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ROBILENLAS, CRiTICAS, BIBLIOGRAKIA An PERSPECTIVAS — LUNGUIsTICA | VOL. VoL. VoL. 1 VOL.IV CONCEPCOES GERAIS DA TEORIA LINGUISTICA. M. Daseal, L. Bloomfield, N- Chomsky, L. Lakoff, M. Haliday FONOLOGIA E SINTAXE 1 Papen Tkitr, eae -PERSPECTIVAS DA LINGUISTICA HP. Grice, C. Hockett, W, Quine, N. Chomsky, J. Katz, R. Dougherty, D. Pasish,C. Castelfenchi, HL Schnell MARCELO DASCAL FUNDAMENTOS METODOLOGICOS DA LINGUISTICA VOLUME lv PRAGMATICA-, PROBLEMAS, CRITICAS, PERSPECTIVAS pa LIONGUISTICA - BIBLIOGRAFIA M. DASCAL W. V. 0. QUINE Y. BAR-HILLEL N. CHOMSKY F. BENVENISTE J.J. KATZ R.C. STALNAKER R.C. DOUGHERTY H.P. GRICE D. PARISI F. HOCKETT C. CASTELFRANCHI H. SCHNELLE CAMPINAS 1982 1982 Copyright Reservados todos os direitos por Marcelo Dascal Rua Pirassununga, 399 13100 - Campinas, SP Pedidos: C. Postal 1828 - 13100 Campin: ou pelo telefone (0192) 52-C 19 Edic&o limitada, financiada pelo organizador, com a colaboragao de professores e alunos do departamento de lingllistica, Instituto de Es- tudos da Linguagem, UNICAMP. INDICE DO VOLUME IV PARTE V:PRAGMATIGA...........2.2.--4-- 5 Marcelo Dascal TMAEIIG 4. ssh sx ence needa pat ered bee 7 Yehoshua Bar-Hillel Expresses Indiciais.........0.0s0eeeeeee renee 23 Emile Benveniste A Natureza dos Pronomes Robert C. Stalnaker Pragmética H, Paul Grice Logica e Conversagéo ..... 22.62. 2e 0s sarees 81 Marcelo Dascal Relevancia Conversaciona PARTE VI: PROBLEMAS, CRITICAS E PERSPECTIVAS DA LINGUISTICA ....... 133 Charles F, Hockett Uma nota sobre ‘Estrutura’...... 62.6.0 00+ 135 Willard V.0. Quine Reflexdes Metodol6gicas sobre a Teoria Lingiifstica Atual. Noam Chomsky e Jerrold J. Katz Sobre o que o Lingiiista esta Falando ....... 159 Ray C. Dougherty Um Exame dos Métodos ¢ Argumentos Lingiifsticos. Domenico Pa As Limitagées de Chomsky............--/ 227 Helmut Schnelle Problemas da Lingiifstica Tedrica ......... 237 PARTE VII: BIBLIOGRAFIA...........-. 269 H. P. Grice LOGICA E CONVERSAGAO* £ um lugar comum entre légicos a afirmacdo de que h4, rece haver, divergéncias na significago entre pelo me- jguns dos que eu chamaria simbolos formais,a saber V, +, (x), E(x), 7x (quando se Ihes da a interpretagao ndard, em termos de dois valores de verdade) e seus stos anélogos ou contrapartes em Iinguas naturais — ressdes tais como néo,e, ou, se, todos, alguns,(ou pelo jos um), 0. Alguns légicos podem, talvez, ter desejado itmar que, de fato, ndo ha tais divergéncias; mas tais afir- se alguma vez foram feitas, foram-no de uma forma la e por isso aqueles que as fizeram sujeitaram-se a is bastante ferozes, Aqueles que admitem que tais divergéncias existem con- dariam, no essencial, com um ou outro dos dois grupos ri- que, para os propésitos deste artigo, chamarei de grupos ta e informal I de uma posicSo formalis- caracter(stica seria o seguinte: uma vez que os ldgicos se pam com a formulagao de padrSes muito gerais de infe- vélidas, os simbolos formais possuem uma vantage ya sobre suas contrapartes em Ifnguas naturais. Isto que seré posstvel construir, em termos desses simbolos um sistema muito geral de formulas, um numero nsiderével das quais pode ser tomado como, ou esté afeti- ‘Logic and Conversation”, parte das William James Lectures (1967), de Grice. Agradecemas 20 autor pela permissio dada para traduzir © publicar igo. vamente relacionado a padrées de inferéncias cujas expres s6es envolvem algum ou todos os simbolos: um tal sistema pode consistir em um certo conjunto de formulas simples que deve ser aceito se os simbolos tém as des que Ihes tem sido atribu/das, e um numero indefinido de outras formulas, muitas das quais sem aceitabilidade dbvia, mas cuja aceitabilidade pode ser demonstrada se os membros do con- junto original sto aceitéveis. Temos, entéo, um modo de dar conta de padréesde inferéncia cuja aceitabilidade nao é ébvia; e se, como é possivel algumas vezes, pudermos aplicar um