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pano
da
costa
é
uma
ferramenta.
Parte
integrante
da
roupa
das
mulheres
no
candomblé,
é
usado
sobre
os
ombros
e
é
utilizado
para
toda
a
sorte
de
necessidade,
de
amarrar
um
facho
de
lenha
a
carregar
um
bebê
nas
costas.
O
PANO
DA
COSTA,
UM
APETRECHO
FEMININO.
(sua
história
e
Significados)
1º
Também
conhecido
como
alaká,
pano-‐de-‐alaká
ou
pano-‐de-‐cuia,
o
pano-‐da-‐costa
é
de
origem
africana
e
compõe
a
indumentária
da
roupa
de
baiana.
Seu
uso
está
intimamente
ligado
ao
âmbito
das
religiões
afro-‐brasileiras
e
obedece
às
cores
simbólicas
dos
orixás.
Sua
denominação
faz
referência
à
costa
africana,
mais
precisamente
a
ocidental,
local
de
origem
dos
muitos
produtos
trazidos
para
o
Brasil,
especialmente
para
o
recôncavo
baiano.
De
formato
retangular
–
o
tamanho
padrão
é
de
dois
metros
de
comprimento
por
60
centímetros
de
largura,
é
composto
de
faixas,
tecidas
em
tear
horizontal,
depois,costuradas
manualmente,
formando
padrões,
em
geral
geométricos
e
bicolores,
que
seguem
as
texturas
dos
fios
de
algodão
combinados
com
os
de
seda,
caroá
e
outros
materiais.
Seguindo
esses
padrões
formais,
o
pano-‐da-‐costa
–
usado
sobre
um
ombro,
pendendo
uma
das
pontas
sobre
o
peito
e
a
outra
sobre
as
costas
–
adquire
sua
identidade
de
produto
que
integra
a
roupa
tradicional
de
baiana
e
suas
variações
sociais
e
religiosas.
Listrado,
liso,
estampado
ou
bordado
em
richelieu
ou
renda,
é
por
meio
dele
que
a
mulher
demonstra
sua
posição
hierárquica
na
organização
sócio-‐religiosa
dos
terreiros.
Em
Salvador/BA,
mais
precisamente
no
Terreiro
Ilê
Axé
Opô
Afonjá,
a
tecelagem
tradicional
do
pano-‐da-‐costa
está
ligada
ao
uso
e
ao
simbolismo
sócio-‐religioso
do
tecido
na
composição
das
roupas
rituais
do
candomblé.
2º
Sendo
este
presença
e
distintivo
do
posicionamento
feminino
nas
comunidades
religiosas
afro-‐brasileira,
o
pano-‐da-‐costa,
não
é
apenas
um
complemento
da
indumentária
da
mulher;
é
a
marca
do
sentido
religioso
nas
ações
da
mulher
como
iniciada
ou
dirigente
dos
terreiros.
Observemos
a
profunda
conotação
sócioreligiosa
desse
simples
pedaço
de
tecido,
que
atua
em
tão
diversificadas
situações,
desempenhando
papéis
dos
mais
significativos
e
necessários
para
a
sobrevivencia
dos
rituais
africano.
O
pano-‐da
costa
é
assim
chamado
por
ter
sido
um
tipo
de
tecido
vindo
da
costa
dos
escravos,
Costa
Mina,
Costa
do
Ouro.
O
tecido
original
foi
substituido
por
outros
tipos
de
tecidos,
o
que
não
diminui
em
nada
as
funções
do
pano-‐da-‐costa.
O
pano-‐da-‐costa
identifica
a
mulher
feita,
mesmo
que
ela
não
esteja
de
roupa
de
santo
completa.
A
situação
do
pano-‐da-‐costa
é
de
maior
importância,
se
colocarmos
a
presença
da
mulher
como
símbolo
do
poder
sócio
religioso
e
arquétipo
dos
valores
mágicos
da
fertilidade,
isso
motivado
pelas
formas
anatômicas
características
da
mulher.
O
sentido
protetor
do
pano-‐da-‐costa
é
outro
aspecto
que
merece
atenção.
