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RESUMO
1
Coordenador do Núcleo de Geriatria e Gerontologia, Revisão acerca das grandes síndromes geriátricas: incapacidade cognitiva, instabili-
Faculdade de Medicina da UFMG, Belo Horizonte, MG
- Brasil. Professor Adjunto do Departamento de Clínica
dade postural, imobilidade e incapacidade comunicativa, com enfoque nos aspectos
Médica. Coordenador do Centro de Referência do Idoso etiológicos, diagnóstico e condutas terapêuticas. A saúde do idoso está estritamente
Prof. Caio Benjamin Dias/HC-UFMG, Belo Horizonte, MG -
Brasil. Especialista em Geriatria pela SBGG.
relacionada com a sua funcionalidade global, definida como a capacidade de gerir a
2
Professora Adjunto do Departamento de Clínica Médica própria vida ou cuidar de si mesmo. Essa capacidade de funcionar sozinho é avaliada
da Faculdade de Medicina da UFMG, Belo Horizonte, MG -
Brasil. Especialista em Geriatria pela SBGG.
por meio da análise das atividades de vida diária, que são tarefas do cotidiano realiza-
3
Especialista em Geriatria pela SBGG. Membro Colabora- das pelo paciente. A saúde do idoso é determinada pelo funcionamento harmonioso
dor do Núcleo de Geriatria e Gerontologia, Faculdade de
Medicina da UFMG, Belo Horizonte, MG - Brasil. Preceptor
de quatro domínios funcionais: cognição, humor, mobilidade e comunicação. A perda
do Centro de Referência do Idoso do HC-UFMG, Belo dessas funções resulta nas grandes síndromes geriátricas abordadas.
Horizonte, MG - Brasil. Mestrado pelo Instituto de
Ciências Biológicas da UFMG, Belo Horizonte, MG - Brasil. Palavras-chave: Geriatria; Idoso; Saúde do Idoso.
Doutorando em Neurociências.
ABSTRACT
Review about major geriatric syndromes: cognitive impairment, postural instability, im-
mobility and communicative disability, focusing on the etiology, diagnosis and therapeu-
tic aspects. The health of the elderly is closely related to their overall functionality, defined
as their ability to manage their own life or take care of themselves. This ability of function-
ing alone is evaluated by the analysis of the daily activities, which are the daily tasks
carried out by the patient. The elderly health is determined by the harmonic functioning of
four functional domains: cognition, mood, mobility and communication. The loss of these
functions results in the major geriatric syndromes addressed.
Key words: Geriatrics; Aged; Health of the Elderly.
INTRODUÇÃO
dir e depende diretamente da cognição e do humor. produtivo com o meio (habilidade de se comunicar).
A independência refere-se à capacidade de realizar Depende de visão, audição e fala. (Figura 1)
algo com os próprios meios. Significa execução e de- A perda dessas funções resulta nas grandes sín-
pende diretamente de mobilidade e comunicação. dromes geriátricas: incapacidade cognitiva, instabili-
Portanto, a saúde do idoso é determinada pelo fun- dade postural, imobilidade e incapacidade comuni-
cionamento harmonioso de quatro domínios funcio- cativa. O desconhecimento das particularidades do
nais: cognição, humor, mobilidade e comunicação. processo de envelhecimento pode gerar interven-
Tais domínios devem ser rotineiramente avaliados na ções capazes de piorar o estado de saúde da pessoa
consulta geriátrica.2 idosa - a iatrogenia, que representa todo o malefício
A cognição é a capacidade mental de compreen- causado pelos profissionais da área de saúde. A in-
der e resolver os problemas do cotidiano. É constitu- continência urinária também é reconhecida como
ída por um conjunto de funções corticais, formadas uma das grandes síndromes geriátricas. Ela afeta a
pela memória (capacidade de armazenamento de independência do indivíduo, comprometendo, indi-
informações), função executiva (capacidade de pla- retamente, a função mobilidade. O idoso com incon-
nejamento, antecipação, sequenciamento e monitora- tinência esfincteriana sofre limitação de sua partici-
mento de tarefas complexas), linguagem (capacidade pação social, em virtude da insegurança gerada pela
de compreensão e expressão da linguagem oral e es- perda do controle miccional.