procedimento de decisio, teremos um modo ainda melhor {para operar com inferéncias). Além disso, de um ponto de vista filoséfico, 0 fato de as contrapartes naturais possuirem elementos em sua significacéo que ndo correspondem aos s{mbolos formals ¢ considerado como uma imperfeigao das linguas naturais, sendo tais elementos de significagio excres- céncias indesejaveis. A presenca de lementos tem como resultado 0 fato de que os conceitos no interior dos quais eles aparecem no possam ser clara e precisamente definidos e que no possa ser, em algumas circunsténcias, atribuido um valor de verdade definido pelo menos para algumas afirmapées que os envolvem; a indefini¢do destes conceitos nao 6 s6 objetavel em si mesma, mas deixa em aberto 0 caminho para a metaffsica — no podemos estar seguros de que nenhuma destas expresses em linguas naturais no seja metafisicamente ‘marcada’. Em fun¢do destas razGes, as expresses da linguagem corrente ndo podem ser consideradas como definitivamente aceitaveis e po- dem ser, no fimdas contas, ininteligiveis. O caminho adequado € conceber ¢ comegar a construir uma linguagem ideal, incorpo- rando os sfmbolos formais; I{ngua cujas sentencas serao claras, com valor de verdade determinado, e confiadamente livres de implicagSes metaffsicas; os fundamentos da ciéncia serdo ento filosoficamente seguros, uma vez que as afirmages dos ci tas sero expressas(embora ndo necessariamente o sejam hoje) nesta linguagem ideal.(Nao pretendo sugerir que todos os for- malistas aceitariam, no todo, este perfil, mas penso que todos aceitariam ao menos parte dele). Aisto tudo, um informalista pode replicar da seguinte ma- neira: a exigéncia filosdfica de uma linguagem ided lastreia- 82 [JB em certos pressupostos que ndo devem ser aceitos. Eles Incluem os pressupostos de que a medida fundamental pela ‘qual se julya ¢ adeyuagdo de uma lingua seja sua habilidade para servir as necessidades da ciéncia; de que no se pode ga- fantir a inteligibilidade completa de uma expresséo sem que uma explicagdo ou anélise de sua significagao tenha sido dada; e de que cada explicacao ou anilise deve tomar a forma de uma igo precisa que seja expressdo/asser¢ao de uma equiva- logica. A linguagem serve a muitos propésitos impor- tantes, além daqueles da pesquisa cientifi que ela € inteligivel) sem conhecer sua andlise; e uma andl de (e usualmente 0 6) consistir na especificagdo, to geral quanto poss{vel, das condigSes que permitem ou impedem a | aplicacdo da expresso que est sendo analisada. Além do mais, enquanto néo ha divida de que os simoolos formais séo especialmente sens{veis a um tratamento sistemético pelo 16- gico, restam os casos em que ha muitas inferéncias e argu- mentos, expressos em Iinguas naturais e no em termos des- tes s(mbolos, que séo, contudo, reconhecidamente validos, Assim, deve haver lugar para uma légica nio-simplificada, e mais ou menos assistematica, das contrapartes naturais destes por ela suplantada. Na verdade, ndo s6 as dues Iégicas diferem mas algumas vezes esto em conflito; regras que valem para um simbolo formal podem nfo valer para sua contraparte em Ninguas naturais Sobre a questo yeral do lugar, em filosofia, da reformu- lago das Iinguas naturais, nada terei a dizer neste artigo. Li- mito-me & disputa em relago as alegadas divergéncias anteri- ormente mencionadas. Nao tenho, além do mais, nenhuma tengo de entrar na disputa ao lado de qualquer dos concor- rentes. Ao contrério, quero sustentar que o pressuposto, comum a ambos os grupos, de que de fato existem divergén- cias é (em linhas gerais) um erro corrente, ¢ que tal erro resul- tade néo se prestar a devida atengZo a natureza e importancia das condigSes que governam a conversagao. Por essa razdo, 83 asso agora a examinar as condigées gerais que, de uma ou outra forma, se aplicam a conversacdo como tal, independen- temente de seu assunto. Suponha que A ¢ B estejam conversando sobre um amigo comum C