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Mecânica dos Fluidos

Aula 01

Prof. Maxwell Lobato


Escoamento em Tubos/Dutos
Dutos e Tubos: Qual a diferença?

Embora sejam geralmente usados com mesmo sentido, seções de escoamento de


seção transversal circular são chamada de tubos (particularmente quando o fluido
é um líquido) e as não circular de dutos (particularmente quando o fluido é um
gás).

OBS: Tubos podem suportar maiores diferenças de pressão (interior – exterior) do


que dutos sem distorção significativa. Logo, dutos são principalmente empregados
em situações nas quais a diferença de pressão é relativamente pequena (ex.
sistemas de aquecimento e refrigeração de prédios).
Escoamento Laminar e Turbulento (relembrando)

O escoamento de um fluido num conduto pode ser laminar ou turbulento:

Laminar: caracterizado por um movimento ordenado;

Turbulento: Caracterizado por flutuações de velocidade e movimento altamente


desordenado.

OBS: Não é possível definir precisamente as faixas de números de Reynolds que


indicam se o escoamento é laminar, de transição ou turbulento. A transição real de
escoamento laminar para turbulento pode acontecer em vários números de
Reynolds pois depende de quanto o escoamento está “perturbado” por vibrações
no conduto.

Nos projetos de engenharia os seguintes valores são apropriados:

Laminar: Re < 2100 ത


𝜌𝑉𝐷
Transição: 2100 < Re < 4000 𝑅𝑒 =
Turbulento: Re > 4000 𝜇
Como avaliar a natureza de um escoamento em um duto não-cilíndrico?

Os dutos (não cilíndricos) não apresentam diâmetro. Neste caso o Número de


Reynolds é avaliado com base no chamado “diâmetro hidráulico”.

4𝐴
𝐷ℎ =
𝑃

Onde, A é a área da seção transversal do duto e P o seu perímetro molhado.

OBS: o conceito de diâmetro hidráulico também será utilizado na análise de outros


parâmetros de escoamento.
Região de entrada

Considere um fluido que entre em um tubo circular com velocidade uniforme. Em


função da propriedade de não escorregamento dos fluidos teríamos um
comportamento semelhante ao ilustrado na figura abaixo:

A região da entrada do tubo até o ponto no qual a camada limite incorpora o eixo
central é chamada de região de entrada hidrodinâmica, e o comprimento desta
região é chamado de comprimento de entrada hidrodinâmica (Le).
Região de entrada

OBS: O escoamento na região de entrada é chamado de “escoamento


hidrodinamicamente em desenvolvimento”, uma vez que essa é a região na qual o
perfil de velocidade se desenvolve.

OBS: O escoamento além da região de entrada é chamado de “escoamento


hidrodinamicamente desenvolvido”. Nesta região, considera-se que o perfil de
velocidade está completamente desenvolvido e permanece inalterado.

O comprimento de entrada hidrodinâmica (Le) pode ser estimado com base no


número de Reynolds:

𝐿𝑒
Em regime laminar: ≅ 0,06Re
𝐷

No caso laminar limite (Re = 2100), o comprimento de entrada hidrodinâmica pode


chegar a Le = 126D.
Região de entrada

𝐿𝑒 1/6
Em regime turbulento: ≅ 4,4 𝑅𝑒
𝐷

Em muitos problema de engenharia o número de Reynolds situa-se na faixa de


104 < Re < 105, de modo que o comprimento de entrada hidrodinâmica variaria,
nesta faixa, de 20D a 30D.

OBS: observe que o comprimento de entrada hidrodinâmica é muito mais curto em


escoamento turbulento.
Perda de carga no escoamento de fluidos
Perda de carga:

Perda de energia associada ao escoamento como consequência direta dos


“efeitos viscosos”. A perda de carga corresponde a uma perda de pressão
irreversível no escoamento, expressa em termos de uma altura equivalente de
coluna de fluido (carga), tendo dimensão de comprimento (energia por peso de
fluido).

A perda de carga pode ser de dois tipos:

Distribuída (hd): Ocorre devido ao atrito em seções de área constante.

Localizada (hL): Ocorre devido ao atrito em seções de área variável ou devido a


presença de “acidentes” na tubulação

ℎ𝑝 = ℎ𝑑 + ℎ𝑙
Perda de carga distribuída (hd):

Considere um escoamento de um fluido entre duas seções (1 e 2) de um duto


cilíndrico horizontal, de área transversal constante e em regime permanente. Da
equação de Bernoulli com perda de carga tiramos que:

1 2

iguais

𝑉12 𝑃1 𝑉22 𝑃2 𝑃1 − 𝑃2
𝑦1 + + = 𝑦2 + + + ℎ𝑑 → ℎ𝑑 =
2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 𝜌𝑔

iguais
∆𝑃
ℎ𝑑 =
𝜌𝑔
Perda de carga distribuída (hd):

Considerando que:

𝐿 𝜌𝑉ത 2
∆𝑃 = 𝑓
𝐷 2

Ficamos com a seguinte relação:

∆𝑃 𝐿 𝜌𝑉ത 2 1 𝐿 𝑉ത 2
ℎ𝑑 = =𝑓 . → ℎ𝑑 = 𝑓
𝜌𝑔 𝐷 2 𝜌𝑔 𝐷 2𝑔

Conhecida como Equação de Darcy-Weisbach, em homenagem ao françês Henry


Darcy (1803-1858) e ao alemão Julius Weisbach (1806-1871), dois engenheiros
que forneceram a maior contribuição para o seu desenvolvimento.

