Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
www.incm.pt
www.facebook.com/INCM.Livros
editorial.apoiocliente@incm.pt
1
Volker Gerhardt / Friedrich Kaulbach, Kant, WBG, Darmstadt, 1979.
2
Luc Ferry, «Kant, penseur de la Modernité» (Propos recueillis par Fran‑
çois Ewald), Magazine Littéraire, n.o 309 (Abril de 1993), p. 21: «Je dis qu’il y a
une actualité du moment kantien dans ces deux points fondamentaux qui sont
l’emergence de la laicité, c’est-à-dire le retrait du divin, l’inversion des rapports
10
11
4
Arthur Schopenhauer, Kritik der Kantischen Philosophie, Werke I, Reclam,
Leipzig, 1892, 531.
5
«Ich bin mit meinen Schriften um ein Jahrhundert zu früh gekom‑
men; nach hundert Jahren wird man sie erst recht verstehen und dann meine
Bücher aufs neue studieren und gelten lasser!» Tagebücher I, p. 46, apud Martin
Heidegger, Phänomenologische Interpretation von Kants Kritik der reinen Vernunft,
V. Klostermann, Frankfurt a. M., 1977, p. 1. O passo já fora evocado e citado por
Hans Vaihinger na sua obra Die Philosophie des Als Ob. System der theoretischen,
praktischen und religiösen Fiktionen der Menschheit auf Grund eines idealistischen
Positivismus, Berlin, 1911, p. xiv.
12
v. O. Market, «Kant e a recepção da sua obra até ao século xx», in Fernando
Gil (coord.), A Recepção da Filosofia de Kant, Lisboa, F. C. Gulbenkian, 1992,
pp. xii‑lxi.
Para o movimento neokantiano: Klaus Christian Köhnke, Entstehung und
Aufstieg des Neukantianismus. Die deutsche Universitätsphilosophie zwischen Idea
lismus und Positivismus, Frankfurt a. M., Suhrkamp, 1986 (versão inglesa The
Rise of Neo‑Kantianism. German academic philosophy between idealism and positi
13
14
15
16
11
«Davoser Disputation zwischen E. Cassirer und M. Heidegger», in
M. Heidegger, Kant und das Problem der Metaphysik, Frankfurt a. M., 1973,
pp. 246‑247.
12
V. Olivier Feron, Finitude et sensibilité dans la philosophie d’Ernst Cassirer,
Éditions Kimé, Paris, 1997.
13
V. o artigo de J. Derrida, «Interpretations at War — Kant, le Juif, l’Alle‑
mand», in Phénomenologie et politique. Mélanges offerts à Jacques Taminiaux, Bru‑
xelles, Ousia, 1989, pp. 209-292.
17
14
Sinal disso é a edição em curso da obra completa de Cassirer pela Fe‑
lix Meiner (Gesammelte Werke, Hamburger Ausgabe, ed. sob a responsabilida‑
de geral de Birgit Recki com colaboração de Tobias Berben, Claus Rosenkranz,
Reinold Schmücker, Marcel Simon e Dagmar Vogel, Hamburg, 1998 e segs.,
previstos 25 vols.). Está igualmente em curso, nas Éditons du Cerf, a publicação
da tradução francesa das obras de Cassirer, sob a direcção de F. Capeillères.
15
V. nomeadamente a antologia organizada e apresentada por Werner
Flach e Helmut Holzhey, Erkenntnistheorie und Logik im Neukantianismus. Texte
von Cohen, Natorp, Cassirer, Windelband, Rickert, Lask, Bauch, Gerstenberg Verlag,
Hildesheim, 1980.
16
A revisão da imagem negativa e heideggeriana do Neokantismo em
França fora já iniciada antes por H. Dussort, L’école de Marbourg (Paris, PUF,
18
19
19
António Paim, Problemática do Culturalismo, Porto Alegre, 1995, e
do mesmo: «Neokantismo no Brasil», Logos, vol. 3, 1114-1117. De Miguel Reale
tenha‑sepresente o volume A Doutrina de Kant no Brasil (2.a ed., São Paulo, 1949)
e o ensaio «Quatro momentos da doutrina de Kant no Brasil», in idem, O Belo
e Outros Valores, Rio de Janeiro, 1989, pp. 149-163). Sobre o Kantismo estético
de Miguel Reale, v. o meu ensaio «O pensamento estético de Miguel Reale», in
O Pensamento de Miguel Reale, Actas do IV Colóquio Tobias Barreto, edição do Insti‑
tuto de Filosofia Luso‑Brasileira e Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1998,
pp. 255-277 (retomado em L. Ribeiro dos Santos, Melancolia e Apocalipse. Estu‑
dos sobre o Pensamento Português e Brasileiro, INCM, Lisboa, 2008, pp. 397‑422).
20
Sobre este ponto, v. Francisco da Gama Caeiro, «Nota acerca da recep
ção de Kant no pensamento filosófico português», in AA. VV., Dinâmica do
Pensar. Homenagem a Oswaldo Market, Departamento de Filosofia, Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, 1991, pp. 59-89. V. também o ensaio «Antero
de Quental e a recepção da filosofia alemã em Portugal», in Leonel Ribeiro dos
Santos, Melancolia e Apocalipse. Estudos sobre o Pensamento Português e Brasileiro,
INCM, Lisboa, 2008, pp. 133‑160.
21
V. Carlos Morujão, «A interpretação leonardina de Kant», in Actas do
Congresso Internacional Pensadores Portuenses Contemporâneos — 1850-1950, Uni‑
versidade Católica Portuguesa (Centro Regional do Porto) e Imprensa Nacional
‑Casa da Moeda, Lisboa, 2002, vol. ii, pp. 327-338.
22
O próprio Sérgio dizia da sua filosofia que ela «poderia definir‑se como
um Neokantismo que rejeitasse os dados da intuição sensível como a estética
transcendental os havia admitido» (Ensaios, vol. i, 2.a ed., Coimbra, 1949, «Pre‑
fácio», p. 48), por conseguinte, que antepusesse a analítica à estética transcen‑
dental ou que eliminasse mesmo esta, para assim revelar em toda a evidência a
autonomia do pensamento puro e o acto criador do juízo.
20
21
27
«Davoser Disputation», in M. Heidegger, Kant und das Problem der Me‑
taphysik, Klostermann, Frankfurt a. M., 1973, pp. 246-247 (trad. francesa de
P. Aubenque, J. M. Fataud, P. Quillet: Débats sur le kantisme et la philosophie,
Paris, Beauchesne, 1972). Entre a variada literatura sobre este debate histórico,
v. H. Declève, «Heidegger et Cassirer interprètes de Kant», Revue Philosophique
de Louvain, 67 (1969), 517-545; P. Aubenque, «Le débat de 1929 entre Cassirer
et Heidegger», in J. Seidengart (ed.), Ernst Cassirer — De Marbourg à New‑York,
Paris, Du Cerf, 1990, pp. 81-96.
28
V. a recensão muito crítica, mas muito pertinente, que Cassirer fez do
«Kantbuch» heideggeriano: «Kant und das Problem der Metaphysik. Bemerkun
gen zu Martin Heideggers Kant‑Interpretation», Kant‑Studien, 39 (1931), pp. 1-26.
29
Kant und das Problem der Metaphysik, ed. cit., p. 196.
22
30
Irene Borges-Duarte, La Presencia de Kant en Heidegger. Dasein — Trans‑
cendencia — Verdad, Facultad de Filosofia, Universidad Complutense, Madrid,
1994, p. 9.
31
Destaco três peças que dão conta desse confronto e que têm por objec‑
to a análise da presença de Kant no pensamento de Heidegger: H. Declève,
Heidegger et Kant, M. Nijhoff, La Haye, 1970; Pio Colonello, Heidegger interprete
di Kant, Genova, 1981; Irene Borges-Duarte, La Presencia de Kant en Heidegger.
Dasein — Transcendencia — Verdad, Universidad Complutense, Madrid, 1994
(esta última com uma bibliografia muito completa e selecta).
23
24
25
26
Numa breve dissertação académica do ano 1925 (Über Kants Kritik der
38
27
39
W. H. Werkmeister, Kant. The Architectonic and Development of His Phi‑
losophy, La Salle / London, 1980, «Introdução».
40
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 170.
41
Günther Freudenberg, Die Rolle von Schönheit und Kunst im System der
Transzendentalphilosophie, Meisenheim a. Glan, 1960; J. Kopper, «Kants Lehre
vom Übergang als der Vollendung des Selbstbewusstseins in der Transzenden‑
talphilosophie», Kant‑Studien, 55 (1964); Johann Heinrich Trede, Die Differenz
von theoretischen und praktischen Vernunftgebrauch und dessen Einheit innerhalb der
Kritik der Urteilskraft, Göttingen, 1969; Peter Heintel, Die Bedeutung der Kritik
der ästhetischen Urteilskraft für die transzendentale Systematik, Bonn, 1970; W. Bar‑
28
tuschat, Zum systematischen Ort von Kants Kritik der Urteilskraft, Frankfurt a. M.,
1972; N. Rothenstreich, Experience and its Systematization. Studies in Kant, The
Hague, 1972; Helga Mertens, Kommentar zur Ersten Einleitung in Kants Kritik der
Urteilskraft. Zur Systematischen Funktion der Kritik der Urteilskraft für das System
der Vernunftkritik, München, 1975; K. Konhardt, Die Einheit der Vernunft. Zum
Verhältnis von theoretischer und praktischer Vernunft in der Philosophie Immanuel
Kants, Forum Academicum, Königstein, 1979; Paolo Gambazzi, Sensibilità, Im‑
maginazione e Bellezza. Introduzione alla dimensione estetica nelle tre Critiche di Kant,
Verona, 1981; Ronald Harri Wettstein, Kants Prinzip der Urteilskraft, Königstein,
1981; Gerhard Krämling, Die systembildende Rolle von Ästhetik und Kulturphiloso‑
phie bei Kant, Alber, München, 1985; T. C. Williams, The Unity of Kant’s Critique of
Pure Reason. Experience, Language, and Knowledge, Lewinston, N. Y. / Queenston,
Ontario, 1987; Reinhard Hiltscher, Kant und das Problem der Einheit der endli‑
chen Vernunft, Königshausen & Neumann, Würzburg, 1987; Hoke Robinson
(ed.), System and Teleology in Kant’s Critique of Judgment (Spindel Conference 1991),
Southern Journal of Philosophy 30 (1992), volume suplementar (nomeadamente o
ensaio de Burkahrd Tüschling: «The System of Transcendental Idealism: Ques‑
tions Raised and Left Open in the Kritik der Urteilskraft», pp. 109-127).
42
S. M. Brown, «Has Kant a Philosophy of Law?», in Philosophical Review,
71 (1962), pp. 33‑48.
43
Wolfgang Kersting, Wohlgeordnete Freiheit, W. de Gruyter, Berlin, 1984.
44
Simone Goyard‑Fabre, Kant et le problème du droit, Vrin, Paris, 1975;
Z. Batscha (ed.), Materialien zu Kants Rechtsphilosophie, Frankfurt a. M., Suhrkamp,
1976; Susan Meld Shell, The Rights of Reason. A Study of Kant’s Philosophy and
Politics, Toronto, 1980.
45
Gerd-Walter Kusters, Kants Rechtsphilosophie, WBG, Darmstadt, 1988.
O ponto da situação é confirmado e actualizado onze anos depois com con‑
tributos vários num volume coordenado por G. Landwehr: Freiheit, Gleichheit,
29
30
48
É verdadeiramente digno de nota o crescente interesse pela ética kan‑
tiana no espaço linguístico‑filosófico anglo‑saxónico. Alguns exemplos: Hen‑
ry Allison, Kant’s Theory of Freedom, Cambridge University Press, Cambridge,
1990; Nancy Sherman, Making a Necessity of Virtue, Cambridge University Press,
Cambridge, 1997; Felicitas Munzel, Kant’s Conception of Moral Character, Chicago
University Press, Chicago, 1999; Allen Wood, Kant’s Ethical Thought, Cambridge
University Press, Cambridge, 1999; Robert Louden, Kant’s Impure Ethics, From
rational Beings to human Beings, Cambridge University Press, Cambridge, 2000;
e ainda o volume antológico (reunindo 17 ensaios de autores de língua inglesa)
sobre a Metafísica dos Costumes de Kant, obra tradicionalmente ignorada mesmo
por aqueles que tratavam da ética kantiana: Kant’s «Metaphysics of Morals». In‑
terpretative Essays, ed. por Mark Timmons, Oxford University Press, New York,
2002. Sobre a presença do Kantismo nos questionamentos éticos da actualidade,
v. Oswaldo Guariglia, «Kantismo», in Victoria Camps, Osvaldo Guariglia, Fer‑
nando Salmerón (eds.), Concepciones de la Ética, «Enciclopedia Ibero‑Americana
de Filosofia», vol. 2, Editorial Trotta, Madrid, 1992, pp. 53-72. V. neste volume o
ensaio «Actualidade e inactualidade da ética kantiana», pp. 67 e segs.
49
Este aspecto foi particularmente posto em realce na obra já citada de
J. Lenoble e A. Berten, ob. cit. na nota 2.
50
Viriato Soromenho-Marques, Razão e Progresso na Filosofia de Kant, Co‑
libri, Lisboa, 1998; História e Política no Pensamento de Kant, Europa-América,
Mem Martins, 1994; Leonel Ribeiro dos Santos, «Republicanismo e cosmopo‑
litismo. A contribuição de Kant para a formação da ideia moderna de federa‑
lismo», in Ernesto Castro Leal (ed.), O Federalismo Europeu — História, Política
31
32
1974, parte ii, pp. 692 e segs.; idem, Die Rekonstruktion der politischen Urteilskraft,
Stuttgart, 1977). O mesmo Henri D’Aviau de Ternai publicaria recentemente
uma ampla explicitação da ideia acima proposta na obra Un impératif de com‑
munication. Une relecture de la philosophie du droit de Kant à partir de la troisième
«Critique», Les Éditions Du Cerf, Paris, 2005.
53
A. Negri, La comunità estetica in Kant, Laterza, Bari, 1968.
54
Sobretudo nos Studien zur späten Rechtsphilosophie Kants und ihrer trans‑
zendentalen Methode, Königshausen & Neumann, Würzburg, 1982, pp. 111‑112.
V. também D. R. Doublet, Die Vernunft als Rechtsinstanz. Die «Kritik der reinen
Vernunft» als Reflexionsprozess der Vernunft, Paderborn, 1989; Leonel Ribeiro dos
Santos, Metáforas da Razão, pp. 561‑631; idem, «A ‘revolução da razão’ ou o para‑
digma político do pensamento kantiano, Análise 16 (1992), pp. 21-33. Mais recen‑
temente, a mesma ideia tem sido sublinhada por Maximiliano Hernández Mar‑
cos (La Crítica de la Razón Pura como proceso civil. Sobre la interpretación jurídica de la
filosofia trascendental de I. Kant, Univ. de Salamanca, micro‑fiche, 1993) e Ottfried
Höffe («La raison kantienne est‑elle républicaine? Essai de lecture de la Critique
de la raison pure», in Kant actuel, Montréal / Paris, 2000, pp. 201‑214; idem, Köni‑
gliche Völcker. Zu Kants kosmopolitischer Rechts — und Friedenstheorie, Suhrkamp,
Fankfurt a. M., 2001). V., neste volume, o ensaio «Da linguagem jurídica da filo‑
sofia crítica à arqueologia da razão prática», pp. 205-228.
33
3.7. Como já foi apontado mais do que uma vez ao longo des‑
ta nota, a importância reconhecida à Crítica do Juízo constitui um dos
aspectos mais marcantes das releituras e interpretações da filosofia
kantiana das últimas três décadas 56. O alcance da redescoberta des‑
sa obra não se fez sentir apenas na apreciação das questões estéticas,
mas projectou uma luz inesperada sobre quase todos os outros as‑
pectos do pensamento de Kant e permitiu uma nova compreensão
de todo o seu projecto filosófico. Esta obra, que constitui verdadei‑
ramente o «coroamento da filosofia crítica» 57, salvas as muito raras
excepções, foi subvalorizada durante quase dois séculos por suces‑
sivas gerações de intérpretes da filosofia kantiana 58. E, apesar do
novo interesse que ultimamente tem despertado, ela ainda constitui
a muitos títulos um enigma e um desafio para o hermeneuta que
queira compreender a sua génese aporética e a ligação orgânica com
as duas outras Críticas, ou que tente perceber a unidade que liga as
suas duas partes, respectivamente, a Crítica do Juízo Estético e a Crí‑
tica do Juízo Teleológico, que tente, enfim, compreender o seu lugar e
função no sistema da filosofia transcendental 59.
55
Ästhetische Welterkenntnis bei Kant, Königshausen & Neumann, Würz‑
burg, 1984.
56
AA. VV., La faculté de juger, Éditions de Minuit, Paris, 1985; Domini‑
que Janicaud, Sur la troisième Critique, L’Éclat, Paris, 1994; Gernot Böhme, Kants
«Kritik der Urteilskraft» in neuer Sicht, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1999.
57
Assim o dizia, glosando uma passagem do prefácio, o título da obra,
pouco atendida na altura da sua publicação, de R. A. C. Macmillan, The Crowning
Phase of the Critical Philosophy. A Study in Kant’s Critique of Judgment, London, 1912.
58
Ao falar-se de redescoberta pretende-se dizer que, apesar de tudo, a obra
foi lida e mereceu algumas interpretações importantes, mesmo da parte dos neo
kantianos. Hermann Cohen publicou Kants Begründung der Ästhetik (Berlin, 1889,
2.a ed.; reimpr. com «Introdução» de Helmut Holzhey, Olms, Hildesheim, 2009), e
o neokantiano de Baden, Jonas Cohen, publicou, em 1901, uma Allgemeine Ästhetik.
59
Um ponto da situação dos problemas com que se enfrenta ainda a her‑
menêutica desta obra foi recentemente feito por Alain Renaut, na «Présentation»
da nova tradução francesa que ele próprio empreendeu dessa obra: Emmanuel
Kant, Critique de la Faculté de Juger, traduction, présentation, bibliographie et
chronologie par A. Renaut, Aubier, Paris, 1995, pp. 7‑81.
34
Odo Marquard, «Kant und die Wende zur Ästhetik», in P. Hein‑
61
35
36
64
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 239.
37
pp. 278‑287, retomado em Between Past and Future, Viking Press, N. York, 1968,
pp. 197‑226 (trad. francesa: La Crise de la Culture, Gallimard, Paris, 1972, pp. 281
e segs.). V. o meu ensaio «Da estética como filosofia política: Hannah Arendt e
a sua interpretação da Crítica do Juízo de Kant», in Hannah Arendt. Luz e Sombra,
CFUL, Lisboa, 2008, retomado neste volume, pp. 503 e segs.
38
66
Hannah Arendt, Lectures on Kant’s Political Philosophy, ed. com um en‑
saio interpretativo de R. Beiner, Chicago Ill., 1982 (Das Urteilen. Texte zu Kants
politischer Philosophie, München / Zürich, 1985).
67
E. Vollrath, «Kants ‘Kritik der Urteilskraft’ als Grundlegung einer Theorie
des politischen», Akten des 4. Internationalen Kant‑Kongresses, W. de Gruyter, Berlin
/ New York, 1974, II, pp. 692 e segs.; Idem, Die Rekonstruktion der politischen Urteil‑
skraft, Stuttgart, 1977; Kimberley Hutchings, Kant, Critique and Politics, Routledge,
London / New York, 1996 (trata-se de um estudo sobre a presença de Kant no
pensamento de Habermas, Arendt, Lyotard, Foucault e nas teorias do feminismo);
Kyriaky Goudeli, «Kant’s Reflective Judgement: The Normalisation of Political
Judgement», Kant‑Studien, 94 (2003), pp. 51‑68; Markus Arnold, «Die harmonische
Stimmung aufgeklärter Bürger. Zum Verhältnis von Politik und Ästhetik in Im‑
manuel Kants «Kritik der Urteilskraft», Kant‑Studien, 94 (2003), pp. 24‑50.
68
Nuno Nabais, «Para uma arqueologia do lugar de Nietzsche na estéti‑
ca da pós‑modernidade», in idem, Metafísica do Trágico. Estudos sobre Nietzsche,
Relógio d’Água, Lisboa, 1997. De Habermas, v., nomeadamente, o ensaio «Die
Moderne — ein unvollendetes Projekt», in idem, Die Moderne — ein unvollendetes
Projekt. Philosophisch‑politische Aufsätze, Reclam, Leipzig, 1990, p. 44.
39
69
Sobre estes, v. a obra de J. Lenoble e A. Berten, Dire la norme. Droit, poli‑
tique et énonciation, Bruylant / LGDJ, Bruxelles / Paris, 1996, sobretudo pp. 61
‑74. Como já o propunha Philonenko, na «Introdução» à sua tradução da obra
(Critique de la Faculté de Juger, Vrin, Paris), a Crítica da Faculdade de Julgar é aquela
onde, melhor do que nas outras duas Críticas, Kant funda a intersubjectividade
humana, no que é seguido por Alain Renaut (v. deste a «Présentation» da sua
própria tradução da Critique de la Faculté de Juger (Aubier, Paris, 1995), pp. 59
‑64. Alain Renaut et Luc Ferry, Système et critique, Essais sur la critique de la rai‑
son dans la philosophie contemporaine, Ousia, Bruxelles, 1984; Alain Renaut, Kant
aujourd’hui, Flammarion, Paris, 1997 (1999).
70
De J.‑F. Lyotard, v. Leçons sur l’Analytique du Sublime, Galilée, Paris, 1991;
L’enthousiasme. La critique kantienne de l’histoire, Galilée, Paris, 1986; L’inhumain.
Causeries sur le temps, Galilée, Paris, 1988. Sobre ele, Gernot Böhme, «Lyotards
Lektüre des Erhabenen», Kant‑Studien, 89 (1998), 205‑218.
71
L’enthousiasme. La critique kantienne de l’histoire, Galilée, Paris, 1986,
pp. 30 e 61.
72
Ibidem, p. 16.
73
J.‑F. Lyotard e Jacob Rogozinski, L’Autre Journal, Dezembro de 1985,
p. 34, cit. por N. Nabais, art. cit., p. 280; J.-F. Lyotard, «Le sublime et l’avant
‑garde», in L’Inhumain, p. 115.
40
L’Inhumain, p. 149.
74
41
Kant Kritik der Urteilskraft für die Umwelterziehung, Königshausen & Neumann,
Würzburg, 1994. V. neste volume, o ensaio «Da experiência estético‑teleológica
da natureza à consciência ecológica», pp. 379 e segs.
79
V. J. M. Schaeffer, Magazine Littéraire, n.o 309, 1993, p. 37.
80
«Na Crítica do Juízo eu vi as minhas ocupações mais díspares postas
uma junto da outra; os produtos da arte e da natureza considerados do mes‑
mo modo; o juízo estético e o juízo teleológico iluminando‑se mutuamente...
Alegrava‑me que a arte poética e a ciência natural comparada fossem tão afins
uma da outra, e que ambas estivessem subordinadas à mesma faculdade de
julgar...» Goethe, Einwirkung der neueren Philosophie (1817), publicado em Zur
Morphologie, I, 2 (1820), trad. castelhana em J. W. von Goethe, Teoria de la natura‑
leza, Tecnos, Madrid, 1997, p. 182.
81
Kritik der reinen Vernunft, B XVIII-XXII, Ak III, 13‑15. V. Josef Quitterer,
Kant und die These vom Paradigmenwechsel. Eine Gegenüberstellung seiner Trans
zendentalphilosophie mit der Wissenschaftstheorie Thomas S. Kuhns, Lang, Frank‑
furt a. M. / Bern / New York, 1996.
42
82
Sob o tópico «Heurística transcendental» espero publicar em breve um
volume que reúne meia dúzia de estudos sobre aspectos da epistemologia trans‑
cendental kantiana, cuja ideia central foi já exposta no ensaio «Kant e a ideia de
uma heurística transcendental», in Razão e Liberdade. Homenagem a Manuel José
do Carmo Ferreira, CFUL, Lisboa, 2009, vol. ii, pp. 1087‑1111 (a versão em francês
deste ensaio, sob o título «L’apport de Kant au programme de l’ars inveniendi des
Modernes», foi publicada em edição electrónica in http://www.cle.unicamp.br/
Kant e‑prints, 2008). V. também Harald Karja, Heuristische Elemente der «Kritik der
teleologischen Urteilskraft», Heidelberg (Diss.), 1975; e, embora noutra linha — re‑
lendo a analítica transcendental como um programa epistemológico a partir do
neopositivismo de Carnap e de Mach —, também Zeljko Loparic, «Heurística
kantiana», Cadernos de História e Filosofia da Ciência, n.o 5, 1983, pp. 73‑89.
83
Não só este aspecto hoje é reconhecido (v. o meu ensaio «Kant e a filosofia
como análise e reinvenção da linguagem metafísica», in Leonel Ribeiro dos San‑
tos, A Razão Sensível. Estudos Kantianos, Colibri, Lisboa, 1994), como a revisitação
de certos tópicos da filosofia kantiana, tais como o esquematismo e o simbolismo,
consentem uma fecunda interpretação semiótica, do que são exemplo as varia‑
ções que sobre o tema faz Umberto Eco no seu estimulante ensaio «Kant, Peirce
e o ornitorrinco», in idem, Kant e o Ornitorrinco, Difel, Lisboa, 1999, pp. 65‑125.
V. ainda de Claudio La Rocca, Esistenza e Giudizio. Linguaggio e Ontologia in Kant,
Pisa, Edizioni ETS, 1999. Num dos capítulos desta obra, La Rocca persegue os
contornos do programa kantiano de uma «gramática transcendental» que aflora
em algumas reflexões e sobretudo nos apontamentos de alguns cursos de Kant,
com destaque para a Metaphysik Vigilantius (Ak XXVIII, 576 e segs.).
43
44
Ibidem, p. 154.
87
Lyotard, «la communauté sociale ne se reconnait pas dans les oeuvres, elle les
ignore, elle les rejette comme incompréhensibles» (L’Inhumain, p. 112); «L’art
d’avant‑garde abandonne le rôle d’identification que l’oeuvre jouait précédem‑
ment par rapport à la communauté des destinataires. Même conçu comme il
était par Kant, à titre d’horizon ou de présomption de jure plutôt que de réalité
de facto, un sensus communis (dont du reste Kant ne parle pas à propos du subli‑
me, mais seulement du beau) ne parvient pas à se stabiliser devant des oeuvres
interrogatives. C’est à peine s’il se forme, et trop tard, quand, déposées dans
les musées, ces oeuvres sont censées appartenir à l’héritage de la communauté
et disponibles pour sa culture et son plaisir.» (Ibidem, p. 115.) Para uma des‑
construção da mitologia das vanguardas estéticas e das estéticas de vanguarda,
v. Luc Ferry, Homo aestheticus. La formation du gout à l’âge democratique, Grasset,
Paris, 1990.
45
v. Paul Crowther, «The Kantian Sublime, the Avant Garde and the Postmodern:
A Critique of Lyotard», New Formations, 7 (Spring, 1989), pp. 67‑75.
90
Jacques Derrida, La vérité en peinture, Flammarion, Paris, 1978. V. Simon
Malpas, «Framing Infinities: Kantian Aesthetics After Derrida», in Andrea Berg
e Rachel Jones (eds.), The Matter of Critique. Readings in Kant’s Philosophy, Clina‑
men Press, Manchester, 2000, pp. 147‑162.
91
Andrea Rehberg e Rachel Jones, «Editor’s Introduction» a The Matter of
Critique. Readings in Kant’s Philosophy, p. xix.
92
Paul Crowther, The Kantian Sublime. From Morality to Art, Oxford, 1989;
Donald Crawford, «The Place of the Sublime in Kant’s Aesthetic Theory», in
Richard Kennington (ed.), The Philosophy of Immanuel Kant, The Catholic Uni‑
versity of America Press, Washington, D. C., 1985, pp. 161‑183.
46
Por certo, há que ter em conta a tardia inclusão desta secção na obra e
93
47
Allgemeine Naturgeschichte und Theorie des Himmels, 1755. V. o meu ensaio «Ana‑
logia e conjectura no pensamento cosmológico do jovem Kant» in Kant e‑prints,
publicação da Sociedade Kant Brasileira, secção de Campinas, série 2, v. 4, n.o 1,
Jan.‑Jun. 2009, pp. 131‑163.
98
Nuno Nabais, ob. cit., sobretudo pp. 25‑35.
99
V. Klaus Düsing, Die Teleologie in Kants Weltbegriff, Bouvier, Bonn, 1968.
100
Alexis Philonenko, «Kant et la philosophie biologique», idem, Études kan‑
tiennes, Vrin, Paris, 1982, pp. 118‑134; Peter McLaughlin, Kant’s Critique of Teleology
48
in Biological Explanation: Antinomy and Teleology, The Edwin Mellon Press, Lewis‑
ton, N. Y., 1990; Clark Zumbach, The Transcendental Science, Kant’s Conception of
Biological Methodology, Martinus Nijhoff, The Hague / Boston / Lancaster, 1984;
António Marques, Organismo e Sistema em Kant, Presença, Lisboa, 1987; Leonel
Ribeiro dos Santos, «A formação do pensamento biológico de Kant», in Ubirajara
R. de Azevedo Marques (org.), Kant e a Biologia, Barcarolla, São Paulo, 2012.
101
Gerahrd Schneider, ob. cit.; Rosario Assunto, «Kant, l’estetica della natura
e la difesa dell’ambiente», Il cannochiale (Roma), 1987, 1‑2, pp. 73‑89; Martin Seel,
«Kants Ethik der ästhetischen Natur», in R. Bubner, B. Gladigow, W. Hang (eds.),
Die Trennung von Natur und Geist. Zur Auflösung der Einheit der Wissenschaften in
der Neuzeit, W. Fink, München, 1990, pp. 181‑208; Jane Kneller, «Beauty, Auto
nomy and Respect for Nature», in H. Parret (ed.), Kants Ästhetik, Kant’s Aesthet‑
ics, L’esthétique de Kant, W. de Gruyter, Berlin / New York, 1998, pp. 403‑414;
Malcolm Budd, «Delight in the natural World: Kant on the Aesthetic Apprecia‑
tion of Nature. Part I: Natural Beauty», British Journal of Aesthetics 38 (1998), 1‑18;
idem, «Delight in the Natural World: Kant on the Aesthetic Appreciation of Na‑
ture. Part II: Natural Beauty and Morality», British Journal of Aesthetics 38 (1998),
117‑126; idem, «Delight in the Natural World: Kant on the Aesthetic Appreciation
of Nature. Part III: The Sublime in Nature», British Journal of Aesthetics 38 (1998),
233‑250; Birgit Recki, «Ideal der Schönheit und Primat der Natur», Proceedings
of the Eight International Kant Congress, Memphis 1995, Milwaukee, 1995, vol. 2,
pp. 473‑480; Leonel Ribeiro dos Santos, «Kant e o regresso à natureza como para‑
digma estético», in Cristina Beckert (coord.), Natureza e Ambiente. Representações
na Cultura Portuguesa, CFUL, Lisboa, 2001, pp. 169‑193, neste vol., pp. 349 e segs.
