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Súmula 556-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
Isenção de IR sobre o valor da complementação de aposentadoria e do resgate de contribuições

Súmula 556-STJ: É indevida a incidência de imposto de renda sobre o valor da


complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada e em relação ao
resgate de contribuições recolhidas para referidas entidades patrocinadoras no período de
1º/1/1989 a 31/12/1995, em razão da isenção concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei n.
7.713/1988, na redação anterior à que lhe foi dada pela Lei n. 9.250/1995.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/12/2015. DJe 15/12/2015.

Previdência complementar
Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro,
aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.
A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a
entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência).
É chamada de "complementar" porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa
privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime
próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de "complementar" a renda no
momento da aposentadoria.
O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de "entidade de
previdência complementar" (entidade de previdência privada).

Entidades de previdência privada


Existem duas espécies de entidade de previdência privada (entidade de previdência complementar): as
entidades de previdência privada abertas e as fechadas.

ABERTAS (EAPC) FECHADAS (EFPC)


As entidades abertas são empresas privadas As entidades fechadas são pessoas jurídicas,
constituídas sob a forma de sociedade anônima, organizadas sob a forma de fundação ou
que oferecem planos de previdência privada que sociedade civil, mantidas por grandes empresas
podem ser contratados por qualquer pessoa física ou grupos de empresa, para oferecer planos de
ou jurídica. As entidades abertas normalmente previdência privada aos seus funcionários.
fazem parte do mesmo grupo econômico de um Essas entidades são conhecidas como “fundos de
banco ou seguradora. pensão”.
Exs: Bradesco Vida e Previdência S.A., Itaú Vida e Os planos não podem ser comercializados para
Previdência S.A., Mapfre Previdência S.A., Porto quem não é funcionário daquela empresa.
Seguro Vida e Previdência S/A., Sul América Ex: Previbosch (dos funcionários da empresa
Seguros de Pessoas e Previdência S.A. Bosch).
Possuem finalidade de lucro. Não possuem fins lucrativos.
São geridas (administradas) pelos diretores e A gestão é compartilhada entre os representantes
administradores da sociedade anônima. dos participantes e assistidos e os representantes
dos patrocinadores.

Súmula 556-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


A súmula trata sobre plano de previdência privada fechada. Antes de explicar o que diz o enunciado, é
necessário entender algumas nomenclaturas utilizadas na redação da súmula.

"Entidades patrocinadoras" (patrocinador)


Patrocinador (ou entidade patrocinadora) é a empresa ou grupo de empresas que oferece plano de
previdência privada fechada aos seus funcionários. Funciona da seguinte forma: os empregados pagam
uma parte da mensalidade e o patrocinador arca com a outra.
Obs: existem alguns entes públicos que também oferecem plano de previdência privada aos servidores.
Neste caso, este ente público é que será o patrocinador.
A entidade patrocinadora oferece o plano de previdência privada por meio de uma entidade fechada de
previdência privada. Enfim, só existe entidade patrocinadora no caso de plano fechado de previdência privada.
Os benefícios mais comuns que são oferecidos pela previdência complementar fechada são os seguintes:
aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez e pensão por morte.

Participante
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma
entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano,
tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador).
O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu
salário no momento do pagamento.

"Valor da complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada"


"Valor da complementação de aposentadoria" é a quantia paga pela entidade de previdência privada
como aposentadoria à pessoa que contratou a previdência complementar.

"Resgate de contribuições recolhidas para entidades patrocinadoras"


Pode acontecer de o participante, antes de chegar no momento em que poderia receber a aposentadoria,
decidir fazer o resgate, total ou parcial, das contribuições que pagou. O período de carência, a forma e os
percentuais de resgate devem estar previstos no regulamento que disciplina o plano de previdência.

Vamos agora passar a tratar especificamente sobre o que diz a súmula.

Benefícios recebidos de entidades de previdência privada e isenção de IR


A Lei nº 7.713/88 trata sobre o imposto de renda e entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1989.
Em seu art. 6º, a Lei traz uma lista de hipóteses de isenção do imposto.
Em sua versão original, pela interpretação do inciso VII, alínea "b" do art. 6º da Lei nº 7.713/88 era possível
concluir que o participante da previdência privada não precisava pagar imposto de renda quando recebia:
 a complementação de aposentadoria (valor da aposentadoria paga pela entidade de previdência
complementar); ou
 o resgate das contribuições recolhidas.