crita), praxia (capacidade de executar um ato motor), A família, por sua vez, é outro elemento fundamen-
gnosia (capacidade de reconhecimento de estímulos tal para o bem-estar biopsicossocial e sua ausência é
visuais, auditivos e táteis) e função visuoespacial (ca- capaz de desencadear ou perpetuar a perda de autono-
pacidade de localização no espaço e percepção das mia e independência do idoso (insuficiência familiar).
relações dos objetos entre si). O humor é a motivação Os idosos são vítimas em número significativo
necessária para os processos mentais. A mobilidade de síndromes semelhantes, independentemente de
é a capacidade de deslocamento do indivíduo. Depen- doenças específicas1, denominadas gigantes da ge-
de da postura/marcha, da capacidade aeróbica e da riatria. Descritas inicialmente por Isaacs3, as grandes
continência esfincteriana. E, finalmente, a comunica- síndromes geriátricas não incluíam a incapacidade
ção é a capacidade de estabelecer relacionamento comunicativa e a insuficiência familiar. A sua inclu-
SAÚDE
FUNCIONALIDADE GLOBAL
AUTONOMIA INDEPENDÊNCIA
AUTONOMIA INDEPENDÊNCIA
(Decisão) (Decisão)
Memória Motivação
Função Executiva
Linguagem Visão
Função visoespacial Postura e Marcha Continência Audição
Gnosia Capacidade aeróbica esfincteriana Fala
Praxia
IATROGENIA
INSUFICIÊNCIA FAMILIAR
O miniexame do estado mental (MEEM), descrito por representam menos de 5% de todas elas. É recomen-
Folstein6, representa o principal teste de triagem das fun- dada, para isso, a realização de alguns exames com-
ções encefálicas superiores. Todos os testes de triagem plementares, como: hemograma, dosagem de TSH,
cognitiva são influenciados pelo nível de escolaridade de vitamina b12, de ácido fólico e a análise da função
(instrução) dos pacientes. O indicador de escolaridade renal3,8, que podem ser expandidos para a avaliação
possibilita a correção dos escores dos testes. No MEEM das provas de função hepática, pesquisa de antiVIH,
utiliza-se como ponto de corte o escore 18 para indiví- VDRL e a realização de algum exame de imagem
duos analfabetos e 26 para aqueles com escolaridade com especificidade para o diagnóstico aventado.
superior a oito anos.7 A Figura 5 mostra um fluxograma Espera-se que a avaliação clínica e complementar do
para a triagem de déficit cognitivo. paciente seja capaz de afastar as seguintes causas de
O diagnóstico etiológico nem sempre é fácil, já demência (agrupadas mnemonicamente pela pala-
que as causas de incapacidade podem coexistir no vra TIME): 1. tóxicas: uso de drogas, álcool, metais
mesmo paciente. O delirium (estado confusional pesados, drogas psicoativas; 2. infecciosas: neuros-
agudo) também pode simular ou associar-se à de- sífilis, infecção pelo VIH; 3. metabólicas: deficiência
mência ou depressão. A história pregressa constitui- de vitamina B12 e de ácido fólico, hipotireoidismo,
se em elemento dos mais importantes para a distin- hiponatremia, insuficiência renal e hepática; 4. es-
ção entre a demência e as doenças psiquiátricas truturais: hidrocefalia de pressão normal, hemato-
(Tabela 1). ma subdural e tumores.
O critério mais utilizado para o diagnóstico da O diagnóstico de demência, depois de afastadas
demência encontra-se no Manual Estatístico e Diag- as causas potencialmente reversíveis, são decorren-
nóstico de Desordens Mentais (DSM-IV), definido tes de processos degenerativos primários, entre as
pela Associação Americana de Psiquiatria, em que quais 50-60% associam-se à demência de alzheimer
o diagnóstico de demência é definido pelo desenvol- (dA). Os demais grupos são constituídos, basicamen-
vimento de múltiplos déficits cognitivos (Tabela 2). te, pela demência: por corpos de Lewy, fronto-tem-
É necessário estabelecer a etiologia da síndrome poral, vascular e mista. É fundamental promover o
demencial após o estabelecimento do seu diagnósti- diagnóstico diferencial entre elas, pois o tratamento
co sindrômico. Devem ser excluídas, inicialmente, as e o prognóstico são diferentes (Tabela 3).