que esté, atualmente, trabalhando num banco. A perguntaa B como C est se dando em seu emprego, e B retruca: Oh, muito bem, eu acho; ele gosta de seus colegas e ainda nao foi preso. Neste ponto, A deve procurar o que B estava implican- do, 0 que ele estava sugerindo, ou até mesmo o que ele quis dizer ao dizer que C ainda ndo tinha sido preso. A resposta poderia ser algo do tipo “C 6 0 tipo de pessoa que tende a su- cumbir as tentagdes provocadas por sua ocupagio", ou “os colegas de C so, na verdade, pessoas muito desagradaveis desleais”, e assim por diante. Naturalmente, seré desneces- sério A fazer qualquer pergunta a B, pois a resposta, no con texto, ¢ antecipadamente clara. Penso que € claro que tudo 0 que B implicou, sugeriu, significou, etc. , neste exemplo é dis- tinto do que B disse, que foi simplesmente que C no tinha sido preso ainda. Quero introduzir, como termo técnico, 0 verbo implicitar implicate) e os nomes correspondentes im plicatura (implicature) e implicitado (implicatum). O objetivo é evitar ter que, a cada ocasiao, escolher entre este ou aquele de verbos que implicitar representa. Pelo menas por ora, teria de supor uma razoavel compreensio i icado de dizer em tais contextos e uma habi- lidade para reconhecer verbos particulares como membros da familia com que implicitar esté associado. Posso, no entanto, fazer uma ou duas observagdes que nos ajudem a esclarecer a mais problemética destas suposigSes, a saber, a que diz respei- to & significagéo da palavra dizer. No sentido em que estou usando a palavra alguém disse esté intimamente relacionado ao si vencional das palavras (da sentenca) que esta usando, Supo- nha que alguém tenha usado a sentenga “He is in the grip of a vice” (“Ele est sob o poder de um vicio” ou “Ele esta preso pelo torno”). Dado 0 conhecimento de lingua inglesa, mas enhum conhecimento das circunsténcias de enunciacdo, 84 be-se alguma coisa sobre o que o falante disse, admitindo- que ele estava falando inglés, e falando be-se que ele ralmente. de alguma pessoa do sexo X, que ao tempo da enunciaggo (qual- luer que tenha sido este tempo) uma ou outra coisa : 1) ou lue X era incapaz de livrar-se de um certo tipo de trago de au cardter, 2) ou que alguma parte de X estava presa a im certo tipo de ferramenta ou instrumento (explicagdo roximada, naturalmente). Para uma iden que o falante disse, necessitar-se-ia saber le X; (b) 0 tempo da enunciagdo; e ffo particular da enunciagio, da se vice” [uma decisfo entre (1) e (2)]. Esta breve indicago do eu uso de dizer deixa em aberto a questo de se um homem ue diz (hoje) Harold Wilson é um grande homem e outro lue diz O primeiro ministro briténico 6 um grande homem es- iam, se cada um dos falantes sabia que os dois termos sin- ulares tm a mesma referéncia, dizendo a mesma coisa. lualquer que scja a deciséio a ser tomada a propésito deste luestéo, 0 aparato que vou apresentar sera capaz de explicar luaisquer implicaturas que dependam da presenga de um ou tro destes termos singulares na sentenga enunciada. Tais implicaturas estariam somente relacionadas com diferentes fiximas. Em alguns casos a significagdo convencional das palavras das determinaré © que é implicitado, além de socorrer-nos ia determinago do que é dito. Se digo(presungosamente) le é um inglés; ele é, portanto, um bravo, certamente com- rometo-me em virtude da significaggo de minhas palavras, que 0 fato dele ser um bravo 6 uma conseqiiéneia do fato ele ser inglés. Mas embora tenha dito que ele ¢ inglés e que ‘ele 6 um bravo, nao quero dizer que eu TENHA DITO (no lbentido aqui favorecido de dizer) que deoorre dele ser inglés | Jue ele seja um bravo, ainda que eu tenha certamente indica- Wo, e portanto implicitado, que isto é verdade. Néo quero Wizer que minha enunciagéo desta sentenca seria, ESTRITA- |MENTE FALANDO, falsa se a conseqiléncia em questo nfo Hosse valida. Assim, ALGUMAS implicaturas séo convencio- 85 ao contrério daquela