102
A história da hermenêutica desta peça do corpus kantiano conta-se por
uma boa meia dúzia de obras fundamentais: Erich Adickes, Kants Opus postu‑
49
mum dargestellt und beurteilt, Reuter & Reichard, Berlin, 1920; Gerhard Lehmann,
Kants Nachlasswerk und die Kritik der Urteilskraft (1939), in idem, Beiträge zur Ge‑
schichte und Interpretation der Philosophie Kants, W. de Gruyter, Berlin, 1968; Vit‑
torio Mathieu, La filosofia trascendentale e l’Opus postumum di Kant, Edizioni de
Filosofia, Torino, 1958; idem, Kants Opus postumum, V. Klostermann, Frankfurt
a. M., 1989; Burkhard Tuschling, Metaphysische und transzendentale Dynamik in
Kants Opus postumum, W. de Gruyter, Berlin, 1976; Martin Carrier (ed.), Über‑
gang: Untersuchungen zum Spätwerk Immanuel Kants, Forum für Philosophie Bad
Homburg, V. Klostermann, Frankfurt a. M., 1991; Michael Friedman, Kant and
the Exact Sciences, Harvard University Press, Cambridge, Mass., 1992; Eckart
Forster, Kant’s Transcendental Deductions: The Three Critiques and the Opus pos‑
tumum, Stanford University Press, Stanford, 1989; idem, Kant’s Final Synthesis.
An Essay on the Opus postumum, Harvard University Press, Cambridge, Mass.
/ London, 2000.
103
Les mots et les choses, Gallimard, Paris, 1966, pp. 351 e segs.
50
104
Frederik P. Van de Pitte, Kant as Philosophical Anthropologist, M. Nijhoff,
The Hague, 1971; Pasquale Salvucci, L’Uomo di Kant, Argalìa Editore, Urbino,
1975; Frank Nobbe, Kants Frage nach dem Menschen. Die Kritik der ästhetischen Urteil‑
skraft als transzendentale Anthropologie, Lang, Frankfurt a. M. / Berlin / Bern / New
York / Paris / Wien, 1995. Uma ampla e contrastada abordagem da Antropolo‑
gia Kantiana pode ver-se em: Leonel Ribeiro dos Santos, Ubirajara R. de Azeve‑
do Marques, G. Piaia, M. Sgarbi, R. Pozzo (coord.), Was ist der Mensch? Que é o
Homem? — Antropologia, Estética e Teleologia em Kant, CFUL, Lisboa, 2010.
105
Yirmiahu Yovel, Kant and the Philosophy of History, Princeton Univer‑
sity Press, Princeton, 1980; A. Philonenko, La théorie kantienne de l’histoire, Paris,
Vrin, 1986; Pauline Kleingeld, Fortschritt und Vernunft: Zur Geschichtsphilosophie
Kants, Königshausen & Neumann, Würzburg, 1995; G. Raulet, Kant. Histoire et
citoyenneté, Paris, PUF, 1996; Pierre‑Etienne Druet, La Philosophie de l’Histoire
chez Kant, Paris, L’Harmattan, 2002.
106
Klaus Nielandt, Die Relevanz der Kantischen Ethik für das theoretische Selbst
verständnis einer emanzipatorischen Pädagogik, Peter Lang, Frankfurt a. M., 1997.
107
A filosofia kantiana da religião tem sido objecto de uma intensa e fe‑
cunda reapreciação, quase como se se tratasse de uma quarta Crítica, que res‑
pondesse à questão «que me é permitido esperar»: Curtis H. Peters, Kant’s Phi‑
losophy of Hope, Peter Lang, New York, 1993; Sidney Axinn, The Logic of Hope:
Extensions of Kant’s View of Religion, Rodopi, Amsterdam / Atlanta, 1994; Gene
Fendt, For What May I Hope? Thinking with Kant and Kierkegaard, Peter Lang, New
York, 1990; Philip J. Rossi / Michael Wreen (eds.), Kant’s Philosophy of Religion
Reconsidered, Indiana University Press, Bloomington, 1991; M. J. Carmo Ferreira
e L. Ribeiro dos Santos (coords.), Religião, História e Razão da «Aufklärung» ao
Romantismo, Departamento de Filosofia da Universidade de Lisboa / Edições
Colibri, 1995 (actas do colóquio sobre A Religião nos Limites da Simples Razão,
realizado em Novembro de 1993).
108
Um expressivo exemplo deste tipo de leitura complexa e saturada, que
cruza com toda a agilidade e fecundidade o transcendental com o empírico,
o especulativo com o prático, o prático com o pragmático, o puro e o impuro
— pois é assim cruzados que na vida efectiva eles realmente se dão — é a obra
51
de Robert B. Louden, Kant’s Impure Ethics. From Rational Beings to Human Beings,
Oxford University Press, New York / Oxford, 2000.
109
Estas perguntas não são meramente retóricas. Numa obra recente sobre
o pensamento jurídico e político actual (Dire la norme. Droit, politique et énoncia‑
tion, Bruylant, 1996), J. Lenoble e A. Berten não hesitam em intitular o segundo
capítulo desta forma: «Modernité et retour à Kant», logo especificado em três
pontos: «1. Le retour à Kant dans la philosophie française; 2. Le retour à Kant
dans la philosophie allemande; 3. Le retour à Kant dans la philosophie anglo
‑saxone du droit.» Também Renaut e Ferry usam a expressão «D’ un retour à
Kant» na sua obra Système et critique. Essais sur la critique de la raison dans la
philosophie contemporaine, Ousia, Bruxelles, 1984, pp. 156 e segs.
110
Esta última questão é particularmente decisiva em Habermas e sobre‑
tudo na interpretações de Luc Ferry, para quem Kant é «o pensador da moder‑
nidade» (v. «Kant, penseur de la modernité», Magazine Littéraire, n.o 309, Abril
de 1993, pp. 18‑22.
111
Referindo-se ao Kantismo característico de muitos pensadores actuais,
Alain Renaut diz tratar-se de um «kantisme élargi» ou «assoupli», que corre
o risco de se tornar um lugar comum ganhando em extensão o que perde em
compreensão e cujo efeito pode muito bem ser a promoção de uma banalização
da filosofia de Kant. A este processo de banalização contrapõe o pensador fran‑
cês uma reconstrução do Kantismo na sua dureza e no vigor doutrinal dos seus
conteúdos (Kant aujourd’hui, pp. 19‑21).
52
112
Seja exemplo desta atitude o pensador francês Luc Ferry. Depois de con‑
fessar que o seu projecto filosófico próprio se constituiu em 1972 por ocasião da
elaboração de um ensaio sobre o sublime na Crítica do Juízo e sobre as três grandes
interpretações de Kant (hegeliana, neokantiana e heideggeriana), Ferry, que pre‑
fere falar de uma «actualidade de Kant» em vez de um «regresso a Kant» no pen‑
samento actual, declara: «Eu não posso negar uma relação forte com Kant, mas
esta relação não é a relação, algo ridícula, de discípulo de um filósofo clássico; ela
está antes ligada a uma certa concepção das tarefas da filosofia contemporânea.»
(Magazine Littéraire, n.o 309, p. 18.) Outro tanto se poderia dizer do Kantismo hete‑
rodoxo de um John Rawls ou do aproveitamento que um Apel ou um Habermas
fazem dos princípios de universalismo e de auto‑reflexão da ética kantiana para
as suas éticas da comunicação e do discurso.
113
Kritik der reinen Vernunft, B 370.
53
Esquisses kantiennes, Éditions Kimé, Paris, 1996), que se enfrenta com alguns
nódulos incómodos da filosofia kantiana (a opacidade do Eu, o mal radical, a
violência do sublime, a monstruosidade do Ungeheure) e também de um Oscar
Meo (Kantiana minora vel rariora, Il Melangolo, Genova, 2000) que percorre algu‑
mas das zonas de sombra do pensamento de Kant, esquecidas pelos intérpretes
(por exemplo os conceitos kantianos de «verdade», de «verdade transcenden‑
tal», de «lógica da verdade», de «ilusão») atento às centelhas de luz que delas
podem resultar para iluminar outros aspectos do pensamento. Na mesma linha
se pode situar o conjunto de ensaios editados por Andrea Rehberg e Rachel Jo‑
nes, The Matter of Critique. Readings in Kant’s Philosophy (Clinamen Press, Man‑
chester, 2000), como uma radicalização imanente da ideia crítica dirigida aos
próprios textos kantianos (Kant’s texts are here read against themselves and hence
are radicalised from within, p. xiv).
116
John Rawls, «The Basic Structure as Subject», American Philosophical
Quarterly, 14, 1977, p. 165. Outros ensaios de Rawls onde o próprio mede a sua
relação com Kant: «Kantian Constructivism in Moral Theory» (Three Lectures
54
55
e por Alain Renaut (Philosopphie et Droit dans la pensée de Fichte, PUF, Paris, 1985;
e também a «Introduction» à sua recente tradução da Critique de la Faculté de Ju‑
ger). Caracteriza-se este recente Neokantismo francês: 1) pela importância dada
à interpretação da terceira Crítica como via para se alcançar o significado mais
profundo de uma teoria kantiana da razão; 2) pelo reconhecimento do sentido da
finitude radical do homem, para pensar a qual a filosofia de Kant se revela muito
mais contemporânea do que a de Marx ou a de Heidegger, e 3) pelo reconheci‑
mento do alcance da filosofia de Kant no plano do direito e do político.
119
V. Mariapaola Fimiani, Foucault et Kant, Critique Clinique Esthétique,
L’Harmattan, Paris/Montréal, 1998 (ed. original italiana: Edizioni Città del
Sole, Napoli, 1997); idem, «Foucault: Rewriting Kant», in Philosophical Inquiry
(Atenas), n.o 1, 2000; Diogo Sardinha, «Actualité de Kant, Actualité de Fou‑
cault», in Kant: Posteridade e Actualidade, pp. 725‑734. Ainda está por fazer-se o
balanço da inspiração kantiana do programa foucaultiano de uma «arqueologia
do saber». Mas não há dúvida quanto à revisitação frequente da obra de Kant
por parte de Foucault, a começar pela tradução da Antropologia de um Ponto de
Vista Pragmático, para a qual escreveu uma longa introdução entretanto publi‑
cada (Vrin, Paris, 2008) juntamente com a tradução foucaultiana da obra de
Kant (na origem a tradução, introdução e notas à obra de Kant constituíram
a tese complementar do filósofo da «arqueologia do saber») até às reflexões
em torno do ensaio de Kant sobre a Aufklärung, passando por As Palavras e as
Coisas, obra onde Kant ocupa lugar privilegiado. Segundo Foucault, o ensaio
kantiano «Resposta à questão: que é a Aufklärung?» inaugura uma nova forma
de prática da filosofia como meditação da contemporaneidade, inaugura um
ethos do filosofar segundo o qual a crítica do que somos é ao mesmo tempo a
análise histórica dos limites que nos são postos e a prova da sua transposição
possível. A estratégia foucaultiana da pesquisa arqueológica e genealógica das
formas do saber e do poder, da racionalidade e dos seus limites (a loucura, a
doença, a anormalidade, a sexualidade, a repressão e a violência) poderiam
assim ser lidas como constituindo ainda um prosseguimento da investigação
transcendental que Kant inaugurou, como uma desconstrução dos pressupos‑
tos com que os humanos atribuem sentido às realidades e como em vista disso
se organizam as constelações de representações que envolvem as suas vidas.
120
Stale R. S. Finke, «Habermas and Kant. Judgement and Communica‑
tive Experience», in Philosophy and Social Criticism, 26 (2000), pp. 21‑45.
56
57
58
125
John Rawls, «A Kantian Conception of Equality», Cambridge Review,
February 1975, p. 98.
59
128
John Rawls, «Themes in Kant’s Moral Philosophy», in R. Beiner /
W. J. Booth (eds.), Kant & Political Philosophy. The Contemporary Legacy, Yale U. P.,
New Haven / London, 1993, pp. 291‑319; «A Kantian Conception of Equality»,
Cambridge Review, February 1975, pp. 94‑99; «Kantian Constructivism in Moral
Theory», The Journal of Philosophy, 77, September 1980, pp. 515‑573; «The Basic
Structure as Subject», American Philosophical Quarterly, 14, April 1977; Ch. Kuka‑
60
thas / Ph. Pettit, Rawls: «Uma Teoria da Justiça» e os Seus Críticos, Gradiva, Lis‑
boa, 1995 (orig. de 1990).
129
Já acima deixei registado o mais recente reconhecimento, por parte de
Habermas, de que afinal Kant, com a sua teoria do juízo estético, se teria apro‑
ximado dos pressupostos do a priori da sociedade comunicativa.
130
V. «Kant e a ética da linguagem», in M. J. do Carmo Ferreira (coord.),
A Génese do Idealismo Alemão, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa,
Lisboa, 2000, pp. 63‑64. Neste volume, pp. 175 e segs.
61
Grundlagen der Ethik. Zum Problem einer rationalen Begründung der Ethik
im Zeitalter der Wissenschaft», Transformation der Philosophie, Bd. 2, pp. 358‑435.
132
Idem, Diskurs und Verantwortung, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1988,
pp. 98‑99.
133
Aylton Barbieri Durão, A Crítica de Habermas à Dedução Transcendental de
Kant, Editora UEL, Londrina, 1996.
62
134
J. Habermas, «Diskursethik — Notizen zu einer Begründungspro‑
gramm», in idem, Moralbewusstsein und kommunikatives Handeln, Suhrkamp,
Frankfurt a. M., 1983, p. 75.
135
K.-O. Apel, «Diskursethik als Verantwortungsethik» («La ética del discur‑
so como ética de la responsabilidad. Una transformación posmetafísica de la ética
de Kant», in idem, Teoria de la verdade y ética del discurso, Paidós, Barcelona, 1991).
136
Tal é a acusação contra a ética kantiana (e na verdade também contra
todas as éticas da tradição ocidental) que constitui o pano de fundo da obra de
Hans Jonas, Das Prinzip Verantwortung. Versuch einer Ethik für die technologische
Zivilisation, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1979, p. 22. Idêntica acusação fora já
feita por Hannah Arendt, na sua obra Human Condition (Chicago, 1958), poucos
anos antes de a mesma autora ter descoberto as perspectivas abertas pela crítica
kantiana do juízo estético. A pp. 155‑156 dessa obra lê‑se: «The anthropocen‑
tric utilitarianism of homo faber has found its greatest expression in the kantian
formula that no man must ever become a means to an end, that every human
being is an end in himself... The same operation which establishes man as the
‘supreme end’ permits him... to degrade nature and the world into mere means,
robbing both of their independent dignity.»
63
64
ACTUALIDADE E INACTUALIDADE
DA ÉTICA KANTIANA
67
1
G. W. F. Hegel, Introdução à História da Filosofia, Edições 70, Lisboa,
p. 122.
68
gabe, ed. de G. Colli / M. Montinari, Walter de Gruyter, Berlin, 3/1, 1972. Cf. R. M.
Meyer, «Nietzsches Wortbildung», Zur deutsche Wortforschung, 15 (1914), p. 105.
3
M. Heidegger, Einführung in die Metaphysik (1935), Gesamtausgabe, Bd. 40,
V. Klostermann, Frankfurt a. M., 1983, pp. 10‑11.
69
70
Die Philosophie des Als Ob. System der theoretischen, praktischen und re‑
6
ligiösen Fiktionen der Menschheit auf Grund eines idealistischen Positivismus, Berlin,
1911, p. xiv.
71
72
73
74
75
19
V. Leonel Ribeiro dos Santos (coord.), Kant: Posteridade e Actualidade,
Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2007. Nomeadamente
os ensaios de: Marina Savi, «Il tema del Rispetto in Kant e la sua attualità»,
pp. 269‑290; Viriato Soromenho‑Marques, «Kant e a comunidade dos seres ra‑
cionais», pp. 291‑302; José Manuel Santos, «Leituras contemporâneas da ética
de Kant», pp. 621‑640; Manfred Baum, «Direito e ética na filosofia prática de
Kant», pp. 65‑76; Cristina Beckert, «Kant e Jonas: Do dualismo antropológico
ao monismo antropomórfico», pp. 735‑744.
20
Dietmar Heidemann e Kristina Engelhard (eds.), Warum Kant heute?
Systematische Bedeutung und Rezeption seiner Philosophie in der Gegenwart, Walter
de Gruyter, Berlin / New York, 2004.
21
Eu próprio publiquei nesse mesmo ano um longo estudo no qual ten‑
tava dar conta do alcance e teor deste novo movimento de «regresso a Kant» e
também aí abordava este retorno a Kant do último quarto do século xx e este
renovado interesse pela filosofia prática kantiana. V. Leonel Ribeiro dos Santos,
«Regresso a Kant. Sobre a situação actual dos estudos kantianos», Philosophica,
24, 2004, pp. 119‑182. O essencial desse estudo vai como Introdução geral a este
volume. O presente ensaio pode considerar‑se como uma explicitação do que
naquele sobre o tópico se expõe de forma condensada.
76
77
78
o cap. viii.
79
80
27
Michel Foucault, Dits et écrits, Gallimard, Paris, 1994, vol. iv, pp. 572
‑578, 631, 685‑687; vol. iii, p. 794.
81
28
V. a discussão desta interpretação no ensaio de Nythamar de Oliveira,
«Direitos humanos e universalizabilidade: Uma interpretação kantiana», Kant:
Posteridade e Actualidade, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Lis‑
boa, 2006, pp. 685‑696. V. também Heiner Bielefeldt, «Towards a Cosmopolitan
Framework of Freedom: The Contribution of Kantian Universalism to Cross
‑Cultural Debates on Human Rights», Jahrbuch für Recht und Ethik, 5 (1997),
pp. 349‑362; Clélia Aparecida Martins, «Em defesa de uma ética universal»,
Revista Portuguesa de Filosofia, 59 (2003), pp. 221‑238.
29
V. Christine Korsgaard, «Rawls and Kant: on the Primacy of the Prac‑
tical», Proceedings of the Eight International Kant Congress, Memphis, 1995, ed.
H. Robinson, vol. i, Milwaukee, Marquette University Press, 1995; Ottfried Höffe,
«Is Rawls’s Theory of Justice Really Kantian?», Ratio, 26 (1984), pp. 103-124.
82
83
84
85
39
V. J. Habermas, «Morality and Ethical Life: Does Hegel’s Critique of
Kant Apply to Discoursive Ethics?», in R. Beiner/W. J. Booth (eds.), ob. cit.,
p. 320; Delamar Volpato Dutra, Kant e Habermas: A Reformulação Discursiva da
Moral Kantiana, EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002.
86
87
88
die Grundlagen der Ethik. Zum Problem einer rationalen Begründung der Ethik
im Zeitalter der Wissenschaft», idem, Transformation der Philosophie, Suhrkamp,
Frankfurt/M., 2, pp. 358 e segs.; J. Habermas, Diskurs und Verantwortung,
Suhrkamp, Frankfurt/M., 1988; K.‑O. Apel, «Diskursethik und Verantwortung‑
sethik» (La ética del discurso como ética de la responsabilidad. Una transfor‑
mación posmetafísica de la ética de Kant», in idem, Teoria de la verdad y ética del
discurso, Paidós, Barcelona, 1991; «Diskursethik — Notizen zu einer Begründun‑
gsprogramm», idem, Moralbewusstsein und kommunikatives Handeln, Suhrkamp,
Frankfurt 1983, p. 75; idem, «Necesitamos en la actualidad una ética universalista,
o estamos ante una ideologia de poder eurocêntrica?», in V. D. García Marz — V.
Martínez Guzmán (orgs.) — Teoria de Europa, NAU Llibres, Valencia, 1993, pp. 9‑18.
89
90
University Press, Oxford, 2004), que têm por tema os tópicos da Metaphysik der
Sitten, obra tardia de Kant quase sempre esquecida ou mesmo desprezada pe‑
los intérpretes. A obra contém (pp. 409‑438) uma ampla e selecta bibliografia
organizada tematicamente por Joshua Glasgow, a qual dá bem ideia desta ver‑
dadeira redescoberta da filosofia moral kantiana e dos tópicos e campos em que
tal redescoberta se tem revelado mais fecunda. O facto de nesta secção tomar‑
mos por objectivo da nossa recensão a mais recente hermenêutica anglófona
da filosofia prática kantiana não significa que a tarefa de reavaliação da Moral
de Kant não seja igualmente empreendida noutros contextos e tradições. Refiro,
apenas como um inspirador exemplo, a obra de Michèle Cohen-Halimi, Enten‑
dre raison. Essai sur la philosophie pratique de Kant, Vrim, Paris, 2004.
91
92
Wood (Kant’s Ethical Thought, Cambridge University Press, 1999); Tomas E. Hill,
Jr. (Autonomy and Self‑Respect, Cambridge University Press, Cambridge, 1991;
Dignity and Practical Reason in Kant’s Moral Theory, Cornell University Press,
Ythaca, NY, 1992; Respect, Pluralism, and Justice: Kantian Perspectives, Oxford
University Press, Oxford, 2000); Stephen Engstrom (Aristotle, Kant and the Stoics:
Rethinking Happiness and Duty, Cambridge University Press, Cambridge, 1996);
Onora O’Neill (Constructions of Reason: Explorations of Kant’s Practical Philosophy,
Cambridge University Press, Cambridge, 1989); Barbara Herman (The Practice
of Moral Judgment, Harvard University Press, Cambridge, MA, 1993); Jerome
Schneewind, Robert Louden, Nancy Sherman, Christine Korsgaard (v. infra).
46
Constructions of Reason. Explorations of Kant’s Practical Philosophy, Cam‑
bridge University Press, 1989.
93
47
Ibidem, p. ix.
94
48
Harvard University Press, Cambridge, Mas. / London, 1993.
95
96
51
Ob. cit., pp. ix‑x.
52
Ob. cit., pp. xi‑xii.
97
Dignity and Practical Reason, Cornell University Press, Ithaca, NY, 1992; Respect,
Pluralism and Justice: Kantian Perspectives, Oxford University Press, Oxford, 2001.
54
Harvard University Press, 2000; trad. francesa: Leçons sur l’histoire de la
philosophie morale, La Découverte, Paris, 2002.
55
Cambridge University Press, Cambridge / New York, 1998.
56
Ob. cit., p. 15.
98
57
Ob. cit., p. 619.
58
Cambridge University Press, 1997.
59
Cambridge University Press, Cambridge, 1996.
99
60
Christine M. Korsgaard aborda e discute este tema directamente no seu
ensaio «Aristotle and Kant on the source of value», in idem, Creating the Kingdom
of Ends, pp. 225‑248.
61
Oxford University Press, Oxford / New York, 2000.
100
62
Ibidem, «Preface».
101
102
103
104
Cosmogony as in his Essay on the Retardation of the Rotation of the Earth and his
Natural History and Theory of the Heavens, Glasgow, 1900, reimpr. Thoemes Press,
Bristol, 1993.
105
106
2
Ak III, 447.
3
Refl. 6165, Ak XVIII, 473.
107
4
Ak IX, 270.
108
5
Ak I, 319‑321.
109
6
Ak I, 365. V. o meu ensaio «Analogia e conjectura no pensamento cos‑
mológico do jovem Kant», apresentado no Colóquio da Secção de Campinas da
Sociedade Kant Brasileira, 18‑22 de Maio de 2008, publicado na revista electró‑
nica: http://www.cle.unicamp.br/Kant‑e‑prints.
110
7
Ak I, 359.
8
Tenha‑se presente que na época o último planeta conhecido do sistema
solar era Saturno: os quatro primeiros planetas (Mercúrio, Vénus, Terra e Mar‑
te) eram tidos por telúricos, os dois últimos (Júpiter e Saturno) eram tidos por
gasosos. A Terra partilha com Marte da posição média dentro do sistema.
9
Ak I, 365, 366.
111
Ak I, 366.
10
112
13
Ak I, 359.
14
Bemerkungen zu Beobachtungen, Ak XX, 41.
15
Refl. 6091, Ak XVIII, 448; Idee, Ak VIII, 23.
113
16
Como Bruno (De l’infinito, universo e mondi, 1583), Kepler (Le songe ou
Astronomie lunaire, 1634), Campanella (Apologia pro Galileo, 1622), Descartes
(Correspondance avec Burman), Christian Huyghens (Cosmotheoros sive de terris
coelestibus earumque ornatu conjecturae, 1698), etc.
17
Como Robert Burton (The Anatomy of Melancholy, 1638), Pierre Borel
(Discours nouveau prouvant la pluralité des mondes, que les astres sont des terres
habités et la terre une étoille, 1657), François Bernier, John Wilkins, Cyrano de Ber‑
gerac (Voyage dans la Lune, L’Autre Monde ou les États et Empires de la Lune, 1657)
e Fontenelle (Entretien sur la pluralité des mondes, 1687).
114
115
21
Refl. 5542, Ak XVIII, 213.
22
Grundl., Ak IV, 408.
23
Anthropologie, Ak VII, 332. V. Viriato Soromenho‑Marques, «Kant e a
comunidade dos seres racionais. Quatro notas críticas», in Leonel Ribeiro dos
Santos (org.), Kant: Posteridade e Actualidade, CFUL, Lisboa, 2006, pp. 291‑301. V.
ainda: Steven J. Dick, Plurality of the Worlds: The Origin of the Extraterrestrial Life
Debate from Democritus to Kant, Cambridge University Press, Cambridge, 1982;
J. Crowe, The Extraterrestril Life Debate 1750‑1900, The Idea of a Plurality of Worlds
from Kant to Lowel, Cambridge U. P., Cambridge, 1986.
116
(1967), 224‑236.
25
Träume, Ak II, 332: «Die menschliche Seele würde ... schon in den ge‑
genwärtigen Leben als verknüpft mit zwei Welten zugleich müssen angesehen
werden.»
26
«Mithin hat es zwei Standpunkte, daraus es sich selbst betrachten und
Gesetze des Gebrauchs seiner Kräfte, folglich aller seiner Handlungen erken‑
nen kann, einmal, so fern es zur Sinnenwelt gehört, unter Naturgesetzen (He‑
teronomie), zweytens, als zur intelligibilen Welt gehörig, unter Gesetzen, die,
von der Natur unabhängig, nicht empirisch, sondern bloss in der Vernunft ge‑
gründet sind.» Grundl. IV, 452; ibidem, 450‑1, 453, 454, 455, 458, 462.
27
Grundl., Ak IV, 456: «... und dass beide nicht allein gar wohl beisammen
stehen können, sondern auch als nothwendigen vereinigt in demselben Subject
gedacht werden müssen.»
117
118
30
Allg. Nat., Ak I, 246.
31
Ak V, 464‑465.
32
Ak IV, 357‑358.
119
120
33
Ak VI, 449.
121
123
124
1
«The anthropocentric utilitarianism of homo faber has found its greatest
expression in the kantian formula that no man must ever become a means to
an end, that every human being is an end in himself. […] The same operation
which establishes man as the ‘supreme end’ permits him […] to degrade nature
and the world into mere means, robbing both of their independent dignity.» The
Human Condition, Chicago University Press, 1958, pp. 155-156.
2
«Alle traditionelle Ethik ist anthropozentrisch.» Das Prinzip Verant‑
wortung, Versuch einer Ethik für die technologische Zivilisation, Frankfurt/M.,
Suhrkamp, 1984 (1.a ed. 1979), p. 22.
125
3
«Es ist zumindest nicht mehr sinnlos, zu fragen, ob der Zustand der
aussermenschlichen Natur, die Biosphäre als Ganzes und in ihren Teilen, die
jetzt unserer Macht unterworfen ist, eben damit ein menschliches Treugut ge‑
worden ist und so etwas wie einen moralischen Anspruch an uns hat — nicht
nur um unsretwillen, sondern auch um ihrer selbst willen und aus eigenem
Recht. Wenn solches der Fall wäre, so würde es kein geringes Umdenken in den
Grundlagen der Ethik erfordern. Es würde bedeuten, nicht nur das menschliche
Gut, sondern auch der Gut aussermenchlicher Dinge zu suchen, das heisst die
Anerkennung von ‘Zwecken an sich selbst’ über die Sphäre des Menschen hi‑
naus auszudehnen und die Sorge dafür in den Begriff des menschlichen Guts
einzubeziehen.» Ibidem, p. 29.
4
Roland Beiner, «Kant, the Sublime, and Nature», in Roland Beiner / Wil‑
liam James Booth (eds.), Kant & Political Philosophy, Chicago University Press,
1993, pp. 276-288.
5
«For Pascal, the post-Copernican universe was a source of terror and des‑
peration. For Nietzsche, the Copernican revolution was perceived as a tremen‑
dous liberation. For Kant, it posed a consummate challenge — a challenge that
was ultimately met in the analytic of the sublime in the Critique of Judgment. To
give a name to Kant’s solution, one might call it, somewhat provocatively, the
‘anthropological narcissism’ of Kant’s account of the sublime: man gazes up at
the heavens and apprehends... himself.» Ibidem, p. 283.
126
I. Kant, Grundlegung zur Metaphysik der Sitten, Ak IV, 429. Salvo indica‑
6
127
128
7
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 210.
129
8
Gianozzo Manetti, De dignitate et excellentia hominis (1452), ed. crit. de
E. R. Leonard, Antenore, Padova, 1975.
9
Giovanni Pico della Mirandola, Oratio de hominis dignitate (1486), Opera
Omnia, G. Olms, Hildesheim, 1969, vol. i, p. 314.
10
Nicolau de Cusa, De venatione sapientiae, cap. 32 (ed. da Academia de
Heidelberg, Felix Meiner, Hamburg, vol. xii, p. 91) : «Est igitur ordo univer‑
si prima et praecisior imago aeternae et incorruptibilis sapientiae, per quem
tota mundi machina pulcherrime et pacifice persistit. Quam pulchre copulam
universi et microcosmum, hominem, in supremo sensibilis naturae et infimo
intelligibilis locavit, conectens in ipso ut in medio inferiora temporalia et supe‑
riora perpetua.» No De docta ignorantia, III, cap 3: «Quapropter natura media,
quae est medium conexionis inferioris er superioris, est solum illa, quae ad
maximum convenienter elevabilis est potentia maximi infiniti dei. Nam cum
ipsa intra se complicet omnes naturas, ut supremum inferioris et infimum su‑
perioris, si ipsa secundum omnia sui ad unionem maximitatis ascenderit, om‑
nes naturas ac totum universum omni possibili modo ad summum gradum in
ipsa pervenisse constat. Humana vero natura est illa, quae est supra omnia dei
130
131
«Homo nichil est omnium et a Natura extra omnia factus et creatus est:
13
132
14
Nietzsche lê a empresa de Copérnico como o início do cada vez mais
acelerado afastamento do homem do centro para ... o nada, um processo que
se consuma não só na ciência moderna, mas também na própria autocrítica do
conhecimento levada a cabo por Kant. Genealogie der Moral, Sämtliche Werke,
DTV/ W. de Gruyter, Berlin, 1980, Bd. V, 404.
15
Kritik der praktischen Vernunft, Ak V, 162.
16
V. Paolo Rossi, «A pluralidade dos mundos e o fim do antropocentris‑
mo», in idem, A Ciência e a Filosofia dos Modernos. Aspectos da Revolução Científica,
UNESP, São Paulo, pp. 215-263.
17
Johannes Kepler, Mysterium Cosmographicum (1596), Gesammelte Werke,
C. H. Beck, München, Bd. VIII, pp. 90-91.
18
Martin Heidegger, Über den Humanismus, Vittorio Klostermann, Frank‑
furt a. M., 1949.