O participante não precisava pagar imposto de renda ao receber essas quantias porque ele já havia pago o
tributo na fonte, ou seja, no momento em que recebeu o salário e, parte deste foi utilizada para a
contribuição destinada à entidade de previdência. Em outras palavras, a contribuição paga pelo
participante para a entidade fechada de previdência privada já era tributada na fonte. Justamente por isso,
quando o participante iria receber o benefício, não podia haver nova incidência de IR, sob pena de bis in
idem. Daí a previsão do legislador isentando do imposto no art. 6º, VII, "b".

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Fim da isenção com a Lei nº 9.250/95
A situação acima relatada durou até 31/12/1995, após o que entrou em vigor a Lei nº 9.250/95, que
alterou a redação do inciso VII do art. 6º da Lei nº 7.713/88, acabando com a isenção dada para as
contribuições pagas pelos participantes.
Além de alterar a redação do inciso VII, a Lei nº 9.250/95 determinou, expressamente, a incidência de
imposto de renda para os valores recebidos pelo participante a título de complementação de
aposentadoria e resgate de contribuições. Veja:
Art. 33. Sujeitam-se à incidência do imposto de renda na fonte e na declaração de ajuste anual os
benefícios recebidos de entidade de previdência privada, bem como as importâncias correspondentes ao
resgate de contribuições.

Por que a Lei nº 9.250/95 acabou com a isenção de IR sobre o valor que o participante iria receber a
título de complementação de aposentadoria ou resgate?
Porque esta Lei passou a prever que os valores descontados do salário do participante e destinados ao
pagamento da previdência privada não estão sujeitos ao recolhimento de imposto de renda na fonte. A Lei
permitiu ao contribuinte abater do imposto de renda o valor recolhido à previdência privada. Como o
participante não paga mais o IR no momento em verte as contribuições, passou a ser obrigado a recolher
este no instante em que aufere a aposentadoria complementar ou recebe de volta as contribuições.

Redação original da Lei nº 7.713/88 Redação dada pela Lei nº 9.250/95


(período de 1º/1/1989 a 31/12/1995 Período a partir de 01/01/1996
O participante, quando recolhia a contribuição A Lei nº 9.250/95 inverteu a sistemática.
para a previdência privada, pagava IR. O participante não é obrigado a recolher IR sobre o
Logo, quando recebia a complementação de valor das contribuições pagas à previdência privada.
aposentadoria ou o resgate das contribuições Logo, quando recebe a complementação de
recolhidas era isento de IR (para não pagar duas aposentadoria ou resgate das contribuições,
vezes - bis in idem). deverá pagar o IR.

A fim de evitar bis in idem, o próprio Governo editou a MP 1.943-52 (reeditada ao final sob o nº 2.159-70)
reconhecendo que não incide imposto de renda quanto às parcelas resgatadas e referentes a este período.
Confira:
Art. 7º Exclui-se da incidência do imposto de renda na fonte e na declaração de rendimentos o valor do
resgate de contribuições de previdência privada, cujo ônus tenha sido da pessoa física, recebido por
ocasião de seu desligamento do plano de benefícios da entidade, que corresponder às parcelas de
contribuições efetuadas no período de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1995.

Reescrevendo a súmula com outras palavras


No período de 1º/1/1989 a 31/12/1995, o participante de plano de previdência privada fechada não tinha
que pagar imposto de renda no momento em que recebia a aposentadoria complementar
(complementação de aposentadoria) ou se optasse por resgatar as contribuições recolhidas. Havia a
previsão de uma isenção no art. 6º, VII, b, da Lei nº 7.713/88, que foi revogada pela Lei nº 9.250/95.

Concurso
Assunto que não é tão frequente de ser cobrado em provas de concurso. Fique mais atento se estiver se
preparando para concursos federais. De qualquer forma, é mais provável que seja cobrada apenas a
redação literal do enunciado.

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