com que introduzi esta discusso das implicaturas. Quero descrever uma certa subclasse de implicaturas no convencionais, que eu chamaria de implicaturas CON- VERSACIONAIS, como essencialmente conectadas com certos tragos gerais do discurso. Assim, meu prOximo passo ¢ tentar dizer quais sdo estes tragos do discurso. Das observagdes a seguir pode-se obter uma primeira aproximagao de um principio real. Nossos diélogos, normal- mente, no consistem em uma sucessio de observacées desconectadas, endo seria racional se assim fossem. Funda- mentalmente, eles so, pelo menos até um certo ponto, esforcos cooperativos, e cada participante reconhece neles, propésito comum ou um conjunto de , uma direcSo mutuamente aceita. Este propésito ou dirego pode ser fixado desde o inici (por exemplo pela proposi¢o inicial de uma questo para discussio) ou pode evoluir durante 0 diélogo; pode ser claramente definido ou ser bastante indefinido a ponto de deixar aos parti conversagéo casual). Mas a cada estégio, ALGUNS movi- mentos conversacionais possfveis seriam exclufdos como inadequados. Podemos formular, entdo, um prine(pio muito geral que se esperaria (ceteris paribus) que os participates observassem: Faga sua contribuigéo conversacional tal como é requerida, no momento em que ocorre, pelo propésito ou dirego do intercmbio conversacional em que vocé esté engajado, Pode-se denominar este princfpio de PRINCIPIO DE COOPERAGAO. Supondo que um tal princ{pio seja aceitével, pode-se talvez distinguir quatro categorias sob uma ou outra das quais cairo certas maximas e subméximas mais especiticas, que produzirio, em geral, resultados em acordo com o Princfpio de Cooperagio. Imitando Kant, chamarei estas s de Quantidade, Qualidade, Relagdo e Modo. A categoria da QUANTIDADE esté relacionada com a quanti- dade de informacdo a ser fornecida e a ela correspondem as seguintes méximas: 86 Faga com que sua contribuigdo seja téo informativa ito requerido (para o propésito corrente da conversacio). 2. Nao faga sua contribui¢ao mais informativa do que é querido. segunda méxima é questiondvel; pode-se dizer que ser jper-informativo néo é uma transgressio do Principio de joperaco mas meramente uma perda de tempo. No entan- pode-se responder que tal super-informatividade pode lusar confuséo na medida em que é capaz de gerar questdes sundérias; © pode haver também um efeito indireto, na la em que os Ouvintes podem ser levados ao engano, ferir que hd algum objetivo particular no fornecimento excesso de informagées. Seja como for, pode ainda haver ja razéo diferente para por em questo a aceitago desta gunda maxima, a saber, o fato de que seus efeitos sero jurados por uma maxima posterior, que diz respeito & vancia). a categoria da QUALIDADE encontramos a jpermaxima “‘Trate de fazer uma contribui¢éo que seja rd e duas maximas mais especificas: 1. Nao diga 0 que vocé acredita ser falso. 2. Nao diga sen&o aquilo para que vocé possa fornecer jidéncia adequada. da RELAGAO, coloco uma Gni ‘Seja relevante”. Embora a maxima em ja muito ccncisa, sua formulaggo oculta varios problemas me preocupam muito: questdes a propésito de que tipos foco de relevancia podem existir, como se modificam no 80 da conversagao, como dar conta do fato de que os juntos da conversagdo sao legitimamente mudados, e a: r diante. Considero o tratamento de tais questdes exce: jente dificil e espero retornar a elas em um trabalho erior. Finalmente, sob a categoria do MODO, que entendo Jmo relacionado ndo a 0 que é dito (como nas categorias iteriores), mas sim a como o que é dito deve ser dito, luo a supermaxima — “Seja claro” — e varias maximas como: 87 1. Evite obscuridade de expressao. 2. Evite ambigiiidades. 3, Seja breve (evite prolixidade desnecessaria). 