucos, eles eram essenciais para me manter, e aprendi a dar valor no
pouco que possuo.
— Ora, ora. Se não é o filho merda da Ingrid.
Virei-me e fitei o pai de Lucy me olhando, com os braços cruzados.
Pude contemplar sua satisfação em me ver ali, parado, desejando comida.
Tenho certeza que minha mãe disse a ele que estava na pior, já que alguns
dias atrás ela me viu dormindo perto da ponte, mas naquela ocasião nem fez
menção de ir até onde eu me encontrava.
— Do que precisa?
— Nada. — Sorriu. — Só vim observar de camarote o que a vida
reservou para você. Geralmente pagamos os nossos pecados ao longo da
vida, e posso comprovar que o seu veio a galope.
— Você sempre foi um babaca, e não sei realmente o que minha mãe
viu em você. Na verdade, ela só te aturava por causa da Lucy, pois é um lixo
de pessoa!
Harold veio em minha direção e fez menção de avançar em mim, mas
acabou recuando e sorrindo sarcasticamente.
— Não preciso me preocupar com alguém assim, nesse estado... — me
olhou de cima a baixo. — O tempo irá se encarregar de fazer você ruir. Não
vou me rebaixar e agredir um homem sem perspectivas, uma pessoa que
nasceu... Você sabe.
Cheguei mais perto dele, e meus olhos ficaram marejados.
— Você acha que gosto de ser rotulado como sendo filho de um
estuprador?! Realmente acredita que tenho prazer em falar isso para
alguém?! Qual é o seu problema?!
— Não podemos voltar atrás em nossa existência, e você nasceu assim.
Sua mãe lhe dar vida me obrigou a mudar, me reinventar. Se Ingrid tivesse
feito o aborto como disse a ela... — Sua voz ficou grave. — Maldita hora em
que ela saiu naquele dia, seríamos uma família feliz agora, e minha filha
estaria viva, mas... Por que estragar minha vida somente nascendo, se
também pode estragá-la sendo o motivo principal de a minha filha ser
assassinada, não é? — fez menção de me socar, mas recuou e fechou os
olhos.
— Lucy foi a pessoa mais importante com quem convivi, mais até do
que minha mãe. Ela me aceitava do jeito que sou. No fundo, minha irmã
sabia que eu não tive culpa por ter nascido daquela forma. — Olhei para
baixo, emocionado por lembrar-me dela. — Eu a amava demais, e daria a
minha vida, se possível, para ela estar entre nós.
— Isso não é o suficiente, sua aberração. Minha filha está morta!
MORTA!
Apesar de nunca ter gostado dele e o considerar um lixo de homem, o
efeito que a morte da filha desencadeou em sua vida foi notório. Ele se
perdeu por um tempo, e na época, alguns amigos meus disseram-me que se
deparavam com ele nos bares, constantemente chorando ou gritando a
plenos pulmões pelo nome da filha. Sinto pena dele. Lucy significava muito
para Harold.
— Sinto muito.
Nos fitamos em silêncio por vários segundos. Não temos nada de útil
para dizer um ao outro, sempre foi assim. Eu sou a causa de transformar
uma família feliz em pó. Pelo menos me acostumei a pensar dessa forma,
uma vez que a todo o momento eles falavam isso, e em minha cabeça essa
frase tornou-se real...
— Não preciso de suas condolências. — Parou. — Quero que saiba
que eu e sua mãe estamos felizes agora. Como previ, o problema sempre foi
você, mas agora não temos que nos preocupar. Ela atinou, e viu que você é
um homem tóxico.
Como se não bastasse ser humilhado em minha própria casa durante
minha adolescência, estava sento tratado assim até mesmo morando embaixo
de uma ponte! Eu realmente não deveria ter nascido...
— Do que você precisa, hein? Você está aqui para me humilhar mais
ainda? — Gritei, perdendo um pouco do meu controle. — Olhe o meu estado!
Você acha que suas palavras irão piorar mais a minha situação? — Cheguei
mais perto dele, ensandecido de raiva.
— É verdade. Não tenho mais o que lhe dizer. Você está chegando ao
fundo do poço, e não preciso fazer nada para que se afunde ainda mais.
Dito isso saiu andando e gargalhando. Em alguns momentos fico
pensando: que tipo de pessoa se diverte com a desgraça das outras? Nunca
irei entender homens como ele, que se deleitam com a dor dos outros...
AGATHA
DOMINIC
Já estávamos na delegacia.
Neste momento esperávamos sermos chamados por algum dos oficiais
que trabalhavam no local. Dominic olhava os policiais passando de um lado
para o outro, e notava seu rosto fora do habitual.
— Quando chamarem a gente, iremos dizer...
— Você irá. — Interrompeu-me sem me encarar. — Ficarei aqui.
— Ele te agrediu! — Protestei. — Você precisa entrar comigo.
— Não. Você vai sozinha, e dirá ao oficial o que houve contigo. Não se
preocupe em relação a mim.
— Mas...
— Deixe de ser teimosa, mulher. — Me silenciou, enfezado. — Por
favor... Faça o que estou te dizendo. — Disse um pouco mais calmo,
momentos depois.
— Senhora Willians! — Um dos policiais me chamou e imediatamente
entrou em uma pequena sala.
Me levantei e como Dominic havia dito, ele ficou parado, olhando para
os lados.
O que está havendo?
— Boa noite. Sou o Sargento Rogers. Pode me dizer o que houve?
Expliquei a ele que trabalhava no club que fica perto daqui, e que
durante o meu turno fui abordada pelo meu ex-namorado, que me ameaçou
com uma pequena faca que portava.
Ele não estava prestando muita atenção em mim, parecia estar mais
interessado em Dominic, que estava a mais ou menos cinco metros de
distância de nós.
— Você o avistou no club antes ou no momento em que foi abordada?
— Somente quando ele me puxou pelo braço.
— Certo.
A todo o momento o oficial que pegava alguns dados meus olhava para
fora e encarava Dominic. Os olhares estavam estranhos, e algo me dizia que
isso não era corriqueiro.