causas de demência potencialmente reversíveis, que
DÉFICIT COGNITIVO
terminal caracteriza-se por mutismo e/ou intensa dis- Os idosos, devido à redução de sua reserva
fagia. O óbito ocorre, na maioria dos casos, por infec- cerebral, são muito vulneráveis ao aparecimento
ções, em geral, após 10-15 anos do início da doença. de delirium, que pode se manifestar nas formas de
O tratamento farmacológico baseia-se em drogas delirium hiperativo, hipoativo e misto.9 Apenas o
ditas antidemenciais, como: inibidores da acetilcoli- tipo hiperativo é frequentemente diagnosticado na
nesterase (donepezil 5-10 mg/dia, rivastigmina 6-12 prática clínica, apesar de corresponder a aproxima-
mg/dia e galantamina 16-24 mg/dia); e nos antagonis- damente um terço dos casos. As principais causas
tas dos receptores do glutamato (memantina 20 mg/ de delirium são: infecções, medicamentos, intercor-
dia). A alteração neurobiológica mais marcante da rências clínicas e hospitalizações. Sua prevalência
DA é a disfunção colinérgica, por isto o tratamento em pacientes com síndrome demencial é muito ele-
farmacológico visa a aumentar o tônus colinérgico, vada.9,10 O tratamento do delirium inclui as medidas
por intermédio da inibição da acetilcolinesterase. gerais que visam a: corrigir os distúrbios hidroele-
Essas drogas constituem a principal intervenção far- trolíticos e ácido-básicos, promover a nutrição ade-
macológica na DA, podendo contribuir para melhorar quada, retirar a contenção, estimular a mobilidade
a cognição ou estabilizar temporariamente a doença. e a mudança de decúbito, proteger a via aérea e
O tratamento farmacológico da DA é constituído tam- promover a reorientação espacial e temporal do pa-
bém pelo controle das alterações comportamentais, ciente. O tratamento específico inclui a remoção da
por intermédio da administração de antidepressivos causa básica ou fator precipitante, além do controle
e de antipsicóticos. A FDA não liberou, entretanto, o da sintomatologia.
uso dessas classes de medicamentos para o tratamen- A depressão é entidade clínica subdimensiona-
to das alterações comportamentais na demência.3 Os da quanto ao diagnóstico e tratamento nos idosos.
benzodiazepínicos devem ser evitados devido a seus Os critérios diagnósticos para depressão (DSM-IV)
efeitos colaterais, especialmente sua capacidade de devem levar em conta a seguinte sintomatologia: hu-
provocar quedas em idosos. Para o controle da agita- mor deprimido; diminuição do interesse e do prazer
ção, o tratamento farmacológico é indicado somente na maioria das atividades (anedonia); insônia ou hi-
quando a sintomatologia apresentada pelo paciente personia; ganho ou perda de peso acima de 5%; re-
representa perigo para ele ou para as pessoas com dução da capacidade de concentração; agitação ou
quem convive ou, ainda, quando interfere na ação do lentificação psicomotora; fadiga; ideia inapropriada
cuidador ou causa prejuízo funcional significativo. de menos valia ou de culpa; pensamento recorren-
O delirium (estado confusional agudo) é uma sín- te de morte ou de ideação suicida. A sintomatolo-
drome neurocomportamental causada por comprome- gia deve persistir por mais de duas semanas, com
timento transitório da atividade cerebral, secundário a perturbação ou alteração da capacidade funcional
uma causa orgânica. É definido como distúrbio de início e não relacionada ao abuso de alguma substância,
súbito que envolve a consciência, a atenção, a cognição condição médica ou luto. O diagnóstico de depres-
e a percepção e que tende a variar (flutuar) ao longo do são maior requer a presença de cinco desses sinto-
dia. Pode ser comparado à insuficiência cerebral aguda mas, incluindo, obrigatoriamente, humor deprimido
e, portanto, não deve ser confundido com delírio. Os cri- ou anedonia. Recomenda-se que todos os idosos
térios indicados para o estabelecimento do diagnóstico sejam avaliados, em busca do diagnóstico de de-
de delirium estão descritos no DSM-IV (Tabela 4). pressão, tendo em vista a sua alta prevalência e a
significativa repercussão dela decorrente. O princi-
Tabela 4 - Critérios DSM IV para diagnóstico de De-
pal instrumento de avaliação empregado é a escala
lirium
de depressão geriátrica (GDS)11 (Tabela 5).
