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Infância e Adolescência
Quanto aos conceitos aqui propostos, com base na perspectiva sociohistórica (sociocultural
ou ainda sociointeracionista), devem ser levados em consideração os seguintes pressupostos:
A criança, por meio dessas atividades principais, relaciona-se com o mundo, e, em cada
estágio, formam-se nela necessidades específicas em termos psíquicos. O desenvolvimento da
atividade principal, ou diretora, condiciona as mudanças mais importantes nos processos psíquicos
na criança e nas particularidades psicológicas da sua personalidade.
De acordo com as características dos seus objetos e dos conteúdos, as atividades, segundo
Elkonin (1987, p. 121), podem ser divididas em dois grupos:
1º. Primeiro grupo - atividades desenvolvidas no sistema criança-adulto social, as quais têm
orientação predominante na atividade humana e na assimilação de objetivos, motivos e
normas das relações entre as pessoas;
Os tipos de atividade principal/diretiva com relação aos grupos, de acordo com a sequência
da mesma, apresentam a seguinte série:
Cada época consiste em dois períodos regularmente ligados entre si (1º grupo e 2º grupo).
Tem início com o período (1º grupo) em que predomina a assimilação dos objetivos, dos motivos e
das normas da atividade, sendo que essa etapa prepara para a passagem ao segundo período. No
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segundo período (2º grupo) ocorrem a assimilação dos procedimentos de ação com o objeto e a
formação de possibilidades técnicas e operacionais.
2. Período do desenvolvimento
A comunicação emocional direta dos bebês com os adultos é a atividade principal desde as
primeiras semanas de vida até mais ou menos um ano, constituindo-se como base para a formação
de ações sensório-motoras de manipulação. Este período segue a seguinte disposição:
Comunicação
emocional direta
[1º grupo]
Atividade objetal
manipulatória
[2º grupo]
Características do período
O bebê utiliza vários recursos para se comunicar com os adultos, como o choro, por exemplo,
para demonstrar as sensações que está tendo e o sorriso para buscar uma forma de comunicação
social.
Conforme Zaporózhets (1987), o sentimento de amor filial, a simpatia por outras pessoas, o
afeto amistoso, entre outros aspectos presentes na relação do bebê com outras crianças e o adulto,
são enriquecidos e transformados no processo evolutivo da criança, tornando-se a base
indispensável para o surgimento de sentimentos sociais mais complexos.
Já no primeiro ano de vida, a conduta da criança começa a reestruturar-se e cada vez mais
aparecem processos de comportamento em virtude das condições sociais e da influência educativa
das pessoas que a rodeiam. Este período é marcado por uma sociabilidade totalmente específica e
peculiar em razão de uma situação social de desenvolvimento única, determinada por dois momentos
fundamentais.
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O primeiro momento consiste na total incapacidade biológica. São os adultos que cuidam do
bebê, e o caminho por intermédio dos adultos é a via principal de atividade da criança nessa idade.
Praticamente todo comportamento do bebê está inserido e entrelaçado com o fator social e o contato
da criança com a realidade é socialmente mediado. No segundo momento, o bebê depende do adulto
e ainda carece dos meios fundamentais de comunicação social em forma de linguagem. A forma
como a vida do bebê é organizada o obriga a manter uma comunicação emocional direta com os
adultos, porém essa comunicação é uma comunicação sem palavras, muitas vezes silenciosa, uma
comunicação singular. (FACCI, 2004).
Por volta dos dois anos, a criança apresenta grande evolução na linguagem, dando início a
uma forma totalmente nova de comportamento, acontecendo apenas com o ser humano. Inicia-se a
formação da consciência e a diferenciação entre o "eu" infantil e o “outro” social. Para Vigotsky
(1993), o “(...) pensamento da criança evolui em função do domínio dos meios sociais do
pensamento, quer dizer, em função da linguagem” (p.116). A sua função maior é auxiliar a criança a
compreender a ação dos objetos, é assimilar os procedimentos, socialmente elaborados, de ação
com os objetos.
Jogo
protagonizado ou
de papéis
(1º grupo)
Atividade de
estudo
o
(2 grupo).