4, Seja ordenado., podendo-se necessitar ainda de outras. E ébvio que a observancia de algumas destas maxims € menos imperativa do que o é a observancia de outras; uma pessoa que se expressou com prolixidade indevida estaria, em geral, sujeita a comentérios mais brandos do que aquela que tivesse dito alguma coisa que acredita ser falsa. Na verda de, pode-se pensar que a importancia da primeira maxima da Qualidade (pelo menos) é tal que no precisaria estar inclufda num esquema do tipo que estou construindo: outras maximas operam somente supondo-se que esta maxima da Qualidade esteja sendo cumprida. Embora isto possa ser verdade, esta maxima parece exercer um papel néo totalmente diferente das outres, no que diz respeito 4 gerago de implicaturas, € seré conveniente, a0 menos por ora, traté-la como um membro da lista de maximas. H4, naturalmente, toda sorte de outras méximas (de caréter estético, social ou moral), tais como “Seja polido”, que so também normalmente observadas pelos participantes de uma conversagio, e estas méximas também podem gerar implicaturas ndo-convencionais. No entanto, as_méximas conversacionais e as implicaturas conversacionais que delas dependem esto especialmente correlacionadas (eu espero) com os propésitos particulares a que a fala (e 0 didlogo) normalmente serve e tem por fungao primeira servir. Estabe- leci minhas mdximas como sé este propdsito fosse uma troca de informagées maximamente efetiva; esta especificacdo, naturalmente, 6 demasiado estreita e 0 esquema tem que ser generalizado para abranger propésitos gerais tals como influenciar ou dirigir as ages de outros. Como um dos meus princ{pios declarados é ver a fala como um caso especial ou variedade do comportamento intencional, ou melhor, racional, pode ser interessante notar que as expectativas especiicas ou presuncies correlacionadas com algumas das maximas precedentes tém seus paralelos na 88 fera das transagSes que ndo so didlogos. Enumerarei ra- Bente um desses paralelos para cada categoria conver- cional. 1. Quantidade. Se vocé esté me ajudando a consertar im carro, espero que sua contribuigdo seja nem mais nem me- fos do que o exigido; se, por exemplo, num estégio particular precisar de quatro parafusos, espero que vocé me alcance ‘quatro e nao dois ou seis parafusos, 2. Qualidade. Espero que sua contribuiedo seja genutna no espiria. Se necessito agiicar como um ingrediente para 10 bolo que vocé esté me ajudando a fazer, espero que vocé néio me alcance o sal; se preciso de uma colher, espero que yoos ndo me passe uma colher de borracha usada por pre: gitadores. 3. Relagdo. Espero que a contribuigao seja apropriada ds necessidades imediatas de cada estégio da transagao; se estou mexendo os ingredientes de um bolo, ndo espero que me seja alcancado um bom livro ou mesmo uma forma (em- | bora esta possa ser uma contribuiggo apropriada num estagio posterior). 4. Modo. Espero que quem estiver me ajudando deixe clara qual a contribuiggo que esté fazendo 2 que a execute com razodvel rapidez. Estas analogias so relevantes para 0 que considero ser 2 questio fundamental a respeito do Principio de Coope- taco e das méximas a ele atinentes: qual $ a base para a suposigdo, que parecemos fazer e de que dependerd um gran- de némero de implicaturas, de que os falantes, em geral, (ceter's paribus e na auséncia de indicacdes em contrério) procederdo na forma prescrita por estes prinefpios. Uma res- posta pouco interessante, mas sem diivida em certo n{vel ade- quads, é que é um fato empirico bem conhecido que as pes- soas so COMPORTAM desta maneira; elas aprenderam a assim na infancia e no abandonaram o habito de assim o fazer; e, na verdade, uma ruptura radical com tal hal E giria um grande esforco. E muito mais facil, por exemplo, falar a verdade do que inventar mentiras. Sou, no entanto, suficientemente racionalista para 89 querer encontrar uma base subjacente a estes fatos, embora sendo eles evidentes; gostaria de ser capaz de conceber o tipo standard de pratica conversacional néo meramemte como alguma coisa que todos ou a maioria de fato acata, mas como algo que 6, para nés, RAZOAVEL