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x Comme Il Faut

UM MANUAL DE ELEGÂNCIA
& COMPOSTURA PARA
Comme Il Faut
Um Manual de Elegância & Compostura
Sumário
Escrito pelos capitães Thomas E. Olam e O Estilo de Uma Era Perdida. . . 3 A Temporada. . . . . . . . . . . . . 55-57
Michael A. Pondsmith com a Assistência O Que é “Comme Il Faut”? . . . . 4 Os Unseelie. . . . . . . . . . . . . . . . . 58
de senhorita Barrie Rosen, milady Hilary
A Suprema Dama Comme . . . . . 5 Viagens I (Mar & Ar. . . . . . . 59-62
Ayers, professor Gilbert Milner e
O Supremo Cavalheiro Comme.6 * Interior de Navios/Naus Celestes
doutor Ross “Spyke” Winn.
Comportamento Apropriado . . 7 * Rotas Marítimas & Horários
Vertido para o idioma lusitano pelo ilustrís-
Como se Vestir . . . . . . . . . . . . 8-14 Viagens II (Trilhos. . . . . . . . 63-66
simo César Rodriguez e cuidadosamente
cotejado pela excelentíssima senhora Maria Um Dia Típico na Era do Vapor.15 * Rotas & Horários
do Carmo Zanini. Lar, Doce Lar Vaporitano . . . . . 16 * Vagões & Locomotivas
Projeto & Diagramação da milady Cris Viana Modos, Maneiras & Costumes ook Xenofóbia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
e sir Leandro de Fiori do Estudio Chaleira de A a Z. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Zeitgeist. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
inspirados no lavor de mestre Theodore Amor & Sexo: As Regras do Jogo. . . . . . . . . . . . 69
Talsorian e do capitão Pondsmith. Perguntas & Respostas
Affaires. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
E uma Bela Capa Engendrada por Sobre as Regras. . . . . . . . . . . 71-72
A Corte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Cris Viana a partir da obra do Novas Perícias & Habilidades. . 73
Bailes, Festas &
coronelíssimo Mark Schumann. Novos Papeis & Profissões . . . . 75
Reuniões Dançantes . . . . . . 23-25
Preparação Mui Admiravelmente Executa- Cartas Claras Sobre a Mesa.76-77
da por: lady Janice Sellers, mestre Tristan
Corridas & Regatas . . . . . . . . . . 26
* Regras para Corridas de Carta Danos Terríveis &
Heydt, coronelíssimo Mark Schumann,
excelentíssimo Eder Marques. da Divina Sarah Grandes Perigos . . . . . . . . . . 78-81
Ilustrações do Incomparável Charles Dana Duelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Falkenstein Matemático . . . . . 82
Gibson. Escrever é uma Arte: Alta Feitiçaria Expandida
Manufaturado com maestria por: Os Diários . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 & Desvendada. . . . . . . . . . . . 83-87
Editor Eder Marques Os Romances . . . . . . . . . . . . . . . 29 * Feitiços Genéricos de RPGs
de Fantasia
Projetista Fernando Del Angeles Pires Fadas & Etiqueta Feérica. . . . . . 30
Administrador Daniel Martins Grupos & Clubes. . . . . . . . . . 31-32 Perguntas & Respostas
Comandante G. Moraes * Um Clube Típico
Sobre Magia. . . . . . . . . . . . . 88-90
* Alguns dos Grandes Clubes Novos Feitiços: Truques &
Pormenores Legais Solicitados por Nosso da Nova Europa Proteções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Advogado: Castle Falkenstein™, Comme Il Faut™e Horários de Visita. . . . . . . . . . . . 33 Feiticeiros Profissionais . . . . . . 92
todas as personagens & criações contidas neste livro Instrução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Bom Senso: Falkenstein
são marcas registradas de R. Talsorian Games, Inc., e Sem Regras . . . . . . . . . . . . . 93-102
utilizadas pela Retropunk Publicações sob licença.Castle
* Escolas e Faculdades da Nova Europa
Falkenstein &Comme Il Faut são copyright©Mike Ponds- O Jogo & Você . . . . . . . . . . . . . . . 36 Mesas de Pernas Pro Ar:
mith, 1995, 201X. Todos os direitos reservados. Todos os Lacaios & Criados. . . . . . . . . 37-39 Falkenstein Ao Vivo. . . . . 103-112
incidentes, as situações & as pessoas retratadas aqui são * Com o Que Então Queres Contratar Uma O Cenário de Campanha
fictícias, e qualquer semelhança, sem intenção satírica, é de Falkenstein . . . . . . . . . . . . . 113
Criada?
mera coincidência. Temas
Moeda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Gostaríamos de expressar nossa gratidão para lá de * Unidades Monetárias & Tabela de Con- Militares . . . . . . . . . . . . . . 114-115
especial a lady Janice Sellers. Ela fez, de fato, muito mais
que sua obrigação. Nosso eterno obrigado.
versão Mistério. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
Notícias & Mexericos. . . . . . . . . 41 Ficção Científica . . . . . . . . . . . 117
* Notícias, Mexericos & Assuntos 1869-1880 Romântico. . . . . . . . . . . . . . . . 118
Oficiais & Cavalheiros. . . . . 44-45 Agentes Secretos . . . . . . . . . . . 119
* Postos Militares & Equivalentes Horror . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Princípios Vitorianos: Contos de Fadas. . . . . . . . . . . . 122
Os Valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Quem é Quem Cronológico
As Boas Ações. . . . . . . . . . . . . . 47 Falkensteiniano . . . . . . . . . . . . 123
Quintas & Fins de Semana .48-52 Mapas (Cerca de 1870)
* Uma Típica Casa de Campo Munique . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
* Agenda Típica de um Fim de Semana no
Viena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Campo
Paris. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
* Jogos de Salão
Berlim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
A Realeza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Londres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
A Salvação das Aparências. . . . 54

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O Estilo de Uma Era Perdida
Caro Mike, Então peguei mais algumas publicações que pareceram
do meu interesse: os Guias de viagem de Baedeker, a revista fe-

T
ão logo cheguei aqui, percebi que meus modos e há- minina Godey’s, o Almanaque de Gota… Quando consegui me
bitos do século XX estavam espantosamente fora arrastar para fora da livraria, eu tinha uma pilha imensa de
de contexto nesta época mais formal e amaneirada. livros cheios de orelhas e minha carteira estava pelo menos
Quase sem pensar, eu não parava de cometer todo tipo de uns cinquenta florins mais leve.
gafe e deslize social, desde não puxar a cadeira para uma Munido com minhas aquisições, comecei a reduzir essa
dama num jantar formal até insultar um lorde feérico, montanha de informações a um tamanho viável. Teria sido
chamando-o de “elfo”. Alguns desses incidentezinhos — muito legal ter uma fotocopiadora por perto, mas tive de
como aquele no trem, em que derrubei uma dama de ves- recorrer a métodos mais primitivos: simplesmente usei
tido e crinolina — acabariam se mostrando hilários (agora um punhal afiado para cortar as páginas que eu queria,
que estão no passado). Outros, porém — como aquela vez entremeando-as com minhas próprias anotações sobre
em que insultei inadvertidamente um conde húngaro ao vários assuntos (deixando páginas em branco suficientes
omitir o tratamento apropriado a seu título e fui desafiado para expandir essas notas conforme a necessidade), então
para um duelo —, revelaram-se de fato letais. retornei ao livreiro e mandei encadernar tudo
Depois do segundo duelo, decidi que com uma bela capa de couro vermelho.
precisava de algum tipo de guia para O resultado foi um manualzinho bem
me orientar, um jeito prático de grosso que, no decorrer do ano se-
sacar as regras fundamentais des- guinte, eu consultaria toda vez
ta sociedade mais estruturada. que me visse num aperto social
Para minha sorte, os cidadãos ou cultural dos mais confusos.
de Nova Europa também são Ele se tornou meu salva-vidas.
obcecados com as boas ma- É claro que não recorro mui-
neiras e o Modo Apropriado to ao meu pequeno manual
de Fazer as Coisas, um concei- atualmente. Em sete anos, eu
to que eles denominam comme meio que aprendi o caminho
il faut (e que eu explicarei me- das pedras. Mas, depois de exa-
lhor mais adiante neste relato). minar suas notas sobre os Jogado-
Eles vivem imprimindo todo tipo res que se divertem com o Grande
de livros de etiqueta e guias sociais, Jogo do Outro Lado do Véu Feérico,
principalmente porque as regras para percebi que vocês aí têm o mesmo pro-
se viver na Era Vitoriana são confusas até blema que eu tive aqui. Diabos, o problema
mesmo para os vitorianos. que qualquer um teria ao ser jogado num mundo
Por recomendação de Marianne, fui aos livreiros locais inteiramente novo, sem uma dica sequer de como as coisas
em busca de uma cópia do Guia moderno de boas maneiras e são. É verdade, vocês têm as Regras, a História e a estrutu-
bons costumes da senhorita Marley. Tive de pesquisar bastante ra básica do universo neoeuropeu. Mas o que falta a vocês
até encontrar uma edição no meu idioma. Embora eu leia todos é o estilo: o estilo de uma época há muito perdida,
alemão, a última coisa que eu queria fazer numa situação coisas que tornam este lugar realmente único.
delicada era parar e traduzir mentalmente uma passagem. Assim, estou enviando meu guia pessoal via FadEx.
Enquanto vasculhava as prateleiras empoeiradas, ocor- Espero que você consiga colocar tudo num formato mais
reu-me que eu precisava aprender muito mais sobre Nova legível para os Jogadores desse lado do Véu, para que eles
Europa do que apenas boas maneiras. Percebi que eu tinha sintam a audácia, a graça e a galhardia de uma época que já
apenas uma vaga ideia de como funcionavam — de verda- ficou para trás no seu mundo. Para que eles também pos-
de — os transportes no mundo que adotei. Eu ainda não sam recriar o estilo desta Era Perdida.
sabia como as pessoas viviam, comiam, eram educadas, Mas aviso logo, Pondsmith: não se apegue ao livrinho
socializavam e tratavam umas às outras. E, particularmen- vermelho e surrado! Ainda há muitas páginas em branco a
te, eu não sabia nada sobre as fadas. preencher, e eu o quero de volta!

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O Que É “Comme Il Faut”?
C
omme il faut. Kɔm il ‘fo, ou Cômil(e) fô, para pular a transcrição fonética. Não ape-
nas soa estranho (exceto para os franceses), como também é quase impossível de
definir. Quando ouvi o termo pela primeira vez, era usado por Marianne para des-
crever uma conhecida ― uma certa dama a quem o magista Morrolan fora recentemente
apresentado e sobre quem queria saber mais. “E ela é, naturalmente, très comme il faut”,
confidenciou Marianne, inclinando-se sobre a xícara de chá na direção de Morrolan. O
mago compreendeu e sorriu, e eu, como de costume, fiquei completamente aturdido
com as sutilezas de Nova Europa.
Esperei até Morrolan sair, com a intenção de enviar flores para o endereço da dama em
München,e pedi a Marianne que me explicasse o que ela quisera dizer. E deparei imedia-
tamente com uma expressão que não há tradução no mundo que resolva, um termo difícil
de compreender e impossível de explicar. “É só uma coisa que todo mundo sabe”, disse a
Bela, exasperada, desistindo por fim com um eloquente dar de ombros gaulês. E eu ainda
sem entender nada, como uma hora antes.
Nos últimos anos, contudo, encontrei o termo várias vezes na vida em Sociedade e
acabei formulando meu próprio entendimento. O melhor modo de descrever comme il
faut é: como ser bacana no melhor estilo Vitoriano. Também pode significar que você pos-
sui a elegância, o conhecimento e os modos impecáveis que fazem de você um bacana;
pessoas e coisas podem ser qualificadas comme il faut;atos podem ser descritos da mesma
maneira. Ainda assim, isso não explica tudo. Ser “bacana” é, no fundo, a capacidade de
se mostrar bem informado e reservado, mas as qualidades comme il faut são mais difíceis
de definir.
Para começo de conversa, pode-se pensar no termo como sinônimo de “apropriado”:
conhecer o jeito certo de fazer as coisas; uma maneira de agir que nunca constrange a
Sociedade nem causa embaraço. Nesse sentido, ser comme il faut é ser socialmente apto e
capaz de se encaixar sem sobressaltos (por esse quesito, é claro, eu provavelmente nunca
serei comme il faut).
Outra definição do termo engloba a habilidade de se mostrar calmo e reservado sob
fogo cruzado. Mas não é exatamente o “nariz empinado” do aristocrata britânico. Nesse
contexto, comme il faut pode ter elementos da sutileza dos frequentadores dos bulevares
parisienses, que vão de café em café e acenam com a cabeça para as belas demoiselles sen-
tadas às mesas. Também é uma qualidade que se vê na frieza e temeridade de um hussar-
do de rapieira em punho, duelando com vinte rivais ao amanhecer.
Comme il faut também implica uma espécie de educação: modos impecáveis, postura
perfeita e roupas refinadas. Quem se veste comme il faut sempre usa camisas de linho cor-
retamente engomadas ou os vestidos mais finos e tem cartões de visita elegantes (além
de saber apresentá-los do jeito certo). Comme il faut também é saber o que “está na moda”
ou o que “é da hora” fazer ou ver, e a maneira adequada de fazer as duas coisas, desde
assistir à ópera mais recente em Viena (com direito a convite para o camarote imperial!)
até subir o Nilo para apreciar as novas escavações egípcias.
Por último, comme il faut é uma qualidade: algumas pessoas a têm; outras, não. Phi-
leas Fogg, do Reform Club, a tem aos montes; não é o caso do Imperador Napoleão III
de França (embora ele tenha um certo charme de jogador de pôquer todo seu). Sarah
Bernhardt deixa um rastro de comme il faut ao passar; a rainha Vitória sequer sabe que isso
existe. E, naturalmente, meu amigo “Bertie” ― Sua Alteza Real, o Príncipe de Gales ― é a
expressão em pessoa: mesmo no meio de um escândalo, ele sempre dita o estilo e o ritmo
seguidos por outras pessoas.
Comme il faut. Complicado de entender, multifacetado, difícil de descrever. Então por
que perdi todo este tempo explicando uma coisa que não pode ser explicada? Simples:
com um pouco de sorte, ao acabar de ler tudo isto, você também saberá o que todos aqui
simplesmente sabem. E essa é a chave para ser comme il faut.

C O M M E 4 I L F A U T
A Suprema Dama Comme
Excerto de um artigo da Godey’s,escrito pela ilma. srta. Marie Coy, out. 1872

O
que faz de algumas damas as líderes da Moda e da Sociedade enquanto outras sim-
plesmente ficam sentadas em silêncio e seguem a manada? O que coloca algumas
mulheres no caminho da grandeza enquanto outras ficam em casa fofocando?
Comme il faut.
A dama comme é o estilo em pessoa, uma criatura verdadeiramente elegante e vistosa–,à
vontade tanto no salão de baile quanto na travessia de uma geleira e sempre uma bela fi-
gura. Deve ter uma mente excelente, saber se vestir com apuro devastador e ter um reper-
tório de réplicas espirituosas. Deve ser ousada na vida e no vestir-se. Deve estabelecer
tendências, e não segui-las, e sempre seguir seu próprio caminho na sociedade.
É claro que, antes de infringir as regras, é preciso conhecê-las intimamente. É preciso sa-
ber quando passar os limites da Sociedade, sem que a Sociedade revide, e saber até onde se
pode ir sem provocar uma verdadeira catástrofe social. Quando dominar os fundamentos,
porém, você deve estar pronta para chocar com galhardia e um sorriso no rosto.
O que poucas senhoras sabem e ainda menos mulheres aproveitam é que as re-
gras podem ser infringidas se a transgressora tiver audácia e presença de espírito
para tanto. Por exemplo, lady McEwin, a Exploradora famosa, percorreu cinco
continentes e descobriu três afluentes do Amazonas, e tudo isso sem uma dama de
companhia. Ainda assim, ninguém disse um A a esse respeito, porque ela provou
ter coragem e maneiras impecáveis. Outro exemplo, a falecida Irene Adler, famosa
soprano, costumava romper convenções com pouquíssimo alarde. Entretanto, era
norte-americana, e já é de se esperar que essa gente não tenha tato. A condição de
estrangeira dá margem a muita licenciosidade, e a Sociedade faz vista grossa a mui-
tas coisas imperdoáveis no caso das forasteiras.
Há várias maneiras de contornar a censura da sociedade. Primeiramente, se não
for casada, leve outra dama com você em suas façanhas. Saber que você manteve
companhia decente durante sua incursão entre os bárbaros deixará as pessoas mais
à vontade com seu comportamento. Em segundo lugar, se for casada, tenha a certeza
de arrastar seu marido para todas as suas aventuras: terá a aprovação da sociedade e
ele virá a calhar quando você for raptada por piratas berberes e precisar que a resgatem.
Além disso, os homens sempre carregam as coisas mais úteis e surpreendentes nos bol-
sos. Terceiro, se cometer um deslize e fizer algo um tanto inaceitável, encare o problema
de nariz empinado. A Sociedade fareja o medo e respeita a coragem, de modo que você
nunca deve se esconder: seria o mesmo que admitir a culpa e jamais seria perdoada. Em
vez disso, organize uma grande festa, com tudo que há de melhor, e comporte-se perfeita-
mente durante a função. Quarto, se algum dia cometer um deslize tão grave que ninguém
mais a receberá em casa, saia e faça algo tão avassalador que as pessoas farão fila para con-
vidar você. A Sociedade é volúvel e caprichosa e não deve ser levada tão a sério.
A diferença entre uma Dama e uma Mulher está em sua boa conduta. A diferença entre
uma Dama e uma Líder da Sociedade está em sua má conduta.

Notas do Tom
Ou como disse Marianne quando perguntei a ela quais eram as regras para ser
uma dama comme il faut:
• Uma dama nunca faz cena em público.
• Uma dama não fuma nem aposta dinheiro.
• Uma dama nunca fica sozinha com um cavalheiro por mais de cinco minutos.
• Uma dama se mostra cortês e graciosa sob pressão, respondendo à grosseria
com espirituosidade.
• Uma dama sempre mantém os joelhos juntos, mas nunca cruzados.

C O M M E 5 I L F A U T
O Supremo Cavalheiro Comme
Excerto do Livro de etiqueta e assuntos feéricos,de lady Agatha

A
diferença entre um cavalheiro e um rufião está em como o primeiro trata os ou-
tros e como espera ser tratado em troca. O cavalheiro é sempre justo e honrado,
sem o menor traço de desonestidade, e nunca foge ao dever. O cavalheiro nunca
trapaceia no carteado, sempre salda suas dívidas, é generoso com a amante, delicado
com a esposa, devotado à família e gentil com os cavalos. A honra, para ele, é natural
como respirar, e ele espera o mesmo comportamento de terceiros.
Por exemplo, quando o príncipe Eduardo Alberto da Inglaterra descobriu que um
convidado em sua festa estava trapaceando nas cartas, ele, com uma elegância im-
pecável, fez o homem assinar um documento prometendo que não tornaria a jogar
cartas por dinheiro, em troca do silêncio de todos os envolvidos. Jamais apelou
para a raiva nem para a violência: lidou com a situação como um cavalheiro. Tam-
pouco cogitou que o colega faltaria com a palavra: isso não seria cortês.
Quando G___ aconselhou os amigos e familiares a investir dinheiro em ações
de estradas de ferro que se mostraram uma fraude, ele não hesitou em saldar não
apenas suas próprias dívidas, mas também as das pessoas que ele aconselhou
erroneamente, apesar de não ser culpado pelo fracasso dos títulos. Beirou a fa-
lência ao fazer isso, mas nunca se arrependeu de seus atos e ganhou o respeito
de todos por sua generosidade e honestidade.
Quando lorde Hartington se cansou de sua amante Catherine Walters, vulgo
“Skittles”, ele a despachou com elegância: deu-lhe uma casa e um estipêndio de
10 mil libras por ano. Muito generoso e cavalheiresco.
Nenhum cavalheiro de verdade aborreceria a esposa fazendo alarde de suas
indiscrições. Almeja ser a encarnação do tato e do desvelo, passando tanto tempo
quanto possível com a família, sem negligenciá-la em prol de interesses externos.
O cavalheiro sempre se veste bem e de acordo coma ocasião. Vestir suas rou-
pas de equitação num jantar formal seria tão impensável quanto insultar publi-
camente uma dama. A nobreza é parte de seu inconsciente: não poderia agir de
outro modo mesmo se quisesse.
Ele é encantador e espirituoso, capaz de manter um diálogo inteligente mes-
mo num duelo e sempre disposto a defender a honra de uma dama. Num piscar de
olhos, está pronto para uma aventura; nunca é rude nem grosseiro; sempre eleva o
nível do ambiente aos seus padrões e nunca se rebaixa ao nível dos outros. Quando
um cavalheiro demasiadamente bêbado dirigiu ao Príncipe de Gales um comentário
mordaz sobre a extensão de sua cintura, o príncipe calmamente mandou vir a car-
ruagem do colega, mas não respondeu na mesma moeda. Foi mais importante para
ele continuar um cavalheiro do que ceder à mesquinharia.
Com um sorriso despreocupado e um ar indiferente, o cavalheiro avalia toda e qual-
quer situação e age com habilidade e coragem.

notas do tom
Esta passagem do livro de Agatha parece resumir tudo perfeitamente. Para ser um
cavalheiro de verdade, é preciso ser honesto, valente, encantador e bem-educado.
Você defende os fracos, é gracioso com os menos afortunados e nunca, jamais faz
uma cena sem um bom motivo. Você age sempre com honra, seja nos negócios, na
vida particular ou romântica. Em resumo, ser um cavalheiro comme il faut significa
mostrar um bocado daquele negócio antiquado que as pessoas chamavam de classe.

C O M M E 6 I L F A U T
Comportamento Apropriado
Excerto do livro de etiqueta e assuntos feéricos de Lady Agatha

V um pecado imperdoável
iver numa Sociedade Cortês é um pouco como na-
vegar pelo oceano. Se perder o rumo durante uma
O único ato imperdoável na Sociedade Cortês é se en-
tempestade, certamente afundará. As chamadas
volver em um escândalo que lave a roupa suja de alguém
classes inferiores podem ceder às explosões violentas da
em público ou faça uma “cena”. Por “cena” entende-se
emoção, mas a Sociedade deve forçosamente seguir adian-
qualquer tipo de altercação embaraçosa à vista de testemu-
te em aparente serenidade, abafando suas tempestades
nhas, como uma briga de casal. Vozes elevadas e emoções
tanto quanto possível. Manter essa tranquilidade exterior
fora de controle não são exemplo de requinte; a mesma
é de importância vital.
situação que levaria a uma gritaria nos cortiços londrinos
A etiqueta é a parte mais importante do comporta-
deve ser conduzida com frieza na voz e olhares altivos na
mento apropriado. Conhecer as regras e saber o que fa-
sala de estar. Um comentário mordaz tem o mesmo efeito
zer no momento certo ajuda muito quando você se en-
de uma pancada e você não será expulso do clube por conta
contra numa situação incomum. Por isso, certas regras
disso, embora possa ser desafiado para um duelo.
evoluíram para garantir a manutenção da Sociedade De-
cente, entre elas:
• O cavalheiro sempre escolta a dama andando ao lado notas do tom
esquerdo dela, de modo a poder sacar a arma sem
obstáculos.
• O cavalheiro abre todas as portas para a dama, mesmo
as das carruagens, puxa e oferece-lhe a cadeira etc.
A ntes de vir para cá, eu, como muitas outras pes-
soas do século XX, achava que sabia tudo sobre a
“hipocrisia” da Sociedade Vitoriana. No entanto, de-
• O cavalheiro nunca fuma diante de uma dama sem pri- pois de viver aqui algum tempo, percebi que aquilo
meiro pedir sua permissão. que eu entendia como hipocrisia era, na verdade, um
• O cavalheiro não fala de sua amante nem de esportes complicado facilitador social que permitia às pes-
vis (como a briga de galo) na presença de uma dama, soas conviver em paz. Os neoeuropeus nem sonha-
especialmente se for solteira. riam em expor assuntos familiares a terceiros, muito
• Enquanto estiver acompanhado, o cavalheiro não re- menos em envergonhar alguém em público. Jamais
moverá a casaca nem a gravata. discutiriam assuntos como sexo, violência e religião
• O cavalheiro, ao acompanhar uma dama a algum lugar, em público, pelo menos não até que todos os presen-
deve receber-lhe a capa e a touca e depois passá-los a
tes concordassem que o tema é admissível.
um serviçal.
• Nunca se dirija a seus superiores na Sociedade, a menos
que tenha intimidade com eles. S im, eles perdem muito tempo com seus títulos e
suas maneiras afetadíssimas. Sim, existem descul-
• Nos jantares, dirija-se sempre às pessoas ao seu lado; não pas péssimas para encobrir hábitos igualmente péssi-
erga a voz para falar com alguém do outro lado da mesa. mos. E, claro, eles fazem estardalhaço sobre sua asse-
• Não deixe de cumprimentar todos os seus conhecidos xualidade (principalmente na Inglaterra) e pudicícia,
assim que os vir. É de uma grosseria indesculpável não apesar de aprontarem todas na privacidade do lar. Em
fazê-lo, e isso pode resultar num duelo. geral, porém, todos tentam criar uma boa imagem, sen-
• Trate as pessoas sempre pelo título ou pelo sobreno- do educados uns com os outros, praticando a caridade
me (lady Agatha, professor Bartok), nunca pelo pri- e esforçando-se constantemente para mudar para me-
meiro nome apenas. Somente pais, irmãos e cônjuges lhor. Em retrospecto, seu maior pecado talvez seja ten-
têm esse direito (com a exceção dos homens que fre- tar com tanto afinco serem “bons” que quase não sobra
quentaram o mesmo internato:eles tendem a usar os espaço para cometerem erros e serem “maus”.
apelidos de escola).
• Nunca comente semelhanças. Se a criança não se pare-
cer com os pais, e sim com alguém que você conhece,
P or outro lado, dá de dez a zero nas pessoas que
aparecem em programas de entrevistas de quinta
categoria para exibir seus vícios, depravações e ou-
mantenha-se em silêncio.
tros defeitos como se fossem virtudes.
• O cavalheiro nunca pragueja na presença de uma dama.

C O M M E 7 I L F A U T
Como se Vestir (se Você Não Vive em 1875)

P como improvisar um traje masculino


oucos jogos são tão propícios para um larp (apre-
sentação ao vivo)quanto Castelo Falkenstein. Desde
os saraus elegantes e as funções políticas aos en- Para a sorte de muitos de nós, as roupas masculinas do pe-
contros clandestinos em vielas e tavernas, a Era ríodo vitoriano tendem a ser fáceis de imitar. Os smo-
do Vapor praticamente pede fantasias e to- kings (o traje formal para bailes e outros Grandes
dos os acessórios que você conseguir car- Eventos) não mudaram tanto assim nos últi-
regar. Afinal, o que seria do melodrama mos cem anos, e calças são sempre calças.
vitoriano sem as heroínas de vestidos Dentro desses parâmetros, apenas quatro
esvoaçantes, heróis de uniformes elementos são realmente necessários
vistosos e os vilões de preto e bigo- para a criação de um Guarda-Roupa
dinhos longos? Pode-se, inclusive, Vaporitanto masculino e funcional...
usar o sistema de cartoduelismo e dos bem baratos, é claro!
ao vivo e evitar as manchas de O primeiro e mais importante
sangue no carpete. elemento para você se tornar um
vaporitano bem-vestido (ou uma
O grande problema de um
Aventureira elegante) é uma
larp vitoriano, porém, são
camisa bem passada: formal,
as fantasias. Afinal, poucos
branca, de mangas compridas,
têm uma saia de crinolina
botões de cima a baixo, de pre-
ou um uniforme militar
ferência com colarinho inglês.
pendurado no guarda-rou-
É a camisa universal, usada
pa e, para quem opta por
por todas as classes de Nova
alugar ou comprar o figu-
Europa (sabe-se que os nor-
rino, os preços podem ser
te-americanos usam camisas
assustadores.
coloridas, mas o que se pode
Portanto, com a popu- esperar de um norte-ameri-
laridade dos larps de Caste- cano?), conhecida no jargão
lo Falkenstein crescendo dia dos alfaiates da época como a
a dia, decidimos adicionar roupa branca de um cavalhei-
esta seção ao manual do ro. Qualquer boa camisa social
Tom, detalhando como você masculina servirá, mas as ca-
pode criar seus próprios trajes misas de smoking lisas (fáceis
vaporitanos. de encontrar em lojas que alu-
Mesmo que você não que- gam trajes a preços módicos) são
ria participar de um larp, fan- as melhores. No entanto, cuidado
tasiar-se pode adicionar um com os colarinhos: se forem muito
elemento realista até mesmo ao justos, você acabará estrangulado
nível interativo de encenação, pela própria gravata. Para bailes e ou-
bem como ajudar você a entrar no tros eventos formais, podem-se usar
papel. A personagem que vive ace- camisas de smoking com abotoaduras
nando com um lencinho de renda ou para dar um toque de classe ao conjunto.
o vilão que não para de verificar seu Se você não encontrar uma camisa de
relógio de bolso dourado pode fornecer smoking, a segunda melhor opção é qual-
pistas visuais sobre o caráter da jogadora ou quer camisa social masculina de boa qualida-
da personagem dos Anfitriões. Também é mais de. Para torná-la mais vitoriana, comece usando
fácil interpretar uma personagem quando se sabe um estilete afiado para desfazer (com cuidado!) a costura
como ele ou ela se veste e o que carrega consigo. Você que prende o bolso da frente. Se não encontrar um colari-
nem precisa vestir uma fantasia completa: o chamativo nho inglês, vire as pontas do colarinho para cima, engo-
colete estampado que sir William sempre veste é uma me-as e passe-as a ferro para mantê-las no lugar e amarre a
ótima forma de entrar e sair da personagem rapidamen- gravata: moda instantânea da década de 1860! Você preci-
te e sem dificuldade. sará de algumas mudas de camisa se quiser usar bastante a

C O M M E 8 I L F A U T
fantasia (por exemplo, numa convenção). Elas sujam com tidiana da Era do Vapor. Se sua personagem for um oficial
muita facilidade. militar, a roupa informal será bem parecida: simplesmente
Como opção, você também pode adicionar uma grava- esqueça o colete e a gravata e costure um debrum dourado,
ta comum ou um plastrão à sua camisa. Dá para comprar vermelho ou azul (fitas ou vieses funcionam bem) sobre a
plastrões de fábrica, mas uma longa echarpe de seda, com- costura externa das pernas de um par de calças escuras.
prida o suficiente para dar duas voltas ao pescoço e deixar
uma sobra para você enfiar dentro do colete, costuma fun- outros acessórios
cionar (os anões engenheiros e as classes mais baixas po- O que apresentamos até aqui é mais que suficiente para
dem amarrar um lenço no pescoço, mas estarão pedindo criar um visual apropriado à Era do Vapor, mas você pode
para serem estrangulados). Os norte-americanos também
ser um daqueles que não se contentam com o básico.
têm a opção de usar gravatas borboletas ou as de cordão,
Paletó: Um fraque formal; preto, cinza ou vinho são as
no estilo western, essa gravata de cordão está na moda, é
fácil encontrá-las hoje em dia. A gravata borboleta branca melhores cores; deve ter botões na frente. Para ocasiões
é item obrigatório em bailes e afins (e quem precisa saber menos formais ou personagens de classe média ou baixa,
que é um aplique da loja que aluga smokings?). use um paletó anos 1970, preto, marrom ou bege, com la-
Lembre-se, quanto mais feia e berrante for sua grava- pelas largas. Se não tiver muita opção, um casaco esporte
ta, melhor: a estampa caxemira e os tartãs eram a última de tweedjá serve, mas remova as cotoveleiras de couro; fi-
moda em meados do século XIX. O contraste entre calças e cará parecido com os trajes de caça do final do século XIX.
paletó sóbrios e colete e gravata vistosos pode ser tão exa- Os paletós podem ser de qualquer tecido: lã, tweed, brim,
gerado quanto você quiser, mas sempre escolha as combi- qualquer coisa exceto poliéster; mas as cores devem ser es-
nações com seu personagem em mente. Ele é um grã-fino curas, sóbrias e uniformes.
frajola ou um banqueiro conservador? Escolha suas roupas Chapéus: Para ocasiões formais, as cartolas de seda
com isso em mente. (disponíveis em lojas que alugam fantasias ou trajes for-
O próximo elemento importantíssimo do vestuário mais) são de rigueur. Para roupas menos formais, cartolas
vaporitano é o colete. Os cavalheiros do século XVII ado- de lã ou pelica servem (compre uma antiga se conseguir
ravam os coletes e os consideravam o verdadeiro símbolo
encontrar, mas, por favor, não saia matando animais para
da elegância. Os autênticos coletes vitorianos têm decote
usar apele!). Para as classes médias e baixas, um chapéu-
alto, quatro botões, bolsos na cintura e por vezes no pei-
-coco está bom; lembre-se de que bonés e boinas estilo
to, corte reto embaixo quando casuais, mas com pequenas
pontas quando formais. Qualquer tecido serve: quanto jornaleiro e piloto britânico só são usados pelas camadas
mais extravagante, melhor (na escolha do colete, é sempre mais baixas ― ou, é claro, por garotos que vendem jornal e
bom lembrar que os vitorianos inventaram a estampa caxe- pilotos britânicos de carros de corrida. Evite as palhetas:
mira). Mais para o fim do século, os coletes e as gravatas eles só aparecerão na virada do século. Os chapéus milita-
ficaram mais sóbrios até que, na virada do século XX, eram res são específicos de cada uniforme e são quase impossí-
simplesmente sem graça. Mas os coletes da Era do Vapor veis de encontrar: você terá de procurar aquele que encaixa
ainda são maravilhosamente cafonas. Os coletes sociais em seu uniforme.
são um pouco mais contidos: seda branca ou outro tecido Luvas: Da classe média para cima, todos usam luvas ―
caro são preferíveis. Coletes adequados podem ser encon- brancas em ocasiões formais e cinzentas para o dia a dia.
trados em brechós ou numa loja do Exército de Salvação. Procure as que têm um fecho ou botão no pulso, feitas
O último dos elementos básicos é um bom par de botas, de algodão.
de preferência pretas e práticas. As botas vitorianas devem Bengalas: Quase todo mundo nesta época tem uma
chegar à altura da panturrilha ou ultrapassá-la. As me- bengala ou algum tipo de bastão. As classes baixas as car-
lhores são conhecidas como botas Wellington (em home-
regam para imitar as classes superiores ou para autode-
nagem ao famoso general da era napoleônica), que pouco
fesa (leia-se “porrete”). As classes média e alta têm ben-
mudaram desde suas raízes oitocentistas. Se sua persona-
galas e bastões de caminhada (úteis numa época quando
gem for um hussardo, você talvez queira investir num par
de botas mais altas, com bainhas, bocas largas ou esporas, nem todas as ruas são pavimentadas e, mesmo as que o
todas comuns no período. O que se deve evitar são as botas são, costumam ser imundas). Muitas coisas podem servir
de caubói: durante as décadas de 1870 e 1880, elas eram como bengala, mas a de castão de prata é très chic. Uma
quase desconhecidas. observação, porém. Evite comprar bengalas de estoque
Junte a tudo isso um par de calças simples e de cor es- e modelos com armas embutidas, em geral vendidos por
cura (ou listradas, para dar aquele toque extra) e você terá catálogo: além do potencial de provocar acidentes, po-
se aproximado bastante da roupa básica masculina e co- dem ser ilegais.

C O M M E 9 I L F A U T
O Cavalheiro Bem Vestido

Camisa de
Linho
Sobrecasaca

Gravata
Branca

Colete
Estampado

Cartola Fraque
Formal

Botas
Lustrosas

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um caso especial: uniformes militares de *, sua melhor opção é cromar um capacete roma-
no de brinquedo (desde que caiba na sua cabeça) ou
Os uniformes militares são mais problemáticos que remover a coroa de um quepe e substituí-la por um
o terno de sempre (paletó, calças e colete). Dá para im- cilindro de papelão forrado (usando um bocado de
provisar as calças comprando-se um par de calças de galão para disfarçar a emenda). Uma observação so-
gala da Marinha, ou costurando-se/colando-se uma fita bre essa opção: em geral, os soldados carregavam os
ao longo da perna de um par de calças sociais. elmos sob o braço em ambientes fechados. Se você
O dólmã, porém, pode ser mais complicado. O dól- ficar em ambientes fechados, talvez ninguém peça
mã militar geralmente é curto, com ou sem trespasse,- a você para colocar na cabeça o capacete do Power
termina na cintura ou no meio da coxa e é decorado Ranger Vermelho todo redecorado do seu irmãozinho.
e finalizado com galões e/ou sutaches. Soterrado por (NT Aqui no Brasil, por causa da tradição das fanfar-
medalhas, broches e fitas, é uma mostra ambulante ras, é relativamente fácil encontrar as barretinas.)
de nacionalidade e serviços prestados. Os uniformes
desta época são faustosos e chamativos, desenhados
como improvisar otraje de
pensando-se na aparência antes do conforto, e nunca
uma dama decente
na furtividade. As táticas de guerrilha ainda não foram Deixamos as fantasias mais difíceis para o fim, é claro.
inventadas e as trincheiras da Normandia estão qua- Mas, antes de explicarmos como simular as roupas desta
renta anos no futuro. época, precisamos examinar o vestuário de um período
Algo que pode passar por dólmã militar é o unifor- que cobre tudo entre a crinolina e o estilo Gibson Girl.
me de mensageiro de hotel, disponível em muitas lojas As mulheres vitorianas (especialmente no mundo
especializadas em hotelaria. Não muito caros e resis- do Castelo Falkenstein) vestem uma variedade enor-
tentes, vários são de fato réplicas de velhos dólmãs me de roupas, da mais baixa prostituta com seu sur-
militares. Se houver em sua cidade um hotel histórico rado conjunto de saia e blusa até a mais alta dama em
com uniformes bacanas, descubra onde os compraram seu fabuloso vestido de baile da casa Worth. Original-
e adquira um, ou pergunte a eles se há algum traje ve- mente, o conforto não era levado em consideração,
lho que queriam vender ou doar. embora tenha ganhado mais importância, especial-
A outra opção é tentar encontrar uma casaca sem mente entre as mulheres que trabalhavam, lá pela
estampa mais ou menos no formato certo e aplicar os virada do século (razão pela qual suspeitamos que as
galões e as fitas a seu gosto. Os armarinhos vendemos mulheres vaporitanas tenham inventado a combina-
galões dourados por metro. Você pode comprar viés ção de blusa e saia de passeio muito mais cedo do que
dourado e bordar desenhos nas mangas, ou forrar pape- na nossa realidade).
lão com tecido e decorá-lo para simular as ombreiras. Vá Tradicionalmente, porém, a graça é criar uma si-
à biblioteca, encontre um livro sobre uniformes do sé- lhueta que acentue o contraste entre a cintura finís-
culo XIX e estude as figuras com cuidado. Além de uma sima e os quadris e seios fartos. Esse talhe é obtido
bela dor de cabeça, você encontrará inspiração para o com o desenho cuidadoso do traje e as roupas de baixo
que exatamente gostaria de fazer. apropriadas. As saias rígidas e bojudas são obtidas com
Outra possibilidade é comprar tinta relevo para te- o uso de camadas vaporosas de tule e algodão, chama-
cido na cor dourada e pintar o padrão escolhido em sua das de “crinolinas”, enquanto as anquinhas têm arma-
casaca. Compre giz de alfaiate, esboce o desenho no ções flexíveis de aço como suporte.
tecido primeiro e somente depois aplique a tinta sobre Sob tudo isso, dando forma à base, por assim di-
o padrão. Não ficará tão bonito quanto o galão, mas é zer, vai o temível espartilho vitoriano. Da classe mé-
muito mais simples de fazer e não precisa costurar. dia para cima, o espartilho não é apenas questão de
Os chapéus militares são muito mais difíceis de si- estilo, mas uma obrigação. Uma dama simplesmente
mular. Se seu uniforme for norte-americano (ou fran- não sairia de seu boudoir sem vestir um (não se ain-
cês), existem lojas nos Estados Unidos que vendem da quisesse ser considerada uma dama). O espartilho
quepes da Guerra Civil (ou a Guerra entre os Estados, fica entre duas camadas de roupas de baixo feitas de
para os sulistas). Mas, se estiver simulando uniformes algodão, conhecidas respectivamente como camisola
europeus, você pode ter problemas para reproduzir e sobrespartilho. Isso a) evita que o espartilho pini-
os elmos reluzentes de aço polido ou as altas barreti- que a dama e b) mantém o espartilho limpo, pois é
nas dos Exércitos Continentais. Além de visitar uma um tanto difícil de lavar. As mulheres da Era do Vapor
loja de fantasias ou comprar um adereço de verda- também usam calçolas por baixo, que substituímos

C O M M E 11 I L F A U T
A Dama Bem Vestida

Chapéu c/ Frufru e
muitas Agulhas Coque
Despojado

Broche ao Pescoço

Espartilho Camisa de Linho


(Opcional no de Colarinho Alto
Larp)

Vestido
Matutino de Saia Comprida
Saia Comprida de Barra Pesada

Botinas

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calções usados em nosso mundo. Muito mais curtas mangas compridas e colarinho alto. Listras, tartãs,
e leves, elas refletem as diferenças sociais entre a Era xadrezes: qualquer estampa está ótima, embora cer-
do Vapor e a Terra da nossa história. tos tecidos e desenhos pareçam mais modernos que
Sobre as roupas de baixo ficam os trajes externos outros, devendo ser evitados (falaremos mais sobre
com que estamos mais acostumados. A finalidade de isso posteriormente). Pode ser justa ou folgada, não
cada traje descrito a seguir é delimitada com relativa importa. Mangas bufantes são divertidas, mas não
rigidez, embora as distinções desapareçam nas clas- necessárias. Provavelmente será a parte mais fácil
ses mais baixas. Em geral, é o que você encontrará no de encontrar de todo o traje; pode ser que você te-
guarda-roupa de uma dama vaporitana bem-vestida. E nha um ano seu guarda-roupa, junto com as outras
é somente uma parte das opções disponíveis à jogadora roupas embaraçosas que sua mãe comprou para você
empreendedora: vestir no colégio. Um broche grande na gola (bijute-
• Vestido matutino: Semelhante a um robe esvoaçan- ria já serve) dará um toque clássico à simplicidade do
te, é usado ao desjejum e para receber convidados. colarinho alto.
• Traje (ou vestido) de passeio:Uma blusa, com casa- A seguir, a saia. Deve ser longa, afilada na cintura e
quinho opcional, e uma saia de passeio, com som- bem drapejada na barra. A cor pode mudar de acordo
brinha e botinas de caminhada, para desfilar pela
com a estação, desde cores mais leves na primavera até
cidade.
• Vestido campestre: Uma combinação de saia mais o cinza onipresente durante o inverno. Os passamanes
curta, blusa e casaquinho, com botinas resistentes podem ser galões, sutaches, rendas e uma grande va-
para caminhadas pelo campo. Geralmente é feito de riedade de contas. Consulte material de referência: a
lã pesada e tweed. moda feminina vitoriana tem um certo “visual” que só
• Vestido de carruagem: Traje leve e esvoaçante, tam- se consegue reproduzir copiando os efeitos a partir de
bém pode ser saia, blusa e casaquinho, ou um vesti- fotos reais(infelizmente, parte desse visual depende
do mesmo, com saias mais longas e vaporosas, e uma dos espartilhos, mas já chegaremos lá). Se não conse-
sombrinha. Para andar de carruagem por aí e visitar guir uma saia longa o suficiente num brechó, pegue a
amigas e conhecidas. que mais se aproximar do que você precisa, vá a uma
• Vestido de gala: decote ousado, sem mangas ou de loja de tecidos, compre uns babados e costure-osà saia
mangas curtas, saia longa e rodada, possivelmente para aumentar seu comprimento.
com cauda, luvas compridas, tecidos mais leves; para Se adorar o visual dos anos 1880 e precisar de anqui-
usar em festas. nhas, você pode imitá-las enfiando uma almofada em
• Vestido de noite: Similar ao anterior, mas visualmen- meia-lua sob a parte de trás de uma saia bem rodada,
te menos formal.
dobrando os lados da saia para cima e vestindo-a sobre
• Vestido de baile: O ápice da moda, com saias rodadas
e elegantes, corpetes apertados, decotes pronuncia- outra saia. Outro modo de simular as anquinhas é com-
dos, luvas compridas (geralmente de pelica), joias re- prar uns cinco metros de tule barato, dobrá-lo várias
luzentes e muito fru-fru. vezes e costurá-lo à sua saia de baixo. Dá para comprar
anquinhas de verdade, mas são caras.
Ufa! Obviamente, é muito mais do que a combina-
Os calçados são o último elemento deste guarda-
ção básica de smoking, camisas de linho, calças,colete
-roupa simples. Os verdadeiros calçados Vitorianos
e botas do cavalheiro vitoriano. Além disso, encontrar
são botinas à altura da panturrilha, cheias de botões
trajes apropriados num mercado de pulgas é mais difí-
na frente ou dos lados, ou então sapatilhas. Por sorte,
cil para uma mulher, já que a moda feminina mudou
drasticamente desde a Era Vitoriana. Mas é possível os dois estilos vivem na moda e podem ser comprados
modificar as roupas disponíveis com um pouco de tra- novos ou usados.
balho e muita imaginação. A outra opção disponível para as mulheres de Nova
Eis aqui os elementos básicos para criar um guarda- Europa é, evidentemente, se travestir. Se as roupas mas-
-roupa feminino simples (e econômico) da Era do Vapor. culinas serviram para Sarah Bernhardt e Lola Montez,
Neste caso, um traje de passeio estilo chemisier, típico do por que não para sua Aventureira ou Hussarda Intrépi-
fim do século XIX e muito popular no universo do Cas- da? Uma boa dica: algumas damas conhecidas nossas
telo Falkenstein. preferem substituir as calças masculinas comuns por
Comece com uma blusa: uma blusa cheia de fru- calças de esqui, que oferecem um visual mais elegante e
-fru, de qualquer cor ou estampa, desde que seja de valorizam mais seus atributos.

C O M M E 13 I L F A U T
outros acessórios um vestido, usando seus próprios modelos ou copiando
um de algum material de referência.
Embora as opções anteriores produzam um traje co- Roupas de Baixo: Em geral, poucas mulheres de
tidiano passável, não serão suficientes para os vários hoje querem se espremer num espartilho antiquado
bailes e eventos formais aos quais você talvez compa- (embora algumas versões modernas da peça sejam
reça, mas é possível melhorar seu “visual” adicionando muito boas). No entanto, pode-se chegar bem per-
alguns toques mais complexos: to da lingerie vaporitana checando-se os catálogos de
Sombrinhas: Uma opção barata e fácil de encon- marcas como a Victoria’s Secret. Lembre-se de que
trar, disponível na maioria das lojas de fantasias e meias transparentes, meias-calças, tangas(e outras
a baixo custo. Ou então compre um guarda-chuva calcinhas modernas) não existiam, mas calções com
pequeno e decore as bordas com rendas e babados babados e meias opacas presas por ligas são subs-
combinando. titutos à altura. Talvez você não queira se tornar tão
Chapéus:Pode abusar sem medo! Sejam as enor- profundamente vitoriana, mas, se seu amante quiser,
mes capelines do final do século XIX ou as toucas nada como uma viúva alegre para atiçar a fornalha do
mais antigas, os chapéus são fáceis de providenciar. bom e velho romance na Era do Vapor!
Para o final do século, qualquer chapéu de copa baixa
e aba larga pode ser decorado com plumas, rendas e
peças de verdade
fru-fru, recriando perfeitamente o estilo Gibson Girl. A última opção é tentar encontrar peças autênticas.
Muitos chapéus femininos atuais espelham a moda Aí entramos no reino do verdadeiro fã das reconstitui-
vitoriana, portanto visite mais os brechós e as lojas ções de época, e isso nunca sai barato. Mas se conseguir
de chapéus! achar um legítimo dólmã militar de 1880, com todos os
Casaquinhos: São a parte difícil. O casaquinho bá- galões, você certamente será a sensação do larp!
sico da mulher vitoriana é curto, ou então é bem jus- As lojas de roupas usadas são sempre os melhores
to e forma um saiote na cintura. São muito comuns as lugares para encontrar roupas e acessórios prontos. Os
mangas bufantes, balão ou gigot, justas no pulso. Uni- velhos paletós de tweed ou os casacos com colarinho
dos às saias, podem virar um vestido de passeio, desde de veludo são achados formidáveis e, muitas vezes,
que casaco e saia combinem. Se quiser tentar o casaqui- vestidos de festa, casacos, paletós e smokings usados
nho, comece vasculhando as lojas em busca de algo na atenderão perfeitamente às suas necessidades. Tente
linha de um casaco de equitação. Pode funcionar muito evitar os antiquários, pois eles tendem a ser careiros
bem com uma saia de tecido similar. Se você não costu- e, mesmo que você encontre algo do seu tamanho (as
ra nem conhece alguém que o faça, esqueça o casaco e pessoas eram muito menores antes do pão de forma
tente o visual blusa e saia. vitaminado, dos suplementos alimentares e antibió-
Vestidos Comuns &de Gala: Os vestidos comuns ticos), as roupas de verdade daquela época costumam
podem ter uma ou duas peças; os de uso diurno têm ser muito frágeis para o uso constante.
saias e mangas compridas e golas altas; os de uso no- Bazares do tipo “família vende tudo” são outra boa
turno são decotados, sem mangas ou de mangas cur- fonte, e você sempre pode procurar as lojas de fanta-
tas. Os vestidos são bem justos, alargando-se nos qua- sias! Mas costuma ser mais barato procurar a peça usa-
dris para formar uma anquinha ou um pregueado na da. Se tudo mais falhar, vá ao guarda-roupa de seus avós
parte de trás. Em geral, a melhor opção no caso dos e veja se eles podem emprestar a você algumas roupas.
vestidos é encomendar um a uma boa costureira (ou Outra boa ideia é ligar para os grupos de teatro da
fazer o seu você mesma, caso saiba costurar). Outra região e ver se eles gostariam de vender figurinos anti-
opção é encontrar uma combinação de saia e casaqui- gos. Esse tipo de roupa tende a ser bem surrada, mas
nho semelhantes que possa passar por vestido. Como as fantasias de teatro são feitas para durare são fáceis e
último recurso, você pode tentar adquirir um verda- rápidas de vestir, o que é perfeito para um larp.
deiro vestido de época ou procurar uma reprodução Por último ― mas não menos importante ―, as lojas
numa loja de fantasias. que alugam trajes a rigor volta e meia vendem suas pe-
Os vestidos de gala de época são ainda mais difíceis ças antigas e são ótimos locais onde procurar camisas,
de encontrar. As lojas de roupas usadas muitas vezes coletes, calças e até mesmo paletós fenomenais, sem
guardam tesouros, como vestidos de baile de formatura pagar a mais por isso. Além do mais, você também pode
e afins. Você pode adaptá-los, alongando a saia do vesti- conseguir luvas, plastrões, abotoaduras, gravatas bor-
do base. A melhor solução, porém, ainda é mandar fazer boletas e cartolas! Divirta-se com as fantasias!

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Um Dia Típico na Era do Vapor
V
ocê acorda por volta das seis. Está escuro, pois é você demoraria muito mais para se
começo de inverno, e você sai da cama, tateando aprontar, pois teria de vestir cami- Lembre-se: não há
a parede até encontrar a lâmpada de gás. A coisa sola, calçolas, espartilho, crinoli- roupas com zíper,
desnecessariamente moderna nas ou anáguas, um vestido matu- nem tênis, calças
Lembre-se: não há instalada nos seus aposentos (um tino apropriado, botinas, chapéu, de poliéster ou lojas
eletricidade na Era módico apartamento urbano, sombrinha, retícule (bolsa)… Não é de departamentos
do Vapor. alugado por algumas coroas por de admirar que a maioria das da- onde comprá-las.
mês, com dois cômodos, lareira, mas tenha uma criada para ajudá- Em vez disso, você
banheiro compartilhado e serviço de limpeza limitado) -la a se vestir! geralmente compra
tem um acendedor embutido: quando você gira a chave Por último, você pega sua ben- suas roupas em
que libera o gás, a pederneira faísca no aço e faz-se a luz. gala de castão de ouro no porta- lojas separadas:
Você cambaleia de volta à bacia -guarda-chuvas, verifica as tra- alfaiates, costurei-
do lavatório sobre o criado-mudo e Nem água cor- vas e os botões para garantir que ras, chapeleiros e
joga um pouco de água gelada no ros- rente na maioria todas as engenhocas embutidas armarinhos.
to; seria muito bom ter um banheiro das casas! estão funcionando e enfia na ca-
de verdade, mas a maioria das casas, beça a cartola alta de seda. Então parte, escadaria abaixo,
mesmo as mais prósperas, não tem água corrente em todos e cumprimenta de cabeça sua senhoria, que está ajustando
os cômodos. Pelo menos este prédio tem um W.C. interno, os temporizadores dos bicos de gás no corredor. Passa pelas
mesmo que seja compartilhado com os outros dois inqui- grandes portas de carvalho e cristal de chumbo e já sai na
linos. Se fosse mais rico, você poderia ter uma casa inteira rua movimentada.
só para você na cidade, ou então viver numa quinta, uma É sexta-feira, mas você não vai se meter em nenhuma
propriedade no campo ― o que é muito melhor do que um repartição. Por ser um cavalheiro, você não trabalha de
quarto esquálido de cortiço ou a choupana de um campo- fato: apenas visita seu procura-
nês. Enrolando o camisão de dormir nas pernas para se dor e os banqueiros para verificar
aquecer, você percorre o corredor comprido à meia-luz (le- Há pouquíssimos seus investimentos. Sua situação
vando o penico) para atender aos chamados da Natureza. automóveis aqui, é muito superior à dos operários
Ao retornar das abluções matinais, você percebe que e estes são todos das fábricas e burgueses dos su-
Molly, a criada, já esteve ali: uma das tarefas da moça é a vapor. A maioria búrbios que têm de pegar o trem.
acender a lareira da sala de estar, das pessoas, para Normalmente, você poderia tomar
A maioria das única fonte de calor dos seus apo- chegar ao trabalho, um cabriolé (em Londres, um hack;
pessoas de sentos. Ela também cuida de sua toma trens, carros em Viena, um fiacre) até o distrito
posses tem roupa suja, o que é melhor do que de aluguel ou “om- financeiro. Hoje, todavia, decide
pelo menos um lavá-la você mesmo na lavanderia nibus” puxados por tomar o desjejum no clube. Você
serviçal. mais próxima ou contratar uma cavalos. segue a passos vivos pelas ruas de
lavadeira para lavar, anilar, engo- paralelepípedos apinhadas (as cal-
mar e passar cada camisa a um preço exorbitante. O fogo çadas são relativamente raras, exceto nas grandes cidades),
crepita vivaz, há uma xícara de café sobre o aparador e, esquivando-se de mascates, crianças de rua, comerciantes
agora aquecido e relaxado pelo fogo e a bebida, você vai ao anões e damas feéricas namorando as vitrines. Assim que
guarda-roupa escolher o que vestir nesta manhã. Se fosse você chega à esquina, uma automotriz a vapor passa reti-
mais rico, poderia ter um camareiro, mas você não sabe o nindo, espraiando o vapor de sua chaminé sibilante, o que
que é esse luxo desde que pediu dispensa do Exército há assusta o cavalo de um carroceiro. Outra invenção supérflua,
alguns anos. Além disso, sendo solteiro, você está acostu- você pensa, como os telégrafos, gravadores automáticos e
mado a se virar. máquinas de calcular.
Como ainda é manhã, suas roupas são simples: camisa Subindo o lance de escadas a passos largos, você en-
de linho branca, calças de lã escuras, colete e sobrecasaca (se tra no plácido santuário do seu Clube. Um criado de libré
fosse tarde ou noite, você vestiria camisa e casaco mais fi- aparece para pegar sua cartola, a capa e as luvas, então
nos). Suas grandes extravagâncias são a cara gravata de seda lhe entrega um exemplar do jornal de hoje. Em resposta
que você enrola no colarinho alto de celulóide, as botas pre- ao seu bom-dia, ele murmura que o barão Seftin também
tas e lustrosas e as abotoaduras de ouro que prendem os pu- está no Clube e gostaria de falar com você quando possível.
nhos e o peitilho da camisa. Se fosse uma mulher de posses, Sabendo que você e o Barão têm certos investimentos em

C O M M E 15 I L F A U T
comum, você envia-lhe uma resposta, avisando que o en- visitar uma “Sala de Concertos” para ouvir Lotte Collins
contrará mais tarde na Biblioteca. cantar sua marca registrada, “Ta-ra-ra Boom-de-ay!”.
Aboletado em sua poltrona su- Depois do Teatro, descamba-se para espetáculos mais
Não há TV nem perestofada e já moldada ao seu escandalosos que só se encontram no lado mais extrava-
rádio. Todas as corpo, diante do fogo, você lê as gante da cidade: Picadilly em Londres, o Distrito dos Tea-
notícias vêm dos notícias do jornal. Mais bravatas tros em München, ou o Montmartre em Paris. Ali vocês
jornais! trocadas entre França e Prússia, encontrarão cassinos onde jogar a
um conflito de fronteira com os dinheiro e damas de caráter dúbio (o
Sim, os vitoria-
afegãos, e ― o que é isto? ― o capitão Nemo volta a aprontar no único tipo de dama que vocês encon-
nos também
mar de Bering? Inacreditável o descaramento desse homem! trarão por estas bandas) para dividir
tinham hábitos
O almoço no Clube acompanha os padrões usuais: lin- com vocês uma mesa. Também encon-
escandalosos!
guado escalfado, frango assado, carne assada com batatas, trarão bebidas fortes ― gim ou conha-
um bom vinho e um cálice de porto. Mais tarde, você en- que na Inglaterra, absinto na França,
contra o barão e, juntos, tomam um cabriolé até o centro, vodca na Rússia, vinho ou cerveja nas Alemanhas e em
para visitar o procurador de vocês e cuidar de alguns negó- Viena ― e charutos enormes e fedorentos para enfumaçar o
cios. No caminho de volta ao Clube, vocês concordam em ambiente. As damas estão interessadas e, como cavalhei-
cear juntos e fazer algo à noite. ros solteiros, vocês não precisam ter escrúpulos em relação
Nesta noite propícia, suas opções a complementar a noite com um pouco de flerte.
de entretenimento são muitas. Vo- Enfim, o relógio bate as três. Espantado com o adian-
E tanto o Teatro
cês poderiam começar com o Teatro, tado da hora, você anda com passos incertosaté o meio-
quanto a Sala
a diversão civilizada: talvez assistir a -fio e entra num cabriolé, deixando que ele o leve para seu
de Concertos
Ellen Terry estrelando a nova peça de tranquilo apartamento. De todo modo, foi um dia e tanto, você
são ao vivo!
Irvin ou a última opereta de Gilbert & pensa ao desabar na cama, caindo no sono antes mesmo
Sullivan. Ou talvez algo mais vulgar: que sua cabeça encoste no travesseiro.

Lar, Doce Lar Vaporitano


A
maioria das pessoas no século XX pensa no aparta- uma noção de design (ou o menor si-
mento de Sherlock Holmes no 221B da Baker Street nal de bom gosto).
– com seus divãs cobertos por xales e os pés de ele- Aí temos a mobília. Supe-
fante que servem de vasos – como fruto de uma mente ex- restofadas com crina de cavalo,
cêntrica e perturbada pela cocaína. Contudo, exceto pelos revestidas com tecidos chamati-
buracos de bala formando “V. R.” na parede, a vos e ornamentados (com fran-
casa de Holmes não deve ser mais bizarra do jas nas bordas) e pés em forma de
que qualquer outra que eu tenha visitado garras, são antiguidades agressivas.
deste lado do Véu. A verdade é: todos os Padrões e estilos conflitantes não im-
lares vitorianos são o pesadelo de uma portam: o entusiasmo é tudo. O bronze é popular, assim
decoradora de interiores. como madeiras escuras e pesadas e mesas de ferro fundido.
A começar pelo amontoado de coi- E Engenhocas! Eu pensava que as engenhocas eram po-
sas. A Era do Vapor é a primeira grande pulares nas ruas, mas nos lares elas são as rainhas. Porta-
idade da Produção em Massa; a osten- -torradas, máquinas de cerveja, banheiras aquecidas a gás,
tação consumista é a regra, não a exce- aquecedores de alimentos, dispensadores de medicamen-
ção. Os neoeuropeus não fogem à regra: tos patenteados… A lista não acaba mais.
colecionam berloques, bibelôs e artefatos Para resumir, ao visualizar um lar vitoriano real (e não
estranhos. Quando a Índia Oriental estava em uma versão de filme), pense em uma loja de antiguidades
voga, eles arrematavam suas casas com domos e minare- entulhada de coisas, decorada por um turista bem viajado
tes. Agora que o Egito é a moda, eles colecionam réplicas e sob efeito de drogas.
de sarcófagos. Assim, pode esperar salas entulhadas, sem Humm… Não é que parece mesmo o Holmes?

C O M M E 16 I L F A U T
Modos, Maneiras &&
Modos, Maneiras
Costumes de
Costumes de
A
A aZZ

C O M M E 17 I L F A U T
Introdução
A Era do Vapor é uma época com muitas regras. Regras sobre as quais
ninguém por aqui parece lhe avisar com antecedência. Como se vestir.
Como se portar no jantar. Como deixar um cartão de visitas. Como man-
ter uma Reputação. Qual pé vai aonde durante a valsa. Como tirar uma
dama para dançar. O que dizer (ou não) a uma dama. Como saber quem é
uma dama.
O pior de tudo é que as regras são, em sua maioria, tácitas ― estão no
sangue, por assim dizer. Portanto, você só descobre que ultrapassou os li-
mites quando, de repente, depara com a bengala de estoque de um cava-
lheiro na sua cara.
Não é o melhor modo de aprender, o que eu descobri da pior maneira
possível. Eis alguns exemplos de minhas maiores gafes:
Fiquei encalhado numa plataforma ferroviária na baixa Prússia Orien-
tal porque eu não sabia que as linhas não prosseguiam até Leningrado.
E, lembrando agora, eu não sabia que os trens paravam a cada oitenta
quilômetros, porque não havia banheiros a bordo, e que era preciso levar
comida a bordo, porque somente os trens norte-americanos têm carros-
-restaurante.
Ainda sou esnobado por uma princesa húngara porque, acidentalmen-
te, marquei o que ela pensava ser um Affaire e o que eu pensava ser uma
expedição de observação ornitológica. (Ai!)
Perdi dinheiro nos cavalos em Ascot por não saber apostar nas corridas
com handicap. E passei boa parte de um verão faltando a todos os Eventos
da Temporada porque não sabia quando seriam. E certa vez quase afundei
o veleiro de Bertie na Regatta de Cowes porque desconhecia as regras de
preferência.
Eu me meti numa saia justa xenofóbica durante uma festa na Nova
York holandesa ao defender que os índios tinham os mesmos direitos que
outras pessoas (e me orgulho de dizer que não dei o braço a torcer). Fui
apresentado à rainha Vitória por seu filho Bertie (e sei que ele se divertiu
imensamente com a coisa toda) e fiquei tão atônito e sem palavras que a
tratei por “senhora”, em vez de “Vossa Majestade”.
Porém, com o passar do tempo, fui aos poucos incorporando essas
regras tácitas. O resultado é esta coleção de recortes e notas que com-
pilei para cobrir a maioria das situações. Sim, eu devo ter parecido um
idiota sacando do bolso este livrinho vermelho e verificando-o duas
vezes antes de agir, mas, com certeza, isso salvou minha pele em algu-
mas ocasiões!
Que ele lhe seja tão útil quanto foi para mim. Boa sorte.

C O M M E 18 I L F A U T
Amor & Sexo: Affaires
Excerto de O affaire: um romance, de lady Penelope Basingthorpe

…R
estava apenas descobrir os intenções estavam estampados em minha testa culpada.
meios de concretizar ofato- Ainda assim, foi exatamente como minha querida Hele-
tão deliciosamente aguar- na me informou: os costumes italianos foram adotados
dado. Era uma pena que toda essa apro- nos estados germânicos, desde a Baviera até Viena. Nin-
ximação delicada não tivesse ocorrido na França, onde a guém reconhece a dama que usa um disfarce! Bastam a
toalete de uma dama antes dos rigores da noite é conside- máscara, o capuz e o manto, com seu talhe vaporoso e
rada sacrossanta. romântico, para que, por convenção, a pessoa se torne
Um cavalheiro francês que recebe um convi- inconnue, incógnita! Os mexeriqueiros podem es-
te para o fim da tarde visitará a dama en- pecular que tal ou qual oficial recebeu a visi-
tre o vestido vespertino e o espartilho ta de uma bela mulher misteriosa, mas o
da noite, no momento em que os mundo civilizado não quer saber sua
atilhos estão frouxos e a dama identidade. Christoph aguardava-
solta os cabelos para que se- -me num roupão de seda rubro.
jam escovados. Se, enquanto Ele fechara as cortinas para
a camareira de confiança criar a sensação de atempo-
penteia-lheos cachos, uma ralidade; havia champanhe
outra mão –esta, mascu- Cristal resfriado e pinhas
lina – tomar a escova da ardiam na lareira. Sua
aia e acenar-lhe para que atenção aos detalhes foi
aguarde na antessala, particularmente útil no
quem haveria de saber? que se refere aos nós do
A camareira retoma meu espartilho. É preci-
sua costura e garante so entender que a aia de
a privacidade de sua uma dama vai se lembrar
senhora. Lá dentro, os dos nós especiais que ela
cabelos são escovados própria atou: se, ao trocar
de modo lento e pro- suas roupas para o jantar,
vocante (e, em geral,- ela encontrar um nó duplo
sem muita habilidade), onde deixara um simples…
até a dama sentir que é Ora, minha querida! Só res-
a hora certa de se virar e ta desejar que a consciência
afetar graciosa surpresa. da moça não seja inconve-
Como uma dama poderia se niente e que seu apetite para
defender vestindo apenas uma a chantagem seja modesto! Ch-
camisola e suas anáguas mais ristoph explicou-me tudo isso en-
adoráveis, especialmente quando quanto memorizava as amarrações,
qualquer atitude que possa parecer aí me livrou do espartilho, fazendo des-
um protesto será condenada por um bei- lizar os laços de cetim pelos meus ombros…
jo apaixonado? Mas, aqui na Inglaterra, como proceder?
Ou quem dera estar na Baviera, onde de fato se com- Imaginei um rendez-vous num jardim público, pensando
preendem tais assuntos! Naturalmente, a dama precisa em nosso querido Tivoli, com seus recantos ocultos e es-
se fazer disponível à noite para cumprir suas obrigações tátuas sugestivas. O capitão assegurou-me que mesmo
sociais como esposa. Mas as tardes doces e oníricas de o Ranelagh havia perdido a reputação. Não se via uma
verão e os longos crepúsculos de outono clamam por única dama de respeito por lá! À minha objeção de que
companhia. Eu me lembro de meu primeiro affaire. Meu meu intento era não ser vista, ele retrucou apenas com
coração quase saiu pela boca quando me esgueirei sem um sorriso reservado. Mesmo o melhor dos britânicos é
ser vista por uma porta lateral e paguei a um guarda- um tantinho pudico! Ele tirou seu caderninho do bol-
-portãouma rua à frente para providenciar um cabriolé. so e, com toda a seriedade, fez um quadro de duas co-
Eu tinha certeza de que tanto meu nome quanto minhas lunas com prós e contras. Sob “barco no Tâmisa”, seus

C O M M E 19 I L F A U T
prós eram “discreto e pouco dispendioso”, e os contras, possa descansar em paz e curar essa enxaqueca!” Virou-
“mau cheiro e mal de mer”. Eu lhe sugeri acrescentar “ce- -se para mim, sorrindo, e acrescentou: “Agora, madame,
nário romântico” à seção de prós, e ele obedientemente permita-me mostrar-lhe como se faz uma carga de cava-
o fez! Concluí que era melhor não brincar mais com ele. laria! Começaremos a passo, mas assim que avançarmos
Ficou indignado com a ideia de procurarmos a casa de do trote para o galope, verá que cobriremos o terreno
uma alcoviteira, com aposentos alugados por hora, e com suprema elegância!”.
irritou-se com a sugestão de irmos ao campo “faire du Declarado o sucesso dos exercícios de campo, con-
pique-nique” sob uma árvore. Eu estava a um passo de cordamos em continuar minha educação militar à me-
desistir do homem, quando ele subitamente apanhou dida que o inverno úmido, lúgubre e em grande parte
minha aia pelos ombros e a botou para fora do quarto maçante ––se transformava na glória sedutora de uma
com um soberano de ouro na palma da mão cerrada. primavera inglesa.
“Boa menina”, disse-lhe, “cuide para que sua senhora Diário de Marie-Elise Kronberg, outrora Duquesa d’Abrantes

notas do tom circulam sub-repticiamente por toda parte, como a


do excerto acima.
As pessoas do nosso tempo têm essa ideia maluca Portanto, os Affaires são reais. E–, como meu caso
de que os vitorianos não faziam sexo. Minha respos- com a princesa húngara me ensinou, existem maneiras
ta é: se não fizessem, o século XX seria uma época apropriadas de conduzi-los–.
bem despovoada. As regras gerais para os affaires (seja você casado[a]
Ok, essa é a minha resposta espirituosa. A respos- ou não) são:
ta real é que eles faziam muito sexo, mas fingiam que • Nunca proponha um encontro em voz alta.Bilhe-
não. E tudo começou não muito depois de a rainha
tes discretos que possam ser ignorados ou destruí-
Vitória ascender ao trono: antes disso, a corte ingle-
dos são melhores. E nunca envie mensagens para
sa tinha a reputação de ser o bando mais escanda-
a casa de um homem de bem (para isso, é melhor
loso de criaturas licenciosas que Nova Europa já ti-
o clube).
nha visto. Os reis tinham amantes; os lordes tinham
• O Herdeiro e o Reserva.Não tenha um affaire com
amantes. Todo mundo dormia com todo mundo. Os
uma mulher casada até que ela tenha produzido ao
casos de “gálico” (sífilis, o equivalente à AIDS do
menos um herdeiro varão para o marido. Esta regra,
século XIX) nunca foram tão numerosos, nem as le-
é claro, não se aplica aos maridos.
giões de bastardos deixadas à porta de toda casa de
• Não Envergonhe Sua Esposa! Não faça alarde de suas
boa família.
infidelidades. Viajem em carros de aluguel distintos
Compreensivelmente, a classe média (que não era
rica o suficiente para desfrutar de tudo isso) cansou-se e usem máscara, manto e capuz.
dos excessos rabelaisianos das classes altas. Portanto, • Ao passear a pé ou a cavalo com uma amante,man-
quando Vitória chegou ao trono passando por cima dos tenha-a à sua esquerda, para que os conhecidos sai-
cadáveres de seus tios indecentes (que tinham uma re- bam que não é sua esposa (e nada comentem mais
putação e tanto de libertinos), os ingleses esperavam tarde).
uma mudança na situação. Com a pequena Vitória, as • Nunca pule a cerca sob seu próprio teto. Encon-
coisas logo entraram numa fase reacionária em que trem-se no apartamento de um amigo, ao ar livre
toda menção ao sexo era suprimida (especialmente pe- ou na casa discreta de uma alcoviteira (bancada por
los reformistas da época). tantos outros casais na mesma situação).
Contudo, pular a cerca continua sendo uma arte • Decore os Nós do Espartilho Dela: Como é impossí-
bela e antiga entre os bem de vida, tanto na Boa e vel atar o próprio espartilho, os maridos ciumentos
Velha Inglaterra quanto no Exterior. Na França e gostam de usar nós especiais para garantir que suas
na Itália, nem sequer se preocupam em pedir des- esposas não façam o que não devem.
culpas, embora em Viena, Munique e Berlim tenha • Não Arme um Barraco! Não saiam juntos em públi-
havido uma queda na promiscuidade flagrante (na co e nunca discutam seu affaire à vista de outras pes-
verdade, os mais conservadores nestes tempos são os soas.
norte-americanos!). As pessoas ainda têm amantes, • Divórcio, nem Pensar! E a separação legal de corpos
mas não se fala nisso – exceto em particular e nas é quase tão ruim quanto. É melhor se mudar na sur-
centenas de romances e contos “cor-de-rosa” que dina e evitar um escândalo jurídico ou público!!