As
iyawos,
ao
terminar
o
período
de
feitura
começam
a
travar
seus
primeiros
contatos
com
o
mundo
exterior
protegidas
pelo
pano-‐da-‐costa
branco,
que
representa
o
prolongamento
do
Ala
de
Oxala,
envolvendo
praticamente
todo
o
seu
corpo
no
grande
pano-‐da-‐costa,
procura
manter
os
valores
religiosos
de
sua
feitura
quando
em
contato
com
os
valores
profanos
encontrados
extramuros
dos
terreiros.
Nos
sirruns/axexes,
a
mesma
proteção
do
pano-‐da-‐costa,
ateado
como
capa
envolvente
mágica,
aparece
guardando
as
mulheres
das
presenças
de
egum.
O
pano-‐da-‐costa
é
de
uso
exclusivo
da
mulher
nos
cultos
afro-‐brasileiro,
porque
uma
das
principais
funções
do
mesmo
é
proteger
os
orgão
reprodutores
das
mulheres,
das
Yamis,
já
que
as
energias
emanadas
das
mesmas
prejudicam
muito
todo
o
aparelho
reprodutor
da
mulher.
Nos
rituais
de
sirrum/axexe
as
mulheres
usam
dois
panos-‐da-‐costas
branco:
um
protegendo
seus
ventres
e
outro
sobre
os
ombros
como
uma
capa
que
envolve
todo
o
seu
colo
e
seios.
No
Rio
de
Janeiro
convencionou-‐se
que
o
pano-‐da-‐costa
deve
ser
usado
de
acordo
com
a
idade
de
santo,
isto
é,
só
usa
preso
acima
dos
seios
aquelas
que
ainda
são
yaos.
Esta
errado,
pano-‐da-‐costa
é
para
ser
usado
dessa
forma
mesmo
independente
da
idade
de
feitura.
De
alguns
anos
para
cá
os
homem
aderiram
o
pano-‐da-‐costa,
mas
nenhum
deles
até
agora
explicou
o
porque
de
usa-‐lo
e
nem
podem
explicar
pois
o
mesmo
é
de
uso
exclusivamente
feminino.
Observem
que
as
santas
mulheres
usam
o
pano-‐da-‐costa,
os
santos
homens
usam
o
pano-‐da
costa
amarrados
no
ombro.
Em
algumas
casas
encontramos
abians
usando
pano
da
costa,
esse
procedimento
esta
errado.
As
abians
ainda
não
tiveram
seus
chakras
abertos
durante
uma
feitura,
portanto
as
mesmas
não
necessitam
dessa
proteção
ainda.
Texto:
Yatemi
Jurema
de
Oya
(in
memoriam)
3º
No
caso
das
Egbómis,
o
pano
da
Costa
deve
ser
colocado
na
cintura
elegantemente
ou
sobre
o
peito,
jamais
deve
ser
enrolado
ou
torcido,
feito
uma
faixa
ou
Ojá,
na
cintura.
Uma
iniciada
deve
saber
usar
o
pano
da
Costa,
pois
este
é
uma
peça
do
vestuário
muito
importante.
Outro
fato
relevante
é
quanto
à
estampa
e
cor
do
tecido.
São
adequadas
as
estampas
em
listras
e
quadros
que
lembram
as
formas
presentes
na
indumentária
nigeriana.
Quando
feitos
de
tecido
liso,
devem
ser
de
cores
claras:
branca,
bege,
rosa
ou
azul
claro.
Nunca
devem
ser
de
cores
quentes,
berrantes,
de
seda
ou
estampados
vivos,
o
que
causaria
“risos”
entre
as
iniciadas
mais
antigas.
Pano
da
Costa
na
cintura
ou
no
peito
é
demonstração
de
trabalho,
assim
usados
no
barracão,
quando
em
função
religiosa.Caso
contrário,
no
dia-‐a-‐dia
do
terreiro
pode
ser
“jogado”
sobre
o
ombro
direito
e
se
mantém
esticado
ao
longo
do
tronco.
Não
se
“dança”
sem
esta
peça
da
indumentária.
Mesmo
fora
do
trabalho,
para
visita
ou
passeio
o
seu
uso
é
indispensável.
Em
casas
tradicionais,
quando
uma
iniciada
chega
sem
o
pano
da
Costa
é
comum
a
proprietária
do
terreiro
emprestar
um
à
visitante,
que,
em
sinal
de
educação
ou
respeito,
coloca-‐o
sobre
o
ombro
direito
ou,
se
entrar
na
roda,
usa-‐o
de
maneira
adequada
à
sua
posição
dentro
da
hierarquia
do
Candomblé;
O
pano
da
Costa
é
a
peça
de
maior
significado
histórico
dentro
do
vestuário
africano,
em
conjunto
com
o
torso.