acatar, como algo que nds devéssemos acatar. Por algum tempo, estive inclinado a pen- sar que a observancia do Princfpio de Cooperagao e das maxi- mas, na conversagao, poderia ser considerada como uma ques- to quase-contratual, com paralelos fora da érea do discurso. Se vocé passar por perto quando eu estiver lutando com meu carro enguigado, sem divida terei algum grau de expectativa de que vocé oferecer4 socorro, e uma vez que voce se junte a mim sob © capé na tentativa de conserté-lo, minhas expecta- tivas tornam-se mais fortes e tomam formas mais espectficas (na auséncia di icagdes de que vocé seja meramente um curioso incompetente); e as conversagdes me pareciem exibir, caracteristicamente, alguns tragos que, em conjunto, distin- guem as relagSes cooperativas: 1. Os participantes tém algum objetivo imediato comum, como consertar um carro; seus objetivos tiltimos, natural- mente, podem ser independentes e até conflitantes — cada um pode querer consertar 0 carro a fim de usé-lo, deixando (0 outro sem carro. No didlogo tpico hé um objetivo comum, da que, como na conversa ocasional de vizinhos no quintal, ele seja um objetivo de segunda ordem, a saber: que cada parceiro se identifique, temporariamente, com os interesses conversacionais trat irios do outro. 2. As contribuigdes dos participantes deveriam ser encadea- das e mutuamente dependentes. 3. Ha algum tipo de entendimento (que pode ser explicito mas que € frequentemente técito) de que, permanecendo as demais condigdes, a transa¢go continuard em estilo apropria- do a menos que ambas as partes concordem com seu término, Vocé ngo abandona simplesmente a transagdo, ou comeca a fazer outra coisa. Mas, embora uma parte desta base quase-contratual possa se aplicar a alguns casos, hé muitos bio lingii(sticos, como discussdes ou correspondéncia, que 90 io permite explicar com facilidade. De qualquer modo, be-se que 0 falante irrelevante ou obscuro desaponta 86 a sua audiéncia mas a si proprio. Gostaria de mostrar fa observancia do Princfpio de Cooperacdo e das maxi. € razoavel (racionzl) da seguinte forma: pode-se esperar quem quer que se preocupe com os objetivos que so Intrais na conversagao/comunicacdo (por exemplo, dar ou ber informagées, influenciar ou ser influenciado por jtros) tenha interesse, dadas as circunstancias apropriadas, participar de conversagSes proveitosas, somente supondo je elas sio conduzidas de acordo com a Principia de Coope- io e as méximas. Nao sei se tal conclusio pode ser obtida, estou seguro de que nao posso obté-la até saber muito is claramente qual a natureza da relevancia e das circuns. incias em que ela é e: 7 E hora de mostrar a conexiio entre 0 Principio de Coope- io € as maximas, de um lado, e as implicaturas conversa- lonais de outro. Um participante de um didlogo pode deixar de cumprir yma maxima de varias maneiras, entre as quais se incluem: 1. Ele pode, calma e néo ostensivamente, violar uma wéxima. Se isto ocorre, em alguns casos ele estard sujeito @ vocar malentendidos, 2 Ele pode colocar-se fora da esfera de atuagdo tanto das iximas quanto do Princ{pio de Cooperacao; ele pode dizer, ar ou permitir que se compreenda que ele n&o quer joperar na forma exigida pelas méximas. Poderd dizer, por emplo, Eu no posso mais falar; meus lébios esto selados. 3. Ele pode estar enfrentando um conflito: ele pode, r exemplo, ser incapaz de cumprir a primeira maxima da Juantidade (Seja tao informativo quanto exigido) sem violar segunda maxima de Qualidade (Tenha evidéncia adequada a 0 que diz). . Ele pode abandonar uma méxima, isto 6, pode espa- Ihafatosamente deixar de cumpri-la. Na hipétese de que o Halante € capaz de cumprir a maxima e de cumpri-la sem Wiolar outra maxima (devido a um contflito), de que nao [esté colocando-se fora, e de que ndo esté, face ao espalhafato 1 de seu desempenho, tentando enganar seu interlocutor, o ‘ouvinte esté diante de um pequeno problema: como pode fato do locutor ter