C O M M E 20 I L F A U T
Amor & Sexo: a Corte
Excerto do Livro de etiqueta e assuntos feéricos, de lady Agatha

E
ncontrar o par perfeito nunca foi passear algumas vezes, sempre com uma acompanhan-
fácil, especialmente para as classes te, e mande-lhe presentes e flores. Quinto, peça a mão
altas, cujas alternativas são, neces- da moça em casamento.
sariamente, bastante limitadas. Para as Para explanar melhor, exemplificarei com um casal
classes mais baixas, o universo de opções pode ser mais fictício, lorde A e lady B. Certa noite, numa festa, lorde A
vasto–, simplesmente porque há mais gente do mesmo ní- percebe uma criaturinha de delicada beleza perto da tige-
vel–. Mesmo assim, cortejar e conquistar um consorte não la de ponche. Mesmerizado, ele pergunta a um amigo dos
são tarefas fáceis. tempos de escola quem seria a jovem. Ele sussurra, em res-
Para a aristocracia, é uma questão de relações familia- posta, que se trata da filha do duque de L–, lady B, recém-
res e dinheiro tanto quanto de beleza e charme. Ao contrair -apresentada à Sociedade nesta temporada e alvo da admi-
matrimônio, o cavalheiro busca ampliar sua linha- ração geral. Determinado a casar-se com a beldade,
gem e suas propriedades tanto quanto busca lorde A pede ao amigo que o apresente a lady
afeição e carinho. Como em tudo mais, B. Ele a convida para dançar e, corando,
a classe média imita seus superiores, ela aceita. Dançam apenas uma vez
e as classes baixas casam-se com nessa noite e, no dia seguinte, ele
quem quiserem, sem se preocu- a visita na casa dos pais. Ainda
parem muito com outras coi- encantado com a moça, ele
sas além de apoio mútuo. pede aos pais dela permissão
As regras da Sociedade para vê-la. Depois de con-
relativas ao Amor e ao Ca- firmarem no DeBrett que
samento são planejadas ele é mesmo um bom par-
para ampliar as dinastias tido, os pais concordam.
dos aristocratas e asse- No dia seguinte, lorde A
gurar a continuidade manda para lady B uma
das estirpes sem que o dúzia de rosas e um bro-
sangue nobre se dilua. O che de prata em forma
mais importante, por- de miosótis. Ela dança
tanto, é limitar o con- com ele duas vezes no
tato das moças solteiras baile daquela noite, e
apenas aos cavalheiros seus outros pretendentes
que suas famílias consi- olham feio para lorde A,
deram bons partidos. Por verdes de ciúme. Depois de
isso existem regras e regula- um mês de bailes e presen-
mentações elaboradas, além tes, lorde A procura os pais
de um sistema de conduta que de lady B e pede formalmente
os pretendentes devem seguir. a mão da moça em casamento; os
As moças solteiras são muito acertos e preparativos são discuti-
bem protegidas antes de serem apre- dos pelos cavalheiros. Lorde A, então,
sentadas à Sociedade aos dezesseis anos propõe casamento a lady B, e ela concorda
– seu “Debute” –, porque nessa idade são vulne- com a devida modéstia. Um mês depois, eles es-
ráveis aos velhacos e sacripantas e porque toda uma repu- tão casados e finalmente podem conhecer um ao outro.
tação pode ser destruída por um passinho em falso apa- Talvez não seja o que os românticos escreveriam so-
rentemente inofensivo––. bre o tema, mas, a despeito disso, é um relato preciso. É
A conduta apropriada para fazer a corte é: surpreendentemente difícil ser romântico quando não se
Primeiro, providencie para ser apresentado à dama pode estar a sós com uma dama. Infrações acontecem, sem
na qual está interessado. Segundo, dance com ela algu- dúvida, mas você não ouvirá falar delas na Sociedade civi-
mas vezes e visite-a em casa na hora do chá pelo me- lizada. Apenas os franceses e italianos demonstram suas
nos em uma ocasião. Terceiro, peça aos pais da jovem emoções e fazem a corte em público, e mesmo eles têm
permissão para cortejar-lhes a filha. Quarto, leve-a para suas regras. Na Itália, é perfeitamente aceitável beijar uma

C O M M E 21 I L F A U T
moça solteira, desde que na face e em público, mas os ita- A corte é um ritual muito sério para a nobreza, e suas
lianos são muito emotivos. E mesmo eles contratam acom- regras levaram muito tempo para se desenvolver. Qualquer
panhantes para suas filhas (nas boas famílias)! tentativa de contorná-las é encarada com muita rispidez
Infelizmente, as histórias românticas dos livros sen- e pode levar a um desastre social. Para alguns, porém, as
sacionalistas, embora aconteçam, ocorrem com raríssima regras existem para os outros seguirem-nas: estão muito
frequência. E a elas costuma se seguir não o casamento, ocupados vivendo a própria vida para prestar atenção ne-
mas a ruína da pobre moça. A cautela é sempre aconselhá- las. Há que se reconhecer que é um estilo de vida perigoso,
vel no amor, bem como em qualquer outra atividade. –mas muito mais interessante!

notas do tom A união pelo sagrado matrimônio, porém, não eli-


mina as paixões que se escondem sob os peitilhos engo-
Lady Agatha, é claro, está apenas parcialmente mados das camisas do vitoriano padrão. Pessoas casa-
correta. O que ela descreveu tão bem foi como são o das costumam se envolver em flertes proibidos o tempo
amor e o casamento nas classes superiores, com seu todo: maridos e esposas têm amantes (especialmente
tradicionalismo e sua formalidade. Como eu costu- no Continente). Duelos sem conta já foram travados
mo transitar nessas rodas, guardei esta matéria para por essa razão, e haverá muitos mais – sem que sejam
lembrar a mim mesmo de que, na Era do Vapor, você sequer mencionados na Sociedade!
não convida alguém para um café, nem vai buscar a E sempre há os intensos relacionamentos de uma
pessoa às 19h em sua automotriz vermelha. Contu- noite só com as damas da noite e outras “pombinhas
do, entre as “classes baixas”, a corte tem quase esse decaídas”. Os vaporitanos parecem ter uma sede im-
mesmo caráter informal. Se você for a copeira corte- placável pelo velho estilo da aventura sexual com um
jada por um estivador, o mais provável é que ele passe toque de sadomasoquismo, e nem todas se restringem
em sua casa às sete da noite e leve-a a pé à Sala de aos sensuais romances “masculinos”.
Concertos ou ao Parque. No entanto, quanto mais se O amor entre espécies diferentes choca bastante e
sobe na escala social, mais parecida com o exemplo desafia totalmente as convenções. Mas isso não impede
de Agatha a coisa fica: visitas formais na sala de estar os seres feéricos do sexo masculino de seduzir moçoilas
dos pais da moça, encontros vigiados à tarde e anún- humanas, nem as fadas do sexo feminino de conquis-
cios pregados na porta igreja pelo menos seis meses tar hussardos bonitos. Não são poucos os híbridos que
antes do casamento. circulam por aí! Entretanto, o casamento entre mortais
É claro que nem todos os amores vitorianos são e fadas é raro–: o Bom Povo não é muito propenso a for-
essa coisa formal e engomada descrita por Aggie. mar família, nem mesmo com os de sua própria espé-
Há incontáveis ocasiões em que paixões alucinadas cie, e casar com alguém que viverá apenas uma pequena
e ilícitas são a regra. Há algo no ar aqui – talvez a fração de sua vida imortal só pode acabar em tragédia.
influência das fadas, que adoram o bom e velho ro- Por outro lado, nunca ouvi falar de um relacio-
mantismo – que faz qualquer caso amoroso parecer namento interespecífico entre humanos e anões. Os
emocionante e proibido, tingindo-o com todos os anões quase não se interessam pelas mulheres huma-
aspectos de um bom romance erótico e açucarado: nas, preferindo a companhia de fadas femininas, que
quanto mais tórrido, melhor. Ao contrário do que consideram seus pretendentes estáveis e impassíveis
afirmou Agatha, nesta época há amantes malfadados excelentes partidos (de fato, via de regra, se uma mu-
a granel, obrigados a manter encontros secretos, im- lher feérica resolver se casar, ela geralmente escolhe-
possibilitados de casar porque suas famílias são ini- rá um anão).
migas mortais, ou porque um dos dois é considerado Os dragões são uma exceção notável ao que já foi
inferior ao outro (classes sociais diferentes, esposas dito, visto que suas intenções para com as fêmeas hu-
loucas trancafiadas no porão, histórico criminoso ou manas são sempre honradas: ou estão procurando um
qualquer outra desgraça familiar que os separe). Mas par, ou não procuram ninguém. Isso faz dos dragões
você não precisa pedir a mão dela ao Papaizinho: vo- partidos muito atraentes no mercado de casamentos
cês podem fugir para a Itália, como fizeram Elizabeth da Sociedade: além de serem poderosos, mágicos e te-
e Robert Browning. Pode ser um tanto chocante, mas rem um status muito, muito alto, os dragões são quase
acontece. sempre absurdamente ricos!

C O M M E 22 I L F A U T
Bailes, Festas & Reuniões Dançantes
Excerto do Livro de etiqueta e assuntos feéricos, de lady Agatha

A
o planejar uma festa, primeiro é um lugar para as partidas e pratos simples para alimentar
preciso decidir deque tipo será. os jogadores. O usual é servir sanduíches, bolos, petiscos
Há diversos estilos dentre os quais e afins, a menos que a duração da festa englobe uma refei-
escolher, desde uma simples reunião para ção, caso no qual é melhor planejar um jantar. Não se per-
jogar cartas até um grande Baile. Cada qual tem seu pró- mitem apostas em dinheiro em grupos mistos. As damas
prio conjunto de regras e requer uma série específica de não jogam a dinheiro e devem pedir licença para se ausen-
providências. tar de uma partida em que se permita tal coisa. O jogo de
O primeiro passo é fazer uma lista de convidados. Esta cartas mais popular é o uíste; pode-se jogá-lo sem aposta
pode variar desde dois casais para o carteado até cente- alguma e é satisfatoriamente desafiador.
nas de pessoas para o grande baile. Componha O piquenique ou convescote é para a mes-
um convite e, com a ajuda do secretário e
ma quantidade de pessoas, mas requer
da criadagem, copie-o várias vezes, po-
viandas e preparativos mais elabora-
nha os convites em envelopes e sele-
dos. Há que se providenciar um local
-os com cera e o sinete do remeten-
e um cardápio apropriados, e o en-
te (ou ao menos suas iniciais). Em
seguida os convites são confia- tretenimento ao ar livre deve ser
dos aos pajens, que os entrega- considerado com cuidado. O
rão nas casas dos convidados. deslocamento em carruagens
Não devem ficar por conta da até o local do piquenique
veneta dos correios, a não deve ter a cuidadosa super-
ser que o destinatário more visão de acompanhantes
fora da cidade. caso haja jovens solteiras
As confirmações de pre- entre os convivas. Passeios
sença, ou RSVP, também fluviais de chata ou barco
são levadas pelos pajens são formas excelentes de
assim que o convite chega diversão em um conves-
ou a qualquer momento cote, e fazer um piqueni-
até dois dias antes da data que perto da água é alta-
do evento. É necessária mente recomendável.
uma aceitação ou recusa Os saraus musicais
por escrito: deixar de en- ocorrem quando o anfi-
viá-la é um insulto grave. trião ou a anfitriã convence
Em geral, seu secretário in- um músico particularmen-
forma os convites recebidos, te famoso ou talentoso a
pergunta se é seu desejo com- tocar e providencia um grupo
parecer e envia sua resposta. de tamanho pequeno a médio
O segundo passo é alertar o para apreciar a apresentação.
cozinheiro sobre o tipo de festa Geralmente são reuniões mui-
planejada e começar a pensar no to exclusivas, admitindo apenas
menu. Enquanto o cozinheiro quebra a nata do círculo social da anfitriã.
a cabeça listando o necessário, é preci- Acontece numa sala ou num salão de
so convocar os floristas e os fornecedores baile, com acomodações adequadas para
de velas. É preciso retirar as cobertas do lus- os convidados. Os instrumentos são forneci-
tre do salão de baile, encerar o piso até parecer um dos pelo convidado que toca ou, no caso de um reci-
espelho, e todo aposento no térreo deve passar por faxina tal de piano, pelo anfitrião.
pesada e decoração. As reuniões dançantes demandam ainda mais cuidado
O tipo mais simples de festa é a reunião para jogar car- e preparação. Deve-se providenciar um local para dançar e
tas. Pode juntar de dois a vinte casais e necessita apenas de áreas públicas para as pessoas se sentarem entre uma dan-

C O M M E 23 I L F A U T
ça e outra. Há que se fornecer comes e bebes e os criados Deve haver espaço suficiente nas ruas próximas para as
que irão servi-los. carruagens dos convidados aguardarem em fila. Um baile
À chegada de um convidado, o anfitrião e a anfitriã fi- concorrido pode causar um tremendo engarrafamento na
cam de pé na entrada da área de dança, cumprimentando vizinhança, com as carruagens de seus convidados aguar-
pessoalmente a todos. Essa comitiva de recepção deve in- dando pacientemente em fila até chegar à porta da frente.
cluir os filhos do casal que não estejam mais na escola. Já que ninguém que tenha a mínima pretensão de nobreza
A anfitriã deve garantir que todos os seus convidados es- sequer cogitaria ir ao baile senão com seu melhor veículo,
tejam se divertindo. Deve assegurar que todos tenham par- trata-sede um espetáculo e tanto, mas também de um en-
ceiros de dança e que ninguém fique de pé por não ter onde garrafamento e tanto.
sentar. É preciso providenciar a música, bem como locais À entrada do baile, os casacos são recebidos por um
públicos onde os cansados possam se sentar e relaxar. criado de libré que os guarda numa saleta própria para isso.
Muitos bailes culminam em grandes ceias à meia-noi- Mas enganos acontecem, portanto sempre confira se você
te que, inexoravelmente, são refeições dispendiosas e ele- pegou seu próprio casaco de volta. Certo cavalheiro pegou
gantes que precisam de muita preparação. Todos os convi- o manto errado e encontrou em suas dobras não a carta
dados devem ser acomodados de acordo com a ordem de apaixonada que estava lá antes, mas uma cópia dos planos
Precedência e devem passar à sala de jantar nessa mesma para a invasão da Áustria: extremamente constrangedor.
ordem, pareados de acordo Quando se é o convida-
com seus títulos de nobreza. do de um baile ou de uma
A decoração de um salão os maiores sucessos de 1870 reunião dançante, há uma
de baile geralmente consiste Uma das melhores coisas sobre o Baile é que etiqueta específica a ser se-
em combinar vasos de flores funciona muito bem como cenário para um Larp(p. guida. O cavalheiro só deve
com cortinas e festões de 168). O Salão de Baile é um espaço fechado no qual tirar a dama para dançar
tecido recobrindo as pare- todos podem se vestir a caráter e onde não haverá se antes tiverem sido ade-
des; pode-se conseguir uma combates (ou estarão limitados a uma fórmula ri- quadamente apresentados.
variedade de efeitos de tirar tualística, como o Cartoduelismo). Se for uma moça solteira,
o fôlego só com isso. Certa Seja no nível de encenação Interativo (CF, p. 168) o cavalheiro deve pedir
aristocrata criou a ilusão ou no Larp, suas Aventuras Recreativas só terão a permissão à sua acompa-
de um céu noturno usando ganhar com o uso de música. É relativamente fácil nhante para levá-la à pista
um tecido azul-escuro com encontrar gravações de valsa e música clássica em de dança. Quando a dança
flocos de prata para reves- acervos de discotecas e lojas especializadas (e o me- acabar, o cavalheiro deve
tir o teto; combinado aos lhor de tudo, a música clássica nunca sai de moda). devolver sua parceira ao
lírios brancos e às velas com Seguem algumas ótimas sugestões do compositor mesmo lugar onde a en-
fragrância de magnólia, foi Johann Strauss II, o mestre incontestável da valsa: controu e não deve dançar
uma sensação. “Danúbio Azul” mais de duas vezes com a
Ao planejar um baile, “Contos dos Bosques de Viena” mesma jovem se esta não
lembre-se de que um bom “Valsa do Imperador” for sua noiva. Se fizer isso,
lugar é essencial. O baile “Wiener Blut” (Sangue vienense) será obrigado, por questão
precisa de um salão gran- “Folhas da manhã” de honra, a pedir a mão da
de, de quarenta a novecen- E, se você for pós-moderno demais para isso, moça o mais rápido possí-
sempre poderá contar com “Children’s Crusade” do
tos metros quadrados, com vel, pois demonstrou sua
Sting!
um local separado para a pretensão à jovem, e não
orquestra (seja uma saca- pedir sua mão mancharia a
da ou uma área na pista de dança), uma sala reservada honra de ambos.
onde as damas possam ajeitar seus vestidos, uma sala de No início do baile, a dama recebe um cartão de
fumar para os cavalheiros e, possivelmente, uma biblio- dança da anfitriã. Os cavalheiros que queiram dançar
teca para conversas particulares e affaires. com ela solicitam sua inscrição em danças específicas.
Mais serviçais podem ser necessários para atender os Assim a dama saberá quem será seu parceiro a cada
convidados. Podem ser contratados para uma noite de tra- dança, evitando possíveis confusões caso ela esqueça
balho em estabelecimentos especializados. Os serviçais pre- a quem prometeu uma quadrilha. Algumas anfitriãs le-
cisam receber os convidados, anunciá-los e servir as bebidas. vam ainda mais longe o conceito, chegando a entregar
É preciso ter cuidado com quem se contrata: já aconteceu de às damas seus cartões de dança já preenchidos, para
espiões estrangeiros e anarquistas terem acesso aos bailes oferecer a cada convidada parceiros que ela sabe que
disfarçados de serviçais e causarem muitos problemas. vão agradá-las.

C O M M E 24 I L F A U T
Por outro lado, há regras de Etiqueta que a Dama deve horas. As bibliotecas são locais excelentes para isso, pois
seguir num baile. Por exemplo, se for abordada por um ca- geralmente têm uma lareira acesa e portas que levam para
valheiro com quem preferiria não dançar, ela deverá dizer fora, para as fugas de emergência.
que está cansada demais para aquela dança: não deve dizer A política também costuma escapar das repartições
que não gosta especificamente dele. Contudo, ao fazer isso, públicas e respingar nos salões de baile. Aparentemente,
por questão de honra, ela não poderá conceder essa dança muitas vezes o destino de uma civilização é decidido entre
a nenhum outro cavalheiro, para não ferir os sentimentos uma Mazurca e uma Quadrilha.
do cavalheiro que ela rejeitou. Na próxima dança, porém, Carreiras políticas podem ser engendradas ou destruídas
ela poderá aceitar o convite de quem for do seu agrado. por ações praticadas num baile. Por exemplo, sempre dance
O homem com o maior título de nobreza no baile com as filhas de seu superior, nunca com as de seu oponente.
deve tirar a anfitriã para a primeira dança, ao passo que Os jardins de Vauxhalle o parque Prater, na Velha Viena,
o anfitrião dançará com a dama de posição hierárquica são bons exemplos de bailes ao ar livre. Os bailes ao ar livre
mais elevada. Depois disso, todos podem dançar entre geralmente são abertos ao público, cobram um pequeno
si, mas as mulheres solteiras precisam da permissão da valor como ingresso e garantem o grosso de seu lucro com
anfitriã caso queiram Valsar. A Valsa é considerada uma a venda de petiscos e bebidas. São locais excelentes para
dança um tanto escandalosa, e muitas anfitriãs mais affaires e reuniões secretas, pois geralmente têm recantos
velhas não permitem a uma mulher solteira executá-la onde as pessoas podem se sentar e manter a privacidade.
em público. Contudo, poucas damas respeitáveis têm a opção de se
As quadrilhas irlandesas e contradanças são sempre se- meter no mato com um cavalheiro e ainda conservar nem
guras, e as figuras costumam ser relativamente simples e que seja uma parte de sua reputação.
fáceis de acompanhar, mesmo para quem não as conhece Nunca dance mais de duas vezes com a mesma parceira,
muito bem. Na América, as quadrilhas são mais aceleradas a não ser que você planeje se casar com ela.
que as contradanças; usam-se muitas das mesmas figuras, Na Inglaterra, as moças solteiras não podem valsar sem
mas com nomes diferentes. Na Europa continental, a Val- permissão.
sa não é tão reprovável quanto na Inglaterra e costuma ser O RSVP deve ser enviado ao menos dois dias antes de
muito executada nos bailes, ao passo que outras danças qualquer evento.
consistem, principalmente, de minuetos recauchutados O cavalheiro deve ser apresentado à dama antes de tirá-
e quadrilhas irlandesas. As contradanças parecem ser um -la para dançar.
fenômeno exclusivamente britânico. O baile costuma começar às oito ou nove da noite e
Dançar não é a única coisa que acontece num Baile. pode ir até as três ou quatro da manhã.
Qualquer reunião da elite é um excelente pretexto para As moças solteiras devem sempre usar vestidos de baile
uma série de atividades. É claro que a atividade mais ób- brancos ou em tons pastel e apenas flores ou pérolas como
via é arranjar casamento: a maioria dos bailes são promo- adornos. Somente as mulheres casadas podem usar cores
vidos para colocar em contato os jovens casadoiros e as escuras e joias caras.
moças solteiras, sob a supervisão severa da Sociedade.
Muitos namoros começaram com olhares coquetes tro-
cados na pista de dança. Muitos duelos também tiveram
essa mesma inspiração. notas do tom
Mesmo assim, muitas outras atividades encontram Os bailes e as reuniões dançantes são ocasiões
no baile a oportunidade adequada. Os espiões – aqueles sociais importantes num mundo sem televisão nem
que têm acesso à Sociedade, pelo menos – consideram os rádio. É onde você pode encontrar pessoas, trocar
bailes um momento excelente para trocar segredos: com saudações e mexericos e fortalecer amizades. Mas os
tanta gente transitando livremente entre os aposentos, bailes também têm a mesma distinção que os cassi-
algumas transações clandestinas passam despercebidas. nos de Monte Carlo e as festas em iates na Riviera
Há rumores de que certos ladrões de casaca usam o pre- apresentam num bom filme de James Bond: são lu-
texto de um baile para examinar possíveis locais para um gares onde as pessoas poderosas e atraentes podem
futuro crime. Podem usar bailes sub sequentes para execu- se envolver em todo tipo de desonestidade, intriga e
tar o serviço e até mesmo para passar os espólios do furto romance. Descobri que os bailes são o lugar perfeito
para possíveis interessados. Contratar um investigador para passar informações, sondar os inimigos e fler-
particular para monitorar seu baile é uma maneira exce- tar desbragadamente com mulheres bonitas. E, de
lambuja, a comida é sempre farta e grátis. Portanto,
lente de prevenir esse tipo de atividade.
entender como os bailes funcionam vale a pena em
Também ocorrem affaires nessas ocasiões. A multidão
vários aspectos.
nem sempre repara que alguém escapuliu por uma ou duas

C O M M E 25 I L F A U T
Corridas & Regatas
P
ara boa parte de Nova Europa, espor- contro anual do clube náutico Royal Yacht Squadron
te significa só uma coisa: as corridas na ilha de Wight, Inglaterra. Durante uma semana de
–;ou melhor, as corridas e toda a jo- corridas, dezenas de equipes competem pelo Troféu da
gatina que gira a seu redor. Sejam cavalos, Regatta e pelo prêmio de 50 mil libras esterlinas.
veleiros, automotrizes a vapor ou zepelins, Newport, em Rhode Island, Estados Unidos, é outro
o fã das corridas sempre encontra um lugar para fazer suas local onde fervilha o iatismo, embora ainda esteja no co-
apostas na Era do Vapor. meço, agora que os herdeiros da fina-flor nova-iorquina
estão comprando propriedades ali e construindo suas
turfe: o esporte dos reis mansões. A Regata de Newport é pequena, mas está cain-
É claro que o turfe ––é o esporte mais difundido. As pes- do na preferência da elite. Ninguém ofereceu prêmios
soas gostam de chamá-lode “o esporte dos reis”, porque a ainda, mas, com tantos patrocinadores milionários, você
realeza gosta de apostar nos cavalos. Apostadores invete- pode apostar que um dia ainda serão do outro mundo.
rados como meu amigo Bertie podem acumular milhares
de libras em dívidas numa única tarde no hipódromo.
o grande rali paris-viena
Também se chama o esporte dos reis porque apenas um rei de automotrizes
poderia bancara dispendiosa manutenção de um haras de Com a popularidade crescente das automotrizes a va-
corrida e seus cavalos valorizadíssimos. por, não demorou muito para um espírito empreendedor
A Inglaterra é, evidentemente, a capital dos eventos patrocinar uma corrida dessas “chaleiras com rodas”. A
equestres, hospedando várias corridas de grande porte que principal corrida é o grande Rali Paris-Viena, que ocorre
são o clímax do esporte. Tudo começa com o Derby Day, todo verão neoeuropeu, durante duas semanas entre julho
em junho (e o inimitável jóquei Fred Archer, o “Homem e agosto. Patrocinada pelo London Times e pelo Sindicato dos
de Lata”,que arrebata todos os títulos), passando pelas Caldeireiros Anões, a corrida atrai participantes de todo o
corridas de Dublin (com obstáculos), pelas July Stakes em mundo para competir pelo prêmio de vinte mil libras.
Newmarket, a Cambridgeshire e a Oaks, até chegar à mais
prestigiada dessas corridas, a Royal Ascot, em agosto, –um a grande corrida internacional
evento aristocrático, frequentado pela nata da Europa e de dirigíveis
pela rainha da Inglaterra em
A Internacional, o fenômeno
pessoa.
mais recente no círculo das cor-
Na América, terra do quar-
ridas, surgiu quando a Prússia
to de milha e do marchador do regras para a corrida começou a desenvolver veículos
Tennessee, as corridas também de cartas da divina sarah mais leves que o ar, em resposta
são velozes e furiosas. A cida-
Variação interessante do carteado que a à nossa Armada Celeste. Logo –
de de Saratoga gaba-se de se-
Divina Sarah me ensinou, trata-se de uma assim que a França, a Inglaterra
diar o hipódromo mais antigo
ótima maneira de simular qualquer corrida. e a Áustria desenvolveram seus
das Américas, financiado por
E também de perder muito dinheiro. próprios dirigíveis, e os aerósta-
estrelas de Wall Street, como
Cada competidor escolhe um naipe para tos dos Estados Unidos começa-
Leonard Jerome e Auguste Bel-
representar seu cavalo e coloca uma carta ram a cruzar o oceano Atlante –,
mont. De fato, Jerome e seu
desse naipe virada para cima sobre a mesa, desenvolveu-se um grande espe-
irmão Lawrence também pa-
de modo que os quatro naipes estejam lado táculo aéreo que acabou sediado
trocinaram a primeira regata
a lado. O resto do monte é embaralhado, aí pelo rei Luís no Aeródromo Real
transatlante, celebrando a vi-
revelam-se as cartas uma a uma, colocando- de Friedrichshafen. É desneces-
tória em Cowes.
-se cada uma delas na pilha correspondente sário ressaltar que nossos aero-
regatas en blanc a seu naipe. Quando a terceira carta é reve- zepelins de hidrogênio enfeiti-
lada, os jogadores apostam em cada um dos çado movidos a Magia Mecânica
Mas nem todas as corri-
cavalos, levando em consideração as chan- não competem na Grande Corri-
das acontecem nas pistas. O
ces do “primeiro colocado”. Em seguida, da–: com uma velocidade média
iatismo também é um impor-
volta-se a revelar cartas até um “cavalo” ter de até 240 km/h, não seria justo.
tante ponto de encontro para
dez delas em sua pilha: esse é o vencedor! Mas, com o prêmio de 100 mil
os cavalheiros desportistas. A
florins, o evento anual de junho
Semana de Cowes marca o en-
é bem concorrido!

C O M M E 26 I L F A U T
Duelos
“U
m duelo”, como meu amigo a questão é que você apareceu ese expôs ao risco de levar
Grey Morrolan gosta de re- um tiro–, ao contrário do duelo europeu, em que o objetivo
petir, “é o resultado de um é realmente ferir ou matar o oponente.
terrível erro de tradução”. O que Morrolan No Oeste Norte-Americano, é claro, a troca de tiros co-
quer dizer com isso é que, para levar uma meça com os dois participantes a pelo menos cem passos
pessoa a querer trespassar outra com 75 centímetros de um do outro. Podem usar a arma portátil à sua escolha e
aço afiado, alguém deve ter dito a coisa errada. E, de fato, a atirar quantas vezes quiserem, sem recarregar. Nas violen-
maioria dos duelos começa simplesmente assim: com uma tas cidadezinhas vaqueiras da República do Texas, chamam
palavra mal-empregada. isso de confronto final. Eu chamo de tiroteio estacionário.
Mas nem todos os duelos são travados do Os prussianos têm dois tipos de duelo: o duelo
mesmo modo. Cada Continente tem suas formal (sempre até a morte) e o estudantil,
próprias regras para esta arte letal. Re- ou duelo de schlager. O duelo até a morte
latarei algumas delas aqui. é a disputa tradicional neoeuropeia.
Os duelos tradicionais na so- É sempre travado com sabres e só
ciedade neoeuropeia são tra- é empregado quando a ofensa é
vados com espadas: espadins grave (como o adultério ou vin-
para a nobreza, sabres no gar a morte de um camarada).
caso de oficiais do Exército No caso de insultos à hon-
ou da Marinha. Limpa-se ra, preferem-se os duelos
uma área para servir de de schlager. Estes utilizam
campo e, ao cair de um uma arma especial, um sa-
lenço (ou à contagem bre bem fino e com gume
de três), os duelistas apenas na ponta. A em-
partem para a ação. O punhadura do sabre tem
objetivo pode ser tirar uma guarda grande em
sangue (ser o primeiro a forma de sino (chama-
abrir um corte fundo no da de “tigela da honra”).
corpo do oponente) ou Os duelistas ficam face a
espetar o rival feito um face e atacam o adversá-
frango assado. Você pode rio com golpes cortantes
usar capas, uma faca es- na cara, no tórax e nos
condida, jogar areia nos braços até que o oponente
olhos... o que for preciso, desmaie por causa da dor e
desde que não abandone o da perda de sangue. As esto-
campo. É um tanto brutal. cadas não são permitidas, e o
Embora duelar também primeiro a se afastar da posição
devesse ser ilegal nas “Colô- face a face será considerado um
nias”, a prática continua mesmo covarde.
depois do dia fatídico em que Ha- Uma versão modificada do due-
milton enfrentou Burr. Na América, lo de schlager tornou-se muito popular
a maioria dos duelos ainda é travada com entre os clubes marciais estudantis das
pistolas em vez de espadas. As armas de fogo universidades prussianas. No duelo estudantil,
costumam ser pistolas de uma mão e tiro único. Os os duelistas vestem roupas acolchoadas para proteger
duelistas escolhem um local, ficam de costas um para o ou- tudo menos parte do rosto; às vezes se usam óculos de pro-
tro e dão dez passos em direções opostas. Aí eles se viram teção. Toma-se mais uma vez a posição face a face, e o obje-
e atiram. tivo é deixar uma cicatriz no rosto ou no couro cabeludo do
Há muitos desfechos possíveis para os duelos norte-a- oponente. Os estudantes prussianos têm muito orgulho de
mericanos: um participante pode optar por atirar no chão suas cicatrizes, pois demonstram que eles são capazes de
e torcer para seu oponente errar, pode atirar para ferir ou suportar a dor sem se esquivar.
para matar. Qualquer uma dessas opções satisfaz a honra: Ui. Pessoalmente, eu prefiro ficar com o duelo de cartas.

C O M M E 27 I L F A U T
Escrever É uma Arte: os Diários
T
odo mundo na Era Vitoriana você interpretará no Palco. E como não há o menor
mantém um Diário. É algo com- risco de alguém publicar essas memórias para enver-
pulsivo, como os programas de gonhar você após sua morte, você pode enfeitá-las
autoajuda do nosso mundo. Escreve- a seu bel-prazer com seus talentos artísticos e lite-
-se sobre a vida cotidiana, os amores, as reclamações rários. Como quase todo o processo de criação de
corriqueiras, as vitórias e os fracassos–: os Diários personagens do Grande Jogo é narrativo, é bom você
tomam o lugar dos psicólogos (que ainda não foram tentar escrever tudo que for interessante sobre “você
inventados no sentido moderno e são conhecidos mesmo”: personalidade, aparência, seu passado,
como alienistas), permitindo à mente Vitoriana lidar laços pessoais, imbróglios românticos, segredos,
com seus problemas e inseguranças longe dos olhos alianças, pertences e até mesmo sua Nêmese (reco-
do público. mendamos aos Anfitriões adicionar também as no-
Até a pessoa morrer e seus parentes publicarem o tas que julgarem importantes para a interpretação
Diário. Vá entender. da personagem).
Diários. A rainha Vitória tem um, com sua prosa E não se limite apenas a escrever no seu Diário! Ten-
floreada, as opiniões arrebatadoras e as delicadas te colar cartões postais de locais que “você” visitou,
aquarelas que ela própria faz. Até mesmo Bismarck “cartas de amor” de antigas paixões, condecorações
tem um–: o registro secreto de inseguranças terríveis regimentais recebidas em batalha, resenhas críticas
e violentos acessos de melancolia. Eu sei tudo so- de livros que “você” escreveu ou de peças nas quais
bre eles, porque estes e muitos outros “você” atuou–: qualquer coisa que uma
Diários foram publicados lá no meu pessoa guardaria para apreciar num
universo, para grande conster- momento de privacidade. O sim-
nação dos parentes e o deleite ples ato de inserir essas coisas
dos historiadores. Como eu “reais” no Diário de sua
queria ter alguns exem- Personagem dará a ela ou
plares aqui comigo–: ele uma vida que não só
seria muito útil saber servirá como base para
quais são os maiores você interpretá-la(o)
temores de Bismarck com riqueza de deta-
ao confrontá-lo numa lhes e profundidade,
mesa de negociações. mas também renderá
Por falar nisso, já ao grupo horas de uma
leitura mútua e inte-
localizei o Diário de
ressante quando vocês
Luís (a história mostra
não estiverem jogando.
que ficava escondido
Uma última ideia
numa escrivaninha da
para os Anfitriões:Uma
Residenz em München),
das coisas bacanas sobre os
e planejo destruí-lo dez se-
Diários das Personagens é que
gundos após sua morte. Nin-
eles também podem ser conside-
guém vai expor meu amigo e chefe
rados “reais” no contexto do Jogo: os
ao escárnio da história.
Jogadores podem segredar ao Anfitrião
Entretanto, no Grande Jogo, você tem a
onde esconderam seus Diários no mundo do Jogo,
oportunidade única de criar o diário de uma pes-
deixando-os lá para que outros Jogadores possam en-
soa totalmente diferente: a personagem fictícia que
contrá-los (e lê-los)!

C O M M E 28 I L F A U T
Escrever É uma Arte: os Romances

A
lunos de Letras do futuro: é me- importância de ser Prudente provavelmente inspirou o Monty
lhor vocês se sentarem. O autor Python em algum momento. Henry James (O americano) e
mais vendido da atualidade na Edith Wharton (A idade da inocência) – embora ela seja um
Era do Vapor não é Charles Dickens nem pouco tardia – cumprem ambos com excelência a função
Thomas Hardy. Nem de longe. Não, a campeã de vendas, de mostrar o conflito entre as classes altas das sociedades
a Danielle Steel de seu tempo, é uma dama de esti- norte-americana e europeia. E, embora eu não re-
lo extravagante e ostentoso chamada Maria comende Charles Dickens como leitura leve,
Louisa Ramé –e conhecida pelo pseudô- você talvez queira passar os olhos por David
nimo de Ouida. Copperfield. Pode ser até que se divirta.
Aqui, todos leem Ouida. Seu ro- Quem sabe?
mance mais famoso (entre mui- As biografias também estão em
tos) é Under Two Flags [Sob duas alta no momento: confira Rainha
bandeiras], um livro bem co- Vitória e Eminent Victorians [Vito-
mercial e tórrido sobre um rianos eminentes] de Lytton
libertino bonitão que entra Strachey.
para a Legião Estrangeira e Não deixe de prestigiar o
se apaixona pela masco- lado mais escandaloso da Era
te do acampamento, uma do Vapor. Se você conseguir
moça atraente e travessa encontrar, The Way of a Man
com o improvável nome with a Maid[O homem que
de Cigarette. E você nemi- faz com a aia o que quer] é
magina quantos livros ela o equivalente vitoriano do
vendeu! Divã da Loura da Playboy, só
O que estou tentando que muito mais picante (não
dizer é que a literatura vi- o recomendo para os menores
toriana não é aquela coisa de dezesseis anos!).
erudita que nós, norte-ame- Por fim, não deixe de presti-
ricanos, somos obrigados a ler giar os recursos que você tem, e
no ensino médio. A maior par- eu não. Se tivesse tido a chance de
te, aliás, é uma combinação de me preparar antes de ser arrastado
romances açucarados com cenas para cá, eu teria trazido do século XX
sensuais, dramalhões sentimentais, a seguinte seleção: os livros da série
ficção científica fantástica e mistérios Flashman, de George MacDonald Fraser;
sensacionalistas. E, como a literatura é Primeiro assalto de trem, de Michael Crichton;
uma das melhores formas de analisar uma cul- a série Bertie, Prince of Wales[Bertie, o Príncipe
tura, logo descobri que os livros populares desta época de Gales], de Peter Lovesey; A máquina diferencial, de Wil-
são o caminho mais rápido para entender como pensam as liam Gibson e Bruce Sterling; A lista dos 7, de Mark Frost;
pessoas da Era do Vapor. The Enquiries of Dr. Eszterhazy [As investigações do doutor
Quer experimentar a incrível ânsia vitoriana pela Gran- Eszterházy], de Avram Davidson (mais Império Austría-
de Ciência e a Invencionice? Leia Júlio Verne (o Asimov da co, impossível!); The Detective & Mr. Dickens [O detetive e
época) ou H. G. Wells (embora ele seja um pouco tardio o senhor Dickens], de William Palmer; O diário de bordo de
para o período). Quer saber o que é a “Índja, xovem” e os Phileas Fogg, de Philip J. Farmer; os livros de mistério da sé-
“soldados do rajá”? Encontro personagens dos romances rie Irene Adler de Carole Nelson Douglas; e, é claro, Visões
de Kipling o tempo todo. de Sherlock Holmes e West EndHorror[Horror noWest End], de
Tudo bem, todo mundo em nosso mundo conhece o Nicholas Meyer (homenagens a Sherlock Holmes).
Sherlock Holmes de A. Conan Doyle, mas, no século XIX, E Ouida? É triste dizer, mas ela não resistiu muito bem
o mestre do suspense misterioso e açucarado é Wilkie Col- às pedradas e flechadas dos professores de literatura ingle-
lins: seu romance The Moonstone[A Pedra da Lua] faz dele sa do século XX. Mas, se quiser meus exemplares empres-
o Clive Cussler do momento. Oscar Wilde, obviamente, tados, posso trocá-los de bom grado por uma coleção de
não tem igual ao retratar a tolice afetada dos ingleses: A brochuras de Harold Robbins.

C O M M E 29 I L F A U T
Fadas & Etiqueta Feérica
Excerto do Livro de etiqueta e assuntos feéricos, de lady Agatha:

D
ificuldades surgem, invariavelmen- Não pergunte demais sobre o passado da fada nem a
te, nas interações entre as fadas e os respeito da vida feérica em geral. Elas prezam muito sua
domínios dos mortais. O primeiro privacidade e vão se abrir se essa for sua vontade, mas não
motivo para tanto é a natureza essencial- gostam nem um pouco de enxerimento.
mente incompatível das visões de mundo mortal e feérica. Não fique regrando seus convidados nem mostre qual-
É bastante natural que uma existência de vários milênios quer tipo de avareza, pois as fadas abominam a ganância.
incuta em alguém um ponto de vista um tanto diferente do Não esperam que ninguém fique pobre por causa delas,
de pessoas com meras sete ou oito décadas de idade. E é essa mas esperam que você seja generoso e liberal.
diferença essencial de perspectiva que causa a maioria das Se houver entretenimento, garanta que este seja de alta
dificuldades nas relações entre os dois grupos. qualidade: as fadas têm muito bom gosto para a música e
Ao travar contato com seres feéricos, sempre se com- as Artes.
porte de maneira educada. Não obstante o fato de po- Por cortesia, devem-se tratar todas as fadas pelo tí-
derem transformar você num sapo, seu bom compor- tulo de lorde ou lady e colocá-las no mesmo nível hie-
tamento fará você ganhar o respeito deles muito mais rárquico dos barões mortais, a não ser que tenham um
rapidamente do que seus arremedos de bravata. Diante título superior. Orei Auberon, naturalmente, é tratado
de uma descortesia, responda com palavras gentis e de- por Vossa Majestade, enquanto os membros de seu con-
licadeza. Muitas vezes, a grosseria deles é um teste para selho são tratados por Vossa Graça e nivelados aos du-
medir seu valor, e falhar nesse teste pode ser desastroso ques. É difícil identificar os seres feéricos, mas a regra
(para você, não para as fadas). é sempre aceitar a palavra de uma fada: se ela for uma
Por outro lado, quando uma fada entra em contato com impostora, deixe que sua própria gente resolva o proble-
um mortal, aconselha-se que seja circunspecta e não faça ma. Em síntese:
muito alarde de seu poder nem de sua idade. Os mortais Seja educadíssimo com as fadas.
já desconfiam naturalmente dos seres feéricos e podem se Bom gosto e classe são altamente valorizados pelas fadas.
tornar hostis se alguém lhes esfregar na cara as diferenças Prepare-se para as diferenças culturais entre as raças e
entre as raças. Boa parte do que as fadas considerariam um tente não se ofender muito com isso.
comportamento natural é percebida pelos mortais como Não ofereça presentes a um ser feérico, nem aceite o
arrogância e afetação de superioridade. que ele lhe oferecer.
Aí temos a questão da organização social: os mortais Não coma nem beba nada em terras feéricas.
têm hierarquias intricadas e complexas, e tanto o objetivo Nunca prometa a uma fada algo que você não tem como
quanto os costumes dessa estrutura muitas vezes confun- cumprir.
dem as fadas, enquanto estas têm suas próprias regras e Para as fadas que estão aprendendo a lidar com a Hu-
ordens sociais que a maioria dos mortais considera incom- manidade: lembrem-se de que a Cortesia também é impor-
preensíveis. Um exemplo comum é o do brownie. Muitos tante para os mortais. Há diferenças entre as várias cultu-
seres humanos gostariam de recompensar a ajuda diligen- ras, e elas são numerosas demais para as listarmos aqui,
te e o trabalho árduo do brownie, sem saber que tal coisa mas, se imitar seu anfitrião no jantar, as chances de co-
enfureceria a criatura e a faria partir. Por quê? Porque os meter um grande erro serão bem pequenas. Uma conduta
brownies trabalham para pagar pela acomodação e a comi- que a maioria das culturas humanas desaprova é a sedução
da: eles são muito orgulhosos e jamais roubariam nem pe- de suas filhas fora dos laços jurídicos. Seja cauteloso nessa
diriam esmola. Se você lhes der outra recompensa além do área, pois isso pode causar muitos dissabores.
que eles já aceitam de boa vontade, eles acharão que você Os elogios insinceros também são comuns entre os
quer aumentar a dívida para forçá-los a trabalhar mais. O seres humanos. Não se ofenda com isso: são uma forma
que um ser humano veria como generosidade, os brownies de cortesia, assim como os presentes. As dívidas não
veem como ganância. comprometem os seres humanos como fazem com as
Por isso, parece oportuno apresentar algumas regras fadas: para eles, um presente nada mais é que um sinal
básicas do trato com as fadas. Primeiro, quando receber de gratidão ou amizade. Você não precisa aceitá-los,
convidados feéricos em sua casa, assegure-se de sumir com mas explique suas razões, para evitar ofender alguém.
qualquer coisa de Ferro Frio que possa haver no lugar. Para Os humanos têm tantas culturas diferentes que costu-
as fadas, o Ferro Frio é, na melhor das hipóteses, descon- mam compreender rapidamente a razão do seu aparen-
fortável – e na pior delas, doloroso ou fatal. te deslize.

C O M M E 30 I L F A U T
Grupos & Clubes
N
o momento em que fui convida- farrearem à vontade, e poucas mulheres apreciam pas-
do ame filiar ao Marlbourough sar a noite bebendo, fumando charutos e na companhia
Club (graças à minha notorie- de mulheres “decaídas” (ou ao menos é nisso que seus
dade por ser de outra Dimensão), eu maridos querem acreditar!).
não fazia ideia da honraria que estavam Você pode pertencer a mais de um clube, desde que –
me confiando. Veja bem, na Era do Vapor, o clube não é não haja antipatias entre eles; por exemplo, o Príncipe de
apenas um grupo de pessoas que você encontra uma vez Gales pertence aos Excentrics, aos Savages e ao Marlbou-
por mês: parece mais um microcosmo da Sociedade. Em rough. A afiliação garante acesso a todos os eventos do clu-
suas dependências, congregam-se parceiros comerciais, be, além de privilégios de hospedagem e alimentação. As
discutem-se Assuntos de Peso e reafirma-se a estrutura contribuições (de 50 a 100m) são pagas anualmente.
social. É nos clubes que os jogos de poder do século XIX
realmente acontecem.
tipos de clube
Muitos clubes são simplesmente grupos sem uma Embora existam clubes para todos os gostos, a maioria
sede formal: os membros se reúnem nos bares de sua se atém a cinco tipos básicos. Os clubes masculinos são
predileção ou nas casas uns dos outros. Certos clubes, quase sempre grupos que se reúnem para farrear, jogar a
porém, possuem pontos de encontro; alguns, até mes- dinheiro e perseguir rabos de saia; não têm estatutos for-
mo sedes grandes e imponentes, reunindo o que há de mais e nunca admitem mulheres. Seus equivalentes de
melhor num bom hotel: aposentos, bibliotecas, salas de sexo oposto são os clubes femininos, nos quais Damas
jantar e serviçais. poderosas se reúnem para discutir assuntos de relevância,
promover investimentos e fofocar um pouquinho. Obvia-
afiliação mente, não se admitem homens.
Ninguém entra para um clube sem ser convidado; não Os clubes políticos são formados por gente podero-
adianta bancar o penetra. Um membro de boa reputação sa, geralmente unida por suas simpatias políticas. Estes,
propõe seu nome como sócio e procede-se a uma longa como o liberal Reform, costumam ter sedes grandes onde
investigação de suas referências. Geralmente, existem pa- os membros se encontram para socializar e discutir os as-
drões mínimos de status e êxito social, e o menor laivo de suntos do dia. Os clubes profissionais concentram-se em
escândalo certamente levará à sua rejeição. promover palestras e encontros de sócios com os mesmos
A quem cabe a decisão final sobre a afiliação é algo que interesses ocupacionais; estes geralmente têm auditórios
varia de um clube para outro. Alguns, como La Légion em em vez de sedes. Os clubes literários e intelectuais focam
Paris ou a Akademie em München, aceitam novos mem- nas atividades artísticas, eruditas ou literárias da atualida-
bros por uma simples maioria de votos. Outros, como o de. Os encontros costumam ocorrer em cafés, teatros ou
exclusivíssimo Marlbourough, têm algum tipo de regra nas residências dos membros.
da “bola preta”: cada membro deve vo-
tar depositando secretamente uma bola
branca ou uma bola preta dentro de um
recipiente passado de mão em mão du-
rante a votação. Basta uma bola preta
para a rejeição do candidato–. Os títulos
de nobreza raramente importam nesse
momento: o próprio Bertie foi recusado
no Reform!
A maioria dos clubes admite mulhe-
res (um avanço relativamente recente
que obrigou certos clubes a fazer mu-
danças drásticas na disposição dos apo-
sentos e das saunas). De fato, os únicos
clubes que não admitem mulheres são
os masculinos, mas não se perde mui-
ta coisa, –pois a maioria desses locais é
para os homens casados da Sociedade

C O M M E 31 I L F A U T
um clube típico

Biblioteca

Salão Principal
Vestíbulo

Escadaria para
Foyer os Aposentos
Privativos

Antessala Sala de Jantar Cozinha

alguns dos grandes clubes de nova europa


CLUBES MASCULINOS • Athena (München): Um clube de intelectuais para mulhe-
• Marlborough (Londres): Uma iniciativa do Príncipe de Ga- res inteligentes. Grandes escritoras, artistas e filósofas.
les, este clube é formado por amigos de Bertie ou por mem- CLUBES PROFISSIONAIS & DE EXPLORADORES
bros da mais alta nobreza. Muito elegante e de altíssima • Sociedade Geográfica (Londres): Uma sociedade de via-
classe. Distingue-se pelas cigarreiras de prata que os sócios jantes, exploradores e colonizadores. Definitivamente se-
recebem.  gue os moldes do “fardo do homem branco” e do “grande
• Excentrics (Londres): Um clube para os frequentadores caçador”. 
do teatro que adoram festas, mulheres devassas e jogos de • Clube dos Exploradores (München): Para aqueles que se
azar.  aventuram na África e afins. Este clube se orgulha da ha-
• Jockey (Paris): É o clube para os jovens libertinos da no- bilidade de seus membros de se misturar perfeitamente a
breza. Os sócios se orgulham de suas pegadinhas incômo- outras culturas e observá-las de verdade. Sir Richard Fran-
das e patuscadas aristocráticas.  cis Burton é sócio. 
CLUBES POLÍTICOS • Sociedade dos Engenheiros do Vapor (Londres): Um clu-
• Reform (Londres): Clube liberal, o predileto dos homens be para engenheiros do vapor e outros inventores, funda-
de negócios, banqueiros e editores. O preferido de Phileas do por Isambard Kingdom Brunel. O diferencial do clube é
Fogg.  a equipe de criados autômatos a vapor! 
• Carlton (Londres): Clube conservador que fica na mesma • Société de Calcul (Paris): A sociedade original dos “nerds”
rua do Reform, o predileto dos Lordes do Vapor e dos In- da computação. Fundada para desenvolver a Ciência do
dustriais. Muito formal, maçante e de grande influência Cálculo. Adora palestras teóricas. 
política.  CLUBES LITERÁRIOS & INTELECTUAIS
• La Légion (Paris): O clube favorito dos burgueses, espe- • Whitefriars (Londres): Clube literário para a roda
cialmente aqueles que têm formação militar. Napoleão III londrina. Uma sociedade muito inteligente e espi-
é sócio por aclamação.  rituosa. 
CLUBES FEMININOS • Garrick (Londres): Clube de atores devotado a ativi-
• Salon de Paris (Paris): Fundado pela imperatriz há muitos dades teatrais, peças e óperas. Você precisa ser ator
anos, trata-se de uma sociedade dedicada a promover cír- ou dramaturgo para participar. 
culos artísticos e literários. Fofoqueiro e malicioso.  • Akademie (München): Um ponto de encontro para
• Chatelaine (Londres): Um clube para as esposas da pe- escritores, artistas, filósofos e atores da cidade. Si-
quena nobreza, focado nos eventos da Temporada londri- milar aos Whitefriars, mas a cerveja é melhor. 
na. Mas os principais interesses desse círculo de senhoras  Somente aristocratas  Somente profissionais  Bola preta  Votação
são os investimentos e o poder político.   Sede própria

C O M M E 32 I L F A U T
Horários de Visita
N
a Era Atômica, quando um De- em vez disso, mandam uma carta discreta. Por sua vez, os
tetive ou Investigador de Polícia cavalheiros podem deixar cartões tanto no clube quanto
quer obter informações da Her- na casa de uma dama.
deira recalcitrante ou de um Aristocrata Você aguarda pacientemente. O cartão (tomara) será
recluso, ele faz um estardalhaço na porta lido e atendido. Se a pessoa estiver presente e quiser ver
da frente e entra na marra, correto? Bem, na Era do Vapor, você, alguém vai acompanhar você até um local neutro,
esse tipo de tática provavelmente fará o pajem da casa lhe como a sala de estar (ou, num Clube, à biblioteca). Se es-
dar uma boa surra, e pode ser que você também acabe na tiver em casa e não quiser ver você, a pessoa mandará um
cadeia. Uma representante do Belo Sexo talvez não seja o criado avisar que ela não se encontra – o que deve ser en-
alvo de uma reação tão enérgica, mas ainda seria impru- tendido como “não se encontra socialmente disponível”
dente para ela aparecer de repente à porta da casa e exigir (ao menos para você). Não insista, a menos que queira
que a deixassem entrar. Há um modo apropriado de visitar parar no olho da rua com um pontapé nos fundilhos. Ten-
as pessoas, e é melhor você fazer direito da primeira vez, te novamente no dia seguinte. E no próximo... até ser re-
pois não terá uma segunda chance. cebido. Ninguém pode impedir você de deixar um cartão
por que se faz de visita, apenas de entrar! Considera-se extremamente
rude recusar-se a atender a uma sucessão de cartões e,
As visitas breves são mais do que uma maneira de cedo ou tarde, a pressão social fará você vencer seu alvo
conseguir entrar em algum lugar. É também um dever e pelo cansaço.
uma obrigação, especialmente entre aqueles determina-
dos a ser sempre comme il faut. As damas precisam visi-
códigos dos cartões
tar outras damas para poderem frequentar a Sociedade Em Nova Europa, existem alguns códigos que infor-
apropriada. Os cavalheiros fazem visitas para conhecer mam a quem recebe o cartão qual é o motivo da visita,
pessoas e estabelecer relações de negócios (ou pedir in- mesmo que as partes não se encontrem cara a cara:
formações ou favores). Canto superior direito dobrado: apareci para uma visi-
como se faz tinha; favor responder quando lhe for conveniente.
Canto superior esquerdo dobrado: visita de negócios.
Primeiro, você manda imprimir os cartões de visita. Os Canto inferior direito dobrado: preciso falar com você
cartões das damas são sempre maiores e mais enfeitados–; urgentemente.
os arabescos dourados são o enfeite mais em voga no caso Canto inferior esquerdo dobrado: só queria que soubes-
de artistas e celebridades. Os cartões dos cavalheiros são se que estive aqui; não precisa responder.
menores e mais severos: quanto mais importante você for, Se planeja transitar pela Sociedade civilizada, você pre-
mais circunspecto e formal será o cartão (e mais caro o pa- cisará se tornar um especialista na arte de fazer uma Visita
pel no qual será impresso). Social, não importa quem você seja. É o jeito comme il faut
Fazer uma visita breve com o cartão em mãos é o pró- de encontrar as portas abertas quando tiver de falar com
ximo passo da lista. Os cavalheiros não precisam se ves- alguém no mundo do Castelo Falkenstein.
tir de modo especial e podem chegar ao local pelo meio
de transporte que desejarem. Espera-se que as damas
usem seu melhor vestido vespertino e cheguem de car-
ruagem ou automotriz (mesmo que seja de aluguel).
s E dwar d Olam
Você entrega o cartão ao criado de libré à porta, que o
ão T h o m a
entrega ao mordomo, que, por sua vez, o entrega numa Capit ves da Bav
iera
bandeja à dona ou ao senhor da casa. A dama casada, sardos Le
nto de Hus
numa visita social, deixa um cartão seu e dois do seu ma- 4º Regime
nstrasse,
rido (para o senhor da casa). Ao visitar alguém hospedado aximillia
1231A M iera
na casa de outra pessoa, não se esqueça de deixar cartões hen, Bav
Alt Münc
para o hóspede e para os anfitriões!
Ao visitar um clube, o cartão é entregue ao porteiro,
que o entrega numa bandeja à parte solicitada. As damas
nunca deixam cartões de visita no clube de um cavalheiro:

C O M M E 33 I L F A U T
Instrução
A
Era do Vapor é única porque, pela Desde a aprovação da Lei das Escolas Públicas neste
primeira vez na história da hu- ano (1870), existem escolas públicas de verdade na In-
manidade, a educação universal glaterra, similares às particulares, com a exceção de que
tornou-se uma política pública. Como re- são externatos, e não internatos. Mas, em geral, a vida
sultado, um número surpreendentemente escolar é bastante similar àquela dos que estudam em
grande de pessoas por aqui sabe ler, escrever e fazer “con- instituições particulares.
tas”, embora muito menos gente obtenha algo pare- Via de regra, o ingresso nos internatos britânicos ocor-
cido com uma educação universitária. re por volta dos oito anos, embora isso possa va-
Já que o típico currículo das escolas riar muito dependendo da escola e, em geral, a
confessionais inclui algumas noções graduação acontece lá pelos dezesseis. Nesse
dos “clássicos”, o latim e o grego, momento, a pessoa talvez já seja apren-
muitos neoeuropeus são surpreen- diz de professor, uma posição para a
dentemente instruídos para os qual poderá se qualificar se tiver mais
de treze anos, souber ler e escrever
padrões do século XX: conhecem
fluentemente, conhecer pesos e me-
–Aristóteles, Homero, a Bíblia e
didas e entender aritmética básica.
outros assuntos que nós nem
Essa posição é o primeiro passo
sonharíamos em conhecer aí
para entrar na licenciatura – e na
na nossa época. Além disso,
carreira acadêmica – aos dezes-
há Palestras, Simpósios e seis ou dezessete anos.
Cursos de Verão constantes,
ministrados em toda parte vida escolar
para o “aprimoramento da O dia típico de um aluno
Mente”–, todos eles com um numa dessas escolas “públicas”
público razoável. particulares é mais ou menos o
Não digo que todo mun- seguinte: você acorda na cama
do aqui seja um cientista dura e fria de seu dormitório às
aeroespacial –(ou coisa que sete da manhã (ou às seis a cada
o valha), mas eu realmente me quatro dias), lava-se no banheiro
acostumei com mineradores gelado, veste seu uniforme engo-
de cabelos brancos citando mado (calções presos abaixo dos
Shakespeare em suas conversas joelhos, camisa branca e boné) e cor-
cotidianas. re escada abaixo para comparecer à
missa matutina na grande igreja onde
a velha gravata da todos os eventos importantes da escola
escola acontecem. O sermão, como de praxe, é
longo e repleto de advertências contra tudo
As escolas “públicas” britânicas –ou
que é divertido na vida, mas você não está nem
internatos – provavelmente são o sistema
aí: está é de olho nos garotos mais velhos da série
educacional neoeuropeu mais conhecido pe- (ou ano) acima da sua, que adoram atormentar sem dó
las pessoas do século XX. É claro que as escolas públicas nem piedade os calouros. Depois da missa, você leva seus li-
britânicas de públicas não têm nada: os estudantes (ge- vros (e os do professor) para a sala de aula, que começa às
ralmente da classe alta) pagam para entrar nos quadros nove. Você se instrui em latim, matemática ou caligrafia até
exclusivos de Eton, Winchester, Saint Paul’s, Shrewsbury, a campainha do café da manhã tocar. Não existem notas:
Charterhouse, Harrow e Rugby. Os professores severos e você é Aprovado ou Reprovado.
autoritários, o ensino mediano e as condições miseráveis Você come seu mingau com outros 150 garotos no enor-
dessas escolas (punições físicas, comida ruim, trotes) são me refeitório da escola. Professores austeros passam entre
bem conhecidos. Ainda assim, seus ex-alunos relembram os assentos para garantir o silêncio, prontos para punir os
com carinho os colegas e a “velha gravata da escola” que infratores com a onipresente vara de marmelo. Às dez, você
todos usavam. Vá entender. volta à classe para continuar suas aulas: história, idiomas

C O M M E 34 I L F A U T
e, é claro, mais latim. Ao meio-dia, há um intervalo para por outro lado, o ginásio
a prática de esportes coletivos, como o rúgbi – afinal, as
batalhas do Império foram vencidas nos campos de Eton Que não é necessariamente um espaço amplo no qual se
–, seguido pela principal refeição do dia às quatro e, após joga basquete (embora o que conhecemos como “ginásio de
uma longa palestra do diretor sobre bom comportamento, esportes” tenha de fato origem nesta peculiaridade do sis-
dorme-se às seis. Essa rotina é a mesma todos os dias do ano tema de ensino germânico). Os primórdios da vida escolar
inteiro, exceto por dois feriados de uma semana na Páscoa ocorrem numa escola confessional do bairro ou vilarejo, co-
e no Natal. meçando no kindergarten (que significa jardim da infância) e
Acredite, você não verá a hora de sair daqui e ir para a passando por uma educação geral em leitura, escrita, histó-
faculdade. ria e matemática. Aí os estudantes germânicos passam para
os quatro anos que equivalem ao ensino médio, o ginásio,
enfim, a faculdade! onde recebem aulas avançadas
A vida universitária é bem que os preparam para a univer-
sidade. Prussianos, austríacos,
complacente em comparação
com o internato: missa às oito
escolas, faculdades & escandinavos e bávaros: todos
da manhã, seguida de reuniões universidades famosas em adotam esse sistema.
com os tutores pela manhã e nova europa e além* As universidades germâni-
aulas à tarde. A principal re- cas são menos sociais e mais
escolas Particulares Britânicas estruturadas que na Inglaterra,
feição é às cinco e dorme-se às Eton, Winchester, Westminster, Harrow,
nove (sob o rigoroso contro- havendo aulas formais minis-
Charterhouse, St. Paul’s, Merchant Taylor’s,
le dos bedéis). O esnobismo e tradas por “Herr Professoren”,
Shrewshury, Rugby, Marlborough, Wellington.
a ostentação de classe social que são especialistas em suas
entre os estudantes é terrível. faculdades de oxford, inglaterra áreas. As notas se resumem a
Além disso, usa-se beca e capelo all Souls, Balliol, Christchurch, Jesus, Magdalen, “Aprovado” ou “Reprovado”.
o tempo todo, e não apenas na Merton, Trinity Disciplinas específicas, como
graduação! faculdades de cambridge, matemática e ciências, con-
Os pináculos da educação inglaterra cedem títulos. Exceto pelos
britânica são Oxford e Cam- corpus Christi, Emmanuel, Jesus, King’s, Queen’s, St. estudantes prussianos, com
bridge, duas grandes univer- John’s, Trinity seus clubes de “duelistas e be-
sidades localizadas num raio universidades de berlim, prússia berrões” de inclinação militar,
de 80 quilômetros de Londres. friedrich-Wilhelms Universität, Preussischer Reich a vida social é muito menos
As duas se dividem em facul- Staat Universität agitada que na Grã-Bretanha: o
dades, que são administradas estudo aplicado e a contempla-
universidades de münchen,
por um reitor e compostas por ção são a regra.
baviera
um corpo docente de profes- A propósito, os prussianos
technische Universität in Bayern, Ludwig-
sores-adjuntos, –instrutores são particularmente entusias-
Maximilian Universität, Bayerische Akademie
geralmente recrutados entre tas da educação, possuindo um
os alunos já formados. As fa-
universidades do império dos mais abrangentes sistemas
culdades famosas de Oxford
austríaco de ensino público de Nova Eu-
universität Wien, Technische Universität Wien, ropa: escolas em quase todas as
são a All Souls, a Balliol, a Ch-
Wirtschaftsuniversität Wien, Akademie der vilas e seis universidades!
ristchurch, a Jesus, a Magdalen,
bildenden Künste Wien (escola de arte), Academia Os franceses costumam fi-
a Merton e a Trinity; suas con-
Real de Ciências car com o meio-termo entre as
trapartes em Cambridge são
a Corpus Christi, a Emmanuel, a universidades famosas da escolas particulares da Grã-Bre-
Jesus, a King’s, a Queen’s, a Saint américa tanha e os modelos estrutura-
John’s e a Trinity (mais uma). O harvard, Yale, Cornell, Vassar, Texas Corpus Christi, dos dos estados germânicos: há
currículo é de três anos, du- Universidadeda Califórnia em Berkeley muito menos escolas públicas,
rante os quais você é exortado * Universo falkensteiniano, circa 1870 e mais particulares. Ao contrá-
a estudar coisas que farão de rio das escolas inglesas, as fran-
você um verdadeiro cavalhei- cesas não são reduto dos ricos, e
ro: ciências, matemática, estudos religiosos, política e sim da burguesia, concentrando-se em disciplinas práticas,
oratória. Em geral, as únicas pessoas que conseguem tirar como administração, matemática, história e o uso adequa-
proveito desse currículo um tanto vago são homens jo- do do francês. Via de regra, a França não é renomada por
vens buscando cargos no serviço diplomático e, é claro, suas faculdades. As poucas que existem são, principalmen-
os professores dos internatos britânicos. te, escolas religiosas centradas em Paris e Lyon.

C O M M E 35 I L F A U T
O Jogo & Você
N
o Fim das Contas, o Grande Jogo fados do sótão, onde você guardou os ferrótipos antigos e
começa – e termina – com Você. as roupas antiquadas e engraçadas de seus bisavós. Peneire
É um resumo do que você co- as lembranças e as antiguidades esquecidas: você pode tra-
locou nele através de Diários, Aven- zê-las de volta à vida, utilizando novamente o bro-
turas e da diversão de reunir che que sua tia-avó Cecília usou no casamento
um grupo de vitorianos por afinidade e com dela, ou a cartola que fez seu tio-avô Tomás
inclinações semelhantes para percorrer as se sentir tão galante e orgulhoso. Você
nebulosas ruas ladrilhadas da Imagina- pode incorporar as meadas dos diários
ção, –a melhor e mais grandiosa cidade dessa gente na trama de suas Aventu-
que se pode visitar. ras Recreativas, ou até mesmo deci-
Entretanto, é muito mais que dir reviver essas vidas de maneiras
um Jogo. É uma ferramenta, se diferentes–: o que teria aconteci-
você quiser de fato usá-la. O Jogo do se seu bisavô fosse um hus-
pode descortinar um mundo sardo valoroso ou um magista
inteiro diante de seus olhos se dos Illuminati?
você estiver interessado: –o O Jogo pode ser uma des-
mundo da História, da Filo- culpa para você conversar
sofia, da Arte e da Boa Lite- com seus avós, se ainda es-
ratura. Muitas dessas coisas tiverem vivos, e pedir-lhes
foram esquecidas, mas não que contem como era an-
perdidas, e aguardam para dar de velocípede, como
serem retomadas na livraria foi ouvir a declaração de
ou biblioteca mais próxima. uma Guerra Mundial,
Talvez esta ferramenta leve usar crinolina ou comprar
você a estudar esgrima ou comida de um ambulan-
a recriar os fabulosos vesti- te nas estações de trem.
dos antigos e os fru-frus de Uma coisa são as minhas
uma era perdida. Pode ser anotações, mas essas pes-
que redescubra o prazer de soas vivenciaram algo que
segurar um velho tomo en- minhas palavras nunca
cadernado em couro, como poderão transmitir. Elas
eu reaprendi, deliciando-se podem contar coisas que
com a espessura do pergami- você deveria saber, antes
nho, as guardas que imitam que essas memórias e peda-
o mármore, o ouro em folha ços reais da história se per-
aplicado às lombadas. –Ou a cam para sempre.
sensação arrepiante de levar um Antes de mais nada, des-
sabre de cavalaria antigo e um cubra o que isso tudo signifi-
par de pistolas a tiracolo. ca para você. Use as novidades
Talvez você descubra respostas que descobriu nestas páginas
para sua própria vida no pensamento para se apropriar de um lugar e
espirituoso de um Oscar Wilde, na poe- de uma época que já passaram (por
sia de uma Elizabeth Browning ou no tro- mais que tenham sido distorcidos
vejar atordoante de uma abertura de Wag- por veleidades como o Véu Feérico, os
ner. Vidas foram vividas com toda a urgência dragões e coisas do gênero). Recupere a
e a paixão que você talvez busque em sua própria história perdida, a glória secreta, a paixão
existência: há meios de aprender esses segredos, de que você não tem como obter de um tubo de
aproveitar essa classe e esse ímpeto e torná-los seus. raios catódicos nem de um chip de silício. Apodere-se
Você também pode tornar o jogo parte de sua própria deste mundo.
história, –uma chance de revirar aqueles velhos baús mo- Afinal, o Jogo começa com Você.