— O que houve? — Disse por fim. — Por que tanto olha naquela
direção?
— Quando acabarmos lhe direi. — Voltou-se para o computador.
Não entendi muito bem o ponto, porém assenti.
— Você disse que o homem que lhe abordou em seu trabalho é o seu
ex-namorado, certo?
— Sim.
— Na época que namoravam, ele usava alguma substância, ingeria
bebida alcoólica, coisas do tipo?
— No máximo bebidas.
— Entendo. É a primeira vez que ele te ameaça?
— A segunda. Algum tempo atrás ele havia aparecido no club, só que
não parecia estar armado, somente segurou meu braço com força e pediu
dinheiro.
— Certo. Você possui alguma foto dele para me mostrar ou sabe o
nome completo do seu ex-namorado?
— Sim. Ele se chama Josh Campos, somente. Tenho uma foto antiga
em meu celular. Sua fisionomia não mudou muito.
Depois de alguns trâmites, o policial anotou alguns dados em um papel,
conseguiu também escanear a foto depois de eu enviá-la para um número de
telefone, e fez um boletim de ocorrência. Instantes depois olhou para fora de
novo, e me encarou por alguns segundos.
— O homem ali fora. Ele é seu atual namorado?
— Não, ele é o meu chefe. Foi ele quem impediu de algo pior
acontecer, inclusive seu rosto...
— Dominic não é uma boa influência, e meu conselho é que fique
longe dele. — Me interrompeu sério, e logo desviou novamente o seu olhar
para o lado de fora da sala.
Como ele sabe o nome de Dominic?!
— Espera... Como o conheceu? E por que está me dizendo isso?
O oficial me olhou, mas não parecia estar disposto a me confidenciar
mais nada. Ficamos nos entreolhando por vários momentos, todavia, logo
depois ele colocou a caneta que estava em sua mão na mesa e cruzou os
braços.
— Digamos que uma pessoa que tem mais de dez passagens pela
polícia não pode ser confiável. — Disse, me deixando perplexa.
— Como é?! Isso é... Sério?! — Inquiri assustada.
— Sim. Me lembro dele, visto que a maioria das ocorrências foi
registrada por mim.
— Ele já ficou preso por um algum tempo?
— Não um tempo grande, mas entrava e saía da cadeia de forma
constante.
Não estava preparada para ouvir isso, e passei uma das mãos pelos
meus cabelos, completamente chocada com o que acabara de ouvir.
— O que ele fez?
— Isso não posso lhe dizer. É confidencial. Só estou lhe dando um
toque. — Se levantou. — Era só isso mesmo. Qualquer problema pode me
procurar, tanto com o seu ex-namorado quanto com ele. Tudo bem?
Assenti e saí da sala. Ao cruzar a porta, Dominic veio para mais perto
de mim, e os dois homens se encararam, mas não mencionaram nada. Nesse
momento me preocupei...
DOMINIC
Já estou nas ruas há quase seis meses, e por mais que fizesse alguns
bicos, não estou com nenhuma economia guardada. Tive que tomar uma
atitude, e acabei fazendo algo do qual não me orgulho nem um pouco:
roubar comida.
Sempre entrava em alguns supermercados nos arredores da ponte, e
acabava furtando pequenas quantidades de mantimentos. Nunca retornava
aos mesmos para não “dar na cara”, mas ainda assim, o desfecho desses
pequenos roubos não foi nada bom.
Fui preso mais de dez vezes, e na maioria das ocasiões foi por causa
dos meus roubos. Somente uma vez fui preso por outro motivo, e também não
me orgulho disso...
Há um mês, coloquei em minha jaqueta algumas frutas e biscoitos,
como de praxe, só que notei um homem me observando. Por esse motivo, me
apressei para sair do supermercado, só que, logo na saída, a pessoa que me
viu se postou a uns dez metros de mim, ficando em minha frente e me pedindo
para não dar nem mais um passo sequer. Não sei por que fui estúpido, mas
quando colocou a mão no seu bolso, o percebi sacando uma arma e
apontando-a para mim; em um momento de medo, receio ou burrice (que é o
mais propenso), puxei o braço de uma pessoa que estava perto e a usei como
escudo momentâneo. Depois disso, fiz a segunda cagada: simulei que estava
armado, e que faria algo com a mulher que estava em minha frente.
Depois de alguns minutos de negociação vi que eu estava ferrado, visto
que além de estar mentindo, percebi que quanto mais o tempo passava,
menos ele acreditava em mim. Além de tudo, fora do supermercado algumas
viaturas haviam chegado. Fui esperto e acabei me entregando, dizendo que
eu não tinha nenhuma arma, só estava desesperado para comer...
Hoje estou aqui, preso por mais de um mês, e não sei o que vai
acontecer comigo. Todos os dias eu penso no ocorrido, e me decepciono com
minha atitude de usar uma refém e mentir do modo como fiz.
Percebi um oficial chegando ao local onde me encontrava, e logo
depois proferiu palavras que nunca esperaria: — Sua fiança foi paga.
— Paga? — Surpresa me definia.
Será que foi a minha mãe? Não vejo mais ninguém que possa ter feito
isso por mim.
— Sim.
— Por quem?
— Tenho cara de menino de recados? Ande! Saia daí!
Saí da cela. Logo depois fui em direção à entrada da estação, ainda
perplexo pelo que havia acabado de acontecer. Fora da delegacia, caminhei
por poucos metros, e logo fui abordado por um homem.
— Meu nome é Petros, e para ser direto, eu paguei sua fiança. —
Falou do nada, sem nenhum rodeio.
O analisei por alguns momentos. Ele se portava bem, e vestia roupas
caras. Além de tudo, era da minha altura e aparentava ter mais de quarenta
anos de idade, se fosse para chutar. Não entendi o ponto de ele ter
mencionado que pagou a minha fiança, pois eu decididamente não o
conhecia, mas não disse nada.
— Você tem o rosto bonito, e...
— Se pagou a minha fiança pensando que eu farei algum favor sexual
para você, pode esquecer. Entendeu?!