A. Perturbação da consciência, com redução da capacidade de focalizar,
manter ou direcionar a atenção. O tratamento da depressão inclui o uso de me-
B. Alteração na cognição ou desenvolvimento de perturbação da dicamento, associado ou não à psicoterapia. A ele-
percepção, que não é mais bem explicada por demência preexistente, troconvulsoterapia (ECT) está indicada nos casos
estabelecida ou em evolução.
urgentes, refratários ou quando o tratamento far-
C. Perturbação desenvolvida em curto período de tempo (geralmente em
horas ou dias), com tendência a flutuações no decorrer do dia. macológico não é seguro. A escolha da droga a ser
D. Evidências, a partir do histórico, do exame físico ou de achados labora- utilizada baseia-se, principalmente, na análise das
toriais, de que a perturbação seja causada por consequências fisiológicas comorbidades clínicas e, sobretudo, nos seus efei-
diretas de condição médica geral.
tos colaterais e na susceptibilidade dos pacientes.
Iatrogenia (iatros: médico, gignesthai: mento artificial da vida sem perspectiva de reversi-
nascer, derivado de palavra gênesis: produzir) bilidade, com sofrimento para o paciente e sua famí-
lia; 8. prescrição de intervenções fúteis e/ou sem
comprovação científica: que impõem ao paciente
Significa qualquer alteração patogênica provoca- risco desnecessário; 8. iatrogenia do excesso de
da pela prática médica. É fundamental evitar iatroge- intervenções reabilitadoras: o excesso de “equipe
nia em idosos devido à sua natural vulnerabilidade interdisciplinar” pode trazer consequências desfavo-
mais acentuada às reações adversas associadas às ráveis ao paciente, assim como o faz a polifarmácia.
drogas, às intervenções não-medicamentosas, decor- A maior parte da iatrogenia resulta do desconheci-
rentes da senescência, do risco de polipatogenia e de mento das alterações fisiológicas do envelhecimento
polifarmácia, além de incapacidades. e das peculiaridades da abordagem ao idoso. Trata-
A iatrogenia resulta da presença de uma ou mais se de síndrome geriátrica potencialmente reversível
das seguintes situações: 1. iatrofarmacogenia: de- ou até curável, enfatizada pelos idosos comporem
corrente do uso de medicamentos, de polifarmácia, aproximadamente 13% da população dos Estados
da interação medicamentosa e do desconhecimento Unidos da América (EUA) e consumirem 32% de to-
das alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos os medicamentos prescritos. Os idosos nos EUA
associadas ao envelhecimento; 2. internação hospi- fazem, em média, seis visitas médicas/ano e usam
talar: que pode potencializar os riscos decorrentes dois medicamentos novos prescritos por consulta,
do declínio funcional, da subnutrição, da imobilida- totalizando a média anual de 12 prescrições/idosos/
de, da úlcera de pressão e da infecção hospitalar; 3. ano. A iatrogenia é a quinta causa de morte nos EUA
iatrogenia da palavra: associada ao desconheci- [3]. O Tabela 6 apresenta alguns eventos adversos às
mento de técnicas de comunicação de más notícias; drogas mais comuns nos idosos.