133
19
Nem os mais avisados espíritos evitam esse juízo fácil. É o caso de Clau‑
de Lévi-Strauss, muitas vezes acusado de defender um anti-humanismo, que
dessa acusação se defende nestes termos: «Ce contre quoi je me suis insurgé,
et dont je ressens profondément la nocivité, c’est cette espèce d’humanisme
dévergondé issu, d’une part, de la tradition judéo-chrétienne, et, d’autre part,
plus près de nous, de la Renaissance et du cartésianisme, qui fait de l’homme
un maître, un seigneur absolu de la création.» Claude Lévi-Strauss, «Entretien»,
Le Monde (21 janvier 1979), p. 4. Num sentido contrário, sublinhando a dupla
linhagem hebraica e grega do antropocentrismo, vai John Passmore, «Man as
Despot», in Man’s Responsability for Nature, Duckworth, London, 1980, p. 17. Em
particular, no pensamento dos estóicos, e pese embora o que se poderia consi‑
derar o paradigma fisiocêntrico do estoicismo, é comum a ideia de que «todas
as coisas foram feitas para o homem», como se lê em Cícero (De natura deo‑
rum, 2.53, 2.61) e será repetido por Marco Aurélio. Sobre esta versão estóica do
antropocentrismo, v. Alan J. Holland, «Fortitude and Tragedy: The Prospects
for a Stoic Environmentalism», in Laura Westra / Thomas M. Robinson (eds.),
The Greeks and The Environment, Rowman & Littlefield Publ., Lanham / New
York / Boulder / Oxford, 1997, pp. 151-166. Para o mesmo tema no pensamento
oriental, v. o volume de ensaios editado por J. Baird Callicott e Roger T. Ames,
134
135
22
Essa consciência era, porém, ainda muito presente a Pico della Miran‑
dola, e está expressa no cap. vii da parte v do seu Heptaplus (Opera Omnia, ed.
1557-1573, reimpr.: Olms, Hildesheim, 1969, p. 39): «Homini mancipantur ter‑
restria, homini fauent coelestia, quia & coelestium & terrestrium uinculum &
nodus est, nec possunt utraque haec non habere cum eo pacem, si modo ipse
decum pacem habuerit, qui illorum in seipso pacem & foedera sancit. At cauea‑
mus quaeso, ne in tanta dignitate constituti non intelligamus: Verum illud ante
oculos semper animi habeamus, uti & certam & exploratam & indubiam ueri‑
tatem, sicuti fauent omnia nobis eam legem servantibus quae nobis est data,
ita si per peccatum per legis praeuaricationem de orbita defecerimus, omnia
aduersa infesta inimicaque habituros.» Quanto a Francis Bacon, ele apenas deu
voz a um sentimento que se desenvolvera no Renascimento e que associava os
ilimitados poderes reconhecidos ao homem sobre a natureza a um outro mo‑
tivo bíblico, retirado também do relato da criação, segundo o qual o homem,
imago Dei e criado ad similitudinem Dei, verdadeiramente se reconhece como um
«deus na terra» (tema que encontramos sob diversas formas em pensadores
tão diferentes e distantes quanto Coluccio Salutati, Nicolau de Cusa, Giannozzo
Manetti, Marsilio Ficino, Cornélio Agripa de Nettesheim, Francis Bacon, Johan‑
nes Kepler e Thomas Hobbes). Giordano Bruno dá dele um sugestivo desen‑
volvimento num dos seus diálogos morais: «Os deuses deram ao homem o
intelecto e as mãos e fizeram-no semelhante a eles, dando-lhe o poder sobre
os outros animais; o qual consiste não só em poder operar segundo a natureza
e o seu modo ordinário, mas, além disso, em operar fora das leis da natureza;
ou seja, formando ou podendo formar outras naturezas, outros cursos, outras
ordens com o engenho, com aquela liberdade sem a qual ele não teria a dita
semelhança, e assim fosse o deus na terra.» Lo Spaccio della bestia trionfante,
Opere italiane, II, Bari, Laterza, 1927, p. 152. O tópico do «homo quidam deus
in mundo», embora se possa considerar como sendo de originária inspiração
bíblica, recebe contudo uma enorme amplificação e desenvolvimento em dois
tratados do Corpus Hermeticum que vieram a ter larga difusão e influência no
Renascimento, o Asclepius e o Pimandro. V. o nosso ensaio «O humano, o inu‑
mano e o sobre-humano no pensamento antropológico do Renascimento», in
O Espírito da Letra — Ensaios de Hermenêutica da Modernidade, INCM, Lisboa,
2007, pp. 59-71.
136
23
F. Bacon, De sapientia veterum (1609), The Works of F. B., ed. cit., vol. vi,
pp. 670-671.
24
Como amplamente mostrou Frances Yates, sobretudo na sua obra Gior‑
dano Bruno and the Hermetic Tradition, Chicago, 1964. V. também Brian Vickers
(ed.), Occult and Scientific Mentalities in the Renaissance, Cambridge University
Press, Cambridge, 1984.
25
Protágoras, DK 80, B 1.
26
Ninguém insistiu mais nesta vertente interpretativa do que Martin Hei‑
degger, que vê a metafísica cartesiana da subjectividade apenas como uma ra‑
dicalização da sentença do sofista Protágoras. V. M. Heidegger, «Die Zeit des
Weltbildes», Holzwege (trad. portuguesa de Alexandre Franco de Sá: «O tempo
da imagem do mundo», Caminhos da Floresta, F. C. Gulbenkian / Centro de Fi‑
losofia da Universidade de Lisboa, 2001).
27
R. Descartes, Discours de la Méthode, Œuvres, ed. Ch. Adam-P. Tannery,
(reimpr. Paris, Vrin, 1996), vol. vi, p. 62.
137
138
34
Kritik der reinen Vernunft, B 294, Ak III, 202.
35
Ibidem.
36
Kritik der reinen Vernunft, B 753, Ak III, 476.
139
140
141
37
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 430-431.
38
Kritik der Urteilskraft , Ak V, 449-450.
142
auf welches Alles in der Welt Beziehung hat, die aber unter einander sich wied‑
er als wechselseitige Mittel auf einander beziehen.» Vorl. ü. phil. Religionslehre,
ed. K. H. L. Politz, Leipzig, 1830 (reimpr. WBG, Darmstadt, 1982), p. 195.
143
Schöpfung, aber kein Centrum, wozu er sich doch gern macht.» Refl. 1482,
Ak XV, 662
42
Allgemeine Naturgeschichte und Theorie des Himmels, Ak I, 359, 365-366.
43
Opus Postumum, Ak XXI, 29-31.
144
44
Michel Foucault, Les mots et les choses, Paris, 1966 (trad. portuguesa:
As Palavras e as Coisas, Lisboa, Portugália, s. d., pp. 443 e segs).
145
45
«Der Mensch im System der Natur (homo phaenomenon, animal rationale)
ist ein Wesen von geringer Bedeutung und hat mit den übrigen Tieren, als
Erzeugnissen des Bodens, einen gemeinen Wert (pretium vulgare). Selbst, dass er
vor diesen den Verstand voraus hat, und sich selbst Zwecke setzen kann, das gibt
ihm doch nur einen äusseren Wert seiner Brauchbarkeit (pretium usus), nämlich
eines Menschen vor dem anderen, d. i. ein Preis, als einer Wäre, in dem Verkehr
mit diesen Tieren als Sachen, wo er doch noch einen niedrigen Wert hat, als das
allgemeine Tauschmittel, das Geld, dessen Wert daher ausgezeichnet (pretium
eminens) gennant wird. Allein der Mensch als Person betrachtet, d. i. als Subjekt
einer moralisch-praktischen Vernunft, ist über allen Preis erhaben; denn als ein
solcher (homo noumenon) ist er nicht bloss als Mittel zu anderer ihrem, ja selbst
seinen eigenen Zwecken, sondern als Zweck an sich selbst zu schätzen, d. i. er
besitzt eine Würde (einen absoluten innern Wert), wodurch er allen andern ver‑
nünftigen Weltwesen Achtung für ihn abnötigt.» Tugendlehre, § 11, Ak VII, 434
‑435. Über Pädagogik, (ed. Weischedel, 10, 749): «Der Mensch in seinem Innern
eine gewisse Würde habe, die ihn vor allen Geschöpfen adelt, und seine Pflicht
ist es, diese Würde der Menschheit in seiner eignen Person nicht zu verleugen.»
46
«Der Mensch ist zwar unheilig genug, aber die Menschheit in seiner
Person muss ihm heilig sein. In der ganzen Schöpfung kann alles, was man
will, und vorüber man etwas vermag, auch blos als Mittel gebraucht werden;
nur der Mensch und mit ihm jedes venünftige Geschöpf ist Zweck an sich
selbst.» Kritik der praktischen Vernunft, Ak V, 87.
146
47
«Und hierin liegt eben das Paradoxon: dass bloss die Würde der Men‑
schheit als vernünftiger Natur ohne irgend einen andern dadurch zu errei
chenden Zweck oder Vortheil, mithin die Achtung für eine blosse Idee dennoch
zur unnachlässlichen Vorschrift des Willens dienen sollte, und dass gerade in
dieser Unabhängigkeit der Maxime von allen solchen Triebfedern die Erhaben‑
heit derselben bestehe und die Würdigkeit eines jeden vernünftigen Subjects,
ein gesetzgebendes Glied im Reiche der Zwecke zu sein; denn sonst würde es
nur als dem Naturgesetze seines Bedürfnisses unterworfen vorgestellt werden
müssen.» Grundlegung, Ak IV, 439.
147
48
«Handle so, dass du die Menschheit sowohl in deiner Person, als in der
Person eines jeden andern jederzeit zugleich als Zweck, niemals bloss als Mittel
brauchst.» Grundlegung, Ak IV, 429.
148
«Denn ich stütze mich auf meine angeborne Pflicht, in jedem Gliede
49
der Reihe der Zeugungen — worin ich (als Mensch überhaupt) bin... — so auf
die Nachkommenschaft zu wirken, dass sie immer besser werde ... und dass so
diese Pflicht von einem Gliede der Zeugungen zum andern sich rechtmässig
vererben könne.» Über den Gemeinspruch, Ak VIII, 308-309.
149
50
Rechtslehre, Ak VI, 262; Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 357-358. V. o meu
ensaio «Republicanismo e cosmopolitismo. A contribuição de Kant para a
formação da ideia moderna de federalismo», in Ernesto Castro Leal (org.),
O Federalismo Europeu — História, Política e Utopia, Edições Colibri, Lisboa, 2001,
pp. 59-60. Retomado neste volume, pp. 463-464.
51
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 360.
150
de como fim em si mesma como a garantia para que sejam respeitados os direitos
dos homens: «Denn da leucht klar ein, dass der Übertreter der Rechte der Mens‑
chen, sich der Person anderer bloss als Mittel zu bedienen, gesonnen sei, ohne in
Betracht zu ziehen, dass sie als vernünftige Wesen jederzeit zugleich als Zwecke,
d. i. nur als solche, die von eben derselben Handlung auch in sich den Zweck
mussen enthalten können, geschätzt werden sollen.» Grundlegung, Ak IV, 430.
53
«Das Recht der Menschen muss heilig gehalten werden, der herrschenden
Gewalt mag es auch noch so grosse Aufopferung kosten. […] Alle Politik muss
ihre Kniee vor dem erstern beugen.» Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 380. V. tam‑
bém Reflexion 7308, Ak XIX, 308: «Heilig ist nichts auf der Welt als die Rechte
der Menschheit in unserer Person und das Recht der Menschen.»
151
54
Eine Vorlesung über Ethik, ed. de G. Gerhardt, Fischer Verlag, Frankfurt a.
M., 1990, p. 135.
55
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 449.
152
56
Ak I, 431.
153
Ak I, 456.
57
«Der Mensch […] sich lediglich als das einzige Ziel der Anstalten Gottes
58
ansieht, gleich als wenn diese kein anderer Augenmerk hatten als ihn allein […]
Wir sind ein Theil... und wollen das Ganze sein.» Ak I, 460.
59
Idee zu einer allgemeinen Geschichte in weltbürgerlicher Absicht, Ak VIII, 18.
60
Ak XX, 153.
154
61
Ph. Geographie, Ak IX, 298.
62
Ak IX, 295.
63
Ak IX, 253.
155
64
V. o início do livro i do Émile ou de l’éducation (ed. de Charles Wirz, Galli‑
mard, Paris, 1969, p. 81).
65
Ph. Geographie, Ak IX, 266, 269.
156
66
Ak IX, 270.
67
Refl. 6091, Ak XVIII, 447.
68
Refl. 6165, Ak XVIII, 473.
157
69
Refl. 5542, Ak XVIII, 213.
70
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 430 e segs.
71
Tema pouco explorado da ética kantiana, é este todavia um tópico es‑
sencial para lhe dar coerência. V. A. Rigobello (ed.), Il «regno dei fini» in Kant,
I. I. S. F., Napoli, 1969; idem (ed.), Ricerche sul «regno dei fini» kantiano, Bulzoni,
Roma, 1974; Alberto Pirni, Il «regno dei fini» in Kant. Morale, religione, politica in
collegamento sistematico, Il Melangolo, Genova, 2000.
72
«Es könnte wohl sein: dass auf irgend einem anderen Planeten vernünfti‑
ge Wesen wären...» Anthropologie in pragmatischer Hinsicht, Ak VII, 332. Sobre esta
questão, v. Steven J. Dick, Plurality of Worlds: The Origins of the Extraterrestrial Life
Debate from Democritus to Kant, Cambridge University Press, 1982.
73
«... sein Gesetz von so ausgebreiteter Bedeutung sei, dass es nicht bloss
für Menschen, sondern alle vernünftige Wesen überhaupt, ... als allgemeine
Vorschrift für jede vernünftige Natur ... für Gesetze der Bestimmung des Wil‑
lens eines vernünftiges Wesens überhaupt.» Grundlegung, Ak IV, 408. V. Viriato
Soromenho-Marques, «Kant e a comunidade de seres racionais. Quatro notas
158
159
76
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 267.
77
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 249.
78
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 268.
79
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 380.
160
161
81
Sobre as éticas (antigas e modernas) de matriz naturalista, v. Maximilien
Forschner, Über das Handeln im Einklang mit der Natur, WBG, Darmstadt, 1998.
162
163
84
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 176-179.
85
Muthmasslicher Anfang der Menschengeschichte, Ak VIII, 115.
164
86
«... vollkommene Kunst wieder Natur wird: als welches das letzte Ziel
der sittlichen Bestimmung der Menschengattung ist.» Ak VIII, 117-118.
165
87
Cf. David Hume, A Treatise of Human Nature, Book III, ed. Fontana / Col‑
lins, London/Glasgow, 1978, vol. ii, p. 203; G. E. Moore, Principia Ethica (1903),
reimpr. Cambridge University Press, 1965.
88
Eine Vorlesung über Ethik, 37.
166
Ibidem, 48-49.
89
91
«Also alle Pflichten gegen Tiere, andere Wesen und Sachen zielen indi‑
rekt auf die Pflichten gegen die Menschheit ab.» Eine Vorlesung über Ethik, 258.
167
92
Aparentemente pouco promissora, a tese kantiana encontra eco em al‑
guns pensadores contemporâneos que abordam as questões da natureza, do
ambiente e dos animais na perspectiva ética. V., nomeadamente: Holmes Rols‑
ton III, «Rights and Responsabilities on the Home Planet», The Yale Journal of
International Law, 18 (1993), pp. 251-279; Dominique Bourg, «Posfácio: Moder‑
nidade e natureza», in idem (dir.), Os Sentimentos da Natureza, Instituto Piaget,
Lisboa, 1997, pp. 243-263. Aqui se lê (p. 248): «A ideia de um direito da natu‑
reza, considerada como tendo um valor intrínseco, é insustentável, pois este
valor existe apenas para a humanidade e tanto quanto ela própria o conceda à
natureza.»
168
93
Tugendlehre, Ak VI, 442.
169
170
96
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 299.
97
Tugendlehre, Ak VI, 443.
98
Eine Vorlesung über Ethik, 257.
171
VI. Conclusão
99
Ibidem.
172
100
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 299.
173
101
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 442.
174
1
«Die Wahrheit ist nun eine nothwendige Pflicht des Menschen. Wahrheit
in Ansehung dessen was wir sagen und in uns denken, aufrichtige Gesinnun‑
gen in Ansehung Göttes und der Religion, das ist eine Bedingung unter der
alles Betragen einen Werth hat.» Immanuel Kant, Praktische Philosophie Powal‑
ski, Vorlesungen über Moralphilosophie, Kants Gesammelte Schriften, Akademie
‑Ausgabe [Ak] XXVII, 232.
2
V. Albrecht Welmer, Ethik und Dialog. Elemente der moralischen Urteils
bei Kant und in der Diskursethik, Suhrkamp, Frankfurt / M., 1986, sobretudo o
cap. 3 (pp. l14‑172): «Ansätze einer Vermittlung zwischen Kantiscber und Dis‑
kursethik.» Pode ler‑se também com proveito a obra de J. Lenoble e A. Ber‑
ten, Dire la norme. Droit, politique et énontiation, L. G. D. J.‑Bruylant, Paris, 1996,
pp. 75‑89.
175
176
177
6
Über ein vermeintes Recht, Ak VIII, 423. Não é minha intenção analisar ou
discutir na economia deste ensaio a subtil e aparentemente moderada tese de
Constant e confrontá‑la com a posição aparentemente extremista e rigorista de
Kant a respeito do princípio segundo o qual «dizer a verdade é um dever». A
subtileza de Constant reside nas distinções que introduz na consideração dum
problema que labora num paradoxo, pois, como ele diz, se o princípio segundo
o qual «dizer a verdade é um dever», considerado isoladamente é inaplicável
e se fosse aplicado absolutamente destruiria a sociedade, também é verdade
que, se o recusamos, toda a sociedade será igualmente destruída, pois todos
os fundamentos da moral e da vida jurídica seriam arrasados. Constant não
recusa o princípio, e considera mesmo que um princípio reconhecido como ver‑
dadeiro não deve ser nunca abandonado, quaisquer que sejam os seus perigos
aparentes. Todavia, introduz na apreciação do princípio as condições da sua
aplicação e o que chama os princípios intermédios entre o princípio absoluto
e a respectiva aplicação. Assim: «Dizer a verdade é um dever. Mas que coisa é
um dever? A ideia de dever é inseparável da de direito: um dever é aquilo que,
num indivíduo, corresponde aos direitos de um outro. Onde não há direitos,
também não há deveres. Dizer a verdade é, por conseguinte, um dever mas
somente em relação àqueles que têm o direito à verdade [droit à la vérité]. Ora
nenhum homem tem direito a uma verdade que prejudica os outros. Eis como
me parece que o princípio seja aplicável. Definindo‑o, descobrimos o nexo que
o unia a um outro princípio e a conexão destes dois princípios forneceu‑nos a
solução para a dificuldade com que nos confrontávamos.» (V. na trad. italiana
de Silvia Manzoni e Elisa Tetamo, La verità e la menzogna, pp. 211‑213.) Para um
confronto entre as posições de Kant e de Constant, v., para além da introdução
de Andrea Tagliapietra a La verità e la menzogna, também Zeljko Loparic, «Kant
e o pretenso direito de mentir», in José Oscar de Almeida Marques (org.), Verda‑
des e Mentiras. 30 Ensaios em Torno de Jean‑Jacques Rousseau, Editora Unijuí, Ijuí,
2005, pp. 73‑97.
7
O exemplo mais próximo é o que surge no citado § 9 («Sobre a mentira»)
da Metafisica dos Costumes, Doutrina da Virtude (Ak VI, 431), que Kant estava a
redigir por essa mesma época. Aí Kant dá o exemplo de um criado que mente
negando a presença em casa do seu senhor, procurado pela polícia. Segundo
178
179
180
13
«Es kann sein, dass nicht Alles wahr ist, was ein Mensch dafür halt (denn
er kann irren): aber in Allem, was er sagt, muss er wahrhaft sein (er soll nicht
täuschen): es mag nun sein, dass sein Bekenntniss bloss innerlich (vor Gott)
oder auch ein äusseres sei. — Die Übertretung dieser Pflicht der Wahrhaftigkeit
heisst die Lüge; weshalb es äussere, aber auch eine innere Lüge geben kann:
[...] — Eine Lüge aber, sie mag innerlich oder äusserlich sein, ist zwiefacher Art:
1) wenn man das für wahr ausgibt, dessen man sich doch als unwahr bewusst
ist, 2) wenn man etwas für gewiss ausgiebt, wovon man sich doch bewusst ist
subjectiv ungewiss zu sein.» Verkündigung, Ak VIII, 421.
181
14
«Hiob […] der die gewissenhaftete Redlichkeit zum Princip aller seiner
Glaubenaussprüche machte; ein Grundsatz von dem man weil er so klar
einleuchtet vermuthen sollte er werde allgemein seyn der aber wegen eines
eingewurtzelten Hanges des Menschen zur Unlauterkeit Falschheit die bis zur
inneren Lüge geht.» Vorarbeit zu Über das Misslingen aller philosophischen Versuche in
der Theodicee, Ak XXIII, 85. V. a bela invocação à sinceridade (Aufrichtigkeit) como
fundamento da consciência moral e de toda a religião, em Die Religion, Ak VI, 190.
Veja-se, neste volume, o ensaio «A teologia de Job, segundo Kant», pp. 267-299.
15
Metaphysik der Sitten, Ak VI, 429.
16
Metaphysik der Sitten, Ak VI, 430.
182
183
184
der Freiheit nicht (gleich einer physischen Wirkung) nach dem Naturgesetzen
des Zusammenhanges der Wirkung und ihrer Ursache, welche insgesammt
Erscheinungen sind, deducirt und erklärt werden kann.» Metaphysik der Sitten,
Ak VI, 429‑431. Kant relaciona a passagem do Evangelho de João (Jo, 8, 44) com a
do Génesis (Gn, 3, 13), onde a serpente é apresentada como aquela que «enganou»
Eva. A serpente é o símbolo da mentira, ao passo que a linha recta é a imagem
da verdade. Lutero, nos seus Tischreden, faz o seguinte comentário: «A serpente
é a imagem da mentira. Pois ela torce‑se sempre, quer corra quer esteja parada,
só quando está morta fica direita.» (Die Schlange ist das Abbild der Lüge. Denn
sie windet sich immer, ob sie lauft oder ob sie liegt, nur wenn sie tot ist, ist sie
gerade.) Martin Luther, Tischreden, ed. de Kurt Aland, Stuttgart, Reclam. 1960,
p. 230. Esta exegese não era desconhecida de Kant, segundo se pode concluir de
uma passagem dos seus Cursos de Filosofia Moral: «Die Wahrheit ist immer eine
rectitudo, die Lüge aber eine Schlangen Linie.» Praktische Philosophie Powalski,
Vorlesungen über Moralphilosophie, Ak XXVII, 231.
21
«Die Lüge (vom Vater der Lügen, durch den alles Böse in die WeIt ge‑
kommen ist) ist der eigentliche faule Fleck in der menschliche Natur.» Verkün‑
digung, Ak VIII, 422.
22
Entwurf eines Briefes an Fräulein Maria von Herbert, Ak XI, 332.
23
Passagens há onde Kant associa o carácter moral à mentira ou à ve‑
racidade (v. supra, nota 12). Assim, enquanto o corajoso ama incondicional‑
mente a verdade, o mentiroso é um cobarde (no que Kant retoma um motivo
que havia sido exposto por Montaigne). «Ein Lügner ist em feiger Mensch...
Ein Herzhafter aber wird die Wahrheit lieben und keinen casus necessitatis
stattfinden lassen.» (Eine Vorlesung über Ethik, ed. Gerd Gerhardt, p. 245.) Sobre
o tema em Montaigne, v. Essais, II, chap. 18, Œeuvres, Seuil, Paris, p. 276.
185
24
Die Religion, Ak VI, 43. Kant insiste na incompreensibilidade (Unbegrei‑
flichkeit), na insondabilidade (bleibt uns unerforschlich), na falta de uma razão
compreensível que explique a nossa tendência para o mal (für uns ist also kein
begreiflicher Grund da).
25
«Diese Unredlichkeit, sich selbst blauen Dunft vorzumachen, welche
die Gründung ächter moralischer Gesinnung in uns abhält, erweitert sich denn
auch äusserlich zur Falschheit und Täuschung anderer, welche, wenn sie nicht
Bösheit genannt werden soll, doch wenigstens Nichtswürdigkeit zu heissen
verdient, und liegt in dem radicalen Bösen der menschlichen Natur welches
[…] den faulen Fleck unserer Gattung ausmacht.» Die Religion, Ak VI, 38.
186
187
29
Verkündigung, Ak VIII, 426.
30
Entwurf eines Briefes an Fräulein Maria von Herbert, Ak XI, 332.
31
Ak XX, 153.
188
Eine Vorlesung über Ethik, ed. Gerhardt, Fischer, Frankfurt / M., 1990, p. 240.
32
33
«Jede Lüge ist was Verwerfliches und Verachtungswürdiges, den wir
deklarieren einmal, unseren Sinn dem anderen zu äussern, und tun es nicht.
So haben wir das Pactum gebrochen und wider das Recht der Menschheit
gehandelt.» Eine Vorlesung über Ethik, ed. cit., p. 244.
34
«Die abgenögtigte Declaration, die gemissbraucht wird, erlaubt
mir, mich zu verteidigen… Also ist kein Fall, wo meine Notlüge stattfinden
soll, als wenn die Declaration abgezungen wird und ich auch überzeugt bin
dass der andere einen unrechtmässigen Gebrauch davon machen will.» Eine
Vorlesung über Ethik, ed. cit., p. 244.
189
35
«Wenn wir aber in allen Fä1Ien der Pünktlichkeit der Wahrheit möchten
treu bleiben, so möchten wir uns oft der Bösheit anderer preisgeben, die aus unserer
Wahrheit einen Missbrauch machen wollten. Wenn alle gutgesinnt wären, so
würde es nicht allein Pflicht sein, nicht zu lügen, sondern es möchte es auch keiner
tun, weil er nichts zu besorgen hätte. Aber jetzt, da die Menschen boshaft sind, so
ist es wahr, dass man oft durch pünktliche Beobachtung der Wahrheit Gefahr läuft,
und daher hat man den Begriff der Notlüge bekommen, welches ein sehr kritischer
Punkt für einen Moralphilosophen ist. Da man nun aber aus Not stehlen, töten
und betrügen kann, so verdirbt der Notfall die ganze Moralität. Denn wird ein
Notfall behauptet, so beruht es auf jedem seinem Urteil, ob er es für Notfall hällt
oder nicht. Und da hier der Grund nicht bestimmt ist, wo ein Notfall ist, so sind die
moralischen Regeln nicht sicher.» Eine Vorlesung über Ethik, ed. cit., p. 244.
190
«Der Mensch als moralisches Wesen (homo noumenon) kann sich selbst als
37
191
192
40
Ak XXIII, 267.
41
Cf. Kritik der Urteilskraft, § 40, Ak V, 293‑295.
193
V. Bruno Liebrucks, Sprache und Bewusstsein. Bd. iv: Die erste Revolution
42
194
Rep. 382 a‑e; Leis, 916e‑917a. Por certo, o problema da mentira em Pla‑
44
195
45
«Fundamentum autem est iustitiae fides, id est dictorum conventorum‑
que constantia et veritas.» Cicero, De Officiis, 1, 7; III, 15. 17.
46
«Est enim ius iurandum affirmatio religiosa; quod autem affirmate qua‑
si deo teste promiseris, id tenendum est. […] Quis ius igitur iurandum violat,
is Fidem violat, quam in Capitolio vicinam lovis optimi maximi […] maiores
nostri esse voluerunt.» De Officiis, III, 29.
47
«Magna quaestio est de mendacio, quae nos in ipsis quotidianis acti‑
bus nostris saepe conturbat: ne aut temere accusemus mendacium, quod non
est mendacium; aut arbitremur aliquando esse mentiendum, honesto quodam
et officioso ac misericordi mendacio.» De mendacio liber unus, Patrologia Latina,
t. 40, 395. V. Arno Baruzzi, Philosophie der Lüge, WBG, Darmstadt, 1996. Para
além do capítulo dedicado a Agostinho e a Kant, sobressai nesta obra a aproxi‑
mação e o confronto entre as posições dos dois filósofos, aqueles em que o tema
maior relevo alcançou na história da filosofia.
48
De mendacio, ibidem, 503‑504.
196
49
«Mentienti in uno, nondum haberi fidem in aliis […] Non solum nos
illis, ipsique nobis, sed omnis frater omni fratri non immerito videatur esse
suspectus. Atque ita dum per mendacium tenditur ut doceatur fides, id agitur
potius ut nulli habenda sit fides.» Contra mendacium, Patrologia Latina, t. 40, 523.
50
De mendacio, ibidem, 515.
51
Contra mendacium, ibidem, 548.
52
Ibidem, 527.
53
Ibidem, 539.
54
«Nihil enim nocentius est mendacio, falsa doctrina corrumpit religiones,
mores, artes, nulla iudicia, nulli contractus existere possunt, sublata veritate.»
Philipp Melanchthon, Philosophiae moralis epitomes (1546), Werke in Auswahl, ed.
de R. Stupperich, Gütersloh, 1978, vol. ii, 290.
197
E noutro lugar:
55
«En vérité, le mentir est un maudit vice. Nous ne sommes hommes, et
ne nous tenons les uns aux autres que par la parole. Si nous en connaissions
l’horreur et le poids nous le poursuivrions à feu plus justement que d’autres
crimes.» Michel de Montaigne, Essais, 1, chap. 9, in Œeuvres, Seuil, Paris, p. 31.
56
«Le premier trait de la corruption des moeurs, c’est le bannissement de
la vérité: car, comme disait Pindare, l’être véritable est le commencement d’une
grande vertu et le premier article que Platon demande au gouverneur de sa
république. […] C’est un vilain vice que le mentir et qu’un ancien peint bien
honteusement quand il dit que c’est donner témoignage de mépriser Dieu, et
quand et quand de craindre les hommes. Il n’est pas possible d’en représenter
plus richement l’horreur, la vilité et le déréglement. Car que peut‑on imaginer
plus vilain que d’être covard à l’endroit des hommes et brave à l’endroit de
Dieu? Notre intelligence se conduisant par la seule voie de la parole, celui qui
la fausse, trahit la societé publique. C’est le seul outil par le moyen duquel se
communiquent nos volontés et nos pensées, c’est le truchement de notre âme:
s’il nous faut, nous ne nous tenons plus, nous ne nous entre‑connaissons plus.
S’il nous trompe, il rompt tout notre commerce et dissout toutes les liaisons de
notre police.» Ibidem, II, chap. 18, ed. cit., pp. 275‑276.
198
57
«Et quia nequaquam homines sibis ipsis coëant unquam nec secum
ipsis colloquantur aut eorum, quae vel publicum vel privatum spectant
commodum, tractent quicquam, si singulorum dictis fides nulla haberi possit;
utique intelligens quae ea, quae enuntianda sunt ostendendaque qualia sunt
enuntianda ostendendaque, et promissa quae sunt servanda, quae omnino
reliquos nec dictis nec factis decipiendos sed et internum spiritus sensum
internasque etiam res, cujusmodi sunt, patefaciendas decernit, virtus quae
Veritas dicitur, et spiritus est summe nobilis generosique, qui omnino nihil
nisi sui ipsius puritatem magnifaciat.» Bernardino Telesio, De rerum natura,
Libri VII‑IX, testo critico e trad. italiana di Luigi de Franco, La Nuova Italia
Editrice, Firenze, 1976, pp. 386‑388.