O
uso
de
saia,
Camisu
ou
bata
e
pano
da
Costa
são
indispensáveis
dentro
do
Axé…
A
maneira
de
amarrar,
colocar
ou
“enrolar”
o
pano
varia
de
acordo
com
a
situação,
o
ritual
desenvolvido
ou
a
posição
hierárquica;
Iyáwô
não
usa
o
pano
na
cintura,
mas
sim
enrolado
no
peito.
(Parte
do
livro
Sobre
o
Signo
de
Omolu
–
Samuel
Abrantes)
4º
Pano
da
Costa
é
a
redução
do
termo
“Pano
da
Costa
do
Santo”,
e
referia-‐se
aos
panos
de
adorno,
espécie
de
xales
longos,
que
integravam
o
traje
típico
das
africanas
e
das
crioulas
da
Bahia.
Chamam-‐se
panos
da
costa,
aos
tecidos
artesanais
de
origem
africana.
Tais
como
os
demais
produtos
importados
da
África,sabão
da
Costa,
limo
da
Costa,
búzio
da
Costa,
e
que
tinham
uso
popular,
são
conhecidos
pelo
adjetivo
“da
Costa”,
muito
embora
a
origem
de
alguns
deles
seja
vária
e
ainda
controversa.
A
princípio
esta
denominação
estendia-‐se
a
todos
os
tecidos
importados
da
África,
qualquer
que
fosse
a
sua
aplicação;
o
uso
lhe
foi
restringindo
o
campo
até
a
limitação
ao
xale.
O
pano
da
Costa
é,
portanto,
uma
peça
de
vestimenta
tecida
de
algodão,
lã,
seda
ou
ráfia
—
às
vezes
em
dupla
associação
desses
elementos
—
que
a
crioula
baiana
deita
sobre
pontos
diversos
das
suas
vestes,
às
vezes,
ajustando-‐o
ao
corpo
em
formas
convencionais
e
relativas
às
diferentes
funções
que
se
apresta
a
desempenhar
momentaneamente.
5º
É,
em
suma,
um
xale
retangular,
cuja
disposição
informa
ao
que
vai
a
sua
portadora.
É
usado
de
várias
formas:
sobre
as
costas,
jogados
sobre
os
ombros,
usados
a
tiracolo,
cruzados
na
frente,
amarrados
sobre
o
busto
ou
na
cintura,
sobre
as
saias
e
principalmente
sobre
a
altura
dos
seios
para
proteção.
Tem
uma
variedade
infinda,
seja
nas
cores
ou
nas
padronagens.
A
África
negra
tem
uma
longa
tradição
têxtil,
onde
a
variedade
de
materiais
é
tão
grande
quanto
os
estilos
encontrados.
Utilizados
como
roupa,
os
tecidos
serviram
também
de
moeda,
foram
utilizados
como
mensageiros
e
objetos
estéticos.
Diz-‐se
com
frequência
que
os
Africanos
eram
mais
escultores
que
pintores
:
os
tecidos
podem
ser
considerados,
na
África,
substitutos
da
pintura.
Os
primeiros
“tecidos”
foram
realizados
com
casca
de
árvore
batida;
muito
difundidos
antigamente
numa
grande
parte
do
continente,
eles
são
encontrados
atualmente
sobretudo
nas
populações
da
África
central,
onde
são,
na
maioria
das
vezes,
decorados
com
tintas
vegetais.
A
tecelagem
só
foi
desenvolvida
bem
mais
tarde,
a
partir
do
século
11,
mesmo
se
tecidos
ricamente
trabalhados
já
eram
importados
dos
países
da
África
do
norte,
do
Egito
e
da
península
arábica
para
vestir
as
populações
das
grandes
cidades
portuárias
das
costas
orientais
assim
como
os
membros
das
classes
nobres
dos
reinos
do
deserto
do
Sahel.
Nesta
mesma
época,
a
expansão
do
islã,
introduzindo
novos
códigos
vestimentários,
desempenhou
um
papel
importante
no
desenvolvido
que
sofreram
os
tecidos,
sobretudo
na
África
ocidental.