Petros riu e se aproximou mais. Fiquei com mais receio ainda após
presenciar essa cena.
— Não tenho interesse sexual em você. Gosto de mulheres, e muito
para falar a verdade. Sinceramente me interessei por outra coisa em ti.
O que esse cara está falando?
— Você pode ser claro?
— Acho que se daria bem no ramo que atuo. Você tem um rosto
expressivo, um corpo ajeitado que pode ser melhorado e um sorriso bonito.
Venho lhe observando por um longo tempo e sei que não tem lugar para
ficar, e nenhum emprego também.
— Não tenho interesse.
— Eu sou stripper, e tenho uma casa de shows. — Ignorou minha frase
e retomou: — Comigo trabalham alguns homens entretendo as mulheres.
Acho que sabe o que um stripper faz, e não preciso te dar detalhes, não é?
— Eu sei o trabalho de alguém assim. — Debochei.
— Não menospreze a profissão, haja vista que é um trabalho como
qualquer outro. Você sabe dançar? — Interessou-se, e neguei com a cabeça.
Não que eu não soubesse dançar, todavia, o homem ainda não havia
entendido que eu não estava demonstrando vontade de entrar nesse ramo.
— Como disse anteriormente, não tenho interesse. Prefiro...
— Veja bem... Essa é uma oportunidade única. Tenho certeza que faria
sucesso entre as mulheres. Você gosta, não é?
— Sim. Adoro mulheres, mas esse não é o ponto.
O homem me encarou por alguns momentos, logo depois esboçou um
sorriso e deu mais um passo à frente.
— Por que não pensa a respeito? Tome! — Me entregou um cartão. —
O meu endereço está aí. Quando se cansar dessa vida de roubar
supermercados me procure.
Como esse cara sabe tanto sobre mim?
Depois de analisar o cartão por alguns segundos, percebi que o
homem havia virado as costas e ido embora.
DOMINIC
AGATHA
DOMINIC
DOMINIC
DOMINIC
AGATHA
Não pensei que faria amor pensando em outra mulher, contudo, essa é a
minha realidade atualmente. Minhas clientes não significam nada para mim,
emocionalmente, e até estou perdendo o tesão em alguns momentos.
O que está acontecendo contigo, Dominic?!
Será que uma única mulher é capaz de causar um rebuliço desses em
minha cabeça? Essa pergunta é retórica. Estou experimentando essa sensação
na pele, e não sei o que isso realmente irá acarretar para minha vida.
Ah, merda. Preciso fazer algo além de relembrar a face de Agatha em
minha cama, e tem que ser já.
Estou em casa agora, em um dos raros momentos de folga. Em uma de
minhas organizações costumeiras encontrei uma foto guardada bem no fundo
de uma gaveta.
Petros! O cara que me salvou das ruas!
Segurei aquela foto que havíamos tirado quando fomos para uma turnê
na Bélgica e pude notar a felicidade estampada no semblante de Petros. Não
pensei que ele se tornaria um grande amigo. A vida fez questão de mostrar
que podemos ter conforto em meio às dificuldades, e ele me salvou
inicialmente.
Salvou-me de mim mesmo...
Isso fez voltar muitas coisas à minha mente, e entre elas, recordei-me
do meu melhor amigo...
— Por que não pode me dizer o que Petros foi fazer na Alemanha? —
Indaguei Morgana, a esposa dele.
Ele se encontrava no país há mais de três meses, e eu não tinha
nenhum contato com ele, exceto uma única vez que havia me ligado, de um
número desconhecido, quando completou dois meses de sua partida de San
Diego.
— Ele lhe dirá, Dominic.
— Quando?
— Hoje mesmo.
— Hoje? — Indaguei.
— Sim. Ele chegará à noite.
Reparei melhor o semblante de Morgana, e ela estava mais magra que
o habitual, com muitas olheiras, e abatida também. Não tenho ideia se
somente saudades faz isso com uma pessoa, mas algo está estranho. Petros e
a esposa sempre foram muito unidos.
— Certo. — Assenti.
Ao cair a noite, fui para a casa de Petros. Quando toquei a campainha
e fui atendido, um choque percorreu todo o meu corpo.
Me deparei com uma figura magra, pálida e com o rosto sem vida. Ele
não parecia o Petros que conheci.
— Dominic.
Mencionou meu nome, só que não falei nada. Estava absorto em ver o
quanto ele havia emagrecido desde a última vez em que o vira. A palavra
mais certa era: chocado.
— Não vai falar nada?
— O que precisa que lhe diga? O que houve com você?
Sorriu e pediu para que eu adentrasse a casa.
Petros não é de se abrir com muitas pessoas, contudo, sou alguém em
quem ele confia, e por isso não entendi inicialmente o que estava ocorrendo.
Qual o motivo de ele estar dessa forma? Petros sempre se cuidou como
ninguém...
— Por que não conversamos em meu escritório?
Assenti e fomos para uma sala isolada em sua casa.
— Acho que está se perguntando o que aconteceu comigo, não é? — Se
sentou, entretanto, permaneci de pé fitando aquela pessoa sem vida, sem o
brilho costumeiro no olhar.
— Você sabe a resposta dessa pergunta. — Cruzei os braços,
impassível.
— Não vou te enrolar. Eu fui para a Alemanha me tratar do câncer que
descobri alguns meses atrás.
Câncer?!
— Não. Isso não é verdade. — Tentei encontrar traços de humor em
sua face. Em vão. Sei exatamente quando Petros brinca sobre algo, e esse
não é o caso.
— Não acredito que não me disse uma coisa dessas! — Soquei a mesa
que estava em minha frente, entretanto, sua expressão não se alterou em
nada.
— Não precisava ter dito antes.
— Ah, não?!
— Você me ajudaria em quê sabendo da minha doença, Dominic? Me
diz! Você é o homem mais talentoso e promissor do meu grupo, aquele por
quem as mulheres caem de quatro. Por que eu te preocuparia com algo que
você não pode me auxiliar?