dito o que disse ser reconciliado com a suposigo de que ele esté observando o Principio de Coopera gio? Esta é uma situacdo que caracteristicamente gera uma implicatura conversacional; e quando uma implicatura con- versacional é gerada deste modo, eu direi que uma maxima esté senco utilizadalexploited). Agora estou em condiges de caracterizar a nogao de im- plicatura conversacional. Se uma pessoa, 20 (por, quando) dizer (ou fazer como se tivesse dito) que p, pode-se dizer que ela implicitou conversacionalmente q desde que (1) pode-se presumir que ela esteja obedecendo as md- ximas canversacionais ou pelo menos ao Princfpio de Coope- ragio; (2) a suposicao de que ela esteja conselente de que (ou pense que) q é necesséria para tornar o seu dizer p ou fazer como se dissesse p (ou fazé-lo NAQUELES termos) consis- tente com a presungao acima; e (3) o falante pensa (e espera que 0 ouvinte pense que ole pensa) que faz parte da compe- téncia do ouvinte deduzir, ou compreender intuitivamente, que a suposigdo mencionada em (2) é necesséria. Apliquemos isto a meu exempl , 8 observacdo de B de que C ainda no tinha sido preso. Numa situagéo apropriada, A poderia raciociner assim: ‘(1) B aparentemente violou a méxima ‘Seja relevante; e assim pode-se considerar que tenha abandonado uma das méximas que exigem clareza, mas no tenho moti- vos para supor que ele esteja colocando-se fora do Principio de Cooperacéo; (2) dadas as circunsténcias, posso encarar sua irrelevancia como apenas aparente se, e somente se, su- ponho que ele acha que C é potencialmente desonesto; (3) B sabe que sou capaz de deduzir (2). Logo, B implicitou que C6 potencialmente desonesto’. A presenga de uma implicatura conversacional deve poder ser deduzida, elaborada; pois, ainda que possa ser in- ivamente compreendida, se a intui¢o nao for substitul- da por um argumento, a implicatura (se presente) no cont ré como implicatura CONVERSACIONAL; seré uma impli catura CONVENCIONAL. Para deduzir que uma implicatu- 92 ‘conversacional determinada se faz presente, o ouvinte rar com os seguintes dados: (1) o significado conver das palavras usadas, juntamente com a identidade de es pertinentes; (2) 0 Princ’pio de Coopera- jo e sua méximas; (3) 0 contexto, lingii/stico ou extralin- {stico, da enunciagao; (4) outros ftens de seu conhecimen- anterior (background); e (5) 0 fato (ou fato suposto) de jue todos os (tens relevantes cobertos por (1)-(4) sio acessi- a ambos os participantes, e ambos sabem ou supdem que (0 ocorra. Um padréo geral para a deducdo de uma itura conversacional pode ser formulado assim: ‘Ele disse lue 1p; no h4 nenhuma razdo para supor que ele nao esteja bservando as méximas ou pelo menos o Principio de Coopera- jo; ele no poderia estar fazendo isso a no ser que ele jense que q; ele sabe (e sabe que eu sei que ele sabe) que posso ver que a suposiego de que ele pensa que q € necessd- Tia; ele n&o deu qualquer passo para impedir que eu pensasse que q; ele tem a intenggo de que eu pense, ou pelo menos quer deixar que eu pense que q; logo, ele implicitou que q’. Oferecerei alguns exemplos, que dividirei em trés ‘grupos: GRUPO A: Exemplos em que nenhuma méxima é violada, ‘ou pelo menos em que nao é claro que qualquer maxima es- teja sendo violada. A est4 parado, obviamente em fungao de um problema Ino carro, e dele se aproxima B; a seguinte conversagiio ocorre: (1) A— Estou sem gasolina. B — Hé um posto na préxima esquina. (Interpretaoao: B estaria infringindo a maxima ‘Seja relevante’ a menos que ele pense, ou pense que seja possivel que © posto esteja aberto e tenha gasolina para vender; assim, ele implicitou que 0 posto esté aberto, ou pelo menos pode estar aber‘o, etc.) Neste exemplo, ao contrério da observagio ‘Ele ainda do foi preso’, a conexéo estabelecida entre a fala de Be a fala de A é tio ébvia que, mesmo se alguém interpretasse 93 a supermaxima de MODO ‘Seja claro’ como néo se aplicando somente a