C O M M E 36 I L F A U T
Lacaios & Criados
U
ma coisa com a qual demorei e recantos desta vasta construção. Certa noite, levemen-
muito para me acostumar Deste te embriagados, Morrolan e eu tentamos calcular quantas
Lado do Véu foi o Problema dos pessoas normalmente seriam necessárias para manter Fal-
Serviçais. kenstein funcionando se os Pequenos resolvessem abraçar
Deixe-me explicar: na sociedade bas- Karl Marx de uma hora para outra e engatassem uma greve.
tante igualitária do século XX de onde vim, a simples Nós desistimos por volta de seiscentos e vinte.
ideia de ter serviçais seria considerada pouco me- Pois então...
lhor que manter escravos. Trabalhar como aia Se pretende ser verdadeiramente comme
ou mordomo seria considerado um ranço il faut, você terá de superar a mentalida-
arcaico de uma aristocracia corrupta, uma de do século XX e encaixar serviçais
carreira no mínimo degradante. nas suas Aventuras Recreativas. Os
No nosso mundo, você provavel- domésticos são extremamente úteis
mente não tem serviçais, a não ser quando alguém precisa de informa-
que viva em um ambiente muito re- ções sobre o que anda acontecen-
finado. Mesmo assim, você prova- do numa casa, de detalhes sobre
velmente teria apenas uma au pair a vida íntima de uma pessoa, ou
(babá que mora em sua casa) para de um informante no lar de um
cuidar de seus filhos, ou uma dia- desconhecido. Você precisará sa-
rista que aparece uma vez por se- ber quem são todos eles e o que
mana para “dar uma arrumada”. fazem, mesmo que seja– apenas
Mas as chances de você ter cria- para criar o Ambiente apropria-
dos de libré e um mordomo são do para a nata da Sociedade.
quase nulas. Você também precisará de cria-
a solução dos que assumam a função de
espiões, homens de confiança,
Por que estou desperdiçando aliados, ladrões e outros Papéis
seu tempo com isto? Simples: a importantes nos bastidores de
Criadagem é onipresente na vida uma boa Aventura Recreativa.
vaporitana da alta classe. Estão Lembre-se: às vezes o mordo-
em toda parte: fazem sua cama, mo é realmente o culpado. Cabe
carregam suas sacolas, servem sua a você, como bom Anfitrião, saber
comida e cuidam de seus filhos. exatamente o que ele anda apron-
Também dirigem sua automotriz e
tando!
por vezes a consertam. Os serviçais
costumam ser o pilar da economia: – andar de cima, andar de
afinal, estamos falando de até dezesseis baixo: uma hierarquia social
por cento da força de trabalho em lugares
como a Inglaterra, onde os criados dos mais
própria
ricos são tributados, da mesma maneira que a É claro que, com toda essa gente circulan-
propriedade da terra! do pela casa, há, evidentemente, uma cadeia de
Humm... Talvez não esteja tão distante assim da comando. As regras de uma propriedade bem gerida
escravidão. se baseiam numa estrutura social em tudo tão rígida quan-
Uma casa de tamanho razoável pode empregar mais de to os seletíssimos domínios da própria Sociedade. Neste
dez ou vinte serviçais (ou “domésticos”). Falamos do típi- mundo que se divide em Andar de Cima e Andar de Baixo,
co solar abastado. Já um palácio ou schloss pode ter até cem uma mera ajudante de cozinha nem sonharia em respon-
pessoas ocupadas em trabalhar e manter tudo funcionando. der com impertinência ao Mordomo, da mesma maneira
O Castelo Falkenstein, na verdade, é uma exceção bi- que você ou eu jamais seríamos malcriados com a rainha
zarra a essa regra. Boa parte do trabalho doméstico corri- Vitória. Ser comme il faut requer não apenas lidar com a cria-
queiro é realizado por um exército de brownies amigáveis dagem, mas também conhecer a hierarquia, os protocolos
e outras fadas domésticas que habitam os diversos cantos e as posições de cada serviçal.

C O M M E 37 I L F A U T
Serviçais Superiores gante. Por outro lado, é relegada a tratar apenas com os
anjinhos (as pestinhas) dos patrões.
No topo dessa sociedade microcósmica estão os Ser- Camareiro:Cuida do vestuário, das armas e dos perten-
viçais Superiores. São a aristocracia do Andar de Baixo. ces de uso pessoal do patrão e (em propriedades de homens
Eles comandam o espetáculo e asseguram que os criados solteiros) de quaisquer outras necessidades da casa que
inferiores saibam disso. Um mordomo de longa linhagem não caibam a uma Governanta (não é decente um homem
(muitas dessas posições superiores são hereditárias) pode solteiro ter criadas!). Costuma atuar como guarda-costas.
ser tão altivo e arrogante quanto seu empregador nascido Aia:Cuida do guarda-roupa, do penteado, do vestuário
em berço de ouro, –e você logo descobrirá isso se não tiver e da toalete da senhora da casa. Também fica com artigos
Contatos suficientes para poder dispensá-lo singelamente. de segunda mão que a patroa não quer mais. Se quiser se
Mordomo: Este é o homem que controla o acesso aos se- inteirar dos mexericos sobre a senhora da casa, a Aia será
nhores da casa recorrendo a um senso extremamente aguçado sua melhor fonte (e também uma agradável possibilidade
para as distinções sociais e o esnobismo classista. Você preci-
romântica).
sa da colaboração dele só para cruzar a porta da frente. Chefe
dos serviçais da casa, ele despreza as tarefas mais árduas que Serviçais Inferiores
abrir uma garrafa de vinho. Sua função principal é supervisio- São as pessoas que fazem todo o trabalho árduo e braçal
nar o funcionamento da casa e os empregados masculinos a
de cuidar de uma casa. Num mundo sem eletrodomésti-
partir de sua fortaleza: a copa. Ele também cuida da conser-
cos, aspiradores de pó e empilhadeiras, alguém tem que
vação da prataria e de outros bens de valor. O cargo
costurar, passar, esfregar, limpar e carregar as
de mordomo muitas vezes é hereditário: John
caixas maiores para o andar de cima.
pode ter servido seu pai e o pai de seu pai,
Criada:Podem-se encontrar, literal-
e o filho dele servirá o seu – com mão de
mente, dezenas de tipos de criadas
ferro, se necessário. É muito comum
numa propriedade, qualquer que
que os mordomos exerçam mais
seja seu tamanho. Amas-secas,
controle sobre a propriedade do
arrumadeiras, camareiras,
que seus senhores.
faxineiras, aias, copeiras, cria-
Chef: Quase sempre fran-
das para todo serviço... Uma
cês, absurdamente tempera-
quantidade desconcertante
mental e muito bem pago, ele
cuida das refeições, mas não de ocupações se enquadra na
das finanças da cozinha. Ge- categoria básica de “Criada”.
ralmente está bêbado. Ama-seca:Também conhe-
Governanta:Chefe das aju- cida como babá, ela cuida das
dantes de cozinha e das criadas crianças e de seus aposentos.
em geral. Ela compra a comida, Geralmente serve de tapa-bura-
cuida do almoxarifado e da pres- co até as crianças crescerem um
tação contas, tem um pequeno es- pouco, quando então é substituída
critório perto da cozinha e está a par de por uma preceptora.
todas as fofocas da casa. Tem o molho de Arrumadeira:Espanar o pó, polir a
chaves oficial que lhe garante acesso à casa in- prataria, colocar a mesa – essas são as tarefas
teira. Se você precisar entrar em algum lugar ou saber das das arrumadeiras. Em geral, somente as grandes man-
finanças da casa, suborne a governanta. Marianne era o sões têm arrumadeiras.
equivalente à Governanta do Antigo Schloss Falkenstein. Camareira:Tem o mesmo trabalho das arrumadeiras,
mas se especializa em quartos e banheiros.
Criados Pessoais Copeira: Ajuda na cozinha, lava os pratos e panelas e faz
Graças ao fato de que suas posições os colocam em con- os preparativos para o Cozinheiro.
tato íntimo e constante com seus empregadores (é difícil Faxineira: Faz toda a limpeza, costura, arruma as ca-
ignorar a pessoa que veste você todas as manhãs), estes mas e tira o pó. Mal pagas, jovens e muito assediadas, as
criados são um estranho meio-termo entre os Serviçais In- faxineiras são a presa preferida da lascívia dos libertinos
feriores e Superiores. da casa.
Preceptora: Não exatamente uma criada, nem exata- Criada para todo serviço:É uma criada polivalente que
mente um membro da família, a Preceptora tem a incum- reúne numa só pessoa todas as anteriores, geralmente en-
bência de cuidar das crianças, substituindo a ama-seca. É contrada em lares de classe média-baixa que não podem
uma tarefa das mais ingratas, geralmente cumprida por arcar com uma equipe inteira.
uma jovem desesperada e sem expectativas de se casar que Criado de Libré: O pau para toda obra da casa. Carrega a
o resto da criadagem despreza por considerarem-na arro- bagagem, recebe e entrega cartões de visita, serve o chá e as

C O M M E 38 I L F A U T
refeições, entrega os jornais matutinos, carrega os pacotes nhã e vestidos pretos com toucas e aventais brancos de
de sua senhora e faz todo o trabalho pesado. Em algumas rendinha à tarde. As aias geralmente usam vestidos que
ocasiões (especialmente na Prússia), serve como guarda. as patroas não querem mais, enquanto as preceptoras
Normalmente vestem o uniforme da casa (ou libré) e podem vestir qualquer coisa que consigam comprar (des-
costumam ser escolhidos pela estatura, boa aparência e si- de que suficientemente singela e austera). Os criados de
milaridades físicas com outros libré levam a pior: muitos ain-
criados (um símbolo de status da são obrigados a usar unifor-
na Era do Vapor é ter criados com que então queres mes do século XVII (calças até
altos e todos parecidos, feito contratar uma criada? os joelhos, meias, fraque e, às
pares de apoiadores de livros!). vezes, até mesmo uma peruca
Cocheiro/Condutor:Um um Guia para Contratar empoada!).
criado de libré metido a besta e
especializado, pois agora cuida
& Pagar Bons Lacaios regras básicas para
É costume contratarem-se os serviçais atra-
das Automotrizes e outras con- vés de anúncios ou de estabelecimentos reno-
lidar com a criadagem
duções do patrão. Costuma ser mados que oferecem várias opções. Os serviçais Já que quase todas as pes-
um anão, pois eles são bons En- devem providenciar referências verificáveis de soas de algum status na Era do
genheiros do Vapor e gostam da seus últimos três empregos, além de ter um Vapor têm serviçais, você talvez
ideia de alguém pagar por seus histórico de honestidade, lealdade e proativi- se defronte com os criados com
“brinquedos”. dade. Seguem sugestões de salários mensais e uma certa regularidade. Eis al-
Pajem: Uma espécie de gorjetas para um fim de semana ou temporada gumas regras básicas de etique-
aprendiz de criado de libréa de uma semana: ta para tratar com os serviçais
quem geralmente toca engra- que você talvez queira seguir
xar os sapatos, levar o lixo para
Posição Mensal Salário Gorjeta nesses momentos:
fora, varrer a calçada e segurar 1) Os serviçais são sem-
as rédeas dos cavalos. Não cos- pre tratados por seu primeiro
Mordomo/ “Gorjeta, senhor?
tumam ter mais de dez ou doze 4 a 5m nome, com exceção da Gover-
Governanta Absolutamente!”
anos de idade. nanta, –que é sempre tratada
Cozinheiro/
a vida doméstica Chef
3 a 4m 1m por “senhora”, mesmo sendo
solteira–, e do Chef, que pode
Algumas observações sobre Aia 2 a 3m 1 a 2m/semana ser tratado pelo primeiro nome
a dura vida de empregado do- Camareiro 2 a 3m 1 a 2m/semana ou sobrenome.
méstico: 2) A gorjeta não somente é
Onde vivem os Serviçais: Criado de
1 a 2m 15 a 20c/mala permitida, como esperada. A
libré
Geralmente em cômodos aper- regra é dar às faxineiras e aos
tados e desguarnecidos nos an- Condutor 1 a 2m 1 a 2m camareiros gorjetas de 1 a 2m
dares inferiores ou nas águas- Pajem 50c 1c por semana que você passar na
-furtadas da casa. Mordomos, casa. Gorjetas de 15 a 20c por
“Oh, não, senhor,
criados pessoais e Governantas Preceptora 3 a 4m mala carregada são o padrão
imagine!”
têm seus próprios aposentos, para os criados de libré, e 1 a
mas a criadagem é alojada em “Oh, não, senhor,
Ama-seca 1 a 2m 2m já bastam para o condutor
quartos coletivos nas “depen- imagine!”
que apanhar você na estação de
dências dos empregados”. Faxineira 50c a 1m 1 a 2m/semana trem.
Quanto ganham:O servi- Criada para 3) Durante as refeições, ig-
çal médio ganha algo entre 10 1 a 2m 1 a 4m/semana
todo serviço nore completamente os servi-
e 20m por ano; os mordomos e çais, ou então comunique-se
os criados pessoais ganham, tal- com eles apenas através de me-
vez, o dobro disso. Têm férias de neios e sinais de cabeça.
duas semanas por ano, mais um turno livre aos domingos e 4) Considera-se grosseiro tentar seduzir uma criada
um dia de folga por mês. (ou um criado) em público. Contudo, na intimidade, es-
O que os Serviçais vestem:Os Mordomos, Camareiros pecialmente durante visitas às quintas e casas de cam-
e a maioria dos empregados homens vestem camisa bran- po, permitem-se tais coisas desde que sejam tratadas
ca, gravata preta, casaco e colete de listras horizontais. com discrição. Entretanto, lembre-se de que, se você
Os Cocheiros vestem macacões, a não ser quando estão engravidar uma criada, será o responsável por sustentar
conduzindo;aí usam gravata, fraque e colete de listras a moça e sua prole, pois o escândalo certamente coloca-
verticais. As Criadas usam vestidos estampados de ma- rá a jovem no olho da rua!

C O M M E 39 I L F A U T
Moeda
G
raças às dezenas de moedas nacio- atividade bancária
nais (sem contar os inúmeros rei-
A atividade bancária na Era do Vapor não é lá tão dife-
nos da Renânia), tratar de dinheiro
rente do que se vê na Era Atômica, apenas um pouco mais
em Nova Europa é tudo, menos simples (é formal e sem os computadores. Os registros são mantidos
por isso que evitei o assunto em minhas atrás do cubículo do caixa em grandes livros contábeis, e
notas originais, limitando as coisas a 100 centavos [c] per- apenas os maiores bancos possuem Máquinas de Calcular.
fazem uma unidade da moeda corrente[m]). Por sorte, os Abrir uma conta é simples: marque uma reunião ou envie
diversos bancos de Nova Europa, seguindo o Rothschild na um procurador em seu nome, faça um depósito em ouro, di-
Alemanha, determinaram recentemente que, mesmo não nheiro ou Letra de Câmbio e, no dia seguinte, você já poderá
podendo fazer todos os clientes utilizarem a mesma moe- emitir cheques. Nada de cadernetas pessoais: os registros só
da, pelo menos poderiam fazê-los padronizar seu dinheiro saem do escritório do caixa quando o expediente acaba.
pelo sistema decimal. Deu Os bancos são as casas de
algum trabalho, mas, quan- câmbio mais confiáveis, mas,
do todos devem a você o UNIDADES MONETÁRIAS DE NOVA EUROPA com centenas de milhares de
dinheiro de castelos e exér- Moeda 1/4 1/10 1/20 1/100 bancos incapazes de fornecer
citos, essas coisas podem ser garantia alguma em todo o
NORTE-
providenciadas. AMERICANA
Dólar Quarter Dime Níquel Penny Continente, apenas o Ban-
co da Inglaterra, o Banco de
Com a exceção da Ingla- 10
AUSTRÍACA Florim N/D
Kreuzer
N/D Kreuzer Berlim e a Casa Bancária Ro-
terra, melhor dizendo. Ato-
thschild (presente em toda a
lados como estão no lama- BÁVARA Florim Taeler Kronen 20 pfennig Pfennig
Nova Europa) são verdadeira-
çal financeiro dos farthings, BRITÂNICA† Libra
Meia-
Florim Shilling Penny mente confiáveis.
meios pennies etc., são neces- coroa
sários duzentos de seus cen- FRANCESA/ 25 Décimos Cinq cheques & letras de
tavos (ou pennies) para per-
SUÍÇA
Franco
cêntimos (10 cent.) (5 cent.)
Cêntimo câmbio
fazer uma nota de uma libra. PRUSSIANA Marco
25 10
5 pfennig Pfennig
Além de cédulas e moe-
pfennig pfennig das, todas as nações da Era
Todas as moedas correntes
25 10 5 do Vapor também aceitam
do resto do Continentesão RUSSA Rublo
copeques copeques copeques
Copeque
cheques: ordens de paga-
decimais.
mento emitidas por uma
Além de receber nomes TABELA DE CONVERSÃO MONETÁRIA*
pessoa que tem conta num
diferentes de um país para Sua Moeda Dólar Florim Marco Franco Rublo Libra
banco. Não há formulários
outro, o dinheiro também Dólar N/D ÷2 ÷4 ÷5 ÷ 10 x5 de cheque padronizados:
tem uma aparência diferen- Florim x2 N/D x1 x1 ÷5 x 12 qualquer carta formal com
te: as verdinhas norte-a- Marco x4 x1 N/D x1 ÷5 x 20 sua assinatura prometendo
mericanas são sem graça fundos já basta. Contudo, o
Franco x5 x1 x1 N/D ÷5 x 25
se comparadas às grandes cheque só poderá ser sacado
Rublo x 10 x5 x5 x5 N/D x 40
(até o dobro do tamanho de no banco no qual se locali-
Libra ÷5 ÷ 12 ÷ 20 ÷ 25 ÷ 40 N/D zar a respectiva conta.
um dólar!) e multicoloridas
obras de arte que aqui pas- As Letras de Câmbio
Para o universo falkensteiniano, circa 1870, calculado a são documentos de crédito
sam por dinheiro vivo.
partir do Guia Baedeker para a Europa Meridional, 1891. * Pre- usados para garantir o paga-
Uma coisa que toda pare-se para uma taxa de câmbio de 10-20% em todas as
moeda aqui tem em co- mento através de um banco
transações. † Valores mais ou menos aproximados: você sabe
mum é basear-se no pa- ou para abrir uma conta.
como é o sistema monetário inglês!
São emitidos por outros
drão-ouro. De fato, muitas
bancos ou por escritórios
nações (como a Baviera)
contábeis ananos criados com essa função. São a maneira
ainda distribuem moedas de ouro e cédulas.
mais segura de movimentar grandes somas de dinheiro, já
Além das cédulas, moedas e cheques, os neoeuropeus que requerem a assinatura de um banqueiro anão!
ainda aceitam pedras preciosas, ouro e artigos raros como Portanto, lembre-se: da próxima vez que você viajar por
caução. Por isso, a maioria dos bancos hoje tem assesso- Nova Europa, conte com a Nanocard. É o modo mais seguro
res anões para avaliar esses objetos. — e garantido — de proteger seu dinheiro!

C O M M E 40 I L F A U T
Notícias & Mexericos
Excerto de um artigo na revista Godey’s, jan. 1872

G
raças ao norte-americano e viajan- ropa e até mesmo cruzar o Atlante. Será que ela ouviu os
te dimensional da Baviera, hoje rumores sobre a senhorita Lind e está tentando superá-la?
está em voga a Aristocracia e a A senhorita Bernhardt, provavelmente a maior atriz do
Classe Média brincar de interpretar uma a nosso tempo––, tem uma suposta relação com o príncipe
outra...e todo o resto. Essa atividade tem consumido um Eduardo Alberto (nosso querido Bertie), então talvez não
bom tempo de muita gente e produziu algumas novidades seja surpresa alguma que ela resolva começar sua turnê por
sociais interessantes. O “Grande Jogo” do capitão Olam, Londres. Aguardamos todos de fôlego preso sua chegada,
porém, não é a única febre que nos acometeu nos úl- honrados pela preferência.
timos tempos. Na música, ocorreu uma reviravolta interes-
Os prussianos apresentaram recente- sante: dois dos melhores artistas britânicos
mente seu próprio jogo, “Castelos & For- decidiram trabalhar juntos. Geralmente,
talezas Terrestres”, que revela um sen- não seria mais do que uma notícia ro-
so de humor até então insuspeitado. tineira, mas essa dupla consiste em
Semelhante ao xadrez, o jogo en- um de nossos compositores clássi-
volve a movimentação de exérci- cos mais eminentes e um de nos-
tos e a defesa de castelos de uma sos melhores libretistas cômicos!
ponta à outra de um tabuleiro A nova equipe, Gilbert & Sulli-
com um mapa da Europa im- van, promete mudar para sem-
presso nele. Depois da desas- pre a cara das comédias musi-
trosa batalha de Königssieg, cais. Só podemos esperar que
seria de se pensar que a men- suas ambições rendam frutos,
ção de Fortalezas Terrestres pois raras vezes se viu uma du-
fosse um assunto delicado pla tão improvável na história
para os prussianos, mas as pe- da música britânica.
ças de jogo engraçadas que re- Nas Artes, uma nova estre-
presentam as forças militares la em ascensão tem despertado
da Prússia parecem demonstrar o interesse dos salões de Nova
que o Chanceler de Ferro tam- Europa. James Tissot, um pin-
bém tem um lado jocoso. tor não pouco talentoso, tomou
Os franceses, para não ficar para si a tarefa de retratar as cele-
para trás, atualizaram o velho e an- bridades em toda a sua glória. Com
tiquado cavalo de pau com um quê de sua mão hábil e as cores delicadas,
novidade: um motor a vapor. Uma ver- Tissot nos conquistou a todos. Suas re-
são mais leve e compacta da motocicleta presentações em poses realistas e seu pro-
a vapor, a coisa tem um raio de ação muito fundo conhecimento da moda e das pessoas
limitado e precisa que o piloto dê algumas pe- elegantes tornam única sua crônica sobre a nata
daladas para ganhar impulso. Contudo, tornou-se muito da sociedade. Bravo, senhor! Estamos impressionados. A
popular entre estudantes como meio de locomoção entre questão menor de que ele parece obcecado pela bandeira
uma aula e outra. da Prússia é ligeiramente perturbadora, mas a um artista
A popularidade da Ópera é eterna, e o recente triunfo devemos permitircertas excentricidades.
de Jenny Lind no Savoy Theatre de Londres renovou o in-
teresse pelo assunto. Há rumores de que a senhorita Lind
talvez viaje para a América, onde o famoso empresário P. T. notas do tom:
Barnum quer popularizá-la. Desconfiamos que ela se dará
melhor no acolhedor Império da Bandeira do Urso do que O texto acima é um exemplo maravilhoso do tipo
nos tacanhos Estados Unidos. de mexerico que passa por notícia na Sociedade Ci-
E, falando do teatro, parece que a Divina Sara deixará vilizada. Segue minha própria lista de assuntos in-
momentaneamente sua amada Paris. A senhorita Ber- teressantes para puxar conversa nas festas de 1869
nhardt aceitou fazer uma turnê pelas Cortes de Nova Eu- a 1880.

C O M M E 41 I L F A U T
notícias, mexericos & “Go West, Young Man” [Vá para o Oeste,
jovem]. –H. Greeley desencadeia uma
O Mary Celeste desaparece entre Nova Yor-
ke Gênova, sem deixar pistas. Até mesmo
Arte
Le bon bock, de Édouard Manet.
assuntos, 1869-1880 cruzada rumo ao Oeste da América, se-
gundo a doutrina do Destino Manifesto.
Sherlock Holmes é convocado para inves-
tigar o caso.
Too Early [Muito cedo], de James Tissot.
Música & Teatro
Acontecimentos que as pessoas elegan- Funda-se a capital da República do Texas Inauguração da Ponte do Brooklyn, em Ivan, o Terrível (Teatro Mariinski, em São Pe-
tes talvez estejam discutindo em seu em Fort Worth. Nova York. tersburgo), de Nikolai Rimski-Korsakov.
Círculo Social. Rockefeller funda a Standard Oil Company. Começa a Questão Religiosa entre a Igreja Le roi l’a dit (na Opéra Comique, em Paris),
1869 Morte de Solano López e fim da Guerra do Católica e a Maçonaria no Brasil. de Léo Delibes.
Manchetes Paraguai. Incêndio em Boston destrói grande parte Sinfonia no 2 em dó menor (Viena), de Anton
Proclamação do “lunático” Joshua Norton A Itália anexa os Estados Papais; Roma tor- da cidade. Bruckner.
como Norton I, imperador da Califórnia. na-se a capital. Inauguração do Café de la Paix no Bou- Variações sobre um tema de Haydn (Viena), de
Inauguração do Canal de Suez. O veio Comstock produz 36 milhões de dó- levard des Capucines, Paris. Johannes Brahms.
Fund. da Sociedade Norte-Americana para lares em prata. Aprovação da lei anticontracepção de Fosca (no Scala de Milão), de Carlos Gomes.
o Sufrágio Feminino. Ciência Comstock nos Estados Unidos. Canções populares: “A Home on the Range”
Black Friday[Sexta-Feira Negra] em Wall Inventa-se a primeira bicicleta. Morte súbita do presidente mexicano Be- [Um lar na invernada], “Quem sabe”.
Street (set.). Escavação de Troia por Heinrich Schlie-
mann.
nito Juárez.
Lorde Yoshikazu Tomino conquista Tóquio
1874
O vapor Great Eastern instala o Cabo Telegrá- Manchetes
fico Transatlante. Literatura com um autômato gigante a vapor.
Fim da Segunda Guerra Anglo-Ashanti. Bri-
Lançamento do clíperCutty Sark, para o Lothar, de Benjamim Disraeli Trípodes “marcianos” invadem Sussex, na
tânicos invadem Kumasi, Gana.
transporte do chá de Xangai. Vinte milléguas submarinas, de Júlio Verne (um Inglaterra.
Gladstone renunciae Disraeli volta ao
Ferrugem-do-café no Ceilão destrói cafezais relato romanceado do Caso Nautilus). Ciência poder.
em todo o Pacífico, levando ao consumo ge- Morre Charles Dickens. O mistério de Edwin Pasteur publica seu primeiro artigo sobre a Protestos violentos por causa do desempre-
neralizado de chá. Drood(sua últimaobra). fermentação. go em Nova York.
Nemo inicia sua carreira com o lançamento A casa da vida, de Dante Rossetti (poesia). Tradução da tábua do Gilgamesh. Inaugurada a ligação telegráfica Brasil-
do Nautilus. Arte A Máquina Analítica de Babbage (Mark II) -Europa via cabo submarino.
Primeiro Congresso Niilista em Basileia, Jovem senhora em um barco e Coronel Frederico está disponível ao público. Greve de trabalhadores rurais na Grã-Bre-
Suíça. Gustavo Barnaby (retrato), de James Tissot. Literatura tanha.
Comandadas pelo conde d’Eu, as tropas Música & Teatro Middlemarch, de George Eliot. Fund. da WCTU [União Feminina da Tem-
da Tríplice Aliança entram em Asunción, Romeu & Julieta, de Piotr Ilitch Tchaikóvski. Sob a árvore verdejante, de Thomas Hardy. perança Cristã] em Cleveland.
Paraguai. Il Guarany (Scala de Milão), de Carlos Gomes. Erewhon, de Samuel Butler. Pânico financeiro em Viena e Nova York.
O imperador Norton recebe o veio de prata 1871 The Fiend’s Delight[O deleite do diabo], de Stanley desce o rio Congo.
Comstock como presente. Manchetes Ambrose Bierce. Wyatt Earp é delegado da União em
Ciência Robur lança oAlbatroze começa sua carreira Inocência, do Visconde de Taunay. Santa Fé.
Expedição norte-americana para cap- de Gênio do Crime. Arte Ciência
turar o “narval” desgarrado naufraga no Sam Houston é eleito presidente da Repú- Retrato da mãe do artista e Grão-lorde Aube- Bondes elétricos entram em circulação em
Pacífico Sul. blica do Texas pela quartavez. ron das Ilhas, de Whistler. Nova York.
A revista Nature começa a ser publicada em Phileas Fogg inicia sua volta ao mundo. Música & Teatro Invenção da máquina de escrever Remin-
Londres. Kulturkampf (luta pela cultura) contra os Uma discórdia entre irmãos na Casa dos Habsbur- gton.
Descoberto o homem de Cro-Magnon na jesuítas na Prússia. go (Burgtheater de Viena) e A judia de Toledo Literatura
França. Os prussianos adotam o fuzil Mauser. (em Praga), de Franz Grillparzer. Longe deste insensato mundo, de Thomas Hardy.
“O Gigante de Cardiff” é descoberto em O pôquer é apresentado à rainha Vitória. A arlesiana (Théâtre du Vaudeville, Paris), de A mão e a luva, de Machado de Assis.
Nova York e desmascarado como fraude. Lançamento do primeiro navio de cruzeiro Alphonse Daudet. A propósito de minha vida e outras estórias, de
Literatura de luxo, o S.S. Oceanic (White Star Line). Sarah Bernhardt estreia na Comédie Fran- Auberon de Feéria.
A luneta mágica, de Joaquim Manuel de Stanley encontra Livingstone. çaise, em Paris. Arte
Macedo. Ciência Djamileh (na Opéra Comique, em Paris), de Impressionistas rejeitados pelo Salon de
O idiota, de Fiódor Dostoiévski. A origem do homem, de Charles Darwin. Georges Bizet. Paris montam uma mostra independente.
Lorna Doone, de R. D. Blackmore. Esqueleto de pterodáctiloé descoberto nos Missa no 3 em fá menor(em Viena), de Anton Baile a bordo e Still on Top [Ainda no topo], de
Mulherzinhas, de Louisa May Alcott. EUA por O. C. Marsh. O Conselho Dra- Bruckner. James Tissot.
The Ring & the Book [O anel & o livro], de Ro- gontinoexige a devolução do corpo de seu Música incidental para “A arlesiana” (Théâtre O derrubador brasileiro, de Almeida Júnior.
bert Browning. ancestral. du Vaudeville), de Bizet. Música & Teatro
Innocents Abroad [Os inocentes no estrangei- Literatura 1873 Boris Godunov, de M. P. Mussorgski (Teatro
ro], de Mark Twain. Os demônios, de Fiódor Dostoiévski. Manchetes Mariinski, em São Petersburgo).
The Moonstone [A Pedra da Lua], de Wilkie Homenzinhos, de Louisa May Alcott. Pânico na Bolsa de Nova York, com os inves- Réquiem, de Giuseppe Verdi (Igreja de São
Collins. Alice através do espelho, de Lewis Carroll. tidores europeus abandonando Wall Street. Marcos, Milão).
A sujeição das mulheres, de J. S. Mill. Música & Teatro Tratado sobre eletricidade &magnetismo, de Ja- Abertura Patrie (em Paris), de Georges Bizet.
Arte Índigo & os quarenta ladrões (ópera), de mes Clerk Maxwell. Danças húngaras (em Viena), de Johannes
Patinadores, de Pierre-Auguste Renoir. Johann Strauss (Theater an der Wien, em O navio de cruzeiro Atlantean, da White Brahms.
A execução de Maximiliano e A varanda, de Viena). Star, vai a pique perto de Halifax; 502 Die Fledermaus[O morcego] (em Viena), de
Édouard Manet. Aída, de Giuseppe Verdi (Ópera do Cairo). pessoas perdem a vida. Johann Strauss II.
At the Rifle Range [No stand de tiro], de Ja-
mes Tissot.
Téspis, primeira opereta de Gilbert & Sulli- Fund. da Universidade da Califórnia em 1875
van (Gaiety Theatre, em Londres). Berkeley e São Francisco. Manchetes
Música Inauguração do Royal Albert Hall em Lon- Fome em Bengala, Índia. O Príncipe de Gales visita a Índia.
Sinfonia Trágica, de Franz Schubert (no Crys- dres (6.036 lugares). Inauguração do Thea- Criação da Polícia Montada do Canadá. Insurreição dos Bálcãs contra os turcos; Ab-
tal Palace, em Londres). tro D. Pedro II no Rio de Janeiro. Exposição Mundial em Viena. d-ul-Aziz promete reformas.
Sinfonia Antar, de Nikolai Rimski-Korsakov 1872 Adam von Richten lança a expedição para Canal de Suez adquirido (e finalizado) pelos
(em São Petersburgo). Manchetes a Lua. britânicos, com empréstimo dos Rothschild.
Liebeslieder Waltz, de Johannes Brahms Greely (dos republicanos liberais) con- Literatura Cap. Matthew Webb atravessa o Canal da
(no Karlsruhe, em Viena). tra Grant (dos republicanos radicais) na The Gilded Age [A Era Dourada], de Mark Mancha a nado.
Sinfonia no 1, de Piotr Ilitch Tchaikóvski. eleição presidencial dos EUA. Vitória de Twain. Fund. do Club de Corridas Paulistano, em
1870 Grant. The Eustace Diamonds[Os diamantes Eusta- São Paulo.
Manchetes A Kulturkampf expulsa os jesuítas da ce], de Anthony Trollope. Inauguração do Palace Hotel em São Fran-
O Caso Mordaunt envolve o Príncipe de Ga- Prússia. A volta ao mundo em oitentadias, de Júlio Verne. cisco, Califórnia. O maior hotel do mundo
les em um divórcio escandaloso; ele é con- Susan B. Anthony é presa por tentar votar Histórias da meia-noite (contos), de Machado logo se torna a Residência Oficial de Norton
vocado apenas como testemunha. em Nova York. de Assis. I do Império da Bandeira do Urso.

C O M M E 42 I L F A U T
Inauguração do primeiro rinque de patina- Arte O Tratado de Santo Estêvão encerra a Lâmpadas a arco voltaico são instaladas em
ção sobre rodas em Londres. O baile no Moulin de la Galette, de Pierre Au- Guerra Russo-Turca, mas desagrada qua- Cleveland e São Francisco.
Ciência guste Renoir. se toda a Europa. Os ganhos da Rússia Literatura
A origem das fadas, de Charles Darwin. Breezing Up [Vento favorável], de Winslow serão anulados mais tarde, no Congresso Daisy Miller, de Henry James
Edison inventa a copiadora de estêncil & o Homer. de Berlim, deixando russos, austríacos e Creole Days[Tempos créoles] (romance an-
mimeógrafo. A aula de dança, de Edgar Degas. eslavos ressentidos. tiescravista), de George Washington Cable.
Exploradores no Yucatán encontram a es- Quarreling [Briga], de James Tissot. Desordem civil na Rússia; a polícia exila O nheengatu dos encantados, de Couto de
tátua reclinada do Grande Chac-Mool em Música & Teatro na Sibéria mais de cem revolucionários Magalhães.
Chichén Itzá e são atacados por um deus Peer Gynt (no Christiania Theater, em Oslo), absolvidos.
maia recém-conjurado. Começa uma onda de terrorismo em toda
Arte
de Henrik Ibsen.
São João Batista pregando (escultura), de Au-
Literatura La Gioconda (no Scala de Milão), de Amilcare a Rússia.
Epidemia de febre amarela assola Nova Or- guste Rodin.
Transatlantean Sketches [Notas transatlantes] Ponchielli.
, de Henry James. Tcherevitchki(no Mariinski, em São Peters- leans. Mais de 9,5 mil mortos. Xícara de chá, de Mary Cassatt.
O doutor Benignus, de Augusto Emilio Zaluar. burgo), de Piotr Ilitch Tchaikóvski. Fund. das Testemunhas de Jeová em Pitts- Dragão caminhando em St. Reims, de Édouard
Arte Sinfonia no 1 em dó menor (no Karlsruhe, em burgh. Manet.
Regata em Argenteuil, de Claude Monet. Viena), de Johannes Brahms. Inauguração do novo Casino de Monte- Música & Teatro
Música & Teatro Canções populares: “I’ll take you home -Carlo. Uma casa de bonecas (no Teatro Real de Cope-
Carmen (na Opéra Comique, em Paris), de Kathleen” [Te levo para casa, Kathleen] e Bat Masterson é eleito xerife de Dodge City. nhague), de Henrik Ibsen.
Georges Bizet. “Grandfather’s clock” [Relógio do Vovô], A pior fome da história mata 10 a 20 mi- Os piratas de Penzance (em Londres), de Gil-
Caso no júri (Royalty Theatre, em Londres), “As baianas”. lhões de chineses. Grande Seca no Nordeste bert & Sullivan.
de Gilbert & Sullivan. 1877 do Brasil mata 400 a 500 mil pessoas. Danças eslavas (Praga), de Antonín Dvořák.
Construção da nova Ópera de Viena Manchetes Escândalo da aborteira de Comstock: um Variações sobre um tema rococó (em Wiesba-
Construção daÓpera de Paris, o maior palco A rainha Vitória é proclamada imperatriz fanático denuncia uma mulher que vendia den) e Suíte no 1 em ré maior (São Petersbur-
do mundo. da Índia. contraceptivos e ela se mata. go), de Piotr Ilitch Tchaikóvski.
Sinfonia no 3 em ré maior (Moscou) e Concer- Rússia e Sérvia declaram guerra à Turquia e Exposição Mundial em Paris. Mulligan Guard’s Ball (no Theatre Comique,
to para piano e orquestra no 1 (Boston Music a invadem. Ciência Nova York), de Harrigan & Hart.
Hall), de Piotr Ilitch Tchaikóvski. Rebelião Satsuma no Japão: samurais con- Edison desenvolve um método barato de Canções populares: “In the Moonlight”
1876 tra o imperador Meiji. produção e transmissão de energia elétrica. [Ao luar], “Alouette”, “Oh Dem Golden
Manchetes A Confederação das Vinte Nações abre suas As ações das companhias de gás despencam Slippers” [Ah, estas sapatilhas de ouro],
O sultão otomano Abd-ul-Aziz é deposto, e fronteiras à colonização branca, com res- em Wall Street. “Quis debalde varrer-te da memória”.
seu sobrinho insano Murad reina por três trições; os brancos precisam pleitear uma Literatura 1880
meses até Abd-ul-Hamid II tomar o poder. “identidade tribal”. A volta do nativo, de Thomas Hardy.
A Sérvia declara guerra à Turquia e é der- Morre o último Imperador Dragão e começa Os europeus, de Henry James. Manchetes
o longo declínio da Dinastia Draco-Manchu. Os conservadores britânicos perdem a
rotada. Arte
Insurreição da Bulgária contra os turcos; Os Molly Maguires (terroristas das minas Madame Georges Charpentier & suas filhas, de eleição. Gladstone retorna.
milhares são massacrados. Gladstone dis- da Pensilvânia) são desbaratados pelos de- Auguste Renoir. Garfield derrota Grant nas eleições dos EUA.
cursa contra os turcos. tetives da Pinkerton. Bôeres da África do Sul revoltam-se con-
Ensaio de balé no palco, de Edgar Degas.
José do Patrocínio assume a coluna “Sema- tra os britânicos.
O vizir Midhat Paxá, da Turquia, estabelece
na Parlamentar” da Gazeta de Notícias. Música & Teatro
um regime democrático. As colunas da sociedade (no Møllergaten Afegãos derrotam os britânicos em Mai-
Exposição do Centenário da Independência Primeiros telefones instalados no palácio wand.
de São Cristóvão, Rio de Janeiro. Primeira Theater, em Oslo), de Henrik Ibsen.
dos EUAna Filadélfia. H.M.S. Pinafore (na Opéra Comique, em Lon- Primeira lista telefônica de Londres (255
Completada a ponte Imperador Norton, central telefônica instalada em Boston. registros).
Primeiro Torneio de Tênis de Wimbledon. dres), de Gilbert & Sullivan.
ligando Oakland a São Francisco. Ellen Terry entra para a trupe de Henry Ir- Ned Kelly, notório fora-da-lei australia-
Thomas Olam vai à América para assinar a Ciência no, é enforcado.
Edison inventa o fonógrafo. ving, no Lyceum Theatre (Londres).
aliança com as Vinte Nações. Inauguração do Theatro da Paz em Belém Catedral de Colônia é finalizada após
Norton I casa-se com a senhorita Minnie Lorde Markus Scott-James de Edimburgo
descobre os princípios da Magia Mecânica do Pará. 634 anos.
Wakeman de Oakland, Califórnia, e a decla- Canções populares: “Carry Me Back to Old Exposição Mundial em Melbourne, Austrália.
ra imperatriz May I. de maneira independente.
Sam Houston é eleito para o quinto manda- Literatura Virginny” [Leve-me de volta à velha Virgí- Ciência
Anna Karenina, de Léon Tolstói. nia], “O gondoleiro do amor”. Edison patenteia a lâmpada incandescente.
to como presidente da República do Texas.
Os carros-dormitórios ferroviários chegam Beleza Negra, de Anna Sewell. 1879 Bell realiza a primeira transmissão telefôni-
à Europa. Os americanos, de Henry James. Manchetes ca sem fio.
Acidente de trem no inverno mata 83 pes- Arte Guerra entre Chile e Bolívia. Os chilenos ig- A Kodak inventa a chapa fotográfica seca.
soas devido ao desmoronamento de uma Nana, de Édouard Manet. noram a mediação dos EUA e vencem. As ruas de Nova York são iluminadas por
ponte em Ohio. A Idade do Bronze (escultura), de Auguste Batalha de Rorke’s Drift: 140 soldados re- eletricidade.
O Grande Assalto em Northfield, Minneso- Rodin. chaçaram 4 mil zulus. Forças zulus derrota- Literatura
ta (Frank & Jesse James). Galeria do H.M.S. ‘Calcutta’(Portsmouth),outu- das pelos britânicos. 800 mortos. A Tramp Abroad [Um vagabundo no estran-
Assassinato de Wild Bill Hickok. bro, Lady Feérica (retrato), de James Tissot. Luís, príncipe imperial da França, é morto geiro], de Mark Twain.
Fome no norte da China mata 9,6 milhões Música & Teatro pelos zulus. Naná, de Émile Zola.
de pessoas. O lago dos cisnes (no Bolshoi, em Moscou), Levante afegão; retomada de Cabul pelos Os irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski.
Ciência de Piotr Ilitch Tchaikóvski. britânicos. Ben Hur, de Lew Wallace.
Bell inventa o telefone. Primeira demons- O feiticeiro (na Opéra Comique, em Lon- Assinatura da Aliança Austro-Germânica. Memórias póstumas de Brás Cubas (em folhe-
tração pública na Exposição da Filadélfia. dres), de Gilbert & Sullivan. Le Train Bleu (o Expresso do Oriente) passa
tim), de Machado de Assis.
Dom Pedro II, imperador do Brasil, chama Canção popular: “In the Gloaming” [Ao a oferecer viagens três vezes por semana en-
A verdadeira história de Norton I, imperador da
atenção para o invento. crepúsculo]. tre Calais e Roma.
Califórnia, de Robert Louis Stevenson.
Schliemann escava o Palácio de Micenas. 1878 A ponte sobre o Tay (Escócia) desaba sob o
Arte
Literatura Manchetes peso do trem.
O pensador, de Auguste Rodin.
O Cabeleira, de Franklin Távora. Morre o Pai da Pátria dos italianos, Vítor Inauguração da Catedral de São Patrício em
Nova York. A praça Clichy, de Auguste Renoir.
As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain. Emanuel II.
John Muir escreve o primeiro ensaio sobre Tentativa de assassinato de Guilherme I da Pior colheita do século na Grã-Bretanha. Château de Médan, de Paul Cézanne.
ecologia: “Como devemos preservar nossas Prússia. Ciência Paris à luz enfeitiçada, de Berthe Morisot.
florestas?”. Os otomanos rendem-se aos russos na Pas- Edison inventa a primeira lâmpada incan- Música & Teatro
O selvagem, de Couto de Magalhães, so- sagem de Shipka. descente comercializável. Abertura trágica (em Viena), de Johannes
bre a cultura e a língua dos indígenas do Os britânicos chegam a Constantinopla. O Pavlov publica seus estudos sobre compor- Brahms.
Brasil. jingoísmo chega ao auge. tamento animal.

C O M M E 43 I L F A U T
Oficiais & Cavalheiros
R
omances à parte, ler Kipling para ter nos quais os historiadores querem nos fazer acreditar. A
uma ideia de como é a vida na caser- Baviera, a Prússia e a Inglaterra são as únicas que de fato
na é quase igual a assistir M*A*S*H investem um bocado de tempo treinando e ensinando aos
para compreender a vida no Exército dos praças não apenas como marchar, mas também como pla-
Estados Unidos. Sim, você pegará o jeito, nejar o combate e tomar a iniciativa.
mas provavelmente deixará de entender como as coisas fun-
cionam de fato.
a maneira da marinha
Portanto, como funcionam as coisas nos Exércitos e As armadas de Nova Europa são um tanto diferentes
Armadas da Era do Vapor? Para começar, na In- dos exércitos. Mesmo na Real Marinha Britânica,
glaterra, França e na maioria dos exércitos tra- você não precisa comprar uma patente: na pré-
dicionais do Continente, costuma-se exigir -adolescência, você se candidata a uma vaga
que os oficiais comprem suas patentes: de aspirante num navio, faz as provas para
quanto mais você pagar, maior será seu se tornar guarda-marinha e, mais adian-
posto. O cargo de tenente de infantaria te, tenente. Depois disso, seu desempe-
pode custar até 500m; um posto na nho – e a lista de espera – determinará
cavalaria sai duas ou três vezes mais quanto tempo você levará para chegar
caro. Por essa razão óbvia, a maioria a Capitão e ter seu próprio navio.
dos oficiais vem das classes altas e Nos velhos tempos de Hornblower,
ricas e apresenta a tendência irri- os Capitães podiam esperar anos
tante de agir como almofadinhas “na praia” até obter um comando.
desmiolados com um treinamento Atualmente, o tempo de espera na
sofrível. maioria das armadas é de poucos
Nos exércitos mais modernos meses.
da Baviera, Prússia e Rússia, as pa- A Marinha aceita o alistamento
tentes não estão à venda. Mesmo ou, em alguns países (como a In-
assim, via de regra, os oficiais vêm glaterra), utiliza os recrutadores da
de famílias de classe média alta, no- presiganga (um bando de marujos
bres ou militares; frequentam escolas armados e mal-encarados) para cap-
de cadetes quando jovens, depois vão turar marinheiros mercantes e arras-
para Escolas Militares formais (simi- tá-los para seu navio. Em geral, os ma-
lares ao Ginásio), específicas para os rinheiros são ainda mais infelizes e mal
ofícios nos quais os cadetes vão se espe- treinados que seus colegas do Exército.
cializar mais tarde (sapadores, hussardos A maior parte dessa estrutura vem dos
etc.). Os cadetes formam-se como Aspirantes velhos tempos dos vasos de guerra a vela, que
a Oficiais, que, como os Guarda-Marinhas, ain- eram pouco diferentes das embarcações comer-
da não são oficiais de verdade (os soldados russos ciais. Contudo, esta nova era de Vapor e Aço exige
veteranos têm um ditado: “galinha não voa e praporschik homens e oficiais muito mais treinados. Como resultado,
[aspirante] não é oficial”). Aí os Aspirantes entram para um a Baviera dispõe (graças a certo lobby de minha parte) de
Regimento como Tenentes, onde mais tarde (passados três uma Academia Naval de verdade, na costa de Frankfurt am
anos) podem pleitear uma vaga nas Escolas de Oficiais que Inneres Meer [Frankfurt do Mar Interior], onde os aspiran-
dão acesso aos postos de Comando. Em geral, esse procedi- tes são treinados para lidar com motores a vapor, canhões
mento gera oficiais bem treinados, mas a vida não é fácil. raiados e todos os outros dispositivos de alta tecnologia da
Nova Armada. O sucesso foi tão espantoso (especialmen-
alistamento & recrutamento te na Armada Celeste), que os prussianos e os franceses já
Na maioria dos exércitos do Continente, os soldados inauguraram suas próprias Academias.
regulares são recrutados, geralmente aos 21 anos, e servem
por até quatro anos (até recentemente, no Exército Britâ-
na caserna
nico, o alistamento voluntário era para a vida toda!). Essa Mas como é a vida nas forças armadas? No Exército,
“escória da terra” (nas palavras de Wellington), mal treina- você passa boa parte do tempo na Caserna, uma enorme
da e equipada, é a espinha dorsal da maioria dos exércitos construção de alvenaria onde você tem um leito, unifor-
da Era do Vapor– e dificilmente os soldados profissionais mes e uma prateleira para seus pertences. Você passa seus

C O M M E 44 I L F A U T
dias praticando a marcha, o tiro com fuzil e a equitação Você também preenche um bocado de papelada e relatórios,
(se for da cavalaria). Por tudo isso, você recebe dois shillings além de disciplinar os homens sob seu comando. Uma vez
por mês (2-4c) e o grude que eles fazem passar por comida por ano, você executa manobras militares ao ar livre, travan-
no refeitório. As licenças são raras e duram só alguns dias. do combates simulados com outros regimentos. Quando em
Na Marinha, suas opções são ainda mais limitadas. Você manobras, os Hussardos fazem reconhecimento, atacam,
passa dias a fio no mar, esfregando conveses, polindo as entregam mensagens etc. Os oficiais também são responsá-
peças de latão e praticando a artilharia. Ocasionalmente, o veis por aquartelar seus homens com os populares.
navio aporta, e você recebe À noite, já de folga, você
uma licença de um dia para frequenta os clubes apro-
torrar com orgias ébrias e postos militares & equivalentes (gerais) vados pelo Comando, dei-
compensar os próximos exército (E) Marinha (M) xando um homem na Ca-
meses no mar. General Comodoro serna como Oficial de Dia.
Nos Regimentos do Exér- Coronel Capitão Você sai de uniforme, tira a
cito, os Oficiais se dão um Major Comandante maior onda e nunca decep-
pouco melhor: têm à sua dis- Capitão Tenente-comandante ciona os colegas (nem –as
posição um Ordenança – um Tenente Tenente damas).
soldado raso –para cuidar Aspirante a Oficial Guarda-marinha
dos cavalos – e um bagageiro Cadete Aspirante disciplina
Sargento Suboficial-chefe
(para prestar serviços pes- Via de regra, a primeira
Cabo Suboficial
soais). O oficial paga a am- norma de conduta militar
Soldado Marinheiro
bos uma bonificação salarial é: faça tudo que seu oficial
do próprio bolso. Na condi- uma cadeia de comando bem genérica superior ordenar, ou sofra
ção de oficial, você vive num as consequências. Deixar
Comandante do Regimento [E]/Capitão [M]: o chefe.
apartamento funcional per- de cumprir ordens é motim
Coronel Tirocinado [E]/Imediato [M]: o cara que coorde-
to da Caserna (ou aluga um ou insubordinação, e am-
na as tarefas cotidianas para o Comandante ou Capitão.
apartamento ou quarto de bos (além de assassinato
Comandante de Companhia [E]/Chefe de Departamen-
hotel por perto) e trabalha e estupro) vão levar você à
to [M]: o cara que você vê com mais frequência; seu che-
das sete da manhã às seis forca (ou ao paredão, em
fe imediato.
da tarde. Faz as refeições no tempo de guerra). Em as-
Tenente [ambos]: o oficial mais subalterno; o moleque
Clube dos Oficiais, que é um suntos civis, os infratores
que ninguém leva a sério.
clube privado do seu regi- só podem ser presos pela
Sargento [E]/Suboficial-Chefe [M]: o cara que comanda
mento (na maioria dos exér- polícia do exército ou da
diretamente os peões.
citos do Continente, alguém marinha e julgados pela
Ajudante [E]/Escrevente [M]: o cara que cuida da pape-
é eleito pelo grupo para ser justiça militar.
lada e passa as ordens adiante.
o “Anfitrião” e cuida dos co- Entre os delitos meno-
Intendente [ambos]: o cara que consegue o que você
mes e bebes utilizando um res, temos furto, dano à
precisa, em termos de suprimentos.
fundo bancado por todos). propriedade alheia ou ape-
Você também tem trinta nas mau comportamento.
dias de férias uma vez por ano. Com o salário de 200m por Neste caso, os oficiais têm mais liberdade de ação: o castigo
ano, é possível viver bem, mas, como alojamento, ordenan- direto para crimes menores cometidos a bordo ou em terra
ças, uniformes e o estilo de vida extravagante são dispendio- geralmente é uma surra ministrada por um superior. Você
sos, você também vai precisar de uma fonte de renda pessoal também pode ser “detido” e colocado para quebrar pedras
(outra razão para a maioria dos oficiais ser da nobreza). ou descascar batatas na cadeia por uns tempos. Os crimes
O Clube dos Oficiais costuma ter um museu do Regi- graves levam você à corte marcial, um julgamento formal
mento, um salão, uma sala de estar ou bar e uma sala de perante seus superiores que pode resultar na sua expulsão,
jantar. As esposas dos oficiais não podem frequentar o clu- no seu açoitamento ou enforcamento (embora, ocasional-
be, e apenas mulheres “questionáveis” entram às escondi- mente, alguns oficiais escolham punições mais criativas e
das ali para manter affaires. Você pode se divertir com elas, adequadas ao crime). Via de regra, os russos têm um esti-
mas, mesmo assim, seus colegas vão desaconselhar cer- lo de comando mais permissivo e paternal. Os prussianos
tas aventuras amorosas. Para piorar, os oficiais precisam são severos e vingativos. Os bávaros e franceses combinam
ter a permissão de seus superiores para se casarem–... e a as duas atitudes, a depender das circunstâncias. Os britâ-
anuência de seus colegas oficiais! nicos são os mais formais, com regras rigorosíssimas que
Marchas. Manobras. Adestramento (equitação). Exercí- especificam tantas chibatadas para tais e tais delitos: –em
cios de formação tática, baioneta, lança e sabre, prática com geral, qualquer crime que não mereça ser punido com en-
o fuzil e a pistola, e assim por diante. Esses são os deveres forcamento é apenado com pelo menos cem chibatadas.
cotidianos de um oficial, especialmente os de um hussardo. Jesus! Para minha sorte, eu estou no Serviço Secreto.

C O M M E 45 I L F A U T
Princípios Vitorianos: os Valores

U
ma das coisas que eu tive de Alguma Coisa por aqui: praticar o bem faz as pessoas se
aprender desde minha vinda para sentirem bem.
cá foi uma estrutura de valores Você É o Guardador do Seu Irmão. Ou, em outras pa-
toda nova – uma estrutura quase alieníge- lavras, você tem uma responsabilidade para com a Socieda-
na em comparação com aquela à qual eu de (e com a Humanidade) e consigo mesmo. Já vi este prin-
estava acostumado (embora não tão diferente dos va- cípio descrito como espírito de comunidade: a obrigação
lores com que fui criado). de corrigir (ou evitar) algo errado que você tenha
Os Valores Vitorianos parecem um tanto visto. Afinal, se você não o fizer, quem o fará?
indigestos e antiquados quando com- sempre proteja os mais fracos. E
parados à maneira leviana e despreo- isso não se limita a mulheres e crian-
cupada como fazemos as coisas no ças (se bem que deixar de proteger
século XX. Eu aprendi duas coisas sua Posteridade não é lá muito
ao observá-los: a primeira é que, esperto, do ponto de vista da
no fundo, são ótimos princípios Evolução). Você também deve
para pautar a vida; a segunda é estender essa cortesia aos ido-
que, se segui-los, você conse- sos, aos enfermos e aos inca-
guirá superar qualquer coisa pazes. Não só contra rufiões
que a Era do Vapor atirar na e trombadinhas que tenham
sua direção. assaltado alguém no metrô
sua palavra é sua ga- de Londres. Pode significar,
rantia.Descobri que este também, defender um vila-
valor é uma divisa. Por rejo contra um exército, um
aqui, quem tem a reputa- povo contra a opressão ou
ção de quebrar promessas um mundo contra um Mal
a leva estampada na testa. Irrefreável.
Num mundo com poucos o conhecimento por
advogados e ainda menos si só É Valioso. Esqueça
contratos, só se aceita quem essa coisa de que É Preciso
é confiável. Portanto, se fizer uma Boa Educação para Con-
uma promessa, cumpra-a, seguir um Bom Emprego. Um
mesmo que para isso tenha de ser humano completo deve es-
rastejar de joelhos sobre cacos tar apto a funcionar em todas
de vidro. as esferas da atividade humana,
a honestidade é a melhor sejam físicas, culturais ou inte-
política: a verdade virá à lectuais. Para saber como o mundo
tona. E virá mesmo, não tenha funciona, o que outras pessoas pen-
dúvida! As pessoas esperam que saram e realizaram, e para conseguir
você diga a verdade, porque violar este expressar suas próprias ideias de forma
princípio significaria depreciar sua hon- clara e convincente, é preciso buscar o sa-
ra e, portanto, a si mesmo. Não é que todo ber pelo simples prazer do conhecimento.
mundo aqui diga a verdade o tempo todo, mas acredite num bem maior. O último e mais
as pessoas respeitadas são aquelas que mantêm uma re- importante dos valores. Não se refere a crer num Deus es-
putação de honestidade ilibada. pecífico, nem em determinada religião ou –fé: encontrei as
as boas ações já são recompensa suficiente. mesmas crenças fundamentais entre párocos, xamãs india-
Ou, como diz a frase de para-choque do século XX: Genti- nos e mestres taoístas. Quer dizer que é preciso acreditar num
leza Gera Gentileza. Se todo mundo separar um tempinho princípio maior que a mera conveniência; que há uma Defi-
para auxiliar alguém em apuros, o bom carma retornará nição Maior de Certo e Errado que não se pode transigir nem
para você quando precisar de ajuda. Esta é a razão pela hesitar em abraçar, e, de certo modo, que é preciso trataras
qual existem tantas Sociedades para o Aprimoramento de pessoas como gostaríamos de ser tratados.

C O M M E 46 I L F A U T
Princípios Vitorianos: as Boas Ações

P
raticar Boas Ações é um dos pila- agências governamentais para cuidar dos pobres, ido-
res da sociedade vaporitana. As- sos, enfermos ou muito jovens.
sim como a Honra, a Coragem, a De fato, já que a resposta costumeira dos políti-
Castidade e a Honestidade, a Caridade cos (especialmente na Grã-Bretanha, dominada pe-
é uma estrela reluzente na constelação los Lordes do Vapor) –é criar asilos onde os pobres
de virtudes que meus vizinhos vitorianos tanto apre- sobrevivem realizando tarefas árduas e indignas, ou
ciam. E não só porque isso faz com que se sintam bem. dar à polícia ordens para “escorraçar os delinquentes
É porque, para os padrões desta época, a Ca- de seus covis” – pontos de vista nada esclare-
ridade é um Dever (e, para citar Gilbert & cidos numa época em que muita gente
Sullivan fora de contexto, “eles são os sofre de verdade –, todas essas Socie-
Escravos do Dever”). dades e Cruzadas costumam servir
O resultado é que, na Era do para proteger os fracos e oprimi-
Vapor, há uma profusão sem dos quando ninguém mais se
fim de Sociedades para o Apri- dispõe a fazê-lo.
moramento de Algo que Vai Apesar dos nomes bobos
Mal. Existem as Socieda- e das causas igualmente
des de Assistência à Mãe tolas, essas Sociedades e
e ao Bebê, para promover Cruzadas fazem realmen-
os cuidados apropriados te alguma coisa. Distri-
à criança. Existem as buem sopa aos pobres e
Sociedades Femininas financiam hospitais. Fa-
da Temperança Cris- zem um incansável lobby
tã, que tentam acabar junto ao Parlamento, ao
com os males do De- Congresso e às câmaras
mônio do Rum (eu po- de vereadores, para me-
deria contar para elas lhorar as condições de
que isso não vai acabar trabalho, as leis sobre o
bem, mas fiz um pacto trabalho infantil, a mo-
comigo mesmo, tempos radia e a remuneração.
atrás, para não me meter São elas que financiam
muito na história local; os Estudos e compõem as
–senão todos tentariam Comissões Reais que in-
me obrigar a bancar a Cas- vestigam um mal específico
sandra!). Existem as Cru- da sociedade. E elas não de-
zadas dos Pobres, fundadas sistirão enquanto não vence-
para ajudar os depauperados a rem a Causa.
aprender novas habilidades e a Nota-se o lado perverso de todo
trabalhar para pagar suas dívidas. esse zelo quando, evidentemente,
Existem Sociedades para implantar a Cruzada perde o rumo ou é injusta.
Vilas-Modelo para os Trabalhadores da Também vi exemplos assim: cruzadas con-
Indústria (uma boa ideia). Existem Sociedades tra imigrantes, tentativas de “civilizar” outras
para Promover a Educação Cristã dos Peles-Vermelhas culturas, e até mesmo uma caça às bruxas dirigida ao
Pagãos (péssima ideia). Anarquismo, tão bárbara quanto os piores tempos do
Em suma, há uma Sociedade ou Cruzada para qua- macartismo nos Estados Unidos. Felizmente, são as
se todas as boas causas que a mente vitoriana é capaz exceções, e não a regra.
de conceber, o que é um reflexo da ideia geral da So- Mas uma sociedade que toma para si a responsa-
ciedade vaporitana de que somos de fato o Guardador bilidade de cuidar dos menos afortunados tem algo
de Nosso Irmão, e de que o caminho para o Paraíso a nos ensinar. Talvez muitas coisas no nosso mundo
depende de Boas Ações, e não só de intenções. É um melhorassem se nos déssemos ao trabalho de fazer
sentimento louvável numaépoca em que não existem o mesmo.

C O M M E 47 I L F A U T
Quintas & Fins de Semana
Excerto do Livro de etiqueta e assuntos feéricos, de lady Agatha:

S
er convidado para passar o fim de dam a composição da lista de convidados: os Cientis-
semana na quinta ou casa de cam- tas costumam ser vistos como gente enfadonha e sem
po de um nobre é uma honra e tan- graça, mas seriam essenciais para qualquer Palestra ou
to. É ser acolhido na intimidade do lar do aristocrata. Exibição. A Ordem ou Sociedade à qual você pertence
A quinta é o centro da vida de um nobre, suas terras e poderia muito bem (infelizmente) incluir Médicos ou
sua fortuna. É um momento para relaxar e se divertir, Advogados. Nesses casos, é importante suportar a pro-
mas também exige a melhor das condutas e uma cons- vação e aplacar a irritação de alguns convidados mais
tituição forte. Espera-se que o hóspede participe com eriçados.
entusiasmo das atividades planejadas pelos anfitriões, a As regras de Etiqueta para visitar a casa de alguém
despeito de suas inclinações pessoais. Mostrar desinte- são rigorosíssimas e remontam a tempos mais aguer-
resse é uma ofensa terrível, por mais tediosas que algu- ridos. Existem famílias que até hoje não se falam por
mas atividades possam lhe parecer. conta de uma violação das regras de hospitalidade co-
Os serviçais levam os convites do anfitrião à casa metida há um século. Existem clãs na Escócia que ain-
dos convidados. Estes, por sua vez, pedem ao serviçal da se matam por causa desse tipo de deslize. Hoje uma
para esperar enquanto escrevem ou ditam uma respos- gafe não leva mais à morte em terras civilizadas, mas
ta para o anfitrião. Se tiver de recusá-lo, é melhor ter pode haver repercussões graves.
uma boa desculpa, como já ter aceitado um outro con- O bom convidado deve ser animado e divertido, não
vite para o fim de semana. Os convites geralmente são reclamar de nada e tecer elogios aos anfitriões. O hóspe-
de papel cartão na cor creme e de bordas douradas,com
de de boa índole que se mostra espirituoso mesmo diante
caligrafia floreada e vocabulário formal, mas o RSVP
de desastres domésticos é o que os anfitriões mais pro-
não precisa ser tão elaborado.
curam. Muitas Casas de Campo são escombros arcaicos,
Existem regras sociais rigorosas que definem quem
tortuosos––, inconvenientes, desconfortáveis e tomados
pode ser convidado, e quando. Só para ilustrar, os Pro-
por correntes de ar. A banheira pode não ser mais do que
fissionais Liberais, como Médicos e Advogados, podem
uma grande bacia de latão que as criadas enchem com a
ser convidados para o almoço ou o desjejum, mas nunca
água dos baldes, e a privada talvez seja uma tigela de por-
para o jantar; as classes baixas não podem ser convida-
celana gelada no fim de um corredor frio e comprido. O
das, e ponto. Deve-se permitir apenas às pessoas ele-
bom hóspede sabiamente faz vista grossa a todas essas
gantes permanecer durante o fim de semana, pois são
as únicas que certamente saberão se comportar. Pode-se coisas e comenta como a quinta é bela. Por mais horrível
permitir a presença de pessoas de classe média alta à que seja a decoração, não diga nada: se não puder fazer
mesa em qualquer refeição, mas só se souberem se por- um elogio sincero, é melhor ficar calado.
tar bem, e nunca para passar a noite–. O vigário só pode A grama cuidadosamente aparada da propriedade
aparecer no domingo para o almoço, e aos magistrados pode ser uma boa maneira de começar uma conversa. A
locais só se permite um chá. A exceção a essa regra do aristocracia tem muito orgulho de suas quintas ances-
fim de semana, é claro, fica com os artistas, escritores, trais e ficará ofendidíssima ao menor insulto, mesmo que
poetas e afins, que podem ser convidados sem restrições implícito; portanto, tome cuidado com o que fala. É me-
para animar reuniões enfadonhas com sua presença de lhor não comentar nada que você julgue estar faltando,
espírito, seu intelecto e bom humor. por mais essencial que a coisa pareça para seu conforto.
Nem todas as visitas às Quintas são sociais. Outras Vale especialmente quando você é convidado a visitar a
razões para os Fins de Semana podem ser Palestras casa de um dos muitos nobres empobrecidos espalhados
(científicas ou não) ministradas por oradores famosos, pelo continente. Tomar o cuidado de não ferir os senti-
exibições de artistas ou músicos da moda, Encontros mentos das pessoas que hospedam você é apenas uma das
de Sociedades e Ordens das quais o anfitrião faça parte, pequenas cortesias que você terá de exercitar.
ou a mera oportunidade de conhecer melhor uma Cele- A quinta típica consiste em uma sede e qualquer com-
bridade ou Personalidade do momento (a lista de con- binação das seguintes benfeitorias: a casa dotal, o está-
vidados da Vanity Fair, por assim dizer). Claro que todas bulo, a casa do guarda-caça, o canil, as casas dos serviçais
essas alternativas a um encontro puramente social mu- aposentados e vários tipos de jardim.

C O M M E 48 I L F A U T
Elevação Frontal

Primeiro Andar Segundo Andar Sótão Porão

Reprodução retirada de BICKNELL A. J. Victorian Buildings: Floor Plans & Elevations for 45 Houses and Other Structures. Dover Press.
Se você joga Falkenstein, compre este livro. É uma pechincha por apenas US$ 19,95 [aproximadamente R$ 70,00].