— Nós somos amigos, porra! Você é a merda do meu melhor amigo! A
pessoa para quem conto praticamente tudo, quem me salvou das ruas! É
sério mesmo que está me questionando algo assim?! — Questionei, irritado,
e com certa dor no peito ao vê-lo nesse estado.
— Eu sei que está pensando que sou um péssimo amigo, mas há certas
coisas que prefiro guardar para mim mesmo. Sei que entende.
— Você é um babaca, sabia? Um... Imbecil! — Disse com raiva, e o
sangue subiu na minha cabeça. Eu me importava muito com Petros, e ele
sabia bem disso.
— Tenho no máximo mais um ano de vida. Isso ajuda você?
Respirei fundo, e logo depois andei pela extensão da sua sala, puto de
raiva por saber de uma notícia dessas e Petros não mudar em momento
nenhum a sua expressão facial. Quem é a pessoa que fica assim sabendo que
vai morrer? Qual a porra do problema dele?
— Não acredito nessa sua naturalidade fingida.
— Todos vamos morrer, Dominic. Uma hora ou outra voltaremos ao
pó. Demorei a aceitar minha condição, mas agora estou em paz. Sei que fiz
um bom trabalho aqui na Terra.
— Quem mais sabe? — Disse alto, o fuzilando com o olhar.
— Morgana, e agora você. Somente.
— Petros...
Ele se levantou e chegou perto de mim. Petros é do meu tamanho, mas
devido a sua magreza ele parecia menor na minha presença. Balancei a
cabeça contrariado, chateado por ele não ter me contado absolutamente
nada.
— Você é o meu melhor amigo, Dominic. Não quis te preocupar, e fui
me tratar fora, pois havia uma remota chance de eu ser curado. Não
respondi aos medicamentos, nem mesmo à quimioterapia, e então retornei.
Quero passar meus últimos dias com a minha família. Você, minha esposa e
os rapazes que ajudei a seguirem nesse ramo.
— Se você morrer eu paro! Eu prometo!
— Não. Você não fará algo assim. Além de ser um desperdício de
talento, você vai se arrepender se for por esse caminho.
— Não acho isso! — Estava irredutível.
Eu realmente estava com raiva dele por não me contar algo tão sério.
Mas, apesar de tudo, eu entendo as suas razões, e acho que faria o mesmo.
Não posso julgá-lo, me parecendo tanto com ele.
— Você será o melhor, Dominic! — Colocou uma das mãos em meus
ombros, e dessa vez notei seu olhar firme em mim. — Eu te treinei para ser o
melhor, e será! Tenho absoluta certeza que vai tirar uma lição do que está
acontecendo comigo, e sempre irá seguir em frente e aproveitar sua vida de
forma intensa. Quero que prometa isso para mim. Agora!
Titubeei por alguns segundos, e não o olhei diretamente.
— Dominic! Estou esperando!
Depois de mais alguns momentos de hesitação, fiz o mesmo que ele, e
fixei nossos olhares.
— Eu prometo!
CAPÍTULO 25
DOMINIC
— ... E temos que ajeitar isso também. Está nos atrasando para
percorrermos todos os cantos do salão.
Olhei para os lados, entretanto, não parecia estar no ambiente. A
presença de Dominic me desestabilizou de alguma forma.
— Você está me ouvindo, Agatha? — Joice me indagou, e voltei à
realidade após seu cutucão.
— Sim... Eu vou providenciar tudo.
— Você está surpresa? Eu estou, não nego.
— Como?! — Estreitei os olhos, não entendendo, a princípio, a
respeito do que ela falava.
— O beijo... Todas nós vimos o que aconteceu agora a pouco. —
Soltou uma risadinha abafada.
Ótimo...
— Sim. Fiquei surpresa com aquilo. — Me sentei e recordei daquele
momento nada convencional. Logo Dominic, um homem que não demonstra
nada quando está perto de mais pessoas.
— Você é invejada, saiba disso. A maioria aqui gostaria de estar em
seu lugar.
— Sério?!
— Você sabe que é! Sei que se lembra bem daquela condição para
sermos contratadas.
— É verdade. Mas, não quero pensar nisso. Tenho certeza que ele fez
aquilo em um momento de bobeira. Não irá mais se repetir.
— Você não quer que se repita? — Seus olhos brilharam.
— Quero que vá trabalhar! Vamos! — Sorri; Joice saiu dando gritinhos
pelo salão, completamente feliz por me provocar.
O que ela não sabe é que a atitude dele colocou mais pensamentos
conflitantes em minha cabeça, e não estou confortável com os mesmos.
Depois que Dominic me perguntou se eu podia ir com ele na casa de
sua mãe, tive a resposta na ponta da língua, mas de repente mudei de ideia.
Isso é perigoso!
Ele consegue modificar rapidamente a maioria dos meus pensamentos,
e às vezes me vejo refém desse homem. Eu não podia me apaixonar
novamente, mas aconteceu mais rápido que previ.
Prevejo que estou ferrada!
Continuei minha rotina normalmente. Reparei que certas garotas
estavam bastante curiosas comigo. O que quero dizer é que percebi vários
olhares e pequenas insinuações das meninas umas com as outras quando me
observavam.
Ótimo! Eu sou a notícia do dia!
Dominic, o dono gostoso do club, beijou uma de suas funcionárias e
nem sequer esboçou arrependimento, muito pelo contrário; no que
dependesse dele continuaria de onde parou, e até me levaria para o seu
camarim. E eu provavelmente aceitaria de bom grado.
Está me faltando amor próprio. Sempre fui decidida, e por mais que já
tenha passado um grande período como boba apaixonada, isso extrapolou.
Após o jantar tomarei uma atitude. Prometo a mim mesma!
DOMINIC
— É isso que desejava ouvir? Realmente pensou que era outra coisa?
— Arrependimento tomou conta de mim.
Depois de tudo que falei para a mãe dele, certa ira e preocupação
tomou forma em meu peito, e isso refletiu em Dominic. O que estamos
fazendo um com o outro não é certo aos meus olhos, porém, estou insistindo
no erro...
— Eu...