58
Gerahrd Ebeling, «Gewissheit und Zweifel. Die Situation des Glaubens
im Zeitalter nach Luther und Descartes», Zeitschrift für Theologie und Kirche, 64
(1967), p. 314. De Lutero tenha‑se presente, a título de amostra, esta passagem:
«Nostra theologia est certa, quia ponit nos extra nos: non debeo niti in conscientia
mea, sensuali persona, opere, sed in promissione divina, veritate, quae non
potest fallere.» Werke, Weimar‑Ausgabe, 40, 1, 589. E ainda: «Nisi nos omnes
mendaces simus, Deus nobis verax esse non potest. […] Veritas Dei abundat
in nostro mendacio.» M. Lutheri, Opera latina, ed. de H. Schmidt, Francofurti
ad M., 1867, vol. iv, p. 338. Ph. Melanchthon, Commentarii in EpistoIam Pauli ad
199
Romanos (1532), Werke, ed. R. Stupperich, vol. v, pp. 91‑92: «Non igitur pendent
promissiones ex nostra dignitate, sed ex eo, quod ‘Deus verax est’».
59
Descartes, Principia Philosophiae, 1, §§ 29‑30, ed. cit., vol. viii, p. 16.
60
J.‑J. Rousseau, Rêvéries du promeneur solitaire, Garnier‑Flammarion,
Paris, p. 75.
200
61
«Je me souviens d’avoir lu dans un livre de philosophie que mentir
c’est cacher une vérité que l’on doit manifester. Il suit bien de cette définition
201
que taire une vérité qu’on n’est pas obligé n’est pas mentir; mais celui qui non
content en pareil cas de ne pas dire la vérité dit le contraire, ment‑il alors, ou ne
ment‑il pas? Selon la définition, l’on ne saurait dire qu’il ment. Car s’il donne de
la fausse monnaie à un homme auquel il ne doit rien, il trompe cet homme, sans
doute, mais il ne le vole pas. — Il se présente ici deux questions à examiner,
très importantes l’une et l’autre. La première, quand et comment on doit à
autrui la vérité, puisqu’on ne la doit pas toujours. La seconde, s’il est des cas
où l’on puisse tromper innocemment. Cette seconde question est très décidée,
je le sais bien; négativement dans les livres, ou la plus austère morale ne coute
rien à l’auteur, affirmativement dans la société ou la morale des livres passe
pour un bavardage impossible à pratiquer. Laissons donc ces autorités qui se
contredisent, et cherchons par mes propres principes à résoudre pour moi ces
questions… Ainsi, la vérité due est celle qui intéresse la justice et c’est profaner
ce nom sacré de vérité que de l’appliquer aux choses vaines dont l’existence ets
indifférente à tous, et dont la connaissance est inutile à tout. La vérité dépouillée
de toute espèce d’utilité même possible, ne peut donc pas être une chose due, et
par conséquent celui qui la tait ou la deguise ne ment point. Ne pas dire ce qui
est vrai et dire ce qui est faux sont deux choses très différentes, mais dont peut
néanmoins résulter le même effet... Que d’embarrassantes discussions dont il
serait aisé de se tirer en se disant, soyons toujours vrai au risque de tout ce qui en
peut arriver. La justice elle‑même est dans la vérité des choses; le mensonge est
toujours iniquité, l’erreur est toujours imposture, quand on donne ce qui n’est
pas pour la règle de ce qu’on doit faire ou croire: et quelque effet qui résulte
de la vérité on est toujours inculpable quand on l’a dite, parce qu’on n’y a rien
mis de sien... — Mentir pour son avantage à soi‑même est imposture, mentir
pour l’avantage d’autrui est fraude, mentir pour nuire est calomnie; c’est la pire
espèce de mensonge. Mentir sans profit ni préjudice de soi ni d’autrui n’est pas
mentir: ce n’est pas mensonge, c’est fiction. ... Il suit de toutes ces réflexions
que la profession de véracité que je me suis faite a plus son fondement sur des
sentiments de droiture et d’équité que sur la réalité des choses, et que j’ai plus
suivi dans la pratique les directions morales de ma conscience que les notions
abstraites du vrai et du faux.» Rêvèries du promeneur solitaire, pp. 75‑90.
202
«Juro: i. e. per deum testem affirmo. Dadurch weiss ich nicht das Gott sey
62
schlechthin: Ich nehme es auf mein Gewissen, wenn ich unwahr spreche ein
Lügner zu heissen. […] Jurare ist Ju orare (Ju ist Jehova Jahi Jupiter, vor dem
das Innere aufgedeckt ist der Herzens Kundiger).» Ak XXI, 148.
63
Parece‑me ser esse o significado da expressão kantiana Vernunftglauben,
desenvolvido no ensaio Was heisst: sich im Denken zu orientieren?, Ak VIII.
203
1
The Rights of Reason. A Study of Kant’s Philosophy and Politics, Toronto,
1980, p. 9. Retomo neste ensaio e explicito, de forma mais documentada, um
tópico que já abordei em forma condensada na minha dissertação de douto‑
ramento, Metáforas da Razão ou Economia Poética do Pensar Kantiano (Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1989), F. C. Gulbenkian/JNICT,
Lisboa, 1994, pp. 591‑599.
2
Bruno Bauch, «Das Rechtsproblem in der Kantischen Philosophie», Zeit‑
schrift für Rechtsphilosophie, 3 (1921), pp. 1‑26.
205
5
Assim acontecia em geral entre os neokantianos, como mostrou Gerd
‑Walter Küsters, Kants Rechtsphilosophie, WBG, Darsmtadt, 1988, p. 19: «Im
Neukantianismus kaum direkte Untersuchungen zur Rechtslehre [Kants]
angestellt worden sind. Vielmehr hat der Neukantianismus die negative
Einschätzung der Rechtslehre dadurch vollendet, dass er das Argument des
unkritischen Charakters der Rechtslehre, der ungenügenden transzendentalen
Fundierung u. s. w. entscheidend verschärft hat. Der Neukantianismus entwarf
seine Rechtsphilosophie ohne den Rekurs auf die Rechtslehre [Kants].» Sobre
este tópico, v. também José Lamego, «’Facticidade’ e ‘validade’ do direito:
A matriz da filosofia do direito crítico‑transcendental», in Leonel Ribeiro dos
Santos (coord.), Kant: Posteridade e Actualidade, CFUL, Lisboa, 2007, pp. 601‑609.
Ao debate em torno do carácter crítico ou dogmático da filosofia do
direito de Kant andava associado o debate acerca da importância dessa parte
da obra kantiana e do respectivo desenvolvimento. V. Hariolf Oberer, «Ist
Kants Rechtslehre kritische Philosophie? Zu Werner Buschs Untersuchung der
Kantischen Reschtsphilosophie», Kant‑Studien, 74, 1983, pp. 217‑224. Trata‑se
de uma recensão crítica da obra de Werner Busch, Die Entstehung der kritischen
Rechtsphilosophie Kants 1762‑1780 (Kant‑Studien‑Ergänzungsheft Nr. 110, Walter
de Gruyter, Berlin/New York, 1979), mas faz referência também às obras de
Christian Ritter, Der Rechtsgedanke Kants nach den frühen Quellen (1971) e Josef
Schmucker, Die Ursprünge der Ethik Kants in seinen vorkritischen Schriften und
Reflexionen (Meisenheim am Glan, 1961) e ainda à obra de Friedrich Kaulbach,
Studien zur späten Rechtsphilosophie Kants und ihrer transzendentalen Methode
(Würzburg, 1982) e, por fim, ao ensaio de K.‑H. Ilting, «Gibt es eine kritische
Ethik und Rechtsphilosophie Kants?», Archiv für Geschichte der Philosophie, 63,
1981, pp. 325‑345.
206
6
A. Schopenhauer, Die Welt als Wille und Vorstellung, Anhang: Kritik der
Kantischen Philosophie, ed. Ph. Reclam, Leipzig, 1892, vol. i, p. 669.
207
7
Georges Vlachos, La Pensée Politique de Kant, Paris, 1962, pp. 19‑20.
8
Ibidem. Segundo Werner Busch, por volta de 1772 dar‑se‑ia a fundação
crítica da filosofia kantiana do direito sobre o conceito de liberdade, conceito
sobre que assentam também as doutrinas centrais da Crítica da Razão Pura e
também a Doutrina do Direito da tardia Metafísica dos Costumes.
9
Kant et le problème du droit, Paris, 1972, p. 9.
10
V. Wolfgang Kersting, Wohlgeordnete Freiheit. Immanuel Kants Recht—
und Staatsphilosophie, Berlin, 1983; Georg Geismann, Freiheit und Herrschaft.
Die Prinzipien des Vernunftrechts, Würzburg, 1983; Reinhard Brandt, «Das
Erlaubnisgesetz, oder: Vernunft und Geschichte in Kants Rechtslehre», in idem
(ed.), Rechtsphilosophie der Aufklärung, Berlin, 1984.
11
V., nomeadamente, Studien zur späten Rechtsphilosophie Kants (Das
transzendental‑juridische Grundverhältnis in Vernunftbegriff Kants), pp. 111 e
segs: «Die von Kants praktizierte Vernunft wie auch sein Begriff von Vernunft in
theorethischer und praktischer Gestalt von Grund aus einen Charakter tragen,
der durch juridische Kategorien zu beschreiben ist. … Es ist bemerkenswert, dass
208
209
210
13
V. Hans‑Wolf Jäger, Politische Kategorien in Poetik und Rhetorik der zweiten
Hälfte des 18. Jahrhunderts, J. B. Metzlersche Verlagsbuchhandlung, Stuttgart,
1970.
14
Jerome B. Schneewind, The Invention of Autonomy. A History of Modern
Moral Philosophy, Cambridge University Press, 1998; trad. francesa: L’invention
de l’autonomie. Une histoire de la philosophie morale moderne, Gallimard, Paris,
2001, p. 543.
211
15
Das Ende aller Dinge, Ak VIII, 328‑329; Die Religion innerhalb der Grenzen
der bloßen Vernunft, Ak VI, 140‑141; Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 359‑360.
16
La Scienza Nuova, Rizzoli, Milano, 1963, vol. i, p. 112.
212
17
J. G. Herder, Verstand und Erfahrung. Eine Metakritik zur Kritik der reinen
Vernunft, Leipzig, 1799, II, pp. 11-16.
18
«Der juristische Sinn von Verstehen, d. h. das Vertreten einer causa vor
Gericht, scheint die Urbedeutung zu sein.» Wahrheit und Methode, Tübingen,
1975, p. 246.
19
Sobre este ponto v. o meu ensaio «Kant e a filosofia como análise e
reinvenção da linguagem metafísica», in Nuno Nabais (org.), Vieira de Almeida
(1888‑1988). Colóquio do Centenário, Lisboa, 1991, pp. 199‑223, retomado in
Leonel Ribeiro dos Santos, A Razão Sensível. Estudos Kantianos, Colibri, Lisboa,
1994, pp. 39‑67.
213
20
V. o meu ensaio «O eurocentrismo crítico de Kant», in A Ideia Romântica
de Europa — Novos Rumos, Antigos Caminhos, Colibri, Lisboa, 2002, pp. 168‑170.
21
Giambatista Vico, Scienza nuova, vol. i, p. 112.
22
Ibidem, vol. i, p. 33: «Giove (dal quale, appo i latini chiamato Ious, ne fu
anticamente detto ious il gius, che poi, contratto, si disse ‘ius’, onde la giustizia appo
tutte le nazioni s’insegna naturalmente con la pietà.»
23
Coluccio Salutati, De nobilitate legum et medicine, ed. bilingue Latim
‑Alemão, trad. de P. M. Schenkel, Wilhelm Fink, München, 1990, p. 160: «Ius
igitur, quod a iuvando dicitur vel forsitan a Iove.»
24
V. nomeadamente Émile Benveniste, Le Vocabulaire des Institutions Indo
‑européennes, Minuit, Paris, 1969, vol. 2, p. 119. Depois de ter reconstituído a
arqueologia comparativa dos termos ius e iurare, Benveniste conclui: «En
restituant à ius sa valeur pleine telle que la précisent à la fois les correspon
dances étymologiques et la dérivation latine, nous remontons au‑delà du ‘droit’.
C’est d’un concept qui n’est plus seulement moral, mais d’abord religieux que
le mot tire sa valeur: la notion indo‑européenne de conformité à une règle,
de conditions à remplir pour que l’objet (chose ou personne) soit agréé, qu’il
remplisse son office et qu’il ait toute son efficace: yoh en védique, yaožda — en
avestique, sont imprégnés de cette valeur. D’autre part, nous avons constaté
la liaison, dans le vocabulaire latin, par l’intermédiaire de iurare, entre ius et
sacramentum. Ainsi, les origines religieuses et morales du droit se marquent
clairement dans les termes fondamentaux.» Noutro passo da mesma obra
(vol. 1, p. 121), a investigação conduzida a propósito da fides vem confirmar
214
215
28
«Gott ist der allgemeine Herzenskündiger und zugleich der allgewältig
vor dem höchsten Richterstuhl belohnt u. bestraft.» Opus postumum, Ak XXI,
p. 147.
29
Metaphysik der Sitten, Tugendlehre, Ak VI, p. 438. Cf. Kritik der praklischen
Vernunft, Ak V, 98.
30
Lose Blätter zu den Fortschritten der Metaphysik, Ak XX, 335.
31
É a esta conclusão que chega também o único estudo que conheço
directamente dedicado a este tópico, o ensaio de Fumiyasu Ishikawa, «Das
Gerichtshof‑Modell des Gewissens», Aufklärung, 7 (1992), pp. 43‑55: «…tritt
das Gerichtshof‑Modell des Gewissens in Wahrheit gar nicht als Gleichnis
216
auf, wie man üblicherweise annimmt… Umgekehrt kann man sich hier gegen
das übliche Verständnis des Gewissens als eines Gerichtshofes, das es als ein
blosses Gleichnis ansieht, sogar auf ein Beispiel berufen, das dazu fähig ist,
zu erweisen, dass gerade der innere Gerichtshof der Ursprung des äusseren
sein kann… dies bekündet ausdrücklich, dass der Anhaltspunkt des äusseren,
weltlichen Gerichtshofs letzten Endes nichts anderes als das Gewissen als innerer
Gerichtshof ist. Insofern kann man mit Recht sagen, dass der äussere Gerichtshof,
als Entäusserungsform des inneren analog zu diesem betrieben wird und
zumindest nicht umgekehrt.» (p. 48). V. também Nestore Pirillo, «Il giuramento e
il tribunale della coscienza», in idem (ed.), Kant e la Filosofia della Religione, Istituto
di Scienze Religiose in Trento, Trento, 1996, pp. 81‑111; Johannes Strangas, «I
rapporti tra fondamentalismo religioso ed esperienza giuridica in quanto modo
di emergenza del problema dei rapporti tra morale e diritto», Rivista Internazionale
della Filosofia del Diritto (Milano), 5, 1998, pp. 418‑461. Também: Norbert Bilbeny,
Kant y el tribunal de la conciencia, Editorial Gredisa, Barcelona, 1994.
32
Alexander Gottlieb Baumgarten, Initia philosophiae practicae primae, Halle
1760, § 182 (reimpr. in Kant’s gesammelte Schriften, Ak XIX, pp. 121 e segs.). Uma
outra fonte do tema, porventura muito mais importante ainda do que Baumgarten,
é Rousseau e o desenvolvimento que ao tópico da conscience ele dá, nomeadamente
na parte iv do Émile (Profession de Foi du Vicaire Savoyard), mas também noutras
obras, contrapondo a conscience às lumières de la raison e interpretando‑a como um
«sentimento inato», um «instinto divino». Baumgarten definia a conscientia como
217
uma faculdade de imputação de acções: «Cum conscientia sit actus, vel facultas,
vel habitus facta sibi imputandi et his leges aplicandi.» Erläuterungen Kants zu
A. G. Baumgartens «Initia Philosophiae Practicae Primae» Ak xix, 89-91.
33
Há quem considere estranho que o tópico da consciência (Gewissen) não
mereça especial desenvolvimento nos principais escritos kantianos de filosofia
moral, na Fundamentação da Metafísica dos Costumes e na Crítica da Razão Prática.
Nesta última obra há, todavia, pelo menos um passo importante (Ak V, 98) onde se
fala «daquele admirável poder que em nós existe, a que chamamos consciência»
(desjenigen wundersamen Vermögens in uns, welches wir Gewissen nennen). A razão
dessa ausência relativa explica‑se, a meu ver, pelo facto de a consciência moral
(Gewissen) ser para Kant um outro modo de dizer o «sentimento moral» e a «razão
prática» no seu aspecto subjectivo, ou a consciência subjectiva da lei e do dever,
como se pode ver nesta passagem da introdução aos Fundamentos Metafísicos
da Doutrina da Virtude: «A consciência moral é a razão prática mostrando
ao homem o seu dever em cada caso concreto de uma lei, absolvendo‑o ou
condenando‑o.» (Gewissen ist die dem Menschen in jedem Fall eines Gesetzes seine
Pflicht zum Lossprechen oder Verurtheilen vorhaltende praktische Vernunft.) (Ak VI,
400.) No mesmo contexto se afirma o carácter «originário» (não «adquirido»)
da consciência moral: «A consciência moral não é algo que possa adquirir‑se…;
mas todo o homem, como ser moral, tem‑na originariamente em si.» (Eben so ist
das Gewissen nicht etwas Erwerbliches…; sondern jeder Mensch, als sittliches Wesen,
hat ein solches ursprünglich in sich.) Esse carácter originário e não adquirido da
consciência moral era sublinhado nas Lições de Ética chamando à consciência
um «instinto» ou um «impulso». Da relativamente escassa literatura sobre o
tema, v. Rudolph Hofmann, Die Lehre von dem Gewissen, Leipzig, 1866; Wilhelm
Wohlrabe, Kants Lehre vom Gewissen, Gotha, 1880.
34
V. a edição autónoma desta peça em Jean‑Jacques Rousseau, Profession
de Foi du Vicaire Savoyard, présentation, notes, bibliographie et chronologie par
218
219
lê‑se: «Das Forum ist zweierlei: forum externum, welches das forum humanum
ist, und forum internum, welches das forum conscientiae ist. Mit diesem foro
interno verbinden wir zugleich das forum divinum; denn unsere Facta können
nicht anders in diesem Leben vor dem göttlichen foro imputiert werden als per
conscientiam, demnach ist das forum internum in diesem Leben ein forum divinum.
Ein Forum soll Zwang ausüben, sein Urteil soll rechtskräftig sein, es soll die
consectaria des Gesetzen auszuführen zwingen können.» (Ibidem, p. 77.)
37
Tugendlehre, Ak VI, 400, 438.
38
Não posso deixar de estabelecer um confronto — por proximidade e
também por diferença — com a explicação que o sofista Crítias (Diels‑Kranz:
Fragm. B 25) apresentava para a génese das leis e do seu carácter absoluto e
dos deuses como garantia das mesmas — enfim, para a génese da consciência
moral e religiosa —, por interiorização de uma necessidade da razão social.
Transcrevo excertos dessa notável fábula da invenção das leis (do direito e da
moral) e dos deuses (da religião): «Outrora, houve um tempo em que o homem
vivia sem leis como um fauno, respeitando apenas a força; em que os bons
não obtinham qualquer recompensa e em que os maus também ficavam impu‑
nes. Só depois os homens estabeleceram leis de repressão — pelo menos essa
220
é a minha opinião — para que a lei reinasse como senhora soberana, e desse
modo dominasse a sua louca desmesura. A partir de então era possível castigar
os faltosos. Seguidamente, como as leis reprimiam os delitos proibindo que se
realizassem às claras os crimes, mas não em segredo, foi então, creio eu, que
um sábio, que sabia por sabedoria profunda, forjou para os mortais os Deuses
para inspirar o temor aos maus que se escondem para agir, ou falar, ou mesmo
para pensar. Essa é a razão por que introduziu Deus dizendo‑lhes que goza de
uma vida eterna e que pelo entendimento entende e vê e julga todos os actos
cometidos; que a sua natureza é divina, que ele perscruta todas as intenções
dos mortais e que tem meios para ver tudo o que eles fazem. Mesmo quando
calasses o golpe que preparas os Deuses dar‑se‑iam conta, pois neles existe o
Pensamento. Proferindo tais palavras, o sábio envolveu a lição na agradável
forma do mito, velando a verdade com um discurso de ficção. O brilho do seu
discurso atribuiu morada condigna à divindade e mediante as leis ele pôs fim à
desigualdade… Assim, creio eu, houve alguém que foi o primeiro a persuadir
os mortais de que existem Deuses.» V. G. B. Kerferd, The Sophistic Movement,
Cambridge U. P., Cambridge, 1981, pp. 162-172; Sofistas, Testemunhos e Fragmen‑
tos, introdução de Maria José Vaz Pinto, trad. e notas de Ana Alexandra Alves
de Sousa e Maria José Vaz Pinto, INCM, Lisboa, 2005, pp. 260‑261.
221
222
44
Tugendlehre, Ak VI, 438; trad. port. cit., p. 372.
45
Reflexion 6815, Ak XIX, 170.
46
Tugendlehre, Ak VI, 439; trad. port. cit., p. 374.
223
47
Tugendlehre, Ak VI, 439; trad. port. cit., pp. 374‑375.
224
«…das heilige Gesetz uns jederzeit vor Augen liege und uns jede auch
48
die kleinste Abweichung von dem göttlichen Willen als verurteilt von einem
unnachsichtlichen und gerechten Richter unaufhörlich vor halte». Carta a La‑
vater, 28 de Abril de 1775, Ak X, 179.
49
Rom 2,12‑15: «Quando os que não são judeus, sem terem a lei de Moisés,
cumprem naturalmente a lei, eles são a lei para si mesmos. Mostram pelo seu pro‑
ceder que trazem escrito no coração aquilo que a lei ordena. A voz da sua consciên
cia ensina‑lhes o que devem fazer e acusa‑os ou defende‑os, conforme os casos.»
50
I. Kant, Danziger Rationaltheologie, Ak XXVIII, 1287: «Leibnitzens Theo‑
dizee ist in der Absicht geschrieben, um diese Einwürfe [wider die Eigenschaf‑
ten Gottes: Heiligkeit, Gütigkeit, Gerechtigkeit] zu widerlegen. Das Buch Hiob
im A. T. zweckt dahin ab, und das ist das philosophischeste Buch im A.T.»
51
Job 23: «Quem me dera saber onde encontrá‑lo e poder chegar até ao
seu tribunal! Apresentaria diante dele a minha causa; eu mesmo discutiria as
questões… Se eu pudesse discutir lealmente com ele, conseguiria fazer vencer
a minha causa.» Todo este singular livro bíblico, como antes de qualquer outro
bem o advertiu o próprio Kant, está escrito como um processo judicial em que
Job apresenta perante Deus a causa da sua justiça, uma causa que é também
a causa de Deus (uma teodiceia), cuja justiça é posta em causa. Sobre a inter‑
pretação kantiana da personagem Job e do significado do drama exposto nesse
livro bíblico, veja‑se o ensaio «A teologia de Job, segundo Kant: ou a experi‑
ência ético‑religiosa entre o discurso teodiceico e a estética do sublime», neste
volume, pp. 267 e segs.
225
52
V. o desenvolvimento que fizemos deste tópico em Metáforas da Razão ou
Economia Poética do Pensar Kantiano, pp. 661‑666.
53
Reflexion 5658, Ak XVIII, 318.
54
Reflexion 6093, Ak XVIII, 449.
55
«Die Vernunft leitet uns auf Got, als einen heiligen Gesetzgeber, unsere
Neigung für Glückseligkeit wünscht sie in ihm einen gütigen Weltregierer, und
unser Gewissen stellet uns ihm als ein gerechten Richter vor Augen.» (Vorlesungen
über philosophische Religionslehre, ed. cit., p. 145.)
56
Rechtslehre, § 45 (Ak VI, 313‑314); Vorlesungen über Rationaltheologie
(Danziger Rationaltheologie), Ak XXVIII, 1284-1285.
226
57
Die Religion, Ak VI, 145‑146 (trad. port.: A Religião nos Limites da Simples
Razão, Edições 70, Lisboa, pp. 151‑152).
227
58
KU, Einleitung, Ak V, 197.
59
Opus postumum, Ak XXI, 25.
228
Hércules e as Graças,
ou da «condição estética da virtude»:
Kant, leitor de Schiller
1
«…gewöhnt man sich gar leicht, das Materielle sich bloss als Hindernis
zu denken und die Sinnlichkeit… in einem notwendigen Widerspruch mit der
Vernunft vorzustellen. Eine solche Vorstellungsart liegt zwar auf keine Weise
im Geiste des Kantischen Systems, aber im Buchstaben desselben könnte sie
gar wohl liegen.» Schiller, Über die ästhetische Erziehung des Menschen, 13. Brief,
Sämtliche Werke, WBG, Darmstadt, Bd. 5, 607‑608.
2
Entre as excepções, v. Karl Vorländer, Kant‑Schiller‑Goethe. Gesammelte
Aufsätze, Verlag der Dürr’schen Buchhandlung, Leipzig, 1907 (reimpr. da
2.a ed. de Leipzig, 1923, pela Scientia Verlag, Aalen, 1984). Citamos a obra pela
1.a ed. Os ensaios sobre as relações pessoais e filosóficas entre Schiller e Kant
haviam sido publicados nos Philosophische Monatshefte, vol. xxx (1894). V. ainda
Hans Reiner, Duty and Inclination: The Fundamental of Morality Discussed and
Redefined with special Regard to Kant and Schiller, Haia, 1983; Birgit Recki, Ästhetik
der Sitten. Die Affinität von ästhetischem Gefühl und praktischer Vernunft bei Kant,
Vittorio Klostermann, Frankfurt a. M., 2001.
229
angelegt, den er mit einer Reinheit und einem Feuer auffasste, die mir ihn noch
einmal so theuere machten. Er hat bereits seine Vorlesungen angefangen mit
einem Beyfall den hier noch keiner vielleicht in diesem Grade gefunden hat. Er
hat mich gebethen seine Person unter ihren warmsten und innigsten Verehren
zu nennen.» Kant’s Briefwechsel, Ak XI, 62.
230
(Kritik der Urteilskraft, Ak V, 210) como que responde ao verso do referido poe
ma de Schiller: «Die Kunst oh Mensch hast du allein!»
231
5
Carta a Körner, 25 de Janeiro de 1793, Kallias, SW, V, 400.
232
233
234
235
236
7
Ibidem, pp. 122‑123.
237
238
Ibidem, p. 124.
8
Ak XI, 456‑457.
9
10
Algumas excepções notáveis: a Tissel (88), a Garve (93), a Constant (97)
e a Schiller (93).
239
240
11
Immanuel Kant, Die Religion innerhalb der Grenzen der blossen Vernunft,
Ak VI, 23‑24.
241
12
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 274.
242
13
«Die Kraft muss sich binden lassen durch die Huldgöttinen und der
trotzige Löwe dem Zaum eines Amors gehorchen.» Briefe, SW, V, 668‑669.
14
«Auf die Frage ‘In wie weit darf Schein in der moralischen Welt seyn?’,
ist also die Antwort so kurz als bündig diese: in so weit es ästhetischer Schein
ist, d. h. Schein, der weder Realität vertreten will, noch von derselben vertreten
zu werden braucht. Der ästhetische Schein kann der Wahrheit der Sitten niemals
gefährlich werden…» Briefe, SW, V, 660.
243
15
Luigi Pareyson, L’estetica del idealismo tedesco, Torino, 1950, pp. 226‑227.
16
KU, § 42, Ak V, 298‑299.
17
KU, § 28, Ak V, 262‑264.
244
18
V. a obra de Birgit Recki, Ästhetik der Sitten. Die Affinität von ästhetischem
Gefühl und praktischer Vernunft bei Kant, V. Klostermann, Frankfurt a. M., 2001;
Jérome de Gramont, Kant et la question de l’affectivité. Lecture de la troisième
Critique, Vrin, Paris, 1996; Andrews Reath, «Kant’s Theory of Moral Sensibility:
Respect for the Moral Law and the Influence of Inclinations», Kant‑Studien, 80
(1989), pp. 284‑302.
19
«Er hat vielmehr Kants ethischen Rigorismus in seiner methodischen
Notwendigkeit durchaus begriffen und anerkannt und nur dessen ästhetische
Ergänzung, die mit dem strengsten transzendentalen Standpunkt vereinbar ist,
aber bei Kant erst im Keime vorliegt, seinerseits starker hervorgehoben und
weiter ausgebildet.» Karl Vorländer, Kant, Schiller, Goethe, Gesammelte Aufsätze,
Leipzig, 1907 (ed. cit.), p. vi.
20
Robert B. Louden, Kant’s Impure Ethics, From Rational Beings to Human
Beings, Oxford University Press, Oxford / New York, 2000.
245
21
Metaph. der Sitten, Tugendlehre, Ak VI, 399 e segs.
22
Ibidem, Ak VI, 380.
246
23
F. Schiller, Über die notwendige Grenzen beim Gebrauch schöner Formen,
Sämtliche Werke, WBG, Darmstadt, 1989, Band V, 693.
247
248
24
Kant, Metaphysik der Sitten, Ak VI, 473.
25
Kant, Anthropologie in pragmatischer Hinsicht, Ak VII, 244.
26
«So unbedeutend diese Gesetze der verfeinerten Menschheit auch
scheinen mögen, vornehmlich wenn man sie mit dem reinmoralischen vergleicht,
so ist doch alles, was Geselligkeit befördert, wenn es auch nur in gefallenden
Maximen oder Manieren bestände, ein die Tugend vortheilhaft kleidendes
Gewand, welches der letzteren auch in ernsthafter Rücksicht zu empfehlen ist.
— Der Purism des Cynikers und die Fleischestödtung des Anachoreten… sind
verzerrte Gestalten der Tugend und für diese nicht einladend; sondern, von
den Grazien verlassen, können sie auf Humanität nicht Anspruch machen.»
Anthropologie, § 88, Ak VII, 282.
27
«Der Mensch spielt nur, wo er in voller Bedeutung des Worts Mensch
ist, und er ist da ganz Mensch, wo er spielt.» Schiller, Briefe, SW, V, 618.
249
28
Schillers Briefe, ed. F. Jonas (Stuttgart, 1892‑96), Bd. IV.
29
Kant’s Briefwechsel, Ak XI, 511.
30
Ibidem, Ak XI, 526.
250
31
Ibidem, Ak XII,
32
Ibidem, Ak XII, 11.
33
Sobre este conflito, v. o meu ensaio «O espírito da letra. Sobre o conflito
entre Fichte e Schiller a respeito da linguagem da Filosofia e da natureza do
estético», Philosophica, 19/20 (2002), pp. 87‑114. Agora também em Leonel
Ribeiro dos Santos, O Espírito da Letra. Ensaios de Hermenêutica da Modernidade,
INCM, Lisboa, 2007, pp. 273‑310.
251
34
Hegel, Vorlesungen über die Ästhetik, Jubiläumausgabe, Stuttgart‑Bad
Cannstatt, 1971, Bd. XII, 96.
252
um ihn seiner freien Willkür zu unterwerfen. Dazu aber wir erfordert, dass der
Verstand herrsche, ohne doch die Sinnlichkeit […] zu schwächen: weil ohne sie
es keinen Stoff geben würde, der zum Gebrauch des gesetzgebenden Verstandes
verarbeitet werden könnte.» Anthropologie in pragmatischer Hinsicht, Ak VII, 144.
253
37
«Die ästhetische Behandlung, deren erste Forderung Popularität ist,
schlägt aber einen Weg ein, auf dem beiden Fehlern ausgebeugt werden kann.»
Ibidem, Ak VII, 143‑146.