C O M M E 49 I L F A U T
A sede pode ter muitos ou poucos cômodos, mas cer- suspeito. Os nomes devem ser afixados visivelmente nas
tamente terá, no primeiro andar, uma cozinha, uma sala portas de todos os hóspedes, para evitar confusões.
de jantar, uma biblioteca e uma sala de estar; no segundo, Além disso, mantenha suas informações em dia. Se o
ficam os quartos de dormir; no sótão, as dependências dos casal tiver rompido, pode ser desastroso colocá-los um
criados e um quarto para as crianças. Em casas muito ve- perto do outro.
lhas, podem-se encontrar alguns quartos no primeiro an- Não se devem subestimar nem os detalhes mais ínfi-
dar, e uma ou duas salas de estar privativas no segundo, mos. Por exemplo, sempre troque diariamente o mata-bor-
mas isso é cada vez mais raro. Na casa grande da proprieda- rão de um hóspede, para não esfregar na cara da esposa que
de, não é incomum haver inúmeros cômodo sque desem- ele anda escrevendo cartas de amor. Pequenos presentes
bocam uns nos outros, formando um labirinto confuso, para suas hóspedes, como sachês, leques ou perfumes, dão
especialmente quando várias gerações ampliaram a casa um toque especial. Descubra do que seus hóspedes gos-
indiscriminadamente. tam: se um deles tiver predileção por tetrazes, assegure-se
A casa dotal geralmente é uma miniatura da sede. de incluir essas aves no cardápio.
Quando o senhor do solar contrai matrimônio, sua mãe, Também garanta que tenham muito o que fazer: dan-
se ainda estiver viva, muda-se para a casa dotal, para evitar ça e música à noite, caçadas e passeios a cavalo à tarde,
conflitos com a nora e manter sua privacidade, longe dos muita comida em todas as refeições, bolas de bilhar e
recém-casados. Algumas casas dotais são muito grandes e cartas para quem quiser jogá-las. Como anfitriã, é seu
têm seus próprios jardins. dever garantir que todos se divirtam e que ninguém faça
Os estábulos incluem não somente as baias dos cava- escândalo. Certifique-se de dar a todos várias opções
los, mas também os mezaninos onde dormem os cavala- de entretenimento, para que não se vejam obrigados a
riços, para não ficarem longe dos animais a seus cuidados. fazer algo que detestam nem a permanecer ao lado de
Também há um quarto de selas, onde se guarda todo o alguém de quem não gostam.
equipamento necessário para montar, e um depósito para Os neoeuropeus do Continente costumam modernizar
armazenar a comida dos animais. O Treinador pode morar suas propriedades, mas os ingleses parecem ter um prazer
numa cabana adjacente ao estábulo ou numa casa à parte perverso em manter casas absolutamente primitivas: o
nas proximidades, mas nunca muito longe. O Guarda-Par- encanamento ruim e os aposentos gélidos são típicos da
que tem um catre numa casa separada. aristocracia britânica. Em 1871, o príncipe Eduardo Alber-
Os jardins podem ser os seguintes, sem uma ordem es- to contraiu febre tifoide graças ao encanamento problemá-
pecífica: uma horta, onde se plantam verduras, legumes e tico da propriedade de seus amigos, os Londesborough, em
ervas para a cozinha da casa; um knot garden, onde se plan- Scarborough. Lorde Chesterfield, também presente, mor-
tam flores em canteiros com desenhos intricados; um la- reu lá mesmo, assim como um criado de libré, e o próprio
birinto de buxos, com arbustos posicionados de maneira príncipe viu a morte bem de perto.
sagaz para confundir e desnortear os desavisados; um ro- As quintas francesas tendem a ser grandiosas e algo bar-
seiral; um relógio de sol, onde flores que se abrem em ho- rocas. Costumam ter a melhor comida e jardins deliciosa-
rários distintos são plantadas em círculo, abrindo-se em mente planejados para se passear sem pressa. Os franceses
sequência conforme o tempo passa; um jardim clássico, no se entretêm com extravagância e ostentação, e seus criados
qual se podam os arbustos para assumirem formas criati- são indivíduos muito orgulhosos, com os quais pode ser di-
vas. O moderno jardim inglês muitas vezes imita a paisa- fícil lidar. Os franceses também se ofendem com facilida-
gem natural, com o acréscimo de lagos e córregos artificiais de e, portanto, seja sempre muito efusivo ao tecer elogios.
como efeito cênico. São comuns os gramados extensos que Também costumam ser muito sensuais e, portanto, vigie
levam a tanques onde os cisnes nadam graciosamente en- suas filhas solteiras bem de perto. A típica casa de cam-
tre os juncos bem cuidados. Costumam-se usar as ovelhas po francesa costuma se inspirar na arquitetura da Grécia
para manter os gramados imensos bem aparados, além de antiga, com robustas fachadas de cantaria. Os interiores
proverem um fertilizante natural, para não– mencionar o costumam ser quase inteiramente dourados, tomados por
ar pitoresco que dão à paisagem. –uma mobília de ornamentação elaborada, pinturas caras
Hospedar pessoas em sua quinta exige um planeja- e bustos de mármore.
mento cuidadoso e, no mínimo, a mesma discrição de um A maioria das casas segue o mesmo arranjo dos solares
convidado. Por exemplo, ao atribuir os aposentos aos con- ingleses: quartos no andar de cima; salas de estar, sala de
vidados, é preciso ter em mente suas esposas, bem como jantar e cozinha no térreo. Contudo, nas casas francesas,
os vários affaires du coeur nos quais ele, ela ou ambos estão os corredores são muito mais comuns e os cômodos são
envolvidos no momento. É melhor instalar os homens per- mais iluminados e arejados do que nas inglesas. As portas
to dos quartos de suas amantes. Os cavalheiros odeiam ter são numerosas nas casas francesas, e muitas vão dar nos
de percorrer longas distâncias nas pontas dos pés por um jardins. O papel de parede, as cortinas e afins costumam
corredor gelado, e chegarão a seu destino de muito mau ter cores e desenhos mais ousados do que seus equivalen-
humor se forem avistados por um serviçal de sorrisinho tes ingleses.

C O M M E 50 I L F A U T
Os solares germânicos, ou schlosses, geralmente são dadeiros românticos: as moças solteiras que visitam as
casas grandes, com tirantes de madeira aparentes e um villas com a família talvez encontrem casamenteiras em
interior algo rústico, com inúmeras lareiras. Os germâni- cada esquina e montanhas de macarrão –em seus pra-
cos adoram alimentar bem tos. Nunca recuse a comida
seus hóspedes, com muita de um cozinheiro italiano,
comida pesada, portanto agenda típica de um fim de semana no campo ou não terá mais paz pelo
é recomendável praticar Manhã de Sexta-Feira resto da vida; apenas sorria
muito exercício ao ar livre. Você acorda por volta do meio-dia (perfeitamente normal para e continue comendo.
pessoas da cidade). Toma o desjejum em casa, sem pressa, enquan-
Aqueles que vivem em cas- As quintas russas cos-
to a Criadagem faz as malas para o fim de semana e as coloca na
telos construídos outrora carruagem (ou Automotriz). tumam ficar no meio do
como fortalezas geralmente Noite de Sexta-Feira nada–, embora as estradas
mantêm o fogo aceso em to- Você chega à Estação e é recebido pela carruagem (ou Auto- de ferro estejam melhoran-
motriz) dos Anfitriões. Está de volta à quinta por volta das oito,
dos os cômodos, o que pode do esse quadro–, portanto
para o jantar (muito cedo para pessoas da cidade). Pode ser que
ou não afastar o frio–. A no- tenham planejado reuniões dançantes, jogos de salão* ou cartea- a gama de entretenimen-
breza germânica gosta mui- do. Às onze (muito cedo para gente da cidade), todos se recolhem tos provavelmente será
to de caçar, e a expectativa aos seus aposentos. Por volta da meia-noite, quando os serviçais já limitada: caçar, patinar
foram dormir, começa a discreta circulação entre os quartos.
é que seus hóspedes partici- no gelo, jogar cartas, esse
Manhã de Sábado
pem da atividade; portanto, Você acorda às nove ou dez (muito cedo para gente da cida- tipo de coisa. Os russos são
vá preparado. de). O desjejum geralmente é um bufê com réchauds para manter muito afáveis em suas pró-
Devido a um antigo tri- a comida quentinha para os que acordam mais tarde. Você passa prias casas e afetuosos por
o resto da manhã conversando, jogando cartas ou bilhar, ou então
buto sobre a área do andar natureza: ser convidado
planejando as táticas da Caçada.
térreo, muitos schlosses têm Tarde de Sábado para suas casas de campo é
o andar de cima maior do Depois de almoçar ao meio-dia, você veste seus trajes de equi- como ser adotado. Sempre
que o de baixo–, especial- tação para a Caçada, que começará por volta das duas. Quem não leve presentes ao visitar a
se interessar pela Caça pode passar a tarde jogando bilhar ou jogos
mente aqueles que foram casa de um russo: não fazê-
de salão, passeando nos jardins, lendo, cavalgando pela proprieda-
construídos do século XVI de ou apenas conversando. O chá é servido às quatro. -lo seria uma grave falta de
em diante. A maioria das Noite de Sábado etiqueta.
casas antigas conta com Terminada a Caçada, geralmente não antes de anoitecer, todos As casas espanholas são
tomam banho, conversam sobre a caça e se trocam para a ceia,
pouco mais do que penicos projetadas ao redor de um
servida às oito. Após a ceia, é costume haver uma reunião dançan-
e latrinas externas, e prati- te no centro de convenções da vila mais próxima, ou talvez uma pátio central, onde ficam os
camente não há como to- pequena festa na sede da quinta. Novamente, todos se retiram às jardins e as jovens senhori-
mar banho. As casas mais onze, e a sinfonia secreta dos quartos começa pouco depois. tas podem passear em segu-
modernas geralmente têm Manhã de Domingo rança, sob o olhar atento de
Você acorda às oito. O desjejum é servido no seu aposento, an-
instalações bem melhores. tes de você se vestir. Você deve estar na igreja da vila às nove para suas dueñas. Fontes de água
Algo que não se pode es- a missa, que vai até as onze. Volta à casa para um almoço frugal, são comuns nesses pátios,
quecer quando se é hóspede geralmente acompanhado pelo Vigário. Conversem sobre religião bem como trilhas calçadas
até que ele se vá lá pela uma da tarde.
numa casa germânica: a hie- com paralelepípedos, mui-
Tarde de Domingo
rarquia militar tem maior Enquanto os criados fazem as malas, os hóspedes conversam tas árvores para fazer som-
precedência do que a hie- sossegadamente ou jogam uma última partida de uíste. A carrua- bra e flores belíssimas. Ne-
rarquia nobiliárquica, por- gem (ou Automotriz) chega à porta da frente e os serviçais levam nhuma hacienda espanhola
as malas. Os hóspedes são transportados até a estação para pegar
tanto, não se surpreenda se está completa sem a capela
o trem e ir para casa.
um General de Exército des- Noite de Domingo da família, pois os espa-
cer para a ceia antes de um Você embarca no trem enquanto os Serviçais cuidam das pas- nhóis são muito religiosos
Grão-Duque. sagens e da acomodação da bagagem. Você passa as próximas horas e católicos. Graças ao clima,
no trem, lendo o Times, a Godey’s ou as últimas notícias da Guerra.
As villas italianas são lo- as haciendas têm muitas ja-
Em casa, os criados desfazem suas malas e preparam o traje para o
cais relaxantes e adoráveis. evento da noite, que pode durar até as três ou quatro da manhã. nelas e varandas, para apro-
O paisagismo é muito natu- veitar ao máximo o frescor
* consulte a próxima página
ral, assim como as pessoas. proporcionado pela brisa.
Os italianos são muito A mansão espanhola prova-
emotivos e passionais, propensos a demonstrações es- velmente terá somente uma sala de estar, e a família pro-
palhafatosas de afeto. Não se surpreenda se você receber vavelmente passará mais tempo no pátio do que dentro
um beijo estalado por dizer que a casa deles é bonita. de casa. Mesmo as refeições podem ser feitas ao ar livre,
Os italianos também são generosos com a comida e ver- se o tempo estiver quente.

C O M M E 51 I L F A U T
Ao visitar espanhóis, prepare-se para uma hospita- ávidos geralmente as próprias armas e carregadores para o
lidade efusiva e uma fartura de transportes de emoção, fim de semana.
pois, assim como os italianos, os espanhóis são um povo Nas Alemanhas, o carro-chefe da diversão no Schloss
passional. Eles são muito protetores em relação a suas Wochende é a caça ao javali, considerada uma forma de
mulheres, e o libertino, entretenimento muito mais
caso não proceda com cau- perigosa – e, consequente-
tela, pode se ver subita- jogos de salão mente, masculina. Esses
mente do lado errado da es- suínos geralmente têm en-
Um divertimento comum nos fins de semana no cam-
pada de um marido furioso. tre 90 centímetros e 1,20
po – ou a qualquer momento – são os onipresentes Jogos
As villas na Riviera ou de Salão. Não são mais que brincadeirinhas frívolas para
metro de altura na cerne-
em Monte Carlo geralmen- passar o tempo. Há jogos mal-intencionados e há jogos lha, são perseguidos a pé
te são a segunda ou terceira inocentes. Seguem alguns exemplos destes últimos: (com cachorros) e abatidos
residência de estrangeiros • Mímica:Um participante faz mímica para representar por sibinas de 1,20 metro
que podem se dar a esse uma ação, o título de um livro, peça, música, ou uma de comprimento (com uma
luxo. A depender do pro- pessoa, e os demais tentam adivinhar o que a mímica pesada guarda em cruz per-
representa.
prietário, a hospitalidade to da ponta da lança, para
• Pobre Gatinho: Forma-se um círculo. Um participante
pode ser maior ou menor, fica no centro e escolhe outra pessoa do grupo, para ten- evitar que o javali, mesmo
masquem é rico o suficien- tar fazê-la rir imitando um pobre gatinho sofredor. Se empalado, percorra toda a
te para comprar uma casa rir, a outra pessoa terá de entrar no círculo e escolher a haste e corte o caçador com
num lugar desses também próxima vítima; caso contrário, o participante no meio suas defesas). O chanceler
é rico o bastante para rece- da roda terá de continuar tentando até achar alguém Bismarck – é desnecessário
que ria do seu gatinho e tome-lhe o lugar. O jogo acabará
ber convidados com gene- dizer – é um ávido fã da caça
quando todos estiverem gargalhando histericamente e
rosidade. não conseguirem mais prosseguir.
ao javali, mesmo tendo-lhe
Neste momento, há que • Mensagem Chinesa: Forma-se um círculo e alguém sus- custado o braço esquerdo na
se falar um pouco sobre as surra uma mensagem ao ouvido da pessoa mais próxi- juventude.
opções de entretenimento ma, que faz o mesmo com a pessoa seguinte, e assim por Nas Cortes da Rússia, os
que o bom anfitrião deve se diante, até que a mensagem retorne ao remetente e seja caçadores perseguem os lo-
desdobrar para providenciar comparada com a original – com a qual geralmente não bos selvagens que assolam a
tem mais nenhuma semelhança.
aos seus hóspedes. vastidão das estepes. Usam
Nas quintas inglesas e ...e exemplos dos mal-intencionados: seus borzóis de pernas com-
germânicas, o grande en- • Verdade ou Consequência: Uma pessoa pergunta “Ver- pridas para perseguir e can-
dade ou Consequência?” para outra, querendo saber se
tretenimento do fim de sar os lobos, que são aba-
ela prefere responder a uma pergunta com toda a since-
semana costuma girar em ridade ou aceitar um desafio. As perguntas costumam tidos a tiros ou golpes de
redor da Caça. Tradicional- ser um pouco pessoais, –daí ser um jogo mal-intencio- lança, a critério do caçador.
mente, a caça à raposa dos nado. Os desafios costumam ser bobos: subir a escada- No entanto, esse tipo de
ingleses é a forma que a ati- ria de costas, beijar a próxima pessoa que entrar na sala, entretenimento é praticado
vidade assume entre a alta e coisas do gênero, mas também podem ser constrange- apenas nas dachas (quintas)
roda campestre. Trata-se, dores e até mesmo perigosos. mais rurais e, graças à quan-
basicamente,de uma exibi-
• Cabra-Cega: É considerado um jogo mal-intencionado tidade de lobos que infesta
porque pode envolver contato físico entre pessoas de
ção das habilidades eques- sexos diferentes. Uma pessoa é vendada e a fazem girar os ermos, pode ser conside-
tres dos caçadores (já que várias vezes, até ficar desorientada. Todas as outras se rado tanto controle de pra-
galopam pelo campo e sal- espalham, e a pessoa vendada precisa encontrá-las ape- gas quanto esporte.
tam obstáculos atrás dos nas com a audição e o tato. Se conseguir identificar a Nas quintas francesas e
sabujos) e de uma ocasião pessoa que encontrou, esta será a próxima cabra-cega. italianas, o entretenimento
social. é muito menos sangrento:
Recentemente, a caça à teatro de improviso, chara-
raposa tem sido suplantada pelo bateau, um evento de tiro das e carteado (jogos de azar que as casas inglesas e germâ-
em que faisões, codornas e perdizes criados em cativeiro nicas não veem com bons olhos).
são o alvo principal. Os batedores espantam as aves, que Entretanto, algo que todas as quintas têm em comum
saem voando do meio do mato para serem alvejadas por é que a diversão mais envolvente acontece depois da hora
tiros de espingarda. Há registros de bateaus enormes, com de dormir, quando finalmente se podem desfrutar os af-
mais de mil aves abatidas, e os praticantes do esporte mais faires combinados durante o dia!

C O M M E 52 I L F A U T
A Realeza
Excerto da edição de 1869 do Guia formal de protocolo e etiqueta reais da srta. Goodworth.


[...] Pouco antes de sua Apresentação tro modo. Se houver música e dança, certifique-se de dançar
à Corte ou de uma Audiência Real apenas com seu marido (se ele estiver presente) ou com
(uma semana ou mais), homens aos quais já foi devidamente apresenta-
você receberá uma Convo- da. E, se o impensável acontecer e alguém da
cação com o timbre da Rainha, –assina- Realeza tirar você para dançar, aceite com
da, é claro, não por Sua Majestade, e toda a graça e sem hesitação!”
sim pelo Lord Chamberlain, o Camarei- Boa parte do relato acima se en-
ro-Mor,que age como representante quadra em qualquer ocasião na qual
da Monarca nesses assuntos. Você você se apresenta diante da Reale-
será informado quanto ao dia e a za governante na Corte – mesmo
hora do seu compromisso. Vista-se para ao meu chefe, o rei Luís de
apropriadamente–: os cavalheiros Wittelsbach, Soberano da Baviera
de uniforme de gala completo ou por Graça de Deus. Para a maioria
traje de noite com gravata branca; dos outros nobres de menor sta-
as damas com seu melhor vestido tus (príncipes, duques, marque-
(as mangas curtas e o decote baixo ses, condes, viscondes e barões), já
são de rigueur). Certifique-se de utilizar bastam a boa educação e uma mesura
um coche adequado (nada de carros de formal [títulos e formas de tratamento
aluguel, por favor!) e leve em consideração estão em CF, p. 75 – Mike]. Pode esperar co-
o tráfego: não se deve deixar a Rainha nhecer muitos aristocratas em Nova
aguardando! Europa: há inúmeros ducadinhos e
A Apresentação em si será breve. casas reais de nova europa* reinozinhos por aí, e cada um deles
Depois de esperar alguns minutos tem uma pá de gente no comando.
nas antessalas adjacentes à Sala de império Britânico Para saber separar o joio do trigo,
Audiências (a Rainha entrará quando Casa de Windsor consulte minhas notas sobre as Ca-
todos os convidados já estiverem reu- Império Prussiano sas Reais nesta página: essa é a gente
nidos e será sempre a primeira a sair), Casa de Hohenzollern que você precisa levar a sério.
um cartão com seu nome completo Império Russo É claro que driblei boa parte do
será apresentado ao Lord in Waiting, Casade Holstein-Gottorp-Romanov protocolo por ser companheiro de
que o passará ao Lord Chamberlain, que, Reino da Baviera farra do Príncipe Herdeiro– do Rei-
por sua vez, anunciará formalmente Casa de Wittelsbach no Unido: Bertie coleciona pessoas
seu nome. Nesse momento, avance Bélgica/Bulgária interessantes do mesmo jeito que al-
e faça uma mesura ou reverência pe- Casa de Saxe-Coburgo-Gota guns colecionam selos, e, sendo eu o
rante Sua Majestade, curvando-se – Império Francês Homem de Além do Véu, mereci menção
até sua cabeça quase tocar o chão. Casa de Bonaparte honrosa. A Rainha ouviu falar um
Caso ela se digne a falar com você, Império Austríaco bom bocado de mim por intermédio
responda singela e respeitosamente, Casa de Habsburgo-Lorena de Sua Alteza Real e passou horas me
talvez com um ‘Sim (ou não), Vossa fazendo perguntas sobre meu mun-
Reino dos Países Baixos
Majestade’. Não desperdice tempo Casa de Orange-Nassau do de origem. Ela pode ser muito
com amenidades: a Rainha certamente divertida às vezes, e até me perdoou
Reino da Suécia
tem coisas mais importantes com que por eu a ter tratado por “senhora”
Casa de Bernadotte
se preocupar do que sua presença! Ao uma ou duas vezes, por acidente.
final da audiência, a Rainha desviará Reino da Noruega Coisa feia, né?
Casa de Schleswig-Holstein-Sonder-
o olhar para dispensar você. Afaste- Quando alguém trabalha de
burg-Glücksburg
-se de cabeça baixa, –e nunca, nunca perto com um Rei, como é o meu
dê as costas à Presença Imperial! A * Segundo o Almanaque de Gota, circa 1864 caso, a atmosfera torna-se, obvia-
audiência acabou. Se forem servidos mente, um pouco menos formal.
petiscos, você deve permanecer para Só não se esqueça deque o sujeito
comer alguns, mas sem exageros. Do contrário, saia imedia- com a coroa na cabeça é o Chefe; não apenas seu, mas de
tamente, a menos que tenha sido instruída a proceder de ou- milhões e milhões de pessoas.

C O M M E 53 I L F A U T
A Salvação das Aparências
Excerto do Guia para uma vida mais refinada da senhorita Marley-Stewart, Athenon Press, 1871

“M
anter as aparências”, que fi- mann. Em München, a Königenstrasse, a Maximillianstrasse e
que bem claro, é muito mais a Marienplatz são as mais aceitáveis.
do que simplesmente viver Não existe endereço bom em Berlim.
como dá. É a arte cortês de se mostrar ele- Essas residências não sairão barato, e você deve se prepa-
gante para o mundo, algo que se exige de todos aqueles que rar para gastar pelo menos 40m/mês para alugar um aparta-
desejam ser absolutamente comme il faut. mento modesto, 80m/mês por uma casa urbana e 120m/mês
por uma casa nos subúrbios. Para compra, o preço razoável de
indumentária correta um apartamento é 500m; o de uma casa na cidade, 1.000m; e
Manter a aparência adequada no vestir-se pode garan- o de uma casinha suburbana, 2.000 a 3.000m.
tir a sobrevivência de alguém mais do que qualquer outra
coisa. Os cavalheiros devem possuir pelo menos dois
contrate um camareiro ou
bons ternos pretos de tecido fino, sobrecasaca, camisas uma aia sem demora!
engomadas e do melhor linho, e um traje de gala, com Para manter seu status, você deve empregar também um
gravatas brancas e pretas. Botas de qualidade são impres- Camareiro (ou, se for uma dama, uma Aia) para cuidar de
cindíveis, assim como uma cartola [custo total ~50m]. As suas roupas, dos preparativos para as refeições e dos seus com-
damas devem investir num espartilho, pelo menos dois promissos. Aloje-os nas dependências dos criados de sua casa
vestidos matutinos, dois vestidos vespertinos, um vestido ou apartamento e não lhes pague mais que o salário esperado
de gala, uma capa longa e botinas combinando com cada (consulte p. 54), para que não fiquem mal-acostumados.
vestido [custo total ~100m]. Uma retícule( bolsa) [2m] e
uma sombrinha [1m] são úteis, e a Dama deve comprar carruagem, coche ou automotriz?
tantos chapéus [1 a 3m] quantos puder bancar. É claro que é recomendável possuir a própria Carrua-
gem–, de preferência um pequeno cabriolé de duas rodas
dicção e maneiras apropriadas [80m], se você fizer parte da panelinha moderna e elegante,
fique atento aos seus modos: Acima de tudo, não ou uma vitória de quatro rodas, mais sóbria [100m]. Sempre
fume nem escarre, não se coce nem pragueje em público. se pode considerar uma automotriz a vapor, como a excelen-
Se estiver em dúvida quanto a uma situação social, invista te Mercedes SL [400m] ou a BMWi-3 [500m].
num livro de bolso sobre Etiqueta [1m].
como não falar: Acima de tudo, evite gírias. Há gírias ca-
jante fora
valheirescas, há gírias vulgares. Se não souber a diferença, não Embora jantar no clube seja suficiente para o seu cotidia-
use nenhuma delas. Não use linguagem chula. Não “engula” as no [as refeições estão incluídas na anuidade], é bom fazer o
letras: nem os RR do infinitivo, nem os DD do gerúndio, como esforço de jantar fora pelo menos duas vezes por semana. Ao
em “comprá” ou “fazeno”. As aulas de dicção perfeita podem menos duas estrelas no Guia Baedeker são imprescindíveis. –
custar 10c por semana, mas são muito menos dispendiosas do Os preços variam de 1 a 2m. Em Paris, recomendamos o Ma-
que uma educação em Eton [~2.000m por ano!]. xim’s; em München, o Franziskaner; em Londres, o Restau-
um cartão de visita apropriado: Você precisa ter um. rant des Ambassadeurs, e em Viena, o Café Heinrichshof.
Deve conter seu nome no topo e um endereço elegante logo viaje em grande estilo
abaixo [1 a 2m o milhar]. Nunca informe sua ocupação nem Ao Viajar de trem, barco ou nau celeste, sempre insis-
seus títulos profissionais: isso é para os comerciantes. ta num camarote só para você. Não precisa ser o melhor a
o endereço apropriado bordo, pode-se conseguir um dos mais modestos pagando-
-se um acréscimo de dez por cento no preço da passagem. A
Alugado ou próprio? Casa na cidade, apartamento ou bordo, insista para fazer as refeições à mesa, e não de pé, e
mansão no subúrbio? Todas essas perguntas ficam de lado exija uma boa carta de vinhos.
diante da grande questão: qual é o bairro? Certos lugares po-
dem fazer ou destruir a reputação de uma pessoa Elegante. ao viajar, escolha o hotel correto
Eis, portanto, uma lista dos endereços mais estilosos onde Lembre-se: numa viagem, o hotel é seu endereço; por-
procurar moradia: tanto, escolha-o criteriosamente! Um bom hotel, seja em
Em Londres, busque residências em Belgravia, Saint Ja- Paris [Grand Hôtel, Hôtel de Paris], Londres [Charing Cross,
mes, Regent’s Park ou Whitehall. Em Viena, procure qualquer Metropole], München (Bayrischer Hof, Vier Jahreszeiten] ou
ponto perto da Ringstrasse, da Therienstrasse ou do elegante Viena [Imperial, Hotel Métropole], só lhe custará entre 4 e 6m
distrito de Hietzing. Em Paris, você vai querer uma casa na por pessoa por noite. É um preço justo para a boa impressão
rue Royale, no boulevard Saint-Michel ou no boulevard Haus- que causa!

C O M M E 54 I L F A U T
A Temporada
Excerto de um artigo da Godey’s de jan. 1872, escrito pela srta. Marie Coy

“O
alegreFuracão Social mais folia, todos chegam exaustos ao fim da temporada,
uma vez dá a volta ao Calen- prontos para a primavera.
dário, e chegou a hora de A família imperial não tem interesse algum em fre-
quem é verdadeiramente comme il faut preparar quentar seus nobres, e Moscou é uma socieda-
sua agenda movimentada para as diver- de isolada na qual só se pode entrar atra-
sas obrigações e ocasiões sociais que se vés de laços de sangue ou matrimônio.
aproximam. Mais uma Temporada A Temporada moscovita consiste em
bate à porta, caros colegas, e, se apresentações de seus artistas pre-
quiserem ver sua estrela ascender diletos, as festas e bailes de cos-
no firmamento resplandecente tume e muitas visitas discretas.
da Sociedade, vocês precisam Moscou é um ambiente mais
estar cientes de que todo sombrio, onde o Czar gover-
compromisso é importante! na com poder absoluto seu
janeiro império dentro de um im-
pério.
Com o advento do Janeiro também é o
Ano-Novo, começa a início da Temporada de
parte mais estimulante Caça na Inglaterra, que é
da Temporada Vienense. retomada com o recesso
Chamada de Fasching, parlamentar. Cavalgando
ou Carnaval, trata-se de pelas paisagens congela-
um furacão resplande- das atrás da caça, a aris-
cente de bailes para to- tocracia inglesa procura
das as ocasiões – o Baile novas maneiras de que-
dos Industrialistas, o brar o pescoço e providen-
Baile do Clube de Patina- ciar “acidentes de caça”
ção, o Baile dos Monteiros para os rivais. E, na velha
–, todos culminando nos Nova York dos holandeses,
Gschnas, ou bailes à fanta- o fim do inverno é marcado
sia, eventos extravagantes pelo exclusivíssimo baile/
que ostentam nomes como festejo na mansão da senhora
o Baile da Quarta Dimensão Astor no Central Park.
(muito apreciado pelas fadas) e
o Baile do Manicômio.
fevereiro
Nesse ínterim, a Temporada Fevereiro é o finalzinho da Tem-
Russa (que começou em novembro) porada Russa, quando os nobres co-
está a todo vapor, com bailes e reu- meçam a voltar para suas propriedades
niões dançantes todas as noites. A capital no campo, atravessando a vastidão desola-
social da Rússia é São Petersburgo, onde os no- da da Rússia para chegar aos bolsões de civiliza-
bres mantêm sua própria corte, separada da corte do ção espalhados pela paisagem indômita.
czar Nicolau I. A temporada social em São Petersbur- A Temporada em Paris também está acabando, e a no-
go é extenuante: lá, além dos bailes e festas aos quais breza também começa a voltar para suas quintas.
é preciso comparecer, é necessário visitar cada dama
com quem se dançou, no prazo máximo de uma sema-
março
na, para agradecer formalmente pela honra da dança. A primavera setentrional é o momento certo para se
Além disso, quando se é convidado para uma festa, é estar em Paris e Cannes: as flores desabrocham e as fes-
preciso retribuir com outro convite. Depois de tanta tas nunca terminam. Mas o melhor lugar para se estar na

C O M M E 55 I L F A U T
França é, sem dúvida, o Palácio Imperial,
onde a moralidade é mais que relapsa–:
o calendário social ca-troca de convites, já que todo mun-
do tenta encaixar o máximo possível de
praticamente inexiste. janeiro fevereiro ocasiões sociais nos breves
meses do verão setentrio-
abril 1 2 3 4 1 2 3 4
nal.
11 a
iena Antig
5 6 7 8 9 10 5 6 7 8 9 10 11
n a V
Neste mês, termina a
Temporada de Caça in- 12 a13
arna
Fasching (C14 15 em
va l)
Nov17a York 18 Fim d14a Tem15
porad16a Ru17 18
ssa junho
il e d a sr a. Astor 16 u rg o
12 13
d a em Paris
B São P et er sb Te m po ra
glesa,e os homens da 19 p20orad21 rmin21 aa O mês começa com a
a Russ22a em 23 24 te25 a 19 Te20 22 23 24 25
Tem
a ça n a Ingla rr Formatura em Eton e ou-
aristocracia trocam relu- mpor28 ada d e C
26 Te27 29 30 31 26 27 28 29 30 31
tantemente as armas por tras distintas escolas par-
cartolas e começam a jor- março abril
ticulares. Além disso, é a
nada para Londres, para 1 2 3 4 1 2 3 4esa época das Finais da Copa
po ra d a de Caça ingl do Tâmisa–, evento de
a abertura da temporada 5 6 7 8 9 10 11 Te5 rmin6a a Te7
m
8 9 10 11
n n es para ra d a Academia remo anual e a desculpa
social londrina. O pontapé Ir a Paris e Ca Abe rt u
ndres 17 18
ima 14eal em 15 Lo 16
inicial é a exibição da Aca- 12 13 ap14roveit15ar o cl16 17 18 12 13 R
orth de Pari
s perfeita para matar o tem-
lá ci o Imperial pr ar ve stidos na W po ao sabor das águas. O
demia Real, e as esposas 19 20Festas21 22 23 I 24 25
n o Pa m
19Co 20 21 22 23rte da24Rai25 n ha
d e N ap oleão II ap re se ntada à Co s ponto alto da Temporada
extasiadas dos aristocratas Se r e em Pa ri
26 27 28 29 30 31 26 27 28dos Sa 29lões d 30e Art31
correm cruzar o Canal da A be rt u ra Inglesa são as corridas de
Mancha para ir a Paris rea- maio junho cavalos em Ascot–: quatro
bastecer seus guarda-rou- 1 2 3 4 1 2 3 4 dias de cerimônias festivas
em Et on e de comparecimento obri-
pas com os vestidos da casa 5 6 7 8 5 6 7 do8meu 9 fi lh o 10 11
Formatura
9 10 11
de monsieur Worth, na rue en to d o Tâ m is a gatório para todo mundo
tura do Parlam Finai14s da Co
pa
Aber14 12 13 15 16 cin17 d ív !
el18
de la Paix (e, ao mesmo tem- 12 13 15 16
erby
17 18
–: im pr es que é alguém nesta vida.
Corridas do D Royal Ascot EU A
po, esvaziar a carteira dos 19 20 21 fe em Lo24 ndre 25s! 19 20 21 22 Sa 23ra to ga ,
24 25 Na América, a elite se
Corridas em
22 23
Ce nt enas de stas d e Ve rão reúne para sua própria ro-
maridos). Elas vão precisar 28al do29
tí ci
Sols 30 31 o
26 27 28 29 30 31 26 Festiv
27
de toda essa elegância, pois dada de corridas e apostas
as mais afortunadas podem julho agosto nos cavalos em Saratoga
ser apresentadas à Corte–, 1 2 3 4 1 2 3 4 Springs, patrocinadas pelo
um triunfo em qualquer 5 6 7 8porad9a Ingl10 11 es a
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soberano da alta roda nova-
Fim da Tem dwood fest em Mu
roda da Sociedade. em Goo Ah, Oktober nos17 18
-iorquina, o elegante Leo-
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Durante sua estada em mpora d a
Viena?
Início da Te sé viaja Bosques de
Paris, as damas talvez quei- 19 20 pera 21dor 22 ci sc o
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24a 25 ea l? Para aqueles que têm
O im as d e Bad Is l Sa n d ri gham com ancestrais ou amigos feéri-
ram aproveitar para assistir para28as 29 Te rm
31
26 27 30 31 26 27 28 29 30
à inauguração do Grand Sa- cos, junho também marca o
lon da École des Beaux-Arts setembro outubro início do antigo Festival do
e de seu primo menos pres- 1 2 3 4 1 2 3 4 Solstício de Verão, evento
tigioso, o Salon des Refu- 5 6 7 8 9 10
os 11 6 7 8 9 10 11
tradicional de uma sema-
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sés, criado pelo imperador Co m eç a a Te a na que culmina no grande
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Napoleão III para exibir en-Bad en ,
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Homburg ou de 24 de junho), abre-se um
crítica chamam pejorativa- 26 27 28 29 30 31 26 27 28 29 30 31
mente de l’art moderne. portal entre o Véu Feérico
e o Mundo dos Mortais, o
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1 2 3 a 4
dezembro
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23
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26 27 28Sombr 29as da 30 26 27 28 29 30 31
sidência em Londres para Festa das vel para qualquer mortal!
comparecer às sessões do
Parlamento e às corridas equestres do Derby. Abrem-
julho
-se e limpam-se os casarões de Mayfair e Belgravia, que Em meados de julho, a Temporada Inglesa termina
passaram a maior parte do ano fechados, e aparecem as com as corridas equestres anuais de Goodwood. A tempo-
floreiras e os toldos listrados. Tem lugar um intenso tro- rada da Riviera francesa começa para valer. Nesta época,

C O M M E 56 I L F A U T
boa parte da elite inglesa viaja para Bath, para aprovei- novembro
tar as termas e se recuperar da temporada em Londres;
outros vão para a França, em geral para o sul, onde os A Temporada Russa chega com o inverno setentrional,
cassinos de Cannes e Mônaco os aguardam. Em Viena, o quando os nobres de São Petersburgo se amontoam em
Imperador (e sua Corte) viajam para os spas de Bad Ischl, sua cidade gelada para gerar o próprio calor. A Temporada é
para seu descanso sabático anual. uma constelação resplandecente de bailes, festas e óperas,
apimentadas pelas rivalidades ferozes que fazem a fama da
agosto aristocracia russa. A etiqueta rígida, a paixão pelo protoco-
A aristocracia inglesa abandona completamente Lon- lo e o desejo de ascender socialmente podem levar a cenas
dres em agosto: seria a ruína social se deixar apanhar na extraordinárias neste império oriental. Os passatempos co-
cidade num mês tão impopular. Muitos partem para vele- muns, além dos bailes e afins, são patinar no gelo, passear
jar na Regatta de Cowes (na ilha de Wight), caçar tetrazes de trenó, beber, visitar os museus e tudo que também se faz
na Escócia ou simplesmente cuidar de suas casas e terras. em outras nações, como o carteado entre amigos e o teatro.
O Royal Yachting Squadron, em Cowes, capitaneado pelo As Serpes de Nova Europa não ficam para trás em ques-
infatigável príncipe Bertie, promove sua regata anual (ge- tões sociais, pois neste mês celebram sua grande Convo-
ralmente vencida pelo príncipe e por seu iate, o Britannia). cação Dragontina em Roma. Dragões de todo o mundo
Sua Alteza Real segue para Paris, como preparação para se chegam para este evento de uma semana, no qual trocam
recuperar nos spas de Wiesbaden e Baden-Baden. Enquan- presentes, discutem suas coleções e renovam laços de fa-
to isso, o imperador Francisco José retorna de seu descan- mília milenares.
so em Bad Ischl para celebrar o Aniversário Real (no dia 18) Nos Estados Unidos, a Temporada Social de Nova York
com seus leais súditos. começa com um atropelo de Bailes de Debutantes: as fi-
lhas casadouras da Sociedade tradicional nova-iorquina
setembro são apresentadas aos seus futuros maridos. A cena social
Agora começa a temporada dos spas germânicos: se- da cidade é tomada pelas antigas famílias fundadoras, li-
gue-se um êxodo em massa de Paris e da Inglaterra para deradas pela mão forte da senhora Astor.
as cidades de Wiesbaden, Bad Homburg, Bad Gastein, Na Baviera, termina a temporada de caça e começam os
Marienbad e Baden-Baden, onde todos tomam banhos preparativos para a Temporada Social Bávara.
terapêuticos e bebem água mineral gasosa para se recupe- dezembro
rar dos excessos do resto do ano. Mas dificilmente se pode
Os nobres ingleses interrompem a temporada de caça
dizer que seja um período de abstinência. Há óperas, con-
para retornar a Londres para a abertura do Parlamento.
certos e entretenimento a granel, e muita jogatina. Muitas
Como a maior parte da nobreza tem um assento na Câma-
cortesãs lançam suas teias nestas cidades em setembro e
ra dos Lordes e a maioria traz consigo suas esposas, isso
outubro, já que o ar menos formal produz uma tolerância
cria uma Temporada pequena e seleta nos meses de inver-
maior às suas atividades.
no. Temos as atividades usuais da Temporada Inglesa, mas
No grande Império da Bandeira do Urso da Califórnia, numa escala um pouco menor. Muitos diplomatas estran-
no oeste norte-americano, as festividades sociais de verão geiros vêm à cidade nesta época para tratar de política no
terminam com o Baile da Corrida do Ouro do Imperador Parlamento. Eles também participam da cena social, pois
Norton, recentemente coroado. É– uma celebração que sabem que a maior parte da administração inglesa se faz
envolve toda a cidade de São Francisco e dura quatro dias. socialmente.
Apesar de histriônica (e talvez um pouco mal frequenta- Com a chegada da corte feérica para o Baile de Yule
da), a festa está associada a sentimentos bons e honestos anual no Castelo Falkenstein, começa a temporadazinha
que prometem agradar a todos os visitantes. bávara. Menor e mais íntima, com menos nobres e muitas
outubro fadas, essa pequena Temporada pode ser um período abso-
lutamente surreal na Baviera.”
Na Prússia (e na Baviera), começa a Oktoberfest, uma
combinação de orgia ébria e festival da colheita, e seu es-
pírito extravasa para as outras nações germânicas. Temos notas do tom:
o burburinho das últimas caçadas nos Bosques de Viena, Não custa repetir: se perder a Temporada, azar o
por causa dos aristocratas que tentam aproveitar o outo- seu! É a melhor maneira de conhecer as pessoas que
no evanescente. O Príncipe de Gales também se retira para movimentam e abalam as estruturas do mundo fal-
suas propriedades em Sandringham, na tentativa de dar kensteiniano. Portanto, pegue já sua agenda: há mui-
alguns tiros antes de a neve cair. tas festas pela frente!

C O M M E 57 I L F A U T
Os Unseelie
Excerto do livro Nympha eruditio et magicus, de Lady Freida-Harris

“O
s Unseelie não merecem con- proteção
fiança alguma. Seu único in-
teresse é a destruição; o fim Os Unseelie menores podem ser banidos com objetos
da raça humana é seu objetivo último. São simples: uma ferradura sobre o umbral da porta, vestir
simplesmente malévolos e desonestos, incapazes de assu- as roupas do lado avesso, portar uma cruz ou outro sím-
mir um compromisso. Não importa o que prometam a você, bolo sagrado. Um prego de ferro em seu bolso afastará
saiba que só estão nisso para destruir tudo que tocam, e entidades como o boggarts. Para os Unseelie maiores, é
você lamentará profundamente ter feito negócio com eles. uma boa ideia buscar refúgio em igrejas ou em outros
Entre os Unseelie, encontra-se de tudo, desde as fadi- exemplos de solo sagrado. Podem ser necessárias gran-
nhas horríveis que atormentam as crianças e os animais des quantidades de ferro– ou, melhor ainda, ferro frio.
de estimação até a mácula mais escura a obliterar a luz e a O conselho de um Magista pode ser útil nesses momen-
vida, o Adversário... e tudo mais pelo meio do caminho. A tos, porque muitos Unseelie têm fraquezas específicas
regra é: se odiar a humanidade, então é Unseelie. que podem ser exploradas.
Os menorezinhos, embora não menos malignos, costu- Há também algumas plantas e ervas que, se não os des-
mam ser apenas irritantes. Já seus irmãos maiores podem truírem, ao menos afastarão o Unseelie. Carvalho, azevi-
ser realmente perigosos. Boggarts, attorcroppes, basilis- nho, freixo e espinheiro são ferramentas antiquíssimas
cos, fir darrigs e coisas do gênero são membros evidentes e contra a magia negra, e a maioria das criaturas das trevas
assustadores– da Corte Unseelie. Precisamos ter mais cui- não consegue atacar locais protegidos por essas plantas.
dado com aqueles que não parecem malignos, mas sugam É por isso que os velhos bosques de carvalhos eram sa-
nossa vida mesmo assim. grados para os antigos druidas. Locais em que as quatro
Nunca aceite um presente de uma fada. Não coma sua
plantas cresciam juntas eram especialmente abençoados.
comida nem beba seu vinho: isso dará aos seres feéricos
Na América, a sálvia e a erva-de-bisonte são usadas com
controle sobre você e, mesmo que sejam Seelie, você ainda
o mesmo propósito, bem como inúmeras outras plantas
pode se ver encrencado. Essa regra vale em dobro para os
que não há como listar aqui. Entretanto, confiar apenas
Unseelie: são absurdamente trapaceiros e tentarão enga-
nar você, para que aceite qualquer coisa deles. Portanto, nas plantas não garante proteção: combinar todos os mé-
fique alerta! Você correrá o risco de morrer ou sofrer coisa todos é a melhor pedida.
pior ––se não tomar cuidado. a caçada
ardis & trapaças A Caçada Selvagem é uma das mais perigosas mani-
Cometer uma estupidez perto de fadas é a rota mais rá- festações dos Unseelie, porque nem mesmo os membros
pida para o além, –isso se você tiver sorte. Sempre verifique da Caçada têm controle completo sobre o que acontece.
os bolsos antes de sair da presença de uma fada: você pode As fadas entram em frenesi, conjuram e lançam ao en-
descobrir que enfiaram algo ali sem que você percebesse, calço de um alvo os aspectos sombrios do Homem Ga-
para que possam acusá-lo de ladrão quando você partir le- lhado. Entretanto, devido à imprevisibilidade da coisa,
vando o que lhes pertence. o estrago não se limita à vítima e, às vezes, atinge os pró-
Não faltam histórias sobre mortais presos em círculos prios Unseelie. Não é algo a se subestimar: caso se depa-
feéricos e obrigados a dançar até morrer por Unseelie aos re com a Caçada, tenha medo, muito medo. Felizmente,
risos–. Não é a pior das sinas. Os cavalos Unseelie podem ela é convocada poucas vezes.
atrair seres humanos desavisados para a morte, e as don- o adversário
zelas Unseelie podem seduzir os mortais para drenar sua
força vital. Os Unseelie existem em milhares de formas, e O Adversário e sua Consorte, a Morrigan, são duas
cada uma delas é mais um caminho para as trevas. das criaturas mais perigosas que existem. Até os dra-
Podem tramar algo excepcionalmente sutil para destruir gões evitam os dois e, entre as fadas, apenas Auberon
sucessivas gerações de uma família, como retaliação por ousa desafiá-los abertamente. Todas as outras fadas
uma ofensa real ou imaginária. Podem agir em segredo du- disputam o Grande Jogo num patamar ligeiramente
rante décadas ou mesmo séculos para promover seus inte- abaixo. Pouco ou nada se pode fazer para proteger des-
resses com planos meticulosos e uma compreensão maligna ses dois o reles mortal que por acaso atrair a atenção
do que se passa na mente de suas vítimas. Têm ótima memó- deles. Aqueles que o casal usa como peões podem espe-
ria e podem guardar ressentimentos durante milênios. rar sinas terríveis.”

C O M M E 58 I L F A U T
Viagens I (Mar & Ar)
E
mbora a maioria das viagens em entretenimento a bordo, tudo embutido no preço da pas-
Nova Europa envolva trens fuma- sagem. Confortáveis, velozes e confiáveis, e por um preço
rentos ou coches puxados por cava- razoável.
los, o único modo de passar de um conti- Navios Mercantes:Veleiros grandes e geralmente
nente a outro ainda é o navio (a invenção reformados, a grande vantagem é que você quase sempre
do avião ainda levará décadas). encontrará um com destino ao lugar para onde você deseja
Por ora, a Era do Vapor está às vésperas da ir, por mais obscuro que seja. Não espere conforto
grande idade das navegações, quando os e prepare-se para o ocasional capitão oportu-
pujantes palácios flutuantes da Cunard, nista que tentará roubar você ou vender as
White Star e P&O farão das travessias mulheres para traficantes de escravas
brancas. É por sua conta e risco.
do oceano Atlante um espetáculo
inesquecível, o sinal que marcará as companhias
a vida de muitos viajantes. É uma
Várias companhias de reno-
época maravilhosa para tomar me oferecem serviços regulares
um navio rumo a Nova York, pelos mares de Nova Europa,
Índia ou o misterioso Oriente, entre elas:
uma época em que a viagem P&O(Peninsular &
em si já é mais da metade da Oriental Steam Naviga-
diversão. tion Co.): É uma linha ve-
os navios loz e eficiente, sem luxo,
cujo público-alvo são os
Uma ampla gama de passageiros que viajam a
navios aguarda o viajan- negócios para o Extremo
te náutico na década de Oriente. Por fazer o cor-
1870. Eis os mais comuns: reio entre Nova Europa e
Paquetes do Cor- Índia, é muito confiável. A
reio: Geralmente são maioria de seus navios tem
vapores rápidos e básicos, nomes que homenageiam
de pequeno porte e com locais famosos no Oriente:
apenas dois ou três com- Himalaya, Rangoon, China
partimentos de passagei- etc. Uma curiosidade: o Car-
ros. O Dover Packet é a única naticficou famoso por ser o
forma confiável de ir e vol- navio que Phileas Fogg quase
tar entre Dover (Inglaterra) perdeu a caminho do Japão.
e Calais (França). Companhia Francesa:
Clíperes Cata-ventos: São Como o nome já diz, esta linha
as embarcações intermediárias en- atendeao Segundo Império; é a
tre os grandes e velhos veleiros e os espinha dorsal das comunicações
modernos navios de passageiros de com as colônias distantes. Boas re-
casco de ferro. Rápidos, mas indepen- feições (é claro), navios um pouco
dentes de fontes de carvão, os clíperes apertados que costumam chegar atra-
cata-ventos são os novos carros-chefe da In- sados ao porto. Os navios geralmente são
man Line, suplantando os grandes clíperes do batizados em homenagem a locais na França
comércio do chá com a China, como o Flying Cloud. (Paris, Reims, Marseilles etc.) ou têm nomes femini-
Vapores: Estas embarcações, que constituem a nos (Marie, Pierrottine).
maioria dos navios transoceânicos operados pelas compa- White Star Line: Linha de passageiros de porte mé-
nhias mais importantes, têm casco de ferro e são movidas dio, veloz e razoavelmente confortável. Especializada em
a hélice, com camarotes bem equipados e confortos ini- rotas pelo Atlante e o Mediterrâneo, a White Star bati-
magináveis nos primórdios das viagens transatlantes.Os za suas embarcações em homenagem a oceanos e mares:
maiores navios de cruzeiro oferecem refeições e até mesmo Adriatic, Atlantean, Pacifica etc.

C O M M E 59 I L F A U T
convés de passageiros de uma nau celeste comercial

Copa Sala de
Estar Bar

Escada Corredor Principal

Intendente
Camaro-
teiros Biblioteca

Sala de Fumo

vapor, todos os conveses

Fonte:Report on the Shipbuilding Industry of the United States, de Henry Hall (1884).

C O M M E 60 I L F A U T
Londres
Le Havre Hamburgo

São Francisco Nova York Constantinopla Yokohama


Nápoles Porto Said
Atenas Hong Kong
Havaí Havana
Canárias
Bombaim
Il. Galápagos
Cingapura
Melbourne
Rio de Janeiro 300Km
3000Mi.
Cidade do Cabo Escala no Equador.

Cabo Horn

rotas marítimas & horários


paquetes do correio que fazem a travessia dover-calais
[victoria, dover, empress, jupiter, widgeon, scout, garland, princess helena, eugénie, alexandra & napo-
leon iii] deixam o porto a cada seis horas, na maré alta. A travessia do canal leva cerca de 2 horas com bom tempo [♥,
♦], 4 horas com mau tempo [♣], e não pode ser realizada em caso de tempestade [♠] (revele uma carta para determinar o
tempo atmosférico). Os trens partem da estação Victoria a cada quatro horas a partir das 6h e levam cerca de 2 horas para
chegar a Dover. Somando-se os tempos de trem, espera e travessia, uma viagem de Londres a Paris costuma durar umas 9
horas. A passagem sai 1 libra por pessoa.
Fonte: Boat Trains & Channel Packets, de R. Bucknall

viagens transoceânicas
MILHAS NÁUTICAS/KM ENTRE VÁRIOS PORTOS EM BUSCA DE UMA EMBARCAÇÃO: Os horários dos navios
Le Havre – Constantinopla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.400/6.297 em Nova Europa são um tanto incertos, com atrasos pro-
Londres – Porto Said. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.650/6.760 vocados por mau tempo, carga, piratas etc. Compre duas
Porto Said – Bombaim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.025/7.454 cartas do Baralho da Sorte, a primeira para determinar se há
Bombaim – Hong Kong. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.009/11.129
um navio disponível e a segunda para determinar o tipo de
embarcação. As passagens variam de 25 a 50c/100 km.
Londres (ou Le Havre) – Nova York. . . . . . . . . . . . . . . . 3.233/5.987
Hamburgo – Nova York. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.633/6.728 CARTA DISPONÍVEL EMBARCAÇÃO
Nova York – São Francisco (apenas por mar) . . . . . 13.094/24.250 ♥ Esta noite Clíper Cata-vento
Nova York – São Francisco (atravessando o Panamá). . . . . 5.219/9.665 ♦ Amanhã de manhã Vapor
São Francisco – Honolulu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.097/3.884 ♣ Próxima Semana Veleiro Mercante
São Francisco – Yokohama. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.536/8.400 ♠ Esta manhã Paquete do Correio
São Francisco – Hong Kong . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.086/11.271
Velocidades de Viagem*: Paquete do Correio [a vapor] =
Hong Kong – Yokohama. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.830/3.389
240 km/dia • Vapor = 185 km/dia • Navio Mercante = 90 km/
Hong Kong – Melbourne. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.000/11.112
dia • Clíper Cata-vento = 165 km/dia • Nautilus = 295 km/dia
Hong Kong – Xangai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 855/1.583
* É uma revisão da p. 67 de Castelo Falkenstein. –Encontramos dados me-
Bombaim – Xangai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.864/12.712 lhores (Conway’s History of the Ship, v. 6, para sermos exatos).

C O M M E 61 I L F A U T
Cunard Line: Focada no lucrativo serviço de correio e imensas cidades flutuantes, batizadas de Princesa Sofia, Rei
transporte transatlante de passageiros. Suas embarcações Maximiliano, Parsifal e Siegfried, são os símbolos altaneiros
são grandes, muito bem equipadas, e têm todo tipo de luxo do poderio comercial em expansão da Baviera. Atualmen-
que se possa imaginar, incluindo chefs em tempo integral, te, as quatro fazem a rota que vai de Nova Europa Central
salões de baile e exposições de arte. Maciços e caros, os na- a Nova York [Passagens: 100m; apenas primeira classe,
vios da Cunard geralmente são batizados em homenagem percurso de 26 horas], com viagens especiais e ocasionais
a vários lugares do mundo (Serbia, Caledonia). para a Escandinávia, a Índia e o Oriente [preço a combinar
Inman Line:É a desenvolvedora dos novos clíperes ca- no momento da reserva].
ta-ventos, os veleiros que usam moinhos de vento gigantes Há apenas um “aeroporto” para essa pequeníssima
para se livrar das vicissitudes dos ventos e dos suprimentos frota bávara de transporte de passageiros, localizado na
de carvão. As embarcações da Inman são limpas, velozes e pitoresca cidade de Friedrichshafen, um pequeno porto
pontuais. A maioria tem nomes que homenageiam capi- às margens do Lago de Constança (conhecido pelos ale-
tais do mundo: City of Rome, City of Paris, City of New York etc. mães como o Bodensee). Na fronteira entre Suíça, Baviera
Great Western Steamship Co.:Fruto da criatividade e Áustria, Friedrichshafen é o ponto de partida perfeito e
do infatigável Isambard Kingdom Brunel, gaba-se de ter central para viajantes de toda a Nova Europa, pois se en-
os primeiros e mais modernos vapores de ferro. Os navios contra conectada às maiores cidades através de estradas
costumam ser batizados “Great Alguma Coisa”: Great Eas- de ferro. Os passageiros podem agendar seus voos com
tern, Great Western etc. Embora enormes, ficam um pouco a até uma semana de antecedência em escritórios localiza-
desejar no quesito conforto. dos na cidade de Basel, Suíça, em Konstanz, na Baviera,
a viagem ou em Bregenz, na Áustria.
Pairando perto do centro do Bodensee, com os grandes
Sua viagem muito provavelmente começará num dos estabilizadores mergulhados nas águas profundas, essas
vários portos marítimos que forram o litoral neoeuropeu. gigantescas naus celestes são verdadeiramente majesto-
Em geral, os melhores locais para encontrar uma embar- sas. Também estão em perfeita segurança: com seu Meca-
cação de partida são os portos de Londres, Liverpool, Do- nismo Magnético apontado para baixo, estão ancoradas
ver, Le Havre, Marselha, Calais, Amsterdã e Hamburgo. ao leito rochoso do lago pela força da gravidade, a salvo de
Nenhum navio parte do Mar Interior para o oceano, pois tempestades, ventanias e a atenção indesejada de espiões
aquele é considerado demasiadamente raso e traiçoeiro e sabotadores prussianos.
para navios de grande calado. As aeronaves zarpam a cada dois dias, seguindo ali no
Compram-se as passagens nos escritórios das companhias porto um rodízio preciso como um relógio: enquanto duas
locais (a seguir), ou, no caso dos navios mercantes e dos pa- retornam, as outras duas se preparam para embarcar os
quetes do correio, diretamente com o intendente do navio. passageiros. Nos dias em que há voos, pequenas lanchas a
Durante a viagem, sua interação com a tripulação pode vapor e dirigíveis em miniatura carregam dez passageiros
ser bem limitada. Se estiver a bordo de um cruzeiro ou por vez até os distantes pontos de ancoragem, onde eles
clíper cata-vento, você provavelmente será atendido por ficam maravilhados e aturdidos diante de milhares de to-
um ou mais camaroteiros (uma espécie de criado náutico neladas de uma superestrutura de metal que paira sem es-
que amacia os travesseiros, arruma a cama, traz o serviço forço acima de suas cabeças.
de quarto e, em geral, atende a cada capricho seu), sob a Baixam um elevador suspenso por cabos para içar gru-
supervisão do intendente (responsável pelo conforto dos pos de dez passageiros até o vasto interior da embarcação.
passageiros). Um navio grande também pode ter um cirur- E que embarcação! A Princesa Sofia, por exemplo, tem quase
gião. O mais provável é que você nem veja o capitão, a não 60 metros de comprimento, doze cobertas com camarotes
ser que seja convidado a jantar com ele, um privilégio que suntuosamente mobiliados (vinte no total), salões de ban-
costuma ser reservado para os mais ricos e famosos. Se via- quete e um pequeno salão de baile.
jar na terceira classe, você não verá nada disso, pois estará A viagem em si é muito parecida com a de um navio de
confinado às cobertas inferiores durante o dia. cruzeiro, exceto pela suavidade. Seu camarote é pequeno,
Ah, claro. Prepare-se para os enjoos. mas bem provido de móveis de madeira leves (afixados
ao piso) e luz elétrica. A sala de jantar proporciona uma
real luftschwansa da baviera vasta gama de pratos soberbamente preparados pelos
Contudo, se você for do tipo que odeia ficar enjoado, há melhores chefs do mundo. Todas as suas necessidades são
uma nova opção para viajar entre os continentes. supridas por uma equipe discreta de camaroteiros e um
Viagens aéreas, via nau celeste bávara: a única maneira intendente capaz. E a velocidade da pujante nau celeste
de voar (literalmente). permite completar a viagem transatlante em apenas vin-
Nem toda nau celeste bávara foi parar nas forças arma- te e seis horas. Portanto, até o conde Zeppelin descobrir
das: o visionário rei Luís também determinou que quatro um modo de transformar seu gigantesco Hindenburgem
das grandes “embarcações luxuosas dos ares” entrassem realidade,a nau celeste será a maneira preferida da elite
em serviço pouco depois da Batalha de Königssieg. Essas de viajar em grande estilo.

C O M M E 62 I L F A U T
Viagens II (Trilhos)
M
uitas pessoas do meu mundo pondência, salas de espera para os passageiros, salas para
provavelmente nunca andaram guardar a bagagem (não há armários para alugar), achados
de trem – pelo menos não os & perdidos, banheiros separados para o público e os fun-
norte-americanos que eu conheço. cionários, pontos para os cabriolés e cavalos de aluguel
Com os europeus, é diferente: e, às vezes, acomodações hoteleiras nas estações
mesmo no século XX, os trens ainda são um maiores. As estações costumam funcionar até
importante meio de transporte no con- a meia-noite e reabrir às sete da manhã,
tinente. Mas os trens da Era do Vapor quando chega o chefe da estação.
estão muito distantes dos modelos ae-
rodinâmicos elétricos ou a diesel do
bilhetes
meu tempo, muitos dos quais pare- Você compra o bilhete através de
cem grandes aviões de passageiros uma minúscula janela na antessala
com acomodações de luxo. Os da- da estação. O bilhete é feito de pa-
qui são trens por excelência, os pelão grosso, com cores diferentes
primitivos ancestrais do siste- para indicar a 1ª, 2ª ou 3ª classe,
ma Eurorail, que vomitam fogo, e se é só ida ou de ida e volta. O
fumaça e cheiros desagradáveis destino é carimbado no bilhete
enquanto sacolejam pela Nova no momento da compra. Via de
Europa de fim de século. regra, a maioria das passagens
custa entre 0,3c e 0,5c/km na
a estação terceira classe, 1c/km na se-
Sua viagem começa numa gunda classe, 2c/km na primei-
Estação. E que estação! Os vi- ra classe e 3,5 c/km nos carros-
torianos adoram a ornamen- -dormitório.
tação, e suas estações de trem Após o embarque, o condu-
refletem isso. A Era do Vapor é tor percorrerá o vagão para veri-
a grande idade da sofisticação ficar os bilhetes. Ele vai perfurar
ferroviária, desde a fachada de o seu com um pequeno alicate
palácio rococó da estação Saint de metal, para que, caso haja
Pancras, em Londres, até as mais uma troca de condutores (práti-
contidas (mas nem tanto) colu- ca comum em viagens longas), o
natas de mármore em München. próximo saiba que você já recebeu
A estação típica é enorme, com o visto.
um teto alto e abobadado construí-
do com vigas de aço e vidro. Os trens
o trem
entram pelos fundos e estacionam ao Como é viajar num trem da Era do
lado de longas plataformas de concreto Vapor? O trem em si é operado por um mo-
que acompanham os trilhos. Ao longo des- torista (ou maquinista nas Américas) e um
sas “plataformas”, há uma azáfama de carre- foguista (que, usando uma pá, chega a mover
gadoresque transportam bagagens (mediante re- até três toneladas de carvão por viagem para man-
muneração), condutores que verificamas passagens e dão ter a pressão correta da caldeira; se estiver muito baixa, a
informações aos passageiros (você não encontrará o painel velocidade diminuirá, se estiver muito alta, a locomotiva
de chegadas e partidas até meados da década de 1870 e, explodirá!). É um trabalho duro: as cabines do maquinista
mesmo assim, apenas nas grandes estações metropolita- em Nova Europa dificilmente são cobertas e ficam expos-
nas), vendedores de frutas e comida, jornaleiros e o ocasio- tas a todo tipo de condição atmosférica.
nal mendigo, prostituta ou batedor de carteiras exercendo De praxe, um técnico de manutenção viaja com o trem,
seu ofício. para efetuar reparos, enquanto um condutor percorre os
A frente da estação é ocupada pelos guichês de pas- vagões,para verificar as passagens e lidar com as demandas
sagens, pelo Escritório do Chefe da Estação (geralmente dos passageiros. Nas Américas, há também os serventes
aberto das 7h às 19h, mas não conte com isso fora da Ingla- dos carros-dormitório, para fazer as camas e providenciar
terra, Baviera ou Prússia), por salas de triagem da corres- outros confortos.

C O M M E 63 I L F A U T
A que você tem direito com seu bilhete? Na primeira gens ferroviárias pelo Oeste. Esses suntuosos restau-
classe, você tem vagões espaçosos e apainelados, com as- rantes sobre rodas são famosos por servir refeições
sentos largos e luxuosamente estofados, janelas amplas compostas de diversos pratos, vinhos de safras exce-
com cortinas de veludo, lâmpadas a óleo ou elétricas e lentes e proporcionar serviço completo a preços sur-
uma decoração de bom gosto. Na segunda classe, os as- preendentemente razoáveis.
sentos têm estofados finos e são estreitos, as janelas são Os norte-americanos, especialmente os da República
pequenas e não têm proteção contra luz, e o vagão é ilu- do Texas e do Império da Bandeira do Urso, também têm
minado por um punhado de lâmpadas a óleo bruxulean- os Pullmans: carros-dormitório com beliches retráteis e
tes. Os assentos da terceira classe são bancos, e há jane- cabines privativas. Esses vagões têm todos os confortos do
las minúsculas de todos os lados. Nos trens neoeuropeus, lar, apesar de um pouco apertados. Acomodações similares
não há aquecimento; nos norte-americanos há, mas só ainda levarão dez anos (não antes de 1883) para chegar aos
na primeira e segunda classes. O restante do trem é for- trens neoeuropeus, graças ao belga Georges Nagelmackers,
mado por vagões para a bagagem, a correspondência (a que estabelecerá seus exclusivos Trens Azuise o mundial-
maior parte é transportada por trem) e o carvão, vagões- mente famoso Expresso do Oriente.
-pagadores protegidos por guardas e carros privativos. O Os últimos carros de um trem neoeuropeu são os vagões
carro-breque ou caboose (um vagão aquecido que abriga privativos, mansões itinerantes e suntuosas, somente para
a tripulação quando o trem está em repouso) só é encon- os muito ricos ou chefes de estado. Os vagões privativos
trado na América. são quase sempre extravagantes: por exemplo, o do Rei
Na América, acomodam-se os passageiros todos num Luís (que ele herdou de seu pai, Maximiliano II) é deco-
grande compartimento (é o típico vagão que você vê re- rado com coroas de ouro, um salão apainelado, cadeiras e
tratado nos filmes de faroeste). Em Nova Europa, as aco- sofás entalhados a mão, mesas de mármore, um imenso
modações de primeira e segunda classes são projetadas quarto de dormir, uma sacada e um toalete (de assento es-
de outra maneira: os vagões são divididos em comparti- tofado com penugem de cisne!).
mentos individuais, cada qual com dois assentos, um de
frente para o outro (como num filme de Sherlock Holmes
viagem
ou na versão para o cinema de Moscou contra 007). Um cor- Os trens de 1870 são extraordinariamente velozes, con-
tinado separa o compartimento do corredor que conecta siderando-se que funcionam à base de carvão, fogo e va-
os vagões. Esses compartimentos podem ser surpreen- por: velocidades de 110 km/h não são incomuns. Não, a
dentemente reservados e costumam ser utilizados por maior restrição à velocidade da viagem não são os trens:
quem quer dormir ou fazer outra coisa: uma gafe lendá- são os trilhos. As estradas de ferro da Era do Vapor costu-
ria envolveu um certo casal apanhado in flagrante delicto mam passar por pontes raquíticas que mal se mantêm de
quando o trem chegou à estação e o cortinado foi aberto, pé, túneis mal escorados e dados a desabar,além de subir e
revelando a dupla no auge da paixão! descer encostas que volta e meia desmoronam. Acrescente
a ameaça de bandidos e milícias rebeldes (especialmente
comer & dormir nos trilhos nos instáveis Bálcãs e nas colinas escabrosas da Espanha
Ainda não há carros-restaurante em Nova Europa, e da Toscana), e você entenderá por que a experiência de
embora essa inovação já tenha se tornado mais comum viajar fora da Inglaterra, da França e das Alemanhas sofre
na América. Em vez disso, os passageiros levam o próprio com atrasos e contratempos. Em geral, para qualquer per-
farnel, compram comida de vendedores ambulantes nas curso, exceto as rotas metropolitanas mais comuns (como
plataformas ou correm sair do trem nas “paradas longas” de Londres para os subúrbios), contabilize pelo menos um
(vinte minutos a cada quatro horas de viagem, em média) dia de viagem para chegar a cidades do mesmo país e, nor-
para comer nos “salões restaurantes” das estações. E até malmente, dois ou três dias para as viagens internacionais
mesmo estes se dividem de acordo com a classe do bilhete: (consulte o mapa, p. 65).
os passageiros da primeira classe recebemrefeições dignas Por fim, você precisará de um passaporte nas viagens
de um gourmet, bons vinhos e serviço excelente, enquanto de trem internacionais. Acostume-se às paradas do trem
os passageiros da terceira classe têm de se contentar com nos pontos de fronteira, e aos gendarmes ou soldados locais
chá e empadões servidos no balcão. A comida desses luga- que sobem a bordo para solicitar “documentos”. Além de
res sai pelo dobro do preço normal. um passaporte, certos países (Prússia, Rússia, alguns ou-
Outra opção é desembarcar para comer e dormir e pegar tros nos Bálcãs) também exigem certificados de entrada e
o próximo trem. O risco é que podem se passar dias até ou- saída. Se não os tiver, você talvez consiga atravessar a fron-
tro trem aparecer e nada impede que esteja lotado! teira lavando a mão das pessoas certas, mas tome cuidado
Os trens norte-americanos, naturalmente, percor- com o ocasional guarda incorruptível.
rem longas distâncias sem fazer paradas, e por isso os Lembre-se: viajar na Era do Vapor é mais do que apenas
carros-restaurante são condição sine qua non nas via- viajar. É de fato uma aventura!