— Não. Você vai ouvir primeiro. — O interrompi. — Essa nossa
aproximação foi um erro! É um erro! Éramos para ser somente amigos.
Amigos, merda! Você é um babaca!
Soei bipolar agora. O chamei de babaca do nada, mas sabia a enrascada
que estava me metendo.
— Por que está me xingando? O que houve contigo, Agatha?
— Sabe porquê? Mesmo sabendo que me repelia, eu continuei indo
atrás de você, que se aproveitou de mim. Não que eu não quisesse, não sou
idiota, mas te disse como sou, e não pensou em mim em nenhum momento.
Somente quis obter prazer. E conseguiu, no fim das contas.
— Eu não te dei prazer, pequena?
— Esse não é o ponto! Eu quero mais! Muito mais! — Gesticulei
ardentemente com as mãos.
Dominic ficou calado, e abriu a boca para dizer algo, contudo, não
mencionou palavra alguma, somente me olhou assustado.
— Não sei o que precisa ouvir.
— Preciso?! — Gargalhei debochadamente. — Quero que me fale o
que está sentindo, e não o que desejo ouvir. Diga-me que sou apenas uma
diversão, que não passo de uma mulher carente que você satisfaz quando tem
necessidades maiores.
— Agatha... Cuidado com o que fala. — Ponderou, me analisando
como uma presa.
— Estou mentindo, Dominic?! Você não faz as mesmas coisas com
suas clientes? — Disse, quase cuspindo essas palavras em sua face. — Você
acha que não sei que é a mesma coisa?! O prazer que dá a elas é o mesmo
que me proporciona! — Bufei, possessa como há muito tempo não ficava
perante um homem.
— Não é! — Seu tom de voz foi duro. Dominic claramente ficou
impaciente após eu mencionar suas clientes. — Há grandes diferenças entre
vocês, não consigo nem enumerá-las!
— Quais? — O inquiri, e a cada segundo que se passava mais Dominic
ficava desconfortável em minha presença. Eu estava disposta a tirar toda a
nossa história a limpo. Se é que tínhamos uma...
Dominic segurou uma de minhas mãos, e me olhou irritado.
— Pare!
— A verdade dói, né? Eu sabia que não significava nada para você. —
Fui severa com as palavras e me parece que o acertei em cheio.
— Pare! — Disse de novo, e seu olhar ficou sombrio.
— A maior culpada fui eu de me entregar, e o pior de tudo é que sabia
que estava entrando em uma enrascada.
— Eu já disse para você parar! — Falou mais alto e me assustei com
seu tom de voz firme e decidido.
Não falamos nada por alguns segundos, só nos encaramos, bem perto
um do outro. Sou muito boa em ler o seu semblante, entretanto, não sabia o
que acontecia nesse momento em sua cabeça, e nem queria tentar desvendar
agora. Estava enraivecida com minhas próprias emoções, presa em meus
sentimentos mais profundos.
— Não te considero apenas mais uma, como imagina. — Grunhiu, e
logo depois soltou minha mão. — Desde que ficamos mais próximos você
despertou algo diferente em mim, portanto, não diga palavras que nem você
mesmo acredita, Agatha.
— Sou uma diversão para você. — Falei baixinho. — E sabe o que é
pior? Eu concordei em ser.
— Qual o seu problema, hein?
— Sério?! O meu problema? — Respondi irritadiça e recuando alguns
passos.
— É. Não entendi porque está me tratando desse jeito. Combinamos
de...
— Não nos apaixonar?! — O interrompi. — Não deixarmos os
sentimentos tomarem conta da gente?! — Cheguei mais perto. — Ou não
deixar que nosso passado influenciasse nossa relação?! Vou te contar uma
novidade: a idiota aqui se deixou levar pelos sentimentos, e se apaixonou!
Satisfeito?!
— Você sempre soube...
— Que era um idiota? Sim! Que adorava sexo sem compromisso?
Claro! Que nunca me amaria? Absolutamente!
Dominic me fitava com a face enigmática. Ele não esperava que eu
mencionasse isso. Nem eu mesma, para falar a verdade. Mas é bom
desabafar, e vou continuar. Ele vai saber de tudo.
— Vai me deixar terminar?
— Não. Quem vai falar sou eu, e você vai ficar quieto e ouvir, pela
primeira vez na sua vida!
Nem eu mesma sabia de onde estava tirando tamanha força para
mostrar realmente o que sentia em meu coração, porém, iria até o fim.
— Eu me apaixonei por um homem que nunca sentirá o mesmo por
mim. Estou tentando juntar os cacos dele desde que o conheci, e
sinceramente não sei se ajudo ou atrapalho. Sou tão idiota que penso nele
todos os dias antes de dormir enquanto ele está com outra na cama, e sou
estúpida ainda mais por sonhar acordada com o momento em que ele vai me
beijar, sendo que isso é recorrente com várias, e não somente comigo.
Dominic deu um passo para trás e colocou as mãos na cabeça, bufando.
Instantes depois me olhou bem no fundo dos olhos, e sua face mudou
drasticamente. Ele parecia surpreso e não o julgo, eu mesma ainda não
acreditei que disse abertamente que me apaixonei por ele.
— Não me julgue sem saber o que eu sinto! — Disse com um tom de
voz furioso, e veio contra mim, me prensando contra a parede fria.
— O que você sente, então? Me diz!
Ouvi sua respiração perto de mim, e esperei Dominic falar algo, mas
ele somente me encarou, não proferindo nenhuma palavra.
— Agatha... Não me provoque. Não sou um homem que compartilha
sentimentos. Não os force. Tenho certeza que sabe que está mudando o que
sinto.
— É sério?! — Falei com deboche. — Você deixará de fazer seus
shows particulares por mim? Por acaso vai parar de se entregar para as
mulheres que se deleitam em sua cama? Serei o bastante para o “todo
poderoso” Dominic?
Esperei longos segundos por uma resposta que não veio. Diante da sua
incapacidade em contestar, deduzi o óbvio, e percebi que Dominic não iria
abdicar da sua vida regada a prazer por uma mulher somente. Quem eu
pensei que seria para conseguir uma proeza dessas? Logo eu, uma mulher tão
comum...