OBS: Como hd depende somente de características do escoamento, esta equação


é válida independente da orientação da tubulação.
Perda de carga distribuída (hd):

Portanto,

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Regime laminar 𝑓=
𝑅𝑒

𝐿 𝑉ത 2
ℎ𝑑 = 𝑓
𝐷 𝜌𝑔

𝜀
Regime turbulento 𝑓 = ∅ 𝑅𝑒;
𝐷
Obtenção do fator de atrito em regime turbulento:

Método Gráfico: Diagrama de Moody

f
Obtenção do fator de atrito em regime turbulento:

Método Gráfico: Diagrama de Moody

Observações:

• Embora desenvolvido para tubos circulares, também pode ser empregados para
dutos não circulares , substituindo o diâmetro pelo diâmetro hidráulico;

• Os resultados fornecidos no diagrama de Moody foram obtidos usando


superfícies artificialmente enrugadas, em geral colando grãos de areia de
tamanho conhecido nas superfícies interna dos tubos.

• A rugosidade dos tubos disponíveis no mercado não é uniforme e é difícil


descrevê-la com precisão (geralmente a incerteza nos valores chega a 60%).

• A maioria dos experimentos que culminaram no diagrama de Moody foi


realizada por um aluno de Prandtl chamado Nikuradse em 1933, sendo
finalizado por Hunter Rouse e, posteriormente, Lewis Moody, ambos
engenheiros norte-americanos.
Obtenção do fator de atrito em regime turbulento:

Rugosidade: Como dito anteriormente,


a incerteza nos valores de rugosidade
são elevadas. Nos livros de mecânica
do fluido podem ser obtidas através de
gráficos (geralmente na forma de
rugosidade relativa) ou em tabelas.
Obtenção do fator de atrito em regime turbulento:

Rugosidade, 
Material ft mm
Vidro, plástico 0 0
Concreto 0,003 – 0,03 0,9 – 9
Cobre ou latão 0,000005 0,0015
Ferro fundido 0,00085 0,26
Ferro galvanizado 0,0005 0,15
Aço Inoxidável 0,000007 0,002
Aço comercial 0,00015 0,045
Obtenção do fator de atrito em regime turbulento:

Equação de Colebrook

Cyril Colebrook (Britânico, 1910-1997), combinou os dados disponíveis para o


escoamento de transição e turbulento na seguinte relação implícita:

1 𝜀/𝐷 2,51
= −2𝑙𝑜𝑔 +
𝑓 3,7 𝑅𝑒 𝑓

OBS: observe que esta equação é implícita em f, de modo que necessita de um


processo iterativo para a sua resolução.
Obtenção do fator de atrito em regime turbulento:

Relação de Haaland

Propôs, em 1983, uma relação explícita aproximada para o fator de atrito.

1,11
1 6,9 𝜀/𝐷
≈ −1,8𝑙𝑜𝑔 +
𝑓 𝑅𝑒 3,7

OBS: Muitas vezes, a relação de Haaland é empregada como uma boa primeira
estimativa em um processo iterativo para o cálculo do fator de atrito.

Relação de Blasius

Válida exclusivamente para escoamento em tubos lisos e Re < 105.

0,316
𝑓 = 1/4
𝑅𝑒
Obtenção do fator de atrito em regime turbulento:

Diâmetro Nominal e Diâmetro interno

Nos cálculo devemos ter a certeza de usarmos o diâmetro interno real do tubo,
que pode ser diferente do diâmetro nominal, por exemplo:

Tamanho padrão para os tubos de aço da escala 40


Diâmetro nominal, in Diâmetro interno real, in
1/8 0,269
1/4 0,364
3/8 0,493
1/2 0,622
3/4 0,824
1 1,049
2 2,067
3 3,068
Exemplo 1
Numa tubulação horizontal escoa água com uma vazão de
0,2m3/s. O diâmetro da tubulação é igual a 150mm. O fator
de atrito da tubulação é igual a 0,0149. Considere que para a
temperatura de 20º C a água tem uma massa específica igual a
999 kg/m3 e viscosidade dinâmica igual a 1,0x10-3 Pa.s. Para
um comprimento de tubulação de 10 metros determinar a
variação de pressão na tubulação.
Exemplo 2
Considere uma tubulação de 150mm de diâmetro e 30 metros
de comprimento na qual escoa glicerina com uma velocidade
media igual a 4,0 m/s. A glicerina esta a uma temperatura de
25oC e com o qual a massa especifica é igual a 1258 kg/m3 e a
viscosidade dinâmica igual a 9,6x10-1 Pa.s. A) Determine a
perda de carga, B) o gradiente de pressão da tubulação.

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