254
38
Nos §§ 6‑12 da sua Aesthetica, Alexander Baumgarten elenca as acusações
formuladas contra a sensibilidade e responde‑lhes: «Objectar‑se‑á que as facul‑
dades inferiores — a carne — devem ser submetidas de preferência a serem ex‑
citadas e reforçadas. A minha resposta é: a) Que é o domínio sobre as faculdades
inferiores, e não a tirania, o que é requerido. b) Que para este fim, na medida em
que isso pode ser obtido naturalmente, a estética conduz‑nos de alguma maneira
pela mão. c) Que não se trata para os estéticos de excitar e reforçar as faculdades
inferiores, na medida em que elas são corrompidas, mas de as dirigir a fim de que
elas não sejam antes corrompidas pelos exercícios lastimáveis ou que, sob o pre‑
guiçoso pretexto de evitar o abuso, não se faça desaparecer o uso de um talento
que Deus nos concedeu.» [§ 12: Ob. 10) «Facultates inferiores, caro, debellandae
potius sunt, quam excitandae et confirmandae. — Resp. a) Imperium in faculta‑
tes inferiores poscitur, non tyrannis. b) Ad hoc, quatenus naturaliter impetrari po‑
test, manu quasi ducet aesthetica. c) Facultates inferiores non, quatenus corruptae
sunt, excitandae confirmandaeque sunt aestheticis, sed iisdem dirigendae, ne si‑
nistris exercitiis magis corrumpantur, aut pigro vitandi abusus praetextu tollatur
usus concessi divinitus talenti.»] A. G. Baumgarten, Aesthetica, 2 Teile, Frankfurt
a. d. Oder, 1750/1758 (reimpr. Olms, Hildesheim, 1961).
255
256
41
«Geniemässig tief verwickelte philosophische Fragen zu behandeln: auf
diese Ehre thue ich gänzlich verzicht. Ich unternehme es nur sie schulmässig zu
bearbeiten. Wenn hierin die Arbeit, die stetigen Fleis und Behutsamkeit bedarf,
gelungen ist, so bleibt es wahren Genies… (nicht denen, die aus Nichts alles
zu machen unternehmen) überlassen, den erhabenen Geistesschwung damit
zu verbinden und so den Gebrauch trockener Principien in Gang zu bringen.»
Refl. 990. Ak XV, 435.
42
KU, Ak V, 317.
257
43
Todavia, Karl Vorländer tinha já identificado essa página de Schiller en‑
tre as folhas soltas do Opus postumum, tendo dado disso notícia num ensaio
publicado no vol. xxx dos Philosophische Monatshefte (1894), pp. 57‑62. V., do
mesmo autor, Kant‑Schiller‑Goethe. Gesammelte Aufsätze, Leipzig, 1907, onde
se lê (p. 36): «Vielleicht ist die Stelle aus dem 19. ästhetischen Briefe, die wir
in Kants Opus postumum fast wörtlich wieder entdeckten und seinerzeit
veröffentlichten ein Zeichen davon, dass Kant sich Notizen zum Zwecke einer
beabsichtigten Besprechung der Schillerschen Briefe gemacht hatte, zu welcher
er dann infolge der Überhäufung mit anderen Arbeiten, in Verbindung mit der
zunehmenden Schwäche des Alters, nicht mehr gelangte.»
258
44
Opus postumum, Ak XXI, 76.
259
45
«Durch die Schönheit wird der sinnliche Mensch zur Form und zum
Denken geleitet; durch die Schönheit wird der geistige Mensch zur Materie
zurückgeführt, und der Sinnenwelt wiedergegeben.» Início da Carta 18.a, SW,
V, 624.
260
46
«Die Spontaneität im Spiele der Erkenntnisvermögen, deren Zusam‑
menstimmung den Grund dieser Lust enthält, macht den gedachten Begriff zur
Vermittlung der Verknüpfung der Gebiete des Naturbegriffs mit dem Freiheits‑
begriffe in ihren Folgen tauglich, indem diese zugleich die Empfänglichkeit des
Gemüts für das moralische Gefühl befördert.» KU, Einl., IX, Ak V, 197.
47
«Der Geschmack macht gleichsam den Übergang vom Sinnenreiz
zum habituellen moralischen Interesse ohne einen zu gewaltsamen Sprung
möglich.» Ak V, 354.
261
48
Metaph. der Sitten, Tugendlehre, Einl., XVI, Ak VI, 408.
262
263
1
Este ensaio bem como os outros escritos de Kant serão citados pela
Akademie‑Ausgabe (Ak) dos Kant’s Gesammelte Schriften. Para o presente en‑
saio: Ak VIII, 255‑271
2
Leibniz, Essais de Théodicée, sur la bonté de Dieu, la liberté de l’homme et
l’origine du mal (1710). Foi praticamente a única grande obra de Leibniz pu‑
blicada em vida do filósofo, sendo através dela que o pensamento leibniziano
foi conhecido até à década de 60 do século, quando vieram a ser publicadas
duas edições mais amplas da sua obra: a edição Raspe (1765) e a edição Dutens
(1768).
267
268
5
I. Kant, Vorlesungen über die philosophische Religionslehre, ed. de K. H. L.
Pölitz, Leipzig, 1830, reimpr. WBG, Darmstadt, 1982. Sobre a datação destes
cursos, veja‑se a «Introduzione» de Costantino Esposito à sua tradução ita‑
liana das Lezioni di Filosofia della Religione de Kant (Bibliopolis, Napoli, 1988,
pp. 28‑31).
6
Carta a C. F. Stäudlin (4 de Maio de 1793): «Com a obra que junto —A Re‑
ligião nos Limites da Mera Razão —, tento executar a terceira parte do meu plano,
trabalho no qual uma consciência escrupulosa e um verdadeiro respeito pela
religião cristã, mas também o princípio de uma conveniente franqueza [einer
geziemenden Freimütigkeit], me guiaram no sentido de nada esconder mas ex‑
por abertamente o modo como eu creio ser possível a união daquela [religião
cristã] com a mais pura razão prática.» Kant, Lettres sur la morale et la religion
(ed. bilingue alemão‑francês); introduction, traduction, commentaries par Jean
‑Louis Bruch, Aubier‑Montaigne, Paris, 1969, pp. 188‑189.
269
7
I. Kant, Vorlesungen über die philosophische Religionslehre, ed. cit., p. 161.
8
Kritik der reinen Vernunft [KrV] B XXX, Ak III, 19.
270
«Der Begriff von Gott, der für Religion tauglich sein soll… ein Begriff
10
von ihm als einem moralischen Wesen sein muss… so leuchtet genugsam
ein, dass der Beweis des Daseins eines solchen Wesens kein anderer als ein
moralischer sein könne.» Ak VIII, 256.
271
272
13
KU, Ak V, 482.
273
14
Ak VIII, 263.
274
15
I. Kant, Die Religion innerhalb der Grenzen der blossen Vernunft, Ak VI,
110‑114. Os princípios kantianos de hermenêutica bíblica serão explicitados so‑
bretudo em Die Religion (1793) e em Der Streit der Fakultäten (1797). Mas a citada
carta a Stäudlin contém uma súmula da concepção kantiana da hermenêutica e
do auxílio que o filósofo pode dar ao teólogo bíblico.
16
A importância da fonte bíblica como inspiradora de temas e soluções do
pensamento kantiano bem como os princípios kantianos de hermenêutica bíbli‑
ca têm merecido a atenção de investigadores recentes. Henri d’Aviau de Ternay,
Traces bibliques dans la morale de Kant (Beauchesne, Paris, 1986), mostrou como
a Bíblia fornece a Kant uma tópica de problemas, de motivos e de imagens que
o filósofo usa discretamente nos seus escritos. Sobre os princípios kantianos de
hermenêutica bíblica, v. Andrés Lema‑Hincapié, Kant y la Biblia. Princípios kan‑
tianos de exégesis bíblica, prefácio de Jean Grondin, Anthropos, Barcelona, 2006.
275
17
Ak VIII, 264.
18
KU, § 86, Ak V, 442‑443.
19
Ak VIII, 264.
276
277
278
279
30
Philippe Nemo, Job et l’excès du mal, Grasset, Paris, 1978.
31
R. Girard, Job: The Victim of his People, Stanford, 1987.
32
Sobre os problemas que envolvem a exegese e a história da exegese des‑
te livro bíblico, v. Hans‑Peter Müller, Das Hiobproblem. Seine Stellung und Entste‑
hung im Alten Orient und im Alten Testament, WBG, Darmstadt, 1978; James L.
Crenshaw, «Book of Job», The Anchor Bible Dictionary, vol. 3, 858‑868.
33
Martin Luther, Tischreden (ed. de Kurt Aland), Reclam, Stuttgart, 1960,
p. 12.
280
281
36
Ak VIII, 265.
282
37
Ak VIII, 265‑266.
38
Job 13, 7‑11,16.
283
39
Job 27, 5‑6.
40
«Denn mit dieser Gesinnung bewies er, dass er nicht seine Moralität auf
den Glauben, sondern den Glauben auf die Moralität gründete: in welchem
Falle dieser, so schwach er auch sein mag, doch allein lauter und ächter Art,
d. i. von derjenigen Art ist, welche eine Religion nicht der Gunstbewerbung,
sondern des guten Lebenswandelns gründet.» Ak VIII, 267.
41
Benno de Wiese, Die Deutsche Tragödie von Lessing bis Hebbel, 1. Teil:
Tragödie und Theodizee, 5.a ed., Hamburg, 1961.
284
42
S. Kierkegaard, La répétition. Œuvres complètes, Éditions de l’Orante, Pa‑
ris, vol. 5, pp. 74 e segs.
43
Ak VIII, 258: «Denn in einer göttlichen Regierung kann auch der beste
Mensch seinen Wunsch zum Wohlergehen nicht auf die göttliche Gerechtigkeit,
sondern muss ihn jederzeit auf seine Güte gründen: weil der, welcher bloss
seine Schuldigkeit thut, keinen Rechtsanspruch auf das Wohlthun Gottes haben
kann.»
285
E. Burke, A philosophical Enquiry into the Origin of our Ideas of the Sublime
44
and Beautiful, ed. Adam Phillips, Oxford University Press, Oxford/New York,
1990, pp. 61‑64.
45
Sobre Job como figura do sublime nos pensadores setecentistas, v. Bal
dine Saint Girons, Fiat Lux. Une philosophie du sublime, Quai Voltaire, Paris, 1993,
pp. 160, 319, 371, 437 e 494.
46
Beobachtungen über das Gefühl des Schönen und Erhabenen, Ak II, 32‑33.
286
47
Como tentei mostrar no ensaio «Sentimento do sublime e vivência mo‑
ral», in A Razão Sensível. Estudos Kantianos, Colibri, Lisboa, 1994, pp. 85‑98.
48
F. Schiller, Notwendige Grenzen beim Gebrauch schöner Formen, Sämtliche
Werke, WBG, Darmstadt, 1989, Bd.V, 693. Sobre a figura de Job em Schiller, v. Re‑
nate Homann, Erhabenes und Satirisches. Zur Grundlegung einer Theorie ästhetischer
Literatur bei Kant und Schiller, Fink, München, 1977, p. 79.
287
49
«Den gerechten Menschen ist es so Ernst mit der Gerechtigkeit, dass
sie, wenn Gott nicht gerecht wäre, sich nicht die Bohne um Gott kümmern
würden.» Meister Eckhart, Deutsche Predigten und Traktate, Insel‑Verlag, Lei
pzig, 1938, p. 267.
288
289
290
einleuchtet vermuthen sollte er werde allgemein seyn der aber wegen eines
eingewurtzelten Hanges des Menschen zur Unlauterkeit Falschheit die bis zur
inneren Lüge geht.» Vorarbeit zu Über das Misslingen aller philosophischen Versuche
in der Theodicee, Ak XXIII, 85.
291
noch mehr, nämlich Aufrichtigkeit in Ansehung seiner selbst bey der scharfsten
selbstprüfung. Hiob. Der Schade, der daraus den Wissenschaften entspringt,
wenn man nicht redlich ist, der Religion, wenn man nicht rechtschaffen ist. Was
ist Wahrheit?, ist eine logische Frage in der Religion, und da ist die Orthodoxie
verschieden. Was ist Wahrhaftigkeit und Rechtschaffenheit?, ist eine praktische
(moralische) Frage, und da kan man leicht einsehen, dass jeder seiner Vernunft
und Gewissen folgen müsse.» Refl. 6309, Ak XVIII, 603‑604.
55
«Gott wird als aufrichtig beschrieben, darum dass Menschen auch
so aufrichtig gegen ihn sein sollen, und das ist sehr selten. In Untersuchung
der Religionssachen muss Aufrichtigkeit und daher Freiheit sein.» Danziger
Rationaltheologie, Ak XXVIII, 1296. Sobre a sinceridade (Aufrichtigkeit) como
atributo de Deus, v. também Vorles. über die philosoph. Religionslehre, ed. cit.,
pp. 161‑162.
292
Francis Bacon usara este motivo no Novum Organum (I, 89), denuncian‑
56
293
Refl. 6087, Ak XVIII, 445‑446: «Der Leser fühlt eine gewisse scheue
58
294
295
59
KU, Ak V, 263.
296
60
KU, Ak V, 273.
297
KU, Ak V, 274‑275.
61
298
«Das Gewissen stellt den göttlichen Gerichtshof in uns vor: erstlich, weil
63
299
301
302
303
304
3
A. G. Baumgarten, Meditationes philosophicae de nonnullis ad poema perti‑
nentibus (Latein‑Deutsch), trad. e introd. de H. Paetzold, Felix Meiner, Ham‑
burg, 1983, § 96 (pp. 84‑86): «graeci iam philosophi et patres inter aistheta et
noetá sedulo semper distinxerunt […] Sint ergo noetá cognoscenda facultate
superiore obiectum Logices; aisthetá, epistémes aisthetikés, sive AESTHETICAE.»
4
É bem significativo que seja Kant a registar isso, e fá‑lo em várias oca
siões, de que dou exemplos: Ak XX, 343; Ak XXI, 140; Ak XVI, 65, 66, 67, 68.
5
«Philosophiam et poematis pangendi scientiam, habitas saepe pro dis‑
sitissimis, amicissimo iunctas ponerem ob oculos.» Meditationes philosophicae de
nonnulis ad poema pertinentibus, ed. cit., p. 4.
6
Schelling, Sistema do Idealismo Transcendental, 1800: «…a arte é o modelo
da ciência e somente onde há arte pode chegar a ciência. A partir disto se ex‑
plica também por que razão e em que medida não há nenhum génio nas ciên
cias, não porque seja impossível resolver genialmente uma tarefa científica,
mas porque a mesma tarefa cuja solução pode ser encontrada por um génio
é também resolúvel mecanicamente, por exemplo, o sistema gravitacional de
Newton, que pode ter sido uma invenção (Erfindung) genial, e o foi realmente
no seu primeiro inventor, Kepler, e da mesma forma pôde ser inteiramente
científica, no que se transformou por obra de Newton. Somente aquilo que a
arte produz é possível pura e exclusivamente por um génio.» F. W. J. Schelling,
System des transzendentalen Idealismus, in: Schellings Werke, II, ed. de M. Schröter,
Beck, München, 1927, p. 623.
305
7
O Mais Antigo Programa de Sistema do Idealismo Alemão. Este singular ma‑
nifesto filosófico foi editado, traduzido, introduzido e anotado por Manuel José
do Carmo Ferreira, in Philosophica, 9 (1997), 225‑226.
306
8
KrV A 22: «Os alemães são presentemente os únicos que se servem da
palavra Estética para designar aquilo que outros chamam crítica do gosto. Re‑
side na base disso uma falhada esperança que o notável analista abraçou de su‑
bordinar a apreciação crítica do belo a princípios racionais e de elevar as regras
da mesma a uma ciência. Só que este esforço é em vão. Pois as supostas regras
ou os critérios, no que respeita às suas [principais — B] fontes, são meramente
empíricas e nunca podem servir para leis [determinadas — B] a priori, segundo
as quais o nosso juízo de gosto se deva reger, sendo antes este último propria‑
mente a pedra‑de‑toque da correcção daquelas.»
9
Nesta linha se inscreve o ensaio de Kant de 1764, Beobachtungen über das
Gefühl des Schönen und Erhabenen.
10
Tal o título da obra de Edmund Burke, A Philosophical Enquiry into the Origin
of our Ideas of the Sublime and Beautiful, 1757, na qual Kant largamente se inspira.
11
Não deixa de ser estranho que precisamente aquele sentido que mais
irredutível é à beleza e o mais impuro seja assim a base da Estética da Moderni‑
dade. Os sentidos tradicionalmente considerados estéticos eram a vista e o ou‑
vido, capazes, um, de captar as formas, as figuras, a luz, o brilho e as simetrias
e proporções, e o outro, as harmonias (outra espécie de proporções ou relações).
O próprio Rousseau, no Émile (IV), diz, do gosto, que «l’activité de ce sens est
toute physique et matérielle».
307
12
V. Alexander von Bormann (Hrsg.), Vom Laienurteil zum Kunstgefühl,
Max Niemeyer Verlag, Tübingen, 1974. Nomeadamente o texto de Friedrich
Nicolai (1755), pp. 125‑129: «Eine genaue und gesunde Kritik, <ist>das einzige
Mittel, den guten Geschmack zu erhalten, und zu bestimmen. … Die Hülfe der
Kritik ist uns nur desto unentbehrlicher, da wir anfangen müssen, die feinen
Schönheiten zu erreichen, und die feinen Fehler zu vermeiden, die nicht, gleich
den gröbern, sogleich in die Sinne fallen, und auf die wir bisher zu wenig Acht
gegeben haben. ... Die Kritik ist die einzige Helferin, die, indem sie unsere Un‑
vollkommenheiten aufdeckt, in uns zugleich die Begierde nach höhern Voll‑
kommenheiten anfachen kan.»
308
13
KU, § 1, Ak V, 203; Erste Einleitung in die Kritik der Urtelskraft, xi (ed. Leh‑
mann, 56): «Wir werden die Kritik dieses Vermögens in Ansehung der ersteren
Art Urteile [ästhetische Urteile] nicht Ästhetik (gleichsam Sinnenlehre), son‑
dern Kritik der ästhetischen Urteilskraft nennen, weil der erstere Ausdruck von
zu weitläufiger Bedeutung ist, indem er auch die Sinnlichkeit der Anschauung,
die zum theoretischen Erkenntnis gehört und zu logischen (objektiven) Urtei‑
len den Stoff hergibt, bedeuten könnte, daher wir auch schon den Ausdruck
Ästhetik ausschliessungsweise für das Prädikat, was in Erkenntnisurteilen zur
Anschauung gehört, bestimmt haben. Eine Urteilskraft aber ästhetisch zu nen‑
nen, darum, weil sie die Vorstellung eines Objekts nicht auf Begriffe und das
Urteil also nicht aufs Erkenntnis bezieht (gar nicht bestimmend, sondern nur
reflektierend ist), das lässt keine Missdeutung besorgen; denn für die logische
Urteilskraft müssen Anschauungen, ob sie gleich sinnlich (ästhetisch) sind,
dennoch zuvor zu Begriffen erhoben werden, um zum Erkenntnisse des Ob‑
jekts zu dienen, welches bei der ästhetischen Urteilskraft nicht der Fall ist.»
14
Kant continuará a usar o adjectivo «estético» no sentido do que se refere
ao intuitivo e sensível, como oposto ao lógico (discursivo, intelectual). Sobre
isso, v. o meu ensaio «O estatuto da sensibilidade no pensamento kantiano:
Lógica e poética do pensamento sensível», in Leonel Ribeiro dos Santos, A Razão
Sensível. Estudos Kantianos, Edições Colibri, Lisboa, 1994, pp. 13‑37.
309
310
Kant conclui:
311
15
Empfindung tanto pode dizer a sensação, como o sentir, como o sentimen‑
to. Em qualquer caso, indica a dimensão subjectiva — a capacidade de o sujeito
ser intimamente afectado e o modo de o ser.
16
KU, Ak V, 277: «Es ist auch nicht zu läugnen, dass alle Vorstellungen in
uns, sie mögen objectiv bloss sinnlich, oder ganz intellectuell sein, doch subjectiv mit
Vergnügen oder Schmerz, so unmerklich beides auch sein mag, verbunden werden kön‑
nen (weil sie insgesammt das Gefühl des Lebens afficiren, und keine derselbe, sofern
als sie Modifikation des Subjects ist, indifferent sein kann); sogar dass, wie Epikur
behauptete, immer Vergnügen und Schmerz zuletzt doch körperlich sei, es mag
von der Einbildung, oder gar von Verstandesvorstellungen anfangen: weil
das Leben ohne das Gefühl des körperlichen Organs bloss Bewusstsein seiner
Existenz, aber kein Gefühl des Wohl‑oder Übelbefindens, d. i. der Beförderung
oder Hemmung der Lebenskräfte, sei; weil das Gemüth für sich allein ganz Le‑
ben (das Lebensprincip selbst) ist, und Hindernisse oder Beförderungen ausser
demselben und doch im Menschen selbst, mithin in der Verbindung mit seinem
Körper gesucht werden müssen.»
312
sen, aber doch nicht bloss als solche (z. B. Geister), sondern zugleich als tieri‑
sche.» KU, §5, Ak V, 210.
313
19
«Schönheit ist Form der Zweckmässigkeit eines Gegenstandes, sofern
sie ohne Vorstellung eines Zwecks an ihm wahrgenommen ist.» Ak V, 236.
Como traduzir a expressão alemã «Zweckmässigkeit»? Finalidade?, conformi‑
dade a um fim?, teleoformidade? Temos adoptado esta última solução, pois nos
parece inadequada a primeira e para evitar o circunlóquio da segunda.
20
São do género várias expressões usadas por Nicolau de Cusa: «douta ig‑
norância», «altíssima profundidade», «possest»; ou a «música calada» do poeta
barroco e místico espanhol San Juan de la Cruz. São também exemplos de ex‑
pressões oxímoras (que se auto‑anulam, que dizem o mesmo e o seu contrário,
provocando o paradoxo ou a perplexidade) na Crítica do Juízo: «Kunst als Natur
/ Natur als Kunst»; «Gesetzmässigkeit ohne Gesetz», «freie Gesetzmässigkeit»
(Ak V, 241): para falar do modo de produção da imaginação: «Dass die Einbil‑
dungskraft frei und doch von selbst gesetzmässig sei, d. i. dass sie eine Autono‑
mie bei sich führe, ist ein Widerspruch. Der Verstand allein gibt das Gesetz. Wenn
aber die Einbildungskraft nach einem bestimmten Gesetze zu verfahren genötigt
wird, so wird ihr Produkt, der Form nach, durch Begriffe bestimmt, wie es sein
soll; aber alsdann ist das Wohlgefallen, wie oben gezeigt, nicht das am Schönen,
sondern am Guten (der Vollkommenheit, allenfalls bloss der formalen), und das
Urteil ist kein Urteil durch Geschmack. Es wird also eine Gesetzmässigkeit ohne
Gesetz, und eine subjektive Übereinstimmung der Einbildungskraft zum Ver‑
stande ohne eine objektive, da die Vorstellung auf einen bestimmten Begriff von
einem Gegenstande bezogen wird, mit der freien Gesetzmässigkeit des Verstan‑
des (welche auch Zweckmässigkeit ohne Zweck genannt worden) und mit der
Eigentümlichkeit eines Geschmacksurteils allein zusammen bestehen können.»
Note‑se que a Gesetzmässigkeit ohne Gesetz ou a freie Gesetzmässigkeit = Zweckmäs‑
sigkeit ohne Zweck, o que significa que Einbildungskraft = Urteilskraft!
314
Uma flor, por exemplo, uma túlipa é tida por bela, por‑
que na percepção dela se encontra uma certa teleoformida‑
de, a qual, na medida em que a apreciamos, não está rela‑
cionada absolutamente com nenhum fim. 21
21
«Eine Blume, z. B. eine Tulpe, wird für schön gehalten, weil eine ge‑
wisse Zweckmässigkeit, die so, wie wir sie beurteilen, auf gar keinen Zweck
bezogen wird, in ihrer Wahrnehmung angetroffen wird.» Ak V, 236.
22
«Dieser transzendentaler Begriff einer Zweckmässigkeit der Natur...
gar nichts dem Objekte (der Natur) beilegt, sondern nur die einzige Art, wie
wir in der Reflexion über die Gegenstände der Natur […] vorstelle, folglich
ein subjektives Prinzip (Maxime) der Urteilskraft; daher wir auch, gleich als
ob es ein glücklicher unsre Absicht begünstigender Zufall wäre, erfreuet […]
werden.» Einl.,V. KU, Ak V, 184.
315
E no § 12:
«Das Geschmacksurteil hat nichts als die Form der Zweckmässigkeit eines
23
316
25
O mesmo se poderia dizer do famoso urinol de Duchamp, resgatado da
sua muito útil mas baixa e vil função e, uma vez rebaptizado como Fonte, vê‑se
sublimado esteticamente, tornando‑se um nobre objecto estético, não tanto,
talvez, para uma mera contemplação desinteressada quanto, muito mais, para
sobejas dissertações e discussões acaloradas acerca da natureza e estranho des‑
tino da arte contemporânea! (Veja-se T. de Duve, Kant nach Duchamp, Boer,
München, 1993.) Por muito que tal nos pareça algo contra‑natura, Kant ver‑se
‑ia assim, não ultrapassado e negado, mas antes promovido a verdadeiro pa‑
trocinador intelectual de toda a arte do modernismo e até do pós‑modernismo
(J.‑F. Lyotard, Leçons sur l’Analytique du Sublime, Galilée, Paris, 1991; L’inhumain.
Causeries sur le temps, Galilée, Paris, 1988 («Le sublime et l’avant‑garde»). Deve,
todavia, ter‑se em conta que Kant dispunha de contrapesos à arbitrariedade
instituinte do artista que os modernistas e pós‑modernistas já não têm. Tais
contrapesos eram a natureza, o sentido comum, e, em última instância, uma
visão moral do mundo, a qual no fundo envolve toda a concepção kantiana
das questões estéticas.
317
26
Fernando Pessoa, Poemas Completos de Alberto Caeiro, ed. de Teresa So‑
bral Cunha, Presença, Lisboa, 1994, p. 76.
318
particular lucidez na sua obra, Invocação ao Meu Corpo, Lisboa, 1968. V. o meu
ensaio, «A arte como obsessão, ou o humanismo estético de Vergílio Ferrei‑
ra», in L. Ribeiro dos Santos, Melancolia e Apocalipse. Estudos sobre o Pensamento
Português e Brasileiro, INCM, Lisboa, 2008, pp. 349-374.
319
320
28
KU, § 27, Ak V, 259-260.
321
29
Por isso Kant sente‑se autorizado a considerar os dois sentimentos — o
do belo e o do sublime — como partes da crítica do juízo estético: «A capaci‑
dade de sentir um prazer [Empfänglichkeit einer Lust] a partir da reflexão acerca
das formas das coisas (tanto da natureza como da arte) não indica apenas uma
teleoformidade [Zweckmässigkeit] dos objectos em relação à faculdade de jul‑
gar reflexionante, conforme [gemäss] ao conceito de natureza no sujeito, mas
também, inversamente, uma <teleoformidade> do sujeito em vista dos objectos
[Gegenstände] quanto à sua forma ou mesmo à falta de forma [Unform], segun‑
do o conceito de liberdade; e assim acontece que o juízo estético se refere não
apenas ao belo como juízo de gosto, mas também, enquanto nascido de um
sentimento do espírito [aus einem Geistesgefühl entsprungenes], ao sublime [Erha‑
bene].» Einl., vii, Ak V, 192.
322
323
30
KU, § 28, parágrafo final.
324
31
Reflexion 672, Ak XV, 298.
325
Erkenntnisses mit dem Subjekte, und gründet sich auf die besondre Sinnlichkeit
des Menschen. Es finden daher bei der ästhetischen Vollkommenheit keine
objektiv — und allgemeingültigen Gesetze statt, in Beziehung auf welche sie sich a
priori auf eine für alle denkende Wesen überhaupt, doch subjektiv für die gesamte
Menschheit Gültigkeit haben: lässt sich auch eine ästhetische Vollkommenheit
denken, die den Grund eines subjektiv‑allgemeinen Wohlgefallens enthält.
Dieses ist die Schönheit — das, was den Sinnen in der Anschauung gefällt und
eben darum der Gegenstand eines allgemeinen Wohlgefallens sein kann, weil die
Gesetze der Anschauung allgemeine Gesetze der Sinnlichkeit sind. Durch diese
Übereinstimmung mit den allgemeinen Gesetzen der Sinnlichkeit unterscheidet
sich der Art nach das eigentliche, selbständige Schöne, dessen Wesen in der blossen
Form besteht, von dem Angenehmen, das lediglich in der Empfindgung durch
Reiz oder Rührung gefällt, und um deswillen auch nur der Grund eines blossen
Privat‑Wohlgefallens sein kann.» Ak IX, 36‑37.
326
327
oben sind mit dem Gesetzen der Sinnlichkeit anderer sehr übereinstimmend,
und daraus werden die Grundregeln des Geschmacks bezogen. Was sind
das für Gesetze? — Unsere Sinnlichkeit ist in beständiger Aktivität und will
es auch beständig sein. Aus diesem Grundgesetz der Sinnlichkeit zieht man
die Regel des Geschmacks: soll ein Objekt der Sinnlichkeit gefallen, so muss
darin Mannigfaltigkeit angebracht werden, damit sie Stoff bekomme womit
sie sich beschäftigen kann: Das Gemüt ist bei der Form aller Gegenstände
tätig. Es gibt die Materialien her, und will sie durch den Gegenstand gebildet
haben. — Alles was diese Aktivität der Sinnlichkeit hindert, ist ihr verdriesslich
und unangenehm. Hieraus fliesst die Regel: man bemühe sich in dem
Mannigfaltigen, Symmetrie, Harmonie und Klarheit und überhaupt Fasslichkeit
anzubringen, damit die Sinnlichkeit den Gegenstand ohne Mühe fassen, die
Eindrücke desselben leicht unterscheiden und empfinden kann. Also fordert
der Geschmack Mannigfaltigkeit, Kontrast, Harmonie, Leichtigkeit, Klarheit
und einen allmählichen Übergang von einem bis aufs Oppositum desselben,
der Sprung verwirrt die Sinnlichkeit. Ein Gegenstand an dem dieses alles in
einem fasslichen Verhältnis angebracht ist, ist wesentlich schön und gefällt
allgemein. Ein grosser Gegenstand als ein Gebäude gefällt wenn Symmetrie
darin angebracht ist; sie erleichtert den Anblick des Gebäudes. […] Es gibt also
gewisse gemeine Gesetze der Sinnlichkeit in Ansehung der Form und dieses
werden, wo ich nicht irre, diejenigen sein die ich bisher durchgegangen. —
Allein es muss der Reiz gans abgesondert werden. […] Wenn ein Mensch
die Gesetze der Sinnlichkeit nicht weiss, so kann ihm auch das Schöne nicht
gefallen: denn Gegenstände der Sinne müssen nach Gesetzen der Sinnlichkeit
beurteilt werden; ein solcher Mensch urteilt dann nach dem Reiz.» (Logik
‑Philippi, Ak XXIV, Berlin, 1966, apud Jens Kulemkampf, Materialien zu Kants
Kritik der Urteilskraft, Suhrkamp, Frankfurt a. M., pp. 106‑107.)