4. iatrogenia do silêncio: que decorre da dificuldade
de ouvir adequadamente o paciente e sua família; 5.
subdiagnóstico: pela tendência a atribuir todas as Incontinência urinária
queixas apresentadas pelo idoso ao fenômeno “da
idade”, o que pode resultar grave erro; 6. cascata A incontinência urinária (IU) é definida como a
propedêutica: em que a solicitação de exames é fei- queixa de qualquer perda involuntária de urina.12,13 A
ta de forma desnecessária, extensiva, sem indicação sua prevalência aumenta com a idade, variando de
precisa; 7. distanásia: caracterizada pelo prolonga- 12,2 para 20,9% em mulheres entre 60 e 64 anos e
com pelo menos 85 anos de idade, respectivamente.14 persensível; 3. mista: caracterizada pela perda invo-
Atinge 15 a 30% e pelo menos 50% dos idosos que vi- luntária de urina concomitante à urgência miccional
vem em domicílio ou em instituições asilares, respec- e ao esforço; 4. por transbordamento (bexiga hipe-
tivamente, sendo de aproximadamente 1:3 mulheres rativa, síndrome de urgência, síndrome de urgência-
e 1:5 homens acima de 60 anos de idade.15-17 A preva- frequência): caracterizada pelo gotejamento e/ou
lência de seus tipos específicos é difícil de ser estima- perda contínua de urina associados ao esvaziamento
da devido à grande variação nas definições. Em 50% vesical incompleto, devido à contração deficiente do
das mulheres com IU observa-se incontinência de detrusor e/ou obstrução na via de saída vesical. Essa
estresse, a seguir, mista e, por último, de urgência. O sintomatologia combinada é sugestiva de hiperativi-
avançar da idade torna a IU de urgência a forma mais dade do músculo detrusor da bexiga e definida por
comum.18,19 A estimativa nos homens é mais difícil de meio da urodinâmica, pela demonstração de contra-
ser realizada porque a sua história natural é afetada ções vesicais involuntárias.
pelo tratamento das doenças prostáticas. A anamnese pode revelar situações que induzem
A IU pode ser: 1. de estresse: caracterizada pela perda de urina, como história obstétrica ou cirúrgi-
perda involuntária de urina sincrônica ao esforço, ca, doenças pregressas e uso de medicamentos. O
espirro ou tosse.12,13 Pode ser causada, em mulheres, exame físico deve ser geral, associado ao exame
pela fraqueza do assoalho pélvico e, em homens, genital, incluindo ginecológico e prostático. Devem
após prostatectomia radical; 2. de urgência: carac- ser observadas as condições gerais do paciente, sua
terizada pela perda involuntária de urina, associada capacidade de locomoção e, ainda, se existem con-
ou imediatamente precedida de urgência miccio- dições clínicas que predispõem ou agravam a IU. Nas
nal. Há, em geral, queixa associada de polaciúria e mulheres, deve ser avaliada a existência de prolapso,
noctúria. Corresponde, frequentemente, à queixa de mobilidade do colo vesical, trofismo das mucosas
diminuição da complacência vesical ou de bexiga hi- e contração da musculatura do assoalho pélvico. A
propedêutica inicial requer a realização de exame também ser útil com a aplicação do biofeedback. Os
de urina de rotina e urocultura, já que a infecção do exercícios de fortalecimento da musculatura pélvica
trato urinário pode simular toda a sintomatologia. A parecem ser efetivos no tratamento de mulheres com
urodinâmica só será realizada após a exclusão de IU de estresse e mista. Os exercícios podem reduzir
infecção urinária. Pode ser necessária a realização a IU e aumentar a pressão vaginal. Esses exercícios
de urodinâmica em todos os pacientes, devido ao exigem instruções cuidadosas, acompanhamento
fato de a anamnese e o exame físico detalhados não por profissional que entenda dessa prática e da moti-
permitirem o diagnóstico preciso da disfunção vesi- vação do paciente. O biofeedback é instrumento que
cal. O diagnóstico incerto é permitido se a opção de amplifica as respostas fisiológicas e as converte em
tratamento for o conservador, devido ao baixo custo informações visuais e/ou auditivas com o objetivo de
e morbidade deste.16 O estudo urodinâmico permite facilitar a percepção e o trabalho da musculatura do
caracterizar, de forma objetiva, o verdadeiro distúr- assoalho pélvico. O método é empregado para ensi-
bio urinário. nar a contrair os músculos pélvicos seletivamente, es-
A IU requer abordagem multifatorial para a obten- pecialmente em mulheres, enquanto mantém outros
ção de conhecimentos que permitam o diagnóstico grupos musculares relaxados, como os abdominais,
correto e a definição de terapêutica mais apropria- nádegas e coxa. Os pacientes que conseguem desen-
da. A identificação da doença do trato urinário baixo volver a percepção dos diferentes grupos musculares
responsável pela IU é de suma importância. É funda- a partir do biofeedback passam a obter o controle vo-
mental a correção dos fatores associados à exacer- luntário dessas estruturas.