Os
tecidos
de
fabricação
local
constituíram
durante
muito
tempo
bens
raros
e
preciosos;
marcas
de
poder
e
de
riqueza,
reservados
a
uma
elite,
eles
foram
integrados
como
moeda
para
troca,
graças
aos
quais
era
possível
estimar
o
preço
de
uma
mercadoria
e
comprá-‐la.
Desde
sua
chegada
nas
costas
do
continente,
no
século
15,
os
traficantes
europeus
exploraram
as
possibilidades
comerciais
que
ofereciam
esta
nova
“moeda”
e
encorajaram
indiretamente
a
produção
têxtil
local
devido
à
sua
utilização.
A
quantidade
de
tecidos
detidos
por
cada
família
foi
considerada
durante
muito
tempo
uma
marca
de
riqueza
e
de
poder
em
muitas
sociedades
africanas.
Nas
regiões
onde
o
islã
se
instalou,
como
em
todas
as
outras
regiões
onde
o
tecido
se
transforma
em
hábito
vestimentas,
a
metragem
e
o
peso
do
produto
são
proporcionais
à
fortuna
e
ao
poder
daquele
que
os
possui:
se
este
faz
parte
das
pessoas
influentes
da
comunidade,
chefe
político
ou
grande
comerciante,
sua
numerosa
corte
que
o
segue
quando
ele
sai
deve
ser
como
ele,
enrolada
em
abundantes
tecidos.
O
poder
se
mede
também
na
possibilidade
de
dispor
de
seus
bens
e
de
distribui-‐los
e,
entre
eles,
os
tecidos
constituem
presentes
excepcionais.
Dar
tecidos
como
presente
possibilita
a
solução
de
inúmeros
conflitos
e
libera
as
tensões.
Esses
presentes
são
feitos
em
momentos
importantes
da
vida
de
cada
um
(maioridade,
casamento,
nascimento
dos
filhos).
A
ascensão
social
ou
religiosa
ou
o
pagamento
de
serviços
não
pode
acontecer
sem
a
distribuição
de
tecidos.
Para
manter
boas
relações
com
a
família,
os
amigos,
os
vizinhos,
para
ser
admitido
numa
seita,
cada
pessoa
é
incitada
a
dar
tecidos
e
a
recebê-‐los.
A
posse
de
uma
grande
quantidade
de
tecidos
aumenta
o
prestígio
do
seu
proprietário,
o
que
lhe
possibilita
uma
maior
participação
na
vida
comunitária,
onde
o
princípio
da
dívida
é
a
base
de
toda
relação
social
e
econômica.
Mas
o
tecido
não
é
somente
moeda
ou
roupa:
ele
representa
também,
de
acordo
com
seu
estampado,
uma
espécie
de
texto
onde
podem
ser
“lidas”
a
identidade
social
e
religiosa
daquele
que
o
usa:
a
decoração,
seja
ela
impressa,
tingida,
pintada,
tecida
ou
costurada,
representa
os
espaços,
os
objetos,
os
seres
e
as
metamorfoses
presentes
na
mitologia.
Por
este
motivo,
os
tecidos
têm
um
papel
importante
na
vida
ritual:
os
mortos,
mesmo
no
seio
de
sociedades
que
não
possuem
tecelões,
são
vestidos
ou
envolvidos
em
tecidos,
tornando-‐se
assim
protegidos
pela
palavra
dos
vivos.
Texto:
Lúcia
Gaspar
Bibliotecária
da
Fundação
Joaquim
Nabucodonosor
Marques
Foto:
Iyalorixá
fundadora
do
Ilé
Iya
Omin
Axé
Iyamassê,
o
Terreiro
do
Gantois,
em
1849,
depois
de
uma
disputa
de
sucessão
na
Casa
Branca,
após
o
falecimento
da
sua
mãe-‐de-‐santo
e
carnal
Mãe
Marcelina
Obatosí.
Faleceu
em
1910.
Obs.:
O
Pano
da
Costa
é
de
uso
obrigatório
para
todas
as
mulheres
(Abiyans
,
Iyawos
e
Egbons)
sem
exceção,
pois
deve
proteger
também
o
útero
e
os
seios.
Homens
de
forma
alguma
devem
usar
pano
da
costa
seja
sobre
os
ombros,
seja
amarrado
a
cintura
como
saia
para
dançar
candomblé,
pano
da
costa
é
uma
indumentária
estritamente
feminina,
assim
como
o
Ojá.