328
34
Assim no Prefácio da KU: «… kann die grosse Schwierigkeit, ein Pro‑
blem, welches die Natur so verwickelt hat, aufzulösen, einiger nicht ganz zu
vermeindenden Dunkelheit in der Auflösung desselben, wie ich hoffe, zur
Entschuldigung dienen…» Ak V, 170. Também a carta a Reichardt (15 de
Outubro de 1790, Ak XI, 228) fala do «so schweer zu erforschenden Ge‑
schmacksvermögen». Noutros lugares, Kant sugere que a comunicabilidade
e universalidade do gosto se funda na proximidade que esse sentimento tem
com o sentimento moral. A já citada carta a Reichardt di‑lo sem ambiguidade
(texto citado infra, nota 52): sem sentimento moral não teríamos qualquer sen‑
timento do belo e do sublime.
329
35
Segundo Hume, o que funda a pertinência do juízo de gosto e estabele‑
ce as normas do gosto é o conhecimento dos experimentados, por conseguinte,
a comunidade dos conhecedores, que aliás são raros. A universalidade do gosto
é estatística: o que de uma forma permanente é altamente apreciado pelo maior
número de pessoas, isso deve ser tido por belo e bom. Hume até concede que
«as normas universais do gosto são as mesmas para a natureza humana em
geral»; mas as diferenças entre os indivíduos, as deficiências e os preconceitos
de cada um deles, as diferenças entre culturas, países e épocas tornam muito
improvável, senão até impossível, o acordo inequívoco e duradouro num juízo
de gosto.
36
«Man könnte sogar den Geschmack durch das Beurteilungsvermögen
desjenigen, was unter Gefühl an einer gegebenen Vorstellung ohne Vermittlung
eines Begriffs allgemein mitteilbar macht, definieren.» KU, § 40, Ak V, 295.
330
331
E assim o § 40 conclui:
37
Ak V, 294.
38
Ak V, 295.
332
KU, § 40, Ak V, 296. Foi esta muito peculiar natureza do juízo de gosto
40
que levou Hannah Arendt a reconhecer neste tópico não tanto as virtualidades
para compreender as questões estéticas, quanto o núcleo mais original e fe‑
cundo para pensar a filosofia política de Kant e a própria essência do político.
Veja-se, neste volume, pp. 503-546.
333
KU, § 41.
41
334
E Kant conclui:
43
KU, § 29, último parágrafo.
335
44
Sobre a concepção kantiana do génio, v. O. Schlapp, Kants Lehre vom Genie
und die Entstehung der Kritik der Urteilskraft, Göttingen, 1901; Jürgen Saartrowe,
Genie und Reflexion. Zu Kants Theorie des Ästhetischen, Neuburgweier/Karlsruhe,
1971.
336
45
KU, § 50.
337
46
Aspecto este especialmente destacado por Hannah Arendt, na sua in‑
terpretação da filosofia política de Kant e da Crítica do Juízo. Veja-se o último
ensaio deste volume.
338
KU, § 41.
47
Embora o tenha feito por uma torção hermenêutica, foi com toda a ra‑
48
339
49
«Der Geschmack macht gleichsam den Übergang vom Sinnereiz zum
habituellen moralischen Interesse ohne einen zu gewaltsamen Sprung mög‑
lich.» Ak V, 354.
340
KU, § 60.
50
341
hat einen Grund a priori und kann nicht aus Erfahrung abgeleitet werden. […]
Der Grund a priori aber liegt in der Anlage zur Moralität in unserm Subjecte,
welche macht, dass alle Menschen an dieser oder jener Sache ein Gefallen finden
müssen. Der wahre und ächte Geschmack ist unzertrennlich vom moralischen
Gefühle.» (Semestre de Inverno 1790-1791, apud H. Klemme, «Einleitung» à sua
ed. da Kritik der Urteilskraft, Meiner, Hamburg, 2006.)
Na Anthropologie (Ak VII, 244): «Nun ist das Wohlgefallen, was […] als
allgemeingültig betrachtet werden kann, weil es Notwendigkeit (dieses
Wohlgefallens), mithin ein Prinzip desselben a priori enthalten muss, um als ein
solches gedacht werden zu können, ein Wohlgefallen an der Übereinstimmung
der Lust des Subjekts mit dem Gefühl jedes anderen nach einem allgemeinen
Gesetz, welches aus der allgemeinen Gesetzgebung des Fühlenden, mithin aus
der Vernunft entspringen muss: d. i. die Wahl nach diesem Wohlgefallen steht
der Form nach unter dem Prinzip der Pflicht. Also hat der ideale Geschmack
eine Tendenz zur äusseren Beförderung der Moralität.»
Numa carta a Reichardt (15 de Outubro de 1790; Ak XI, 228), falando
do propósito que teve com a Crítica do Juízo ao tratar os traços fundamentais
(Grundzüge) da tão difícil de investigar faculdade do gosto (so schweer zu
erforschenden Geschmacksvermögen) escreve: «Ich habe mich damit begnügt,
zu zeigen: dass ohne sittliches Gefühl es für uns nichts schönes oder Erhabenes
geben würde: dass sich eben darauf der gleichsam gesetzmässige Anspruch
auf Beyfall bey allem, was diesen Nahmen führen soll, gründe und dass das
Subjektive der Moralität in unserem Wesen, welches unter dem Namen des
sittlichen Gefühls unerforschlich ist, dasjenige sey, worauf, mithin nicht auf
obiective Vernunftbegriffe, dergleichen sie Beurtheilung nach moralischen
Gesetzen erfordert, in Beziehung, urtheilen zu können, Geschmack sey: der
also keineswegs das Zufällige der Empfindgung, sondern ein (obzwar nicht
discursives, sondern intuitives) Princip a priori zum Grunde hat.»
342
53
KU, § 42; Ak V, 298‑299.
343
54
Disso foi Hegel o principal responsável, especulativamente falando.
Nas suas Lições sobre Estética, desde o primeiro parágrafo ele decide que nelas
se trata de uma filosofia da arte e da beleza artística, com isso significando que
toda a teoria estética se centra na obra de arte como produção e afirmação do
espírito e da autónoma subjectividade do artista, desqualificando como irre‑
levante e deixando mesmo fora de consideração tudo o que se refere ao belo
natural como algo que, por si mesmo, é desprovido de qualidade ou significado
estéticos, só os tendo como reflexo do belo artístico. Hegel radicalizou ainda
mais e absolutizou a subjectivização da estética e rompeu aquele equilíbrio ten‑
so e fecundo que na concepção kantiana dos sentimentos estéticos se mantinha
entre o sujeito (a arte) e a natureza.
344
345
346
57
Tenha‑se presente o já citado manifesto filosófico conhecido por O Mais
Antigo Programa de Sistema do Idealismo Alemão, cuja versão manuscrita que até
nós chegou terá sido redigida por Hegel. (V. nota 7, p. 306.) Na mesma linha
vão as teses de Schelling na sua obra Sistema do Idealismo Transcendental (1800),
onde se podem ler declarações como esta: «O verdadeiro sentido para com‑
preender este modo de filosofia [i. e., a filosofia transcendental] é o estético e,
precisamente por isso, a filosofia da arte é o verdadeiro organon da filosofia.»
Introdução, § 4, Schellings Werke II, ed. de M. Schröter, München, Beck’sche Ver‑
lagsbuchhandlung, 1927, p. 351.
58
Tal como os mausoléus das pessoas ilustres da história antiga, os Mu‑
seus — esses templos ou santuários da arte que se instituíram sobretudo a par‑
tir do século xix e até à actualidade — cumprem simultaneamente a função de
monumentos de consagração e celebração e de sarcófagos ou túmulos da arte.
E cada vez é mais difícil discriminar o que é digno ou não de ser celebrado ou
consagrado por essa instituição. Sobre o debate actual em torno do tópico da
«morte da arte», v. Berel Lang (ed.), The Death of Art, Haven Publishers, New
York, 1984; Hans Belting, Likeness and Presence: A History of the Image before the
End of Art, University of Chicago Press, Chicago, 1984; Idem, Das Ende der Kunst
geschichte?, Deutscher Kunstverlag, München,1983; Idem, Das Ende der Kunstge‑
schichte: Eine Revision nach zehn Jahre, Verlag C. H. Beck, München, 1995; Arthur
Danto, After the End of Art, Princeton University Press, Princeton, 1997 (trad.
espanhola Después del fin del Arte, Paidós, Barcelona, 1999); Idem, The State of
Art, Prentice Hall Press, New York, 1987; Idem, Encounters and Reflections: Art
in the Historical Present, Noonday Press, New York, 1991 (contém um capítulo
sobre «Narratives of the End of Art»); Gianni Vattimo, La Fine della Modernità,
Garzanti, 1985 (contém um capítulo sobre «A morte ou declínio da arte»). No
contexto do pensamento português contemporâneo ninguém levou mais fun‑
do a meditação sobre o destino da arte ao longo do século xx do que Vergílio
Ferreira, na sua obra Invocação ao Meu Corpo (1968). V. o meu ensaio «A arte
como obsessão, ou o humanismo estético de Vergílio Ferreira» no meu livro
Melancolia e Apocalipse. Estudos sobre o Pensamento Português e Brasileiro, INCM,
Lisboa, 2008, pp. 349-374.
347
1
«Schöne Kunst muss als Natur anzusehen sein, ob man sich ihrer zwar
als Kunst bewusst ist. […] Die Natur wird nicht mehr beurtheilt, wie sie als
Kunst erscheint, sondern sofern sie wirklich (obzwar übermenschliche) Kunst
ist.» I. Kant, Kritik der Urteilskraft, Akademie‑Ausgabe, Ak V, 307, 311.
2
Importante ponto da situação pode encontrar‑se em: Jörg Zimmer‑
mann, Uta Saenger, Götz‑Lothar Darsow (eds.), Ästhetik und Naturerfahrung,
Stuttgart‑Bad Cannstatt, 1996. De resto, entre a já muito vasta literatura, v.
Gernot Böhme, Für eine ökologische Naturästhetik, Suhrkamp, Frankfurt a. M.,
1989; Ruth Groh / Dieter Groh, «Von den schrecklichen zu den erhabenen
Bergen. Zur Entstehung ästhetischer Naturerfahrung», in Idem, Weltbild und
Naturaneignung. Zur Kulturgeschichte der Natur, Suhrkamp, Frankfurt a. M.,
1996, pp. 92‑149; «Natur als Masstab — ein Kopfgeburt», Merkur, n.o 536,
vol. 47 (1993), pp. 965‑979; Birgit Recki, «Ideal der Schönheit und Primat der
Natur», Proceedings of the Eight International Kant Congress, Menphis, 1995,
Milwaukee, 1995, vol. 2, pp. 473‑480; Idem, «Das produktive Leben: Über die
ästhetische Faszination der Natur», in J. Zimmermann et alii (eds.), Ästhetik
und Naturerfarung, Stuttgart‑Bad Cannstatt, 1996, pp. 77‑86; Martin Seel, Eine
Ästhetik der Natur, Suhrkamp, Frankfürt / M., 1991; Idem, «Kants Ethik der
ästhetischen Natur», in R. Bubner, B. Gladigow, W. Hang (eds.), Die Trennung
von Natur und Geist. Zur Auflösung der Einheit der Wissenschaften in der Neu‑
zeit, Fink, München, 1990, pp. 181‑208; W. Lech, «Theologisch‑ethischer Ent‑
wurf einer Ästhetik der Natur», in idem, Theologie und ästhetische Erfahrung,
WGB, Darmstadt, 1993, pp. 125‑144; J.‑P. Wils, «Verletzung und Integrität.
349
350
5
V. Renée Weber, Dialogues avec des Scientifiques et des Sages, Éditions du
Rocher, Monaco, 1988. Sobre Bohm, o cap. 56: «La créativité: la signature de la
nature», pp. 155‑171; Sobre Prigogine, o cap. 10: «Le ré‑enchantement de la na‑
ture», pp. 285‑310. De Hubert Reeves, v. Malicorne. Reflexões de Um Observador da
Natureza, Gradiva, Lisboa, 1990. V. ainda Klaus Mainzer, Symmetrien der Natur,
Walter de Gruyter, Berlin, 1988; John D. Barrow, The Artfull Universe, Oxford
University Press, Oxford, 1995.
6
Aspecto particularmente sublinhado por Gernot Böhme, para quem o
actual interesse pela estética da natureza é de uma ordem muito diferente da‑
quele que foi proposto na estética da natureza setecentista, refém da visão cien‑
tífica da natureza, que, por isso, privilegiava a dimensão representativa (con‑
templação) e não a vivência sensível da natureza. A nova estética da natureza
faria assim parte de uma nova relação do homem com a natureza em que este
encontra o seu ser antes de mais pela mediação do corpo e da sensibilidade na
e com a natureza.
7
Ästhetische Theorie, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1970 (trad. portuguesa
Teoria Estética, Edições 70, Lisboa). Adorno não deixa, porém, de apontar as res‑
ponsabilidades de Kant nessa viragem do belo natural para o belo artístico, que
se consumou nas estéticas do Idealismo. Se isso aconteceu, foi por uma extensão
do domínio do conceito de liberdade e de dignidade humana, conceito introdu‑
zido por Kant no domínio ético e transplantado depois para o domínio estético
por Schiller e Hegel. Segundo um tal conceito, no mundo não se deve ter em
consideração como absolutamente digno senão aquilo que o sujeito autónomo
deve a si próprio.
351
8
Hegel, Vorlesungen über die Ästhetik, Theorie Werkausgabe, Frankfurt a.
M., 1970, Bd. 13. Cf. Allen Hance, «The Art of Nature: Hegel and the Critique
of Judgment», International Journal of Philosophical Studies (Dublin), 6 (1998),
37‑65.
9
Não assim, porém, em Schelling, para quem há uma conatural relação
entre a arte e a natureza, a filosofia da arte e a filosofia da natureza, como se
lê no seu ensaio Über das Verhältnis der bildenden Künste zu der Natur (Sämtliche
Werke, VII, p. 321, Anm. 1): «Diese ganze Abhandlung weist die Basis der Kunst
und also auch der Schönheit in der Lebendigkeit der Natur nach.»
10
Sobre Platão, v. Leis, 888 e — 892 b.
352
11
Sobre o tratamento da natureza na arte contemporânea, v. Hans Robert
Jauss, «Kunst als Anti‑Natur. Zur ästhetischen Wende nach 1798», in idem, Stu‑
dien zum Epochenwandel der ästhetischen Moderne, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1989,
pp. 119‑156; Ronald Hepburn, «Contemporary Aesthetics and the Neglect of Na‑
tural Beauty», in Idem, Wonder and other Essays, Edinburgh University Press, 1984;
Colette Garraud, L’idée de nature dans l’art contemporain, Flammarion, Paris, 1993; O.
Batschann, Entfernung der Natur. Landschaftsmalerei 1750‑1920, Köln, 1989.
12
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 318.
13
Para além de Adorno (ob. cit.), v. Salim Kemal, «The significance of na‑
tural beauty», British Journal of Aesthetics, 19 (1979), pp. 147‑166; Birgit Recki,
«Ideal der Schönheit und Primat der Natur: zur systematischen Interpretation
des ästhetischen Gefühls», in Proceedings of the Eighth International Kant Con‑
gress, Memphis, Milwaukee, 1995, vol. 2, pp. 473‑480; Rosario Assunto, «Kant,
l’estetica della natura e la difesa dell’ambiente», Il cannocchiale (Roma), 1987,
1‑2, pp. 73‑89; Martin Seel, «Kants Ethik der ästhetischen Natur», in R. Bubner,
B. Gladigow, W. Hang (eds.), Die Trennung von Natur und Geist. Zur Auflösung
der Einheit der Wissenschaften in der Neuzeit, Fink, München, 1990, pp. 181‑208;
Gerahrd Schneider, Naturschönheit und Kritik. Zur Aktualität von Kants Kritik
der Urteilskraft für die Umwelterziehung, Königshausen & Neumann, Würzburg,
1994; Malcolm Budd, «Delight in the Natural World: Kant on the Aesthetic
Appreciation of Nature. Part I: Natural Beauty», British Journal of Aesthetics 38
(1998), 1‑18; idem, «Delight in the Natural World: Kant on the Aesthetic Appre‑
ciation of Nature. Part II: Natural Beauty and Morality», British Journal of Aes‑
thetics 38 (1998), 117‑126; idem, «Delight in the Natural World: Kant on the Aes‑
353
thetic Appreciation of Nature. Part III: The Sublime in Nature», British Journal of
Aesthetics 38 (1998), 233‑250; Jane Kneller, «Beauty, Autonomy and Respect for
Nature», in H. Parret (ed.), Kants Ästhetik, Kant’s Aesthetics, L’esthétique de Kant,
W. de Gruyter, Berlin / New York, 1998, 403‑414; Reinhard Brandt, « Die Schön‑
heit der Kristalle und das Spiel der Erkenntniskräfte. Zum gegenstand und
zur Logik des ästhetischen Urteils bei Kant», in Autographen, Dokumente und
Berichte. Zu Edition, Amstgeschäften und Werk Immanuel Kants, Hamburg, 1994,
pp. 19‑57; G. Felicitas Munzel, «The Privileged Status of Interest in Nature’s
Beautiful Forms: A Response to Jane Kneller», Proceedings of the Eight Interna‑
tional Kant Congress (Memphis, 1995), Margrette Press, Milwaukee, 1995, vol. i,
part 2, pp. 787‑792; Fiona Hughes, «The Technic of Nature: What is Involved
in Judging?», in H. Parret (ed.), Kants Ästhetik / Kant’s Aesthetics / L’Esthétique de
Kant, W. de Gruyter, Berlin / New York, 1998, pp. 176‑191.
14
Cf. Hans‑Georg Gadamer, Die Aktualität des Schönen, Reclam, Stuttgart,
1977, pp. 39‑40; idem, Wahrheit und Methode, J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), Tübin‑
gen, 1975, pp. 46 e segs.
15
Ibidem, p. 54.
354
Alain Roger / François Guéry (dir.), Maîtres & Protecteurs de la Nature, Champ
Vallon, Seyssel, 1991, pp. 173‑196.
355
19
«Es muss Natur sein, oder von uns dafür gehalten werden.» (Kritik der
Urteilskraft, Ak V, 302.) «Die Natur war schön, wenn sie zugleich als Kunst aus‑
sah; und die Kunst kann nur schön genannt werden, wenn wir uns bewusst
sind, sie sei Kunst, und sie uns doch als Natur aussieht.» (Ak V, 306.)
356
20
Cf. Kritik der Urteilskraft, Einleitung, VIII, Ak V, 193.
21
Allgemeine Naturgeschichte und Theorie des Himmels, Ak I, 306.
22
Ibidem, 315.
357
23
Ibidem, 364.
24
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 265.
358
27
V. o meu ensaio «Sentimento do sublime e vivência moral em Kant», in
A Razão Sensível. Estudos Kantianos, Colibri, Lisboa, 1994.
359
360
Crítica do Juízo, à qual devo um dos períodos mais felizes da minha vida. Aqui vi
as minhas ocupações mais díspares postas uma junto da outra; os produtos da arte
e da natureza considerados do mesmo modo; o juízo estético e o juízo teleológico
iluminando‑se mutuamente… Alegrava‑me que a arte poética e a ciência natural
comparada fossem tão afins uma da outra, e que ambas estivessem subordina‑
das à mesma faculdade de julgar… Contudo, entre os kantianos encontrei pouco
acordo tanto relativamente ao que eu tinha assimilado como em relação ao modo
como o tinha assimilado… Eles ouviam‑me, mas nem eram capazes de me fazer
objecções nem de me ajudar.» Einwirkung der neueren Philosophie (1817), publicado
em Zur Morphologie I, 2 (1820) (trad. castelhana de Diego Sánchez Meca, em J. W.
von Goethe, Teoría de la naturaleza, Tecnos, Madrid, 1997, pp. 182‑184).
31
Descartes, Principes de la Philosophie IV, § 203, in Œuvres (ed. Adam
‑Tannery — AT —, reimpr. Vrin, Paris, 1996) IX‑2, 321‑322.
32
Descartes, Le Monde, AT XI, 36‑37.
361
33
AT IX‑2, 48.
34
Veja‑se esta passagem de uma carta a Mersenne, de 18 de Março de
1630: «Para saber se se pode estabelecer a razão do belo eu pergunto: porquê
um som é mais agradável à alma do que outro? Efectivamente, nem o belo nem
o agradável significam nada a não ser uma relação do nosso juízo ao objecto (ne
signifient rien qu’un rapport de notre jugement à l’objet); e dado que os juízos
dos homens são tão diferentes, não se pode dizer que o belo e o agradável
tenham alguma medida determinada.» (AT I, 19‑20.) Sobre as ideias estéticas
de Descartes, v. Aires Rodeia Pereira, «Teoria musical e ciência no Compendium
Musicae de Descartes», in L. Ribeiro dos Santos, Pedro M. S. Alves, Adelino
Cardoso (orgs.), Descartes, Leibniz e a Modernidade, Edições Colibri, Lisboa, 1998,
pp. 161‑172.
35
M. Ficino, In Tymaeum Commentarium, cap. xv: «Mundum ergo fecit vo‑
luntate, id est, bonitate sua, tam voluntarie quam naturaliter ob immensam fa‑
cunditatem exuberante. quae primum quidem seipsa gaudet: ob idque deinde
sua hac delectatur imagine: ita tamen, ut non in hac imagine, sed in ipso exem‑
plari, atque principio delectationis huius constituat finem. Quoniam igitur bo‑
nitate fecit mundum: idcirco boni gratia fecit ipsum. non enim ut esset viveret,
intelligeret simpliciter, procreavit: sed ut & bene esset, viveret, & bonum intel‑
ligeret atque compararet. Id illi Mosaico valde consonat. Vidit Deus hoc & illud
esse bonum: & cuncta valde bona. Et quia pulchritudo splendor est bonitatis,
ideo subdit ab optimo Deo mundum esse pulcherrimum procreatum.» Marsilio
Ficino, Opera Omnia, Basileae, 1561, vol. ii, p. 1444.
362
36
B. Espinosa, Carta LVIII, de Setembro de 1674 (Opera, ed. Van Vloten
‑Land, II, 370).
37
Ibidem, ii, 308.
38
Evidentemente, nem todos os filósofos racionalistas pensam como
Descartes ou Espinosa, sendo por certo Leibniz a mais notável excepção, para
quem a ordem é muito mais do que uma mera sucessão geométrica e as noções
de perfeição e de harmonia têm uma pregnância metafísica, na linha do plato‑
nismo e neoplatonismo, e a beleza tem simultaneamente um significado sub‑
jectivo na percepção do sujeito e um significado ontológico, como ingrediente
de uma teoria do ser e da verdade. Não é por acaso que é do interior da escola
leibniziano‑wolffiana, com Alexander Baumgarten, que vai nascer a Estética
como uma disciplina autónoma e como legitimação dos direitos e da lógica da
sensibilidade. V. a excelente síntese do pensamento estético leibniziano feita
por Fernando Gil, «Le beau comme excès de l’être: Une note sur Leibniz», in
L. R. dos Santos, Pedro M. S. Alves e A. Cardoso (orgs.), Descartes, Leibniz e a
Modernidade, Lisboa, Edições Colibri, 1998, pp. 253‑262.
39
David Hume, Les essais esthétiques, Paris, Vrin, 1974, vol. ii, p. 82.
40
David Hume, A Treatise of Human Nature, Book II (ed. Fontana / Collins,
363
Glasgow, 1972, p. 59): «beauty be not something real, and different from the
power of producing pleasure».
364
365
43
Veja-se J. Stolnitz, «On the Origins of ‘Aesthetic Disinterestedness’», The
Journal of Aesthetics and Art Criticism, 20 (1961), 131‑143; David A. White, «The
Metaphysics of Disinterestedness: Shaftesbury and Kant», The Journal of Aes‑
thetics and Art Criticism, 32 (1973-1974), 239‑248.
366
44
Jean‑Jacques Rousseau, Julie ou la Nouvelle Heloïse, I, Lettre 23, ed.
Garnier‑Flammarion, Paris.
367
45
Jean‑Jacques Rousseau, Les rêveries du promeneur solitaire, Septième Pro‑
menade (1777; publ. 1782), Garnier‑Flammarion, Paris, 1964, pp. 125 e segs.
46
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 204: «Nun will man aber, wenn die Frage ist,
ob etwas schön sei, nicht wissen, ob uns oder irgend jemand an der Existenz
der Sache irgend etwas gelegen sei, oder auch nur gelegen sein könne; sondern,
wie wir sie in der blossen Betrachtung (Anschauung oder Reflexion) beurthei‑
len.» Ibidem, 209: «Dagegen ist das Geschmacksurtheil bloss contemplativ, d. i.
ein Urtheil, welches, indifferent in Ansehung des Daseins eines Gegenstandes,
nur seine Beschaffenheit mit dem Gefühl der Lust und Unlust zusammenhält.»
Ibidem 263: «ruhige Contemplation».
47
«Ein unmittelbares Interesse an der Schönheit der Natur zu nehmen
(nicht bloss Geschmack haben, um sie zu beurtheilen) jederzeit ein Kennzei‑
chen einer guten Seele sei; und dass, wenn dieses Interesse habituell ist, es we‑
nigstens eine dem moralischen Gefühl günstige Gemüthsstimmung anzeige,
wenn es sich mit der Beschauung der Natur gerne verbindet.» Kritik der Urteils‑
kraft, Ak V, 298‑299.
368
48
«Schönheit [gilt] nur für Menschen d. i. tierische, aber doch vernünftige
Wesen, aber auch nicht bloss als solche (z. B. Geister), sondern zugleich als tie‑
rische.» Kritik der Urteilskraft, Ak V, 210.
49
«Schönheit ohne Beziehung auf das Gefühl des Subjekts für sich nichts
ist.» Kritik der Urteilskraft, Ak V, 218.
369
welche sie als ein System nach Gesetzen, deren Princip wir in unserm ganzen
Verstandesvermögen nicht antreffen, vorstellig macht, nämlich dem einer
Zweckmässigkeit respectiv auf den Gebrauch der Urtheilskraft in Ansehung
der Erscheinungen, so dass diese nicht bloss als zur Natur in ihrem zwecklosen
Mechanism, sondern auch als zur Analogie mit der Kunst gehörig beurtheilt
werden müssen. Sie erweitert also wirklich zwar nicht unsere Erkenntniss der
Naturobjecte, aber doch unsern Begriff von der Natur, nämlich als blossem
Mechanism, zu dem Begriff von eben derselben als Kunst: welches zu tiefen
Untersuchungen über die Möglichkeit einer solchen Form einladet.» Kritik
der Urteilskraft, Ak V, 246. Cf. Fiona Hughes, «The Technic of Nature: What is
Involved in Judging?», in H. Parret (ed.), ob. cit., pp. 176‑191. Como escreve
Luigi Pareyson (Conversazioni di Estetica, Mursia, Milano, 1966, p. 116), «la realtà
stessa del bello naturale […] ci permette di gettare uno sguardo rivelatore, come
un colpo di sonda, sulla profondità metafisica della natura».
370
371
53
«Auch wurde aller Wahrscheinlichkeit nach durch dieses moralische
Interesse allererst die Aufmerksamkeit auf die Schönheit und Zwecke der
Natur rege gemacht, die alsdann jene Idee zu bestärken vortrefflich diente,
sie aber doch nicht begründen, noch weniger jenes entbehren konnte, weil
selbst die Nachforschung der Zwecke der Natur nur in Beziehung auf den
Endzweck dasjenige unmittelbare Interesse bekommt, welches sich in der
Bewunderung derselben ohne Rücksicht auf irgend daraus zu ziehenden
Vortheil in so grossem Masse zeigt.» Kritik der Urteilskraft, Ak V, 459. A ra‑
dicação dos sentimentos estéticos no originário sentimento moral é confir
mado por uma carta de Kant a Johann Friedrich Reichardt, de 15 de Outu‑
bro de 1790 (Ak XI, 228), na qual o filósofo declara qual foi a sua intenção
ao escrever a Crítica do Juízo, nestes termos: «Eu contentei‑me com indicar
que sem sentimento moral não haveria para nós nada belo ou sublime; que
precisamente nisso se funda a como que exigência conforme à lei do acordo
de todos que deve acompanhar estes nomes [belo e sublime]…» («Ich habe
mich damit begnügt, zu zeigen: dass ohne sittliches Gefühl es für uns nichts
Schönes oder Erhabenes geben würde: dass sich eben darauf der gleichsam
gesetzmässige Anspruch auf Beyfall bey allem, was diesen Nahmen führen
soll, gründe…».)
372
«Die Bewunderung der Schönheit sowohl, als die Rührung durch die
54
373
56
«Der, welcher einsam (und ohne Absicht, seine Bemerkungen andern
mittheilen zu wollen) die schöne Gestalt einer wilden Blume, eines Vogels,
eines Insekts u. s. w. betrachtet, um sie zu bewundern, zu lieben und sie
nicht gerne in der Natur überhaupt vermissen zu wollen, ob ihm gleich
dadurch einiger Schaden geschähe, viel weniger ein Nutzen daraus für ihn
hervorleuchtete, nimmt ein unmittelbares und zwar intellectuelles Interesse
an der Schönheit der Natur. D. i. nicht allein ihr Product der Form nach,
sondern auch das Dasein desselben gefällt ihm, ohne dass ein Sinnenreiz
daran Antheil hätte, oder er auch irgend einen Zweck damit verbände.» Kritik
der Urteilskraft, Ak V, 299.
374
«Wir können es als ein Gunst, die die Natur für uns gehabt hat,
57
betrachten, dass sie über das Nützliche noch Schönheit und Reize so reichlich
austheilte, und sie deshalb lieben, so wie ihrer Unermesslichkeit wegen mit
Achtung betrachten und uns selbst in dieser Betrachtung veredelt fühlen:
gerade als ob die Natur ganz eigentlich in dieser Absicht ihre herrliche Bühne
aufgeschlagen und ausgeschmückt habe.» Ak V, 380.
58
«In dem ästhetischen Theile wurde gesagt: wir sähen die schöne Natur mit
Gunst an, indem wir an ihrer Form ein ganz freies (uninteressirtes) Wohlgefallen
haben. Denn in diesem blossen Geschmacksurtheile wird gar nicht darauf
Rücksicht genommen, zu welchem Zwecke diese Naturschönheiten existiren:
ob um uns eine Lust zu erwecken, oder ohne alle Beziehung auf uns als
Zwecke. In einem teleologischen Urtheile aber geben wir auch auf diese
Beziehung Acht; und da können wir es als Gunst der Natur ansehen, dass sie uns
durch Aufstellung so vieler schönen Gestalten zur Cultur hat beförderlich sein
wollen.» Ak V, 380.
375
cara desse «poeta da natureza» que dá pelo nome de Alberto Caeiro, exprimiu
bem esta condição do juízo estético sobre a natureza, neste belo poema:
376
377
61
«Dieser Vorzug der Naturschönheit vor der Kunstschönheit, […] stimmt
mit der geläuterten und gründlichen Denkungsart aller Menschen überein, die
ihr sittliches Gefühl cultivirt haben. Wenn ein Mann, der Geschmack genug hat,
um über Producte der schönen Kunst mit der grössten Richtigkeit und Feinheit
zu urtheilen, das Zimmer gern verlässt, in welchem jene die Eitelkeit und allen‑
falls gesellschaftliche Freuden unterhaltenden Schönheiten anzutreffen sind,
und sich zum Schönen der Natur wendet, um hier gleichsam Wollust für sei‑
nen Geist in einem Gedankengange zu finden, den er sich nie völlig entwickeln
kann: so werden wir diese seine Wahl selber mit Hochachtung betrachten und
in ihm eine schöne Seele voraussetzen, auf die kein Kunstkenner und Liebha‑
ber um des Interesse willen, das er an seinen Gegenständen nimmt, Anspruch
machen kann.» Kritik der Urteilskraft, Ak V, 299‑300.
