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A partir dos anos 1980, o ensino não é mais visto como uma sucessão de etapas, e sim um
processo contínuo. "O aluno precisa entrar em contato com dificuldades progressivas do
conteúdo. Desse modo, desenvolve competências e habilidades diferentes ao longo dos anos",
diz Maria Teresa Tedesco, professora do Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (Uerj).
As situações didáticas essenciais para o Ensino Fundamental passaram a ser: ler e ouvir a leitura
do docente, escrever, produzir textos oralmente para um educador escriba (quando o aluno ainda
não compreende o sistema) e fazer atividades para desenvolver a linguagem oral, além de
enfrentar situações de análise e reflexão sobre a língua e a sistematização de suas
características e normas.
]Aqueles que já dominavam essa primeira etapa de aprendizagem passavam para a seguinte. Na
escrita, os alunos deveriam reproduzir modelos de textos consagrados da literatura e caprichar no
desenho do formato das letras. Para fazer uma leitura de qualidade, o estudante tinha como
tarefa compreender o que o autor quis dizer - sem interpretar ou encontrar outros sentidos. As
aulas focavam os aspectos normativos e descritivos da língua e textos não literários - como o
acadêmico e o jornalístico - não eram estudados. “Os coloquiais ou informais eram considerados
inadequados para ser trabalhados em sala de aula", explica Egon de Oliveira Rangel, professor
do Departamento de Linguística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Ainda era essencial seguir um padrão preestabelecido, e qualquer anormalidade seria um ruído.
Para contemplar a perspectiva, o acervo de obras estudadas acabou ampliado, já que o formato
dos textos clássicos não servia de subsídio para a escrita de cartas, por exemplo.
Em pouco tempo, no entanto, as correntes acadêmicas avançaram mais. Mikhail Bakhtin (1895-
1975) apresentou uma nova concepção de linguagem, a enunciativo-discursiva, que considera o
discurso uma prática social e uma forma de interação - tese que vigora até hoje. A relação
interpessoal, o contexto de produção dos textos, as diferentes situações de comunicação, os
gêneros, a interpretação e a intenção de quem o produz passaram a ser peças-chave.
A expressão não era mais vista como uma representação da realidade, mas o resultado das
intenções de quem a produziu e o impacto que terá no receptor. O aluno passou a ser visto como
sujeito ativo, e não um reprodutor de modelos, e atuante - em vez de ser passivo no momento de
ler e escutar.
Essas ideias ganharam suporte das pesquisas que têm em comum as concepções de
aprendizagem socioconstrutivistas, que consideram o conhecimento como sendo elaborado pelo
sujeito, e não só transmitido pelo mestre.
Entre os principais pensadores estão Lev Vygostsky (1896-1934) - que mostrou a importância da
interação social e das trocas de saberes entre as crianças - e Jean Piaget (1896-1980) - pai da
teoria construtivista. Nos anos 1980, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, autoras do livro
Psicogênese da Língua Escrita, apresentaram resultados de suas pesquisas sobre a
alfabetização, mostrando que o aluno constrói hipóteses sobre a escrita e também aprende ao
reorganizar os dados que têm em sua mente. Em seguida, as pesquisas de didática da leitura e
escrita produziram conhecimentos sobre o ensino e a aprendizagem desses conteúdos.
Hoje, a tendência propõe que certas atividades sejam feitas diariamente com os alunos de todos
os anos para desenvolver habilidades leitoras e escritoras. Entre elas, estão a leitura e escrita
feita pelos próprios estudantes e pelo professor para a turma (enquanto eles não compreendem o
sistema de escrita), as práticas de comunicação oral para aprender os gêneros do discurso e as
atividades de análise e reflexão sobre a língua.A leitura, coletiva e individualmente, em voz alta
ou baixa, precisa fazer parte do cotidiano na sala. "O mesmo acontece com a escrita, no convívio
com diferentes gêneros e propostas diretivas do professor. O propósito maior deve ser ver a
linguagem como uma interação", explica Francisca Maciel, diretora do Centro de Alfabetização,
Leitura e Escrita (Ceale), em Belo Horizonte.O desenvolvimento da linguagem oral, por sua vez,
apesar de ainda pouco priorizado na escola, precisa ser trabalhado com exposições sobre um
conteúdo, debates e argumentações, explanação sobre um tema lido ou leituras de poesias. "O
importante é oferecer oportunidades de fala, mostrando a adequação da língua a cada situação
social de comunicação oral".
