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Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, vulgo Maquiavel, nasceu em Florença em

3 de maio de 1469 e era de família toscana antiga, nem aristocrática, nem rica.
Seu pai era advogado típico renascentista e estudava humanidades, de modo
que Maquiavel foi educado desde cedo para dar importância aos estudos. Aos
sete anos começou a fazer aulas de latim, pouco tempo depois aprendeu
matemática e, aos doze anos já escrevia muito bem e em latim. Em sua
juventude, viveu na República Florentina de Lourenço de Médici e, em 1498,
aos 29 anos, exerceu seu primeiro cargo político como Secretário da Segunda
Chancelaria. Foi neste período em que Maquiavel começou a desenvolver sua
paixão pela vida política, observando diversos líderes da época que,
posteriormente ao ser afastado da política, serviram de base para grande parte
de suas obras, reconhecidas hoje como grandes clássicos.

Em sua obra, Maquiavel, por ser renascentista, tem influências de grandes


autores da Antigüidade Clássica, como Tito Lívio, Cícero e Políbio. No entanto,
o que marca sua obra é o fato de que ele escrevia principalmente com base no
que vivenciou, adaptando conceitos clássicos para a sua realidade. Apesar de
seus esforços para permanecer na vida política quando foi afastado, Maquiavel
não teve muita influência em seu tempo, sendo ignorado até mesmo por
Lorenzo de Médici, a quem dedicou seu maior tratado, “O Príncipe”. Somente
após a sua morte que esta obra começou a ser reconhecida pelo mundo, mas
não de uma forma positiva. “O Príncipe” e, sobretudo, o nome Maquiavel
começaram a ser adjetivados negativamente por muitos, principalmente
religiosos que analisavam sua obra sem levar em conta o contexto histórico.
Após muitas interpretações desta obra, Maquiavel é reconhecido hoje como um
clássico das ciências políticas e um grande historiador, pelo modo sagaz com
que ele elaborou sua obra.

De 1498 a 1512, Nicolau Maquiavel atuou na administração da República


Florentina e foi enviado a diversas missões, onde conheceu importantes
dirigentes políticos da época, como Luís XII de França, o Papa Júlio II, o
Imperador Maximiliano I, e César Bórgia. Depois de 14 anos participando
diretamente da política Florentina, os Médicis voltam ao poder em 1512 e
Maquivel é torturado e deportado, sendo obrigado a permanecer no mínimo um
ano sem exercer cargos políticos. Durante este tempo, Nicolau se dedicou
integralmente a escrever diversas obras e, em uma tentativa desesperada de
ter seu cargo de volta passado um ano, em 1513 escreve sua maior obra: “O
Príncipe”, que foi uma espécie de “manual” político para Lourenzo de Médici,
explicando detalhadamente o que um príncipe precisa possuir para continuar
no poder. Frustrado, Maquiavel morre em 21 de junho de 1527, pobre, sem
reconhecimento e sem nunca reaver seu cargo político.
Por ser um tratado, Maquiavel usa linguagem bastante direta e clara em “O
Príncipe”, dividindo em capítulos o que julga necessário destacar como
características indispensáveis e dispensáveis para se manter em um
principado. Muitos caracterizam esta obra como um manual político que o
príncipe deve seguir, por sua linguagem direta e objetividade. Além dos 26
capítulos em que Nicolau o divide, o tratado possui uma dedicatória à Lorenzo
II de Médici, como tentativa de ganhar confiança do Duque.

Em “O Príncipe”, Maquiavel defende a centralização do poder político, mas não


do absolutismo, tendo em vista que ele tinha mais afinidade com a república do
que com o principado em si. É uma das características principais da obra o
desenvolvimento do conceito de Estado Moderno, porém para entender essa
teoria é necessária uma leitura atenta do texto, junto com uma análise do
contexto histórico da Itália Renascentista. Em uma leitura atenta, é notável
também a fragilidade em que a República Florentina se encontrava, visto que o
autor usa o empirismo para desenvolver a obra. Percebe-se também que ele se
apropria de conceitos de autores da Antigüidade Clássica e os adapta para seu
tempo com base no que ele próprio presenciou durante os anos em que serviu
a República Florentina antes da tomada dos Médici, para reforçar sua tese.

Dois dos conceitos principais empregados por Nicolau Maquiavel eram o de


virtù e fortuna. Para ele, virtù é a capacidade de percepção dos fatos e
adaptação dos acontecimentos, ou seja, a capacidade de flexibilidade que o
príncipe tinha de ter. Já o conceito de fortuna era relativo à “sorte”, como coisas
inevitáveis que aconteciam ao príncipe e, para que sua conduta fosse boa, era
essencial que ele tivesse a virtù antes da fortuna.

É uma obra que dialoga diretamente com seu tempo, visto que em pleno
Renascimento Italiano Maquiavel rompe com o modelo clássico e fundamenta-
se no empirismo e na análise de fatos que o antecederam e que ele mesmo
vivenciou. Além disso, é o primeiro a propor diretamente a dessacralização em
sua análise do Estado Moderno. No entanto, esta obra tardou a se tornar um
clássico pela falta de reconhecimento em seu tempo, pelo contrário, foi
fortemente criticada na época. Somente quando as pessoas conseguiram
entender que esta obra não pode ser separada de seu contexto histórico é que
o brilhantismo de Maquiavel foi revelado, apesar de sua fama de
“maquiavélico” ainda o perseguir, contrariando sua personalidade extrovertida.

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