Somente em sonho...
— Não se preocupe. Dessa vez não vou deixar meus sentimentos
influenciarem nossa relação. Por mais que tenha falado isso tudo, não vou me
afastar de você, e sei que com o tempo irei parar de pensar em ti desse modo.
Continue com seus shows, eu não me importo mais. Irei te esquecer
rapidinho!
— Você consegue?
— Presunção sua achar que não.
— Vamos ver se é capaz, pequena. Mas ouça bem: não vou desistir
facilmente de você, entenda isso.
A força de suas palavras foi notória, mas estava cansada desses
joguinhos onde nos metemos...
CAPÍTULO 27
DOMINIC
AGATHA
DOMINIC
Resolvi inventar de última hora que estava saindo com alguém. Quem
sabe Dominic não me deixava em paz...
A questão é: eu quero mesmo que isso aconteça?
Não consigo pensar direito na presença daquele homem. Esse efeito
que Dominic causa em mim não é normal. Nunca experimentei essa
sensação, e estou me martirizando por ele estar tão intensificado em meu
corpo e mente. A questão é que não posso deixá-lo me usar como bem quiser.
Preciso me valorizar, e querendo ou não, devo tirar Dominic da cabeça.
Uma tarefa que beira o impossível neste momento...
DOMINIC
DOMINIC
DOMINIC
AGATHA
Essa voz...
Josh, meu ex-namorado, estava parado na porta, me fitando com certa
tranquilidade para uma pessoa que estava novamente com os olhos
avermelhados.
— Surpresa em me ver, docinho?! — Debochou e no momento
seguinte deu um passo em minha direção, me fazendo recuar. — Como tem
passado seus dias? — Inquiriu.
Não respondi. Vê-lo em minha frente está sendo um choque,
principalmente depois da última vez em que nos vimos, quando percebi do
que ele é capaz.
— O gato comeu sua língua foi?! — Falou asperamente, e seu rosto se
desfigurou. — Vou ter que abrir sua boca à força? Como vai ser?
— Do que... Precisa?
Josh gargalhou, e momentos depois deu outro passo à frente, ficando a
menos de um metro de mim.
— Acho que sabe... — Olhou para os lados. — Vá para aquele canto!
Agora!
— Não! — Disse firme.
— Ah... Não?!
Nesse instante ele retirou uma arma de sua jaqueta preta, e tremi nas
bases.
— Ande!
Obedeci e fui para perto da cama de Dominic.
Josh começou a vasculhar o local, à procura de algo que ainda não
havia entendido bem. Depois de um minuto somente, seu sorriso se iluminou
e voltou-se para mim.
— Eu sabia que aquele babaca tinha um cofre! Pode não parecer, mas
depois que fui enxotado desse club de merda pesquisei algumas coisas, e
como pensei inicialmente, aquele cara que te salvou é o dono. Deduzi que ele
guardava algum dinheiro aqui, até porque, geralmente, a maioria das coisas
nesse tipo de lugar é paga com grana viva. Estive certo, no fim das contas. —
Chegou mais perto. — Agora, me diz: porque não me falou que ele tinha um
cofre?
— Eu não sabia.
— Entendo... — Balançou a arma e lançou-me um olhar enigmático,
vindo em minha direção. — Sabe... Você ficou mais gostosa ainda com o
tempo. — Passou a mão em meus cabelos, mas só Deus sabe o nojo que
sentia desse homem. Como fui me apaixonar e sofrer por um cara assim?
— Não me toque! — Vociferei, arrancando gargalhadas dele.
— Qual é a senha do cofre? — Desconversou, tocando no ponto
principal de sua visita.
— Eu... Não sei.
— Vou perguntar de novo: qual é a senha do cofre?! — Chegou mais
perto.
— Já disse! Eu não sei!
Seu rosto colou no meu, e recuei instintivamente.
— Você acha que não reparei como aquele brutamontes te protegeu
como se fosse a última pessoa no mundo, hein?! Tenho absoluta certeza que
dormiu com ele, e como sempre foi essa idiota romântica, deve ter visto ele
abrindo esse cofre para te dar dinheiro. Afinal... Você deve ter feito isso por
grana, não?
Não raciocinei bem após suas palavras, e quando percebi minha mão
direita havia acertado em cheio seu rosto, em um belo tapa.
— Como imaginei... — Sorriu e segurou meus cabelos, os puxando. —
Se eu não tiver meu dinheiro agora, pode apostar que não sairá viva daqui!
DOMINIC
Abri o meu club, mas tudo estava escuro, e inicialmente não avistei
Agatha em lugar nenhum. Andei por toda a extensão da casa de shows, e o
único lugar que não a havia procurado era o meu camarim. Resolvi ir ao
local, mas sabia que dificilmente ela estaria lá.
Ao atravessar o corredor, notei a porta do camarim aberta, mas quando
adentrei, um calafrio percorreu minha espinha: o ex-namorado dela estava
perto da minha pequena, empunhando uma arma, e algumas lágrimas
escorriam por seu rosto.
Tentei de uma forma sorrateira ir por detrás do homem, mas
rapidamente ele se virou, e apontou a arma para mim.
— Olha, olha... Se não é o cafetão do lugar.
Levantei as mãos, e logo após fixei o olhar em Agatha, que me olhava
surpresa.
— Não a machuque! Por favor, eu te peço! — Disse com certo
desespero ao vê-la nessa situação.
— Sabe... Na última vez que nos encontramos você parecia ser mais
macho. — Balançou o revólver e sorriu para mim. — Acho que sabemos o
motivo agora, não é?
— Do que precisa?
— Dinheiro, cara. Muita grana. Sua vadia aqui não quer me dizer a
porra da combinação do cofre.
Vê-lo falando assim de Agatha fez meu sangue subir à cabeça, e
involuntariamente dei um passo à frente.
— Hum. Pelo visto gosta dela.
Agatha me observava como se não acreditasse que eu estava em sua
frente.