expresséo do que é dito mas também a conexdo do que é dito com o discurso adjacente, parece nao haver motivo para considerar que tal superméxima tenha sido vio lada. No préximo exemplo este aspecto ¢ talvez um pouco menos claro: (2) A — Smith parece estar sem namorada ultimamente. B ~ Ele tem ido muito a Nova lorque. B implicita que Smith tem, ou pode ter, uma namorada ‘em Nova lorque. (Em vista do comentério feito no exemplo anterior, é desnecessdrio fazer aqui uma interpretacdo). Em ambos os exemplos o falante implicita o que se deve supor que ele acredita a fim de preservar a hipdtese de que ele esté observando a maxima da relagdo. GRUPO B: Um exemplo em que uma maxima é violada, mas sua violacdo se explica pela suposigso de um conflito com outra maxima. ‘A esté planejando com B um itinerério de férias na Fran- a. Ambos sabem que A deseja ver seu amigo C, desde que para tanto nao seja necessario alterar muito o trajeto: (3) A — Onde C mora? B — Emalgum lugar do su! da Franca. (Interpretagdo: N3o hé nenhuma razéo para supor que B esteja optando por fugir a0 cumprimento das méximas; sua resposta 6, como ele bem sabe, menos informativa do que 0 exigido pela pergunta de A. Esta transgressiio da primeira maxima da Quantidade pode ser explicada somente pela suposigo de que B esté consciente de que ser mais informative seria dizer alguma coisa que violaria a maxima da Qualidade 'N3o diga sen&o aquilo para que vocé possa fornecer evidéncia adequada’. Assim, B implicitou que ele nao sabe cm que cidade C mora.) GRUPO C: Exemplos que envolvem 0 emprego de um proce dimento pelo qual o falante abandona uma maxima com o propésito de obter uma implicatura conversacional por meio de algo cuja natureza se aproxima de uma figura de linguagem. Nestes exemplos, embora alguma maxima seja violada 94 nivel do que ¢ dito, o ouvinte tem o direito de confiar em je esta maxima, ou pelo menos princ/pio fundamental da joperacdo, estd sendo observada ao nivel do que é imy jo. a) Um abandono da primeira méxima da Quantidade. A estd escrevendo uma recomendagao a propésito de um luno que é candidato 2 um emprego de professor de filoso- la, e em sua carta se 1é:‘Prezado senhor, 0 conhecimento de ialés do senhor X é excelente, ele tem participado reqular- jente das nossas aulas. Sem mais, etc.’ (Interpretacdo: A jo pode estar optando por fugir do cumprimento das \éximas, j4 que se ele desejasse ndo cooperar, por que escre- ra carta? Ele no esté incapacitado de dizer mais, em Ngaio de desconhecimento, j4 que a pessoa de que se trata seu aluno; além disso ele sabe que quem pediu a carta leseja mais informagdes do que as que esté prestando. Deve, tanto, estar desejando dar informagées que ndo deseja locar por escrito. Este suposicdo é sustentdvel somente sob hipétese de que ele pensa que o senhor X ndo é um bom ilésofo, E isto, entdo, que ele esté implicitando} Exemplos extremos de oposieao a primeira maxima da luantidade sto obtidos em enunciagdes de tautologias widentes, como ‘Mulheres sé mulheres’ e ‘Guerra é guerra’, farece-me que 20 nivel do que ¢ dito, no sentido por mim worecido, tais observagdes so totalmente nao-informativas assim, neste nivel, s6 podem estar violando a primeira yéxima da Quantidade em qualquer contexto conversacional las so, naturalmente, informativas ao nfvel do que é impl jtado, e a identificacao, pelo ouvinte, de seu conteddo infor macional, neste nivel, dapende de sua habilidade para exp! lear a selecdo, pelo falante, desta tautologia especifica. (1b) Uma violagdio da segunda maxima da Quantidade (Néo faca sua contribuieso mais informativa do que é requerido’}, \supondo-se que existe efetivamente tal maxima: A deseja saber se p, e B voluntariamente néo s6 fornece fa informacéio de que p, mas também informa que ¢ certo que , € que a justificacao para isto é tale tal. A loquacidade de B pode ser involuntéria, ¢ se é assim 95

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