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O que o capitalismo não é – Mídia Sem Máscara

O capitalismo não é exclusivamente “capitalista”. A acumulação de capital é um fato existente


em qualquer sociedade, independentemente de sua estrutura política e econômica. Max Weber já
dizia em A ética protestante e o espírito do capitalismo que “a ganância pelo ouro é tão antiga quanto
a história do homem”. E que onde o capitalismo era mais atrasado encontrava-se “o reino universal
da absoluta falta de escrúpulos na busca dos próprios interesses por meio do enriquecimento”. No
entanto, as pessoas ainda encaram o capitalismo como um ordenamento moral, um modo de vida em
que a acumulação de riqueza é o bem superior. Mas a defesa do capitalismo não significa a defesa de
um homo economicus cuja única preocupação na vida é ganhar dinheiro. Há muitas coisas mais
importantes do que a acumulação de capital, como a família, a religião, a arte e a cultura. E isso realça
a importância da economia de mercado. É verdade que no livre mercado há mais oportunidade para
aquele que pretende enriquecer, mas nele o filósofo também tem mais oportunidade de aprender e o
artista tem mais oportunidade de se expressar. E é por meio do livre mercado que o filantropo, a
pessoa que deseja ajudar o próximo, dispõe de mais recursos para fazer assistência social, e, através
do sistema de preços livres, pode utilizar seus recursos de forma mais eficiente.

O capitalismo não é a burocracia internacional. As pessoas de esquerda costumam identificar


pelo termo “neoliberal”, tanto as reformas modernizadoras que diminuem a participação do Estado
na economia, quanto as organizações inter-governamentais como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional. Como neoliberalismo e capitalismo são termos intercambiáveis no discurso
vulgar, o FMI e o Banco Mundial aparecem como braços operadores do capitalismo internacional.
Essa confusão também costuma ser feita por pessoas de direita que, definindo-se por sua oposição
sem reservas à esquerda, acabam defendendo instituições burocráticas como se fossem partes
integrantes do sistema capitalista. Nesse caso, a esquerda tem razão em denunciar a arrogância de
agências internacionais, que nada mais são do que uma forma de planejamento central de larga
escala. Enquanto o liberal entende que a prosperidade depende da utilização do conhecimento e dos
incentivos dispersos na sociedade, os burocratas internacionais acreditam que podem comandar o
desenvolvimento econômico na Zâmbia ou em Guiné-Bissau de seus escritórios em Washington e
Nova York. O resultado não tem sido animador. O jornalista Andrew Mwenda, de Uganda, continua
sem resposta para sua pergunta sobre exemplos históricos de países que tenham realmente
prosperado graças à ajuda externa. De 1975 a 2000, o continente africano recebeu em auxílio externo
uma média de 24 dólares per capita por ano. Entretanto, o PIB africano per capita diminuiu a uma
taxa média anual de 0,59%. Durante o mesmo período, o PIB per capita do sul asiático cresceu a uma
média de 2,94%, apesar de ter recebido em auxílio externo uma média de apenas 5 dólares per capita
a cada ano. Políticas de abertura de mercado têm um efeito mais positivo do que o planejamento
internacional financiado por impostos. Na verdade, em vez de criar economias de mercado ativas e
autônomas, as políticas do Banco Mundial diminuem a dependência dos governos por sua própria
população, já que a receita não vem dos tributos extraídos do desenvolvimento econômico doméstico,
mas das negociações com outros burocratas. O poder da população é transferido para essas
organizações, criando uma cultura de dependência em que a miséria local apenas aumenta o poder de
barganha dos governos que recebem auxílio externo. O resultado é a perpetuação da miséria.

O capitalismo não é a política norte-americana. Apesar de os Estados Unidos historicamente


terem tido um de seus pilares no livre mercado, grandes contribuições para a compreensão do
capitalismo foram feitas em outros paises. Sem contar que, ultimamente, o governo americano tem
feito um ótimo trabalho de difamação do nome do livre mercado. O crescimento nos gastos da atual
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administração superam a de qualquer outro presidente desde o democrata Lyndon Johnson, criador
do programa assistencialista da Great Society. George W. Bush foi o primeiro presidente americano a
assinar um orçamento de mais de 2 trilhões de dólares. E também foi o primeiro presidente
americano a assinar um orçamento de mais de 3 trilhões de dólares. Um aumento que inclui gastos
significativos na previdência social e saúde pública, além dos gastos bélicos. As recentes aventuras no
Oriente Médio também não podem ser consideradas políticas pró-capitalistas. A própria guerra e a
permanência no Iraque são um experimento socialista de escala internacional, que já custou mais de
1 trilhão de dólares e cerca de 30 mil vidas. Liberais defensores do capitalismo não acreditam que
nações são violentamente construídas por meio da política, mas que se desenvolvem espontânea e
pacificamente. É o socialismo que defende a prosperidade planejada. E o que o governo americano
tem feito no Iraque é um planejamento de longo alcance.