C O M M E 64 I L F A U T
Sundsvall Golfo FINLÂNDIA
NORUEGA de Tampere
Oceano Bótnia Helsinque
Gävle
Atlante Norte Bergen Oslo

Tallinn
SUÉCIA Estocolmo
Aberdeen Estônia
Mar do
Riga
Edimburgo Norte Gotemburgo
Belfast DINAMARCA Mar Letônia
Báltico Lituânia
IRLANDA Newcastle
Liverpool Minsk
Copenhague
Dublin Vilnius
GRÃ-BRETANHA Gdańsk
Hamburgo Rostock
Cardiff
Amsterdã Hanôver Poznan Varsóvia
HOLANDA
Berlim IMPÉRIO
Londres
PRÚSSIA RUSSO
Dover Leipzig
Os números Canal da Mancha BÉLGICA
Bruxelles
circulados no Praga
Le Havre Frankfurt
mapa indi- Cracóvia Lviv
cam os dias Paris
Estrasburgo BAVIERA Eslováquia
de viagem. Nantes München Bratislava
Viena
Budapeste
FRANÇA Berna Transilvânia
ÁUSTRIA HUNGRIA
SUÍÇA Zagreb Pécs IMPÉRIO
Genebra
Baía de Biscaia Ljubljana OTOMANO
Bordeaux Lyon Milão Veneza
Eslovênia Croácia Bucareste
Florença Bósnia Belgrado
Bilbao
Sarajevo
Porto
SÉRVIA Sofiya
Andorra Marselha
Madri ITÁLIA
MONTENEGRO
Barcelona
Roma Skopje
Adriático Tirana Thessaloníki
ESPANHA Mar Nápoles
Valência
Tirreno
Sevilha Egeu
Málaga GRÉCIA
Mar Mediterrâneo Cagliari Mar
Palermo Jônico
Pátrai Atenas

horários & mapas dos trens


Amsterdã Berlim Constant. Genebra Londres Madri Moscou München Paris Roma Viena
Amsterdã N/A 724km/ 2.774km/Q 877km/ 490km/  1.842km/Q 2.454km/S 860km/  507km/ 1.537km/ 1.157km/ 
Berlim 724km/ N/A 2.734km/X 1.110km/ 1.207km/ 2.545km/X 1.945km/Q 917km/ 933km/ 1.601km/ 650km/
Constant. 2.774km/S 2.734km/S N/A 2.325km/S 3.267km/X 4.422km/X 2.784km/X 2.517km/X 3.054km/X 3.428km/ 1.867km/ 
Genebra 877km/ 1.110km/ 2.325km/S N/A 927km/ 1.397km/X 2.784km/S 692km/ 508km/ 908km/  1.007km/ 
Londres 490km/  1.207km/ 3.267km/X 927km/ N/A 1.915km/  3.081km/Q 1.236km/  463km/ 1.923km/  1.577km/
Madri 1.842km/Q 2.545km/S 4.422km/X 1.397km/S 1.915km/ N/A 4.667km/X 2.366km/X 1.448km/ 1.971km/  2.684km/
Moscou 2.454km/X 1.945km/X 2.784km/X 2.784km/X 3.081km/X 4.667km/S N/A 2.462km/S 2.968km/S 1.749km/X 2.007km/
München 860km/  917km/ 2.517km/S 692km/ 1.236km/  2.366km/S 2.462km/X N/A 937km/  1.041km/ 428km/
Paris 507km/ 933km/ 3.054km/S 508km/ 463km/ 1.448km/  2.968km/X 937km/  N/A 1.448km/  1.368km/ 
Roma 1.537km/  1.601km/ 3.428km/ 908km/  1.923km/  1.971km/  1.749km/Q 1.041km/ 1.448km/  N/A 1.352km/
Viena 1.157km/  650km/ 1.867km/  1.007km/  1.577km/ 2.684km/ 2.007km/ 428km/ 1.368km/  1.352km/ N/A
Trens com conexões para os destinos desejados partem:  = De hora em hora  = Uma vez por dia  = Meio-dia & 18h  = 6h & Meia-noite S = Às segundas Q = Às quartas X = Às sextas

C O M M E 65 I L F A U T
Vagões & Locomotivas

locomotiva de estilo neoeuropeu locomotiva de estilo norte-americano

vagão de passageiros neoeuropeu com assentos “leitos”

carro-dormitório com 4 leitos de um “trem azul” de georges nagelmackers

fonte: the lore of the train,de c. hamilton ellis (grosset & dunlap, 1971)

C O M M E 66 I L F A U T
Xenofobia
Xenofobia \xe.no.fo.BI.a\ s.f.: medo ou ódio irracional dirigido a desconhecidos ou estrangeiros, ou ao que
é desconhecido ou estrangeiro.

Q uando cheguei aqui, fiquei abso-


lutamente chocado com o tanto
de insultos étnicos, piadas bair-
ristas, desconfiança e xenofobia que encontrei. Para
lho Bona” do mesmo jeito que nós descreveríamos Átila,
o Huno. Aos olhos deles, Bismarck é só mais um biltre
metido a conquistador, mas pelo menos é melhor do que
o tal Napoleão III, que é francês (e nós já conhecemos
alguém nascido na era do Politicamente Correto, Nova esse tipo de gente!).
Europa não é nada bonita. É verdade que as coisas não Os norte-americanos não são muito melhores: des-
são tão ruins quanto na minha versão do século XIX: cendem dos neoeuropeus e carregam consigo o mesmo
africanos e índios com acesso à feitiçaria dão o que se legado sangrento. Para eles, foi absolutamente natural
pode chamar de imperialistas respeitáveis; os Impérios invadir as terras dos indígenas e empurrá-los para um
Dragontinos da China e do Japão, mais ainda. Mesmo canto qualquer: afinal, era o que todo mundo fazia no
assim, quando “os wogs vivem de Calais em diante” lugar de onde vieram. Por sorte, os índios, que nunca
(wog é um termo pejorativo que se aplica a qualquer confiaram muito uns nos outros, cerraram fileiras para
um que não seja inglês) é uma expressão corriqueira evitar o destino terrível que se abateu sobre eles do meu
na Grã-Bretanha, fica claro que você terá graves pro- lado do Véu. Até agora.
blemas pela frente. Como venho de uma época mais A boa notícia é que as pessoas podem crescer e mu-
esclarecida, cometi gafes em cima de gafes, ofendendo dar – aqui em Nova Europa, ainda mais rápido do que
as pessoas ao insistir que mulheres, índios, chineses, no lugar de onde eu vim. Desde o início dos tempos, as
negros – e até mesmo os franceses – mereciam ter os pessoas do universo falkensteiniano têm de respeitar
mesmos direitos e o mesmo respeito que um britânico o espaço de três espécies totalmente alienígenas e das
(e continuo ofendendo). quais não conseguem se livrar: anões, fadas e dragões,
É preciso encarar o fato de que as pessoas por aqui espécies poderosas o suficiente para resistir a qualquer
não gostam muito de estrangeiros nem confiam neles (o um que tente maltratá-las. Isso dificulta, e muito, que
que, em alguns lugares, pode significar as pessoas da al- as pessoas cometam impunemente atos de preconceito
deia vizinha). Os franceses não confiam nos germânicos, em larga escala, ou ao menos que alguém faça comentá-
que desdenham dos franceses; os austríacos caçoam de rios maldosos sem outra pessoa transformá-lo no rép-
uns e outros, e os britânicos não gostam de ninguém, til pegajoso que ele parece ser por dentro. E não é nada
especialmente dos franceses (aquela coisa da Conquista ruim que, sendo a Feitiçaria uma força poderosa em ou-
Normanda de 1066, sabe como é). tras culturas, os pretensos opressores se vejam obriga-
Talvez ajude se você entender que a maior parte dos a pisar em ovos para evitar consequências atrozes. E
desses povos vive em guerra uns com os outros desde o também existem, é claro, inúmeras pessoas esclarecidas
início dos tempos: tribos de gauleses, pictos, escotos, que se empenham em destruir as barreiras da xenofobia
hunos e vikings, todos saindo do meio do mato de tem- com atos e palavras.
pos em tempos para arrasar sua fazenda, roubar seu Então por que mencionar essa coisa terrível? Porque
rebanho e estuprar sua irmã. A Era Imperialista tem é parte do panorama neoeuropeu e, se quiser entender a
sido o período de paz mais longo que este continente cultura, você precisará entender todos os seus aspectos,
sofrido já viu desde que os romanos foram para o norte por mais desagradáveis que sejam.
e impuseram a Pax Romana com gládios e lanças. E isso No melhor dos mundos, os franceses e germânicos
já faz 2 mil anos. se dão bem com os ingleses. É o que todos desejamos.
Ainda na lembrança dos neoeuropeus mais velhos, Contudo, se você entrar por acaso num vilarejo ou
o famigerado Napoleão Bonaparte saiu da França para numa cidadezinha da Baixa Eslobóvia, não se surpreen-
empreender uma campanha de conquistas, derrubando da quando seu sotaque atiçar os nativos a resmungar e
as dinastias de uma dezena de nações que, até então, apanhar os forcados. Essa é a realidade da Era do Vapor,
cuidavam pacatamente da própria vida. É só falar com e a Fraternidade dos Homens ainda é uma possibilidade
qualquer um que não seja francês, e ele descreverá o “Ve- distante, e auspiciosa.

C O M M E 67 I L F A U T
Zeitgeist
Zeitgeist \(ZAIT.gaist)\ [Do al., zeit tempo + geist espírito] s.m.: o estado intelectual, moral e cultural de uma época.

E
m poucas palavras, é isso. Enten- criado nos impassíveis anos 1950, e não nos senti-
da o zeitgeist – os ideais, sonhos, mentais 1850. Os homens choravam de alegria em pú-
esperanças e pontos de vista mais blico, exprimiam-se com gestos largos e exclamações
festejados de uma época – e você terá uma porta mágica sonoras, confessavam seus sentimentos mais delica-
para esse tempo e local. dos ao menor ensejo e consideravam um sinal de ge-
Muita gente no século XX tem dificuldade para en- nuína virilidade emocionar-se profundamente diante
tender o caráter desta remota Era de Vapor e Ferro. de uma flor ou de um trecho de ópera. Não obstante,
Tentam reduzir tudo aos padrões de Hollywood: Doug eram homens vigorosos – impiedosos quando neces-
McClure lutando com dinossauros em O mundo perdido, sário e implacáveis quando o queriam ser.
Vincent Price vibrando enquanto seu dirigível bombar- A feminilidade não era frágil, como Hollywood
deia Paris em Robur o conquistador do mundo, ou mulheres nos quer fazer crer. As mulheres administravam negó-
frívolas soltando gritinhos estridentes ao ver um torno- cios, conquistavam as pradarias, construíam cidades,
zelo exposto em todos aqueles pastiches ambientados universidades e governos; alargavam as fronteiras da
no século XIX. Ciência, da Medicina e da Política. Foram necessárias
A realidade é cheia de contradições que eram elemen- mulheres com essa força para conquistar o direito ao
tares naquela época, mas são quase alienígenas hoje em voto, reformar a Sociedade e erigir um mundo melhor.
dia. Como podemos voltar no tempo para capturar a Sim, todas vestiam roupas nada práticas que tolhiam
essência dessa época passada, para conhecer o zeitgeist os movimentos. Algumas talvez sofressem de “hipo-
– termo originário do Romantismo alemão que alimen- condria”. Mas outras conquistaram novos mundos e
tou tanto as ambições de Bismarck quanto os sonhos de os compartilharam com pessoas de toda parte.
Luís – da Era do Vapor? A Ciência não era Má. Apesar dos Frankensteins da
Eis alguns detalhes a considerar. O sexo na Era Vito- época, a Humanidade via a Tecnologia como uma tábua
riana não era um tabu: era apenas mais reservado. Nós de salvação, a luz brilhante que havia nos tirado de milê-
nos lembramos dos panfletos – hoje hilários – que eram nios de fome e privação. Todos podiam ter moradia, co-
distribuídos por sacerdotes incógnitos e exortavam as mida e educação. Em retrospectiva aí do nosso tempo,
mulheres casadas a não sentir prazer com o sexo. Con- uma época em que a Ciência, a Bomba Atômica e a po-
tudo, tendemos a esquecer as cartas apaixonadas escri- luição acabaram com nosso idealismo, é difícil acreditar
tas por várias personalidades para esposas ou amantes. nessa visão do Futuro. Mas eles acreditavam.
Nós esquecemos os grandes affaires que balançaram O mundo não era preto e branco. Havia cores – co-
tantos corações. Ou a imensa graça que a ralé inglesa res exuberantes e muita atividade. Para encontrá-las,
achava – e publicava, vejam só! – ao imaginar o Príncipe você precisa enxergar além dos velhos daguerreótipos
Consorte mandando ver com arainha Vitória nos quar- e de sua realidade monótona e capturada em poses.
tos do Palácio de Buckingham. Ou a pobre e caluniada Busque pistas de verdade na arte da época: o caos de
Vicky, a quem nossa época deu a imagem de mulher re- uma feira na Coventry Square, o esplendor de uma
catada e frígida, quando, na realidade, ela detestava ter valsa, as luzes ofuscantes de Paris ou o fastio de um
filhos, mas só queria se meter na cama com seu amado dia de verão. Essas pessoas viviam, respiravam, usa-
príncipe sempre que possível. Foi uma era de luxúria, vam gírias e aproveitavam a vida tanto quanto você
a época em que o beijo de língua virou moda, que sim- ou eu. Talvez até mais: o mundo era mais jovem na-
ples roupas de baixo viraram lingeries erotizadas, que os quela época, menos cínico e indiferente.
contraceptivos foram inventados e os romances baratos E o mais importante; o Cavalheirismo e a Honra
deram à luz, com o mesmo suspiro tórrido, a pornogra- não haviam morrido. As pessoas tinham esperanças,
fia e os romances de banca de jornal, com mocinhas de sonhos, e a coragem para persegui-los. Se mantiver
corpete rasgado na capa. essas coisas vivas em suas palavras, atos e convic-
A masculinidade não era coisa de macho. O arqué- ções, então você terá encontrado o âmago do zeit-
tipo do herói sisudo que não trai emoção alguma foi geist vitoriano.

C O M M E 68 I L F A U T
As Regras
As Regras do
do
Jogo
Jogo

C O M M E 69 I L F A U T
Introdução
Q uando pedi a meu amigo Mike, lá do outro lado do Véu Feérico, para publicar
meu Diário e minhas ideias para o Jogo, eu francamente não esperava ficar a
par da recepção crítica aos meus escritos. Como eu creio ter dito a Auberon na
época: “Estou a um universo de distância de qualquer pessoa que queira suporte técni-
co, graças a Deus”.
Ledo engano.
Ocorre que o mensageiro pixie empregado por Corwin, o filho de Auberon,
para entregar meu primeiro Diário desenvolveu uma paixão incondicional
pelas batatas fritas do McDonald’s durante sua estada do Outro Lado e deci-
diu que estava disposto a enfrentar praticamente qualquer perigo (inclusive
a traiçoeira travessia do Véu) para conseguir mais. Ele se ofereceu para esta-
belecer um serviço de entrega entre os dois mundos (ao menos até as batati-
nhas acabarem). Esse sistema irregular, que apelidei na mesma hora de FadEx
(“garantia absoluta de entrega neste milênio”), logo se revelou uma maneira
confiável para enviar aos amigos lá no meu mundo notícias de minhas aven-
turas em Nova Europa.
Também sucede que eu tive, enfim,de responder a todas as perguntas que
Mike tentava desesperadamente resolver acerca das regras do Grande Jogo.
E que perguntas! Quantos metros tem uma braça? Os dragões podem usar magia em
sua forma natural? Os Magistas começam com quais feitiços? Que tipos de arma de fogo
vocês têm por aí?
A maioria das indagações, naturalmente, era sobre a sensação de viver no mun-
do do Castelo Falkenstein. Resolvi a maioria delas enviando meu pequeno exem-
plar vermelho do Manual do Usuário de Nova Europa para Mike distribuir. Es-
pero que ajude Jogadores de toda parte a injetar mais Vapor na sua Era do Vapor.
Mas essa solução ainda não atendia às muitas questões sobre regras feitas por
meus correspondentes distantes. Portanto, é sobre isso que versa esta seção da
minha remessa mais recente: as regras e os mecanismos do Jogo que precisam de
esclarecimento, arbitragem ou simplesmente de conserto (eu não sou perfeito;
apenas digo a Marianne que sou!).
Nesse ínterim, é claro, andei mexendo no design básico, inserindo novas
ideias aqui e ali e experimentando novas variações. Essas modificações do Grande
Jogo original também são apresentadas aqui para o aprimoramento de Jogadores,
Anfitriões e eventuais espiões feéricos. Manterei contato esporadicamente – via
FadEx –, para tratar de novos problemas, questões e comentários.
Isto é, ao menos enquanto durarem as batatas fritas...

C O M M E 70 I L F A U T
Perguntas & Respostas sobre as Regras
perguntas & comentários variados de P: Quando exatamente o Anfitrião baixa suas Cartas
jogadores e anfitriões da Sorte para aumentar o Nível de Habilidade Total Exigi-
do pelo Feito? Antes ou depois de o Jogador usar as Cartas
P: É para comprar uma carta nova logo depois de da Sorte dele?
baixar uma Carta da Sorte, ou é para comprar novas R: Antes de o Jogador usar as cartas dele. O mais
cartas só depois de baixar todas as Cartas da Sorte ne- justo é colocar as cartas na mesa, viradas para baixo,
cessárias para resolver um Feito? antes de descrever a situação ao Jogador.
R: A segunda opção. Baixe todas as cartas primeiro, e P: O fato de o Anfitrião usar as cartas contra os Jo-
só reponha a mão depois de ter resolvido o Feito. gadores não cria muito antagonismo? Ele não
P: Quantas cartas o Jogador pode teria o poder de impedi-los de fazer qual-
baixar de uma vez só? quer coisa?
R: Uma, várias ou todas elas. R: Depende de como vocês jo-
Só não esqueça que se, for de gam. Mesmo partindo-sedo pres-
suposto de que o Anfitrião tem
outro naipe, a carta valerá
por objetivo vencer os Joga-
apenas 1 ponto.
dores, ele ainda terá de usar
P: Por que os Jogadores as cartas de sua mão, que
não baixam todas as cartas foram compradas aleato-
da mão? riamente. Mas a intenção
é mesmo dar ao Anfitrião
R: Eles podem. Exis-
a possibilidade de tornar
tem alguns truques que
algo mais fácil ou mais di-
o Anfitrião pode usar fícil, a depender do anda-
para prevenir isso (con- mento do jogo.
sulte “Cartas claras sobre
a mesa”, p. 76) no longo P: Como o Anfitrião deve
prazo, mas descobri que pensar ao usar as Cartas da
só existem três modos de Sorte contra os Jogadores?
lidar com a situação. O pri- R: A coisa mais impor-
meiro é limitar aquantida de tante para o Anfitrião consi-
de vezes que seus Jogadores derar é se os Jogadores estão
podem repor a mão (quatro é ou não se divertindo. Com
um bom número). O segundo é isso em mente, o melhor a fa-
limitar os Jogadores a usar apenas zer é o Anfitrião usar suas cartas
as cartas com que eles começaram para tornar o Jogo interessante,
a Sessão de Jogo e só permitir que re- e não para vencê-lo. Por exemplo,
ponham a mão no começo da sessão se- as cartas podem ser usadas para criar
guinte. O terceiro é criar situações nas quais uma reviravolta na trama que seja vanta-
eles não fazem ideia de que precisam baixar uma carta josa para o Jogador (como fazer a amada ceder
num momento inesperado) ou para criar um desafio
(anote os parâmetros das personagens de antemão) e
(como o Capanga normalmente fraco que de repente
simplesmente dizer o que acontece, a não ser que eles
parece estar numa perigosa maré de sorte).
deixem claro que estão fazendo um esforço extra. Aí
faça-os descrever o que estão fazendo para tornar esse P: O Anfitrião deve revelar o nível do Feito (e qual
esforço especial. Se não arranjarem uma descrição ve- carta vai somar a esse nível) de antemão?
rossímil, nada de carta. Afinal, é para ser um jogo de R: Não, ele deve manter isso em segredo tanto
interpretação, e não um jogo de guerra em que tudo de- quanto for possível e revelar sua carta apenas depois
pende dos números! de os Jogadores agirem.

C O M M E 71 I L F A U T
P: Ao duelar, cada Jogador recebe duas cartas de maticamente lançado ou o Magista terá a opção de pos-
cada tipo. Mas, de acordo com a tabela, os duelistas fra- tergar o feitiço, descartar a carta e comprar outra?
cos precisam de cinco Pausas. De onde vêm essas Pausas R: A segunda opção. O Magista pode optar por
extras, se ele só tem duas na mão? descartar a última carta que pegou e comprar outra,
R: Por alguma razão, esse ponto realmente con- até conseguir o que precisa. O feitiço não será lan-
funde as pessoas! Na verdade, é muito simples. No çado, porque ele rejeitou a energia de que precisava
duelo, as cartas são reutilizadas vez após vez apenas para arrematá-lo.
para declarar o que você fará na Rodada. Suas car-
tas simplesmente simbolizam uma ação que você pre- P: Por que os dragões de Falkenstein são tão fulei-
tende realizar. Seria a mesma coisa se você anotasse ros em comparação com os dragões de outros RPGs de
num papel: “Turno 1: Pausa/Ataque; Turno 2: Pausa/ fantasia?
Defesa; Turno 3: Pausa/Pausa”. O único motivo de R: Passarei sua observação a lorde Verithrax da
não fazermos assim, por escrito, é que as cartas são próxima vez que nos encontrarmos. A razão é que os
mais práticas. dragões neoeuropeus são criaturas reais que evoluí-
ram a partir de animais também reais. Eles precisa-
P: Mas assim o Jogador não poderia se antecipar vam se encaixar nas regras da Natureza, e não nas
ao Anfitrião e vencê-lo? Por exemplo, você vê que o An- de um designer de jogos. Além disso, uma criatura
fitrião ensaia puxar um Ataque, aí troca rapidamente dotada de asas com quinze metros de envergadura,-
sua carta por uma Defesa? que pesa tanto quanto um leão pequeno e é capaz
R: E o que você acha que acontece num combate de cuspir fogo, dobrar barras de aço e lançar qual-
real? Boa parte é isso mesmo: antecipar-se ao opo- quer feitiço conhecido pela Humanidade certamen-
nente e mudar rapidamente sua tática para adaptá-la te dará conta de qualquer coisa que uma pessoa usar
ao que ele fará. contra ela. Se os Jogadores estão fazendo seus dra-
gões de gato e sapato é porque você precisa ser mais
P: Digamos que eu queira que meu Detetive tenha durão ao interpretá-los.
Percepção Excepcional. Eu pego duas Habilidades Fra-
cas adicionais. Isso quer dizer que estou aumentando P: Os anões são imunes ao fogo dos dragões?
uma Percepção Boa para Excepcional ou acrescentando R: Sim, e mais de um dragão já se lamentou por
uma nova Habilidade? (Isto é, são três Fracas, três Boas, não ter sabido disso antes.
uma Ótima e uma Excepcional, ou três Fracas, quatro
Boas, uma Ótima e uma Excepcional?) P: Como fica a religião no universo de Falkenstein?
R: A segunda opção. Você está adicionando uma R: Opa! Introdução à Metafísica. Até onde sei, há
Habilidade Excepcional e duas Fracas ao seu total muitas religiões por aqui, assim como no nosso mun-
inicial, que era de uma Ótima, quatro Boas e uma do. A feitiçaria não modificou isso. Como Huxley me
Fraca. Portanto, as Habilidades do seu Detetive disse certa vez: “A Magia não pode responder se Deus
passam a ser três Fracas, quatro Boas, uma Ótima e existe; se Ele for de fato onipotente, dificilmente
uma Excepcional. aparecerá ao ser Invocado”. Isso não significa que Ele
(ou outra concepção de divindade) não exista, e sim
P: Se uma Personagem do Anfitrião tentar resolver que ninguém ainda conseguiu comprovar ou refutar
um Feito sem conflito, o Anfitrião deverá baixar Cartas Sua existência.
da Sorte para aumentar o Nível de Habilidade Exigido
pelo Feito? P: Onde se pode achar Ferro Estelar? É muito comum?
R: Não, isso seria inútil. Simplesmente decida se Meus Jogadores têm como conseguir um pouco?
você acha ou não que a personagem conseguiria rea- R: Até onde eu sei, só se pode encontrar o Ferro
lizar a ação e siga seus instintos. Se o sucesso da PdA “Frio” ou Estelar em meteoros. A maioria dos meteo-
movimentar o Jogo, vá em frente. Se for melhor que ros conhecidos por aqui está guardada a sete chaves
ele falhe, que seja, então! O importante não são os em museus ou coleções particulares. Morrolan es-
números, e sim manter o Jogo divertido! tima que provavelmente não existam mais do que
cinco ou seis toneladas do material na Terra – o sufi-
P: Se um Magista comprar uma carta Não Alinhada ciente para preocupar as Fadas, mas não para fazê-las
no finalzinho do Acúmulo de Poder, o feitiço será auto- fugir de medo.

C O M M E 72 I L F A U T
Titulo
Novas Perícias & Habilidades
A
s Habilidades são as especializações do mundo de záveis, como joias ou roupas. Artesanato Excepcional permi-
Castelo Falkenstein, são formas de criaruma per- te que você venda seu trabalho na sua cidade a preços muito
sonagem sob medida, para que possa se distinguir bons, pois você tem a reputação de criativo e talentoso. Ar-
do cidadão mediano e lugar-comum. É por isso que perí- tesanato Extraordinário significa que você é único: vestidos
cias não especificadas têm automati- Worth, ovos Faberg é, produtos com
camente NH Médio, salvo indicação os quais se pagaria o resgate de um rei.
em contrário, pois representam o uma lista concisa cavalgada [♣]
que praticamente qualquer pessoa de habilidades
comum poderia fazer com suas habi- A habilidade de lidar com cavalos,
lidades numa determinada situação. Cada perícia enquadra-se numa das camelos e outros animais comuns de
Isso quer dizer que, numa dada quatro categorias: Mental, Física, So- montaria. Para cavalgar montarias
situação, você tem tanta habilidade cial ou Interpessoal. exóticas, como avestruzes, dinossau-
para fazer uma coisa quanto qual- Aparência. . . . . . . . . . . ♥. . . . Interpessoal ros bípedes e afins, seu Nível de Habi-
quer pessoa Média teria. Por exem- Artesanato. . . . . . . . . . ♦. . . . Mental lidade será considerado um patamar
plo, todo mundo consegue montar um Atletismo. . . . . . . . . . . ♣. . . . Física mais baixo. O NH Médio corresponde
cavalo em 1870. Não saber cavalgar é Atuação. . . . . . . . . . . . . ♥. . . . Interpessoal ao que todo mundo é capaz de fazer:
quase tão raro quanto não saber di- Briga. . . . . . . . . . . . . . . . ♣. . . . Física cavalgar uma égua mansa e não cair
rigir um carro na Califórnia dos anos Carisma. . . . . . . . . . . . . ♥. . . . Interpessoal da sela com um salto de pouca mon-
1990. Portanto, uma pessoa Média Cavalgada. . . . . . . . . . . ♣. . . . Física ta. Um Nível de Habilidade Bom sig-
sabe montar um cavalo manso sem Ciências Naturais. . . . ♦. . . . Mental nifica que você consegue lidar com
cair da sela. Por outro lado, as auto- Compleição Física . . . ♣. . . . Física um capão vigoroso, trotar e galopar
motrizes a vapor são bem raras. Qua- Condução. . . . . . . . . . . ♣. . . . Física bem e talvez saltar uma distância
se ninguém sabe alguma coisa sobre Contatos. . . . . . . . . . . . ♠. . . . Social pequena. Um nível Ótimo permite
essas máquinas. Portanto, a pessoa Coragem. . . . . . . . . . . . ♥. . . . Interpessoal a você competir numa corrida com
Média poderia saber como ligar o Educação . . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental obstáculos regional, com uma boa
motor, mas só conseguiria dirigir Esgrima. . . . . . . . . . . . . ♣. . . . Física chance de acertar todos os saltos e fa-
mal e mal uma automotriz: sairia da Eterealidade*. . . . . . . . ♣. . . . Física zer inveja aos frequentadores da pista
pista, bateria em árvores e capotaria. Feitiçaria. . . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental de Rotten Row. Um NH Excepcional
Geralmente, isso significa que Furtividade. . . . . . . . . . ♣. . . . Física em Cavalgada significa que você é um
você pode ter praticamente todas as Glamour. . . . . . . . . . . . ♥. . . . Interpessoal cavaleiro de categoria internacional,
Habilidades que quiser, desde que Invenção. . . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental capaz de saltar a maioria dos obstácu-
não pretenda fazer nada excepcional Jogatina. . . . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental los comuns e lidar com praticamente
com elas.É só quando quer ser me- Liderança . . . . . . . . . . . ♥. . . . Interpessoal qualquer animal normal. Extraordi-
lhor do que o homem médio em algu- Mecânica . . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental nário indica que você é um jóquei do
ma coisa que você deve se preocupar Medicina. . . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental mesmo nível de Fred Archer: você
com uma especialização! Mesmerismo. . . . . . . . ♥. . . . Interpessoal provavelmente já venceu sua cota de
oito novas habilidades Percepção. . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental corridas nacionais e talvez tenha se
Pilotagem. . . . . . . . . . . ♦. . . . Mental classificado – ou vencido – no Derby.
para falkenstein Poderes Raciais. . . . . . ♣. . . . Física
Situação Econômica. ♠. . . . Social
Ciências Naturais [♦]
artesanato [♦] Tiro. . . . . . . . . . . . . . . . . ♣. . . . Física O conhecimento do método cien-
A capacidade de manufaturar ob- Trato Social. . . . . . . . . . ♠. . . . Social tífico, aplicado a um campo particu-
jetos bonitos e bem-feitos, sejam de * Perceba que eu mudei o Aspecto do Poder
lar de estudo. As Ciências Naturais
vidro, madeira, metal, pano ou cerâ- Feérico Eterealidade de Social para Físico. pressupõem que você estudou mag-
mica. Com esta Habilidade, você con- netismo, física, botânica e zoologia,
segue criar joias, roupas, esculturas e além dos poderes da energia elétrica.
outras coisas elegantes. Um nível Médio em Artesanato per- Um conhecimento Médio das Ciências Naturais permite a
mite a você fazer um peso de papel para sua mãe. Com um você fazer experimentos simples, como ligar uma bateria
nível Bom em Artesanato, você pode criar itens com uma a uma lâmpada elétrica, brincar com ímãs e reconhecer a
qualidade amadora para o deleite de sua família e amigos. Ar- maioria das plantas locais. Um Bom Nível de Habilidade em
tesanato Ótimo pode ser usado para criarartigos comerciali- Ciências Naturais significa que você está a par das teorias

C O M M E 73 I L F A U T
científicas mais populares sobre magnetismo, eletricidade e minar os resultados das apostas. Afinal, muita coisa aconte-
física: você poderia ensinar as crianças da região. Uma Habi- ce em volta das mesas de altíssimo cacife em Monte Carlo e
lidade Ótima significa que você está no mesmo patamar de Biarritz, e você não vai querer atravancar sua Aventura Re-
um professor de internato britânico. Um NH Excepcional creativa com um monte de partidas de carteado. Eis como
em Ciências Naturais equipara seu conhecimento ao de um fazer. Peça ao Jogador para colocar a aposta dele na mesa e
professor universitário. Uma Habilidade Extraordinária em pegar uma carta do Baralho da Sorte. Se a carta em questão
Ciências Naturais coloca você entre os principais estudiosos for de um dos naipes indicados para o Nível de Habilidade
do magnetismo, da física, botânica ou zoologia: seu nome é da personagem, o Jogador ganhará a mesa; senão, as apostas
reconhecido e você costuma escrever Artigos Importantes. irão para a Banca ou para uma PdA, como for o caso. Se hou-
ver uma PdA na partida, faça-apegar uma carta também. Se
Condução [♣] a PdA e o Jogador pegarem cartas de naipe idêntico, mesmo
É a habilidade de conduzir um veículo motorizado, como que seja um dos naipes vencedores, as apostas irão para a
uma automotriz ou um velocípede a vapor (a Habilidade Pi- Banca. Se os naipes forem diferentes, mas ambos vencedo-
lotagem continua a ser empregada para controlar qualquer res, PdA e Jogador dividirão a mesa nessa rodada.
veículo aéreo, aquático ou terrestre maior que uma automo-
triz). No nível Médio, você mal consegue manobrar, avan- NH em Jogatina Leva a Mesa com:
çar e dar marcha a ré, e você acha que sabe onde colocar a EXC-EXT. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ♠♦♣
água. Com NH Bom, você sabe quais ferramentas usar, sabe BOM-OTI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ♦♣
se abastecer com combustível e carvão e consegue até mes- MED-FRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ♣
mo fazer reparos simples, como cuidar de pneus e parafusos
soltos. Com nível Ótimo, você não perde o controle em es-
Liderança [♥]
tradas ruins, consegue fazer curvas bem fechadas e parar o Sua habilidade para comandar e liderar pessoas. A Li-
veículo sem derrapar; você consegue até mesmo consertar derança é mais útil para militares, políticos, reformadores
alguns problemas na caldeira. Com NH Excepcional, você e afins. Abrange a capacidade de inspirar os outros através
participa regularmente das corridas vespertinas do clube de oratória, gestos dramáticos, atitude e caráter. Liderança
automotivo da cidade. Com NH Extraordinário, você é um Média permite a você administrar com sucesso um negó-
piloto conhecido nos quatro cantos de Nova Europa. cio pequeno ou liderar tropas em tempo de paz. Liderança
Boa significa que você consegue liderar soldados em bata-
Invenção [♦] lha e fazê-los confiar no seu discernimento. Um NH Ótimo
Sua facilidade para conceber novos dispositivos ma- em Liderança implica uma pequena reputação como líder:
ravilhosos e veículos espantosos (embora você precise de as pessoas seguem você pela força do seu nome. Liderança
um NH adequado em Mecânica para construí-los de fato). Excepcional permite a você liderar exércitos em batalha e
Invenção Média significa que você é capaz de criar coisas inspirar as pessoas a dar o melhor de si mesmas (melho-
simples e úteis, como cabides para calças ou suspensórios rando em 1 nível as Habilidades dos seus subordinados
que não folgam. Invenção Ótima significa que você tem nas tarefas que você precisa que eles desempenhem). Lí-
ideias interessantes que podem ser vendidas com um lucro deres Extraordinários são como Bismarck ou Grant: seus
razoável. Um NH Excepcional em Invenção significa que homens iriam até o Inferno por eles, e sua mera presença
você tem algumas patentes boas e cria mecanismos utiliza- inspira os seguidores a fazer o impossível (melhorando em
dos por muitas pessoas. Invenção Extraordinária significa 2 níveis as Habilidades dos subordinados nas tarefas espe-
que você cria coisas incríveis, como submarinos, Fortale- cíficas que você precisa que desempenhem!).
zas Terrestres e o telefone!
Mesmerismo [♥]
Jogatina [♦] Sua capacidade de usar a “ciência mental” do doutor
Sua perícia com os jogos de azar nas mesas e nas pistas: Anton Mesmer para “hipnotizar” outras pessoas e sub-
cartas, roleta, corridas de cavalos com handicap e – Deus nos metê-las à sua vontade. Com Mesmerismo Médio, você
livre! – dados. Com Habilidade Média nesta área, você se sai pode deixar alguém ligeiramente tonto. Com um Nível de
bem jogando com os vizinhos por centavos. Um nível Bom Habilidade Bom, você pode colocar pessoas num transe
faz de você o rei do carteado na região. Com nível Ótimo, leve e fazê-las responder a perguntas simples e inofensi-
você pode jogar e apostar profissionalmente. Com um NH vas. Com um nível Ótimo, elas farão os números de salão
Excepcional, você se garante diante de qualquer jogador usuais: latir como um cachorro etc. Mesmerismo Excep-
de renome internacional. Com Habilidade Extraordinária, cional consegue fazer com que as damas tirem a roupa e
você é praticamente o deus dos jogadores e costuma ser con- obriga as pessoas a fazerem coisas que elas normalmen-
vidado a participar dos jogos de maior cacife do mundo. te não fariam, desde que não corram risco de vida. Com
Nota Especial: Embora eu tenha incluído regras para al- um NH Extraordinário, você é o Mentalista Supremo que
guns jogos de azar na seção “Cartas claras sobre a mesa”, p. manda as pessoas roubarem bancos, pularem de pontes e
76, também apresento aqui um sistema rápido para deter- atirarem no czar!

C O M M E 74 I L F A U T
Três Novos Papéis & Profissões

T
rês novas Personagens Dramáticas para Suas Aven- lidades, talvez até mesmo uma chance de frustrar
turas Recreativas: os planos de um monstro como Moriarty e sua Liga
advogado Mundial do Crime!
Naipes Fortes: Briga, Contatos, Percepção
Você estudou muito na Universidade e filiou-se à
Diário:Bilhetes de seus informantes. Pistas para
Ordem dos Advogados numa idade em que a maio-
investigar. Observações importantes.
ria dos seus amigos ainda estava escolhendo um
Razão para Estar Aqui: Para perseguir
caminho. Desde então, você dominou as
malfeitores e levá-los à Justiça! Talvez
sutilezas do Direito. Sua capacidade
um deles esteja escondido neste gru-
de argumentação aguçada fez você
po agora mesmo, ou quem sabe um
vencer muitos casos no Tribunal.
criminoso à espreita tenha planos
Muitas vezes, sua habilidade é
malignos para um de seus com-
a única coisa que separa uma
panheiros!
vida inocente do abraço gélido
da forca. sacerdote
Até aqui, você escolheu Nesta época de grande
o que você considera ser agitação e desordem, é de-
a mais nobre das causas: ver da Igreja ser um farol
defender pessoas acusa- de Caridade e Benevolên-
das injustamente e cuidar cia, para guiar as ovelhas
para que se faça Justiça a perdidas que mais pre-
qualquer custo. cisam de direção. Por-
Naipes Fortes: Caris- tanto, você decidiu mi-
ma, Educação, Percepção nistrar para aqueles que
Diário: Notas sobre seu precisam, seja alimen-
último caso. Jurisprudên- tando os pobres, crian-
cia importante e pertinen- do organizações contra
te ao seu trabalho atual. maus-tratos ou simples-
Razão para Estar Aqui:
mente espalhando a Pala-
Para que a Justiça seja fei-
vra e aqueles que já estão
ta, é claro. Talvez um dos ou-
prontos para recebê-la. Tal-
tros membros do grupo seja
vez um dia você se torne um
um cliente com problemas. Ou
missionário no exterior, mas,
talvez estejam trabalhando com
por ora, há sofrimento suficien-
você para libertar um inocente
te precisando de atenção em seu
acusado erroneamente.
próprio quintal.
inspetor de polícia Naipes Fortes: Coragem, Educação,
Nem todos os agentes da lei são os ra- Percepção
nhetas tapados retratados nas páginas da revista Diário: Meditações sobre o Mundo. Compromis-
Strand. Você é uma das exceções, treinado para usar sos. Orações pessoais.
os métodos mais modernos da incipiente ciência Razão para Estar aqui: O Todo-poderoso escreve
da Criminologia, com uma base sólida em Direito: por Linhas Tortas, e seu destino está entre elas. Talvez
um policial moderno nos moldes de Robert Peel e você esteja aqui para cuidar de um membro do seu
Allan Pinkerton. Agora que embarcou em sua car- rebanho ou para conseguir apoio para uma causa im-
reira, você busca um desafio à altura de suas habi- portante.

C O M M E 75 I L F A U T
Cartas Claras sobre a Mesa
A mensagem das Cartas é clara. Confie nas Cartas, Luke.

F
ora o aspecto social da coisa, por que usamos cartas no Grande Jogo, em vez de dados?
Porque as cartas, meu amigo, são mais úteis do que os dados. Os dados são linea-
res. Fazem uma única coisa: produzem números aleatórios. Na melhor das hipóte-
ses, o uso de combinações de dados pode gerar valores de maneiras novas e interessantes,
mas, no fim das contas, você só terá números.
regra fácil de As cartas, por sua vez, são o que costumo chamar de holográficas: não apenas produ-
uíste sem trunfo zem números (o equivalente a um dado de 14 lados no qual um Ás pode valer tanto 1
quanto 13 e os Coringas valem qualquer coisa), mas também permitem uma projeção
para quatro de valores baseados nos naipes, em combinações de cartas e até mesmo nas ilustrações.
jogadores Com essas dimensões extras, as cartas podem fazer muito mais do que um dado, por
Divida os jogadores mais bem-feito que este seja.
em duas duplas. Dis- Portanto, vamos dar uma olhada no que você pode fazer com suas cartas, ok?
tribua treze cartas para a variante do tarô
cada jogador. O cartea-
dor joga a primeira car- Em vez de usar cartas de jogo comuns, você pode usar cartas de Tarô (aquelas cartas
ta, virada para cima. O coloridas usadas para ler a sorte), com os naipes representados por Moedas (Ouros) [♦],
jogo segue no sentido Espadas [♠], Bastões (Paus) [♣] e Taças (Copas) [♥], respectivamente. Mas o grande
horário, com cada um destaque das cartas de Tarô vai para os Arcanos Maiores: f especiais, como o Imperador, a
tentando jogar uma car- Roda da Fortuna, o Louco e o Mundo. Atribuindo significados às cartas dos Arcanos, você
ta do mesmo naipe da pode torná-las especiais em seu Jogo. Por exemplo:
primeira. Se não tiver Enamorados . . . . . . . . . . . . . . . O Jogador pode fazer uma PdA se apaixonar por ele
cartas desse naipe, o jo- Morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Jogador pode escapar da morte uma vez
gador é obrigado a des- Julgamento . . . . . . . . . . . . . . . . Permite ao Jogador voltar atrás numa escolha ruim
cartar uma carta. Quem Roda da Fortuna. . . . . . . . . . . . O Jogador pode saber qual será o resultado de uma ação
tiver jogado a carta mais Louco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Jogador faz uma Trapalhada e provoca um desastre
alta do naipe em ques- Mágico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Jogador ganha um Artefato raro, à escolha do Anfitrião
tão vencerá a mão. As
Estas são apenas algumas ideias: tente outras de sua própria criação, pois sua inter-
cartas usadas são des-
pretação dos significados darão um toque mais pessoal ao seu Jogo.
cartadas, e o vencedor
joga uma nova carta, um sistema aleatório de criação de personagens do anfitrião
cujo naipe os demais te-
Vocês podem usar este método para determinar as características de Personagens do An-
rão de seguir.
fitrião que vocês talvez encontrem durante o jogo. Este sistema é similar àquele usado para
determinar os significantes na leitura do Tarô e usa apenas as cartas de corte do baralho.
Primeira Carta: Raça da Personagem
[♦] = Dragão [♣] = Humano [♥] = Fada [♠] = Anão
Segunda Carta: Caráter Visível da Personagem

 Trabalhadora,  Organizadora, direta,  A


batalhadora, insípida, focada em metas,
Raciocínio rápido,
 Amiga, franca,
REI pouco criativa RAINHA ativa VALETE sabe se comunicar ÁS
trabalha em equipe

 Cheia de energia,  Gostos dispendiosos,  Insegura, hesitante, A


exibida, divertida, vaidosa, ególatra, uma extremamente  Esperta, espirituosa,
a alma da festa
REI sabichona RAINHA estrela VALETE tímida ÁS
 Romântica,  Maternal, doméstica,  A
enamorada e amorosa &
Imatura& infantil,
 Alegre, madura,
REI sonhadora RAINHA incentivadora VALETE faz muita birra ÁS
adorável de verdade

 Dominadora,  Duas caras,  Atraente e A


decidida, enérgica, conspiradora, paqueradora, um  Honesta, direta&
confiável
REI metida a valente RAINHA traiçoeira, sorrateira VALETE pouco superficial ÁS

C O M M E 76 I L F A U T
Terceira Carta: Motivações Internas da Personagem
Agressiva, Amigável, gosta de Mercenária, Impiedosa,
♣ aguerrida, violenta,
pavio curto
♥ ajudar, carinhosa &
franca
♦ lógica, reservada,
calculista
♠ ambiciosa,
traiçoeira
leitura da sorte
Use suas cartas para prever o futuro (bem... mais ou menos). Comece separando as figuras de
corte num monte próprio.Em seguida, distribua as cartas numa fileira de sete, sendo cinco do
baralho que sobrou e as duas últimas do monte das figuras. Cada naipe tem um significado:
Espadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Guerra, conflito, batalha
Copas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Amor, romance, emoção, paixão
Paus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Viagem, mudança, movimento, crescimento
Ouros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Finanças, dinheiro, fortuna, política
Coringas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Grande mudança, confusão, reviravolta
O encadeamento das cartas determina o propósito da aventura que está por vir.
Ao enfileirar as cartas, lembre-se de que as duas últimas cartas devem vir do monte
das figuras. Use o sistema aleatório de criação de PdAs (descrito na p. 76).

SITUAÇÃO OBJETIVO DA 1º DESAFIO 2º DESAFIO 3º DESAFIO SEUS ALIADOS ADVERSÁRIOS


SITUAÇÃO
Então, por exemplo, uma leitura como esta:
2 5 4 7 4  
    
DOIS CINCO QUATRO SETE QUATRO VALETE REI
SITUAÇÃO OBJETIVO DA 1º DESAFIO 2º DESAFIO 3º DESAFIO SEUS ALIADOS ADVERSÁRIOS
SITUAÇÃO
poderia significar uma situação romântica, na qual o objetivo é o cresci-
mento pessoal; o primeiro desafio para o romance é uma longa jornada, o se-
gundo desafio é acumular grande fortuna e o terceiro desafio é travar alguma
grande batalha. Em nossa busca, teremos a ajuda de uma pessoa de raciocínio
rápido e sofreremos a oposição de um valentão enérgico e dominador.
Pois bem... Os jogadores estarão envolvidos num grande romance, mas um ofi-
cial de cavalaria enérgico e metido a valente também deseja a mão da donzela. Daí
eles embarcam para a Austrália, para fazer fortuna com o garimpo de ouro, mas o
oficial malévolo vai segui-los, tentar roubar o ouro e matá-los numa grande batalha!
Uau! Aventura instantânea, tudo nas cartas!
está nas cartas!
Como você pode ver, as cartas oferecem muito mais possibilidades do que meros da-
dos. Você não somente pode ler a sorte, como também planejar aventuras, criar persona-
gens, resolver conflitos e gerar números aleatórios. Você também pode usá-las para jogar
carteado, como Uíste e Pôquer, enquanto espera chegar sua vez de subir ao Palco. E não
somente isso, mas você também pode comprar um baralho estiloso para cada ocasião.

ideia legal
Agradecimentos especiais para o cavalheiro apelidado Kessel Run, que me enviou esta regra variante para lidar
com as cartas. Kessel guarda quatro cartas para seu vilão principal e, para cada ação realizada por uma Personagem
do Anfitrião secundária, ele vira uma carta aleatória do topo do Baralho da Sorte. Desse modo, seus rufiões são mais
aleatórios, enquanto seus Vilões jogam com mais cuidado!

C O M M E 77 I L F A U T
Danos Terríveis & Grandes Perigos
um sistema alternativo de dano & resolução de ções e ler automaticamente o dano na tabela, sem atenuá-lo
nem agravá-lo de acordo com o grau de sucesso.
feitos para castelo falkenstein
Embora o sistema de resolução de Castelo Falkenstein fun-
2(a): uma nota sobre o dano dos feitiços
cione bem do jeito que está, não demorou muito para que O estragoprovocado por um feitiço se baseia, como no
meu designer interior começasse a tentar lapidá-lo, buscando caso de qualquer outro ataque, em seu Nível de Dano (como
modos de aprimorar os mecanismos. Como eu poderia me livrar já visto). Só se aplica aos feitiços marcados com [].
dos números? Como poderia torná-lo mais cinematográfico? E como
poderia me livrar do maldito “sistema de dano baseado em Pontos de
energia táumica
Vida que exige que os jogadores registrem todo e qualquer ferimen- NÍVEL DE DANO NECESSIDADE DE
to”?Sofri um tempão com isso (tudo bem, foi só uma semana, A 2
eu acho, no máximo) até descobrir a solução. Eureca! B 4
O resultado é este sistema opcional que incorpora todos C 8
os elementos da Resolução de Feitos numa tabela simples que D 12
diz se você teve sucesso ou não e, se não teve, o valor das car- E 16
tas que você precisará baixar para ter pelo menos uma chance. F 20
O Dano também foi simplificado: as armas agora causam es-
trago segundo Níveis de Dano (de A a F). Cruze a arma com a
2(b): uma nota sobre blindagem
Parte do Corpo e a Compleição Física do alvo para determinar Nesta regra variante de Falkenstein, a blindagem pessoal é
instantaneamente o resultado. do tipo tudo ou nada: ou detém a arma, ou não.
São três os tipos de blindagem pessoal:
passo um: você conseguiu? [tabela 1] ›› LEVE: couro, tecido balístico leve, madeira, escamas de
Comece comparando seu Nível de Habilidade (coluna da dragão pequenas. Detém qualquer ataque até o Nível B.
esquerda da Tabela 1A) com o Nível de Habilidade, Alcance ou ›› MÉDIA: malha metálica, placas leves, tecido balístico pri-
Dificuldade do Feito no topo da tabela (uma linha para cada). mitivo, escamas de dragão médias.Detém qualquer ataque
O resultado é como você se saiu. até o Nível C.
• Há cinco níveis de resultado: Sucesso Decisivo, Sucesso ›› PESADA: placas de ferro, escamas de dragão grandes, tecido
Completo, Sucesso Parcial, Falha e Trapalhada. balístico moderno.Detém qualquer ataque até o Nível D.
›› Opcional:Você pode ignorar as gradações de sucesso ou fa- Se o Nível de Dano for maior que o Nível de Proteção da
lha e simplesmente ler a tabela como sucesso ou falha. Se o blindagem, o dano penetrará a armadura. Ou seja, a blindagem
resultado for cinzento, você terá falhado; se não, você terá Média detém ataques de nível A a C, mas os níveis D, E e F a
obtido sucesso. penetram. Neste sistema, a blindagem não vai se degradando
nem há penetração parcial: como já foi dito, é tudo ou nada.
passo dois: determine o dano [tabelas 2 & 3] 2(c): uma nota sobre partes do alvo & pontaria
Comece descobrindo qual é o Nível de Dano da arma (a
maioria das possibilidades de armas está na Tabela 2 da p. 79, Temos três novas maneiras de lidar com “Partes do Alvo”
e há uma lista mais completa de armas de fogo na p. 81). Ago- e a “Pontaria”.
ra, vamos para a Tabela 3. • Opção 1: Em geral, para acertar o corpo de alguém, é neces-
• No caso de um Sucesso Completo, cruze a Parte do Corpo/ sário igualar ou superar a dificuldade básica. Acertar um
Compleição Física do alvo com o Nível de Dano da arma membro aumenta a dificuldade em um Nível. Acertar uma
utilizada. Esse é o dano causado pelo ataque. parte Crítica do alvo aumenta a dificuldade em dois Níveis.
• No caso de um Sucesso Parcial, faça a mesma coisa, mas • Opção 2: Considere que todos os ataques se dirigem ao cor-
atenue o Nível de Dano em uma categoria (por exemplo, po do alvo, a não ser que se aponte para uma outra parte,
de C para B). Não há como atenuar o Nível A de dano: se mas o Anfitrião tem a opção de apontar o ataque para qual-
for dessa categoria, o ataque continuará nela mesmo com quer ponto que não seja uma parte Crítica, para preservar
um Sucesso Parcial. a continuidade dramática da história. Em geral, esta é mi-
• No caso de um Sucesso Decisivo, faça a mesma coisa, mas nha opção preferida.
agrave o Nível de Dano em uma categoria (por exemplo, de • Opção 3: Use um sistema aleatório para determinar a parte
B para C). O nível F já é o máximo de dano que um ataque atingida. Neste caso, pegue aleatoriamente uma carta do Ba-
pode provocar, mesmo com um Sucesso Decisivo. ralho da Sorte e, havendo mais de uma possibilidade, use o
›› Opcional:Você pode, se quiser, ignorar a gradação de dano bom senso para decidir qual membro foi atingido.
(parcial, completo etc.). Nesse caso, é só cruzar as informa- ♦ Cabeça | ♥ Corpo | ♠ Pernas | ♣ Braços

Cont. na p. 80

C O M M E 78 I L F A U T
F
E
C
A

D
2

F
E
B
A

C
D
5
4

8
7
4
3
2
1
8-9
6-7
1-3
pisoteamento

10 ou +
fogo EXC/EXT

como Nível de Dano F.

9
8
5
4
3
2
res, quedas > 10 m, colisões
Espadas pequenas, pistolas
clavas e porretes, “salva-vidas”

F
E
B
A

C
D
Espadas pesadas, fuzis leves,
atropelamento por automotriz

de dano original
Punhais e adagas, alfinetes de

... e de volta outra vez


da maioria dos animais, pancadas,

9
7
5
4
3
flechas, quedas > 3 m, a mordida de

10
pistolas de grosso calibre, lanças,
pequenas, flechas grandes, fogo,
chapéu grandes, facas, baionetas,

conversão do sistema
animais muito grandes, reciprocado-
lhas, dardos, tropeções, a mordida

FERIMENTOS (DECISIVO) NÍVEL DE DANO


animais grandes, pancadas EXC/EXT,

ácido, choque elétrico, quedas > 6 m,


Alfinetes de chapéu pequenos, agu-

hálito de fogo FRA/MED, a mordida de

na tabela abaixo o novo Nível de Dano.


hálito de fogo BOM/OTI, quedas > 15 m
Fuzis de grosso calibre, espingardas,
níveis de dano
ataques comuns &

magamento, quedas > 30 m, hálito de


Estilhaços de artilharia, bombas, es-

NÍVEL PARCIAL COMPLETO DECISIVO


ataque desferido por armas veiculares
pela arma que você quer usar. Confira
cisivo para os Ferimentos provocados

A partir deste ponto, considere qualquer


Na tabela original, encontre o valor De-
1 nível de habilidade, alcance ou dificuldade do feito

C O M M E
Fraco Médio Bom Ótimo Excepcional Extraordinário Espantoso
[Queima-Roupa] [1/4 do alcance] [1/2 do alcance] [alcance normal] [dobro do alcance] [triplo do alcance] [1 em 1 milhão]
[Feito Fácil] [feito médio] [feito difícil] [f. muito difícil] [f. exc. difícil] [f. ext. difícil] [feito impossível]
FALHA: pode ser TRAPALHADA: pode TRAPALHADA: pode TRAPALHADA: pode
TRAPALHADA: pode TRAPALHADA: pode

79
SUCESSO PARCIAL: 2 4 6 8 10 
transformada em ser transformada ser transformada ser transformada
transformada ser transformada em
FRA você consegue fazer,    ser 
Sucesso Parcial em Sucesso Parcial  em Sucesso Parcial em Sucesso Parcial
em Sucesso Parcial Sucesso Parcial com RAINHA
mas não muito bem. DOIS QUATRO SEIS DEZ
com mais um: com mais um: com mais um: com mais um:
OITO com mais um: mais um:
TRAPALHADA: pode
FALHA: pode ser TRAPALHADA: pode TRAPALHADA: pode TRAPALHADA: pode

I L
SUCESSO PARCIAL: SUCESSO PARCIAL: 2 4 6 ser transformada 8 10
transformada em ser transformada ser transformada ser transformada em 
MED você consegue fazer, você consegue fazer,    em Sucesso Parcial 
Sucesso Parcial em Sucesso Parcial em Sucesso Parcial Sucesso Parcial com DEZ
mas não muito bem. mas não muito bem. DOIS SEIS jogando com mais OITO
com mais um: com mais um: QUATRO com mais um: mais um:
um:
FALHA: pode ser TRAPALHADA: pode pode TRAPALHADA: pode
SUCESSO COMPLETO: SUCESSO PARCIAL: SUCESSO PARCIAL: 2 4 TRAPALHADA: 6 8
transformada em ser transformada ser transformada transformada em
BOM você alcança seu você consegue fazer, você consegue fazer,  ser 
Sucesso Parcial  em Sucesso Parcial  em Sucesso Parcial Sucesso Parcial com
objetivo muito bem. mas não muito bem. mas não muito bem. OITO

F A U T
com mais um: DOIS com mais um: QUATRO com mais um: SEIS mais um:
FALHA: pode ser pode TRAPALHADA: pode
SUCESSO COMPLETO: SUCESSO COMPLETO: SUCESSO PARCIAL: SUCESSO PARCIAL: 2 TRAPALHADA: 4 6
transformada em ser transformada transformada em
OTI você alcança seu você alcança seu objetivo você consegue fazer, você consegue fazer,  ser 
Sucesso Parcial  em Sucesso Parcial Sucesso Parcial com

NÍVEL DE HABILIDADE
objetivo muito bem. muito bem. mas não muito bem. mas não muito bem. SEIS
com mais um: DOIS com mais um: QUATRO mais um:
SUCESSO DECISIVO: FALHA: pode ser TRAPALHADA: pode
SUCESSO COMPLETO: SUCESSO COMPLETO: SUCESSO PARCIAL: SUCESSO PARCIAL: 2 4
você faz o que transformada em transformada em
EXC você alcança seu objetivo você alcança seu objetivo você consegue fazer, você consegue fazer,  ser 
pretendia com Sucesso Parcial Sucesso Parcial com
muito bem. muito bem. mas não muito bem. mas não muito bem. QUATRO
facilidade. com mais um: DOIS mais um:
SUCESSO DECISIVO: FALHA: pode ser
SUCESSO DECISIVO: SUCESSO COMPLETO: SUCESSO COMPLETO: SUCESSO PARCIAL: SUCESSO PARCIAL: 2
você faz o que transformada em
EXT você faz o que pretendia você alcança seu objetivo você alcança seu objetivo você consegue fazer, você consegue fazer, 
pretendia com Sucesso Parcial com
com facilidade. muito bem. muito bem. mas não muito bem. mas não muito bem. DOIS
facilidade. mais um:
Nota: Considere apenas os valores das cartas aqui ilustradas, e não seu naipe.
3 parte do corpo ou compleição física do alvo
Corpo Corpo Corpo Membro Membro Membro Crítica* Crítica*
[FRA-MED] [BOM-OTI] [EXC-EXT] [FRA-MED] [BOM-OTI] [EXC-EXT] [FRA-BOM] [OTI-EXT]
FERIDO: você per- FERIDO: você per- FERIDO: você per-
severa, mas todas ESFOLADO: você ESFOLADO:você ESFOLADO:você ESFOLADO:você ESFOLADO:você severa, mas todas severa, mas todas
A as suas Habilidades sente dor, mas não sente dor, mas não sente dor, mas não sente dor, mas não sente dor, mas não as suas Habilidades as suas Habilidades
são reduzidas em é nada sério. é nada sério. é nada sério. é nada sério. é nada sério. são reduzidas em são reduzidas em
um nível. um nível. um nível.
FERIDO: você per- FERIDO: você per- FERIDO: você per- INCAPACITADO: FERIDO: você per-
severa, mas todas severa, mas todas ESFOLADO:você severa, mas todas ESFOLADO:você ESFOLADO:você você está no chão, severa, mas todas
B as suas Habilidades as suas Habilidades sente dor, mas não as suas Habilidades sente dor, mas não sente dor, mas não não consegue
se levantar nem as suas Habilidades
são reduzidas em são reduzidas em é nada sério. são reduzidas em é nada sério. é nada sério. fazer nada para sair são reduzidas em
um nível. um nível. um nível. dessa situação. um nível.
INCAPACITADO: INCAPACITADO: INCAPACITADO:
nível de dano

você caiu e não FERIDO: você per- FERIDO: você per- você está no chão, FERIDO: você per- MORTALMENTE você está no chão,
consegue levantar, severa, mas todas severa, mas todas
as suas Habilidades as suas Habilidades não consegue severa, mas todas ESFOLADO:você
as suas Habilidades sente dor, mas não FERIDO: você não consegue
C nem fazer nada se levantar nem desfalece e dá seu se levantar nem
para sair dessa são reduzidas em são reduzidas em são reduzidas
fazer nada para sair um nível. em é nada sério. último suspiro. fazer nada para sair
situação. um nível. um nível. dessa situação. dessa situação.
INCAPACITADO: você per- INCAPACITADO: INCAPACITADO:
MORTALMENTE você está no chão, FERIDO:
severa, mas todas você está no chão, você está no chão, FERIDO: você per-
severa, mas todas MORTALMENTE MORTALMENTE
FERIDO: você não consegue não consegue
as suas Habilidades se levantar nem não consegue as suas Habilidades FERIDO: você FERIDO: você
D desfalece e dá seu se levantar nem se levantar nem desfalece e dá seu desfalece e dá seu
último suspiro. são reduzidas
fazer nada para sair um nível. em são reduzidas
fazer nada para sair fazer nada para sair um nível. em último suspiro. último suspiro.
dessa situação. dessa situação. dessa situação.
INCAPACITADO: INCAPACITADO: INCAPACITADO: MORTO INSTANTA-
MORTALMENTE MORTALMENTE você está no chão, MORTALMENTE você está no chão, você está no chão, NEAMENTE: você MORTALMENTE
E FERIDO: você
desfalece e dá seu
FERIDO: você
desfalece e dá seu
não consegue
se levantar nem
FERIDO: você
desfalece e dá seu
não consegue
se levantar nem
não consegue
se levantar nem
morre em questão
de segundos, feito
FERIDO: você
desfalece e dá seu
último suspiro. último suspiro. fazer nada para sair último suspiro. fazer nada para sair fazer nada para sair em pedaços ou último suspiro.
dessa situação. dessa situação. dessa situação. dilacerado.
MORTO INSTANTA- INCAPACITADO: MORTO INSTANTA- MORTO INSTANTA-
NEAMENTE: você MORTALMENTE MORTALMENTE MORTALMENTE MORTALMENTE você está no chão, NEAMENTE: você NEAMENTE: você
F morre em questão
de segundos, feito
FERIDO: você
desfalece e dá seu
FERIDO: você
desfalece e dá seu
FERIDO: você
desfalece e dá seu
FERIDO: você
desfalece e dá seu
não consegue
se levantar nem
morre em questão
de segundos, feito
morre em questão
de segundos, feito
em pedaços ou último suspiro. último suspiro. último suspiro. último suspiro. fazer nada para sair em pedaços ou em pedaços ou
dilacerado. dessa situação. dilacerado. dilacerado.
* Define-se ataque a uma parte Crítica do corpo como um ataque dirigido especificamente à cabeça do alvo ou a um destes pontos vitais: garganta, coração, olho adentro até o cérebro.

CONT. DA PÁG. 78
passo três: baixe uma carta para MORTALMENTE FERIDO: você está morrendo aos
poucos. Revele uma carta do Baralho da Sorte. Se for de
escapar do dano Espadas, você terá PERECIDO (25%). se for ferido,
Escapardo Dano permite a você reduzir a quantidade incapacitado ou mortalmente ferido novamente,
de dano sofrida caso seja atingido. A tentativa de Escapar- você terá perecido.
se baseia numa única carta escolhida pelo Jogador dentre Exemplo: Sou atingido no corpo por um sabre (Nível D) e não
as que formam sua Mão da Sorte: consigo Escapar do Dano. Minha Compleição Física tem NH BOM.
Agora estou Incapacitado. Se levar mais um golpe, estarei Mor-
Qualquer Figura. . . . . atenue o Dano em um nível . . . . . . (22% de chance)
talmente Ferido.
Qualquer Ás . . . . . . . . atenue o Dano em dois níveis. . . . . (7% de chance)
Qualquer Coringa . . . atenue o Dano em três níveis. . . . . (3% de chance) passo cinco: tente escapar
Exemplo: Você leva um tiro de pistola, cujo Nível de Dano é C. de infortúnios &trapalhadas
Mas você baixa um Valete para Escapar do Dano. O estrago é ate- As tentativas de Escapar dão a você a possibilidade de
nuado para o Nível B. contornar coisas ruins que acontecem aleatoriamente.
passo quatro: qual foi a gravidade Baseiam-se no Nível de Habilidade de sua Personagem
do ferimento? Dramáticacom a perícia em questão e são resolvidas re-
velando-se uma única carta do Baralho da Sorte. Se você
Verifique a Tabela 3 (p. 80) para descobrir qual foi a gra- conseguirá ou não Escapar é algo que dependerá do naipe
vidade da coisa. da carta revelada. Exemplo: Estou tentando arrombar uma fecha-
se a tabela disser: dura e o resultado é uma Trapalhada. Minha Habilidade Mecânica
FERIDO:Você sente dor e indisposição. Reduza todas as é Boa, então preciso conseguir uma carta de Paus ou Ouros para
suas Habilidades em um nível. se for ferido novamente,
Escapar dos efeitos da Trapalhada.
você ficará incapacitado.
NH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Escapa com:
INCAPACITADO: Você não consegue se mover nem atacar. EXC-EXT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ♠♦♣
Fique onde está e a dor. se for ferido ou incapacitado BOM-OTI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ♦♣
novamente, você ficará mortalmente ferido. MED-FRA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ♣

C O M M E 80 I L F A U T
a lista um tanto completa de armas de fogo (1830-1876)
ALCANCE CÂMARA OU FERIMENTOS FERIMENTOS FERIMENTOS NÍVEL DE
TIPO EFETIVO/MÁX. CARGA TOTAL OCULTABILIDADE* (PARCIAL) (COMPLETO) (DECISIVO) PREÇO
DANO
PISTOLAS
Derringer .22* 10/25 2 B 1 2 3 A 4m
Derringer .36* 10/25 2 B 2 3 4 B 5m
Derringer .44* 25/60 2 B 3 4 5 C 8m
* Colt, Smith & Wesson, Adams, Remington. Escolha a marca. Todo mundo fabrica esse modelo.
Webley nº 1 .577 (civil) 30/100 6 P 5 6 7 D 20m
Webley Mark 1 .455 (militar) 40/150 6 P 4 5 6 D 30m
Pistola .44 40/80 5 P 4 5 6 D 5m
Revólver de bolso Beaumont-Adams .32 25/80 5 B 3 4 5 C 10m
Pimenteira Robbins & Lawrence .31 25/60 5 P 2 3 4 B 20m
Revólver-soqueira “Knuckleduster” Reide .22 5/10 7 B 1 2 3 A 7m
Pistola-baioneta “Dagger Pistol” Frank Wesson .41 40/80 2 P 3 4 5 C 7m
Pimenteira Allen & Thurber .36 40/80 6 P 3 4 5 C 20m
Pimenteira de Ação Dupla .34 25/60 6 P 3 4 5 C 20m
Revólver Smith & Wesson nº 1 .22 40/80 7 P 2 3 4 B 6m
Smith & Wesson 1861 nº 2 .32 50/100 6 P 3 4 5 C 9m
Colt 1861 Navy .36 50/200 6 P 3 4 5 C 14m
Pistola Volcanic 1860 .38 50/80 9 P 3 4 5 C 9m
Colt 1848 Dragoon .44 50/400 6 P 4 5 6 D 14m
Colt 1860 Army .44 50/300 6 P 4 5 6 D 16m
Remington 1863 Army .44 50/250 6 P 4 5 6 D 13m
Remington 1875 Army nº 3 .44 50/300 6 P 4 5 6 D 16m
Colt 1873 Army de Ação Simples .45* 50/400 6 P 4 5 6 D 20m
* vulgo Peacemaker [Pacificadora]
Smith & Wesson 1869 nº 3 .45 50/100 6 P 4 5 6 D 30m
Revólver Adams Dragoon .493 40/80 5 P 5 6 7 D 20m
Pistola LeMat Horse (c/ espingarda*) .42 60/100 7 (1)* P 3/5* 4/6* 5/7* B/E* 60m
LeMat Dragoon (c/ espingarda*) .42 50/80 9 (1)* P 4/5* 5/6* 6/7* C/E* 60m
* Ao contrário dos revólveres comuns, nos quais o tambor gira apenas em torno de um cano raiado, o tambor do LeMat rotaciona também ao redor de um cano de alma lisa com capacidade para um cartucho. O segundo valor é o do cartucho.
RECIPROCADORES
Allen & Thurber Modelo 1870 .32 40/80 6 P 3 4 5 C 40m
Allen & Thurber Modelo 1871 .44 50/80 4 P 4 5 6 D 45m
FUZIS & CARABINAS
Bayerisches Werder-Gewehr M. 1869 15 mm 400/800 1 N 5 5 7 D 20m
Fuzil de Agulha M. 1849 Prussiano 15,4 mm 200/600 1 N 6 6 8 E 20m
Chassepot Modelo 1866 Francês 11 mm 400/1.000 1 N 5 5 7 D 20m
Mauser 1871 Prussiano 11 mm 600/1.200 1 N 5 5 7 D 35m
(ação por ferrolho)
Martini-Henry .450 (ação por alavanca) 300/550 1 N 5 5 7 D 30m
Fuzil Enfield M. 1857 .577 100/300 1 N 6 6 8 E 18m
Snider-Enfield .577 Convertido (trava de culatra móvel) 225/450 1 N 6 6 8 E 18m
Springfield Modelo 1858 [ML] .58 90/240 1 N 5 6 7 D 18m
Carabina de retrocarga .50 a .56* 200/400 1 C 6 7 8 E 25 a 30m
* Spencer, Gwyn & Campbell, Gibbs, Gallagher, Sharps & Hankins, Sharps, Burnside, Smith, Jenks, Hall, Starr, Peabody (Europa) ou Ball. Escolha uma marca. São todas similares.
Fuzil Henry 1862 .44 200/400 16 C 4 5 6 D 42m
Carabina Volcanic 1857 .44 100/300 12 C 3 4 5 C 28m
Winchester Modelo 1866 .44 200/400 12 C 4 5 6 D 50m
Winchester Modelo 1873 .44 300/600 15 C 5 6 7 D 60m
Fuzil Remington 1873 .45 (trava de culatra pivotante) 400/800 1 N 5 6 7 D 30m
Fuzil de caça Sharps 1874 .45 (para búfalos) 500/1.200 1 N 6 7 8 E 45m
Fuzil de caça Remington 1876 .46 400/800 1 N 5 6 7 D 32-40m
Espingarda .50, 1873 30/60 2 C 5 6 7 D 20-30m*
Espingarda .50, cano serrado 25/40 2 C 5 6 7 D 25-35m*
* mais 15m pela de cano duplo
Fuzil Sharps 1866 .50 100/360 1 N 6 7 8 E 35m
Carabina Remington 1860 .56 80/300 1 C 7 8 9 E 20m
METRALHADORAS
Metralhadora Colt Gatling 1867 .50 300/600 120 a 240 N 8 9 10 F 150m
“Mitrailleuse” francesa 11 mm 300/1.000 25 a 37 N 8 9 10 F 300m
Metralhadora Nordenfelt 15 mm 300/1.200 12 N 9 10 11 F 300m
Nota:Alcances fornecidos em metros. A não ser que a personagem tenha NH Extraordinário em Tiro, o jogador terá de se restringir às regras de Ataque a Distância da página 185 de Castelo Falkenstein. Os jogado-
res com Tiro Extraordinário podem fazer ataques dentro do Alcance Máximo listado, com penalidade de -2.
* Ocultabilidade: B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bolso, Perna da Calça, Manga C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Casaco Comprido
P. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Paletó ou Casaca N. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não Ocultável

C O M M E 81 I L F A U T
Falkenstein Matemático
uma variante alternativa para quem gosta de fazer contas
castelo cyberstein?
Eu odeio jogadores apelões. Você os conhece: são os caras que pegam nos Ába-
Conversões de um gênero para cos Automáticos e tentam arrancar toda vantagem possível do processo de cria-
outro. Observe que Capacidade de ção de uma Personagem Dramática. Nas regras originais do Grande Jogo, cuidei
Movimento (MOV) e Inteligência deliberadamente para que os valores de cada Nível de Habilidade fossem não li-
(INT) não têm equivalentes em neares: em outras palavras, não há uma progressão direta de Fraco para Bom.
Falkenstein.Seu Movimento seria A intenção era driblar os apelões e obrigá-los a interpretar, em vez de montar
igual ao seu NH em Atletismo, super-personagens.
enquanto Inteligência seria igual Contudo, isso foi antes de eu receber este monte de mensagens de toda parte
ao seu NH em Educação. Nota: As (inclusive do Outro Lado), pedindo um sistema numérico para as personagens.
Perícias marcadas com [] re- Meus jogadores queriam isso, os jogadores do Mike queriam isso... Até Morrolan
presentam Atributos. e Auberon começaram a se queixar.
HABILIDADE PERÍCIA Ok, eu me rendo. Na variante opcional descrita a seguir, há uma escala numé-
FALK INTERLOCK
rica direta para cada Nível de Habilidade.
Aparência Atratividade [] Fraco = -2 Médio = 0
Artesanato Artesanato Bom = 1 Ótimo = 2
Atletismo Reflexos [] Excepcional = 4 Extraordinário = 6
Atuação Atuação Para determinar quantas Fracas a mais você precisa pegar para “pagar” suas
várias Habilidades Boas, Excepcionais etc., subtraia o valor das Fracas do valor
Briga Briga
das demais e certifique-se de que a soma de todas as suas Habilidades seja igual
Carisma Empatia []
a 4. Usando o exemplo do Detetive lá da seção de perguntas e respostas, para a
Cavalgada Cavalgar personagem começar com Percepção Excepcional (4 pontos a mais), o jogador
Ciências Especialista (à sua teria de acrescentar duas Habilidades Fracas (-2 + -2 = -4 pontos), retiradas da
Naturais escolha) lista de perícias das páginas 159-163 de Castelo Falkenstein.
Compleição
Física
Tipo Corporal []
conversão para o sistema interlock
Condução Condução (mekton z, cyberpunk)
Contatos Manha A outra coisa que Mike me pediu (e não foi nenhuma surpresa) foi um sis-
Coragem Autocontrole [] tema de conversão entre os RPGs da editora dele e Castelo Falkenstein, o que, na-
Educação Educação turalmente, evoca imagens esquisitas de anões com equipamento cibernético
Esgrima Esgrima e grandes fuzis automáticos, elfos em automotrizes com metralhadoras e um
Feitiçaria Poderes Psiônicos?
mundo em que a Magia corre solta, lado a lado com uma tecnologia bizarra...
Ah... é uma ideia estúpida. Isso nunca vai funcionar.
Furtividade Furtividade
Por sorte, tanto Cyberpunk® quanto Mekton™ têm basicamente o mesmo siste-
Invenção Reparos
Improvisados
ma, que eles chamam de Interlock™ (vá entender).
Para converter os valores do Grande Jogo nos números do Interlock, use a
Jogatina Jogo
seguinte tabela:
Liderança Liderança Fraco. . . . . . . . . . . . . . 3 Médio. . . . . . . . . . . . . . . . 5
Mecânica Habilidade Técnica Bom. . . . . . . . . . . . . . . . 6 Ótimo. . . . . . . . . . . . . . . . 8
[]
Excepcional. . . . . . . . 9 Extraordinário . . . . . . 10
Medicina Tecnologia Médica Usando a tabela na coluna lateral desta página e o guia acima, você poderá
Mesmerismo Hipnose converter seus valores de Castelo Falkenstein em valores do Interlock de ma-
Percepção Atenção neira bem prática. Quando não houver Habilidades/Atributos equivalentes para
Pilotagem Pilotagem comparação, use os valores indicados na coluna lateral.
Situação Antecedente
É o mais longe que estou disposto a chegar. Contudo, Anfitriões, cuidado!
Econômica Familiar (Fluxovida) Usar estas conversões abrirá uma brecha para os jogadores apelões, e isso pode
Tiro Armas Curtas/Fuzil prejudicar a interpretação. Cabe a você permitir o uso desta variante no seu
jogo. Só não fique surpreso quando aqueles anões cibernéticos começarem a se
Trato Social Trato Social
infiltrar nas suas Aventuras Recrativas! Eu avisei.

