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Houve somente duas terras que foram dominadas, mas não vencidas,
porque se submeteram ao governo romano, mas mantiveram as suas
tradições por serem altamente civilizados e conscientes do seu poder
intelectual.
Caeterum censeo Carthaginem esse delendam [De resto eu opino que Cartago
deve ser destruída].
A guerra começou no ano de sua morte e em 146 a.C. Cartago foi arrasada
depois de três anos de cerco.
Catão se rendeu por ter confirmado que a influência grega tinha penetra-
do até na própria língua latina, recheada de termos gregos, principalmente no
campo das Ciências e das Artes, trazidos por escravos cultos que se tornaram
professores nas casas das famílias dos patrícios, a classe nobre da elite romana.
Incorporados no dia-a-dia do povo romano, não é de espantar que esses vocá-
bulos gregos com seus radicais, prefixos e sufixos tenham sido levados para as
terras conquistadas, cujos povos tomaram os empréstimos linguísticos necessá-
rios para o intercâmbio com os vencedores.
O Prof. Dr. Eurico Back e eu realizamos uma pesquisa à procura de uma linguís-
tica puramente brasileira. A nossa primeira discussão foi sobre significante e sig-
nificado. O primeiro nenhuma dúvida traz, porque é material, passível de se falar
e de se ouvir, de se escrever e de se gravar em disco. O segundo é imaterial. Eu
lia nesse meio tempo as Confessiones de Santo Agostinho e em uma das páginas
de suas Confissões, eu apontei o parágrafo em que ele falava da sua infância e de
como aprendia a língua falada. Disso veio a nossa definição de significado (BACK;
MATTOS, 1972, p. 15), a que acrescento um complemento para maior clareza:
É por isso que uma criança aprende a língua materna sem ninguém a ensinar:
ela ouve os significantes dentro de uma situação cultural, no caso uma situação
familiar que se repete dia por dia. Com isso, observa também que atos ocorrem
logo depois desse ruído que ouve – pois o ruído se transforma em palavra e frase
somente depois que se relaciona a fala com as suas consequências de praticidade.
A criança é um aluno sem professor, porque nenhum dos seus familiares lhe diz o
que significam as palavras que ela ouve: ativa, ela descobre e nunca mais esquece.
Essa ideia de baixa latinidade, de idade de ferro, depois de uma de prata que
seguiu uma primeira de ouro, deveria referir-se à desagregação populacional das
terras conquistadas pelos romanos que obrigaram os moradores ao uso da latim
e com isso o aprenderam desadequadamente, num primeiro momento com uma
quantidade maior de adultos. Outra coisa é a necessidade de considerar que artis-
tas perfeitos podem acontecer numa época e nenhum igualar-se depois dele.
Algo bem parecido aconteceu no Brasil nos séculos XVI e XVII quando negros
e índios passaram a usar a língua portuguesa: era uma língua atropelada pelas
línguas nativas daqueles falantes.
Nada disso aconteceu no norte da África até a chegada dos árabes. Assim, o
latim africano era apenas a evolução natural de uma língua. O fato de nenhum
dos seus autores ter tido o talento e o gênio de Publius Virgilius Maro – Virgílio
(70-19 a.C.) e Quintus Horatius Flaccus – Horácio (65-8 a.C.), ou de Caius Julius
Caesar – César (100-44 a.C.) e Marcus Tullius Cicero – Cícero (106-43 a.C.), essa é
uma fatalidade que nem os deuses explicam.
Línguas em conflito:
a língua latina e as línguas nativas
Qual seria a origem de um homem de sessenta anos?
Se ficarmos com esse ser humano, nenhum sentido teria falarmos da sua
origem: todos eles nascem, se desenvolvem, amadurecem, se fragilizam e morrem.
Eu bem sei que língua não é gente, mas é parte essencial de gente e, portan-
to, pode-se honestamente pensar num paralelo entre uma e outra.
O pídgin é uma língua de emergência que nasce para servir de veículo even-
tual de comunicação entre pessoas de línguas diferentes: não é nenhuma delas,
mas tem partes de cada uma delas. No momento em que se estruturar e passar
a ter uma comunidade que a fale nascimentos após nascimentos, dessa língua
podemos falar que tem a sua origem nas línguas matrizes por ela não ser nenhu-
Comecemos citando as línguas românicas, aquelas que têm um povo que as fala
com uma continuidade temporal ininterrupta entre a derrocada do Império Romano
e a atualidade, além de apresentarem uma independência que as distinguem dos
diversos falares ou dialetos, possuem formas paralelas de uma mesma língua.
Devo acrescentar que o galego talvez possa ser considerado uma colíngua
da portuguesa, mas existem fartas razões para as considerarem línguas diversas
apesar da semelhança impressionante entre ambas. Separadas politicamente
desde o século XIII e com o intercâmbio humano cada vez mais escasso, evolu-
ções diferentes as separaram, ainda que continuem perfeitamente compreensí-
veis para os falantes da outra.