Atividade lúdica
Para Elkonin (1987), o principal significado do jogo é criar a oportunidade para a criança
modelar as interações com/entre as pessoas. O jogo é influenciado pelas atividades humanas e pelas
relações entre as pessoas e o conteúdo fundamental é o ser humano - a atividade do homem e as
relações com os adultos. Ao mesmo tempo, o lúdico exerce influência sobre o desenvolvimento
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psíquico da criança e sobre a formação de sua personalidade. Seguindo com Elkonin (1998),
compreende-se que "(...) a evolução do jogo prepara a transição para uma fase nova e superior do
desenvolvimento psíquico, a transição para um novo período evolutivo" (p. 421). No período pré-
escolar, o que se constata, é que as necessidades básicas da criança são supridas pelos adultos e
as crianças sentem esta dependência com relação a eles.
O seu mundo divide-se em dois círculos: um criado pelos pais ou pelas pessoas que convivem
com elas, sendo que essas relações determinam as relações com todas as demais pessoas; o outro
grupo é formado pelos demais membros da sociedade. Portanto, a vida da criança muda muito
quando ela entra na escola, onde a relação com os professores faz parte do pequeno e íntimo círculo
dos seus contatos. (FACCI, 2004).
A passagem da criança da infância pré-escolar à fase seguinte está condicionada, então, pela
entrada da criança na escola e a atividade principal passa a ser o estudo. Conforme Leontiev (1978),
o próprio lugar que a criança ocupa com relação ao adulto se torna diferente. Na escola, a criança
tem deveres a cumprir, tarefas a executar e, pela primeira vez em seu desenvolvimento, tem a
impressão de estar realizando atividades verdadeiramente importantes. A criança normalmente
sente-se estimulada com a escola – um novo “mundo” a desvendar.
Atividade de estudo
O ensino escolar deve, portanto, nesse estágio, introduzir a criança na atividade de estudo,
de forma que se aproprie dos conhecimentos científicos. Sobre a base dos estudos, conforme
Davidov (1988), surgem a consciência e o pensamento teórico e desenvolvem-se, entre outras
funções, as capacidades de reflexão, análise e planificação mental.
2.3. Adolescência
Uma nova transição se anuncia com a chegada da adolescência, com outros desafios e outra
atividade principal/diretora: a comunicação íntima pessoal entre os jovens e a atividade profissional
de estudo.
Comunicação
íntima pessoal (1º
grupo)
Atividade
profissional de
estudo (2o grupo)
Nesse período, ocorrerá uma mudança na posição que o jovem ocupa com relação ao adulto
e as suas forças físicas, juntamente com seus conhecimentos e capacidades, podendo colocá-lo em
pé de igualdade com as gerações anteriores, e, muitas vezes, até superior em dados aspectos
particulares. Atualmente, por exemplo, é comum observar jovens ensinando seus avós a
manusearem os artefatos das novas tecnologias, como notebook ou smartphone, convencendo-os
das vantagens de ingressarem “cognitivamente” na nova Era Digital.
É esperado que o adolescente se torne crítico em face das exigências que lhe são impostas,
das maneiras de agir, das qualidades pessoais dos adultos e também dos conhecimentos teóricos.
Busca, na relação com o grupo, uma forma de posicionamento pessoal diante das questões que a
realidade impõe à sua vida pessoal e social. Este é um momento importante do processo educativo,
em que os valores humanos que foram sendo apreendidos na relação com os adultos mostram o
seu efeito nas relações familiares e sociais. Também um período importante em que pode se
manifestar a curiosidade e fascínio pelo transcendente, pelos mistérios antes da vida e além da
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morte, pelo que existe além do céu e das estrelas, encarando o desafio do desconhecido e buscando
respostas. Pode ser um momento importante para o desenvolvimento da espiritualidade como
dimensão humana de valor inestimável diante das crises e conflitos do crescimento, em que a
resiliência pessoal vai constituindo-se como modo ativo de enfrentamento das diversidades.
Características
A atividade de estudo ainda continua sendo considerada importante para os jovens e ocorre,
por parte dos estudantes, o domínio da sua estrutura geral, a formação do seu caráter voluntário, a
tomada de consciência das particularidades individuais de trabalho e a utilização desta atividade
como meio para organizar as interações sociais com os companheiros de estudo.
Por meio do pensamento conceitual ele chega a compreender a realidade, as pessoas ao seu
redor e a si mesmo. O pensamento abstrato desenvolve-se cada vez mais e o pensamento concreto
começa a pertencer ao passado. O conteúdo do pensamento do jovem converte-se em convicção
interna, em orientações dos seus interesses, em normas de conduta, no sentido ético, em seus
desejos e seus propósitos.