bação da sintomatologia. A eficácia do tratamento é A prescrição farmacológica para o tratamento da
medida, usualmente, pela redução dos episódios de IU é baseada no mecanismo presumido para cada
IU. A cura é definida, em geral, pela ausência comple- uma das suas formas de apresentação.20 O tratamento
ta de IU. Essas medidas, entretanto, nem sempre são farmacológico, entretanto, não é o mais comumente
percebidas como melhora pelo paciente. É preferível usado na IU de estresse. Na IU de urgência e mista,
medir o sucesso do tratamento por intermédio de os medicamentos podem ser associados às medidas
questionários relativos à qualidade de vida. comportamentais. As drogas, em geral, não eliminam
A qualidade de vida dos pacientes pode ser me- a hiperatividade detrusora, entretanto, melhoram a
lhorada pela aquisição de alguns hábitos gerais, IU. As drogas anticolinérgicas constituem o tratamen-
como: ingerir quantidade adequada, mas não exces- to mais utilizado para a IU, apesar dos seus efeitos
siva, de líquidos; evitar o consumo de álcool e de colaterais.21
cafeína; reduzir a ingestão hídrica noturna; interrom- A cirurgia é indicada para o tratamento da IU de
per o hábito do tabagismo; tratar a constipação e as estresse quando o tratamento conservador falha em
pneumopatias quando a IU é exacerbada pela tosse. aliviar os sintomas. Pode ser tentado na IU de estresse
As medidas comportamentais têm sido utilizadas ou por transbordamento. A cirurgia na IU por trans-
para o tratamento da IU por décadas e devem sempre bordamento está voltada para a correção da obs-
ser a sua primeira forma de tratamento específico. O trução, como a causada pela hipertrofia prostática.
tratamento é iniciado pela realização do diário mic- A cirurgia oferece altas taxas de cura, apesar de ser
cional. A seguir, é feita a integração das queixas com invasiva e poder gerar complicações.
as peculiaridades clínicas de cada paciente, para a
execução de melhor abordagem terapêutica.
O objetivo da abordagem não-farmacológica é Instabilidade postural
melhorar o controle vesical do paciente incontinen-
te, mudando-lhe os hábitos urinários e ensinando-lhe A mobilidade é das principais funções corporais e
técnicas para evitar a perda de urina. Os métodos o seu comprometimento, além de afetar diretamente a
comportamentais incluem o treinamento vesical, os independência do indivíduo, pode acarretar consequ-
exercícios para fortalecimento da musculatura pélvi- ências gravíssimas, principalmente nos idosos. A insta-
ca e o biofeedback. O treinamento vesical consiste na bilidade postural, por exemplo, leva o idoso à queda, o
micção com hora marcada, com aumento de 15 a 30 que representa um dos maiores temores em geriatria.