C O M M E 82 I L F A U T
Alta Feitiçaria Expandida & Desvendada
ou por que este não é o sistema de magia do seu pai
Muitas cartas que eu recebo via FadEx começam mais ou menos assim:
“Como posso saber qual é o nível do meu Magista? Quantos feitiços ele pode lançar?
Como eu faço para jogar uma bola de fogo?”
Suspiro. Vamos lá, vou tentar explicar de novo. Este não é o sistema de magia do seu
pai. O sistema de magia tradicionalmente encontrado na maioria dos RPGs de fantasia
vem de dois lugares: dos romances de fantasia de Tolkien e Howard (nos quais magos lan-
çam feitiços de poder imenso simplesmente apontando um dedo) e dos jogos de guerra de
temática fantástica dos anos 1970 nos Estados Unidos, nos quais a magia era representa-
da mais como uma peça de artilharia do que como o processo laborioso que realmente é.
A natureza da magia falkensteiniana é muito menos linear e muito mais flexível. Para
começar, não existem níveis, a não ser seu NH em Feitiçaria. Não há limites artificiais ao
conhecimento que você tem, porque quase todas as Ordens têm tudo por escrito e acessí-
vel para seus membros. Qualquer outra coisa seria tão estranha quanto um exército que
proibisse seus soldados de utilizar as metralhadoras até que eles se graduassem oficiais.
O grande problema, ao que parece, é que os autores das cartas estão acostumados com
as limitações à magia, mas esses limites não existem em Nova Europa. Aqui, o que res-
tringe a feitiçaria é o tempo disponível, outros magos e o acesso à Doutrina, e não o
nível do Magista nem pontos de magia. No mundo dos magistas se encontrar o feitiço,
tiver habilidade suficiente para tecê-la e não levar uma surra de um mago rival antes
disso, você poderá lançá-lo.
Mas eu já falei demais. Como diz Marianne, nenhum esgrimista aprende a execu-
tar um flèche sem empunhar a espada.
Então, vamos montar um feitiço, tudo bem?
como lançar feitiços
Você está na Viena Antiga e acaba de pegar um cabriolé de aluguel. Mal você entra,
o cocheiro sorri desdenhosamente e faz um comentário depreciativo do tipo “escória
magista”. Imediatamente, você decide que esse cidadão precisa aprender boas ma-
neiras. Por meio da feitiçaria.Para ele aprender de uma vez por todas a nunca mais
desrespeitar um magista. Mas como fazê-lo?
Ah-rá!
Nós vamos partir de Modelagem de uma Forma Conhecida, um feitiço do Liber da
Transformação Mística que permite dar a uma criatura viva a forma de outra: é o clássico
feitiço de “transformar pessoas em sapos”.
Agora, o que precisamos saber a respeito desse feitiço para lançá-lo? A primeira coisa
são as Definições do feitiço: quais são seus limites. Para começar, temos de saber sua
duração: queremos que a vítima continue sapo por um instante ou por um ano? Um dia
como sapo deve bastar. Em seguida, temos de decidir quantas coisas o feitiço precisará
fazer para atingirmos nosso objetivo: é para criar um sapo comum ou um sapo de carto-
la e polainas que canta e dança? Essa é a quantidade de elementos que o feitiço terá de
realizar. Um elemento nos daria apenas um sapo; a dança, o canto e a roupinha maneira
seriam muitos elementos. Mas seria bem vergonhoso, e o troglodita merece, não?
Em seguida, a que distância precisamos estar do alvo para lançar esse feitiço: ou seja,
qual é o alcance? A magia falkensteiniana não precisa ser feita cara a cara, o que dá muita
segurança quando você tenta transformar um monstro num anfíbio bem-vestido. Mas es-
tamos falando de um mero cocheiro de cabriolé: vamos ficar com alcance a olho nu. Já que
estamos nisso, de quanto sapos precisamos? Somente um. Um coro de sapos dançando
seria meio bobo (mas bem legal, se pensar bem). Essa é a quantidade de alvos afetados.

C O M M E 83 I L F A U T
Por fim, você precisa saber alguma coisa sobre sua não queremos que volte a nos incomodar na forma hu-
vítima. Cada nó mágiko é tecido redefinindo-se o nó mana. Vamos pegar nosso sapo que late, canta e dança e
básico do alvo, adicionando-se um pouco aqui, remo- usar o feitiço Esquecimento do Manuscriptum Mentalis, que
vendo-se outro pouco ali, e remodelando-se a estrutura nos foi ensinado por um colega Illuminatus. Neste ponto,
fundamental: você não pode fazer isso sem conhecer a temos duas opções: podemos usar as mesmas definições
estrutura do alvo. Nosso alvo é humano (mal e porca- anteriores – acrescentando apenas o custo do feitiço adi-
mente) e, como acabamos de topar com o sujeito, não cional – ou estabelecer um novo conjunto de definições
o conhecemos. adicionais para a parte do esquecimento, tratando-o
Pronto: temos a estrutura básica do feitiço, sua du- como um feitiço separado. Decidimos que será mais se-
ração, a quantidade de elementos, o alcance, a quanti- guro instruir nosso sapo a esquecer quem exatamente fez
dade de alvos afetados, a espécie do alvo e nosso nível isso com ele (um elemento) durante um ano inteiro (du-
de familiaridade com ele. Cada um desses elementos ração = 1 ano), e juntar isso ao feitiço básico (um adicio-
requer uma certa quantidade de Energia Táumica que nal de 1 [um elemento] + 8 [um ano] + 4 [Necessidade de
deve ser aplicada à transformação que queremos criar. Energia Táumica do feitiço Esquecimento], o que dá um
Portanto, 1 dia de duração (4) + muitos elementos (3) total 45 Taums.
+ alcance a olho nu (2) + um alvo afetado (1) + alvo hu- E só de pensar que, com a combinação correta de Dou-
mano (1) e desconhecido (3). São 4 + 3 + 2 + 1 + 1 + 3 + 6 trinas, você poderia lançar esse feitiço numa cidade intei-
para o feitiço básico = uma necessidade de 20 unidades ra, você ainda quer voltar a ser um mago de terceiro nível
de Energia Táumica. Fulos de raiva no banco do passagei- que solta bolas de fogo?
ro, começamos a acumular poder, uma “carta” de cada Evidentemente, a primeira coisa que deve ocorrer a to-
vez, descartando o poder não alinhado (tudo que não dos os Anfitriões é: como eu posso segurar esses caras?!
for Material/Ouros) até ouvirmos um gratificante coa-
xar proveniente da boleia do cocheiro. como limitar feitiços
Mas vamos pegar nosso feitiço e potencializá-lo. Vamos Admita, os jogadores que dominam o sistema de Fei-
aumentar a duração para um ano, para ensinar ao homem tiçaria de Falkenstein são de dar medo. Conseguem fazer
uma lição de verdade. Esperaremos até estarmos a salvo praticamente qualquer coisa.
no hotel, a alguns quilômetros de distância. Por fim, esta- Se você deixar.
mos tão irritados que resolvemos estender nossa lição não Nem tente detê-los usando o próprio sistema. Essa é
apenas ao cocheiro, mas à companhia inteira de carros de a maneira difícil. Não, o que um bom Anfitrião faz é difi-
aluguel. Isso dá: duração de um ano (8) + muitos elemen- cultar a prática da magia através de coisas que um Jogador
tos (3) + alcance de alguns quilômetros (3) + até 10 alvos inteligente terá trabalho para evitar: o ambiente e todas as
afetados (2), todos humanos (1). Como só conhecemos
coisas ali presentes que afetam o lançamento de feitiços.
um dos cocheiros, a maioria dos alvos será completamente
Aqui vão alguns exemplos do que estou falando:
desconhecida para nós (4). 8 + 3 + 3 + 2 + 1 + 4 + 6 para o
feitiço básico = uma necessidade de 27 unidades de Energia ideia 1: bem-vindo à hora do rush dos
Táumica. Croac! feiticeiros.
Ah, mas a parte bacana da feitiçaria falkensteiniana é
que você pode combinar e misturar feitiços! Vamos voltar É ridículo esperar que, a qualquer momento em qual-
ao nosso feitiço original e combiná-lo com outro feitiço quer grande região metropolitana, não exista pelo me-
do Liber: Investir com os Poderes de uma Forma Conhecida. nos uma dúzia de magistas e Ordens Mágikas exercendo
Todas as Definições básicas são as mesmas, vamos apenas diligentemente o ofício. O que faz seus Jogadores acredi-
adicionar a Energia Táumica (ou Taums) para um pequeno tarem que têm direito exclusivo à única rampa de acesso
mimo, ou seja, dar ao nosso recém-criado sapo todas as à via expressa? Todas as cartas acessíveis num baralho
habilidades de um sapo de verdade: uma língua de trinta – em outras palavras, numa região mágika (equivalen-
centímetros, a capacidade saltarlongas distâncias e a ca- te a um raio de 440 quilômetros a partir de uma Linha
pacidade de coaxar. Adicionando os Taums para isso, nosso de Ley, que basicamente fica onde o Anfitrião disserque
total agora é 32. fica) – fornecem um total de 143 pontos, ou 104, se a
Certo, vamos partir para a “saparia desvairada”. Vamos personagem utilizar somente poder alinhado. Gaste al-
alterar a definição desse mesmo Investir com os Poderes de gumas delas fazendo com que feiticeiros lancem feitiços
uma Forma Conhecida, escolhendo outra forma. Sabemos o fora da cena. Esse gasto pode ser aleatório ou delibera-
que um cachorro faz: criaremos um sapo que late, mastiga do: use o macete do topo do baralho da seção de Per-
chinelas e morde o carteiro! Ainda são 32 Taums, só foram guntas & Respostas sobre Feitiçaria (p. 88), só que para
definidos de uma maneira diferente. vários feiticeiros. A necessidade de aguardar na fila vai
Para finalizar, vamos deixar as coisas realmente esoté- tirar dos jogadores o ímpeto de lançar um monte de fei-
ricas. Decidimos que esse sapo precisa de uma lição, mas tiços grandes.

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alguns feitiços genéricos de rpgs de fantasia
nome Genérico Feitiço Básico Aspecto Definições               Necessidade de Energia Táumica
ANIMAR OS MORTOS Animação dos Mortos ♠ Duração: 1 dia • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Mal Conhece 18
Recupera todas as funções e habilidades de criaturas mortas, tais como eram quando vivas.
ARMA DE CHAMAS [] Temperatura Elementar ♣ Duração: 1 dia • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Objeto (1) • Familiaridade: Conhece Bem • Dano: +2 níveis à Arma 17
Permite ao feiticeiro envolver qualquer arma metálica em uma aura de fogo superquente, sem queimar o portador. O feitiço aumenta o dano da arma de acordo coma quantidade escolhida de Níveis de Dano.
BOLA DE FOGO [] Sublevar a Tempestade de Fogo ♣ Duração: Momentânea • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (10) • Familiaridade: Não Conhece • Dano: B 22
Permite ao Adepto arremessar uma esfera de plasma superaquecido em qualquer alvo a uma distância visível a olho nu. A bola de fogo se movimenta em linha reta. O dano se baseia no Nível de Dano.
CLARIAUDIÊNCIA Clariaudiência ♠ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Outra Cidade • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Si Mesmo 16
Permite ao Adepto ouvir sons e/ou conversas distantes e projetar sons da mesma maneira.
CLARIVIDÊNCIA Clarividência ♠ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Outra Cidade • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Si Mesmo 18
Permite ao Adepto ver imagens distantes e projetar visões da mesma maneira.
CONCHA ANTIMAGIA Énergie Parapsychique ♦ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu 15
Uma carapaça de Força Primordial que “aterra” totalmente os ataques mágicos que a atravessam (em qualquer um dos dois sentidos).
CONJURAR ELEMENTAL Revestir o Elemento ♣ Duração: 1 hora • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Elemental (1) • Dano: B 28
Permite ao mago engendrar uma criatura elemental totalmente feita de Terra, Ar, Fogo ou Água, como descrito em CF, p. 202. O dano e o tamanho se baseiam no Nível de Dano (p. 80 deste livro).
CONSTRIÇÃO Ilusões da Mente ♥ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Não Conhece 16
Cria uma teia ilusória ao redor da vítima, fazendo-a cair imobilizada no chão, como se estivesse emaranhada.
CONTROLAR TEMPESTADES [] Sublevar a Tormenta ♣ Duração: 1 hora • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Elemental (1) • Dano: B 25
Permite ao Adepto criar uma forte tempestade de verão a seu redor e lançar raios num inimigo. O dano se baseia no Nível de Dano.
CRIAR PASSAGENS Énergie Atomique ♦ Duração: 1 dia • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Si Mesmo 23
Alteração nas Forças Primordiais internas, permitindo a travessia de materiais sólidos, inclusive Ferro (mas não Ferro Frio). Equivalente ao NH Ótimo da Eterealidade feérica.
DARDO MÍSTICO [] Forces Intégrales ♦ Duração: Momentânea • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Não Conhece • Dano: B 25
Arremessa um projétil de Força Primordial num alvo visível a olho nu, causando dano conforme o Nível de Dano do ataque.
DESINTEGRAÇÃO [] Énergie Atomique ♦ Duração: Momentânea • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Não Conhece • Dano: B 27
Permite ao feiticeiro desfazer as ligações moleculares do ser ou objeto tomado como alvo, transformando-o em pó. O dano se baseia no Nível de Dano.
DETECTAR INVISIBILIDADE Visão Verdadeira ♥ Duração: 1 dia • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Completamente Desconhecido 19
Permite ao feiticeiro sentir a presença de criaturas invisíveis e fadas em estado etéreo ao alcance de seus olhos.
DETECTAR MAGIA Aberturado Terceiro Olho ♠ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu 11
Permite ao Adepto localizar com precisão um lugar visível a olho nu onde se pratica magia no momento ou esta foi praticada recentemente (há até um dia).
DETECTAR MALDADE Aberturado Terceiro Olho ♠ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Conhece Bem 14
Permite ao Adepto determinar a presença e a localização exata de Unseelie, demônios, mortos-vivos ou praticantes de necromancia visíveis a olho nu.
DISFARCE Ilusões da Mente ♥ Duração: 1 dia • Elementos (2) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (10) • Familiaridade: Não Conhece 20
Permite ao feiticeiro (ou alguém à sua escolha) assumir a aparência (mas não as habilidades) de qualquer criatura que ele tenha visto pessoalmente.
ENFEITIÇAR Implante de Sugestões ♦ Duração: 1 hora • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Mal Conhece 16
Implanta uma sugestão, fazendo o alvo confiar no feiticeiro e se mostrar amigável.
ESCUDO ARCANO Forces Intégrales ♦ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Conhece Bem 20
Cria ao redor do Adepto uma barreira esférica de Força Primordial equivalente a blindagem Pesada (detém até Nível de Dano D).
ESPIONAGEM Cristalomancia ♠ Duração: 1 hora • Elementos (1) • Alcance: Outro País • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Mal Conhece 19
Equivalente a uma combinação de Clariaudiência e Clarividência, focalizada num pequeno espelho ou cristal.
FALAR COM OS MORTOS Falar com os Mortos ♠ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Sobrenatural (1) • Familiaridade: Mal Conhece 24
Permite a alvos já mortos se comunicarem como faziam quando vivos, mas sem se movimentar (andar, nadar, voar etc).
INVISIBILIDADE Ilusões da Mente ♦ Duração: Minutos • Elementos (2) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (10) • Familiaridade: Não Conhece 18
Faz os alvos acreditarem que o feiticeiro é invisível (mas não inaudível nem intangível).
LUZ/ESCURIDÃO Énergie Photonique ♦ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu 11
Manipula as Forças Primordiais para criar luz ou escuridão numa esfera centrada no Adepto que se estende até qualquer ponto que ele consiga enxergar a olho nu.
MALDIÇÃO Comando Mental ♥ Duração: 1 ano • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Conhece Bem 18
Faz a vítima se sabotar inconscientemente. Essa compulsão reduz todas as Habilidades do alvo em 2 níveis.
METAMORFOSE Modelagem de uma Forma Conhecida ♦ Duração: 1 dia • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Si Mesmo 15
Permite ao feiticeiro dar ao alvo a forma, mas não as habilidades, de qualquer ser vivo que o Adepto conheça pessoalmente.
MURALHA DE FOGO [] Modelar o Elemento ♣ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Elemento (1) • Dano: B 33
Cria uma muralha de chamas que cerca o feiticeiro por todos os lados. O dano e o tamanho se baseiam no Nível de Dano (p. 80 deste livro).
PALAVRA DA MORTE [] Desejo de Morte ♥ Duração: Momentânea • Elementos (1) • Alcance: Olho/Ouvido Nu • Alvos: Mortal (1) • Dano: B 26
O Adepto grita uma palavra tão abominável que esta fere a vítima, talvez fatalmente (dano se baseia no Nível de Dano).
PALAVRA DE IMOBILIZAÇÃO Geas Simples ♥ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Não Conhece 14
Obriga o alvo a ficar parado no lugar, incapaz de se mover.
PORTAL Portais para Outras Terras em Nova Europa ♠ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Familiaridade: Conhece Bem 12
Permite ao Adepto abrir uma passagem pela qual ele e outras personagens podem ser transportados para outros locais (não extradimensionais) no mundo do Castelo Falkenstein.
REPELIR MORTOS-VIVOS Mandar para o Repouso Eterno ♠ Duração: Momentânea • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Sobrenatural (1) • Familiaridade: Não Conhece 31
Todas as criaturas mortas-vivas voltam ao seu estado sem vida e imóvel.
REPULSÃO Reclusão através de Círculos ♥ Duração: 1 hora • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (10) • Familiaridade: Não Conhece 14
Repele todos os seres vivos num raio que tem o feiticeiro como centro e se estende até qualquer ponto que ele possa enxergar a olho nu.
SENTIR A VERDADE Ouvir os Pensamentos Ocultos ♥ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Mal Conhece 14
Permite ao Adepto perceber se há alguma verdade nos pensamentos do alvo.
SONO Implante de Sugestões ♠ Duração: 1 hora • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Não Conhece 17
O feiticeiro pode mandar o alvo cair em sono profundo por uma hora ou até ser acordado com um forte chacoalhão, barulho ou outrodistúrbio).
TOQUE DE CURA Fortalecer o Laço Vital ♥ Duração: 1 dia • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Mal Conhece 22
Restaura a força vital do alvo, permitindo que se recupere três vezes mais rápido que o normal.
VELOCIDADE Desaceleração do Tempo ♣ Duração: Minutos • Elementos (1) • Alcance: Olho Nu • Alvos: Mortal (10) • Familiaridade: Não Conhece 23
Permite ao mago mover-se duas vezes mais rápido que as outras pessoas. As ações dele são resolvidas primeiro e, depois de todos os demais terem agido, ele ainda terá direito a uma ação adicional.
VOO Conhecimento do Voo ♦ Duração: 1 dia • Elementos (1) • Alcance: Contato • Alvos: Mortal (1) • Familiaridade: Si Mesmo 17
Permite ao Adepto voar como se carregado por uma brisa forte, à velocidade de um andorinhão (~110 km/h).

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livros doutrinários, ideia 2: a magia é minha, e você só lança feitiços se eu quiser.
feitiços& custos táumicos Seus Jogadores têm autorização para praticar a Arte na cidade onde moram?
Manuscriptum Mentalis Talvez não precisem de uma Licença legal, mas podem precisar de alguma per-
Comando Mental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Dominar a Vontade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 missão caso uma Ordem ou um magista poderoso controle o acesso à Região
Esquecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Implante de Sugestões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Mágika. Uma Ordem realmente grande, como a Aurora Dourada, pode ter os
Transe & Distração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Atordoamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 próprios Assassinos para fazer valer seus decretos.
Criar Dor Lancinante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Desejo de Morte []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Barreira Mental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
ideia 3: o perigo das desventuras em série.
Escrituras Litúrgicas das Amarras Psíquicas
Geas Simples. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Interrompa seus feiticeiros. Com coisas mundanas mesmo, como o senho-
Reclusão através de Círculos Mágikos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 rio que vem buscar o aluguel, vendedores ambulantes, crianças perdidas, ra-
Reclusão através de Proteções Mágikas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Reclusão através de Talismãs Mágikos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 tos que passam correndo pelos pentagramas. Ou talvez coisas maiores, como
Fortalecer o Laço Vital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Ligação Psíquica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 aquele grupo de magos que estava varando a madrugada fazendo um grande
Romper a Ligação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
O Reino da Ilusão de Agrivicca Rexus encantamento – que o Jogador interrompeu com seu mísero feitiço de Criar
Ilusões da Mente & do Corpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Fogo – e enviou um bando de rufiões de aluguel ao apartamento da persona-
Visão Verdadeira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Reino dos Sonhos de Megron gem para que parasse. Por fim, que tal aquele jovem determinado e disposto
Sonhos de Profecia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Sonhos de Aviso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 a se arremessar contra o mago com um punhal na mão para impedi-lo de
Pesadelos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 lançar o feitiço?
Sonhos Eróticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Sonhos de Morte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Barreira dos Sonhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 ideia 4: proteções? será que conseguiriam deter o
Reino da Mente Desconhecida
Expulsar o Outro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Conquistar a Loucura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
pimentinha (do demônio)?
Ouvir os Pensamentos Ocultos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Induzir a Paz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Até onde sei, nenhum magista até hoje conseguiu reduzir Paris a cinzas por
Induzir o Descanso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 ter sido insultado por um garçom no Montmartre. Uma das razões para isso
Liber da Transformação Mística
Mudança de Tamanho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 é que a maioria dos feiticeiros curte morar onde mora e não gosta da ideia de
Modelagem de uma Forma Conhecida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Investir com os Poderes de uma Forma Conhecida. . . . . . . . . . . . . . . 12 acordar numa cidade em chamas. Por isso, eles colocam Proteções nas áreas im-
Modelagem de uma Forma Desconhecida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 portantes, em seus lares, nas repartições do governo etc. Também podem criar
Barreira da Transformação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Manuscripto da Alquimia Universal comitês de “Vigilância Mágika” e geralmente ficam de olho em possíveis ata-
Carne em Mineral/vice-versa []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Alquimia Universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 ques mágikos em suas áreas. Alguns chegam a patrulhar de tempos em tempos
Destruição Alquímica [] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Barreira Alquímica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 o plano etéreo, usando clariaudiência para encontrar pessoas tentando lançar
Tomo do Movimento Físico de Osman feitiços que contenham o componente “Destruir todos os...”, para daí fazer uma
Conhecimento do Voo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Domínio da Levitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 visitinha ao encrenqueiro se a coisa parecer feia. Se seus Jogadores começarem
Mão que Flutua. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Pisos de Vidro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 a tentar feitiços capazes de destruir o planeta, faça-os esbarrarem Proteções ou
Liber do Controle Temporal Sentinelas estrategicamente posicionadas e que podem se teletransportar para
Cessação do Tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Aceleração/Desaceleração do Tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 o refúgio das personagens e ensinar-lhes uma lição.
Fuga Temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Liber de Invocamentação
Invocamentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 ideia 5: não os deixe respirar.
Banimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Códices do Movimento Dimensional Lançar feitiços leva tempo. E é preciso um lugar calmo e livre de interrup-
Portais para Outras Terras em Nova Europa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Portais para o Reino das Fadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 ções. Se você importunar os Jogadores com um inimigo que atormenta suas vi-
Portais para Dimensões além do Véu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Movimento Astral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 das mundanas, invade seus aposentos, rouba seu equipamento e os denuncia
Liber Niger da Necromancia aos vizinhos como Praticantes de Magia Negra, você talvez consiga não dar a eles
Animação dos Mortos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Falar com os Mortos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 uma chance para respirar em paz e lançar um superfeitiço.
Drenar a Força Vital []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Mandar para o Repouso Eterno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Manuscrito da Adivinhação Paranormal ideia 6: use os harmônicos.
Clariaudiência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Clarividência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Faça com que os efeitos harmônicos da feitiçaria rápida e rasteira sejam total-
Cristalomancia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Barreira da Adivinhação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 mente imprevisíveis e perigosos. Sim, é possível que o Harmônico Espiritual tenha
Manuscrito da Modelagem Elementar
Revestindo o Elemento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 feito um fantasma aparecer, mas desta vez ele arranca o telhado da casa com uma
Temperatura Elementar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 rajada de energia ectoplásmica à la Caça-Fantasmas. Não dependa tanto da Tabela
Modelar o Elemento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Barreira dos Elementos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 de Harmônicos (página 93): use a imaginação para deixar os Harmônicos mais in-
Forças Sublevadas da Natureza, de Burton
Sublevar a Tormenta[] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 teressantes.
Sublevar o Maelström []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Sacudir a Terra []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Sublevara Tempestade de Fogo []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
e, por último...
Subjugar a Natureza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Forças PrimordiaisSublevadas A melhor solução, obviamente, é escolhermuito bem seus Jogadores. Não
La Discipline d’Énergie Photonique. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
La Discipline d’Énergie Atomique []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 inclua Jogadores apelões que só querem explodir as coisas logo de cara, antes
La Discipline des Forces Intégrales []. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 mesmo de o Jogo começar. Em vez disso, convide Jogadores que querem se
La Discipline d’Énergie Parapsychique. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Reino dos Sentidos divertir participando da aventura, e não só levando o prêmio. No fim das
Percepção do Corriqueiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Privação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 contas, os Jogadores sensatos serão sua maior defesa contra aqueles que
Maelström de Sentidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 abusam da Magia.
Aberturado Terceiro Olho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

C O M M E 86 I L F A U T
definições dos feitiços
DURAÇÃO Muitos elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Alvo é outro magista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Define-se Duração como a quantidade de tem- Muitos elementos complexos. . . . . . . . . . . . . 4 Alvo é dragão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
po que o feitiço persistirá após sua ativação. Os Alvo tem de cumprir apenas uma tarefa. . . . 5 Alvo é demônio ou entidade sobrenatural. . . 8
feitiços lançados como ataques geralmente são Alvo tem de cumprirvárias tarefas . . . . . . . . . 6 Alvo é anão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
momentâneos. ALCANCE Alvo é objeto inanimado. . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
DEFINIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . NECESSIDADE Define-se Alcance como a distância entre o Alvo é objeto mágiko ou de Ferro Estelar. . . . 6
Duração (momentânea). . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 feiticeiro e a pessoa, o local ou a coisa afetada. FAMILIARIDADE COM O ALVO
Duração (1-30 minutos). . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 DEFINIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . NECESSIDADE A Familiaridade representa quanto o Magis-
Duração (1 hora) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Alcance (contato ou si mesmo). . . . . . . . . . . . 1 ta conhece o alvo pessoalmente. Amigos pró-
Duração (1 dia). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 ximos são bem conhecidos; alguém que se
Alcance (a olho nu). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
Duração (1 semana) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 encontrou algumas vezes é alguém que você
Alcance (alguns quilômetros). . . . . . . . . . . . . 3
Duração (1 mês). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 mal conhece. Se vocês acabaram de ser apre-
Alcance (em outra cidade). . . . . . . . . . . . . . . . 4
Duração (1 ano). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 sentados, você não conhece o alvo, e alguém
Alcance (em outro país). . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 que você nunca viu na vida é completamente
ELEMENTOS & TAREFAS Alcance (em outra dimensão). . . . . . . . . . . . . 6 desconhecido.
Definem-se os Elementos como a quantidade Alcance (em outra época). . . . . . . . . . . . . . . . . 7
DEFINIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . NECESSIDADE
de efeitos individuais que o feitiço precisa rea- QUANTIDADE DE ALVOS AFETADOS Conhece bem o alvo (ou si mesmo) . . . . . . . . 1
lizar. Mais de um efeito aumentará a definição É o total de pessoas afetado pelo feitiço (ou a Mal conhece o alvo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
para “poucos elementos”. Mais do que três área total afetada). Não conhece o alvo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
aumentarão a definição para “muitos”, e mais
DEFINIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . NECESSIDADE Alvo completamente desconhecido. . . . . . . . 4
do que cinco exigirão elementos “complexos”.
Quantidade de alvos (1, ou 0,5 m2). . . . . . . . . 1 NÍVEL DE DANO
Os feitiçosq ue se movimentam (exceto voo)
Quantidade de alvos (até 10, ou 1 m2). . . . . . 2 É a quantidade de dano causado por um feiti-
sempre são definidos como se tivessem um ele-
Quantidade de alvos (até 100, ou 10 m2). . . . 3 ço (p. 78). Só se aplica a feitiços marcados com
mento adicional.
Quantidade de alvos (até 1.000, ou 100 m2). 4 uma [].
As Tarefas são ações individuais que a vítima
Quantidade de alvos (um país inteiro) . . . . . 5
de um feitiço é obrigada a cumprir. Ou seja, o NÍVEL DE DANO. . . . . . . . . . NECESSIDADE
Comando Mental para o alvo parar é uma tarefa. TIPO DE ALVO A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
Parar e, em seguida, andar até a porta são “vá- É o tipo de coisa ou criatura afetada. Dragões e B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
rias” tarefas. anões são particularmente resistentes a feitiços. C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
DEFINIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . NECESSIDADE DEFINIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . NECESSIDADE D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Apenas um elemento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 Alvo é mortal (humano ou animal) . . . . . . . . 1 E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Poucos elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Alvo é feérico (ou criatura feérica) . . . . . . . . . 2 F . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

dois novos livros doutrinários


O Manual das Forças Primordiais Sublevadas fossem campos ou projéteis. O último capítulo, La Discipline
História & Conhecimentos Secretos: Nascido das chamas d’Énergie Parapsychique, trata da criação de campos que tor-
do Iluminismo, este tomo foi desenvolvido conjuntamente nam os nós mágikos mais difíceis de manipular, dificultando o
por Benjamin Franklin, um dos líderes da Revolução America- uso da feitiçaria numa área.
na, e pelo filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, no período O Reino dos Sentidos de Ishigami
em que o estadista do Nov Mundo atuou como embaixador da História & Conhecimentos Secretos: Texto japonês traduzi-
América na corte francesa. Franklin, um maçom, queria criar do há pouco tempo que estuda a natureza dos sentidos, este
uma “ciência da magia”. Como a América estava em guerra com livro tem sido usado tradicionalmente por cortesãs do “Mundo
a Inglaterra, este livro jamais integrou o cânone da Franco- Flutuante” para aprimorar as sensações experimentadas por
-maçonaria, mas foi usado pelo Clube dos Agitadores, uma Or- seus parceiros no amor. O livro foi complementado por guei-
dem de duração breve composta de revolucionários franceses xas com talento mágiko, passando a abordar também a percep-
e norte-americanos (como Adams, Jefferson e Robespierre). O ção dos reinos metafísicos. Percepção do Corriqueiro aumenta
livro desapareceu em 1812 e só recentemente foi redescoberto a capacidade do feiticeiro de perceber (e sentir) até mesmo as
e publicado por uma bibliófila francesa. La Discipline d’Énergie nuances mais sutis, aumentando sua Percepção em dois níveis.
Photonique trata da geração, supressão e alteração da energia Privação torna a vítima cega e surda (embora o tato permane-
luminosa, permitindo a manipulação das condições de luz, ça). Maelström de Sentidos aguça a percepção a tal ponto que
escuridão, coloração e tonalidade de uma área. La Discipline a coisa passa a ser dolorosa: o contato da pele com uma pena
d’Énergie Atomique permite ao feiticeiro manipular estruturas pode criar ondas de êxtase; um arranhão pode causa a mesma
atômicas para aquecer, resfriar, tornar etéreas ou desintegrar as sensação de ser esfolado vivo (o que reduz a Coragem em 2 ní-
coisas. La Discipline des Forces Intégrales estipula a existência de veis). Aberturado Terceiro Olho permite aos magistas perceber
uma força universal, invisível e similar à gravidade que permite coisas nem sempre notadas, como os vestígios sutis da feitiça-
ao magista modelar e mover constructos dessa energia como se ria ou o contato com o Mal.

C O M M E 87 I L F A U T
Perguntas & Respostas sobre Magia
as perguntas mais comuns sobre a magia um Jogador começa um feitiço e retirando do monte uma
quantidade de cartas igual ao valor nominal da carta revela-
no grande jogo da. Por exemplo, digamos que eu tenha revelado um nove de
Q: Um feiticeiro pode Desenredar outra pessoa com a permis- paus. Agora tenho de tirar outras nove cartas do baralho para
são dela? É possível resistir ao Desenredamento? representar outros feiticeiros em atividade na área.
R: Desenredar a si mesmo não tem custo. Todavia, desen- A segunda é que certos feitiços são tão grandes, que é im-
redar outra pessoa, mesmo com a permissão dela, tem um possível lançá-los sem usar todo o poder disponível numa
custo básico de Energia Táumica de 16, mais os custos das região (143 Taums) – ou ao menos todo o poder limpo e livre
Definições aplicáveis (o feitiço básico é muito similar a Drenar de Harmônicos (somando todas as cartas de um mesmo nai-
a Força Vital). Já que uma pessoa comum só forneceria 10 pon- pe, chegamos a um total de 104 pontos de Energia Táumica).
tos de Energia Táumica (5 de Vitalidade x 2 pontos de ET = 10 As regiões mágikas se regeneram instantaneamente. Mesmo
pontos de ET liberados), o negócio é desvantajoso. A não ser... que você drene todos os 143 Taums de uma região ao lançar
... A não ser que você tenha acabado de matar a pessoa e um único feitiço, assim que este for lançado, toda a Energia
esteja recolhendo a Força Vital liberada. Nesse caso, o custo Táumica liberada retornará para a região (ou seja, para o Ba-
é zero. É desnecessário dizer que essa conduta é de uma mal- ralho da Magia).
dade execrável. Os feiticeiros que fizerem isso serão caçados Q: Qual é o tamanho de uma “região mágika”?
por qualquer magista íntegro que encontrarem. Os astecas R: Uma região mágika abrange um raio de 440 quilômetros
faziam isso o tempo todo para alimentar seus rituais, e essa é a partir de qualquer interseção das linhas de ley. As linhas de
uma das razões pelas quais foram erradicados pelos magistas ley, segundo a Encyclopedia of Mystical & Paranormal Experience
do Templo. [Enciclopédia de experiências místicas &paranormais], são li-
Q: Os dragões precisam de Livros Doutrinários para lançar nhas de energia mística. Geralmente, o Anfitrião decide onde
feitiços? Eles precisam Acumular Poder para isso? ficam essas linhas (embora os místicos de verdade usem ma-
R: Os dragões não precisam de Livros Doutrinários para pas), mas o melhor é situá-las no centro de locais místicos de
lançar seus feitiços, pois sabem manipular instintivamente os grande porte (como Stonehenge) ou cidades antigas (como
campos mágikos. No Grande Jogo, os dragões estão expressa- Roma). Fora dessas regiões, corte o baralho ao meio: essa é a
mente limitados a lançar apenas os feitiços mencionados no quantidade existente de energia de fundo.
livro básico e nos suplementos. Contudo, trata-se apenas de Q: Há um limite para quantas vezes um mago pode lançar um
uma convenção para equilibrar o jogo. Eu, pessoalmente, já vi feitiço em particular?
dragões inventarem feitiços na hora e lançá-los sem dificulda- R: Não. Se tiver Acumulado o Poder necessário, ele conse-
de. É a vantagem de um processo evolutivo de 70 milhões de guirá lançar o feitiço. Mas há um porém: se perceberem que
anos. Mas os dragões realmente têm de Acumular Poder para alguém anda lançando muitas bolas de fogo, outros magos na
lançar seus feitiços e ficam limitados a comprar um total de área podem muito bem resolver investigar.
apenas cinco cartas. Isso se deve principalmente ao fato de Q: Se for interrompido ao lançar um feitiço, você perderá o
que, sem um arcabouço formal de feitiçaria, os dragões têm Poder Acumulado? É possível dispersar a energia voluntaria-
muito mais dificuldade para manipular grandes quantidades mente, em vez de usá-la?
de energia de “bate-pronto”. R: Sim e sim. Imagine que Acumular Poder é como com-
Q: Parece que não há limite para a quantidade de cartas que primir uma mola ou esticar um elástico: no momento em que
um magista pode comprar. Isso significa que, com tempo sufi- sua mente soltar a mola ou o elástico– seja porque essa era sua
ciente, qualquer feiticeiro é capaz de lançar qualquer feitiço? intenção ou porque você foi interrompido–, a coisa voltará ra-
R: Sim, é isso mesmo. Entretanto – e para o alívio de mui- pidamente à sua forma original.
tos Anfitriões por aí –, há maneiras de limitar isso. A primeira Q: Que tipos de interrupção são eficazes para isso?
é que, já que a Energia Táumica numa área é finita, normal- R: Dor aguda ou ferimentos, qualquer ameaça à vida ou
mente haverá outros magos usando essa energia ao mesmo integridade física, barulho alto e repentino ou lampejos ofus-
tempo. Removendo cartas aleatoriamente do Baralho da Ma- cantes, o truque Confusão, provocações sexuais (a menos que
gia para representar outros feitiços sendo lançados no mesmo você seja um mago Tântrico).
instante, você normalmente terá como desacelera ro feitiço Q: Os Jogadores têm alguma resistência natural à magia?
de um Jogador, colocando-o numa “linha telefônica conjun- Você pode fazer “testes de resistência” contra feitiços? E contra o
ta” que compartilha a Energia Táumica com outros feiticeiros glamour & outros encantamentos das fadas?
próximos. Nas minhas Aventuras Recreativas, represento isso R: A resistência natural a um feitiço é levada em con-
revelando a primeira carta do topo do baralho toda vez que ta na Definição do próprio feitiço, na categoria Alvo (por

C O M M E 88 I L F A U T
exemplo, “alvo é anão”). Outro fator de resistência é o co- Q: Lançar um feitiço leva quanto tempo?
nhecimento que o magista tem do alvo. O truque Resistência R: Via de regra, os Jogadores Acumulam Poder à velocidade
à Feitiçaria (p. 91) aumenta artificialmente essa resistência de uma carta a cada dois minutos transcorridos no universo
natural ao trazer o poder até você, mas apenas Magistas de jogo. Por isso, lançar um feitiço que custa 24 pontos de ET
conseguem fazer isso. demandaria 48 minutos, supondo-se que você só obteve car-
Só não esqueça que você resistirá a glamours e ilusões com tas não alinhadas de um ponto cada. Mas as coisas não preci-
sua Percepção (disputada pela Habilidade da fada), ao passo sam acontecer dessa maneira: você poderia comprar um Rei
que você resistirá aos poderes feéricos que provocam Medo, (13 pontos) de primeira e uma Rainha (14 pontos) logo em
aos Feitiços de Amor e às Seduções com sua Coragem. seguida, e assim lançar seu feitiço em quatro minutos! Por-
Q: É possível “Acumular Poder” enquanto se corre, fala etc.? tanto, a resposta para a pergunta é: o tempo necessário até
Ou é necessário ficar quietinho no lugar? você dar sorte.
R: Por definição, “Acumular Poder” exige a execução de Q: Como se faz magia “livre”?
um mesmo ritual específico todas as vezes para trazer a ener- R: Se por magia livre você quer dizer criar feitiços do nada,
gia até você. Os Bonifacianos, Templários e Druidas oram em a resposta é: não se faz. Seria o mesmo que dizer: “Como eu
silêncio; os Acólitos de Rá, os Mestres da Loja Branca e os construo um acelerador de partículas sem consultar obras de
Adeptos da Aurora Dourada desenham símbolos místicos referência e toda a pesquisa prévia?”. A magia de Falkenstein
no chão e concentram-se neles; os magos Illuminati medi- é o resultado de séculos de construção laboriosa por parte dos
tam sobre mistérios metafísicos para esvaziar a mente. En- magistas, que somam seus trabalhos à obra de outros magos.
tretanto, ficar parado nem sempre é necessário: os xamãs Agarrar um punhado de energia e tentar tecê-la a esmo é a
indígenas norte-americanos, africanos e australianos dan- receita para um desastre. Conclamo qualquer Anfitrião que
çam, fazem pinturas e desenhos ritualísticos ou se concen- depare com essa situação a fazer o que bem entender com o
tram em fetiches entalhados que representam animais; os Jogador que tentar infringir essa regra.
magos asiáticos praticam katis de kung fu ou entoam sutras Q: Como se inventam novos feitiços? Quanto tempo demora?
budistas. Os magos Tântricos têm de fazer sexo, mas sem Como se definem os custos básicos de feitiços que não se encon-
chegar ao orgasmo, uma forma realmente inconveniente de tram nos livros?
Acumular Poder! Resumindo, qualquer atividade pode ser R: Você pode inventar novos feitiços entendendo-se com
classificada como Acúmulo de Poder, desde que praticada de seu Anfitrião. Primeiro, vocês dois devem definir o que o
forma ritualística e idêntica todas as vezes. Só para relem- feitiço é capaz de fazer em uma única sentença simples. Em
brar, no exemplo da p. 198 de Castelo Falkenstein, Marillion, o seguida, determinem a natureza básica do feitiço e qual será
Magnífico, não estava em movimento quando criou a pare- seu Aspecto. Aí decida, com seu Anfitrião, qual será a Neces-
de de tijolos. Presume-se que ele tenha parado um instante sidade de Energia Táumica básica do feitiço. Via de regra, eu
para se concentrar. começo com uma NET de 6, reduzindo-a para 4 se o feitiço
Q: Um feitiço de área pode ser limitado a um grupo específico tiver uso muito limitado, ou aumentando-a para 8 se der ao
de alvos ou necessariamente afetará todos no local? Jogador uma vantagem forte na movimentação, no contro-
R: As Definições do feitiço estabelecem os parâmetros exa- le de outras pessoas ou na proteção pessoal. Os feitiços de
tos de seu efeito no universo. É por isso que a Definição fala tempo estão sempre entre 10 e 12. Os feitiços destrutivos
em quantidade de alvos afetados, e não em área afetada. Você começam em 10 e crescem de dois em dois pontos conforme
poderia, por exemplo, definir os alvos afetados como mil pes- aumenta seu poder, até a NET máxima de 16. Por fim, peça
soas diferentes, todas em cidades distintas (mas dentro do ao Anfitrião para anotar a pior coisa que poderia acontecer
Alcance do Feitiço), que pertencessem a uma Ordem específi- caso o feitiço desembestasse. Guarde tudo isso para depois:
ca ou fossem todas ruivas! é hora de ir para o “laboratório” e começar a encenar o pro-
Q: Como se inflige dano durante um Duelo de Feitiçaria? cesso de pesquisar o feitiço.
Como se determina o dano de outros feitiços? Um novo feitiço precisa, no mínimo, de um dia de tra-
R: O Duelo de Feitiçaria é uma variação que criei para o balho meticuloso a cada 10 pontos de NET. A cada dia que
sistema de Duelos. Por isso, causa-se Dano exatamente como passar, pegue uma carta aleatória do Baralho da Sorte. Se o
uma espada faria, ou seja, consultando-se a tabela “Resultado naipe da carta não corresponder ao Aspecto do feitiço, some
do embate” da página 195 de Castelo Falkenstein. Mas os feiti- um dia ao tempo de pesquisa e continue comprando cartas.
ços normais que causam dano são um pouco mais complexos. Se você tirar um Coringa, o feitiço terá sofrido uma falha ca-
Como se explica em “Danos terríveis & grandes perigos”, p. 78 tastrófica e acontecerá a pior coisa possível que o Anfitrião
deste livro, o estrago de certos feitiços é classificado de acordo inventou. Ops.
com a Definição Nível de Dano. Você decide o Nível de Dano Contudo, para fazer o que você precisa, nem sempre é ne-
que o feitiço causará e paga o custo da NET resultante. A ta- cessário criar feitiços do nada. Lembre-se de que você pode
bela da p. 79 deste livro mostra como converter os Níveis de misturar e combinar feitiços e Livros Doutrinários para criar
Dano em perda de Vitalidade. As regras para o Duelo de Feiti- novas variações. Para fazer isso, basta conhecer todos os fei-
çaria são aprimoradas no futuro suplemento Livro dos sigilos. tiços envolvidos e adicionar um certo tempo de “depuração

C O M M E 89 I L F A U T
dos erros”: use o sistema de pesquisa descrito anteriormente, dizes conheçam apenas os Truques; Adeptos e graus superio-
mas adicione horas, e não dias,ao tempo de pesquisa, além de res conhecem toda a Doutrina. Em geral, presume-se que os
ignorar os Coringas. Jogadores sejam Oficiais; afinal, não tem graça jogar com um
Q: Eu posso selecionar as cartas acumuladas, descartando as Aprendizque divide seu tempo entre as intermináveis aulas
ruins? Posso descartar os Coringas também? de Introdução à Magia e ariar as panelas da sede da Loja. Con-
R: Apesar da clara afirmação nesse sentido em Castelo Fal- tudo, a opção de definir quanto os Jogadores de cada gradua-
kenstein (p. 203, segundo parágrafo), a maioria dos Jogadores ção sabem em cada Ordem édo Anfitrião (mais detalhes no
a deixa passar. Sim, você pode descartar toda e qualquer carta Livro dos sigilos).
indesejada do Aspecto errado. O único revés é que isso faz seu Q: O que é a Complexidade de um feitiço? Como se aplica?
feitiço demorar mais. R: A Complexidade é a quantidade de tarefas que o feitiço
A única exceção a essa regra são os Coringas: eles disparam precisa desempenhar como parte da conjuração. É a parte
automaticamente o feitiço e o fazem desembestar. Contudo, das Definições que diz “o feitiço envolve X elementos”. Por
como só há dois Coringas no baralho, a chance de isso aconte- exemplo, o feitiço que cria a ilusão de um fantasma e a faz
cer é bem pequena: cerca de 3%. percorrer um corredor teria poucos elementos. Já o feitiço
Q: Como lidar com os Harmônicos? Quem decide o que o Har- que cria a ilusão de um fantasma que anda, diz “eu te amo”,
mônico provocará? Os Jogadores podem usar os Harmônicos in- cheira a rosas e beija um Jogador... Isso envolveria muitos
tencionalmente? elementos. Se o fantasma ilusório fizesse todas as coisas de-
R: Aaaah, os Harmônicos! No manuscrito original do Gran- finidas até aqui e ainda mantivesse uma conversa romântica
de Jogo, deixei deliberadamente o resultado dos Harmônicos e servisse o jantar, isso envolveria muitos elementos com-
a cargo do Anfitrião. Era uma forma de criar eventos dramáti- plexos, e assim por diante.
cos interessantes (como aquela vez em que um Jogador que eu Q: O Magista começa com quantos e quais feitiços? Quando
conheço tentou fazer fogo e, em vez disso, criou uma salaman- oMagista obtém permissão para aprender a Doutrina de sua Or-
dra!) e também um método inteligente de manter o equilíbrio
dem?
do jogo. No entanto, como recebi (via Mike) muitas cartas de
R: A regra é que um Oficial/Adepto conhece todos os fei-
Anfitriões que não sabem como usar os Harmônicos no jogo,
tiços dos Livros Doutrinários de sua Ordem (como Aprendiz,
criei uma Colinha (p. 93). Lembre-se de que essa colinha não
ele só poderia conhecer os Truques, mas, como já menciona-
é a última palavra: o resultado final ainda cabe apenas a você,
mos, jogar com um Aprendiz não é lá muito instigante). Os
Anfitrião, mas a tabela contém diretrizes ou mesmo ideias de
feitiçosnão são difíceis de aprender: a parte difícil é pegar prá-
variações interessantes.
tica suficiente na amarração dos “nós” que compõem o feiti-
Para os Jogadores, usar deliberadamente os Harmôni-
ço, para que ele não “saia pela culatra”. É aí que entra em jogo
cos não tem nada de ilegal. Aliás, eu tenho de parabenizar
o Nível de Habilidade em Feitiçaria.
alguém que aprendeu a manipular o sistema da mesma
Q: Como um Magista pode se filiar a outras Ordens? E, em
maneira que um magista de verdade faria (e, pode acredi-
termos de jogo, como o Jogador aprende novos feitiços ou Livros
tar, os magistas reais também brincam intencionalmente
Doutrinários?
com os Harmônicos). Só tenha em mente o seguinte: você,
como Anfitrião, sempre pode mexer na manifestação final R: Isso fica, de fato, a cargo da interpretação (surpresa,
do Harmônico. Só porque o dragão ilusório tomou forma, surpresa!). Algumas Ordens (como os Templários e os Boni-
não significa que ele não tenha apenas cinco centímetros facianos) têm relações amigáveis e permitem que seus Adep-
de altura! E, só porque os deuses desceram à Terra, não sig- tos aprendam a Doutrina uma da outra. Outras, como a Au-
nifica que eles se darão ao trabalho de notar a existência de rora Dourada e os Illuminati, são opositoras ferrenhas, e os
uma personagem. Jogadores terão de manter sua filiação em segredo e encenar
Q: Em termos de jogo, qual é a diferença entre um Aprendiz e como conseguiram entrar para uma Ordem rival. Existe um
um Adepto? Existe algum tempo mínimo de pesquisa necessário costume de garantir a filiação a magistas desconhecidos que
atéo Aprendiz ser capaz de lançar um feitiço? tenham prestado à Ordem um favor ou serviço importante
R: É verdade que eu descrevi quatro graus hierárquicos [mais detalhes no Livro dos sigilos – Mike].
para a Magia falkensteiniana (Aprendizes, Oficiais [ou Adep- Depois de entrar para a Ordem, aprender seus feitiços não
tos], Mestres e Grão-Mestres), mas esses graus não equivalem é tão complicado quanto parece. Memorizar um único feiti-
aos Níveis de Habilidade do mago em Feitiçaria. Você pode ser ço de um livro leva um dia de estudo contínuo a cada 10pon-
um Oficial bem ruinzinho ou um Aprendiz muito poderoso: tos de Necessidade de Energia Táumica básica. Você poderia
os títulos são apenas títulos e existem apenas para ajudar na aprender às pressas todaaLiturgia das Amarras Psíquicas em
interpretação dos papéis. cinco dias.
Quanto à segunda parte da pergunta, a pesquisa não é o E, por fim...
problema. Os feitiços da Ordem já estão no papel; a questão Q: O que acontecerá se eu tentar lançar um feitiço sem ter
é se a Ordem deixará um Aprendiz ler sua Doutrina. É aí que Acumulado Poder suficiente?
entra a interpretação. Via de regra, eu permito que os Apren- R: O feitiço simplesmente não vai sair. Pffffffffffff!

C O M M E 90 I L F A U T
Novos Feitiços: Truques & Proteções

A
primeira vez que enviei minhas anotações para Resistência à Feitiçaria é uma proteção móvel que difi-
casa, eu tinha apenas uma ideia geral de como culta as coisas para quem tenta transformar você por meio
a Magia funcionava. Desde então, tive algumas de magia. Em termos de jogo, some seu NH em Feitiçaria à
oportunidades de passar um tempo na Escola de Magia de Necessidade de Energia dos feitiços que tomam você como
Oxford e aprender um pouco sobre o processo de se tornar alvo. Dura 10 minutos. [♠/NET 10]
um mago (na verdade, fui levado para lá com o propósito Tarefas Domésticas é um feitiço comum que permi-
de ser estudado pelos docentes de Teoria da Taumaturgia te a você consertar (ou limpar) objetos pequenos, como
Extradimensional). Seguem dois novos tipos de feitiço que tecidos sujos ou rasgados, cerâmica e metais quebrados
os Aprendizes me ensinaram enquanto eu bancava a co- etc. [♦/NET 9]
baia para um bando de caras de túnicas compridas.
proteções
truques Outra coisa sobre a qual aprendi na minha temporada
Os Truques são feitiços ensinados a todos os Aprendi- em Oxford foi que existem Proteções, feitiços poderosos
zes, mini-operações mágikas utilitárias que usam quan- criados para defendera residência de um magista de ata-
tidades muito pequenas de energia (os harmônicos não ques mágikos. As Proteções são planejadas para resguardar
contam e todas as Definições são preestabelecidas) e que as coisas dentro delas contra as coisas que estão do lado
magistas de todas as Ordens neoeuropeias ou de origem de fora. A Proteção só é acionada por algo que viole seu pe-
neoeuropeia conhecem. Os Truques têm uma estrutura rímetro, e não por feitiços nem outras operações mágikas
muito simples e, por essa razão, é praticamente impossí- utilizadas dentro dela. Há dois tipos de Proteção: as Meno-
vel interferir em sua execução. Depois de aprender a usá- res e as Maiores.
-los, você terá adquirido controle e disciplina suficientes As Proteções Menores são de advertência (reativas): fa-
para lidar com as coisas maiores que os Mestres guardam zem soar um alarme para que você saiba que um feitiço
a sete chaves. violou o perímetro. São muito mais baratas, pois os custos
Sentir a Magia permite a você perceber se a Magia foi de Energia Táumica só vão se aplicar enquanto estiverem
utilizada numa área de 30 m de raio nas últimas 24 horas. ativas (veja “Duração” na tabela a seguir). Quando instala-
Dura 1 minuto. [♥/NET 8] da, a Proteção Menor estabelece uma ligação psíquica com
Lança-se Luz Mágika sobre um objeto, que passa a ir- você, permitindo que saiba que algo a atravessou, esteja
radiar uma luminescência azul sobrenatural equivalente a você onde estiver.
uma vela pequena, iluminando uma área de ~3 m de raio. As Proteções Maiores são contrafeitiços ativos que en-
Dura 10 minutos. [♦/NET 8] fraquecem ou detêm a magia. Dificultam muito a execu-
Chama de Vela cria momentaneamente uma chama pe- ção de magia (em termos de jogo, adicionam um multipli-
quena, como a de um palito de fósforo, perfeita para acen- cador ao custo Táumico do feitiço), mas estão limitadas a
der charutos e divertir as garotas que querem muito ver você um determinado local (não podem se mover), precisam
fazer mágika. [♦/NET 8] de manutenção (têm limite de tempo) e só cobrem uma
Confusão produz uma rajada psíquica momentânea única estrutura, contígua (como uma construção ou uma
que deixa o alvo tonto e incapaz de reagir (um turno, em caverna). Para calcular o custo de uma Proteção Maior,
termos de jogo). [♥/NET 10] some a NET da “Duração” à NET do “Multiplicador” (con-
Ilusão Simples provoca mudanças sutis e temporárias sulte a tabela a seguir).
(10 minutos) no tamanho, na forma e cor de objetos pe- Os magistas quase sempre resguardam seus santuá-
quenos. Com este Truque, você pode fazer moedas de cobre rios com os dois tipos de Proteção e garantem sua ma-
parecerem ouro, mudar uma página de tipos num livro ou nutenção. Basta um descuido e – puf! – você vira sapo
dar a si mesmo um bigode e um nariz grande. [♦/NET 8] (ou coisa pior).
Telecinesia Menor permite a você fazer até 0,5 kg de
duração. . . . . . net multiplicador. net
material flutuar e mover-se à velocidade de caminhada.
por hora (até 23) . . . . 1 x2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
Você poderia usar este Truque para pegar as chaves do car- Por dia (até 29). . . . . . 5 x3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
cereiro. Os Aprendizes costumam utilizá-lo para desabo- Por mês (até 12). . . . . 10 x4 . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
toar as camisolas das moças. [♦/NET 10]
PROTEÇÃO MENOR: APENAS NET DA DURAÇÃO.
Sentir Ilusão permite a você saber se alguma coisa nos
PROTEÇÃO MAIOR: NET DA DURAÇÃO + NET DO
arredores não é de verdade, mas não aponta o que seria ilu-
MULTIPLICADOR.
sório. Dura cerca de 1 minuto. [♥/NET 8]

C O M M E 91 I L F A U T
Feiticeiros Profissionais
Grupos de feiticeiros sem filiação alguma para Aventuras Recreativas falkensteinianas.

O
que é uma Ordem Mágika sem Ordem? Res- mancia e Barreira da Adivinhação (Manuscrito da
posta: uma Disciplina. A Disciplina é a Magia Adivinhação Paranormal); Ilusões da Mente & do Cor-
despida de uma boa parte da liturgia e da polí- po (Reino da Ilusão); Sublevara Tormenta, Sublevar a
tica. São os “clínicos gerais” num mundo de “especia- Tempestade de Fogo, Sublevar o Maelströme Subjugar a
listas”, aqueles que oferecem serviços mágikos para Natureza(Forças Sublevadas da Natureza) e Alquimia
atender às necessidades dos não magistas, mas sem Universal (Manuscripto da Alquimia Universal).
filiação a Ordem alguma. bruxas
feiticeiros da polícia As Bruxas praticam a feitiçaria de utilidade públi-
Esta Disciplina é uma consequência natural num ca no nível mais simples, o dos vilarejos: são feitiços
mundo onde os crimes mágikos são possíveis. Dife- de cura para combater doenças, proteções contra
rentes dos Eleusinos – uma Ordem especializada no ataques mágikos, criação de animais etc. Já que são
trabalho investigativo –, os Feiticeiros da Polícia se a “linha de frente” contra incursões feéricas (a bru-
especializam em obter informações sobre delinquen- xa local costuma ser a única feiticeira disponível em
tes mágikos e capturá-los. vilas remotas), diversas bruxas também adquiriram
O Guia dos Investigadores do Rei: É uma obra de muita prática em banir as fadas e suas hostes. Apesar
referência que reúne informações de diversas fon- de extensa, a Doutrina das Bruxas não é transmitida
tes. Contém os seguintes feitiços: Ligação Psíquica, por uma Ordem ou Escola, e sim pela tradição oral.
Reclusão através de Círculos Mágikos e Romper a Li- Grimório da Anciã: Contém vários feitiços úteis
gação (Escrituras Litúrgicas das Amarras Psíquicas); de cura e proteção. Uma Poção do Amor faz aquele
Visão Verdadeira (Reino da Ilusão); Barreira Mental que a beber se apaixonar perdidamente pela primei-
(Manuscriptum Mentalis); Banimento (Liber deIn- ra pessoa na qual botar os olhos (equivalente ao po-
vocamentação); Percepção do Corriqueiro (Reino dos der feérico Feitiço de Amor); Fortalecer o Laço Vital(Es-
Sentidos). crituras Litúrgicas das Amarras Psíquicas); Subjugar
feiticeiros das forças armadas a Natureza (Forças Sublevadas da Natureza); Induzir
a Paz (Reino da Mente Desconhecida); Modelagem
Num mundo em que a Magia é uma realidade cor- de uma Forma Conhecida (criaturas silvestres), do
riqueira há milhares de anos, a maioria das forças ar- Liber da Transformação Mística. Além disso, as Bru-
madas neoeuropeias mantém algum tipo de Disciplina xas também conhecem uma versão específica para
de feiticeiros. O Feiticeiro Militar tem três obrigações: fadas do feitiço Banimento (Libram de Invocamen-
seu primeiro dever é usar a feitiçaria para obter infor- tação) que expulsa imediatamente todas as fadas de
mações confiáveis sempre que for impossível conse- volta para o Véu.
gui-las pelos métodos tradicionais. Seu segundo papel
é fornecer apoio logístico às tropas, fazendo reparos
curandeiros
(Truques) e cuidandodo material. A última tarefa do Os Curandeiros, as contrapartes mágikas dos Mé-
Feiticeiro Militar é providenciar um ambiente ade- dicos, curam pela prática da Arte, e não pelo uso da
quado para o combate, controlando as condições at- medicina. Podem ser encontrados no Clero, em hos-
mosféricas conforme a necessidade. Por essas razões, pitais e nas Forças Armadas, cuidando de todos que
os Feiticeiros das Forças Armadas têm uma Doutrina estiverem sofrendo.
muito específica, recolhida de magistas alistados, ma- O Livro da Cura e da Recuperaçãoinclui Fortalecer
nuscritos capturados e magos azarados que caíram nas o Laço Vital(Escrituras Litúrgicas das Amarras Psíqui-
mãos dosinterrogadores militares. cas); Induzir a Paze Ouvir os Pensamentos Ocultos (Rei-
Manual de Feitiçaria Militar: Este volume contém no da Mente Desconhecida); e Aberturado Terceiro
feitiços de muitas outras obras, tais como, Cristalo- Olho (Reino dos Sentidos).

C O M M E 92 I L F A U T
Convergência Harmônica
“E se meus Jogadores começarem a brincar com os Harmônicos dos feitiços?”

Ó
timo. Adoro quando eles ficam espertos. Jogadores oferecer aos Anfitriões ideias bem mastigadas do que pode
inteligentes o bastante para saber usar os Harmôni- acontecer quando um feitiço ativa um Harmônico. A parte
cos são Jogadores inteligentes o bastante para saber mais importante a se ter em mente é que a tabela é apenas
usar de verdade o sistema de feitiçaria de Castelo Falkenstein. um guia.Se você entregá-la aos Jogadores para que seja se-
O que dificulta tudo para os Anfitriões é quando guida à risca, não vai demorar muito para que eles voltem a
os Jogadores têm permissão para definir eles mesmos o re- planejar o resultado de seus Harmônicos de modo a encai-
sultado dos Harmônicos. Esse foi um grande problema que xá-los nas descrições a seguir. Como Anfitrião, você tem a
muitos dos meus correspondentes do Outro Lado enfren- opção – aliás, o dever sacrossanto – de bagunçar de tempos
taram, pois seus Jogadores pintaram o sete com as brechas em tempos os resultados de um feitiço cheio de Harmô-
deixadas por Anfitriões confusos ou inseguros e forçaram nicos, para que no seu Jogo a magia seja tão imprevisível
o sistema de Harmônicos a fazer tudo que eles quisessem. quanto é em Nova Europa. É com você; portanto, nada de
É por isso que estou dando a vocês uma cópia da minha negligenciar sua responsabilidade de transformar seus Jo-
Tabela de Convergência Harmônica pessoal, criada para gadores em feiticeiros melhores!

aspecto do feitiço
A A A A
   
ÁS ÁS ÁS ÁS
CHOQUE DE RETORNO EMOCIONAL! CHOQUE DE RETORNO EMOCIONAL! MENTE & ESPÍRITO UNIDOS!
A SEM HARMÔNICOS.O feitiço O feitiço emite vibrações psíquicas, O feitiço emite vibrações psíquicas, Criaturas invocadas, Portais ou
 acontece perfeitamente, sem
surpresas.
fazendo todos a seu redor sentir
medo [♦], raiva [♣], lascívia [♥] ou
fazendo todos a seu redor sentir
medo [♦], raiva [♣], lascívia [♥] ou
feitiços de Tempo projetam fortes
auras de medo [♦], raiva [♣],
ÁS
desespero [♠]! desespero [♠]! lascívia [♥] ou desespero [♠]!
ILUSÕES TOMAM FORMA! ELEMENTOS SE INSURGEM&
Ilusões, amarras psíquicas, TOMAM FORMA! O ESPÍRITO TOMA FORMA!
A
 devaneios & criaturas oníricas
tornam-se reais, assumindo
SEM HARMÔNICOS.O feitiço acontece Um elemental furioso deTerra [♦], Ar
perfeitamente, sem surpresas. [♣], Fogo [♥] ou Água [♠] aparece
Espectros e fantasmas que você
tenha invocado tomam forma e
harmônico dofeitiço

ÁS formas sólidas (possivelmente e ataca você com força destrutiva aparecem na sua frente!
hostis). [Nível F]!
ELEMENTOS SE INSURGEM ELEMENTOS SE INSURGEM&
EMSUA MENTE! SUBLEVAÇÃO DOS ELEMENTOS! TOMAM FORMA!
A SEM HARMÔNICOS.O feitiço
 Terremotos ilusórios,
tempestades de fogo e ondas
O céu fica escuroe raios & labaredas
atingem a terra a seu redor, causando
acontece perfeitamente, sem
surpresas.
Um elemental furioso deTerra [♦],
Ar [♣], Fogo [♥] ou Água [♠]
ÁS gigantescas aterrorizam todos a grande dano [Nível F]! aparece e ataca você com força
seu redor! destrutiva [Nível F]!
ATAQUE DE LOUCURA! SUBLEVAÇÃO DOS ESPÍRITOS! OS DEUSES DESCEM À TERRA!
A Emoções descontroladas Abrem-se dimensões sombrias, Os elementos se manifestam como SEM HARMÔNICOS.O feitiço
 ofuscam momentaneamente sua
alma com medo [♦], raiva [♣],
permitindo que fantasmas e espíritos
malignos ataquem você-ao menor
Deuses deTerra [♦], Ar [♣], Fogo acontece perfeitamente, sem
[♥] ou Água [♠], dotados de poderes surpresas.
ÁS
lascívia [♥] ou desespero [♠]! contato [Nível D]! destrutivos [Nível F]!
FEITIÇO DESEMBESTADO! FEITIÇO DESEMBESTADO! FEITIÇO DESEMBESTADO!
FEITIÇO DESEMBESTADO!
Aumenta-se o efeito em 2 níveis, Aumenta-se o efeito em 2 níveis, Aumenta-se o efeito em 2 níveis,
Aumenta-se o efeito em 2 níveis, seja
seja Alcance [♦], Duração [♣], seja Alcance [♦], Duração [♣], seja Alcance [♦], Duração [♣],
Alcance [♦], Duração [♣], Quantidade
CORINGA Quantidade de alvos [♥] ou Quantidade de alvos [♥] ou Nível de Quantidade de alvos [♥] ou Nível
de alvos [♥] ou Nível de Dano [♠]!
Nível de Dano [♠]! Dano [♠]! de Dano [♠]!
As ilustrações representam naipes, e não cartas específicas

C O M M E 93 I L F A U T
Bom Senso: Falkenstein sem Regras
Q uantas vezes você já se viu na situação de jogar RPG
apenas com interpretação, sem regras? Como você e o
Mestre determinaram o resultado da situação? Vocês
usaram o bom senso. Vocês dois concordaram quanto ao que
Se o NH do Jogador estiver três níveis abaixo do necessário
para realizar o Feito, o resultado é uma Trapalhada.
Se o NH do Jogador estiver dois níveis abaixo do necessário
para realizar o Feito, o resultado é uma Falha.
seria um desfecho razoável, com base nas habilidades da per- Se o NH do Jogador estiver um nível abaixo do necessário
sonagem, nas condições e na situação, e pronto: as regras cede- para realizar o Feito, ele obterá um Sucesso Parcial.
ram lugar à trama. Essa é justamente a ideia do sistema de re- Se o NH do Jogador for igual ao necessário para realizar o
gras alternativo explicado a seguir, que eu batizei de Bom Senso. Feito, ele obterá um Sucesso Completo.
Vejam só, em minha breve (mas variada) carreira como de- Se o NH do Jogador estiver um nível acima do necessário
signer de jogos de computador, aprendi uma verdade funda- para realizar o Feito, ele obterá um Sucesso Decisivo.
mental: as regras só existem para determinar o resultado do Exemplo: A personagem precisa ler um excerto de um
uso de uma Habilidade em situações em que o des- texto em latim muito obscuro. Baseando-se nos
fecho é incerto. O resto é enfeite e só está lá para exemplos, você decide que seria necessária uma
ajudar a determinar a situação e o resultado. E é Educação Extraordinária (EXT) para enten-
isso. The End. der o texto. A personagem só tem Educação
Portanto, a ideia básica desta seção é Excepcional (EXC). Você decide que, ape-
mostrar a você como determinar o que está nas um nível abaixo, a personagem teria
acontecendo no seu Jogo através de deli- Sucesso Parcial: talvez compreendesse
berações, em vez de depender de núme- alguns trechos, mas não entenderia
ros. Esta é a melhor maneira de conduzir completamente o texto (“É sobre uma
o Jogo, pois garante que a ação se de- guerra entre dois deuses antigos da Su-
senrole como na vida real, e não como méria”). Se sua Educação fosse Ótima
numa simulação lúdica. Os métodos (OTI), a personagem mal entenderia o
que vou apresentar aqui também são que leu: talvez só pegasse a ideia cen-
a melhor maneira de conduzir “larps”e tral do texto (“É sobre um tipo de deus
sessões de jogo menos voltadas para a antigo”).
“exploração de masmorras” e mais dire- Comparando-se as diferenças, po-
cionadas para o Melodrama. Em suma, de-se determinar com facilidade o grau
é aqui que saímos da estrada para nos de sucesso. Depois de um tempinho,
embrenharmos na vastidão selvagem. você vai memorizar a escala e dispensa-
primeiro, use a descrição ras tabelas.