Por meio da comunicação pessoal com seus iguais, o adolescente forma os pontos de vista
gerais sobre o mundo, sobre as relações entre as pessoas, sobre o próprio futuro e estrutura o
sentido pessoal da vida. Esse comportamento em grupo ainda dá origem a novas tarefas e motivos
de atividade dirigida ao futuro, adquirindo o caráter de prospectar a vida profissional no bojo do seu
projeto de vida.
Na idade escolar avançada a atividade de estudo passa a ser utilizada como meio para a
orientação e preparação profissional, ocorrendo o domínio dos meios de atividade de estudo
autônomo, com atividade cognoscitiva e investigativa criadora. A etapa final do desenvolvimento
acontece quando o indivíduo se torna trabalhador, ocupando um novo lugar na sociedade.
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Neste período será observado o/a estudante e/ou trabalhador/a autônomo/a, cujas
competências humanas traçam as bases para a sua trajetória pessoal/profissional. A importância
dos processos educativos nas diferentes fases adquire aqui o maior efeito sobre a personalidade
individual. As competências humanas englobam tanto àqueles traços delineados no início deste
artigo. O homem é um ser multidimensional, biopsicossocial, portanto a sua capacidade cognitiva
está imbricada na sua afetividade. Adultos maduros afetivamente serão capacitados às decisões
inteligentes não apenas para a prosperidade material, mas sobretudo à prosperidade espiritual, à
verdadeira evolução humana, à alteridade, à aceitação das diferenças e à consciência planetária,
cuidando do outro como seu semelhante e da Terra como sua casa. Deste ser espera-se uma
consciência bioecológica, pois sente-se e sabe-se parte essencial da natureza. Sabe que carrega
em si o que aprendeu com o outro, o que a terra gentilmente lhe ofereceu para constituir-se
fisicamente.
No decorrer do seu desenvolvimento, a criança começa a se dar conta de que o lugar que
ocupava no mundo das relações humanas que a circundava não corresponde às suas
potencialidades e se esforça para modificá-lo, surgindo uma contradição explícita entre esses dois
fatores. Ela torna-se consciente das relações sociais estabelecidas, e essa conscientização a leva a
uma mudança na motivação de sua atividade; nascem novos motivos, conduzindo-a a uma
reinterpretação de suas ações anteriores.
uma crise, ao passo que vai sendo solucionada, abarca movimentos da crise seguinte, cujos efeitos
têm origem no plano sociocultural do indivíduo.
4. Apontamentos finais
− Muitas crianças são difíceis de educar quando se encontram em uma fase crítica, isto
porque elas podem entrar em conflito consigo mesmas e com outras pessoas; no entanto,
nem sempre é assim, pois os períodos críticos apresentam-se de modo distinto nas
diferentes crianças;
Esta parece ser uma questão principal para estudiosos, educadores e pais/cuidadores, por
diferentes interesses e motivações. Dentre essas possibilidades, algumas são indicadas a seguir:
Enfim, para a constituição dos saberes docentes na perspectiva das ciências pedagógicas,
esses conhecimentos ajudam a solucionar a questão acerca dos motivos de as crianças, em alguns
períodos do seu desenvolvimento, reagirem de modo diferente a determinadas influências do ensino
e mesmo sobre a forma como o ensino é organizado na nossa sociedade. O que dizer das novas
gerações de aprendentes na atualidade digital, na qual os conhecimentos apresentam-se sem que
professores os ensinem? É bem verdade que predominam informações, nem sempre dignas de
crédito pelo aprendente perspicaz, cujo interesse cognitivo direciona-se para objetos de
conhecimento cuja cientificidade e criticidade possam ser postas à prova.
Conhecido por ter desenvolvido a Teoria da Atividade, Alexei Leontiev (1978) afirma que as
próprias crises, em cada etapa de desenvolvimento, podem ser superadas, ou mesmo podem deixar
de existir, se o processo educativo for racionalmente conduzido, se houver diretividade no sentido
delevar em consideração, desde o início da experiência escolar, as estruturas mentais que estão
sendo elaboradas no período de transição de um estágio para o outro.
perspectiva a ser ressignificada em uma sociedade que vem gradativamente desrespeitando o lugar
do professor junto às novas gerações.
Referências
VIGOTSKI, L.S.; LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 6. ed.
São Paulo: EDUSP, 1998a, p. 59-83.
VIGOTSKI, L.S. Linguagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: VIGOTSKI, L.S.;
LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 6. ed. São Paulo:
EDUSP, 1998. p. 103-117.