Você está na página 1de 11

 

jusbrasil.com.br
25 de Novembro de 2019

3 coisas que você não sabe sobre a remoção por


motivo de saúde e que podem fazer toda a
diferença se um dia você precisar ser removido

Se você é servidor público, com certeza já ouviu falar


em remoção, não é verdade?

No Estatuto do Servidor Público Federal, o instituto


da remoção está previsto no artigo 36 (Lei nº
8.112/90).

Obs.: a maioria dos Estatutos de servidores Estaduais


e Municipais copiam, na integralidade, o instituto da
remoção, previsto na Lei 8.112/90
Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a
 
pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com
ou sem mudança de sede.

Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo,


entende-se por modalidades de remoção:

I – de ofício, no interesse da Administração;

II – a pedido, a critério da Administração;

III – a pedido, para outra localidade,


independentemente do interesse da Administração:

a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também


servidor público civil ou militar, de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, que foi deslocado no interesse da
Administração;

b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge,


companheiro ou dependente que viva às suas expensas
e conste do seu assentamento funcional, condicionada
à comprovação por junta médica oficial;

c) em virtude de processo seletivo promovido, na


hipótese em que o número de interessados for superior
ao número de vagas, de acordo com normas
preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que
aqueles estejam lotados.

O que interessa para nós, neste artigo, é o III, b.


O inciso III deixa claro que a remoção por motivo de
 
saúde, seja do próprio servidor, do seu cônjuge,
companheiro, ou dependente, não depende do
interesse da Administração.

Mas, o que isso significa exatamente?

1- A remoção por motivo de saúde é um ato


vinculado, não cabendo margem de análise por parte
da Administração Pública

Bom, quando falamos de remoção, temos que ter em


mente que a regra é que ela só vai acontecer se, além
da sua vontade, houver interesse público da
Administração Pública para que o servidor seja
removido.

Vamos entender com um exemplo:

João é servidor do Ministério da Fazenda, em São


Paulo.

Ele é especialista em TI.

Durante um evento do próprio Ministério, em


Brasília, João se apaixona por Maria, que é servidora
na capital federal, e eles decidem se casar.

João, então, faz um pedido junto ao RH do seu órgão


para ser removido para Brasília.

Atenção: esse caso não é uma remoção para


acompanhar o cônjuge!
É uma remoção a pedido.
 
A estrutura do órgão, então, percebe que em Brasília
está faltando profissionais na área de TI.

Neste caso, o pedido de João para ser removido para


Brasília será aceito, correto?

Não necessariamente!

Como dissemos mais acima, isso depende do


interesse público, e aí nós entramos numa área
delicada do Direito Administrativo chamado
discricionariedade.

O órgão certificou-se que existe a necessidade de


profissionais de TI em Brasília.

Mesmo tendo o órgão se certificado da necessidade


de profissionais de TI em Brasília, ele pode negar o
pedido de João.

Nesse caso, a remoção fica a critério da


Administração (ato discricionário).

Já no caso de remoção por saúde, a coisa muda


completamente.

O texto da lei diz, claramente, que não depende do


interesse da Administração.
 

Ou seja, não há margem de discricionariedade:


comprovada a situação de saúde, o servidor tem o
direito de ser removido.

2 – Não é necessário ter vaga disponível para o


servidor na localidade para onde ele será removido

Vamos voltar ao exemplo do João.

Quando ele pediu para ser removido para Brasília, o


órgão verificou se havia local disponível para ele ser
lotado, e que comportasse um profissional de TI.

E mesmo existindo essa necessidade, a remoção dele


poderia ser negada, a critério da Administração.

Essa análise (se há local disponível e necessidade de


servidor na localidade) não ocorre em caso de
remoção por saúde.

No caso, a Administração que “se vire”, e dê um jeito


de arrumar uma lotação para o servidor.
E o motivo de não se exigir essa disponibilidade de
 
vaga é muito clara: o direito à saúde é superior, e
dependendo da situação, manter o servidor longe de
seus familiares pode gerar um dano mais grave,
como o suicídio, por exemplo.

E não estou exagerando.

Tenho um caso bem peculiar aqui no escritório de


uma servidora que, depois de muito tempo afastada
de casa e dos familiares, desenvolveu um quadro de
depressão muito grave.

Ela foi afastada para tratamento médico (os familiares


moram a mais de 2 mil kilômetros de distância), e
todos os laudos apontaram pela necessidade do
convívio junto ao seio familiar, para que ela possa ter
uma vida normal.

E veja só o que aconteceu: fizemos o pedido de


remoção junto ao órgão dela, que é federal, e o
processo seguiu seu trâmite normal, até que chegou
a hora da perícia.

O órgão marcou a perícia na cidade onde ela é lotada.

Detalhe: ela se encontra em tratamento na cidade em


que os familiares residem.