O primeiro passo é ler a descrição da Ha-


... ou vice-versa
bilidade que o Jogador está tentando usar (p. Você também pode partir do Jogador para o
95-102 deste livro). A Descrição costuma infor- Feito. Neste caso, você pensa: “Humm... O Joga-
mar instantaneamente o que é possível fazer em dor tem uma Educação Excepcional, e isso lhe per-
qual Nível de Habilidade. mite ler todos os textos, exceto os mais obscuros. Como
Dê uma olhada nos exemplos das páginas seguintes. Cada um este texto não é tão obscuro assim, o Jogador consegue lê-lo”.
deles mostra o que seria razoável esperar de você num certo tipo omita o processo
de situação. Cada um dos exemplos seguintes também inclui:
1) O Nome da Habilidade e a descrição do Objetivo de usá-la. Perceba duas coisas. A primeira é que todo o processo des-
2) O Naipe (Copas, Paus, Espadas ou Ouros) ao qual a Habili- crito até aqui pode transcorrer sem você discuti-lo com o Joga-
dade está relacionada, indicado como um símbolo [♣] ao dor. Você só compara a Habilidade com o Exemplo e expressa
lado do nome da Habilidade. o resultado verbalmente, como: “Hummm. Você o lê bem de-
3) Um exemplo mostrando O Que se Pode Fazer com a Habi- vagar, e o texto parece tratar de uma guerra entre dois deuses
lidade a Cada Nível. sumérios antigos” (um Feito [EXT] contra uma Habilidade
4) Um exemplo mostrando Como Descrever o Resultado do apenas [EXC]). Neste momento, o Jogador talvez decida baixar
uso da Habilidade (fora um mero “você conseguiu”). uma carta da Mão da Sorte dele para alterar a situação, mas ele
pense a partir do feito... não sabe, necessariamente, quanto falta para chegar lá.
O resultado fica muito mais próximo da vida real quando
Para usar os exemplos, você decide qual seria o exemplo/ você deixa de dizer: “Você falhou no teste”. Em vez disso, você
Nível de Habilidade mínimo necessário para realizar o Feito, está dando ao Jogador o desfecho das ações dele, e não o resul-
aí compara esse valor à Habilidade do Jogador. A regra é: tado de um teste. A vida não é como o placar das Olimpíadas:

C O M M E 94 I L F A U T
não existem juízes levantando cartões com as notas, e você Já que usar Aparência é algo tão subjetivo, os Anfitriões de-
raramente sabe como se saiu (quantitativamente falando). vem sempre levar em conta como o Jogador descreve o uso.
Você obtém um resultado e o compara mentalmente com o Dizer “estou acrescentando minha Aparência para parecer
que pretendia fazer. Por isso, em vez de o Anfitrião dizer “você mais Carismático” não é o suficiente. Os Anfitriões devem
precisava de um 10 e tirou 15, então você se saiu muito bem”, solicitar exemplos mais concretos que demonstrem o uso da
o resultado será expresso como: “Você consegue ler o texto Aparência. Por exemplo: “Abro bem os olhos, para parecerem
com facilidade. De fato, você reconhece o excerto como parte enormes, e faço um beicinho insinuante ao me inclinar e exi-
de um cântico de guerra anano sobre as batalhas entre Bes e a bir o decote”.
deusa Tiamat. O cântico falade [...]”. O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
A segunda coisa é que usar o Bom Senso é muito mais pa- [FRA] Nada. As pessoas ignoram você ou tentam desviar
recido com a vida real em outro sentido: na vida real, você ge- os olhos, murmurando coisas como “pobre coitado...”.
ralmente sabe o que é capaz de fazer antes de tentar. Você tam- [MED] Pode ser que elogiem suas roupas e seu penteado.
bém sabe que algumas coisas são quase impossíveis (bater em [BOM] Ser a modelo de um artista da cidade. Atrair a
Bruce Lee) e outras tornam uma falha praticamente impossí- atenção de uma celebridade local.
vel (qual foi a última vez que você fez besteira ao tentar amar- [OTI] Posar para um pintor ou escultor famoso. Receber
rar os cadarços?). Com este processo, você consegue fazer a um convite para frequentar a Corte.
coisa dentro de certos limites ou usa as cartas de caso pensado [EXC] Você é uma grande beleza local que as pessoas co-
para mudar o resultado do evento, fazendo sua própria sorte. mentam nas ruas. Artistas de grande reputação querem
Já que o Anfitrião também pode jogar cartas da Sorte contra pintar você.
você, isso significa que você pode se ver, literalmente, numa [EXT] Sua beleza é famosa no mundo todo; as pessoas dis-
batalha estratégica para conseguir o golpe de sorte de que pre- putam sua atenção.
cisa. Muito mais satisfatório do que jogar um dado! Como Descrever o Resultado:
entra o baralho da sorte Trapalhada:“Sua aparência causa repulsa, por alguma razão.”
Falha:“Eles não estão impressionados. Você não faz o
Embora viole alguns dos princípios por trás da ideia de fa- tipo deles.”
zer o sistema desaparecer, é fácil encaixar o Jogo da Sorte no Sucesso Parcial:“Acham você atraente, mas não é para
mecanismo do Bom Senso. Nesta variante, porém, as cartas tanto.”
não são somadas a uma Habilidade, e sim usadas como mo- Sucesso Completo:“Acham você muito atraente e simpa-
dificadores especiais dos resultados básicos dos Jogadores. As tizam com você imediatamente.”
regras para usar a Sorte são: Sucesso Decisivo:“Estão aturdidos com sua beleza. Não
Qualquer carta do naipe adequado que venha a ser utiliza- conseguem tirar os olhos de cima de você.”
da conta como seu valor nominal, começando com o Dois (2)
e terminando no Ás (14). Cartas de outros naipes aqui tam-
atletismo [♣]
bém valem apenas um ponto. Objetivo:Os Feitos de Atletismo geralmente envolvem façanhas
A cada dois pontos obtidos com as Cartas da Sorte, o re- de equilíbrio, precisão no arremesso ou manipulação. O objeti-
sultado da ação subirá um nível (por exemplo, de um Sucesso vo é determinar se é possível realizar o Feito sem se machucar.
Parcial para um Sucesso Completo). O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
como colocar tudo isso em prática [FRA] Ficar na parte rasa da piscina. Arremessar uma bola.
[MED] Nadar. Equilibrar-se numa viga de 30 cm de largu-
Seguem exemplos de todas as Habilidades listadas em ra. Pular uma cerca.
Castelo Falkenstein (páginas 159-163). [BOM] Nadar em águas agitadas. Equilibrar-se numa viga
aparência [♥] de 15 cm de largura. Malabarismo. Escalar colinas íngre-
mes e penhascos inclinados.
Objetivo: Raramente a Aparência é usada em jogo de maneira
[OTI] Nadar em águas muito revoltas. Equilibrar-se numa
direta, como, por exemplo,para decidir “quem é mais boni-
viga de 3 cm. Apanhar insetos em pleno voo. Escalar um
to”. Em geral, duas pessoas com o mesmo nível de Aparência
paredão rochoso.
são igualmente bonitas e as diferenças estão mais ligadas ao
[EXC] Nadar em meio a uma tempestade. Escalar uma pa-
gosto do observador. A Aparência costuma se rusada como
rede de tijolos sem cordas. Equilibrar-se na corda bamba.
modificador de outra coisa.
[EXT] Nadar durante um furacão. Escalar penhascos ín-
Via de regra, decida qual Habilidade o Jogador quer mo-
gremes. Equilibrar-se num cordão.
dificar usando sua Aparência (por exemplo, usar sua boa
Como Descrever o Resultado:
pinta para melhorar seu Carisma). Se a Aparência do Joga-
Trapalhada:“Você não somente é incapaz de fazê-lo, como
dor for Ótima, o Anfitrião poderá decidir, a critério dele,
machuca a si mesmo ou a outra pessoa (torce um tornoze-
melhorar o resultado do Feito em um nível (por exemplo,
lo, cai de lá de cima, atinge outra pessoa).”
de um Sucesso Parcial para um Sucesso Completo). Se for
Falha:“Você começa a fazê-lo, mas não consegue.”
Excepcional, melhore o resultado em dois níveis (de Par-
Sucesso Parcial:“Você consegue, mas só por um triz; quase
cial para Decisivo); se for Extraordinário, em três níveis.
falha, mas consegue se recuperar.”
Da mesma maneira, um NH Fraco em Aparência reduziria o
Sucesso Completo:“Sem problemas.”
resultado em um nível.

C O M M E 95 I L F A U T
Sucesso Decisivo:“Você o faz com calma, graça e naturali- pensar ajuda quando você a pede. Você é o homem ou a mu-
dade. Quase perfeito. As pessoas falarão sobre isso duran- lher com quem todos do seu convívio social querem estar e
te anos e anos!” se vê obrigado(a) a recusar pedidos de casamento.
atuação [♥] [EXC] Você é famoso por sua popularidade. As pessoas
não só movem mundos e fundos para ajudar você (a ponto
Objetivo: Determinar se uma apresentação é bem recebida. de arriscar as próprias vidas), como também não perdem
Esta Habilidade depende muito de como os espectadores per- a oportunidade de cair nas suas boas graças. Homens ou
cebem a apresentação, por isso, sempre descreva os resultados mulheres atraentes se atiram a seus pés.
do ponto de vista da plateia. [EXT] As pessoas ficam aturdidas com seus dotes espeta-
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: culares. Você poderia seduzir uma princesa, persuadir um
[FRA] Você não sabe cantar. Nem dançar. Fique lá no fun- rei a lhe conceder favores e se eleger para qualquer cargo
do e, por favor, não envergonhe os cavalos. na face da Terra.
[MED] Você canta ou atua razoavelmente. Talvez saiba até Como Descrever o Resultado:
tocar piano. Trapalhada:“Acontece algo diametralmente oposto ao
[BOM] Você é bom, para um amador. As pessoas encora- que você desejava. As pessoas acham você horrível e anti-
jam você a usar seu talento profissionalmente. patizam com você na mesma hora.”
[OTI] Você é uma celebridade local e talentosa. Você é Falha:“As pessoas não aceitam você e pronto. Você não
muito bom na sua arte performática – ou ao menos famo- convence.”
so por exercê-la. Sucesso Parcial:“Hummm... Eles parecem concordar, mas
[EXC] Você é um artista bem conhecido e já se apresentou podem mudar de ideia a qualquer momento.”
em muitos salões por todo o Continente. Seu nome atrai o Sucesso Completo:“Eles concordam quase instantanea-
público, e você é considerado muito bom no que faz, mes- mente. Você consegue o efeito que queria.”
mo por outros artistas profissionais. Sucesso Decisivo:“Eles adoraram sua ideia! Insistem em
[EXT] Você uma das grandes estrelas da Era do Vapor, co- discuti-la e chegam a melhorá-la. Você talvez só quisesse
nhecido em todo o mundo. Seu retrato está em toda par- um beijo, mas agora eles querem levar você para a cama.”
te, seus espetáculos vivem lotados e as pessoas adorariam
conhecer você. combate (várias habilidades) [♣]
Como Descrever o Resultado: [Briga, Esgrima & Tiro]
Trapalhada:“Vaias por todo lado. Tomates voando. Você é Objetivo: O objetivo de usar estas Habilidades é acertar o
ridicularizado nos bastidores.” oponente. Os Anfitriões devem evitar usar descrições quan-
Falha:“Eles encaram você. Uma ou outra vaia. Um certo titativas para os resultados de um golpe – coisas do tipo “você
burburinho na plateia.” tomou 20 Ferimentos”. Em vez disso, tentem descrever os
Sucesso Parcial:“A plateia considera seu desempenho efeitos dos golpes como um observador os veria.
aceitável; eles aplaudem, mas sem muito entusiasmo.” O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
Sucesso Completo:“A plateia está impressionada. Eles Esgrima:
aplaudem seu virtuosismo e discutem educadamente [FRA] Você balança a espada como se fosse um pedaço de
sua atuação.” pau. Pelo menos você sabe qual é o lado que corta.
Sucesso Decisivo:“A plateia se levanta! Você é aplaudido [MED] Você sabe algumas posturas e consegue fazer algu-
de pé e coberto de ovações!” ma coisa com a lâmina, mas não muito.
carisma [♥] [BOM] Você é um esgrimista treinado, capaz de derrotar
Objetivo: Esta Habilidade serve para fazer alguém gostar de a maioria dos valentões e encrenqueiros do dia a dia. Você
você, influenciar opiniões ou causar boa impressão. O obje- talvez tenha a reputação de alguém com quem não é bom
tivo é apresentar ao Jogador a reação geral da pessoa que ele se meter.
tenta afetar. [OTI] Você é um esgrimista conhecido, com a reputação de
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: ter duelado muitas vezes. Você provavelmente é o melhor
[FRA] Ninguém gosta de você. Você não consegue conven- do Regimento ou da cidade com uma espada nas mãos.
cer ninguém de nada, de tão repulsivo que é. Você simples- [EXC] Você é um dos duelistas mais famosos do país; sua
mente parece esquisito. Habilidade é conhecida o suficiente para lhe garantir uma
[MED] As pessoas até gostam de você. A maioria vai aju- reputação nacional.
dar ou escutar você, mas não mover mundos e fundos por [EXT] Você é um dos duelistas mais mortíferos que já empu-
sua causa. Você provavelmente conseguiria cortejar uma nharam uma espada. Suas habilidades são lendárias, no mes-
dama de status social idêntico ou inferior ao seu. mo nível de personagens como D’Artagnan ou Von Hentzau.
[BOM] Adorável. As pessoas fazem o possível para ajudar Briga:
você e correm pequenos riscos em seu nome. A maioria dos [FRA] Você está à altura de uma briga no colégio.
homens ou mulheres núbeis do seu convívio está interessada [MED] Você consegue se defender da maioria dos opo-
em você e não acharia nada ruim um pedido de casamento. nentes comuns.
[OTI] Você é excepcionalmente popular. As pessoas correm [BOM] Você é um lutador talentoso, capaz de derrotar
grandes riscos por você e fazem de tudo um pouco para dis- a maioria dos valentões e encrenqueiros do dia a dia.

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Você talvez tenha a reputação de alguém com quem não [BOM] Levantar 100 kg. Quebrar um bastão de 5 cm de
é bom se meter. espessura. Caminhar durante horas sem se cansar; correr
[OTI] Você é um lutador profissional que já levou um ou 1,5 km de precisar descansar.
dois prêmios nesta vida e consegue derrotar facilmente [OTI] Levantar 200 kg. Dobrar uma barra de ferro de 5 cm
qualquer pugilista urbano ou marginal. de espessura. Correr 8 km antes de precisar descansar.
[EXC] Você é um dos pugilistas ou lutadores mais famosos [EXC] Levantar 300 kg. Dobrar uma barra de aço de 5 cm
que existem; vence torneios regularmente e sua Habilida- de espessura. Correr 15 km sem se cansar, caminhar du-
de é conhecida o suficiente para lhe garantir uma reputa- rante um dia inteiro sem precisar descansar.
ção nacional. [EXT] Levantar 400 kg. Dobrar uma barra de aço de 10 cm
[EXT] Você é um dos maiores lutadores que já calçaram de espessura ou uma barra de prata anana de 5 cm. Correr
as luvas. Suas habilidades são lendárias; as pessoas falam durante duas ou três horas sem se cansar, caminhar du-
de você em tavernas, clubes de esportistas, becos e vielas. rante vários dias quase sem repouso.
Tiro: Como Descrever o Resultado:
[FRA] Você nunca disparou uma arma de fogo antes. Trapalhada:“Ui! Você distendeu um músculo na ten-
Você consegue apontá-la freneticamente e puxar tativa.”
o gatilho. Falha:“Você simplesmente não consegue.”
[MED] Você consegue mirar e acertar um Sucesso Parcial:“Você consegue, em parte,
alvo parado, mas nem sempre. Nem tente mas não chega a [dobrar, levantar, empur-
um alvo em movimento. rar]a coisa até o fim.”
[BOM] Você atira bem, mas ainda tem Sucesso Completo:“Sem problemas.”
alguma dificuldade com alvos em mo- Sucesso Decisivo:“Você realiza sua
vimento. proeza com facilidade.”
[OTI] Você é um atirador famoso, contatos [♠]
aclamado vencedor de muitos due-
los ou troféus. Você provavelmente Objetivo: O objetivo é determinar se o
é o melhor do seu Regimento ou Jogador conhece uma certa pessoa (ou
clube. certo tipo de pessoa). O Jogador tam-
[EXC] Você é um dos atiradores bém pode estar tentando fingir que
mais famosos do país; sua perícia conhece alguém para conseguir algu-
é conhecida o suficiente para lhe ma coisa (“você deveria me ajudar,
garantir reputação nacional como porque eu conheço o Príncipe”), mas,
caçador ou duelista. para dar certo, seu relacionamento so-
[EXT] Você é um dos maiores atira- cial com o suposto contato tem de ser
dores que existem, costuma vencer os verossímil. Aí o objetivo é determinar
torneios de tiro ou mata infalivelmen- se a pessoa acreditou que ele realmente
te os tolos que duelam com você. tem o relacionamento sugerido.
Como Descrever o Resultado: O Que se Pode Fazer com a Habilidade a
Trapalhada:“Ui! Você acerta algo que Cada Nível:
não queria acertar (como um amigo ou seu [FRA] Desista de entrar em qualquer lugar
próprio pé).” decente. Você só conhece a ralé e as classes cri-
Falha:“Errou por mais de um quilômetro.” minosas.
Sucesso Parcial:“Você acerta o alvo, mas por muito pouco.” [MED] Entrar numa taverna local. Conhecer algumas
Sucesso Completo:“Você acerta na mosca.” personalidades locais, mas só de vista. Pode conhecer um
Sucesso Decisivo:“Pou! Acertou em cheio! Você realmente contato local importante que todo mundo normalmente
machucou o alvo; ele cambaleia e quase cai!” conhece (vereador, burgomestre etc.).
compleição física [♣] [BOM] Entrar num clube local. Conhecer de vista alguns
marajás da classe alta, mas ninguém da realeza.
Objetivo: Os objetivos a seguir estão relacionados a feitos [OTI] Entrar num clube exclusivo. Conhecer todos os
de força e resistência. As Descrições das Habilidades quan- figurões locais, autoridades e celebridades. Conhecer
tificam o peso que é possível erguer ou mover, mas os An- alguns membros da realeza, mas só de vista, não pes-
fitriões devem se sentir à vontade para decidir como acha- soalmente.
rem melhor. [EXC] Entrar em qualquer clube ou espetáculo privativo
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: do planeta. Conhecer todo mundo que é importante, seja
[FRA] Levantar 30 kg. Quebrar um lápis. Andar 1,5 km an- na alta roda ou nas casas reais de Nova Europa.
tes de se cansar. [EXT] Você é uma das pessoas influentes desta era. Você
[MED] Levantar 75 kg. Quebrar um bastão de 3 cm de es- pode fundar seu próprio clube e todo mundo vai se matar
pessura. Andar rapidamente alguns quilômetros antes de para entrar nele. Até mesmo Reis e Potentados se impres-
precisar descansar. sionam com sua roda social.

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Como Descrever o Resultado: O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
Trapalhada:“Estão todos pensando que você é um novo- [FRA] Ler um livro ou panfleto com muitas ilustrações.
-rico presunçoso. Ignoram você. Sabem que você nunca [MED] Somar, subtrair e outras operações aritméticas
viu a pessoa de quem está falando.” simples. Fazer-se entender (muito mal) num idioma es-
Falha:“Você não conhece ninguém lá dentro, e também é trangeiro que você estudou. Saber apenas os fatos histó-
um desconhecido para eles.” ricos e científicos mais básicos (Batalha de Hastings, Dar-
Sucesso Parcial:“Você talvez conheça o amigo do amigo de win disse que viemos dos macacos).
alguém. Você já ouviu um nome ou outro por aí, e pode ser [BOM] Resolver um problema de álgebra simples. Ler uma
que também tenham ouvido o seu.” frase primária em latim. Lembrar-se de fatos históricos
Sucesso Completo:“Você conhece bem a pessoa que men- bem conhecidos (datas importantes da Guerra das Rosas)
cionou. Vocês têm uma relação de amizade razoável, o su- ou de trechos dos Clássicos. Fazer-se entender num idio-
ficiente para pedir alguns favores.” ma estrangeiro que você estudou (com sotaque).
Sucesso Decisivo:“Você conhece muito bem a pessoa; vo- [OTI] Resolver problemas matemáticos complexos. Ler e
cês costumam se encontrar em eventos sociais e frequen- escrever em latim e grego. Lembrar-se da maioria dos fatos
tam os mesmos círculos.” e datas históricas. Citar ou reconhecer citações dos Clássi-
coragem [♥] cos. Levar a cabo experimentos simples de física e química.
[EXC] Falar qualquer língua neoeuropeia comum como um
Objetivo: O objetivo é saber dizer ao Jogador qual será a nativo. Resolver problemas e realizar experimentos muito
reação da personagem às adversidades ou privações. Você complexos de matemática, física e química. Entender todas
desmorona sob pressão ou ao enfrentar um grande medo? as referências históricas e científicas, exceto as mais obscuras.
Durante quanto tempo você consegue suportar o trabalho [EXT] Falar todas as línguas fluentemente, exceto as mais
árduo antes de desabar? obscuras. Criar novos conceitos que levam ao desenvolvi-
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: mento da matemática, física e química.
[FRA] Nada. Você é um fracote anêmico que se encolhe ao Como Descrever o Resultado:
pressentir perigo. Trapalhada: Diga ao Jogador algo nada a ver, como: “É sobre
[MED] Ficar sem comida por um dia. Encarar um escrivão alienígenas que vieram para Nova Europa na Antiguidade”.
rude. Confrontar um rufião desarmado. Falha: Não diga nada. “Você não faz ideia do que isso signi-
[BOM] Passar alguns dias sem comida. Sobreviverá tor- fica (ou do que precisa saber)”.
tura leve. Encarar rufiões armados com facas sem pes- Sucesso Parcial:Faça uma afirmação vaga sobre o fato ou a
tanejar. informação, como: “Hummm. Você lê o texto bem devagar
[OTI] Sobreviver à inanição durante dias e à tortura extre- e parece que é sobre uma guerra entre dois deuses sumé-
ma durante horas. Enfrentar sem medo as balas que pas- rios antigos”.
sam zunindo por você. Sucesso Completo: Um pouco mais de informação: “Você
[EXC] Você é um pilar de determinação e força moral. Ri reconhece o excerto como parte de um cântico de guerra
dos seus torturadores (só cederia depois de dias e dias de anano sobre as batalhas entre o deus anão Bes e a deusa
dor extrema) e não demonstra medo. dragontina Tiamat”.
[EXT] Sua força de vontade é inquebrantável. Você morrerá Sucesso Decisivo: Informação completa: “Você lê com faci-
antes de sucumbir à tortura e desconhece a palavra medo. lidade. De fato, você reconhece o excerto como parte de um
Como Descrever o Resultado: cântico de guerra anano sobre as batalhas entre o deus anão
Trapalhada:“Você entra em pânico, grita, fica histérico e Bes e a deusa dragontina Tiamat. O cântico fala de [...]”.
perde o tino!”
Falha:“Você simplesmente não consegue suportar a situa-
eterealidade [♣]*
ção. Não dá escândalo, mas não consegue resistir à pres- Objetivo: O objetivo é determinar se um jogador consegue
são. Você perde a coragem e foge.” atravessar certo material, voar ou assumir a forma de um tipo
Sucesso Parcial:“Exige um bocado de esforço, mas você de criatura específico.
consegue se segurar. Só torce para que eles não paguem O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
para ver.” [FRA] Passar um braço por uma parede, mas não atra-
Sucesso Completo:“Você já esteve em situação pior. Mes- vessá-la. Virar algum tipo de líquido. Flutuar no ar sem
mo não sendo prazeroso, você consegue lidar com isso.” de fato voar.
Sucesso Decisivo:“Você domina seus nervos e enfrenta a [MED] Atravessar apenas paredes de madeira. Transfor-
adversidade sem pestanejar. Você é destemido e corajoso, mar-se num nevoeiro denso. Voar sem pressa. Mudar
um verdadeiro leão!” para qualquer outra forma de tamanho e configuração
educação [♦] semelhantes aos seus, permanecendo assim durante uma
hora, no máximo.
Objetivo: O objetivo desta Habilidade, nos exemplos a seguir, [BOM] Assumir a forma de qualquer criatura do seu ta-
é determinar se a personagem conhece ou não um certo fato. manho durante um dia, no máximo. Atravessar com faci-
Em vez de simplesmente dizer “você sabe tal coisa” (ou não), lidade paredes de pedra ou tijolos. Transformar-se numa
diga aos seus Jogadores apenas quanto eles sabem. névoa fina. Voar à mesma velocidade dos pássaros.

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[OTI] Assumir a forma de qualquer criatura do seu tama- O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
nho por tempo indeterminado. Atravessar qualquer pare- [FRA] Arrastar os pés no assoalho atapetado sem fazer barulho.
de que não seja de ferro. Tornar-se praticamente imaterial. [MED] Andar sem fazer barulho sobre a maioria dos ta-
Voar à mesma velocidade de uma “aeronave”. petes. Abrir portas bem lubrificadas. Surrupiar coisas
[EXC] Assumir a forma que você quiser, seja de que ta- quando ninguém está olhando.
manho ou configuração for, durante um dia, no máximo. [BOM] Andar sem fazer barulho em pisos de madeira.
Atravessar paredes de ferro com muito vagar e sofrimento Abrir portas que rangem um pouco. Furtar coisas quando
(3 cm por minuto). a vítima está distraída.
[EXT] Assumir indefinidamente a forma que quiser, não [OTI] Andar sem fazer barulho sobre cascalho escorrega-
importando o tamanho nem a configuração. Ficar com- dio. Abrir com facilidade portas que rangem. Realizar pe-
pletamente imaterial. Voar a velocidades inacreditáveis. quenas proezas da punga ou da prestidigitação.
Atravessar qualquer coisa que não seja Ferro Frio. [EXC] Andar silenciosamente sobre folhas ou papel-ar-
Como Descrever o Resultado: roz. Fazer objetos desaparecerem. Abrir praticamente
Trapalhada:“Você está preso dentro da parede. E não con- qualquer porta.
segue se mexer.” [EXT] Andar silenciosamente sobre qualquer coisa. Fa-
Falha:“Você ricocheteia na parede. É melhor ir andando.” zer objetos desaparecerem diante de observadores. Abrir
Sucesso Parcial:“Você atravessa os obstáculos, mas vagaro- qualquer porta sem fazer barulho.
samente, e leva vários segundos para fazer algo que deveria Como Descrever o Resultado:
ser instantâneo. Você voa desastradamente e devagar.” Trapalhada:“Você se atrapalha, tropeça e cai. Todas as pes-
Sucesso Completo:“Você atravessa a parede em instantes.” soas num raio de um quilômetro sabem o que você está
Sucesso Decisivo:“Você passa com facilidade por todos os tentando fazer!”
obstáculos.” Falha:“Bem, você não era tão silencioso quanto pensava...
N. de T.: Como Tom alertou na p. 73, o Aspecto da Habilidade Eterealida- Ouviram você sem dificuldade.”
de, que era Espadas em Castelo Falkenstein,passa a ser Paus. Sucesso Parcial:“Você não chama atenção. Eles percebem
feitiçaria [♦] algo, mas não tudo. No entanto, sabem que você está fa-
zendo alguma coisa.”
Objetivo: A Habilidade Feitiçaria é usada primariamente para Sucesso Completo:“Sem problemas. Você é silencioso,
determinar quanto tempo um magista tem de esperar para sorrateiro como o vento.”
Acumular mais Poder. Por isso, é a única Habilidade que, de Sucesso Decisivo:“Você é tão silencioso que acaba indo
fato, quase não tem aplicação direta. mais rápido ou mais longe do que pretendia. Nenhuma
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: chance de terem percebido você.”
[FRA] Feitiçaria? Você não acredita em Magia nem quan- glamour [♥]
do a vê!
[MED] Ocasionalmente, você sente algo estranho quan- Objetivo: O objetivo é determinar se uma ilusão é boa o suficien-
do utilizam Magia perto de você. Só isso. te para enganar os espectadores ou, em alguns casos, se a fada
[BOM] Você é um Aprendiz, está estudando a Arte e qua- terá poder suficiente para criar a ilusão com suas Habilidades.
lificando-se. Consegue fazer os Truques mais simples, de- O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
vagar e com cuidado, mas o Verdadeiro Domínio ainda lhe [FRA] Criar sombras densas ou luz forte do nada. Dar um
escapa. Você consegue Acumular Poder à velocidade de ar sobrenatural às coisas.
uma carta a cada quatro minutos. [MED] Criar imagens de complexidade e duração limita-
[OTI] Você é um Adepto, capaz de usar a Arte como de- das (flores, formas, luzes; apenas segundos).
sejar, embora feitiços maiores ainda sejam difíceis. Você [BOM] Criar imagens razoavelmente complexas (animais,
consegue Acumular Poder à velocidade de uma carta a pessoas, tesouros), com direito a sons, cheiros e sensações
cada três minutos. táteis a até uns 30 m de você.
[EXC] Você é um Mestre e controla todos os feitiços de [OTI] Criar ilusões realistas que podem aparecer em qual-
sua Ordem, exceto os maiores. Você provavelmente já co- quer lugar ao alcance da vista e cobrir áreas extensas (de
meçou a reunir seus próprios Aprendizes e tem uma boa até 300 m).
reputação. Você consegue Acumular Poder à velocidade de [EXC] Criar ilusões enormes e realistas que ocupam áreas
uma carta a cada dois minutos. extensas de até 1,5 km.
[EXT] Você é um Grão-Mestre, líder de sua Ordem. Um [EXT] Criar glamours poderosos, minuciosamente realis-
dos maiores magistas já nascidos, seus poderes são enor- tas, que ocupam vastas terras e cidades e duram centenas
mes e de vasto alcance. Você consegue Acumular Poder à de anos.
velocidade de uma carta por minuto. Como Descrever o Resultado:
furtividade [♣] Trapalhada:“A ilusão nem sequer se materializa.”
Falha:“A ilusão aparece, mas é tão tosca que não engana-
Objetivo:Já que esta atividade envolve se esgueirar, se escon- ria nem mesmo um troll. Eles não engolem.”
der e fazer coisas sem ser percebido, o objetivo é determinar se Sucesso Parcial:“A ilusão é boa, mas não o suficiente
a atividade foi detectada por um observador. para enganar alguém que a examine com atenção. Não

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espere que os espectadores a engulam caso tenham de
prestar atenção.”
medicina [♦]
Sucesso Completo:“A ilusão é excelente e enganaria qual- Objetivo: Normalmente, o objetivo é determinar não quanto
quer pessoa que já não desconfiasse de você. Vão engolir a tempo o paciente levará para se recuperar, e sim se o Médico
coisa se você não exigir muito deles.” pode fazer algo por ele.
Sucesso Decisivo:“A ilusão é perfeita e completa em to- O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
dos os detalhes. É tão parecida com a coisa original, que [FRA] Você sabe aplicar um emplastro e agitar sais aromá-
seus espectadores talvez acreditem mais no glamour do ticos sob o nariz de uma mulher desmaiada.
que na realidade.” [MED] Você sabe imobilizar um braço quebrado ou fazer
mecânica [♦] um curativo. Reconhece sintomas comuns. Consegue fa-
zer um parto (se não houver complicações).
Objetivo:As situações a seguir acontecem quando os Jogado- [BOM] Você sabe reduzir fraturas expostas, diagnosticar
res tentam consertar, improvisar ou inventar algo para reali- “bexigas estrangeiras”, ministrar medicamentos, realizar
zar um novo Feito. Às vezes, esta Habilidade também é usada cirurgias simples, amputações e partos a fórceps.
para abrir fechaduras com gazuas. O objetivo é determinar [OTI] Você sabe fazer cirurgias complicadas. Tem um con-
se a tentativa de reparo dá certo ou se a invenção funcionará sultório e poderia lecionar numa Escola de Medicina.
como desejado. [EXC] Você é um talentoso cirurgião e especialista em
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: diagnósticos. Escreve artigos para a Lancet e é bem co-
[FRA] Usar um interruptor. nhecido entre os médicos.
[MED] Consertar um fio partido. Tapar um [EXT] Você é um dos maiores médicos vivos e opera
buraco. Enroscar uma lâmpada no bocal. milagres da medicina regularmente. Suas técni-
Consertos domésticos básicos, no máxi- cas são imitadas em toda a Nova Europa. Você
mo. poderia ser o médico de Reis e Potentados.
[BOM] Instalar uma campainha ou Como Descrever o Resultado:
lâmpada. Consertar um problema sim- Trapalhada:“Ops! Seu paciente entrou em
ples num dispositivo mecânico ou a choque por causa do seu desempenho pí-
vapor. Usar gazuas para abrir uma fio e pode morrer a qualquer momento!”
fechadura simples. Falha:“O paciente não está nem um
[OTI] Instalar um circuito com- pouco melhor. Você está de mãos atadas
plexo. Consertar um dispositivo diante dessa enfermidade.”
mecânico ou a vapor complexo. Sucesso Parcial:“O paciente não está
Montar um motor a vapor. Usar totalmente curado, mas permanece es-
gazuas para abrir uma fechadura tável e vai se recuperar.”
complexa. Sucesso Completo:“Você não tem di-
[EXC] Construir uma Máquina de ficuldade para tratar a doença do seu
Calcular. Inventar um novo dispo- paciente. Você espera que ele logo esteja
sitivo mecânico ou a vapor. Usar ga- totalmente recuperado.”
zuas para abrir uma fechadura muito Sucesso Decisivo:“É um caso simples.
complexa.
Você trata a doença com presteza e o pa-
[EXT] Construir um Mecanismo Má-
ciente já dá sinais de melhora!”
giko (se conhecer o Segredo). Criar um
Dispositivo Diabólico. percepção [♦]
Como Descrever o Resultado: Objetivo: Em poucas palavras, a Percepção
Trapalhada:“Você quebra a coisa ainda faz as perguntas a seguir: “Eu enxergo a coisa?
mais. Nunca mais vai conseguir fazê-la fun- Quão bem eu enxergo a coisa? Entendo o que
cionar.” é?”. Infelizmente, o simples fato de você pergun-
Falha:“Você não conseguiria consertá-la, abri-la tar aos Jogadores se perceberam algo já é uma dica.
nem fazer uma nova.” Lembre-se: não pergunte, simplesmente conte.
Sucesso Parcial:“Bem, funciona, mas não como você que- O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
ria. Vai ser mais lenta, mais fraca e não tão bonita nem [FRA] Você nota sinais óbvios, objetos grandes, reações
útil. Se quiser usá-la, saiba que a coisa não vai funcionar exageradas, pessoas em campo aberto.
com máxima eficiência. Pode emperrar, travar ou quebrar [MED] Você percebe objetos parcialmente escondidos ou
da próxima vez.” entreabertos, painéis ou gavetas secretos e mal fechados,
Sucesso Completo:“Sem problemas. Vai funcionar bem e olhares de soslaio, pessoas mal escondidas.
durar muito. E o funcionamento é simples.” [BOM] Você repara em expressões estranhas; portas, car-
Sucesso Decisivo:“Você melhorou a coisa! Agora ela é mais tas e anotações secretas em esconderijos óbvios, objetos
rápida, mais forte e pode até ser mais bonita e útil. Pode escondidos às pressas, pessoas de tocaia bem escondidas
ser até que funcione melhor que o esperado.” (NH BOM ou menor em Furtividade).

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[OTI] Você percebe pequenas marcas, pedacinhos de pa- [EXT] Você é o melhor do seu povo no que você faz.
pel, cinzas de charuto, manchas, painéis ou portas ocul- Você é lendário. Se for um brownie, fará o trabalho de
tos construídos por pessoas com um NH inferior a [EXC] quarenta homens; se for uma banshee, os mortais com
em Marcenaria, assassinos escondidos com Furtividade NH inferior a [EXT] em Coragem ficarão petrificados ao
inferior a [EXC]. som da sua voz.
[EXC] Você nota marcas muito, muito pequenas, pe- Como Descrever o Resultado:
los e cabelos minúsculos, lascas de unha, impressões Trapalhada:A coisa sai pela culatra de alguma maneira.
digitais, mudanças sutis de expressão, painéis secretos Se for uma banshee, a personagem emitirá um som alto e
bem escondidos. agradável; se for um brownie, ele nunca conseguirá termi-
[EXT] Você só não percebe as pistas absurdamente pequenas nar o trabalho.
– e, mesmo assim, só as deixa passar quando está distraído. Falha:A tentativa simplesmente falha.
Como Descrever o Resultado: Sucesso Parcial:A tentativa não atinge as expectativas. Os
Trapalhada: Não mencione nada, mesmo que os Jogadores brownies fazem menos do que o esperado; as banshees
passem por cima da pista. “Parece que a barra está limpa!” não conseguem aterrorizar as vítimas (apenas assustá-las
Falha: Não diga que eles não viram nada. Nem sequer um pouquinho), e assim por diante.
mencione a coisa. Sucesso Completo:O poder tem o efeito esperado.
Sucesso Parcial:Trace um panorama limitado do que deve- Sucesso Decisivo:O poder é usado com grande habilidade.
riam ter percebido. “Vem vindo alguém... Vocês percebem
O leprechaun faz um par de sapatos lendário; o brownie
que um dos painéis da parede está entreaberto.”
faz o trabalho de um exército; a banshee faz um mortal
Sucesso Completo: Diga o que eles veem, mas sem entrar
tremer de pavor ao som da sua voz; o animal feérico fica
em detalhes. “Os guardas estão vindo. Vocês descobrem
famoso por suas travessuras!
um painel secreto na parede.”
Sucesso Decisivo: Eles sabem tudo. “São quatro guardas: situação econômica [♠]
um deles é um anão canhoto; os outros, mercenários li- Objetivo: Esta Habilidade costuma ser usada para determinar
tuanos. O painel secreto se abre quando se empurra o se um Jogador consegue ou não adquirir algo, ou se a coisa
exemplar de Declínio e queda do Império Romano no alto da está muito além do seu orçamento. É uma ótima maneira de
estante, à direita.” evitar o trabalho maçante de somar todas as despesas (espe-
poderes raciais [♣] cialmente em se tratando da moeda inglesa).
Objetivo: O objetivo é determinar se a fada conseguiu usar O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível:
seus poderes de maneira eficaz. Como os Poderes Raciais são [FRA] Você não consegue adquirir nada e nunca tem mais
variados, o Anfitrião precisa usar seu discernimento para de- do que alguns centavos no bolso. Sobreviver já é um desa-
terminar o resultado caso a caso. fio. Receita aproximada de 1m por semana.
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: [MED] Você tem como alugar bons aposentos, pagar o
[FRA] Você mal consegue usar seus poderes. A coisa sai de- jantar para quatro pessoas, ir ao teatro. Você aluga um
vagar e malfeita. Se for um leprechaun, você fará sapatos apartamento razoável ou possui uma casa pequena. Re-
horrorosos; se for uma selkie, você será uma foca obesa e ceita aproximada de 10m por semana.
descuidada. [BOM] Você come fora quando quer e consegue bancar a
[MED] Você sabe usar seus poderes como qualquer outro maioria dos prazeres cotidianos sempre que tem vontade.
representante do seu povo. Se for um brownie, você será Mora num apartamento decente, num sobrado na cidade
capaz de realizar tarefas que fariam cinco homens fortes ou numa casa em área concorrida. Receita aproximada de
titubear. Se for uma selkie, você será uma foca passável. 20m por semana.
[BOM] Você é perito no uso dos seus poderes. Se for um bro- [OTI] Você está bem de vida e pode adquirir casas, terras,
wnie, você conseguirá fazer o trabalho de dez homens; se for máquinas, amantes ou iates a seu bel-prazer: basta preen-
uma selkie, você será uma foca atraente; se for uma lorelei, cher uma letra de câmbio na ordem dos milhares. Receita
você conseguirá atrair qualquer embarcação para as rochas. aproximada de 100m por semana.
[OTI] Você é extremamente talentoso com seus poderes e [EXC] Faz parte de sua rotina comprar quintas, palácios
ganhou certa fama entre o seu povo. Se for uma banshee, e frotas. Você pode sacar centenas de milhares de “dóla-
poucos mortais conseguirão resistir ao seu lamento. Se for res” com uma única letra de câmbio. Fundos ilimitados.
um brownie, você conseguirá fazer o trabalho de vinte ho- [EXT] Você pode comprar quase tudo que quiser, basta a
mens com facilidade. coisa estar à venda.
[EXC] Pouquíssimos representantes do seu povo são me- Como Descrever o Resultado:
lhores que você. Outras russalki contam histórias sobre as Trapalhada:“Você jamais conseguiria comprar isso, nem
tempestades que você provocou, e são raros osknockers nos seus sonhos mais desvairados.”
que já encontraram tanto ouro (ou em tantos lugares di- Falha:“Fora da sua faixa de preço. Talvez se você economi-
ferentes). Se for um brownie, você conseguirá fazer o tra- zar durante alguns anos...”
balho de trinta homens. Suas façanhas podem muito bem Sucesso Parcial:“Você consegue pagar, mas vai ser um
fazer partede contos de fadas. rombo nas suas finanças.”

C O M M E 101 I L F A U T
Sucesso Completo:“Você tem o dinheiro à mão, e a aquisi- Sucesso Decisivo:“Sua desenvoltura social é espantosa. As
ção não vai atrapalhar muito os seus planos.” pessoas cochicham, por trás das mãos enluvadas, sobre seu
Sucesso Decisivo:“Sem problemas. Aliás, por que não talento e habilidade social. E, rapaz, como você valsa bem!”
comprar logo o modelo melhor?” larps & bom senso
trato social [♠] O sistema de Bom Senso é especialmente útil quando você
Objetivo: Será que os Jogadores conseguem se garantir no mun- planeja uma sessão de larp (live-action roleplaying, ou apresen-
do exclusivo da Sociedade? Esta pergunta costuma ter a ver tação ao vivo). Sob o peso das fantasias elaboradas e concen-
com saber qual garfo utilizar, a forma apropriada de se dirigir a trados em não sair da personagem, os jogadores de larp são os
um Lorde Dragão, como tirar alguém para dançar ou a maneira que mais relutam em se deixar atrapalhar por qualquer coisa
adequada de valsar. Como Anfitrião, seu objetivo é descrever que degrade a experiência.
como eles se saem diante de uma situação social nada familiar. Colar pequenas etiquetas com nomes nos jogadores para
O Que se Pode Fazer com a Habilidade a Cada Nível: identificar as personagens e escrever as Habilidades mais im-
[FRA] Você não sabe valsar, não tem boas maneiras e é um portantes de cada uma num caderninho (a ser mantido pelo
desajustado social. Anfitrião) permitirá a você circular à vontade pelo seu larp e
[MED] Você sabe qual é o garfo certo, desde que não se- arbitrar os acontecimentos mais importantes – tudo isso sem
jam mais de dois; valsa passavelmente; suas maneiras são sair da personagem!
boas o suficiente para a maioria das situações sociais co- e, antes que esqueçamos...
tidianas. Mas você é um tanto burguês.
[BOM] Suas maneiras são boas o suficiente para a maioria Quem, o Que, Quando, Onde, Por Que e
dos eventos sociais. Você conseguiria andar com uma boa Como: as seis perguntas mais importantes
parte da Alta Roda. Você valsa bem, mas não excepcional- que você pode fazer
mente, e raras vezes não sabe o que fazer em sociedade. Estas são as perguntas que você deve fazer constantemen-
[OTI] As pessoas comentam como você tem trato social e bons te aos seus Jogadores durante o Jogo. QUEM força o grupo a
modos. Você sempre sabe qual é o garfo certo e a forma de tra- depender dos pontos fortes e fracos de membros específicos.
tamento correta. Além disso, valsa muito bem, obrigado. O QUE e COMO forçam os Jogadores a bolar um plano de
[EXC] Você é um parceiro de valsa concorrido, famoso por verdade, em vez de simplesmente dizer algo como “eu uso a
seus bons modos e tiradas espirituosas à mesa. perícia tal”. Em vez disso, você pergunta de quais perícias ou
[EXT] Você é uma Pessoa Influente na Sociedade, é convida- ferramentas eles vão precisar e como planejam empregá-las.
do para jantar com frequência. Seus modos são impecáveis, QUANDO é seu mecanismo para controlar o tempo, algo
seu domínio do trato social é ímpar; você poderia dar conse- muito importante quando os Jogadores estão vasculhando a
lhos de moda ao Príncipe de Gales. E valsa como Fred Astaire. sala em busca de uma coisa que ainda não está lá, ou nas oca-
Como Descrever o Resultado: siões em que eles perdem muito tempo concentrados numa
Trapalhada:“Um desastre social! Todos os olhos estão vol- tarefa em detrimento de outra. Esta pergunta também pode
tados para você. Burburinho geral sobre sua gafe.” ser descrita como DURANTE QUANTO TEMPO.
Falha:“Você não sabe fazer isso direito. Não sabe nem ONDE determina se eles estão interagindo de fato com a
como começar a valsar, falar com um dragão ou situação. Certo, eles conseguiram abrir a fechadura com as
usar o garfo da lagosta, mas ninguém está gazuas, só que pisaram na placa de pressão na soleira da
prestando atenção.” porta, e a maçaneta giratória disparou os dardos en-
Sucesso Parcial:“Seu desempenho venenados mesmo assim (o verdadeiro morador
não é espetacular, mas dá para o saberia que era preciso se posicionar um pouco
gasto. Mais ou menos.” mais para a direita).
Sucesso Completo:“Sem proble- Por último, POR QUE elimina a maior parte
mas. Você pega o garfo correto, da informação não relacionada ao que a perso-
faz sua parceira girar para voltar nagem sabe. POR QUE sua personagem acha
a recebê-la em seus braços e se que há uma armadilha na porta? POR QUE
comporta de forma digna.” sabe que computadores existem? POR QUE está
se preparando para deter um monstro feérico que
foi o mordomo acabou de matar dois de seus amigos num corredor
distante demais para a personagem ter ideia do que
Quando estiver dirigindo um larp, tente espa- estava acontecendo?
lhar as informações dos Jogadores entre diversos Lembre-se dessas perguntinhas a todo momento quando
Anfitriões assistentes, cada um responsável por interagir com seus Jogadores. Onde exatamente você está pro-
uma determinada área do local onde se passa o
curando armadilhas? Como está buscando portas secretas?
jogo. Além disso, vista-os como serviçais. Assim,
Quem está procurando arapucas? Quando você procurou gos-
quando precisarem de arbitragem, os Jogadores
poderão chamar um criado que, em seguida, volta- mas no teto? Por que está procurando alçapões num piso de pe-
rá discretamente ao segundo plano! dra? Fazer essas perguntas simples ajudará você a manter seus
Jogadores sempre alertas e a depender muito menos das regras!

C O M M E 102 I L F A U T
Mesas de Pernas para o Ar:
Falkenstein ao Vivo
N
o qual o professor Milner nos explica
“como se faz”.
O dirigívelPeregrino singra a noite, e
as notas de uma valsa vienense se derramam nas montanhas lá embaixo. A bordo da embarcação,
um sem-número de pessoas dança e interage:um príncipe herdeiro de Nova Europa, autômatos, fei-
ticeiros, espiões, diplomatas, damas e cavalheiros, e a Liga Mundial do Crime. Todos dançando e
conversando céus afora.
Castelo Falkensteinfoi criado para se jogar assim: ao vivo.
o que é um larp?
O larp ou live-action roleplaying , também chamado apenas de live ou apresen-
tação ao vivo, é uma modalidade de interpretação mais envolvente e menos de-
pendente de regras. O larp é parte jogo e parte baile de máscaras, com porções
generosas de atuação e improvisação. Os larps permitem ao jogador encarnara
personagem, em vez de apenas interpretar um papel. O jogador se veste como a
personagem, fala como a personagem e, para todos os efeitos, é a personagem
durante a sessão.
Um larp de Castelo Falkenstein, como todos os bons lives, concentra-se na
interação social das personagens. Os elementos do sistema de jogo são adap-
tados para interferirem minimamente no desenrolar do drama (nesse que-
sito, é difícil ser mais minimalista que Castelo Falkenstein, mas não impossí-
vel). Num live, não é necessário jogar dados nem cartas para determinar o
sucesso ou o fracasso, o que permite aos Jogadores mergulhar de cabeça nos
seus papéis.
O larp segue num ritmo diferente de um RPG “normal” de mesa. Num
live, todos os jogadores falam e se movimentam sem sair da personagem, in-
teragindo uns com os outros como bem entenderem. O jogo e as pistas não
podem esperarque o Anfitrião introduza novas informações. O Anfitrião e os
Jogadores precisam ter confiança suficiente para permitir que o jogo avance
sem virar uma batalha constante pelo controle da sessão. Quando todos se
acostumarem ao estilo de interpretação uns dos outros e ao formato de um
larp, o Anfitrião poderáditar o ritmo e utilizar elementos de jogo para “acele-
rar” a sessão (dando informações aos jogadores ou estimulando os aconteci-
mentos que fazem a trama avançar) ou “frear” as coisas (distraindo os jogado-
res ou evitando conflitos que avançariam a trama) para atingir seus objetivos.
Talvez a principal diferença de um larp de Castelo Falkenstein seja o foco nas
interações sociais das personagens, e não nos confrontos, duelos e demais ações
voltadas para o “combate”. Com exceção do uso do “cartoduelismo”, não exis-
tem regras para nenhuma dessas ações, e existe um motivo razoável para isso. Os
larps exigem um bocado de preparação e despesas, tanto para os jogadores quanto
para o Anfitrião, pois é preciso levar em conta as fantasias, o local e muitas outras
coisas. Os jogadores que se deram ao trabalho de vir fantasiados fizeram um grande
investimento de tempo – e, possivelmente, dinheiro –, e certamente esperam jogar
a sessão inteira. Imagine como você se sentiria se sua personagem fosse eliminada na
primeira hora da sessão e lhe pedissem para se sentar quietinho nos bastidores o resto
da noite! Para evitar situações constrangedoras como essa, os combates devem ser evi-
tados (ao menos os combates fatais). As personagens devem se esforçar para descobrir
segredos e desenvolver relações com outras personagens, em vez de tentar eliminá-las.
A esse propósito, é absolutamente inapropriado tentar matar ou eliminar a persona-
gem de outro jogador no seu larp. Geralmente, matar outra personagem é simplesmen-
te errado. Se os participantes tentarem se machucar, o restante do grupo deve inter-

C O M M E 103 I L F A U T
vir. Isso inclui situações em que uma personagem se vê possuída, enfeitiçada,
coisas que não se chantageada et cetera. Claro que, se perceberem que alguém está em perigo, as
pessoas bem que poderiam tentar ajudar, criando uma excelente subtrama para
fazem num larp todas as personagens da Aventura.
regras básicas de um larp
O larpé, ao mesmo tempo,mais e menos absorvente que um RPG de mesa con-
Qualquer uma delas levará
vencional. A interação entre os jogadores é extremamente ampliada, enquanto os
uma dama a desmaiar, um ca- aspectos mecânicos são quase eliminados. Essas mudanças exigem um estilo de jogo
valheiro a virar-lhe as costas e, diferente. Você talvez não possa fazer tudo que estaria ao alcance da sua personagem.
definitivamente, riscará você Assim como no RPG de mesa, há coisas que sua personagem é capaz de fazer que você
da lista de convidados das pró- talvez não possa reproduzir. Poderia ser arriscado tentar fazer algumas dessas coisas
ximas sessões. na vida real (duelos, explosivos e habilidades feéricas são exemplos claros). A forma
1. Nada de Correr nem Per- de lidar com essas ações é usar cartões que listam as perícias, habilidades e feitiços
seguir. Já que os larps giram que a personagem poderá usar durante o larp.
Cada cartão enumera as Habilidades de uma personagem e quantas vezes cada
em torno de atividades sociais,
uma delas pode ser usada numa sessão de larp. As ações dos cartões sempre dão
e não do combate, correr é certo (não se usam as cartas de baralho para determinar o sucesso ou o fracasso de
muito inapropriado. A ação de uma ação). Algumas ações podem ser anuladas pelo uso de outro cartão. Quan-
escapar de situações delicadas do um cartão for usado, o jogador contra quem foi utilizado (ou o Anfitrião) vai
deve ser resolvida com o uso rubricar o cartão de origem da ação, marcando esse uso. O Anfitrião talvez queira
dos cartões, e só. incluir linhas suficientes para registrar as rubricas de cada uso do cartão. Quando
2. Nada de Armas, nem todos os usos estiverem assinalados, as habilidades do cartão não poderão mais
Reais nem Imitações. Embora ser empregadas nes-
sa sessão. Os cartões
pareçam legais, as armas físi-
cas sempre dão margem à ten-
podem representar
feitiços, perícias ou
John Smith
tação de usá-las, e isso, por sua
vez, sempre termina em aci-
habilidades. Os car- Detetive Feiticeiro
tões podem ser até
dentes. Se tiver uma arma, a mesmo objetos, que BRIGA BOM. . . . . . . . . . (usos 4x) ATLETISMO BOM. . . . . (usos 2x)

podem ter outros  


personagem receberá o cartão
PERCEPÇÃO OTI. . . . . . (usos 3x) FEITIÇARIA OTI . . . . . . (usos 6x)
pertinente, e não a arma em si. cartões associados,
 
3. Nada de Contato Físico. especialmente no
caso de artefatos ou Feitiço: Detectar Ilusão. Pode ser anulado pelo Car-
Não abrange apertos de mão tão de Feitiço Ilusão Superior
outros itens com ha-
nem dançar a valsa. Estamos bilidades mágicas.
falando de simular uma briga
com alguém ou segurar outro exemplos de cartões baseados em habilidades
jogador para não deixá-lo sair Atletismo –A ação do cartão poderia permitir que você se esquivasse de ata-
do lugar. Num larp, o contato ques, mas não é lá uma perícia que verá muito uso nos salões de baile nos quais
físico nunca é necessário. os larps costumam ocorrer.
Atuação –A não ser que o jogador tenha um talento muito especial, é melhor
4. Nada de Ser Indelicado.
deixar esta perícia de fora. O jogador pode ser um grande cantor, mas isso não
Tenha consideração pelo Anfi-
significa que sua personagem terá de cantar.
trião e pela diversão dos outros Briga –As personagens normalmente não lutam num salão de baile. SE for
Jogadores. Se você se envolver necessário, use as regras de sempre.
numa das subtramas, lembre- Carisma – Se sua personagem for alguém de Carisma maior ou menor que o
-se de que os outros também normal, o Anfitrião vai alterar sua descrição no material dos outros jogadores.
querem se divertir. Tentar As outras personagens vão perceber você como uma pessoa melhor ou pior, com
monopolizar a atenção do An- base na espirituosidade e no charme da sua persona. As personagens carismáticas
geralmente começam o jogo com mais contatos do que as outras. A personagem
fitrião ou de outro Jogador é
carismática também consegue extrair mais informações dos outros jogadores.
sempre uma atitude malvista
Compleição Física – Permite a uma personagem ignorar ferimentos. Tam-
pelos demais, que também es- bém pode permitir demonstrações incomuns de força.
tão tentando curtir a sessão. Contatos –A personagem terá mais amigos do que uma personagem normal,
e esses amigos tenderão a ser de uma camada social mais elevada.

C O M M E 104 I L F A U T
Coragem –Anula tentativas de intimidação. Também pode anular tentati-
vas de controlar sua personagem com magia. Também aumenta a quantidade
de pontos de vida. o palco está
Educação – Garante uma vasta gama de conhecimentos especiais para a sua
personagem: línguas (antigas e modernas), conhecimento histórico etc. Nor-
montado
malmente, pode-se simular isso dando-se ao jogador um cartão de habilidade
que lhe permita fazer perguntas sobre coisas que a personagem talvez conheces-
se bem. Exemplo: Walter roubou um diamante grande recentemente. Como ouviu rumores Gerard, que na verda-
de diamantes falsos na praça, ele decide gastar um uso do seu cartão de Educação e per- de é o gênio do crime co-
guntar se ele percebe algo estranho no diamante. O Anfitrião rubrica o cartão de Walter, nhecido como “a Mão”,
riscando um dos usos de Educação. “Os diamantes de verdade são muito duros e cortam o
é apresentado ao grupo
vidro; os diamantes de mentira, não. Você testa e vê que seu diamante corta o vidro.” (O jo-
gador não corta vidro algum com o diamante; o Anfitrião apenas lhe informa o resultado.) como herdeiro de uma vi-
Com isso, Walter tem relativa certeza de que seu diamante é verdadeiro. nícola pouco conhecida
Esgrima –Consulte Briga. em Cognac. À medida que
Feitiçaria – Dá a cada personagem pontos de magia e acesso a um grupo de
a história progride, tudo
feitiços. A personagem receberá 4 pontos de magia se tiver NH Bom, mais 2
pontos para cada nível acima de Bom. indica que ele não gosta
Furtividade – Engloba várias perícias ladinas, furto, arrombamento de co- muito do hussardo Mon-
fres (precisa das ferramentas apropriadas), abrir fechaduras com gazuas etc. tegue. Pouco após zarpar
Um jogador não deve tentar surrupiar algo de outro jogador. Em vez disso, ele
a bordo do Grande Diri-
avisa um dos árbitros, e este pega o objeto que o jogador afirma ter roubado.
Mecânica – Cobre uma vasta gama de perícias que permitem o conserto e a gível, Gerard surpreende
construção de aparatos mecânicos esquisitos. Muitas vezes, o jogador precisará Montegue enquanto este,
de peças específicas para terminar o reparo ou a construção de um objeto. sozinho, contempla a lua
Medicina – O jogador poderia ter cartões que lhe permitissem curar feri-
diante de uma janela do
mentos (eu diria que só se deve permitir a aplicação de apenas uma cura numa
mesma personagem por sessão), realizar diagnósticos (de forma similar ao uso tombadilho. Sem aviso, ele
de Educação) ou tratar envenenamentos. Os primeiros Alienistas (um tipo de se lança sobre Montegue,
psiquiatra vitoriano) também poderiam curar traumas psicológicos. e eis que começa a briga. A
Percepção – Esta perícia pode ser usada de maneira similar a Educação. O
comoção chama a atenção
jogador precisa perguntar ao Anfitrião se ele repara em algo diferente do nor-
mal numa pessoa, objeto ou qualquer coisa que ele possa ver ou ouvir. Exemplo: de todos, que correm para
“Eu noto alguma coisa estranha no senhor Gramhers, o carpinteiro?”. O Anfitrião rubrica a escada da escotilha, onde
e marca um uso no cartão da personagem: “Sim, as mãos dele são lisinhas”. Daí o jogador está acontecendo a troca
poderá deduzir que o senhor Gramhers não é um trabalhador comum. Veja que o Anfitrião
de socos. Lorde Avalon, o
não disse ao jogador que o senhor Gramhers não era um carpinteiro: ele apenas deu uma
pista. Quanto mais específica for a pergunta do jogador, mais informações o Anfitrião po- senhor Jeeves e a aventu-
derá lhe fornecer. reira Jennifer separam os
Poderes Raciais – Estes variam individualmente, de acordo com cada ser feé- dois pugilistas. Todos se
rico. Muitos poderes lembram efeitos de feitiços.
veem terrivelmente aflitos
Situação Econômica – O jogador tem mais dinheiro. Os jogadores acham
muito divertido quando podem usar dinheiro de mentira no larp. Também po- enquanto os dois homens
dem ter uma linha de crédito, a escritura de uma propriedade valiosa ou joias são contidos e levados à
de grande valor. sala de estar do dirigível.
Tiro –Consulte Briga. Além disso, às vezes o jogador pode ter uma arma de fogo.
Os demais só querem re-
Tiro pode permitir que ele gaste um uso do cartão para executar proezas de pontaria
com sua arma. Também poderia ser usado para aumentar um pouco o dano. solver essa situação difícil
Trato Social – Confere a habilidade de entender o significado mais profundo e manter os dois separa-
das afirmações das pessoas e, consequentemente, detectar mentiras alheias ou dos. Hoje à noite, porém,
camuflar as próprias.
eles conhecerão a terrível
cartões especiais verdade!
O motivo do tópico anterior é mostrar que qualquer tipo de perícia pode ser
representado por um cartão de habilidade. Encorajamos o Anfitrião a criar no-
vos cartões adequados às suas necessidades.

C O M M E 105 I L F A U T
O Anfitrião não deve se sentir limitado aos cartões descritos aqui. Seguem
alguns exemplos de cartões especiais.
Carismático – Pode arrancar um PEQUENO favor de outro jogador.
Detectar Mentira – Pode perguntar a outro jogador se ele mentiu a respeito de um
assunto. O outro jogador só pode responder sim ou não.
Educação – Pode pedir informações adicionais sobre um assunto.
Força de Vontade – Anula qualquer cartão utilizado para afetar você social ou
mentalmente.
Medicina – Cura um ferimento ou diagnostica uma doença.
Olhar Temível – Faz outro jogador evitar você durante 15 minutos.
Percepção – Pode pedir informações adicionais sobre algo que você possa
observar.
Presença Ameaçadora – Faz uma pessoa permanecer no lugar durante 10
minutos. Você é obrigado a ficar com ela.
Punga – Permite furtar um objeto de outro jogador. Para furtar algo,
procure um árbitro. Diga a ele de quem você quer roubar a coisa, qual é o
objeto desejado e mais ou menos onde está. O árbitro pegará o objeto do
outro jogador e o trará para você (se isso for possível e se você tiver infor-
mado o lugar certo).
Trato Social – Anula os cartões que permitem a outros jogadores fazer
perguntas a você.
Pode haver em jogo outros cartões que não constam dessa lista.
uma lista de possíveis cartões de feitiço
Se quiser lançar um feitiço, o jogador terá primeiro de verificar se ele
o possui no seu cartão de personagem e se tem um uso ainda livre (ou
seja, não marcado) de Feitiçaria. Em seguida, precisa procurar o(s) Anfi-
trião(ões) e explicar qual feitiço quer lançar e em quem (ou no quê).
Analisar Forma Mágica – Revela os poderes de qualquer objeto mágico e
o ritual necessário para liberar esses poderes. Custo em pontos de magia: 2.
Aporte – Furta um objeto de outro jogador, teletransportando a coisa
para sua mão. Você precisa conhecer o item que deseja roubar e saber a
localização aproximada da coisa. Custo: 3.
Braços de Morfeu –Bota o alvo para dormir profundamente durante
10 minutos. Custo: 2.
Enfeitiçar – Torna um jogador favorável às suas sugestões durante 15 minu-
tos. Encerrado o efeito, o jogador não perceberá que foi enfeitiçado. Custo: 2.
Esquecimento – Faz o alvo esquecer um assunto de pouca monta duran-
te 30 minutos. Custo: 2.
Parar o Tempo –Detém a passagem do tempo numa área do tamanho
aproximado de uma pessoa durante 5 minutos. Apenas as coisas que estavam
originalmente na área são afetadas. Custo: 3.
Revelar Feitiçaria –Lançado em outro jogador para saber se ele tem treina-
mento mágico. Faça a pergunta a um árbitro ao lançar o feitiço. Custo: 1.
Revelar Magia – Identifica se um objeto é mágico ou se há um feitiço ativo
nele. Custo: 1.
Revogar Feitiços –Anula qualquer feitiço lançado em qualquer jogador ou obje-
to. Se o feitiço tiver transformado alguma coisa, Revogar vai devolvê-la a seu estado
original. Custo: 3.
Silenciar – Torna um jogador incapaz de falar durante 15 minutos. Custo: 2.
Transmitir – Envia uma mensagem telepática anônima. Escreva a mensagem num
cartão para um árbitro entregá-la. Custo: 1.
personagens
Como exatamente se joga um larp com a própria personagem é uma pergunta tão
difícil de responder quanto “como se interpreta um papel?”. Várias soluções usadas nos
larps também são fundamentais num bom RPG de mesa.