— Vai dar tudo certo, pequena. — Sorri. — Eu... Voltei por você.
Nunca mais sairei daqui, é uma promessa.
Vi os olhos dela se encherem de lágrimas. Eu estava sendo verdadeiro,
não a deixaria mais. Só Deus sabe o quanto me sentia arrependido.
— Que tocante! — Após essas palavras, puxou o cabelo dela, e um
pequeno grito saiu de sua boca. — E então... Já que está aqui, porque não
abre a porra do cofre logo de uma vez?!
— Tudo bem.
Vê-la naquela posição acendeu vários alertas em minha cabeça, e não
poderia fazer nada errado, senão Agatha poderia pagar o preço.
Fui na direção do cofre, digitei a combinação, e logo depois joguei um
bolo de dinheiro nos pés do homem. Eu havia guardado ali uma parte do
valor que eu daria a Lorenzo no dia em que fui entregar-lhe o dinheiro do
suposto débito que tinha com ele.
Josh olhou para o chão, e momentos depois empurrou Agatha para
onde eu estava. Fui em sua direção e tentei acalmá-la. Agatha me abraçou, e
chorou em meu peito. Meus olhos estavam focados no homem à minha
frente, e estava com receio do que ele poderia fazer, pois parecia estar
drogado.
— Vinte e cinco mil dólares? Isso seria bom, mas... Devido aos meus
problemas atuais, não dá nem para o começo, seu cafetão babaca! — Jogou
de qualquer jeito no chão o maço que havia lhe entregado, depois de alguns
instantes conferindo as notas.
— Por favor... Deixe-a ir embora.
— A sua puta?!
— É melhor pensar bem antes de falar.
— Vai fazer o quê? — Apontou a pistola em nossa direção novamente.
Não disse nada, e ele me encarava friamente.
— Vá para lá! Agora!
— Vou ficar com ela, e...
Ele destravou a arma, e notei que não estava brincando.
— Agora!
Depois de titubear por alguns instantes, reparei no semblante de
Agatha, que parecia estar em estado de choque. Dei um beijo na testa dela, e
disse em seu ouvido que tudo acabaria bem. Instantes depois, fui na direção
que ele havia mandado. Eu só pensava em minha pequena e em protegê-la de
tudo. Se eu estivesse aqui antes...
Porra!
— Sabe, vi que se importa com essa vagabunda, então, vou dar um tiro
na perna dela até me entregar mais grana. Que tal? Sei que nesse seu club de
merda deve ter algo a mais. Tenho certeza disso!
— Não faça isso!
Deu um tiro, e o desespero percorreu meu corpo. Quando olhei para
Agatha após ouvi-la gritar, percebi que ele havia disparado contra a parede.
— Última chance! Onde há mais grana nessa biboca?!
Pensei rápido, e já sabia o que fazer.
— Eu tenho mais, aqui mesmo dentro do quarto.
Certo sorriso foi vislumbrado de sua face, e ele fez menção com a
cabeça para pegar a quantia.
Fui até um local remoto e escondido do camarim, perto do piso atrás da
minha cama, e abri uma pequena fenda. De lá, retirei um envelope branco, e
fiquei com ele na mão.
Já tive problemas com nome sujo, e não guardo tudo que possuo no
banco. Deixo sempre uma grande quantia guardada, mas até então ninguém
sabia. Só que para Agatha ser libertada eu faria qualquer coisa.
— Jogue! Agora!
Fiz o que ele mandou, e após ele receber o pacote, se sentou na cama,
conferindo algumas notas de dinheiro por pelo menos um minuto.
— Quarenta mil dólares! As coisas ficaram interessantes. — Sorriu, me
olhando diretamente.
— Nos deixe ir! — Disse mais alto.
— Infelizmente não será possível. — Balançou a arma. — Sei que irão
para a polícia depois que saírem daqui, e não posso correr esse risco. Foi bom
conversar com você...
Mirou Agatha, e logo depois sorriu de uma forma irônica.
— Diga adeus a ela!
Olhei para a minha pequena, e ela fechou os olhos enquanto
lacrimejava. O que faria agora?
— Espera! Eu... Tenho mais. — Titubeei, pois não era verdade, só que
não consegui formular algo melhor para o momento.
— Mais grana?
— Sim. No armário.
— Que coisa, hein... Pegue! — Ordenou.
Fui em direção ao armário, mas não havia nada lá. Blefei, e não sabia o
que fazer. Na verdade, eu só tinha uma opção.
Uma opção arriscada que poderia custar nossas vidas...
Acabei revirando o armário, e achei um envelope de algo que não tinha
importância. Fotos, não sei ao certo.
Espero que sirva.
Depois de segurá-lo em frente ao meu corpo, cheguei mais perto do
canalha, dando dois passos médios.
— Pare aí! Me jogue o envelope!
Olhei para os lados. Fixei no semblante de Agatha por alguns
momentos. A pequena parecia saber o que eu estava prestes a fazer. Eu me
sacrificaria por ela, e agora tenho absoluta certeza disso. Demorei a entender
a magnitude dos meus sentimentos, contudo, vê-la em posição de perigo me
mostrou algo até então desconhecido por mim.
Observei novamente aquele homem e fiz o que me fora ordenado, só
que joguei o envelope perto do seu peito, e quando ele juntou as mãos para
pegá-lo, instantaneamente fui em sua direção. Não sei se fui tão rápido, mas
ele conseguiu empunhar a arma antes de cair no chão junto comigo e fez um
disparo.
Após eu cair por cima dele, percebi que estava intacto, e dei graças a
Deus no mesmo momento. Brigamos no chão, mas eu estava em vantagem,
pois fiquei por cima. Consegui desarmá-lo e joguei a arma para longe.
— Vou te matar! — Soquei a cara dele incessantemente, e vi sangue
esguichando do seu rosto. Enquanto o socava ele riu.
Claramente estava drogado!
— Agatha, chame a polícia! — Gritei, mas não obtive resposta. —
Agatha! — Chamei-a de novo, mas quando olhei para trás... Meu coração
parou por alguns segundos.