O capitalismo não é a defesa irrestrita das grandes corporações. Os defensores do livre


mercado entendem que os negócios podem tanto servir quanto prejudicar a população em geral. Em
um sistema intervencionista, toda empresa que quer aumentar o seu lucro tem duas opções: investir
em produtividade, para competir pelos consumidores, ou investir em lobby, para competir pelos
favores políticos. A competição para servir à sociedade é capitalismo, a competição para servir ao
governo é mercantilismo. São os mercantilistas que defendem legislações protecionistas de
corporações contra a competição estrangeira e doméstica. Os liberais defendem um mercado aberto,
em que a manutenção de um negócio depende do oferecimento de serviços e produtos que satisfaçam
ao consumidor.

O capitalismo não é a perpetuação das elites. São os oponentes do capitalismo que, ao


defender maior concentração de poder nas mãos de políticos e burocratas, constroem um sistema
corrupto e estático, no qual há pouco espaço para a mobilidade social e pouca oportunidade para o
desenvolvimento da criatividade humana. Há doses de capitalismo em diferentes sociedades do
mundo, mas não há uma sociedade onde a economia seja puramente livre, e nem o Brasil está entre
as economias mais livres do mundo. Na verdade, de acordo com o ranking de liberdade econômica
publicado anualmente pelo Fraser Institute, do Canadá, o Brasil encontra-se no 101º lugar entre 168
países examinados, empatado com Paquistão, Etiópia, Bangladesh e Haiti. No Brasil, há excesso de
burocracia para a entrada e a permanência no mercado, uma legislação trabalhista rígida, que
empurra os trabalhadores para a informalidade e uma legislação tributária que já foi considerada
pelo Fórum Econômico Mundial como a mais complexa de todo o mundo. Os oponentes do livre
mercado insistem no controle governamental da economia para resolver os problemas que foram
criados pelo próprio governo. Defender o livre mercado é defender a estrutura de um sistema
econômico dinâmico em que se estimula a produção de riquezas e se permite a mobilidade social.

O capitalismo não é a defesa do tratamento desigual das pessoas. Há diversas formas de


tornar as pessoas mais iguais. Os igualitários normalmente não pretendem torná-las mais iguais em
conhecimento ou em beleza, mas em recursos, pelo menos em alguns recursos que consideram
fundamentais. É bem verdade que o livre mercado não se baseia na igualdade de recursos. Mas isso
não significa um tratamento desigual das pessoas. A igualdade liberal, da qual floresce o capitalismo,
é a igualdade de direitos, a igualdade perante a lei. Isso significa que as questões de justiça e o uso da
sua liberdade no mercado não dependem de quem você é, mas do que você faz. O capitalismo é um
sistema econômico de cooperação mútua, apoiado em uma estrutura de direitos na qual prevalece a
igualdade jurídica entre as pessoas. As pessoas no livre mercado não são iguais em “distribuição de
renda”, mas são iguais em liberdade.

Por fim capitalismo não é socialismo O capitalismo não é uma imposição do governo nem o
Por fim, capitalismo não é socialismo. O capitalismo não é uma imposição do governo, nem o
mercado é uma ideologia em que a teoria necessariamente precede a prática. O capitalismo é
simplesmente o que ocorre quando as pessoas têm liberdade para fazer trocas, apoiadas em direitos
de propriedade bem definidos. É o socialismo que necessita da mobilização social para alcançar um
objetivo comum entre todas as pessoas. O socialismo precisa da pregação e da concentração de poder
na autoridade manipuladora. O socialismo é a politização da vida econômica, é um discurso
interminável do Fidel Castro, é a transformação de tudo o que é belo e espontâneo no dirigismo rígido
da política. O livre mercado é apenas o conjunto de ações de agentes humanos livres sobre a alocação
de recursos escassos. Se os propósitos desses agentes são morais, a ordem gerada será igualmente
moral. E é quando nós conseguimos sinceramente compreender e avaliar o capitalismo que passamos
a ter o discernimento para defendê-lo ou atacá-lo.

Diogo G. R. Costa é professor de relações internacionais no Ibmec-MG e coordenador do


OrdemLivre, site no qual foi publicado o presente artigo.

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