C O M M E 106 I L F A U T
Primeiro – e mais importante –, tente não sair da personagem. Se estiver re-

exemplo de
presentando uma viúva de noventa anos, evite muitas valsas aceleradas. Se você
for um hussardo galante, gabe-se de suas peripécias. Diga o que sua personagem
diria no contexto apropriado. Se o Príncipe de Gales estiver falando, tenha o
bom senso de não interrompê-lo. Também é importante não se meter em coisas
personagem:
demais: tente não se envolver em tudo que outros grupos estejam fazendo, pois
as subtramas deles podem interferir nos objetivos da sua personagem ou sim-
lady cecily
plesmente ignorá-los.
Usar fantasias adequadas é importante em Castelo Falkenstein; contudo, Trama Principal
também sabemos que um fraque ou um vestido de época podem ser muito caros Você é, na verdade, um autô-
e/ou difíceis de conseguir. Se não conseguir se fantasiar, simplesmente vista-se mato, construído por um mes-
para uma ocasião formal. Os trajes sociais, sejam masculinos ou femininos, têm tre relojoeiro em Hamburgo no
o poder de fazer aflorar o cavalheiro ou a dama em todos nós. século XVIII. Atualmente, você
Também existem diversos acessórios baratos e alguns maneirismos que trabalha como espiã para a Su-
podem ajudar os jogadores a tornar a imagem de suas personagens mais con- rété francesa. Você ouviu falar
creta. Um par de óculos ou pince-nez de mentira pode dar a impressão de idade quegênios do crime pretendiam
ou experiência. O gesto de verificara todo momento o relógio de bolso (mesmo se reunir a bordo desta nave.
que seja apenas um disco de metal amarrado a um barbante) também pode Quem são eles e o que estão tra-
ajudar a manter o jogador na personagem. Luvas de cavalaria (ou simples- mando?
mente luvas) podem indicar um hussardo, especialmente já que não se por-
tam armas num larp. Trama Secundária
antes de escrever seu larp Há três dias, você estava in-
vestigando uma operação de
O larp não é um nível de encenação que se presta muito bem a uma cam- contrabando na França. Você se
panha em andamento. Escrever um larp por semana, ou mesmo a cada quin- lembra de ter sido perseguida
ze dias, é algo que demanda muito tempo. Os lives funcionam bem como por alguns homens e de sua cor-
uma série de episódios conectados, como acessórios de uma campanha em da ter acabado num beco. Você
curso, interlúdios ou acontecimentos em segundo plano, ou mesmo como acordou seis horas depois em
um evento de uma noite só. Antes de começar a escrever um larp, é bom outro beco a uma certa distância
considerar diversos fatores. do primeiro. Nada mais parecia
1. jogadores & personagens estar fora do lugar, mas, quan-
do você retornou ao local onde
Quantas pessoas você pretende ter no seu larp? Se for sua primeira sessão,
investigava os contrabandistas,
provavelmente será melhor manter o grupo pequeno (seis a doze jogadores). Já
não havia mais nada lá.
se fizeram larps com quase trezentas pessoas, entre jogadores e personagens do
Anfitrião. Quanto mais jogadores estiverem nos seus planos, mais Anfitriões e
Trama Secundária
personagens do Anfitrião serão necessários. Seja cauteloso: não superestime a
Recentemente, você encon-
quantidade de jogadores com que você consegue lidar.
trou o cadáver de um mensa-
2. anfitriões & personagens do anfitrião geiro britânico que portava um
estranho pacote com documen-
O Anfitrião é o único árbitro nos larps, da mesma maneira que num RPG de
tos. Entregue-os a monsieur
mesa. Mas num larp, o Anfitrião também interpreta uma personagem. Isso é
Jean Pierre Delacroix, junta-
muito divertido para o Anfitrião, porque, em vez de se concentrar na interpre-
mente com seu relatório e ou-
tação de dezesseis personae diferentes no decorrer da noite, ele pode focar na
tras informações relevantes que
interpretação de apenas um papel e se vestir a caráter.
você porventura descubra.
No dirigível Peregrino, faria sentido que o Anfitrião fosse o capitão do aerós-
tato. A bordo, o Capitão pode ir aonde quiser, pode prender os jogadores e até
Agora você está no salão de bai-
mesmo celebrar casamentos em caso de necessidade. Nos larps maiores, porém,
le dodirigívelPeregrino. O que você
pode ser que um Anfitrião só não seja suficiente.
faz? Quem pode ter uma outra parte
Assim como o Capitão tem oficiais para ajudá-lo, nos larps maiores o
dos documentos? Por que todas as
Anfitrião precisará de algumas personagens do Anfitrião. São árbitros assis-
outras mulheres estão reunidas num
tentes que geralmente só se preocupam com um grupo menor de jogadores.
canto? Com quem será sua primeira
Como regra geral, deve haver uma personagem do Anfitrião para cada oito a
dança? E o que aconteceu com você
dez jogadores.
durante o período que passou in-
Nos larps muito grandes, com mais de cem jogadores, pode haver uma
consciente dias atrás?
personagem do Anfitrião supervisionando outras quatro ou cinco, que, por
sua vez, supervisionam uma ou duas subtramas cada uma. Como você pode

C O M M E 107 I L F A U T
perceber, conduzir larps muito grandes é uma empreitada gigantesca, e explicar toda
a logística e as contingências exigiria um livro próprio. Basta dizer que cada árbi-
tro auxiliar deve estar a par não só de “suas” subtramas, mas também do enredo do
jogo como um todo, e todos devem ter personagens próprias. No nosso exemplo do
dirigível Peregrino, poderia haver um intendente, um camaroteiro, um investigador
de bordo, um engenheiro chefe e um dragão. Normalmente, usar a criadagem ou a
tripulação é mais simples e permite que os jogadores identifiquem as personagens do
Anfitrião com mais facilidade.
3. tramas & reviravoltas
Agora que decidiu o tamanho do larp e quantos personagens do Anfitrião serão
necessários, o Anfitrião precisa determinar as tramas que vão se desenrolar no live.
As tramas podem ser coisas como assassinatos misteriosos, reuniões diplomáti-
cas, atos criminosos (como roubo), convergências mágicas e caçadas ao tesouro.
Por favor, não se deixe limitar: além dessas, há milhares de ideias a serem explo-
radas, tão fáceis de encontrar quanto a biblioteca mais próxima.
Cada jogador deve estar envolvido em pelo menos uma subtrama, ter
alguma conexão com pelo menos um ou dois outros participantes (a de-
pender do tamanho do larp) e algum outro interesse para dar vida à sessão.
Nem todos os jogadores precisam estar envolvidos em todas as subtramas
e, nos larps com mais de quinze ou vinte jogadores, isso nem é possível.
Na verdade, a existência, no mesmo larp, de personagens que se dedicam
a histórias totalmente diferentes traz à tona interações muito divertidas.
Se for um grupo pequeno de seis a doze pessoas, uma trama principal já
basta. Larps para trinta ou mais jogadores costumam ter entre seis e oito
subtramas simultâneas.
Manter o ritmo de um larp pode ser difícil para os iniciantes. É ne-
cessário um conhecimento profundo de ritmo e andamento nos RPGs
de mesa para alguém começar a planejar o ritmo de um larp. O Anfi-
trião que, por exemplo, passa semanas preparando as tramas não quer
que seu larp acabe em uma hora. O Anfitrião (e as personagens do An-
fitrião, se houver alguma) precisa entender o que está acontecendo a
todo momento. Precisa escutar o máximo possível de conversas (e os
jogadores não podem se melindrar com isso) e fazer ajustes de tempos
em tempos. Se um jogador estiver avançando muito rápido, o Anfitrião
pode dizer “você não dançou a noite toda”, o que poderia indicar que o
jogador deveria passar menos tempo concentrado nas questões da tra-
ma e mais tempo socializando. Se as indiretas não funcionarem, o An-
fitrião pode dizer claramente: “Calma aí, não é uma corrida”. Por outro
lado, se uma personagem parecer meio confusa ou perdida, o Anfitrião
pode sugerir que ela “se mexa”. O Anfitrião pode até mesmo dar pistas ou
dicas de pessoas com quem conversar.
É claro que tudo isso precisa de preparação. O Anfitrião precisa ter tudo
isso escrito com antecedência. Pode parecer simplista, mas é muito necessário,
senão o Anfitrião poderia se sentir tentado a criar apenas uma situação ou loca-
ção e simplesmente deixar os jogadores interagirem, sem nenhum roteiro prévio.
Deve-se evitar isso a todo custo, pois é a receita para larps chatos ou incontroláveis.
Isso é particularmente crucial quando o Anfitrião tem árbitros auxiliares no jogo. As
personagens do Anfitrião precisam ter clareza e domínio de todas as subtramas do larp,
além de conhecer intimamente as subtramas sob sua supervisão ou controle. Se duas
tramas estiverem interligadas, as duas personagens do Anfitrião envolvidas devem es-
tar a par disso.
As interligações entre as tramas são importantes, especialmente em larps grandes.
O Anfitrião não vai querer simplesmente conduzir seis historinhas separadas na mes-
ma sala. O Anfitrião vai querer que todos os jogadores interajam tanto quanto possível.

C O M M E 108 I L F A U T
O desenvolvimento das linhas narrativas que conectam as subtramas é crucial e pode
ser difícil.
Exemplo: O senhor Seward, que sabidamente trabalhou para a Chancelaria da Coroa Britâni-
ca, foi encontrado morto em seu camarote na manhã de hoje. Evidentemente, foi vítima de alguma
perfídia, pois havia sinais de luta e uma faca. A morte do senhor Seward não foi alardeada pelo
Capitão, pois ele não quer alarmar os passageiros. Também está acontecendo uma reunião secre-
ta e extremamente sigilosa da Liga Mundial do Crime. O senhor Seward estava para se filiar à
organização, e esta seria sua apresentação aos outros membros, que o conhecem ape-
nas como Black Philipe. Ele deveria trazer consigo um documento há muito perdido,
intitulado “A Magia das Fraturas”. Com ele, a Liga Mundial do Crime construiria um
mecanismo mágiko capaz de rachar a Terra e poderia pedir todo o dinheiro do planeta
como resgate.
Jones é um agente do Special Branch, a famosa unidade de segurança nacional a serviço da
Coroa Britânica. Ele foi designado para vigiar o senhor Seward e ficou aflitíssimo ao saber que o
homem morreu. Ele está ciente de que Nikolai, filho ilegítimo do falecido, está a bordo, e que os
dois discutiram na noite anterior. Nikolai é um agente do czar russo e se mostrou particularmente
interessado em encontrar uma pessoa chamada Jonathan Keyes. Jones é o único jogador que sabe do
assassinato e da verdadeira identidade de Nikolai. Nikolai pode ser o assassino, mas também pode
ser apenas uma vítima do acaso. Jonas também precisa cumprir sua outra missão: encontrar-se com
uma agente provocadora da Surété chamada lady Cecily e com um agente norte-americano chama-
do senhor Smith, para trocar malas diplomáticas. Ele precisa fazer um relatório sobre a morte do
senhor Seward, mostrando que não foi sua culpa o homem ter morrido, além de investigar Nikolai
sem levantar suspeitas.
O senhor Seward é a vítima na trama de assassinato. É claro que o senhor Seward não é personagem
de nenhum jogador: ele é apenas um recurso narrativo. Jones é a personagem de ligação entre uma
intriga diplomática (o encontro com Cecily e Smith), um mistério policial (a morte de Seward) e a
tentativa de frustrar os planos da Liga Mundial do Crime.
Geralmente, um jogador não interliga mais de duas tramas, mas isso é só um exemplo
e, portanto, é exageradamente complexo de propósito, para ilustrar o que foi explicado.
4. acessórios
Todo jogador adora acessórios. Ter de fato um objeto físico nas mãos dá um ar de
autenticidade ao jogo. Evite dar aos jogadores qualquer coisa à qual você seja mui-
to apegado. Acidentes acontecem, e o objeto pode se perder. Livros antigos, caixas
esquisitas, bijuterias ou fotografias velhas podem enriquecer muito o larp. Se con-
seguir fazer um jornalzinho da época do jogo, pode ser uma boa forma de esconder
dicas. Também ajuda se todos os jogadores usarem etiquetas com nomes. As etiquetas
permitem aos jogadores saber quais são as personagens dos demais. Pequenos adesi-
vos também podem ser colocados nas etiquetas para representar uma condição que
o jogador tenha adquirido durante o jogo (por exemplo: um adesivinho azul poderia
representar que o jogador tem uma doença rara, e somente uma personagem com a
Habilidade Medicina saberia disso).
5. duração do larp
O jogo deve durar algo entre quatro horas – a duração mínima para um larp – e um fim
de semana inteiro. É possível até mesmo dividir o larp em sessões distribuídas por um
período de tempo maior (o que pode gerar muitos problemas, como jogadores que com-
parecem à primeira parte, mas não têm como comparecer depois). O primeiro larp de um
Anfitrião deve ter entre quatro e seis horas de duração.
6. locação&cenário
Divide-se em duas partes: alocação representada no jogo e ol ugar que vocês estão de
fato usando. A história pode se passar numa reunião do Clube dos Exploradores na Bavie-
ra, mas o grupo talvez esteja jogando nas salas de estar e jantar da casa do Anfitrião. Trazer
elementos do cenário para o larp é essencial para permitir que os jogadores mergulhem
de cabeça no jogo. Na maioria dos larps, sairia muito caro transformar a área em que se

C O M M E 109 I L F A U T
joga numa réplica perfeita do cenário de Castelo Falkenstein; portanto, em vez

o certo &o disso, crie um cenário para o larp que acentue os elementos que você consegue
controlar. Esses elementos são iluminação, comes e bebes, figurino, música e
errado das acessórios.
A iluminação do larp deve ser suave. A não ser que você dê a sorte de en-
locações contrar a locação perfeita, as luzes mais tênues permitem que a imaginação
dos jogadores preencha as lacunas que seriam reveladas pelo uso de luzes
mais fortes. Para os casos em que os jogadores não têm familiaridade com
1. CERTO: Delimite sua área suas personae, reserve uma área com boa iluminação para que possam reler
de jogo. Defina a área de jogo e as informações.
a área fora do jogo. Peça aos jo- Os larps dão muita sede, portanto algo para beber é praticamente uma ne-
gadores que limitem suas ações cessidade. Evite bebidas alcoólicas, pois elas tendem a desinibir as pessoas além
como personagens apenas à área da conta. Para causa uma boa impressão, você pode arranjar taças baratas de
de jogo. Peça a todos os jogado- champanhe e servir refrigerante ou cidra. Minis sanduíches são fáceis de fazer,
res que avisem um dos árbitros assim como tábuas de frios e outros petiscos. A não ser que o larp aconteça du-
caso tenham de sair do larp rante um jantar social, evite pratos que façam muita sujeira ou não possam ser
momentaneamente. O jogador degustados com apenas uma mão e em movimento. Para os chefs que gostam de
pode se ausentar por cinco mi- emoção, preparar um larp inteiro (e uma refeição) para ser jogado e desfrutado
nutos (para ir ao banheiro ou fu-
à mesa pode ser a noite perfeita.
mar um cigarro), mas qualquer
A música pode propiciar um bom pano de fundo para o larp. Fitas K-7 ou
coisa além disso deve ser notifi-
CDs de músicas de época podem ser facilmente encontradas em qualquer loja
cada ao Anfitrião.
especializada. O volume deve ser alto o suficiente para dificultar que se escu-
2. ERRADO: Se possível, não
conduza o larp numa locação tem as conversas a certa distância, mas não tão alto a ponto de atrapalhar a
aberta. Por locação aberta en- compreensão de uma conversa educada. Se vários toca-fitas ou reprodutores de
tende-se qualquer lugar no qual CDs estiverem disponíveis, um segundo aparelho pode ser usado para os efeitos
pessoas que não participam especiais, como sons de tempestade ou do mar.
do larp e talvez nem saibam o problemas com o larp
que está acontecendo possam
interferir. Se tiver de realizar o Como em qualquer sessão de RPG, algumas situações no larp podem ser pro-
larp numa locação aberta, ga- blemáticas. Sempre que misturar competição, vilões e romance, você vai preci-
ranta que os responsáveis pelo sar de um planejamento muito cuidadoso e da cooperação dos Jogadores.
estabelecimento entendam o A competitividade no larp normalmente é uma coisa ruim. Evite tramas em
que vocês estão fazendo. Se ti- que diversos grupos ou personagens competem pela mesma coisa. As tramas em
ver dificuldade para explicar o que apenas um grupo ou uma pessoa pode vencer deixarão a maioria dos parti-
que é um larp, faça uma analo- cipantes com a sensação de derrota, desapontamento e, às vezes, raiva.
gia com o teatro de improviso Numa boasessão de RPG de mesa, todos os jogadores colaboram para superar
ou os jogos de salão conhecidos as adversidades. Nos larps, deve acontecer o mesmo. A sessão pode até come-
como mystery parties. Pode ser çar com os jogadores em conflito, mas, no decorrer do jogo, as pessoas podem
que alguns restaurantes, clubes descobrir maneiras de cooperar e chegar a um desfecho satisfatório para todos
e salões já conheçam esse tipo os envolvidos. As tramas que colocam os jogadores em competição direta e per-
de evento e entendam suas ne- mitem apenas um ganhador quase sempre deixam alguns jogadores ressentidos
cessidades. Nem é preciso dizer com outros, quando não com o Anfitrião também.
que todos os jogadores devem Os jogadores podem ser vilõe snum larp. Apenas se certifique de que o jo-
manter um comportamento gador entenda que seu papel no jogo não é vencer, e sim ser estupendamente
exemplar. perverso. O vilão deve perder no final do larp, ou no fim das contas, pelo menos.
3. ERRADO: Se estiver numa
Se você achar que um dos jogadores teria problemas com esse tipo de papel,
locação aberta, não envolva no
talvez seja melhor dá-lo a alguém que se divirta com a oportunidade de exagerar
larp pessoas que não estão jo-
na encenação e abusar do melodrama, e não com a possibilidade de estragar o
gando. O live deve envolver ape-
prazer dos outros jogadores.
nas os jogadores. Se o enredo
tiver algo que seria desconcer- O romance provavelmente é o problema mais difícil. Normalmente, é
tante para um observador casual aceitável ter uma trama romântica: talvez os jogadores estejam ajudando um
ou transeunte, então só o ence- casal desventurado, ou então um amante rejeitado que tenta recuperar seu
ne numa locação fechada. prestígio. Envolver dois jogadores numa trama romântica costuma ser um tan-
to constrangedor.

C O M M E 110 I L F A U T
C O M M E 111 I L F A U T
O Anfitrião sempre deve discutir uma trama romântica com os dois jogadores envol-
vidos. Às vezes, mesmo quando as personagens têm um envolvimento romântico no con-
texto do RPG de mesa, pode ser que os jogadores envolvidos se sintam pouco à vontade
com o romance num larp. Alguns grupos podem incluir marido e mulher ou namorados
de longa data que estejam dispostos a representar papéis românticos, mas sempre per-
gunte primeiro! Em geral – e particularmente com jogadores que não se conhecem –, o ro-
mance é um convidado indesejado, ao menos do ponto de vista dos jogadores.
conversão de personagens: da mesa para o larp
Os jogadores sempre se apegam a suas personagens. Se o Anfitrião pretende usar um
larp para continuar a campanha, há muitas coisas importantes a levar em consideração:
A. Em termos realistas, é impossível converter perfeitamente uma personagem de
um sistema para outro. Os cartões usados no larp costumam ser muito mais es-
pecíficos que qualquer perícia, habilidade, feitiço ou objeto usado na mesa. Para
dar a um jogador todos os cartões que a personagem dele logicamente teria, você
precisaria de uma quantidade enorme de cartões, o que complicaria a dramatiza-
ção e tornaria o jogo insustentável.
B. Se o larp der continuidade à campanha, e se a personagem tiver ou obtiver um cartão
no jogo, então ela deveria poder guardar esse cartão para sessões futuras. A quantida-
de de usos pode mudar, a critério do Anfitrião.
C. Lembre-se de que cada Habilidade em Castelo Falkenstein cobre um bocado de coisas.
O fato de uma personagem ter Educação Extraordinária não significa que ele ou ela
fale latim, mas pode ser que outra personagem com Educação apenas Boa fale. Geral-
mente, o diário da personagem é um ótimo material de consulta nessas situações. A
maneira como cada personagem entende sua própria Habilidade pode diferir, mesmo
que os valores sejam idênticos. Lembre-se: a quantidade de usos de um cartão repre-
senta (em parte) o tempo que a personagem leva para realizar uma tarefa. Se a perso-
nagem tivero cartão Ler Egípcio Antigo com apenas um uso, isso significa que ele ou
ela demora muito para traduzir um documento e que conseguiria ler e traduzir apenas
um documento no decorrer da noite. Pelo bem da diversão, não é necessário remover
o jogador do larp durante todo o período envolvido, mas é preciso representar esse
intervalo de tempo de alguma forma.
grand finale: ser ou não ser
Alguns Anfitriões gostam de encerrar seus larps com chave de ouro, com um aconteci-
mento marcante para fechar a sessão. Há vantagens e desvantagens nisso. Se o Anfitrião
decidir usar um grand finale, é importante que todos os jogadores possam participar. Num
larp maior (de quinze a vinte pessoas), isso pode ser quase impossível. Por outro lado,
é totalmente factível num grupo menor. Se alguns jogadores ficarem de fora do encer-
ramento, isso pode gerar a sensação de que foram deixados de lado, de que suas perso-
nagens eram mera perfumaria, que não eram importantes para a grande trama. Sim, o
larp não tem a ver com completar objetivos pessoais nem como conceito de vitória. O
importante é se divertir e interpretar bem o papel.
Outra possibilidade é simplesmente deixar o jogo esfriar depois de resolvidas todas
as grandes subtramas. Às vezes, essa abordagem pode deixar os jogadores ligeiramente
confusos em relação ao final, sem perceber que o fim foi diferente para cada parte da
trama e que não era preciso que todas as personagens soubessem de tudo que estava
acontecendo. Isso se aplica especialmente aos larps com mais de quarenta jogadores.
A terceira opção é a que dá mais trabalho. O Anfitrião pode fazer ou distribuir uma
sinopse no fim da sessão, resumindo o que aconteceu. Alguns Anfitriões podem incluir
algumas perguntas para os jogadores, geralmente para avaliarem seu grau de sucesso ou
fracasso e sugerirem ideias para melhorar a próxima sessão. Em relação a isso, os jogado-
res devem tentar não elogiar descaradamente o Anfitrião. O Jogo sempre pode melhorar,
não importa quanto o último tenha sido bom!

C O M M E 112 I L F A U T
O Cenário de Campanha de Falkenstein

U
ma quantidade absurda de pessoas já me perguntou em algum momento:
“Como faço para criar uma campanha viável de Castelo Falkenstein?”. Eu sem-
pre rio, porque sei exatamente pelo que estão passando.
Você tem um grupo de jogadores oriundos de todas as ocupações e classes so-
ciais interpretando Dragões, Magistas, Cortesãs, Detetives e sei-lá-o-que-mais,
reunidos por conta de uma situação em que é essencial que todos eles cola-
borem para resolver o problema apresentado pela Aventura Recreativa (e
também para salvar a própria pele). Contudo, terminada a aventura, como
fazer para manter esse grupo poliglota unido? O Dragão quer ir à China
para completar sua coleção de pratos de porcelana Ming; o Magista quer
ir à Rússia para se infiltrar na Ordem Mística dos Cavaleiros e aprender
seus segredos; a Cortesã tem porque tem de estar em Paris para com-
parecer à abertura do Salon; e o Detetive... Bom, aconteceu aquele
homicídio aterrador em Londres.
A resposta é: você não coloca um monte de personagens dentro de
uma sala e torce para conseguir mantê-las juntas nas aventuras ain-
da por vir. Não. Em vez disso, você precisa elaborar um Tema, um
tipo de campanha consistente na qual os Jogadores tenham, antes
de mais nada, uma razão para trabalhar em equipe, e só depois en-
caixar as personagens no Tema, e não vice-versa.
Por exemplo, digamos que você tenha as mesmas personagens
descritas há pouco, só que ambientadas num tema de Mistério.
Agora você tem uma razão para manter essas personagens unidas.
Todos fazem parte de um clube que soluciona mistérios – sejam
colegas de um Detetive com a mesma adoração por mistérios ou
pessoas contratadas por um Dragão que coleciona mistérios.
Ou quem sabe uma campanha com tema de Ficção Científica?
Seu Magista é um investigador arcano que pesquisa ameaças vindas
do Além; a Cortesã é sua amiga e companheira. O Dragão já comba-
teu essa ameaça milênios atrás e o Detetive foi contratado pelo Go-
verno para investigá-la. Voilà! Arquivo X instantâneo, à la Júlio Verne.
Você pode inserir esse grupo animado até mesmo numa campa-
nha Militar. O Detetive é um Oficial da Comissão Militar de Inquéri-
to do Imperador, a Cortesã é uma bela vivandeira de quartel ou talvez
uma artista que se apresenta na taverna mais próxima da caserna, o
Magista é membro da Divisão de Feiticeiros das Forças Armadas, e o
Dragão é um espião misterioso que troca informações por artefatos raros
para sua coleção.
Os Temas são a resposta definitiva para as Campanhas de Falkenstein. Dão
às suas Aventuras uma estrutura e um propósito. Anuncie o Tema logo no co-
meço, para que seus Jogadores possam até mesmo criar personagens sob medi-
da, conforme o estilo de cada um, dando a você, o Anfitrião, novas reviravoltas e
conexões entre as personagens que você nem sequer teria imaginado.
No espírito das observações feitas até aqui, compilei uma série dos meus Temas pre-
diletos, bem como variações de cada um, os tipos de Personagens mais adequados para
o Tema em questão e referências às questões que poderiam ser úteis para trabalhar um
Tema específico. Use-os com sabedoria e... Boa Caçada!

C O M M E 113 I L F A U T
Temas Militares
O
ribombar da artilharia inimiga ao longe. O Batalha, o Anfitrião inteligente pode substituí-la por
retinir do aço e os estampidos das pistolas, Missões Secretas, Proteger Segredos Importantes ou
enquanto hussardos valorosos se atiram com ainda promover a ocupação militar de um território
estrondo numa carga maciça. Os gritos dos homens e recém-conquistado. Misturando ou alternando as
cavalos feridos no lamacento e desesperado campo de variações do Tema Militar descritas a seguir, o Anfi-
batalha. trião conseguirá manter com facilidade uma
Este é o reino dos Temas Militares, nos campanha capaz de entreter até mes-
quais o sangue e o alarido dão forma mo o cavalariano ou o lobo do mar
aos acontecimentos, nos quais mais sedento de sangue.
uma espada veloz e um disparo guerreiros de elite
certeiro muitas vezes salvam
o dia. É o lugar perfeito para Nesta variação do tema,
qualquer um ávido por os Jogadores integram um
grandes doses de comba- (pequeno) grupo de elite
te e glória. composto por soldados
famosos por suas ha-
criação de uma bilidades de combate,
campanha militar
como a Guarda Pes-
O Tema Militar soal do Rei ou os Lan-
é bom para man- ceiros da Rainha. Por
ter o grupo coeso isso, eles costumam
e direcioná-lo: os ser designados para
Jogadores vivem proteger pessoas e
na mesma Caser- locais importantes
na ou fortificação ou realizar proezas
e recebem ordens de heroísmo marcial
de uma autoridade que um reles solda-
maior (controlada do não teria sequer
pelo Anfitrião). Seja a esperanças de conse-
bordo de um navio ou guir. Assim como os Três
dirigível, ou no Exérci- Mosqueteiros, somente
to, há uma certa estrutu- nossos heróis são capazes
ra envolvendo a campanha de salvar o Reino, resgatar a
e muitas oportunidades para Rainha e suplantar a inteligên-
saques, glória e combates. E, cia do Duque maligno. Por causa
ainda por cima, você tem a chance de seu status, eles geralmente têm
de andar todo pimpão por aí, metido acesso às melhores armas e ao melhor
num uniforme glamouroso, e fazer estre- equipamento (mas também enfrentam os ad-
mecer o coração das senhoritas. versários mais desafiadores!).
O aspecto marcial da vida de um soldado também campo de batalha
é o tema perfeito para os Jogadores ávidos por com-
bate e por “matar-pilhar-destruir”. Nos momentos Esta variação abrange o Grande Teatro da guerra
em que não estiver acontecendo nenhuma grande propriamente dito. Os Jogadores são parte de uma

C O M M E 114 I L F A U T
unidade militar do exército de uma nação. Diferen- se recusa a aceitar a derrota. O Afeganistão, a Sér-
te do que acontece com os Guerreiros de Elite, suas via conquistada, o Gunga Din de Rudyard Kipling e
tarefas são mais simples e diretas: tomar uma colina, a Guerra Anglo-Zulu são bons exemplos do que faz
defender uma posição, atacar uma fortaleza. Toda uma Guarnição de Ocupação.
missão traz perigos e o risco de perder a vida quando locais exóticos
a brigada valente se atira com estrondo numa carga
de cavalaria e nos desesperados embates de sabre nas Esta variação coloca os Jogadores em serviço numa
mãos no parapeito do castelo. terra muito distante – em campanha na Índia, com-
batendo os zulus no Transvaal ou lutando contra os
ultrassecreto piratas no Caribe. Embora suas obrigações sejam pa-
Esta variação do tema dá aos Jogadores a opor- recidas com as da Guarnição de Ocupação, a ênfase
tunidade de realizar uma missão secreta para seus é a terra estranha em que estão: seus costumes, seu
oficiais superiores (ou, às vezes, para a Realeza). A povo e um ou outro tabu fatal. A Índia de Gunga Din
missão pode ser extremamente sigilosa, envolver (novamente) ou de Kim é um cenário perfeito para
identidades falsas ou até mesmo a infiltração em ter- este tema.
ritório inimigo na condição de espiões. A variação Ul- guerreiros em tempo de paz
trassecreto não tem o mesmo glamour dos Guerreiros
de Elite, mas oferece os impasses táticos resolvidos Em tempo de paz, as forças armadas são uma
no último segundo e a adrenalina que a inteligência chatice. Você só faz treinar, treinar e treinar... quan-
militar exige. Com um pouco de imaginação, o Prisio- do não está caindo na farra, bancando o fanfarrão,
neiro de Zenda se enquadra nesta categoria. atirando-se nos braços das meretrizes e enchendo a
cara! Boa parte desta variante tem a ver com admi-
navio de linha nistrar conflitos com os gendarmes, com a polícia do
Esta variação temática põe os Jogadores a bordo Exército, pessoas de má reputação e damas pitores-
de um navio de linha da Marinha de sua nação. O cas (e assanhadas).
navio visita portos exóticos, recorre à diplomacia guerra civil
das canhoneiras, resgata cidadãos, realiza missões
de reconhecimento, faz o papel de estafeta e, oca- O tema principal desta variação é o conflito fran-
sionalmente, trava batalhas encarniçadas em alto- co entre irmãos. Seja parte da Guerra Civil Norte-A-
-mar. O conceito do Navio de Linha é uma boa ma- mericana ou num conflito neoeuropeu, os Jogadores
neira de variar as histórias e manter os Jogadores encontram-se numa batalha cruenta contra a própria
reunidos no mesmo lugar o tempo todo; está bem família e/ou amigos. É uma casa contra outra, sem
representado pelos romances das séries Ramage, de misericórdia. Bons exemplos são E o vento levou e A gló-
Dudley Pope, e Horatio Hornblower, de C. S. Forester, ria de um covarde.
ou mesmo por Jornada nas estrelas (para usar uma jogadores mais adequados para este
analogia do século XX). tema:
guarnição de ocupação Este tema funciona melhor com Jogadores inte-
Os Jogadores, nesta variante, são o equivalente ressados em colocar à prova suas habilidades mar-
militar da polícia local, assegurando o poderio de ciais em todas as áreas possíveis. Soldados, marujos
suas forças armadas numa colônia estrangeira ou ou Mercenários estarão em casa; já para uma Cortesã
num território recém-conquistado. Aquartelados ou um Cientista, seria difícil acompanhar, a não ser
nas ruínas de uma fortaleza inimiga hoje abando- que conseguissem se enquadrar como civis próximos
nada ou num bivaque de tendas espalhadas pelo à ação!
campo de batalha, eles precisam enfrentar grupos Mais detalhes sobre a ambientação deste tema nos
de guerrilheiros, rebeldes ou uma milícia local que meus apontamentos da pág. 44.

C O M M E 115 I L F A U T
Temas de Mistério
A
s ruas enevoadas de Londres. O brilho fugaz da descoberta sem tamanho, sempre um passo à frente
faca que ceifa uma vida inocente. Um assassina- de um grupo de malfeitores rival.
to brutal pelos motivos mais vis. Ou um segredo os arquitetos do mal
tão terrível, tão sombrio, que a morte é a única penali-
dade possível para aqueles que tentam jogar alguma luz Quem é a força misteriosa por trás de uma série de
sobre ele. assaltos fantásticos ao tesouro público de várias na-
Estes são os Temas de Mistério, um terreno exce- ções do Continente? Quem foi o gênio do crime que
sabotou a Grande Exposição de 1869 e chantageou o
lente para um Anfitrião bem-disposto sediar campa-
czar da Rússia para conseguir 20 milhões de rublos?
nhas que envolvem intrigas e solucionar enigmas.
Os Jogadores se veem em conflito com os Arquitetos
criação de uma campanha de mistério do Mal (ou outro grupo similar), criminosos impla-
O Mistério é bom quando você tem um grupo re- cáveis liderados por um obscuro Mestre Arquiteto
gular com rotatividade de personagens: resolvido o que deseja nada menos que dominar o mundo todo.
mistério, novas personagens podem ser incorporadas Quem são os Arquitetos e como os Jogadores vão le-
para resolver o próximo. O mais importante neste vá-los à Justiça?
Tema é um “MacGuffin” central que reúna todos os o(s) grande(s) detetive(s)
Jogadores num mesmo lugar.
Nós aceitamos seu caso! Os Jogadores são auxiliares
investigadores da alta sociedade (ou até mesmo colegas) de um Grande Detetive que
Uma variação do Assassinato Misterioso na at- conduz investigações mundo afora. Coletar provas,
mosfera rarefeita do comme il faut. Os Jogadores são organizar pistas e combater Aqueles que Não Querem
pessoas ricas e poderosas que mergulham no mun- que se Faça Justiça é apenas uma parte dos seus de-
do dos assassinatos e mistérios como válvula de veres nessa missão de resolver os casos mais difíceis.
escape para suas vidas glamourosas. É claro que os Útil para unir um grupo muito variado de Jogadores e
Mistérios acontecem nos spas, cassinos e pontos de dar-lhes um direcionamento.
encontro mais refinados do planeta, com vítimas e investigadores da coroa
algozes saídos da nata da Sociedade. Uma boa varia-
Em Nome do Rei (ou da Rainha). Os Jogadores
ção para Damas, Cavalheiros, Diplomatas e aristo-
são Investigadores Reais de casos especiais que
cratas de toda sorte.
Suas Majestades consideram muito delicados ou
a máscara do estripador importantes para deixar a cargo de meros policiais.
Parte horror, parte mistério, esta variante enfoca Munidos de seus Alvarás Reais e raciocínio deduti-
a atividade de desmascarar e deter um assassino mis- vo, eles enfrentam espiões, assassinos e traidores
terioso que ronda a cidade. Todos são suspeitos, e o de primeira linha.
Estripador (ou qualquer outro psicopata de nome pi- jogadores mais adequados para este tema:
toresco) provoca os Jogadores com pistas de sua iden-
Qualquer tipo de Jogador se adaptaria a este tipo
tidade e de seu paradeiro. Sempre um passo atrás, os
de Aventura Recreativa, mas os Temas de Mistério são
Jogadores tentam identificá-lo antes que o assassino
melhores para aqueles que gostam mais de enigmas
mate um deles.
do que de ação. Os Jogadores devem gostar de con-
caça ao tesouro duzir interrogatórios, encontrar personagens do An-
Qual será o propósito do mapa antigo encontrado fitrião e usar seu raciocínio dedutivo.
na mochila junto ao cadáver de Gladstone, o arqueó- Mais detalhes sobre a ambientação deste tipo de
logo? Qual será a conexão entre a estatueta de um Campanha nos livros da série Lord Darcy, de Randall
deus-serpente asteca e um Livro dos Mortos tibeta- Garret, em qualquer coletânea de Sherlock Holmes,
no? É o início de uma caça ao tesouro, na qual os Jo- nos romances da linha Irene Adler de Carole Douglas,
gadores precisarão decifrar as pistas que levam a uma ou ainda nos mistérios da série Bertie, Prince of Wales,
de Peter Lovesey.

C O M M E 116 I L F A U T
Temas de Ficção Científica
P
ara a Lua... ou além! Ou talvez conquistar as são tão altos, que a traição está sempre à espreita.
profundezas do oceano e o Reino dos Ares com a Bom para Inventores, Cientistas, Agentes Secretos
energia a Vapor. Saber Coisas que a Humanida- etc. Frankenstein é um bom exemplo desta variante,
de Não Deveria Saber e Dominá-las à Luz Esclarecedora assim como Caçadores da arca perdida.
da Ciência! conquistador do mundo!
A Era Vitoriana é o berço da ficção científica. Antes
do advento da eletricidade, do vapor e afins, não ha- O foco desta variação temática são os grupos ma-
via avanços tecnológicos suficientes para tornar fac- lignos determinados a conquistar e subjugar toda a
tível a ideia de Ficção Científica. Convenhamos: não Humanidade. Os Jogadores combaterão Gênios e
haveria muito apelo num romance de ficção científi- cientistas do mal, que não hesitarão nem por um ins-
ca eletrizante intitulado O inventor maluco dos aquedu- tante em usar suas novas tecnologias para escravizar
tos de Roma. todos os cidadãos de bem do mundo. Um cenário que
exige medidas desesperadas e raciocínio rápido. Vinte
criação de uma campanha de ficção mil léguas submarinas é o exemplo clássico.
científica
invasores do além (versão 1)
A campanha de Ficção Científica é perfeita para
os Jogadores interessados em explorar as novas e Os marcianos (ou qualquer outra raça não huma-
bizarras tecnologias da Era do Vapor. Se você gostou na extremamente desenvolvida) querem conquistar
dos livros de Júlio Verne ou H. G. Wells, este é o tema a Terra! Nenhum exército do planeta é capaz de impe-
apropriado para você. As sessões enfocam as Grandes di-los! Os Jogadores são o último baluarte entre a li-
Invenções, Descobertas ou Explorações, mas tam- berdade e a escravidão! A melhor parte dessa variante
bém abre espaço para o combate, a investigação e a é aprender a usar a tecnologia alienígena e descobrir
solução de enigmas. E, depois de usar uma das varia- uma maneira de derrotar suas máquinas de guerra in-
ções, você não terá dificuldade para passar seu grupo vencíveis. O exemplo clássico, evidentemente, é Guer-
para uma nova Invenção ou Aventura! ra dos mundos, de H. G. Wells.

onde nenhum homem jamais esteve um túnel transatlante... viva!


A exploração do Desconhecido, seja na África, na Esta variante coloca os Jogadores contra a Natu-
Índia, nas profundezas dos mares ou no Reino do reza, pois tentam construir uma grandiosa mara-
Éter: esta variante cobre tudo isso. Através de algu- vilha tecnológica. Túneis transatlantes, edificações
gigantescas, cidades flutuantes, canais como os de
ma forma de tecnologia avançada, os Jogadores têm
Suez... Quanto maior a construção, melhor. E quan-
a capacidade de viajar para locais nunca antes visita-
to aos Anarquistas, sabotadores e nações rivais que
dos. Os requisitos são algum tipo de Veículo Espanto-
se colocam em seu caminho? É uma variante perfeita
so, ou talvez uma passagem secreta para um Mundo
para Engenheiros, grandes titãs da indústria e outros
Perdido. Os Jogadores são exploradores, cientistas ou
construtores de impérios.
seus leais companheiros, determinados a conquistar
o Desconhecido! jogadores mais adequados para este tema:
poderes além da compreensão Cientistas, Engenheiros e Inventores são os me-
lhores para estas variações, mas sempre haverá lugar
O cerne desta variação são os desafortunados cien-
para Mercenários decididos salvarem o dia, ou para
tistas-Jogadores que esbarraram em Poderes Diabóli-
Cortesãs e Damas que se envolvem com o Cientista
cos. Os Jogadores são membros de um grupo de cien- Louco ou o Gênio da cidade. É um bom tema para um
tistas e pesquisadores que descobriu uma Tecnologia cenário diversificado com muitas pessoas, desde que
Perdida misteriosa ou um Conhecimento Secreto, todas gostem de máquinas.
que eles agora precisam proteger, destruir ou utilizar Mais ideias de cenários neste tipo de campanha no
de alguma maneira. A pergunta “nós deveríamos usar suplemento Era do Vapor: prodígios incríveis da energia a
isto?” é uma causa constante de angústia, e os riscos vapor, de Castelo Falkenstein .

C O M M E 117 I L F A U T
Temas Românticos
O amante sobrenatural
vento açoita a charneca, e você aguarda seu amante
sobrenatural. Você sabe que ele é inefavelmente pe-
rigoso, e talvez maligno, mas você não consegue se Seja a sombra de Drácula que vem seduzir as persona-
conter. Os olhos e os lábios dele conduzem você, feito gens uma a uma, para se juntarem às suas execráveis
mariposa, para uma chama deveras letal... noivas mortas-vivas, seja o glamour irresistível
Os Temas Românticos englobam o de um Lorde/Lady Feérico(a), a variante
mundo dos clássicos romances de ban- do Amante Sobrenatural pode combinar
ca de jornal com mocinhas de “cor- grandes paixões com intensos calafrios
pete rasgado” na capa, nos quais a de medo. Esta variação é melhor para
paixão enfrenta perigos mortais aqueles que gostam de Horror Góti-
e todo amor é mais que proibido. co e vampiros ameaçadores.

criação de uma raptada!


campanha romântica A personagem central do Par
Romântico foi levada contra a
À primeira vista, o Tema
vontade, para consternação
Romântico pode parecer o
de seu verdadeiro amor. Ago-
mais difícil de aplicar, ou
ra, o Herói e seus compa-
talvez restrito aos Anfi-
nheiros precisam perseguir
triões com um grupo basi-
o rival e os cúmplices do
camente feminino. Nada
vilão até os confins da Terra
disso, Colega: o Tema Ro- (ou além), para recuperar o
mântico engloba quase “tesouro roubado”!
todos os outros. Por exem-
plo, pode-se representar corpete rasgado
Drácula tanto como Hor- Lance seus Jogadores nas
ror quanto como Roman- garras de um bando de pi-
ce, dependendo apenas da ratas irascíveis ou bandidos
ênfase que se queira dar. A perigosos, enquanto os vilões
única sugestão que eu daria misteriosos tentam conquis-
é assegurar que todos os Jo- tar o mundo (ou as colônias
gadores tenham personagens espanholas no Caribe) e, ao
do mesmo sexo, ou que o papel mesmo tempo, ganhar a afeição
de todas as caras-metades cen- das personagens! Bons exemplos
trais da trama seja interpretado disso são Capitão Blood, Os piratas
pelo Anfitrião. de Penzance, ou até mesmo Vinte mil
amantes malfadados léguas submarinas, com uma doutora
Arronax impetuosa e apaixonada, e um
Esta variação envolve um perigo capitão Nemo jovem, galante e atraente!
mortal que ameaça um ou mais dos bem-
-amados das personagens do grupo, como
jogadores mais adequados para
uma maldição terrível ou uma doença grave que este tema:
obrigará as Heroínas a arriscar tudo para quebrar a mal- Este Tema é adequado para quase todos que gostam de
dição ou descobrir a cura. Se você gosta de fazer discur- exagerar na interpretação e abusar dos discursos grandilo-
sos apaixonados e mover céus e terra por amor (como quentes, sem medo de jogar com as emoções à flor da pele.
Elric de Melniboné ou O prisioneiro de Zenda), esta variante Vá em frente, experimente. Seus Jogadores podem sur-
é para você. preender você!

C O M M E 118 I L F A U T
Temas de Agentes Secretos
O
Grande Jogo da Era do Vapor é a Espionagem, concretizem. Pode-se jogar esta variante com uma
um xadrez secreto de movimentos e contra mo- pegada mais exagerada, com todos os toques de
vimentos que pode determinar o destino de na- James Bond que você conseguir encaixar, ou como
ções. Quem terá sucesso e quem sucumbirá neste que é o uma batalha mais sóbria e séria contra terroristas
Mais Letal dos Jogos? que ameaçam o planeta.
Graças à natureza fantástica do mundo falkens- contra a liga mundial do crime
teiniano, no Tema dos Agentes Secretos, cada agente
prussiano circunspecto e profundamente infiltrado Esta versão do Tema dos Agentes Secretos coloca
tem sua contraparte, que é um superespião vistoso e os Jogadores em confronto com a famigerada Liga
munido de engenhocas de última geração – de peris- Mundial do Crime do Professor Moriarty. a organi-
cópios a vapor a lâminas acionadas por mecanismos zação clandestina que se dedica a dominar o mundo.
de corda nas rodas de sua automotriz. Só depende da Em vez de buscar segredos, os Agentes tentam loca-
Organização Secreta a que você for filiado. lizar a Liga do Crime e frustrar seus planos sinistros,
usando a tecnologia mais avançada que a Ciência
criação de uma campanha de agentes pode oferecer.
secretos no grande jogo
Uma campanha de Agentes Secretos mistura o
Esta variação do Tema calça os Jogadores na Rea-
que a aventura audaz, a Anacrotécnica e a ficção cien-
lidade, como agentes de uma das Grandes Potências
tífica têm de melhor, especialmente se você gostar
do mundo do Castelo Falkenstein. Suas missões en-
mais de James Bond. Por outro lado, este Tema tam-
volvem descobrir segredos diplomáticos e militares
bém tem espaço para a espionagem sutil e a intriga
e desmascarar contraespiões inimigos. A ação é bas-
de uma aventura realista. Em todo caso, os Jogadores tante realista, com poucas engenhocas e muita infil-
serão Agentes de uma Organização secreta, seja de tração de agentes.
âmbito nacional (como o Serviço Secreto Bávaro) ou
uma agência sem fronteiras (como a Shield, dos qua- o ministério dos segredos
drinhos de Nick Fury). Uma boa Aventura Recreativa A serviço de uma agência do Governo secreta es-
deste Tema deve ter pelo menos um Quartel-General pecializada em encobrir a verdade, os Jogadores são
secreto, liderado por uma pessoa capaz, poderosa e os misteriosos “Homens de Preto” que lidam com
enigmática. assassinatos, acontecimentos estranhos e inexpli-
missão: impossível cáveis e todos os eventos tão queridos pelos teóricos
da conspiração. Como? Marcianos aterrissaram em
Esta variante combina o melhor da ação realista Sussex? Improvável. Faça a gentileza de nos acom-
e da tecnoespionagem científica. Os Jogadores são panhar, senhor...
uma equipe de especialistas altamente treinados,
cada um em sua área de conhecimento, em conflito jogadores mais adequados para este tema:
com agentes de outras nações. Este tipo de Aventura Embora este Tema seja obviamente melhor para
Recreativa permite a todos os Jogadores brilhar em Agentes Secretos, também é bom para Mercenários,
suas respectivas especialidades, mas todos colabo- Diplomatas e até mesmo Soldados (que podem ser
ram para alcançar um objetivo comum. oficiais da Inteligência Militar). As Cortesãs também
dr. lovelorn, eu presumo? podem aspirar ao título de próxima Mata Hari, e Da-
mas e Cavalheiros vivem sendo recrutados para servir
Nesta versão, os Jogadores são especialistas em o país. Engenheiros e Cientistas Loucos sempre po-
derrotar a onda infindável de Gênios e Loucos que dem encontrar um lugar no laboratório de tecnologia
ameaçam incessantemente Nova Europa. Combi- da Organização Secreta, inventando novas engenho-
nam engenharia e espionagem para localizar os la- cas para uso em campo.
boratórios secretos e as fortalezas dos Gênios e des- Mais detalhes sobre este tipo de campanha nos
truí-los antes que os planos malignos dos vilões se meus apontamentos da pág. 45 de Castelo Falkenstein.

C O M M E 119 I L F A U T
Temas de Horror
U a marca da besta
m terror de Outra Realidade, gerado por
uma seita ctônica que adora apenas os Deu-
ses Mais Tenebrosos. Lunáticos que rondam Esta variação coloca os Jogadores contra o horror
as charnecas enevoadas das solitárias Terras Altas da sobrenatural da licantropia – seja como caçadores de
Escócia. Vampiros, Fantasmas e outros habitantes da lobisomens que protegem seus lares dessa ameaça
Noite. Até mesmo as terríveis criaturas da Hoste Un- terrível, ou como metamorfos amaldiçoados e obri-
seelie, em sua monstruosa majestade. gados a lutar pela própria sobrevivência contra a Hu-
Uma campanha de Horror tem algo a oferecer manidade (e sua própria raça). Num mundo de fadas,
para todos os participantes das suas Aven- dragões e anões, o lobisomem ganha contornos total-
turas Recreativas. Para aqueles que mente novos. Esta variante pode ser amplia-
gostam de angústia e ambiguidade da para abranger também os vampiros.
moral, haveria maneira melhor um mal antigo caminha sobre
de mergulhar na escuridão da a terra...
Alma que encarar a maldi- Adoradores de seitas malig-
ção atroz da licantropia ou nas rondam a noite, com as
do vampirismo? Quem se facas ritualísticas banha-
interessa por ocultismo das em sangue e os altares
e pelo grotesco pode se abarrotados de inocentes
saciar combatendo ado- sacrificados. Conseguirão
radores de seitas tene- os Jogadores derrotar es-
brosas e Deuses Mais sas hordas irrefreáveis
Antigos que o Tempo. antes que uma orgia de
Além disso, poucos morte liberte um Deus
monstros são tão as- Tenebroso de seu longo
sustadores quanto as torpor? Esta é a varian-
centenas de criaturas te perfeita quando seus
Unseelie que nos vi- Jogadores querem con-
giam em cada sombra! flitos mais pé no chão e
criação de uma aos montes, culminando
campanha de num final apavorante,
quando os Seres das Tre-
horror
vas finalmente se abate-
O Tema de Horror rem sobre a Humanidade.
mantém o grupo de Joga- os reluzentes
dores unido para enfrentar
uma ameaça comum que Eles são antigos, atempo-
pode destruir a todos. Para rais, impiedosos. Deliciam-se
manter a sensação claustrofó- com o tormento, a tortura e a
bica de “não há escapatória”, é morte. Todas as noites, cavalgam os
necessário que a área de ação seja ventos em busca de novas vítimas para
limitada: cidades pequenas, castelos seus prazeres distorcidos. Os Unseelie vi-
mal-assombrados, ermos desabitados e becos vem nas sombras da Era do Vapor, aterrorizan-
apertados se encaixam melhor no tema. do qualquer um que eles venham a surpreender sozi-

C O M M E 120 I L F A U T
nho. São monstros de intelecto brutal e insensível e de metamorfos ou parasitas que controlam a mente, in-
uma voracidade engenhosa,capazes de instilar o medo filtrados discretamente na sociedade humana. Esta
até mesmo no coração de seus Jogadores feéricos! variante lança os Jogadores contra uma ameaça mais
guardiões do limiar sutil composta de invasores alienígenas horripilan-
tes, na tradição de Os invasores de corpos.
O reverso da variante da seita tenebrosa, aqui os
Jogadores são um bando de guardiões determina- departamento x
dos a vencer o Mal: são os defensores de um local, Existem Coisas que ao Homem Não É Dado Co-
objeto ou poder que protege a Humanidade dos Se- nhecer, mas vocês vão investigá-las assim mesmo!
res das Trevas que planejam massacrar os desavisa- Como Agentes do Departamento de Mistérios Inex-
dos. Esta variação oferece muitas chances de dizer plicados de Sua Majestade, vocês são os primeiros a
“é uma fonte de Poder Indescritível!!”, à medida chegar ao local para investigar as misteriosas pegadas
que a verdadeira natureza da missão dos Jogadores luminescentes, o Cão Espectral que assombra a char-
vai se revelando. neca de Basinghamstoke e os relatos sobre um Ho-
assombração mem Invisível à solta em Lyon. Parte mistério, parte
Horror, esta variante é para aqueles que querem mui-
Fantasmas, ghasts e o tilintar de correntes noi-
to exercitar a imaginação.
te afora. Um espectro assombra os Jogadores, e seu
toque gélido traz a morte. Buscará ele vingança, ou a maldição
apenas descanso? Uma boa variação para quem gosta Desde que o tio Basílio retornou das imensidões
de mistérios e para os caçadores de fantasmas. Lei a desoladas da Mongólia Exterior com aquele fetiche
Hamlet para saber como é uma boa história na qual o estranho, ele não parece muito... hã, muito normal.
fantasma dita a trama. Talvez ele tenha passado a enterrar ossos no jardim,
sombras profundas talvez conduza ritos medonhos no porão ou persiga
arqueólogos: seja como for, ele está sob a influência
A garganta dilacerada e a palidez extraterrena dão
insalubre de um objeto antigo e amaldiçoado. Cabe
o aviso fatal: o vampirismo está se espalhando nova-
aos Jogadores discernir a natureza da maldição e
mente pela Terra! Os Jogadores se veem enfrentando
descobrir como quebrá-la. Quebrar uma maldição
a ameaça de um círculo de vampiros determinado a
antiga – e, em especial, destruir um objeto amal-
trazê-los para as fileiras imundas dos mortos-vivos.
diçoado – envolve procedimentos muito difíceis e
Peguem seus crucifixos e estacas, se vocês ousarem
intrincados, certamente abrangendo uma missão
enfrentar a fúria do conde Drácula!
de âmbito mundial para encontrar (no mínimo) um
o horror de ipswich objeto ou ritual a ser usado para devolver a sanidade
Que criatura maligna é essa que ronda a charne- ao pobre tio Basílio.
ca, dilacerando e matando com uma sede de sangue jogadores mais adequados para este tema:
insaciável? Serão os Jogadores capazes de escapar do
O Horror funciona muito bem com todos os ti-
minúsculo vilarejo/ilha/navio no qual se veem encur-
pos de Jogador, embora aqueles que se interessam
ralados antes que todos sucumbam às presas e gar-
pelo combate possam se sentir frustrados quando
ras do Horror de Ipswich? Os habitantes do vilarejo/
suas habilidades maravilhosas se mostrarem inca-
ilha/navio são a caça, os protetores ou adoradores da
criatura? Uma ótima variação para fãs do combate e pazes de matar um oponente sobrenatural. Tam-
também para feiticeiros. bém é um bom Tema para Magistas e Cientistas
interessados em explorar o paranormal. A varia-
invasores do além (versão 2) ção dos Reluzentes é ótima para integrar persona-
Eles vieram das estrelas, mas não em trípodes gens feéricas… e depois aterrorizá-las até a ponti-
metálicos. Os alienígenas são plantas assassinas, nha da asa!

C O M M E 121 I L F A U T
Temas de Contos de Fadas
E
ra uma vez um Reino minúsculo na orla da Grande que não é tão incomum em Nova Europa). Podem ser prin-
Floresta Negra. Embora o Rei e a Rainha fossem bons cesas transformadas em cisnes, príncipes transformados
e gentis, forças sombrias, bruxas malvadas e dragões em feras, ou até mesmo o ocasional príncipe sapo. O fato
vorazes espreitavam aqueles que saíam pelos portões e aban- é que os Jogadores encontrarão feitiçaria, intriga política e
donavam a segurança do castelo... romance cavalheiresco nesta variante.
O mundo do Castelo Falkenstein oscila precariamen-
te no limite entre a Realidade e a Alta Fantasia. Dragões e goblins & gremlins
anões caminham nas mesmas ruas que homens e mulheres Nesta variação do Conto de Fadas, os Jogadores são
comuns. Portanto, não é surpresa alguma que, neste mun- especialistas em investigar e eliminar surtos de atividade
do, os Contos de Fadas assumam toda uma nova dimen- clandestina do povo feérico: brincadeiras perigosas, crian-
são de realismo. Em qual outro lugar um rival pelo trono ças roubadas, Portais Feéricos e a Caçada Selvagem. Uma
de uma pequena nação planejaria eliminar seu meio-irmão Aventura excelente para personagens feéricas, pois faz
fazendo uma “bruxa” transformá-lo num sapo? com que confrontem seus oponentes mais difíceis: seus
criação de uma campanha de semelhantes.
contos de fadas rumplestiltskin
A melhor maneira de usar o tema dos Contos de Fadas é Esta variação lança os Jogadores contra criaturas mági-
transformar todo o grupo de Jogadores em Investigadores cas de inteligência aguçada, determinadas a tomar peque-
a Serviço da Coroa – seja a de Feéria, a do Segundo Pacto nos reinos por meio de trapaça e feitiçaria. Os Jogadores
ou a de uma nação moderna, como a Baviera. A chance de têm de desbaratar os planos do trapaceiro e libertar o reino
viver uma aventura de espada &feitiçaria vaporpunk é boa de seu jugo, enquanto evitam as ilusões da criatura e seus
demais para deixarmos passar. Os Investigadores da Coroa aliados políticos.
são enviados para averiguar interferências de ordem feé- espadas enfeitiçadas
rica ou mágikas, como changelings, goblins desgarrados,
dragões malignos e coisas do gênero. O grupo tem poder e Os Jogadores, nesta variação do tema, são especialistas
autoridade para lidar com essas ameaças sobrenaturais da em lidar com Espadas mágikas, Artefatos amaldiçoados e
maneira que considerar mais adequada – e, com as cente- outras manifestações perigosas da tecnomagia. É uma boa
nas de reinozinhos espalhados pela Renânia, entre a Fran- variante para feiticeiros, cientistas, engenheiros interessa-
ça, a Baviera e a Prússia, eles podem encontrar um novo dos na Magia Mecânica (encontrar e recolher Mecanismos
conto de fadas a cada sessão da Aventura Recreativa. Mágikos criados por outras nações poderia ser uma sub-
classe desta variante) e Inventores Malucos.
princesas & dragões
jogadores mais adequados para este tema:
A maioria dos dragões é extremamente civilizada e re-
finada, mas um ou outro desgarrado às vezes decide vol- O Tema dos Contos de Fadas mistura política, fantasia,
tar aos métodos tradicionais. Nesta variante, os Jogadores espada &feitiçaria em partes iguais. É o melhor ponto para
são especialistas em tratar com dragões que se renderam Jogadores acostumados aos elementos dos RPGs de fanta-
ao Mal, passaram a queimar vilarejos para exigir tributo, a sia tradicionais começarem a explorar o mundo do Castelo
raptar jovens donzelas ou causar devastação só pela graça Falkenstein. Existem dragões, anões, fadas e outras criatu-
da coisa. ras familiares, mas o cenário “vaporpunk”é uma novidade.
Bons Jogadores para este Tema seriam os mais jovens, ou
princesas cisnes/príncipes sapos aqueles chegados à boa e velha exploração de masmorras.
Os Jogadores são especialistas em casos que envolvem Para saber mais sobre este tipo de campanha, vá à bi-
mudanças de forma, maldições e coisas do gênero (algo blioteca e leia os Contos de Grimm. São assustadores.

C O M M E 122 I L F A U T
Um Quem é Quem Cronológico Falkensteiniano
personalidade 1866 1867 1868 1869 1870 1871 1872 1873 1874 1875 1876
BABBAGE, CHARLES Cátedra Lucasiana de Física, Univ. Cambridge Constrói um Mecanismo Analítico Consciente Pode estar vivo dentro do Mecanismo Analítico Consciente
BELL, ALEXANDER G. Em Edimburgo, Escócia Em Londres, como estudante No Canadá Leciona para surdos em Boston Inventa o telefone Funda os Novos Laboratórios Bell em Boston
BERNHARDT, SARAH Jovem atriz em Paris Le Passan tfaz fela uma Estrela em Paris La Baronne Mademoiselle Aïssé, Ruy Blas Retorna à Comèdie Française Turnê Mundial
BISMARCK, OTTO VON Batalha de Königssieg Chanceler do Reich Infiltra-se no Canhão Verne Projeto do Míssil Prussiano Tratado de Avalon
BURTON, RICHARD Viaja à Ásia para estudar Zen e Kung Fu Ensina em Epsom, Cambridge Infiltra-se nas tribos afegãs Missão no Império Otomano Infiltra-se em Cabul Piratas de Bangcoc Ordenado Cavaleiro pela rainha Vitória Missão em Áden
CARROL, LEWIS Alice & Carrol são raptados por fadas Retorno do cativeiro em Feéria Ensina em Oxford Alice através do espelho Terceira viagem por Feéria Fica preso no Véu A caça ao snark
CARTER, JOHN Primeira viagem a Marte Eventos de Uma princesa de Marte Retorna à Terra Conhece Tom Olam Fica preso na Terra Retorna a Marte O comandante de Marte
DICKENS, CHARLES Funda uma nova revista Estreia como produtor teatral O mistério de Edwin Drood (falece)
DISRAELI, BENJAMIN Ministro da Fazenda do Reino Unido Lei das Reformas Primeiro-ministro Deixa o poder Expoente do Partido de Oposição Primeiro-ministro novamente Coroa Vitória imperatriz da Índia
DRÁCULA, VLAD Expulso da Transilvânia pelo Adversário Em Paris Em Londres Retorna à Transilvânia Obrigado a voltar a Londres Perseguido por Van Helsing Eventos de Drácula
EARP, WYATT Tropeiro no Arizona Conhece Hickock em Amarillo, TX Caçador de búfalos Delegado da União em Albuquerque, NM Delegado em Santa Fé, Novo México Conhece Tom Olam
EDISON, THOMAS Inventa o telégrafo automático Telégrafo impressor Telégrafo avançado Detonador térmico Tubo de argônio Dinamotelégrafo de argônio Fund. Lab. Edison em Nova York Trabalhando na luz elétrica
EDUARDO, PRÍNCIPE (BERTIE) Fund. Marlborough House Conhece Tom Olam Membro (secreto) do Pacto Escândalo Mordaunt / Tifo Ag contra os Lordes do Vapor Visita a Rússia Visita a Índia / Escândalo Aylesford
FOGG, PHILEAS Estudante em Oxford Procurado pelos eridanianos para combater os capellanos Frequentador misterioso do Reform Club Eventos de A volta ao mundo Casa-se com Aouda Viaja de um polo a outro Combate os capellanos na Lua
FRANKENSTEIN, VICTOR Estudante em Heidelberg Muda-se para a Inglaterra Docente em Nuremberg O Monstro A Noiva Enlouquece Recupera-se O Novo Monstro
GORDON, ARTEMUS Palcos de São Francisco Conhece James West Ingressa no Serviço Secreto dos EUA A noite do Mestre A noite dos Illuminati A noite do cientista louco Anoite do sétimofantasma A noite dos Maçons A noite dos Homens Vermelhos
GRANT, ULYSSES S. General do Exército do Oeste Presidente dos EUA; administração sabotada por Conspiração Republicana secreta liderada por Seward
HOLLIDAY, “DOC” Faculdade de Odontologia Jogador profissional em Dallas, Texas Nos Territórios Não Organizados Conhece Wyatt Earp
HOLMES, SHERLOCK Doença grave Muda-se para Yorkshire Aulas com Prof. Moriarty Estudante em Oxford Combate Fu Manchu Caso do Gloria Scott Oxford de novo Estudante em Cambridge Torna-se detetive consultor
HOMEM INVISÍVEL Estudante universitário Químico em Londres Inventa o composto Capturado e aprisionado pelo Serviço Secreto Britânico Foge para Paris Filia-se à Liga Mundial do Crime
LINCOLN, ABRAHAM Presidente dos EUA Embaixador na Grã-Bretanha Aposenta-se, escreve suas memórias Falece
LOVELACE, ADA Filia-se ao Templo de Rá Os princípios do intelecto Sumasacerdotisa do Templo Dispositivo de Transferência Somática Mecanismo de Realismo Virtual Projeto Existência Virtual
LUÍS I, REI Viaja por Nova Europa Filia-se aos Prosperanos como Auxiliar Falece em München
LUÍS II, REI Batalha de Königssieg Principal organizador do Segundo Pacto Incidente dos foguetes prussianos Batalha do Mar Interior Nasce Tristan Loengrin, seu filho Sedia a Grande Exibição de 1876
MARX, KARL Em Londres Das Kapital Funda a Fraternidade Anarquista Congresso Niilista Fraternidade Anarquista Mundial foge ao controle Combate Tom Olam
MONTEZ, LOLA Viaja por Nova Europa Deixa Luís e vai para a América Palcos de São Francisco Retorna à Nova Europa Duela com Marianne Entra para um convento
MORIARTY, JAMES Publica Teorema matemático Professor adjunto, tem Holmes como aluno Exonerado Inicia vida de crimes Funda a Liga Mundial do Crime Roubo da Opala do Rajá & outros crimes Faz Paris de refém & outros crimes
NEMO, CAPITÃO Entra para o Pacto Eventos de Vinte milléguas Estudo aquático / Eventos de A ilha misteriosa(mais u menos) Investiga os foguetes prussianos Viaja à Atlântida Constrói a Cidade Submarina Nemo contra Nemo

Presidente da República da Bandeira do Urso


Casa-se com Minnie Wakeman;
NORTON I, IMPERADOR Proclamado imperador da Bandeira do Urso Mandaconstruir a ponte São Francisco-Oakland Tratado de San José Hidalgo Muda-se para o Palace Hotel a ponte é finalizada
OLAM, THOMAS E. Raptado por magia! Batalha de Königssieg Agente do Pacto Olam contra o Lorde do Vapor A Grande Corrida Incidente dos foguetes prussianos Batalha do Mar Interior Viaja ao Trono Dragontino Viaja à América
RASSENDYL, RUDOLF Estuda em Eton Estuda em Oxford, conhece Holmes Eventos doPrisioneiro de Zenda Eventos de Rupert de Hentzau (escapa, o rei verdadeiro morre) Rei da Ruritânia
ROBUR, O CONQUISTADOR Protótipo da primeira Aéronef cai Desafia a Weldon Society Dá a volta ao mundo / Sabotagem do Albatroz I Fund. da base secreta Constrói o Albatroz II Filia-se à Liga Mundial do Crime Bombardeia Paris Albatroz III
TWAIN, MARK Repórter em São Francisco / Secretário de Norton Innocents Abroad / Roughing It Embaixador nos Estados Unidos Conselheiro particular de Norton I Tom Sawyer
VAN HELSING, DR. ABRAHAM Estuda em Heidelberg Estuda em Londres Estuda ocultismo em Paris Conhece Tom Olam Descobre que Drácula existe Atacado pelo conde durantea perseguição Eventos de Drácula
VERNE, DR. JÚLIO Nomeado Ministro da Ciência Constrói o Canhão Verne Fund. Liceu de Pesquisa Pura Escreve A volta ao mundo em oitenta dias Ministério Aeroespacial
Casamento da Inauguração do Disraeli é Gladstone é Falso atentado Disraeli é novamente Coroada Imperatriz
VITÓRIA, RAINHA
princesa Helena Royal Albert Hall primeiro-ministro primeiro-ministro Príncipe adoece (tifo) de O’Connor primeiro-ministro Príncipe Bertie vai à Índia da Índia
Recrutado por Burton (professor) para se Ferido por afegãos (diz a Holmes que
WATSON, DR. JOHN Viaja à América Estudante em Epsom é um ferimento de guerra) Volta para casa Na Universidade de Londres Obtém licença para clinicar Viaja à Austrália
infiltrar nas tribos afegãs
WEST, JAMES Exército dos EUA Entra para o Serviço Secreto dos EUA Conhece Artemus Gordon Casos diversos A noite do Mestre A noite dos Illuminati A noite do cientista louco A noite do sétimo fantasma A noite dos Maçons A noite dos Homens Vermelhos
ZEPPELIN, FERDINAND Retorna da Guerra de Secessão dos EUA Propõe a Bismarck construir a Armada Celeste Zeppelin Protótipo LZ-Drachen Nomeado Ministro do Ar da Prússia Protótipo LZ-Graffen Protótipo LZ-Stuka
Munique
A UNIVERSIDADE

O ENGLISHERGARTEN

ANTIGA PINACOTECA A BIBLIOTECA


C O M M E
124

O HOFGARTEN

MAXIMILIAN PLATZ
I L

A RESIDENZ
F A U T

IGREJA DE SANT’ANA

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

O RATSKELLER

MUSEU
Viena
KAISERGARTEN

PARQUE PRATER
C O M M E

RIO DANÚBIO

A RINGSTRASSE
125

O HOFBURG (PALÁCIO)
I L

MUSEU DE HOFOPER (CASA DA ÓPERA)


HISTÓRIA NATURAL
MUSEU DE
HISTÓRIA DA ARTE
F A U T

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
Paris
C O M M E

PALAIS ROYAL

PALAIS DU LOUVRE

THÉÂTRE MUSICAL
126

HÔTEL DE VILLE
I L

PALÁCIO DA JUSTIÇA

UNIVERSITÉ PARIS
F A U T

SAINT-MICHEL
CATEDRAL DE NOTRE-DAME

SORBONNE

UNIVERSITÉ PARIS II
Berlim

UNIVERSIDADE
C O M M E

HUMBOLDT

UNIVERSIDADE
PALÁCIO TÉCNICA
CHARLOTTENBURG
REICHSTAG

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
127

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
I L
F A U T
Londres

CORREIOS
REGENT’S PARK
C O M M E
128

O STRAND CATEDRAL DE
ESTAÇÃO SÃO PAULO
CHARING CROSS

WEST END
I L

(BAIRRO DOS TEATROS


PONTE DE LONDRES

HYDE PARK
TORRE DE LONDRES
F A U T

ESTAÇÃO WATERLOO
PARLAMENTO
ST JAMES PARK
PRISÃO
PALÁCIO DE BUCKINGHAM MARSHALSEA

PENITENCIÁRIA
DE MILLBANK
A vida na Era do Vapor™
é um emaranhado de restrições, regras,
costumes e boas maneiras.

Nada tema, Caro Leitor. Em Comme Il Faut, nossa mais recente publicação
para Castelo Falkenstein, oferecemos aos Jogadores e Anfitriões um Guia
para levarem uma Vida Elegante no mundo neovitoriano de Nova Europa.
Este Utilíssimo Volume contém informações inestimáveis, tais como:

• Modos, Maneiras e Assuntos Afins de A a Z, por exemplo: Affaires,


Duelos, a Vida Militar, Viagens por Terra, Mar & Ar, Corridas &
Regatas, e, naturalmente, os Clubes Convenientes e Como Manter as
Aparências.
• Usos apropriados da Magia, entre eles: Truques, Proteções, e Novos
e Recém-Descobertos Livros Doutrinários, além das Indagações
Mágikas mais Frequentes de Nossos Leitores.
• Como organizar um Jantar, Baile ou Fim de Semana Elegante em sua
Quinta, inclusive Notas sobre a Caça ao Javali, Jogos de Salão e Ligações
Consensuais Fortuitas entre Adultos.
• Onde a Alta Roda passa a Temporada, além das Notícias e dos Mexericos
Mais Importantes de 1869-1880, e uma Cronologia das Celebridades
desta Era, para que Vossa Senhoria Saiba Quando e Onde se Fazer
Notar, e ao lado de Quem.
• Regras Alternativas & Esclarecimentos sobre o Grande Jogo, o que
inclui um Sistema Alternativo mais Livre, um Sistema Alternativo
mais Matemático e Orientações para Larps na Era do Vapor™.
• Confecção de um Figurino Vitoriano Completo com muito pouco, para
aqueles de Meios Modestos, sejam Históricos ou Financeiros.
• E mais: Nove Perícias & Habilidades Novas, Três Novos Papéis e Mapas dos
Lugares Mais Importantes para se visitar na Nova Europa dos anos 1870.

Comme Il Faut: uma publicação que se pode considerar tão útil e oportuna
quanto a Nobiliarquia de De Brett.

ISBN 978-85-64156-68-5

9 788564 156685
ISBN 978-85-64156-68-5

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