A depressão dela é tão grave, que gerou um quadro


de pânico gravíssimo, de tal maneira que ela não
consegue entrar em qualquer meio de transporte
quando o destino é para sair da cidade de seus
 
familiares.

Ela foi ao médico, psicólogo, tomou remédios, mas,


mesmo assim, não consegue: se for para sair da
cidade, ela tem crise de pânico e não consegue entrar
no meio de transporte, seja carro, avião ou ônibus.

Para não perdermos o pedido de remoção, fiz uma


solicitação para que a perícia fosse feita na cidade
onde minha cliente está morando, junto com seus
familiares, ou seja, perícia em trânsito.

Mesmo com o laudo médico explicando a situação da


servidora, o pedido foi negado.

E aí, o que fizemos?

3 – Não é necessário passar por perícia médica oficial


para ter seu pedido de remoção por motivo de saúde
aceito

Você se lembra do que diz a lei?

b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge,


companheiro ou dependente que viva às suas expensas
e conste do seu assentamento funcional, condicionada
à comprovação por junta médica oficial;

Ela condiciona a remoção após comprovação por


junta médica oficial.
No caso da minha cliente, ela não teria como passar
 
por uma junta médica oficial (apesar dela estar
plenamente disposta a fazer a perícia, pois o seu
problema é muito grave), e tivemos que pensar na
melhor estratégia para que ela não ficasse
prejudicada.

Pensem na situação: o órgão não autorizou a perícia


em trânsito.

Estava perto de acabar o prazo da licença por motivos


de saúde.

Com a crise de pânico que ela desenvolveu, não ia


conseguir voltar a trabalhar na cidade onde estava, e
isso iria gerar mais de 30 faltas consecutivas, o que
resultaria numa demissão.

Entenderam a gravidade da coisa?

O que eu fiz, então, foi partir, diretamente, para a via


judicial.

Poderia pedir, na ação judicial, para que somente a


perícia fosse feita na cidade onde minha cliente está
morando, e continuar o processo administrativo de
remoção normalmente.

Mas, já que ia para a justiça, eu optei por fazer tudo


por lá, inclusive com pedido liminar de remoção,
mesmo sem perícia.
E isso é perfeitamente possível, inclusive com
 
entendimento pacífico do Superior Tribunal de
Justiça.

Confira esse importante precedente judicial:

“…, tem aplicação o princípio do livre convencimento


judicial motivado (art. 131 do CPC), a permitir que o
Juiz forme a sua convicção pela apreciação do acervo
probatório disponível nos autos, não ficando vinculado,
exclusivamente, à chamada prova tarifada, já em
franco desprestígio, ou seja, aquela prova que a lei
prevê como sendo a única possível para a certificação
de determinado fato ou acontecimento” (in AgRg no
REsp 1209909/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
14/08/2012, DJe 20/08/2012).”

Complementando o julgado acima, veja o que decidiu


o TRF da 4ª Região:
“… A moderna doutrina jurídica há muito reconhece
 
que o Direito não é apenas um conjunto constituído
por regras válidas positivadas, mas também por
princípios estruturantes do Sistema Jurídico e
informadores da atividade judicial de todo Estado
Democrático de Direito. Não se pode perder de vista
que os princípios informadores dos artigos 36 (…) da
Lei nº 8.112/90 foram, justamente, as garantias à
unidade familiar e à (…). Desta feita, os referidos
dispositivos do Estatuto do Servidor devem ser
aplicados em consonância com a finalidade para a qual
foram editados. – Em homenagem ao princípio de
hermenêutica constitucional e da concordância
prática, o disposto no art. 36, III, b da Lei 8.112/90
deve ser interpretado em harmonia com o que
estabelecido no art. 196 do Texto Maior (direito
subjetivo à saúde), ponderando-se os valores que
ambos objetivam proteger. – O Poder Público tem,
portanto, o dever político-constitucional impostergável
de assegurar a todos proteção à saúde, bem jurídico
constitucionalmente tutelado e consectário lógico do
direito à vida, qualquer que seja a dimensão
institucional em que atue, mormente na qualidade de
empregador” (in TRF4 – APELREEX
50259956920104017100/RS in DJe 06/08/2014)

Em suma: o juiz é livre para se convencer através das


provas que tem no processo.

Se está claro que existe uma doença, e que o servidor


precisa ser removido, o juiz não é obrigado a
submeter o servidor a uma perícia médica oficial, ou
mesmo judicial, para deferir o pedido de remoção.
E a base disso tudo é justamente o que falamos no
 
início do artigo: o direito à saúde é superior!

E você? Tem alguma dúvida sobre remoção?

Deixe sua dúvida aí nos comentários!

Disponível em: ht t ps://sergiomerola85.jusbrasil.com.br/art igos/784008345/3-


coisas-que-voce-nao-sabe-sobre-a-remocao-por-mot ivo-de-saude-e-que-
podem-fazer-toda-a-diferenca-se-um-dia-voce-precisar-ser-removido

Você também pode gostar