378
Da experiência estético‑teleológica
da natureza à consciência ecológica.
Uma leitura da Crítica do Juízo
1. No apêndice à sua obra principal, Die Welt als Wille und Vors‑
tellung (1818), Schopenhauer faz uma apreciação crítica das mais
importantes obras filosóficas de Kant e dedica aí também algumas
páginas à Crítica do Juízo, obra onde Kant aborda os problemas esté‑
ticos e os problemas da natureza orgânica, por conseguinte, a estéti‑
ca e a teleologia. Referindo‑se à ideia que Kant teve de unir na sua
terceira Crítica, sob um mesmo princípio filosófico, essas duas reali‑
dades que sempre haviam sido tratadas separadamente pelos filó‑
sofos, o filósofo de Danzig diz tratar‑se de uma «união barroca» (ba‑
rocke Vereinigung) de dois domínios heterogéneos, no que vê mais
uma prova da irresistível tendência de Kant para forçar a realidade
a entrar nas suas simetrias arquitectónicas 1. O autor das três Críticas
podia assim ver por fim todos os princípios da sua filosofia recon‑
duzidos às três faculdades fundamentais do espírito — o entendi‑
mento, a razão e o juízo reflexionante —, cabendo a esta última dar
conta não só da apreciação estética da arte e da natureza como
também da consideração teleológica da natureza, mediante o seu
princípio de finalidade ou de conformidade a fins (Zweckmässigkeit).
Pela mesma época, houve um outro contemporâneo de Kant
que terá intuído com agudeza o que teria tido em mente o autor da
Crítica do Juízo ao associar nela a arte e a natureza sob um mesmo
princípio de compreensão, e que terá percebido as fecundas conse‑
1
A. Schopenhauer, Die Welt als Wille und Vorstellung, Anhang: Kritik der
kantischen Philosophie, Diogenes, Zürich, 1977, p. 647.
379
380
381
4
Prolegomena, § 36, Ak IV, 318‑320.
382
5
Allgemeine Naturgeschichte und Theorie des Himmels, Ak I, 315, 318‑319,
367.
Jean‑Jacques Rousseau, Émile ou de l’éducation, texte établi par Charles
6
383
8
Jean‑Jacques Rousseau, Les rêveries du promeneur solitaire, Garnier
‑Flammarion, Paris, 1964, pp. 125 e segs.
384
385
träge zur Geschichte und Interpretation der Philosophie Kants, Berlin, 1969, pp. 289
‑294. Veja-se o meu ensaio «‘Técnica da Natureza’. Reflexões em torno de um
tópico kantiano», Studia Kantiana, 9 (2009), pp. 118-160.
10
Erste Einleitung in die Kritik der Urteilskraft, VII, Ak XX, 219.
386
11
Ibidem.
387
12
«An einem Producte der schönen Kunst muss man sich bewusst wer‑
den, dass es Kunst sei und nicht Natur; aber doch muss die Zweckmässigkeit in
der Form desselben von allem Zwange willkührlicher Regeln so frei scheinen,
als ob es ein Product der blossen Natur sei. Auf diesem Gefühle der Freiheit
im Spiele unserer Erkenntnissvermögen, welches doch zugleich zweckmässig
sein muss, beruht diejenige Lust, welche allein allgemein mittheilbar ist, ohne
sich doch auf Begriffe zu gründen. Die Natur war schön, wenn sie zugleich als
Kunst aussah; und die Kunst kann nur schön genannt werden, wenn wir uns
bewusst sind, sie sei Kunst, und sie uns doch als Natur aussieht.» KU, § 45,
Ak V, 306.
13
KU, § 51, Ak V, 323.
388
Ak V, 242‑243.
14
Alquié, Éditions Garnier, Paris, 1988, 390 (ed. A‑T, XI, 130).
16
Hans‑Georg Gadamer, Die Aktualität des Schönen, Reclam, Stuttgart,
1977, pp. 39‑40.
389
17
KU, Ak V, 307.
18
KU, Ak V, 311.
19
KU, § 64, Ak V, 371.
390
20
KU, § 65, Ak V, 374‑375.
21
KU, Ak V, 316.
22
KU, § 23, Ak V, 246.
391
25
KU, Ak V, 264.
26
KpV, Ak V, 76.
27
KU, § 26, Ak V, 255
28
KU, § 28, Ak V, 262: «Also heisst die Natur hier erhaben, bloss weil sie
die Einbildungskraft zur Darstellung derjenigen Fälle erhebt, in welchen das
Gemüth die eigene Erhabenheit seiner Bestimmung selbst über die Natur sich
fühlbar machen kann.»
29
KU, § 29, Ak V, 268.
30
KU, § 29, Ak V, 265.
31
KU, V, 274.
392
32
«Das Schöne bereitet uns vor, etwas, selbst die Natur ohne Interesse
zu lieben; das Erhabene, es selbst wider unser (sinnliches) Interesse hoch‑
zuschätzen.» Ak V, 267.
33
Erste Einleitung, XII, Ak XX, 251. Este passo contém in nuce toda a
terceira Crítica e deve ser transcrito na íntegra: «Noch ist anzumerken: dass es
die Technik in der Natur und nicht die der Kausalität der Vorstellungskräfte des
Menschen, welche man Kunst (in der eigentlichen Bedeutung des Worts) nennt,
sei, in Ansehung deren hier die Zweckmässigkeit als ein regulativer Begriff
der Urteilskraft nachgeforscht wird und nicht das Prinzip der Kunstschönheit
oder einer Kunsvollkommenheit nachgesucht werde, ob man gleich die Natur,
wenn man sie als technisch (oder plastisch) betrachtet, wegen einer Analogie,
nach welcher ihre Kausalität mit der der Kunst vorgestellt werden muss, in
ihrem Verfahren technisch, d. i. gleichsam künstlich nennen darf. Denn es ist
um das Prinzip der bloss reflektierenden, nicht der bestimmenden Urteilskraft
(dergleichen allen menschlichen Kunstwerken zum Grunde liegt), zu tun, bei der
also die Zweckmässigkeit als unabsichtlich betrachtet werden soll, und die also nur
der Natur zukommen kann. Die Beurteilung der Kunstschönheit wird nachher
als blosse Folgerung aus denselbigen Prinzipien, welche dem Urteile über
Naturschönheit zum Grunde liegen, betrachtet werden müssen.» Cf. ibidem, 244.
393
34
Como se diz numa Reflexão «Der aesthetische idealism würde der seyn,
der nicht eine schönere Welt als die wirkliche schildert, sondern das Gemüth
disponirt, die Welt verschönen.» Refl. zur Logik, Refl. 230, Ak XV, 88.
394
35
Ak V, 350.
36
KU, § 67, Ak V, 380.
37
KU, Ak V, 380.
395
38
KU, Ak V, 459.
39
KU, Ak V, 482.
396
397
44
KU, § 42, Ak V, 299.
398
399
45
Physische Geographie, Ak IX, 253.
46
Metaphysik der Sitten, Tugendlehre, § 17, Ak VI, 443.
47
KU, § 42, Ak V, 303.
400
401
402
49
Luigi Pareyson, Conversazioni di estetica, Milano, 1966, p. 116.
403
Eurocentrismo e Cosmopolitismo
no pensamento antropológico
e político de Kant
407
408
de que dá conta na sua obra A Voyage round the World, publicada em Londres em
1777. Na revista Teutsche Merkur de Outubro‑Novembro de 1786, colocou objec‑
ções à tese kantiana acerca do conceito e origem das raças humanas, publicada
na Berlinische Monatschrift de Novembro de 1785. Kant responde‑lhe no ensaio
de 1788, Sobre o Uso de Princípios Teleológicos em Filosofia (Ak VIII, 160‑161).
5
Von den Ursachen der Erderschütterungen bei Gelegenheit des Unglücks, wel‑
ches die westliche Länder von Europa gegen das Ende des vorigen Jahres betroffen hat
(1756), Ak I, 417‑472.
6
Der Streit der Fakultäten, Ak VII, 85‑86. V. Jean‑François Lyotard,
L’enthousiasme. La critique kantienne de l’histoire, Éditions Galilée, Paris, 1986.
409
410
7
Terá sido Francis Bacon em 1623 (De augmentis scientiarum, versão latina
ampliada de The Advancement of Learning, 1605) o primeiro a usar a fórmula de
um colectivo ‘Nos Europäi’ (apud H. Gollwitzer, Europabild und Europagedanke,
München, 1964, p. 39). V. John Halle, The civilization of Europe in the Renaissance,
Fontana Press, London, 1993, chapter i: «The Discover of Europe», pp. 3‑50:
traça‑se aí a lenta descoberta feita pelos Europeus do Renascimento e da pri‑
meira Modernidade da sua complexa identidade ‘europeia’, descoberta feita no
confronto com os povos de outros continentes entretanto conhecidos.
411
Ou ainda esta:
10
V., entre outros, Tsenay Serequeberhan, «Eurocentrism in Philosophy:
The Case of Immanuel Kant», Philosophical Phorum, 27 (1996), 333‑356; Alex
Sutter, «Kant und die ‘Wilden’: Zum impliziten Rassismus in der kantischen
Geschichtsphilosophie», Prima Philosophia, 2 (1989), 244‑253; Emmanuel Chuk
412
wudi Eze, «The Color of Reason: The Idea of ‘Race’ in Kant’s Anthropology»,
in Katherine Faull (ed.), Anthropology and the German Enlightenment, Bucknell
University Press, Lewisburg, 1994, pp. 217‑218; Annette Karkhaus, «Kants
Konstruktion des Begriffs der Rasse und seine Hierarchisierung der Rassen»,
Biologisches Zentralblatt, 113 (1994), 197‑203, e Ricardo Ribeiro Terra, «Les
observations de Kant sur les races affectent-elles l’universalisme de sa
philosophie?», in: L. Ribeiro dos Santos, U. R. Azevedo Marques, M. Sgarbi,
G. Piaia, R. Pozzo (orgs.), «Was ist der Mensch? Que é o Homem? — Antropologia,
Estética e Teleologia em Kant», Lisboa, 2010, pp. 139-150.
11
Beobachtungen, Ak II, 253.
12
David Hume, «Of national Character», 1.a ed., 1748, integrado depois
nos Essays Moral and Political (London, 1753‑1754). Já em relação aos selvagens
norte‑americanos, Kant considera‑os em certos aspectos como superiores nos
costumes aos Europeus, por exemplo, no papel social dado às mulheres.
13
Livre XI, 24. Pela mesma altura (1771), Sébastien Mercier publica o seu
romance de antecipação filosófica — L’An 2240 — no qual o herói, uma espé‑
cie de Spartacus negro, vinga todos os crimes que os colonizadores europeus
(franceses, ingleses, espanhóis, holandeses, portugueses) haviam infligido aos
africanos e americanos.
413
Ak XI, 229.
14
16
Geog., Ak IX, 316. Os ensaios kantianos sobre as diversas raças humanas
e sobre o conceito de raça foram publicados na Antologia organizada por
Manuela Ribeiro Sanches e Adriana Veríssimo Serrão, A Invenção do «Homem».
Raça, Cultura e História na Alemanha do Séc. XVIII, Centro de Filosofia da
Universidade de Lisboa, Lisboa, 2002, pp. 103‑130.
414
17
Raphael Lagier, Les races humaines selon Kant, PUF, Paris, 2004, p. 5.
18
Geog., Ak IX, 230.
415
Geog., Ak IX, 228; e também Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 359‑360. Kant
20
tem a este propósito uma opinião que é inversa da de Leibniz, o qual, nos
§§ 140‑143 da parte ii dos Essais de Théodicée, atribuía antes a uma antiquíssi‑
ma colonização celta ou germânica de todo o Mediterrâneo e de grande parte
da Ásia as flagrantes analogias que, a partir de fontes latinas antigas (Tácito,
Lucano) e também coetâneas (Otto Sperling), advertia, nomeadamente entre
os nomes dos deuses e heróis dos povos celtas, germânicos, latinos, gregos,
egípcios e asiáticos.
416
21
Eugenio Garin, «Le civiltà extraeuropee (in particolare l’Oriente e l’Ame‑
rica) nella cultura dell’Europa moderna: miti, influenze, problemi» (1971), in
idem, Rinascite e rivoluzioni. Movimenti culturali dal XIV al XVIII secolo, Bari, 1975,
pp. 327‑362 (com o título: «Alla scoperta del ‘diverso’: i selvaggi americani e i
saggi cinesi»).
22
Geog., Ak IX, 229.
417
23
V. Giuseppe Cocchiara, Il mito del buon selvaggio. Introduzione alla storia
delle teorie etnologiche, Messina, 1948; Sergio Landucci, I filosofi e i selvaggi
(1580‑1780), Bari, 1972; Giuliano Gliozzi, Adamo e il Nuovo Mondo. La nascita
dell’antropologia come ideologia coloniale: dalle genealogie bibliche alle teorie razziali
(1500‑1700), La Nuova Italia, Firenze, 1977.
24
Geog., Ak IX, 434.
25
O Conflito das Faculdades, trad. portuguesa, Edições 70, Lisboa, pp. 104‑106.
26
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 360.
418
27
Ibidem, 359.
419
28
Ibidem, 354‑355.
420
3. Kant tem uma ideia muito própria do que deve ser a espécie
humana no seu pleno desenvolvimento, não apenas no que respeita
às suas faculdades físicas e intelectuais, mas também no que se refere
às faculdades morais. E a sua concepção do progresso da espécie
humana (civilizacional e moral) não lhe permite uma perspectiva
completamente neutra na apreciação do estado em que de facto se
encontram os povos, como se estes fossem incomensuráveis entre si.
Precisamente porque fazem parte de uma mesma humanidade e por‑
que realizam, diferenciadamente embora, as disposições naturais
nela originariamente contidas é que eles se encontram ou podem en‑
contrar de facto em diferentes níveis do respectivo desenvolvimento.
Neste confronto global, e apesar de todos os aspectos negativos já
assinalados, os Europeus pareciam estar um pouco mais avançados
no que respeita a algumas tarefas, embora muito longe ainda de terem
dado passos significativos noutras bem mais decisivas. Para Kant,
com efeito, o nível de perfeição da humanidade não se mede pelo
grau de desenvolvimento da sua civilização material e técnica e nem
sequer pelo nível do seu desenvolvimento científico. Mede‑se pela
perfeição moral e esta objectiva‑se historicamente nas instituições ju‑
rídicas e nas formas políticas que promovem o direito dos homens e
o reconhecimento da sua dignidade e liberdade. E é a este propósito
que Kant deposita esperanças nos povos europeus, como sendo aque‑
les a partir dos quais o direito dos homens poderá vir a ser por fim
respeitado em toda a Terra. Mas, para desempenharem tão importan‑
te papel histórico e civilizacional, terão eles mesmos que organizar as
suas relações como indivíduos e como Estados segundo os princípios
do direito. É isso o que nos diz esta reflexão do espólio kantiano:
29
Anthropologie, Ak VII, 322.
421
30
Ak XV, 789.
31
Ak VIII, 27.
422
32
ZeF, Ak VIII, 356. Esta passagem é normalmente interpretada como visan‑
do a França, mas também poderia ser aplicada aos Estados Unidos da América.
423
33
Há de facto uma dimensão utópica no projecto kantiano, o que não sig‑
nifica que ele seja de todo irrealizável. Numa passagem da Antropologia diz‑se
que «a ideia (da paz perpétua) é em si mesma inalcançável e não se trata de um
princípio constitutivo (que nos leve a esperar uma paz que perdure no meio do
efeito das mais vigorosas acções e reacções dos homens), mas somente de um
princípio regulador para prosseguir diligentemente essa paz como destinação
da espécie humana, não sem a presunção fundada de uma tendência natural
em direcção a ela». Ele mesmo fala de um «quiliasmo» filosófico e o seu plano
aponta, ao limite, para a realização do «reino de Deus» na Terra, não já apenas
numa dimensão político‑jurídica (Idee, Ak VIII, 27), mas também numa acepção
ético‑religiosa (Die Religion, Ak VI, 122‑124).
34
Refl. 1947, Ak XV, 773.
424
425
36
Por certo houve uma recepção dada ao ensaio kantiano e às ideias nele
expostas, tanto na Alemanha como em França, tanto da parte de filósofos como
de homens políticos. Os jovens filósofos que num primeiro momento se entu‑
siasmaram com o projecto kantiano de paz perpétua viriam a revelar‑se bem
depressa pouco convictos dele (Friedrich von Schlegel, Fichte, Schelling, Joseph
Görres...). V. Thomas Burns, Kant et l’Europe. Étude critique de l’interpretation et
de l’influence de la pensée internationaliste kantienne, Universität des Saarlandes,
1973, pp. 181‑303.
37
Karl Vorländer, Kant und der Gedanke des Völkerbundes. Mit einem An‑
hange: Kant und Wilson, Leipzig, 1919.
426
38
Carl Joachim Friedrich, «Die Ideen der Charta der Vereinten Nationen
und die Friedensphilosophie von Immanuel Kant», in idem, Zur Theorie und
Praxis der Verfassunsgsordnung. Ausgewählte Aufsätse, Heidelberg, 1963, pp. 69
‑83; Otfried Höffe, «Ausblick: Die Vereinten Nationen im Lichte Kants», Idem
(Hrsg.), Immanuel Kant. Zum ewigen Frieden, Akademie Verlag, Berlin, 1995,
pp. 245‑272; Cecilia Lynch, «Kant, the Republican Peace, and Moral Guidance
in International Law», in Ethics and International Affairs, 18, 1994, 39‑58.
39
Norberto Bobbio, A Era dos Direitos, Editora Campus, Rio de Janeiro,
1992, p. 139.
427
40
«Para que todas as guerras deixem de ser necessárias, deveria surgir
uma união de povos, onde todos os povos, através dos seus deputados, cons‑
tituiriam um universal senado dos povos, que decidiria todos os conflitos dos
povos, e este juízo deveria ser executado através do poder dos povos, pois as‑
sim estariam também os povos submetidos a um forum e a uma coacção civil.
Este senado dos povos seria o mais esclarecido que alguma vez o mundo viu.
É por isso que se deve começar, pois antes que isso se estabeleça, as guerras não
terão fim, o que não pode acontecer, pois a guerra torna cada Estado insegu‑
ro.» Vorlesungen über Anthropologie (Friedländer, Winter‑Semester 1775‑1776),
Ak XXV (1997), p. 696.
41
Ak XXV.1, 696.
428
Introdução
429
1
Immanuel Kant, Zum ewigen Frieden, Kants Werke, Akademie‑Ausgabe
(reimpr. Walter de Gruyter, Berlin, 1968), VIII, 360 (esta edição será identificada
por Ak, seguido do número do respectivo volume).
2
Immanuel Kant, Metaphysik der Sitten, Rechtslehre, Ak VI, 350.
3
Não me ocuparei da recepção e das críticas da concepção kantiana. Sen‑
do a bibliografia sobre o tópico vastíssima, indico aqui apenas alguns títulos:
Z. Batscha / R. Saager, Friedensutopien. Kant, Fichte, Schlegel, Görres, Suhrkamp,
Frankfurt a. M., 1976; M. Buhr / S. Dietzsch (eds.), Immanuel Kant, Zum ewi‑
gen Frieden. Ein philosophische Entwurf. Texte zur Rezeption 1796‑1800, Reclam,
Leipzig, 1984; R. R. Aramayo/J. Muguerza / C. Roldán (eds.), La Paz y el ideal
cosmopolita de la Ilustración. A propósito del bicentenario de «Hacia la paz perpetua»
de Kant, Tecnos, Madrid, 1996; Ottfried Höffe, Kant’s Cosmopolitan Theory of Law
and Peace, Cambridge University Press, Cambridge, 2006 (Königliche Völker. Zu
Kants Kosmopolitischer Rechts — und Friedenstheorie, Suhrkamp, Frankfurt a. M.,
2001); O. Höffe (ed.), Immanuel Kant: Zum ewigen Frieden, Akademie, Berlin, 1995;
Martha C. Nussbaum, «Kant and the Stoic Cosmopolitanism», Journal of political
Philosophy, 5 (1997), pp. 1‑25; S. Chauvier, Du droit d’être étranger. Essai sur le droit
cosmopolitique kantien, L’Harmattan, Paris, 1996; Georg Cavallar, Pax Kantiana.
Systematisch‑historische Untersuchung des Entwurfs «Zum ewigen Frieden» (1795),
Wien/Köln/Weimar, 1992; Domenico Losurdo, Immanuel Kant. Freiheit, Recht und
Revolution, Köln, 1987; Jean Ferrari/S. Goyard‑Fabre (eds.), L’Année 1796. Sur la
Paix perpétuelle. De Leibniz aux héritiers de Kant, Paris, 1998; Pauline Kleingeld,
«Kant’s Cosmopolitanian Law : World Citizenship for a Global Order», Kantian
Review, 2 (1998), pp. 72‑90; Mathias Lutz‑Bachmann/ James Bohmann (eds.),
Frieden durch Recht: Kants Friedensidee und das Problem einer neuen Weltordnung,
Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1996; e Giuliano Marini, La filosofia cosmopolitica di
Kant, Laterza, Bari/Roma, 2007. No âmbito da reflexão filosófica expressa em
português, destaque para a abordagem do tópico, reiterada mas sempre suges‑
430
431
432
4
Nicolai de Cusa, De Pace Fidei cum Epistula ad Ioanem de Segobia, Opera Om‑
nia, vol. vii, Felix Meiner, Hamburg, 1959 (trad. portuguesa de João Maria André:
Nicolau de Cusa, A Paz da Fé seguida de Carta a João de Segóvia, Minerva, Coimbra,
2002). Obviamente o irenismo do Cusano tem antecedentes medievais, sendo de
realçar o papel de Raimundo Lulio. V. R. Klibansky, «Die Wirkungsgeschichte
des Dialogs ‘De pace fidei’», Mitteilungen und Forschungsbeiträge der Cusanus
‑Gesellschaft, 16 (1984), pp. 113‑125; Maurice de Gandillac, «Die cusanische Frie‑
densbegriff», Zeitschrift für philosophische Forschung, 9 (1955), pp. 186‑196; idem,
«Les ‘semi‑utopies’ de Nicolas de Cues», in idem, Genèses de la Modernité, Du Cerf,
Paris, 1992, pp. 441‑464.
5
A Paz da Fé, §§ 1 e 68, pp. 21, 81-82. Terá sido a primeira vez que, num con‑
texto de reflexão filosófica, terá sido usada a expressão «paz perpétua». A sintonia
do filósofo de Königsberg com o filósofo de Cusa revela‑se neste ponto concreto e é
testemunhada por uma nota do escrito Para a Paz Perpétua, onde se diz, a propósito
da diversidade das religiões, que ela constitui uma das fontes naturais do ódio
433
434
435
9
V. Juan Luis Vives, Obras Completas, trad. de Lorenzo Riber, Aguilar, Ma‑
drid, 1948, vol. ii, pp. 81‑84.
10
Thomas More, Utopia, ed. de G. M. Logan e R. M. Adams, Cambridge
University Press, Cambridge, 1989, p. 87.
436
437
13
Ibidem, pp. 191‑192.
438
14
De Legibus, II, 19, 9.
15
Ibidem, II, 19, 4.
439
16
Ibidem.
440
441
Millenium (1961), trad. espanhola: En pos del Milenio, Barral Editores, Barcelo‑
na, 1971; George Shefferson, The Comparative Study of Millenarian Movements,
Schoken Books, New York, 1970; P. G. Rogers, The Fifth Monarchy Men, London,
1966; B. S. Carp, The Fifth Monarchy Men: A Strudy in Seventeenth‑Century English
Millenarianism, Faber & Faber, London, 1972; Silvano Peloso, «Ut libri porphetici
melius intelligantur, omnium temporum historia complectenda est: O Quinto Império
de António Vieira e o debate europeu nos séculos xvi e xvii», in Margarida Vieira
Mendes /M. L. G. Pires/ J. C. Miranda (org.), Vieira Escritor, Edições Cosmos,
Lisboa, 1977, pp. 177‑187.
20
V. o meu estudo «Melancolia e apocalipse. Vivência do tempo e concep‑
ção da história em António Vieira» in idem, Melancolia e Apocalipse. Estudos sobre
o Pensamento Português e Brasileiro, INCM, Lisboa, 2008, pp. 11‑53.
442
443
21
«Man sieht: die Philosophie könne auch ihren Chiliasmus haben…» Idee
zu einer allgemeinen Geschichte in weltbürgerlichen Absicht, Ak VIII, 27. Embora
quase completamente desatendida pelos intérpretes, esta ideia é todavia recor‑
rente no contexto dos escritos kantianos de filosofia da história e da política e
de filosofia da religião: é mesmo a ideia que liga estas três regiões da reflexão
kantiana, como pode ver‑se por esta Reflexão: «Avanço da história da espécie
humana. Sobre que assenta a produção de toda esta perfeição, na qual o qui‑
liasta filosófico acredita e que promove com poder? — Assenta na perfeição
da constituição civil (a qual deve manter‑se eternamente). Só aí serão desen‑
volvidos todos os talentos e haverá a máxima união de todos os fins comuni‑
tários mediante leis exteriores e se garantirá a máxima duração deste estado
mediante o melhor modo de pensar pessoal.» Refl. 1468 (Ak XV, 647: Fortset‑
zung von der Geschichte des Menschengattung. Vorauf berüht die Erzeugung
aller dieser Vollkommenheit, die der philosophische chiliast glaubt und nach
Vermögen befordert? — Auf der Vollkommenheit der bürgerlichen Verfassung
(die würde sich ewig erhalten). Darin werden allein alle Talente entwickelt,
die grösste Vereinigung zu gemeinschaftlichen Zwecken durch äussere Gesetze
und die grösste Dauerhaftigkeit dises Zustandes durch die beste persönliche
Denkungsart). V. na mesma linha, Die Religon innerhalb der Grenzen der blossen
Vernunft, Ak VI, 122‑124 (trad. portuguesa: A Religião nos Limites da Simples Ra‑
zão, Edições 70, Lisboa, pp. 40, 128‑129).
22
[Charles Irinée Castel de Saint‑Pierre] Abbé de Saint‑Pierre, Projet pour
rendre la Paix Perpétuelle entre les souverains chrétiens. Os dois primeiros volumes
foram publicados em Utreque, por Antoine Schouten, em 1713. O terceiro foi
publicado pelo mesmo editor em 1717. Uma edição recente, feita a partir das
edições originais, foi levada a cabo por Simone Goyard‑Fabre, sob o título Projet
de Paix Perpétuelle, Tours, 1986.
23
Jean‑Jacques Rousseau, Extrait du projet de paix perpétuelle de l’ab‑
bé de Saint‑Pierre (1761), e Jugement sur le projet de paix perpétuelle de l’abbé de
444
Saint‑Pierre (1782), Œuvres Complètes, Gallimard, Paris, vol. iii. Para além de
ousseau, e mesmo antes dele, houve outro grande pensador que se ocupou
R
do projecto de Saint‑Pierre, comentando‑o em algumas das suas cartas. Trata‑se
de Leibniz, mas não é verosímil que Kant tenha conhecido esses comentários.
Sobre este ponto, v. Concha Roldán, «Los ‘Prolegómenos’ del Proyecto kantia‑
no sobre la Paz Perpetua», in R. R. Aramayo / J. Muguerza / C. Roldán (eds.),
La Paz y el Ideal Cosmopolita de la Ilustración, pp. 137‑144. V., também da mesma
autora, «Leibniz’ Einstellung zum Projekt des ewigen Friedens als politische
Voraussetzung für eine europaïsche Einheit», in Leibniz und Europa. Akten des
VI. Internationalen Leibniz‑Kongresses, Hannover, 1994, II Teil, pp. 248‑253; «Las
raíces del multiculturalismo en la critica leibniziana al proyecto de paz perpe‑
tua», in Saber y conciencia. Homenaje a Otto Saame, Ed. Comares, Granada, 1995,
pp. 369‑394.
24
Escreve Saint‑Pierre: «Examinando o governo dos soberanos da Alema‑
nha, não me pareceu que possa haver nos nossos dias mais dificuldade em for‑
mar o corpo europeu do que houve outrora para formar o corpo germânico, para
executar numa maior dimensão o que antes se executou numa dimensão mais
reduzida; pelo contrário, pareceu‑me que haveria menos obstáculos e mais fa‑
cilidades para formar o corpo europeu… Os mesmos motivos e os mesmos meios
que foram outrora suficientes para formar uma sociedade permanente de todas
as soberanias da Alemanha… podem bastar para formar uma sociedade per‑
manente de todas as soberanias cristãs da Europa.» Projet de paix perpétuelle, ed.
de 1986, pp. 12‑13.
445
25
São quase sempre citados juntos, o que parece dar apoio à hipótese de
um conhecimento das teses de Saint‑Pierre pela intermediação de Rousseau
(no mínimo, Kant conhecia os comentários e reflexões sobre o projecto de Saint
‑Pierre formuladas na parte v de Emílio). As primeiras referências de Kant ao
projecto de Saint‑Pierre datam do período entre 1764‑1766 (v. Refl. 488, Ak XV,
210) e continuam a ocorrer seja nas reflexões do espólio, seja nos Cursos, seja
até nos escritos publicados.
26
V. esta passagem da conclusão da Doutrina do Direito (1797): «A razão
prática‑moral pronuncia em nós o seu irresistível veto: não deve haver nenhu‑
ma guerra [Es soll kein Krieg sein], seja entre mim e ti no estado de natureza,
seja entre nós como Estados… pois não é esse o modo de cada qual fazer valer
o seu direito.» Rechtslehre, Ak VI, 354. Ibidem, 350‑351: «‘Que não haja guerra’ é
um irresistível imperativo da razão prática. Mas a paz perpétua enquanto fim
último de todo o direito das gentes é certamente uma ideia irrealizável, embora
não o sejam os meios (políticos e jurídicos) que nos permitem aproximar‑nos
cada vez mais dela.»
446
447
28
Rousseau, Ecrits sur l’Abbé de Saint‑Pierre, Œuvres Complètes, III, pp. 603
‑604.
448
449
32
Embora publicado em 1784, Kant anunciara já a ideia central do ensaio
no final do seu Curso de Antropologia do semestre de Inverno de 1781-1782: Vor‑
lesungen zur Anthropologie (Winter‑Semester: Petersburg), Ak XXV, 1203.
450
33
Vorlesungen zur Anthropologie (Winter‑Semester 1775-1776: Friedländer),
Ak XXV, 696.
451
452
34
Idee, Ak VIII, 27.
453
454
455
e segs.
456
Efésios 2, 19‑20.
44
Kant dirá que não se trata de uma ideia filantrópica, ou mesmo mera‑
45
457
458
47
A discordância de Kant relativamente a Rousseau e a concordância com
Hobbes neste ponto é uma constante. V. Die Religion innerhalb der Grenzen der
blossen Vernunft, Ak VI, 97 (trad. portuguesa: A Religião nos Limites da Simples
Razão, Edições 70, Lisboa, p. 103): «A proposição de Hobbes: status hominum
naturalis est bellum omnium in omnes não tem nenhum outro defeito a não ser o
de que deveria dizer: est satus belli, etc., mas embora não se admita que entre
os homens que não se encontram sob leis externas e públicas dominem sempre
efectivas hostilidades, contudo, o seu estado (status iuridicus), i. e., a relação
em e pela qual eles são susceptíveis de direitos (da sua aquisição ou conser‑
vação), é um estado em que cada qual quer ele próprio ser juiz sobre o que é
o seu direito frente a outros, a não ceder cada um a sua própria força; é um
estado de guerra em que todos devem estar armados contra todos. A segunda
proposição de Hobbes — exeundum esse e statu naturali, é uma consequência da
primeira; pois este estado é uma lesão contínua dos direitos de todos os outros
por meio da pretensão de ser juiz nos seus próprios negócios, e não deixar a
outros homens nenhuma segurança acerca do que é seu, mas apenas o seu
próprio arbítrio.»