minutos por semana, à medida que não haja a ocor- É fundamental conhecer as condições que a predispu-
rência de episódios de IU. O treinamento vesical pode seram, como ocorreu, quais os sinais e sintomas que a
antecederam, a existência de comorbidades, se o ido- nados à ação de se equilibrar podem perder a capaci-
so conseguiu se levantar sozinho e se houve fraturas. A dade para responder apropriadamente aos distúrbios
incidência anual de quedas varia com a idade, sendo na estabilidade postural, devido ao tempo mais longo
de 28 a 35% e de 32 a 42% entre pessoas com mais de de reação. Para o restabelecimento da posição são
65 e de 75 anos de idade, respectivamente, chegando a necessários também bons níveis de amplitude articu-
50% dos idosos em instituições de longa permanência. lar, principalmente das articulações distais, como dar
Entre os idosos que sofreram queda, dois terços terão um passo largo ou ajudar os membros superiores na
nova queda no ano subsequente. As quedas consti- aquisição de equilíbrio. No entanto, essa função tor-
tuem a sexta causa mortis de idosos e são responsáveis na-se menos eficaz em idosos devido ao enrijecimen-
por 40% das suas internações. As quedas provocam, to do tecido conjuntivo e, com isso, há diminuição
em 40 a 60% das vezes, algum tipo de lesão, sendo de na amplitude do movimento. O idoso que apresentar
30 a 50%, 5 a 6% e aproximadamente de 5% dos ca- imobilidade extrema no pé terá dificuldade para exe-
sos, respectivamente, relacionadas com escoriações e cutar reações normais de equilíbrio.
contusões menores, hematoma subdural e contusões A responsabilização pelas quedas nos idosos de-
maiores e fraturas. A fratura de fêmur destaca-se pela corre, especialmente, da falta de condições clínicas
elevada morbimortalidade entre os idosos, ocorrendo ou de ambiente inseguro. O envelhecimento por si só
em 1% dos casos. não é causa de quedas, apesar das alterações fisioló-
A complicação mais frequente da queda é o gicas decorrentes do envelhecimento favorecerem o
medo de cair novamente, o que, muitas vezes, impe- seu aparecimento.
de o idoso de deambular normalmente, deixando-o A avaliação da marcha e do risco de quedas deve
restrito ao leito ou à cadeira, aumentando o seu des- ser realizada em todos os idosos.23,24 (Figura 6)
condicionamento físico. A manutenção do equilíbrio
corporal em posição bípede representa capacidade INSTABILIDADE POSTURAL
fundamental para a manutenção da estabilidade
postural. O equilíbrio corporal é mantido pela inte-
gração entre informações sensoriais captadas pela vi-
Timed up and go < 20 s Timed up and go ≥ 20 s
são, sistema vestibular e propriorreceptores. O equilí-
brio corporal permite corrigir mudanças de posição
do corpo em relação à base de sustentação.21
As informações visuais que corroboram o equi- Marcha Normal Marcha Anormal
líbrio são: a localização e a distância de objetos no
ambiente, o tipo de superfície onde se dará o mo-
vimento e a posição das partes corporais, uma em
Avaliar causas Avaliar problemas clínicos NÍVEL
relação à outra e ao ambiente. Os componentes do extrínsecas Condicionamento SENSÓRIO-MOTOR
sistema visual considerados críticos para o equilíbrio ou ambientais cardiorrespiratório
são a: acuidade estática e dinâmica, sensibilidade ao
contraste, percepção de profundidade e visão perifé-
rica. O sistema vestibular, por sua vez, é constituído
INFERIOR MÉDIO SUPERIOR
pelos canais semicirculares e pelo vestíbulo (utrículo Controle aferente e Controle da execução Programação
e sáculo). Os canais semicirculares estão separados eferente da marcha das respostas posturais da marcha
por um ângulo de 90o. Em seu interior, há células ci- e motoras da marcha
liadas capazes de detectar os movimentos de rotação
da cabeça, bem como a velocidade de rotação. As Figura 6 - Fluxograma de avaliação rotineira para ins-
tabilidade postural
alterações músculo-esqueléticas comuns nos idosos
podem prejudicar significativamente o equilíbrio e
favorecer o aparecimento de quedas. Sabe-se que As alterações de marcha podem ser divididas em
uma das alterações relacionadas ao envelhecimento três grupos, de acordo com o nível sensório-motor in-
é o declínio da força muscular. A fraqueza é muito ferior, médio e superior. As doenças que ocasionam
comum nas extremidades inferiores do idoso, espe- marcha anormal por afetarem o nível sensório-motor
cialmente nos tornozelos. Os músculos efetores desti- inferior são as disfunções dos sistemas sensoriais afe-
A dimensão sociofamiliar é fundamental na ava- 2. Isaacs B.The Challenge of Geriatric Medicine. Oxford: Blackwell;
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