Minha pequena estava caída no chão, e vi sangue perto do seu corpo.
Me desesperei, e por um momento todas as minhas perdas voltaram à
tona em minha cabeça...
Lucy!
CAPÍTULO 34
DOMINIC
DOMINIC
AGATHA
AGATHA
AGATHA
AGATHA
2 anos depois
Estou com a mulher que mais amo, e isso já preencheu quase por
completo o vazio disposto em meu peito. Sei que algumas dores estarão
presentes em meu coração para sempre, mas vou seguindo em frente, não
olhando para trás.
Há dois anos faço terapia, me consulto com psicólogos, e faço alguns
exercícios mentalmente. Se fosse o Dominic de alguns anos atrás ele
mandaria o psicólogo se foder, mas agora entendo que preciso de ajuda, e
devo agradecer diretamente a minha pequena por ter me aberto os olhos.
Não posso dizer que me curei, visto que ainda demanda um processo
lento e árduo para que isso aconteça, mas a frequência dos meus pesadelos
diminuiu gradativamente. Eu me sinto um homem renovado, e estou feliz
com isso. Aos poucos vou ajeitando meu lado psicológico, aceitando minha
condição.
Algo que mudou bruscamente é que verdadeiramente perdoei minha
mãe. A vida é curta demais para guardar mágoas, e desde o dia em que nos
reencontramos, ela fez questão de ficar ao meu lado. Sei que ainda há receio
em minha cabeça com o andamento desse processo, contudo, agora confio
mais em minha intuição, e estou feliz com tudo o que me cerca.
Quanto a Harold, bem... Ele arrumou outra mulher há dois anos! No
fundo pensei que ele amasse a minha mãe, só que agora tenho minhas
dúvidas. Quando converso com minha mãe, ela sempre diz que foi o melhor,
que a relação havia se desgastado com o tempo.
Estou tentando convencê-la a conhecer pessoas novas, mas ela é dura
na queda, e diz que precisa de um tempo sozinha. Somente fico rindo quando
ela demonstra firmeza quando esse assunto é tocado, todavia, acho que mais
cedo ou mais tarde ela encontrará um homem bom.
Ainda coberto de afazeres, vi minha pequena adentrando em meu
escritório e fui em sua direção dar-lhe um grande abraço. Nos tornamos
bastante carinhosos e confidentes um com o outro, e por isso, maquinei por
um longo tempo um pedido que faria a ela.
Acho que não consigo mais esperar...
— Precisamos conversar um assunto sério, Dominic.
— Agatha... Eu também preciso falar contigo. — Olhei para os lados,
um pouco sem graça. — Mas, pode dizer primeiro.
— Não. Fale você, meu amor. — Agatha veio para mais perto, me
abraçando e beijando o canto da minha boca.
— Eu estive pensando em algo, e... Resolvi arriscar.
— Já sei!
— Sabe?! — Meus olhos se arregalaram.
Como ela pode saber? Eu não contei para ninguém...
— Você irá abrir um novo club!
— Ufa! Errou! — Senti um grande alívio.
— Vai ficar me enrolando, é? — Cruzou os braços, sua marca
registrada.
— Eu... — Segurei suas duas mãos, e logo depois as levantei para perto
do meu peito, a olhando intensamente. — Quero te propor algo sério.
— Sim, meu amor.
— Aceita se casar comigo?
Agatha ficou branca. Imóvel. Com os olhos esbugalhados. Eu nem sei
como descrever exatamente sua reação, porque não houve bem uma “reação”.
Tratei de intervir.
— Sei que pode ser rápido, mas você é a mulher da minha vida, e não
consigo esperar. Eu... Quero você como nunca quis ninguém. Quero
oficializar nossa união. Preciso que seja minha perante a lei!
Agatha abriu a boca para falar algo, entretanto, não disse nada, somente
sorriu e... Começou a chorar.
Mulheres chorando com um pedido de casamento é bom, não é?
Por Deus, espero que sim!
— Eu... Eu...
— Diga, mulher! — Sacudi suas mãos.
— Estou grávida e... Aceito. — Pulou no meu colo.
Grávida?!
Levei um tempo para processar essa pequena palavra. Alguns
segundos, melhor dizendo.
— Isso é sério?
— Sim, meu amor.
Não me contive e segurei minha pequena no colo, a girando
intensamente.
— Vou passar mal assim! — Falou e coloquei-a no chão de imediato,
arrancando gargalhadas suas.
— Depois que te conheci mais profundamente nutri o desejo de ter um
filho, e... Não sei o que dizer. — Meus olhos começaram a lacrimejar, e
Agatha me puxou para um abraço apertado.
— Eu também, meu amor. E, cá entre nós, muitas pessoas podem me
julgar, mas acharia o máximo casar barriguda! Acho lindo!
Olhei para aquela pequena que iluminou meus dias mais sombrios, e
tomei sua boca, não sabendo o que fazer, nem o que falar. Ela conseguiu me
tornar um homem mais feliz do que eu poderia sequer imaginar, e não posso
estar mais afortunado com tudo que está acontecendo.
— Agatha... Eu prometo que nosso bebê será amado como nunca. Sei
como é não ter um pai por perto, mas te adianto que nada e nem ninguém irá
atrapalhar a nossa felicidade.
Abaixei-me, ficando na altura de sua barriga, dispondo um beijo na
mesma.
— Irei te amar, bebê, mais do que a minha própria vida. E, te prometo,
serei o melhor pai possível para você.
— Meu amor... — Agatha segurou minhas mãos e me levantou. — Se
for uma menina, eu quero que se chame Lucy.
Ouvir isso foi o estopim para um homem grande como eu chorar feito
uma criança. Minha falecida irmã viverá em minhas memórias para sempre, e
iria me lembrar do rosto dela se tivéssemos uma menina, mas o que mais
importa é que esse bebê nasça com saúde, sendo homem ou mulher. No
entanto, acho que Agatha irá surtar quando eu disser que se for um menino
ele se chamará Dominic Júnior!
Será?!
FIM
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