459
48
Idee, Ak VIII, 24.
460
49
Metaphysische Anfangsgründe der Rechtsklehre (1797), Ak VI, 344.
50
Idee, Ak VIII, 25.
461
51
Rechtslehre, § 43, Ak VI, 311.
52
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 354.
53
Rechtslehre, Ak VI, 351.
462
54
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 357.
55
Ibidem.
463
464
465
57
Tenha‑se presente a obra Allgemeine Naturgeschichte und Theorie des
immels (1755), na qual o filósofo expõe a sua primeira síntese filosófica sob a
H
forma de uma cosmogonia.
58
Die Religion, Ak VI, 34.
466
59
Kritik der Urteilskraft, Ak V, 464‑465.
60
Kritik der Urteilskraft, § 83, Ak V, 432.
61
Reflexion 1349, Ak XV, 607.
62
Idee, Ak VIII, 28.
467
63
Eine Vorlesung über Ethik, ed. P. Menzer, Berlin, 1924, p. 318 (ed. de G.
Gerhardt, Fischer, 1990, pp. 269‑270).
468
469
2
Republicanism. A Theory of Freedom and Government, Oxford University
Press, Oxford, 1997. Pode também acompanhar‑se o recente renascimento do
interesse pelo tema da República e do Republicanismo em geral através das
seguintes obras: B. Fontana (ed.), The Invention of the Modern Republic, Cam‑
bridge University Press, Cambridge, 1994; Maurizio Viroli, Republicanism, Hill
and Wang, New York, 2002; Newton Bignotto (org.), Pensar a República, Edi‑
torial da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002; Cass
Sunstein, After the Rights Revolution. Reconceiving the Regulatory State, Harvard
University Press, Cambridge (Mass.) & London, 1990; Martin van Gelderen
and Quentin Skinner (eds.), Republicanism. A Shared European Heritage (vol. 1:
Republicanism and Constitutionalism in Early Modern Europe; vol 2: The Values
of Republicanism in Early Modern Europe), Cambridge University Press, Cam‑
bridge, 2005.
3
André Berten, «A compatibilidade do republicanismo kantiano com o
modelo do contrato social», in Leonel Ribeiro dos Santos e José Gomes André
(coord.), Filosofia Kantiana do Direito e da Política, CFUL, Lisboa, 2007, pp. 13
‑41, sobretudo p. 16: «As formas contemporâneas de republicanismo compar‑
tilham várias características com o liberalismo, o que facilitará, sem dúvida,
o julgamento sobre o ‘republicanismo liberal’ de Kant. Pois o liberalismo e o
republicanismo ‘compartilham uma mesma fé na autoridade da lei e do Esta‑
do de direito’». Berten cita, a propósito, o artigo de Philip Pettit, «Libéralisme.
Libéralisme et Républicanisme», in Monique Canto‑Sperber (dir.), Dictionnai‑
re d’éthique et de philosophie politique, PUF, Paris, 2004, II, p. 1082. A respeito
desta oposição, cite‑se a conclusão de K. Haakonssen (art. cit., p. 571): «The
opposition between liberalism and republicanism, while a source of inspira‑
tion for the recent revival of the latter, is more an invention of this revival
than ascertainable historical fact. The same may be said of another, closed
associated phenomenon, the warm embrace of republican ideas by commu‑
nitarianism.»
470
471
472
473
474
475
kann solches nicht zu Stande kommen, denn der Krieg macht jeden Staat un‑
sicher...» Ibidem, p. 696.
11
Ibidem, p. 1200: «... ein gemeines Wesen regiert sich schon selbst, und
besteht in einer systematischen Verfassung des Volks... Ein Volk, vereinigt in
einem gemeinen Wesen, insofern es Macht hat, nennt man einen Staat.» (... uma
república governa‑se já a si mesma e consiste numa constituição sistemática
do povo... Um povo, unido numa república, na medida em que tem poder,
chamamos‑lhe um Estado.)
476
12
«Die Haupterfordernisse zu einer bürgerlichen Gesellschaft sind die
Freiheit, das Gesetz, und die Gewalt. Die Freiheit und die Gewalt ohne das
Gesetz machen den Naturzustand aus, aus welchem die Menschen heraus‑
gehen sollen, weil sie Vernunft haben. Die Freiheit und das Gesetz ohne die
Gewalt könnte man die polnische Regierung nennen; eine wunderbare Grille,
worauf der Adel in diesem Lande gefallen ist, und die ganz etwas Widersin‑
niges und Widersprechendes enthält. Dies ist der erste rohe Entwurf zu einer
bürgerlichen Verfassung. Das Gesetz und die Gewalt ohne die Freiheit sind
der Despotismus. Dieser ist eigentlich barbarische Gewalt ohne Gesetz; doch
ist dies noch besser als barbarisches Freiheit, weil im ersten Falle doch noch
Bildung möglich ist. Die ächte bürgerliche Verfassung ist sehr künstlich, und
besteht darin, dass der Mensch so viel Freiheit hat, als statt finden kann, und
als sich mit der Beschränkung der Freiheit Aller nach dem (gerechten) Gesetze
verträgt. Hier muss ein Gesetz seyn, und so viel Gewalt, als nöthig, das Gesetz
zu vollziehen. […] Die Freiheit unter einem Gesetz und mit der Gewalt verbun‑
den, besteht darin, dass die Gesetze so gegeben werden, als ob sie durch die
allgemeine Stimme des Volks entstanden seyn. Diese Gesetze müssen auf Alle
gehen, für Alle gelten und von Allen gegeben werden können; dann verdienne
477
sie erst den Namen gerechter Gesetze. Wenn also Freiheit, Gesetz, und Gewalt
zusammen statt finden, so ist die bürgerliche Verfassung die regelmässigste
und beste.» Ibidem, pp. 1200‑1201. A apreciação negativa da forma polaca de
governo é recorrente em Kant (Reflexionen zur Anthropologie, Refl. 1947, Ak XV,
p. 773; Anthropologie, Ak VII, p. 319) e encontrava‑se já em Montesquieu, que
dizia «l’indépendance de chaque particulier est l’objet des lois de Pologne; et
ce qui en résulte, l’oppression de tous». De l’Esprit des Lois, XI, chap. v, Garnier
‑Flammarion, Paris, 1979, vol. i, p. 293.
13
Anthropologie, Ak VII, 330‑331.
478
14
«Der Mensch ist ein Geschöpf, welches einen Herrn nöthig hat... Diesen
Herrn kann nun der Mensch aus keinem andern Geschlechte als aus seiner
Menschengattung hernehmen, welches aber ein wahres Unglück für das men‑
schliche Geschlecht ist, da eben dieser Herr, den der Mensch über sich wählt,
auch ein Mensch ist, der ebenfalls einen Herrn nöthig hat.» Kants Vorlesungen
(Menschenkunde, Winter‑Semester 1781-1782), Ak XXV, pp. 1199‑1200; Idee,
Ak VIII, 23.
15
Streit der Fakultäten, Ak VII, 87: «Autokratisch herrschen, und dabei doch
republikanisch, d. h., im Geiste des Republikanism und nach einer Analogie mit
demselben, regieren, ist das, was ein Volk mit seiner Verfassung zufrieden macht.»
16
Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung?, Ak VIII, 40‑41.
17
V. M. Viroli (ed.), Libertà politica e virtù civile. Significati e percorsi del re‑
pubblicanesimo classico, Fondazione Giovanni Agnelli, Torino, 2004.
18
V. Hans Baron, Humanistic and Political Literature in Florence and Veni‑
ce at the Beginning of the Quattrocento, Cambridge, Mass., 1955; idem, In Search
of Florentine Civic Humanism. Essays on the Transition from Medieval to Modern
Thought, 2 vols., Princeton University Press, Princeton, N. J., 1988, em espe‑
cial, o cap. v do 1.o vol. («The Memory of Cicero’s Roman Civic Spirit in the
479
480
21
Sobre as relações entre Kant e os revolucionários republicanos franceses
(Abade Sieyès) e a própria República francesa, v. Viriato Soromenho‑Marques,
Razão e Progresso na Filosofia de Kant, [dissertação de doutoramento, FLUL, Lis‑
boa, 1990], Edições Colibri, Lisboa, 1998, pp. 473 e segs. À extraordinariamente
bem informada análise, corresponde a judiciosa e compreensiva síntese, que se
diz nestas palavras: «A Revolução Francesa.... funcionou... como um factor de
clarificação do conceito central da teoria política kantiana: o ideal de República
e de republicanismo. — Não pretendo com isto dizer que a ruptura política de
1789 veio colher de surpresa a reflexão social do filósofo alemão, forçando‑o a
metamorfoses inesperadas, ditadas por interferências externas. Não é disso que
se trata. Contudo, o desenrolar dos acontecimentos franceses iluminou inelu‑
divelmente o sentido da história, indicando, para além da necessidade prática
da razão, a convergência das forças materiais que transformam o possível em
realidade efectiva. A França catalisou e amadureceu a postura política de Kant.
E esse duplo movimento espiritual configurou‑se na meditação sobre a essência
do regime republicano.» (Ibidem, p. 478.)
22
Apesar da explícita clarificação linguística, contida no último parágrafo
do cap. x do Second Treatise, intitulado «Of the forms of a Commonwealth», onde
o termo inglês que traduz a Civitas dos Latinos é «Common‑wealth», mas enten‑
dido num sentido lato, como «any Independent Community», e não no sentido
propriamente democrático ou republicano, que chegou a assumir no regime
instituído por Cromwell. (Significativamente, Locke evita o termo respublica,
que, todavia, estaria mais próximo do sentido originário de Common‑wealth —
«riqueza comum»!) O tradutor português verte Common‑wealth por comunidade
política (John Locke, Segundo Tratado do Governo, F. C. Gulbenkian, Lisboa, 2007,
p. 150). Já o tradutor francês Bernard Gilson traduz Common‑wealth por républi‑
que (John Locke, Deuxième Traité du Gouvernement Civil, Vrin, Paris, 1967, p. 150).
Como se vê, a ambiguidade do termo persiste no seu uso actual.
23
John Locke, The Second Treatise of Government, chap. xi‑xiii.
481
24
Montesquieu, De l’Esprit des Lois, Livre II, chap. i‑ii, ed. de V. Goldsch‑
midt, Garnier‑Flammarion, Paris, 1979, pp. 131 e segs.
25
Montesquieu, Considérations sur les causes de la grandeur des Romains et de
leur décadence, cap. xi (Oeuvres complètes, vol. 2, ed. de R. Caillois, Bibliothèque
de la Pléiade, Paris, 1951). Idem, Éclaircissement sur l’«Esprit des Lois» (Oeuvres
complètes, ed. cit., vol. 2, p. 1169): «Ce que j’appelle vertu dans la république ...
ce n’est point une vertu morale, ni une vertu chrétienne; c’est la vertu politique;
et celle‑ci est le ressort qui fait mouvoir le gouvernement républicain. ... J’ai
donc appelé vertu politique l’amour de la patrie et de l’égalité.». V. Marco Pla‑
tania, Montesquieu e la virtù. Rappresentazioni della Francia di Ancien Régime e dei
governi repubblicani, UTET, Torino, 2007; T. Casadei, «Modelli repubblicani nell’
«‘Esprit des Lois’». Un ‘ponte’ tra passato e futuro», in D. Felice (ed.), Libertà,
necessità e storia. Percorsi dell’«Esprit des Lois» di Montesquieu, Bibliopolis, Napoli,
2003, pp. 13‑74.
26
De l’Esprit des Lois, livre xi, chap. vi, ed. de V. Goldschmidt, Garnier
‑Flammarion, Paris, 1979, vol. i, pp. 294‑304.
27
Rousseau, Du Contrat Social, II, 6. Rousseau distingue entre vontade de
todos e vontade geral: só esta última é qualificada, pois cuida do interesse comum;
a outra cuida do interesse privado e é apenas uma soma de vontades particulares
(ibidem, II, cap. 3).
482
483
484
33
Kritik der reinen Vernunft, Ak III, 247‑248.
485
486
34
Streit der Fakultäten, Ak VII, 90‑91.
35
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 366.
36
Ibidem, 351.
37
Rechtslehre, § 45, Ak VI, 313.
38
Ibidem, Ak VI, 341.
487
39
Para uma história da recepção do opúsculo e para a interpretação do
seu conteúdo, v. Volker Gerhardt, Immanuel Kants Entwurf >Zum ewigen Frie‑
den<. Eine Theorie der Politik, Wissenschaftliche Buchgesellschaft, Darmstadt,
1995; Otfried Höffe (Hrsg.), Immanuel Kant. Zum ewigen Frieden, Akademie Ver‑
lag, Berlin, 1995.
40
«Die bürgerliche Verfassung in jedem Staate soll republikanisch sein.»
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 349. V. Wolfgang Kersting, «Die bürgerliche Ver‑
fassung in jedem Staate soll republikanisch sein», in Otfried Höffe (Hrsg.), Im‑
manuel Kant. Zum ewigen Frieden, pp. 87‑108.
488
489
43
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 357.
44
Ibidem.
490
45
Friedrich Schlegel, «Der universelle Republikanismus. Veranlasst durch
die Kantische Schrift zum ewigen Frieden» (1796), in F. Schlegel, Schriften und
Fragmente, ed. von Ernst Behler, Körner Verlag, Stuttgart, 1956, 299. Sobre a
primeira recepção do ensaio kantiano, v. Faustino Oncina, «De la candidez de
la paloma a la astucia de la serpiente. La recepción de La Paz Perpétua entre sus
coetáneos», in Roberto R. Aramayo, J. Muguerza, Concha Roldán (eds.), La Paz
y el ideal cosmopolita de la Ilustración. A propósito del bicentenario de «Hacia la paz
perpetua» de Kant, Tecnos, Madrid, 1996, pp. 155‑190.
491
46
Kritik der Urteilskraft, § 65.
47
Kritik der Urteilskraft, § 59.
48
Über den Gemeinspruch: Das mag in der Theorie richtig sein, taugt aber nicht
für die Praxis (1793) , Ak VIII, 290.
492
49
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 349‑350.
50
Metaphysik der Sitten, Rechtslehre, §46, Ak VI, 314.
493
494
495
496
56
Montesquieu, De l’Esprit des Lois, livre xi, chap. vi, ed. cit., pp. 294‑295.
57
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 352.
497
58
Rechtslehre, Ak VI, 313.
59
Zum ewigen Frieden, Ak VIII, 356.
60
Ibidem, 351.
498
61
De l’Esprit des Lois, IX, chap. ii: «L’esprit de la monarchie est la guerre
et l’agrandissement: l’esprit de la république est la paix et la modération.» (Ed.
cit., p. 267.)
62
Um ponto da situação a respeito deste tópico encontra‑se em Otfried
Höffe, Kant’s Cosmopolitan Theory of Law and Peace, cap. 10: «Are Republics Pea‑
ceable?», pp. 177‑188.
499
Era neste sentido que também Locke lia na História a tendência pací‑
63
fica dos governos que têm a sua origem no consentimento do povo (as far as
we have any light from History, we have reason to conclude, that all peaceful
beginnings of Government have been laid in the Consent of the People). John
Locke, Two Treatises of Goverment, ed. cit. (The Second Treatise, § 112), p. 344.
500
64
V. Cecilia Lynch, «Kant, the Republican Peace, and Moral Guidance
in International Law», in Ethics and International Affairs, 18, 1994, pp. 39‑58;
Thomas Burns, Kant et l’Europe. Étude critique de l’interprétation et de l’influence
de la pensée internationaliste kantienne, Universität des Saarlandes, 1973; Ernst
‑Joachim Mestmäcker, «Kants Rechtsprinzip als Grundlage der europaïschen
Einigung», in Götz Landwehr (Hrsg.), Freiheit, Gleichheit, Selbständigkeit. Zur
Aktualität der Rechtsphilosophie Kants für die Gerechtigkeit in der modernen Ges‑
ellschaft, Vandenhoeck & Ruprecht, Göttingen, 1999, pp. 61‑72; Manuel J. do
Carmo Ferreira, «Kant e a constituição europeia», Revista Portuguesa de Filosofia,
61, 2005, 441‑451; Otfried Höffe, «Ausblick: Die Vereinten Nationen im Lichte
Kants», idem (Hrsg.), Immanuel Kant. Zum ewigen Frieden, Akademie Verlag, Ber‑
lin, 1995, pp. 245‑272.
65
Metaphysik der Sitten, Rechtslehre, Ak VI, 354; Zum ewigen Frieden, Ak
VIII, 356; Streit der Fakultäten, Ak VII, 90. Sobre o tema da guerra em Kant (e a
aparente contradição entre a defesa incondicional do princípio ético‑político
‑jurídico da paz e a compreensão do fenómeno da guerra como inscrito na te
leologia da natureza em relação à espécie humana), v. Teresa Santiago, Función
y crítica de la guerra en la filosofia de I. Kant, Anthropos, Barcelona, 2004; Félix
Duque, «Natura daedala rerum. De la inquietante defensa kantiana de la máqui‑
na de guerra», in Roberto R. Aramayo, Javier Muguerza, Concha Roldán (eds.),
La Paz y el Ideal Cosmopolita de la Ilustración. A Proposito del Bicentenario de Hacia
la Paz Perpetua de Kant, Tecnos, Madrid, 1996, pp. 191‑216; José Luis Villacañas,
«La guerra en el pensamiento kantiano antes de la Revolución Francesa: La
prognosis de los procesos modernos», ibidem, pp. 217‑238.
501
503
1
A literatura sobre o tema deste ensaio é abundante. Aqui se dá uma selecção
dos estudos mais importantes, por ordem de publicação: Ronald Beiner, «Hannah
Arendt on Judging», in H. Arendt, Lectures on Kant’s Political Philosophy, The Uni‑
versity of Chicago Press, Chicago, 1982, pp. 89‑156; P. Riley, «Hannah Arendt on
Kant, Truth and Politics», Political Studies, XXXV, 1987, pp. 379‑392; E. Tassin, «Sens
commun et communauté: la lecture arendtienne de Kant», Cahiers de Philosophie,
n. 4, 1987, pp. 81‑13; B. Flynn, «Arendt’s Appropriation of Kant’s Theory of Judge
ment», Journal of the British Society for Phenomenology, XIX, n. 2, 1988, pp. 128‑140; R,
Schürrmann, «On Judging ant Its Issue», in R. Schürrmann (ed.), The Public Realm.
Essays on Discursive Types in Political Philosophy, State University of New York Press,
Albany, 1989, pp. 1‑21; D. Lories, «Nous avons l’art pour vivre. Hannah Arendt,
lectrice de Kant: indications pour une meditation de l’art», Man and World, XXII,
n.o 1, 1989, pp. 113‑132; C. Buci‑Glucksmann, «La troisième critique d’Arendt»,
in AA. VV., Ontologie et politique, Éditions Tierce, Paris, 1989, pp. 187‑2000; T. Bar‑
tolome Vasconcelos, «Spettatori alla ribalta della storia. Il ruolo della Critica del Giu‑
dizio nel pensiero di Hannah Arendt», Prospettive Settanta, n. 4, 1991, pp. 653‑669; V.
Gerhardt, «Vernunft und Urteilskraft. Politische Philosophie und Anthropologie
im Anschluss an Immanuel Kant», in M‑P. Thompson (ed.), John Locke und/and Im‑
manuel Kant, Duncker und Humblot, Berlin, 1991, pp. 316‑333; Myriam Revault
d’Allones, «Le courage de juger», in H. Arendt, Juger. Sur la philosophie politique de
Kant, Éditions du Seuil, Paris, 1991, pp. 222‑244; B. Henry, Il problema del giudizio
politico tra criticismo ed ermeneutica, Morano Editore, Napoli‑Milano, 1992; Julio de
Zan, «Amplitud de pensamiento y capacidad de juzgar. La lectura de H. Arendt
de la Crítica del Juicio», Revista Portuguesa de Filosofia, 61 (2005), 863‑882; Elve Mi‑
guel Cenci, «A interpretação política de Hannah Arendt dos juízos estéticos kan‑
tianos», Crítica (Londrina), vol. xi, n.o 33, 2006, pp. 101‑130. Simona Forti, na sua
obra Hannah Arendt tra filosofia e politica (Bruno Mondadori, Milano, 2006, parte iv,
pp. 325‑362) apresenta um esclarecido e compreensivo estado da questão.
504
505
2
Hannah Arendt antecipa assim aquela que será também a principal críti‑
ca feita à moral kantiana pelo seu antigo condiscípulo e amigo Hans Jonas, em
Das Prinzip Verantwortung, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1979.
506
3
The Human Condition, Chicago University Press, Chicago, 1958, pp. 155
‑158.
«Kant e os limites do antropocentrismo ético‑jurídico», in Cristina Be‑
4
ckert (coord.), Ética Ambiental, Uma Ética para o Futuro, CFUL, Lisboa, 2003,
pp. 167‑212. Neste volume, pp. 123-174.
507
5
Hannah Arendt, «Freedom and Politics», in Freedom and Serfdom: An An‑
thology of Western Thought, ed. Hunold, Dordrecht, 1961, p. 207. O ensaio, que
começou por ser uma conferência — «Freedom and Politics: A Lecture» — teve
a sua primeira publicação na Chicago Review, XIV, n.o 1 (1960), pp. 28‑46. A des‑
coberta da Crítica do Juízo por parte de Arendt deve ter começado no ano de
1957, segundo se depreende de uma carta sua a Karl Jaspers, datada de 29 de
Agosto desse ano, na qual se lê: «De momento estou a ler a Kritik der Urteilskraft
com interesse crescente. É ali, e não na Kritik der praktischen Vernunft, que a real
filosofia política de Kant está escondida. O seu elogio do ‘sentido comum’, tão
frequentemente desprezado; o fenómeno do gosto levado a sério como fenó‑
meno básico do juízo…; o ‘modo alargado de pensar’ que faz parte do juízo de
tal modo que podemos pensar a partir do ponto de vista de um outro. A exi‑
gência da comunicabilidade. Tudo isto incorpora experiências que o jovem
Kant teve em sociedade, às quais o homem velho trouxe de novo vitalidade.»
H. Arendt/Karl Jaspers, Briefwechsel 1926‑1969, Piper, München/Zürich, 1985,
p. 209 (v. p. 355).
6
Hannah Arendt, «The Crisis in Culture: Its Social and Its Political Signifi‑
cance», in Between Past and Future, The Viking Press, New York, 1968, pp. 197
‑226 (1.a ed. 1961). Numa sua primeira e mais reduzida versão, sob o título
«Society and Culture», este ensaio foi publicado na revista Daedalus, LXXXII,
n.o 2 (1960), pp. 278‑287. Cito o ensaio pela respectiva tradução francesa: in H.
Arendt, La crise de la culture. Huit exercices de pensée politique, Gallimard, Paris,
1972, pp. 253‑288.
508
7
La crise de la culture, ed. cit., p. 279.
509
510
Ibidem, p. 286.
10
Ibidem, p. 288.
11
12
Sobre a atitude negativa de Heidegger em relação ao humanismo ro‑
mano e à romanidade filosófica, v. Franco Volpi, «Heidegger, el problema de la
intraducibilidad y la romanidad filosófica», in Irene Borges‑Duarte, Fernanda
Henriques, Isabel Matos Dias (org.), Heidegger, Linguagem e Tradução, CFUL, Lis‑
boa, 2004, pp. 525‑543.
13
The Human Condition, ed. cit., p. 325; introd. a A Vida do Espírito, vol. i,
trad. portuguesa, pp. 17‑18.
511
14
La crise de la culture, ed. cit., p. 280.
512
15
Ibidem, p. 283.
513
16
Ibidem, p. 285.
514
515
18
«Julgar. Extractos de lições sobre a filosofia política de Kant», apêndice
a A Vida do Espírito, vol. ii, trad. portuguesa, p. 255.
516
517
19
Não deixa de ser curioso o facto de Hannah Arendt não mencionar da
obra de Weil aquilo que nela mais próximo está da sua própria ideia, a saber
a interpretação da terceira Crítica de Kant em clave de filosofia política. Weil
apresentara‑a como Critique de la Judiciaire. Da mesma forma, no terceiro en‑
saio do seu Problèmes Kantiens, sobre «Histoire et Politique», insiste em mostrar
como a política está no cerne do sistema de Kant. A 1.a edição da obra é de 1963.
Embora seja a 2.a edição de 1970 a citada por Arendt, a filósofa devia por certo
conhecer a primeira edição. Aí, numa nota, Weil diz expressamente, referindo
‑se ao § 83 da obra de Kant, que «La Critique de la Judiciaire … contient le plus
succint et le plus riche résumé de la pensée politico‑historique de Kant, qu’elle
place de manière significative dans l’Appendice de l’ouvrage consacrée à la
téléologie naturelle de la preuve morale; l’histoire est sensée parce que la nature
l’est.» (Problèmes Kantiens, Vrin, Paris, 1970, p. 139.)
20
Sobre as relações pessoais e intelectuais entre Hannah Arendt e Martin
Heidegger, v. Jacques Taminiaux, The Thracian Maid and the Professional Thinker:
Arendt and Heidegger, transl. by Michel Gendre, State University of New York
Press, Albany, N. Y., 1996.
518
21
Hans Blumenberg, Das Lachen der Thrakerin. Eine Urgeschichte der Theo‑
rie, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1987.
22
A Vida do Espírito, ibidem, p. 95. Abordámos este tópico na nossa disserta‑
ção Metáforas da Razão ou Economia Poética do Pensar Kantiano, JNICT/F. C. Gul‑
benkian, Lisboa, 1994, pp. 515‑521.
519
23
Ibidem, p. 107.
520
24
Ibidem, p. 108.
25
Ibidem.
26
Ibidem, p. 148.
521
27
Crítica da Razão Pura, trad. portuguesa, p. 309.
522
523
Men in Dark Times, Brace & World, New York, 1968, p. 27. Sobre as crí‑
30
ticas do Jovem Hegel à moral kantiana, que encontram eco também noutros
pensadores contemporâneos, nomeadamente em J. Habermas e Hans Jonas,
v. o meu ensaio: «O jovem Hegel: Subsídios para a leitura de ‘O Espírito do
Cristianismo e seu Destino’», in Leonel Ribeiro dos Santos, O Espírito da Letra.
Ensaios de Hermenêutica da Modernidade, INCM, Lisboa, 2007, pp. 349‑357.
524
31
Eichmann in Jerusalem, Faber & Faber, London, 1963, pp. 120‑123.
525
526
32
Trad. portuguesa, pp. 13‑15.
33
Eichmann in Jerusalem, p. 294.
527
34
Ibidem, pp. 294‑295.
528
35
Uma apreciação desta nova linha hermenêutica da filosofia prática e
política kantiana, curiosamente representada maioritariamente por autores do
espaço anglófono (Christine M. Korsgaard, Onora O’Neill, Marcia W. Baron,
Barbara Herman, Thomas E. Hill Jr., Stephen Engstrom, Nancy Sherman, Al‑
len Wood, Mark Timmons, J. B. Schneewind, Robert B. Louden e outros), pode
ver‑se no meu ensaio: «Actualidade e inactualidade da ética Kantiana». Neste
volume, pp. 67-104.
36
Trad. portuguesa, p. 237.
529
530
531
532
533
cessity of Virtue. Aristotle and Kant on Virtue, Cambridge University Press, Cam‑
bridge, 1997; Stephen Engstrom / Jennifer Whiting (ed.), Aristotle, Kant and the
Stoics. Rethinking Happiness and Duty, Cambridge University Press, Cambridge,
1996 (destaque aqui para os ensaios de Christine M. Korsgaard, «From Duty
and for the Sake of the Noble: Kant and Aristotle on Morally Good Action»,
203‑236; Julia Annas, «Aristotle and Kant on Morality and Practical Reason‑
ing», 237‑258; Stephen Engstrom, «Happiness and the Highest God in Aristotle
and Kant», 102, 138, e Jennifer Whiting, «Self‑Love and Authoritative Virtue:
Prolegomenon to a Kantian Reading of Eudemian Ethics VIII 3», 162‑199).
41
Aristóteles, Ethica Nichomacheia, VI. V. o «Comentário» de René Antoine
Gauthier et Jean Yves Jolif: L’Éthique a Nicomaque, Introduction, Traduction et
Commentaire, Publications Universitaires, Louvain / Béatrice‑Nauwelaerts,
Paris, 1970, Tome II, Deuxième Partie, Livres VI‑X, pp. 435 e segs.
42
Christian Wolff, Philosophia moralis sive Ethica, Halle, 1750, Pars Prima,
cap. iii, pp. 279‑604.
534
43
Alexander von Bormann, Vom Laienurteil zum Kunstgefühl. Texte zur
deutschen Geschmacksdebatte im 18. Jahrhundert, Niemeyer, Tübingen, 1974,
pp. 2‑4.
44
Hans Georg Gadamer, Wahrheit und Methode, Mohr‑Siebeck, Tübingen,
1960, pp. 32 e segs.
45
Alfred Baeumler, Das Irrationalitätsproblem in der Ästhetik und Logik des 18.
Jahrhunderts bis zur Kritik der Urteilskraft, reimpressão: WBG, Darmstadt, 1975.
535
536
48
Esta ideia era na verdade já proposta por Leibniz como uma «fiction»
como «le vrai point de perspective en politique aussi bien qu’en morale… la
537
place d’autrui… est une place propre à nous faire découvrir des considérations
qui sans cela ne nous seraient point venues.» Gaston Grua, Textes inédits de Lei‑
bniz, Paris, 1948, pp. 501‑502.
49
KU, Ak V, 296‑297.
50
KU, Ak V, 297.
538
51
KU, Ak V, 297‑298.
52
A. Baumgarten, Aesthetica, § 6 in A. Baumgarten, Theoretische Ästhe‑
tik, Die grundlegenden Abschnitte aus der «Aesthetica» (1750/58), Lateinisch
‑Deutsch, Felix Meiner, Hamburg, 1988, p. 4.
53
KU, Ak V, 295.
539
54
KU, Ak V, 355‑356.
540
55
Ibidem, 352, 375.
56
Ibidem, 432.
541
57
A Vida do Espírito, vol. ii, p. 261. Kant poderá ter colhido o tema do
«espectador imparcial» da obra The Theory of Moral Sentiments de Adam Smith,
542
543
58
Ela própria cita apenas uma obra digna de registo: Hans Saner, Kants
Weg vom Krieg zum Frieden, vol. 1: Widerstreit und Einheit: Wege zu Kants politis‑
chen Denken, München, R. Piper Verlag, 1967.
59
Tive oportunidade de desenvolver este tópico, nomeadamente em Me‑
táforas da Razão ou Economia Poética do Pensar Kantiano, JNICT/F. C. Gulbenkian,
Lisboa, 1994, pp. 561‑631: «A instauração republicana da Razão. Paradigmas
político‑jurídicos do pensar kantiano.»
60
Tugendlehre, Ak VI, 438.
544
545
546
547
548
Prefácio................................................................................................... 7
ÉTICA E ANTROPOLOGIA
FILOSOFIA POLÍTICA
549