A latinização e a formação
das línguas românicas
As línguas românicas resultam da história dos povos dominados pelo exérci-
to romano e pela convivência da língua nativa deles com a que lhes foi imposta
e sobreposta pela força e pela cultura mais avançada. Em todos os casos dessas
línguas, as línguas nativas resistiram algum tempo, sempre com menos falantes
e por fim sem nenhum, aparecendo mais uma língua morta de um povo venci-
do por uma outra cultura por lhe terem tirado o tempo necessário para o seu
avanço em direção ao futuro.
A falta desses dois tempos do futuro foi sentida em toda parte e assim veio
a necessidade de se achar um meio de expressar esse tempo, o que foi feito por
uma evolução motivada que levou ao aparecimento de novas formas, mas não
únicas em todo povo românico.
52 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Origem e formação das línguas românicas
Formas da evolução
A língua do povo brasileiro faz alguns ditongos desaparecerem, mas se pode
dar uma regra porque acontece com o ditongo antes de determinadas consoan-
tes em palavras bem comuns na língua:
Os [mais de um] bons [mais de um] alunos [mais de um] fazem provas [mais de
um] excelentes [mais de um].
– Beleza!
Esse sentido, parece que serei o primeiro a registrá-lo, pois trabalho na quarta
edição do meu Dicionário Júnior da Língua Portuguesa: desconhecem-no os di-
cionários de Antônio Houaiss (1915-1999) e de Aurélio Buarque de Holanda Fer-
reira (1910-1989).
Pode perfeitamente acontecer que o termo seja empregado por tanta gente
que o povo todo abandone o sentido substantivo dessa palavra e a troque por
outra: formosura ou lindeza, talvez.
claro > craro / plantar > prantar / atleta > atreta / glória > grória / bloco > broco.
Se eu cato (1) faz a cata (2), então eu perco (3) deve fazer a perca (4)...
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Origem e formação das línguas românicas
Se eu sonho (1) faz sonhar (2), então eu ponho (3) deve fazer ponhar (4)...
Há evoluções sintáticas. Uma delas ocorreu ainda dentro da língua latina nos
séculos posteriores à queda do Império Romano: a ordem dos termos da oração
puxou o verbo para mais perto do sujeito criando uma nova ordem direta nesse
latim tardio. A língua anterior tinha uma liberdade imensa na ordem das pala-
vras, mas a ordem direta impunha o verbo como palavra derradeira:
Helvetii quoque reliquos Gallos virtute praecedunt [No latim clássico: os hel-
vécios também aos demais gauleses em força excedem] (CÉSAR apud MATTOS,
2001, p. 92)
Helvetii praecedunt quoque reliquos Gallos virtute [No latim românico: os hel-
vécios excedem também os demais gauleses em força].
É claro que a nova ordem direta foi uma porta aberta para uma evolução mo-
tivada: a queda de um dos casos que uma regra espontânea já tinha reduzido a
dois dentro da România; nominativo e acusativo.
Eu já lhe [objeto indireto] falei que lhe [objeto direto] amo, meu bem!
– Mama.
– Mamo!
Depois dessa longa explanação, devo acrescentar que a língua latina atraves-
sou a evolução espontânea e também a motivada.
Houve uma evolução fonética bem extensa, que mudou o aspecto sonoro da
língua, deixando o acento tônico na antepenúltima ou penúltima sílaba da pala-
vra, nunca mais na sua primeira sílaba, além de poder produzir metafonias:
Apareceu depois dos anos de glória uma grande simplificação nas desinên-
cias nominais por uma evolução simultaneamente vocabular e sintática, ainda
espontânea, embora ocorrendo na língua do povo, conhecido como latim
vulgar, nome impróprio pelo sentido pejorativo que contaminou esse adjetivo e
o substantivo derivado: vulgar e vulgaridade.
Mais profunda foi a eliminação de quatro dos seis casos [nominativo: N / ge-
nitivo: G / dativo: D / acusativo: Ac / ablativo: Ab / vocativo: V], substituídos pelas
preposições que passaram a requerer um caso único, restando o nominativo e o
acusativo, o que também aconteceu em toda a România:
Ab cum lupam cum lupum cum regem cum lupas cum lupos cum reges
Texto complementar
Posto isso, verifica-se que, por causa de sua origem latina comum, o por-
tuguês e o espanhol apresentam imperativos com mais semelhanças que di-
ferenças. Como não poderia deixar de ser, temos algumas diferenças, apon-
tadas aqui na medida em que foi possível verificá-las.
Atividades
1. De que resultam as línguas românicas?
2. Por que o povo grego, pequeno e desvalido diante da força romana, pôde
resistir no terreno da língua e conservar a sua?
Dicas de estudo
BERLITZ, Charles. As Línguas do Mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.