Para que a aprendizagem seja efetiva, a intenção do educador deve ser a de extrapolar as
situações de escrita puramente escolares e remeter às práticas sociais. Dessa forma, possibilita-
se aos alunos o contato com gêneros que existem na vida real - e não propor a elaboração de
redações escolares sem contexto. "A proficiência do aluno requer a aprendizagem não apenas
dos conteúdos gramaticais, mas também dos discursivos", diz Kátia.
Mitos pedagógicos
Leitura pelo professor, só para quem não sabe "Em geral, o professor lê para as turmas até a 2ª
ou 3ª série. Para os mais velhos, pensa: se eles já sabem ler, não precisam mais de mim",
exemplifica Cristiane Pelissari, selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Na
verdade, a atividade é importante sempre e em todas as idades. "Ao ler, o professor apresenta o
material e o recomenda. Isso explicita quais os critérios de apreciação utilizados, oferecendo
referências a respeito deles", esclarece Kátia Bräkling. Lê antes, ganha livro depois por muito
tempo, acreditou-se que o contato com os livros deveria acontecer quando a criança já tivesse o
domínio da leitura. "Se não sabe ler, não vai entender nem aproveitar o livro. Mas, se aprender,
ganha um título como prêmio", dizia-se. Hoje, no entanto, sabe-se que é com o contato com
textos que o aluno estabelece as relações que podem desenvolver comportamentos leitores e
ajudar os estudantes a compreender a sua função comunicativa. Fala errado, escreve mal é certo
que o conhecimento linguístico e a competência escritora causam um impacto na fala. Mas a
relação entre ambas as habilidades não é tão estreita assim a ponto de se afirmar que quem fala
mal escreve com dificuldade. Como a escrita não é a transcrição da fala, para produzir bons
textos é preciso praticar, conhecer e se apropriar dela.
1759. A Reforma Pombalina torna obrigatório no Brasil o ensino de Língua Portuguesa nas
escolas. A intenção é transmitir o conhecimento da norma culta da língua materna aos filhos das
classes mais abastadas.
1850. A maneira unânime de ensinar a ler é o método sintético. As letras, as sílabas e o valor
sonoro das letras servem de ponto de partida para o entendimento das palavras.
1860. Desde os primeiros registros sobre o ensino da língua, a escrita é vista independentemente
da leitura e como uma habilidade motora, que demanda treino e cópia do formato da letra por
parte do aprendiz.
1876. O poeta João de Deus (1830-1896) lança a Cartilha Maternal. Defende a palavração,
modelo que mostra que o aprendizado deve se basear na análise de palavras inteiras. É um dos
marcos de criação do método analítico.
1911. O método analítico se torna obrigatório no ensino da alfabetização no estado de São Paulo.
A regra é válida até 1920, quando a Reforma Sampaio Dória passa a garantir autonomia didática
aos professores.
1920. Inicia-se uma disputa acirrada entre os defensores dos métodos analíticos e sintéticos.
Alguns professores passam a mesclar as ideias básicas defendidas até então, dando origem aos
métodos mistos.
1940. As primeiras edições das cartilhas Caminho Suave e Sodré são lançadas nessa década,
respeitando a técnica dos métodos mistos, e marcam a aprendizagem de gerações.
1970. A linguagem passa a ser vista como um instrumento de comunicação. O aluno deve
respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens. Os gêneros não literários são
incorporados às aulas.
1984. Lançamento do livro Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. A
concepção de linguagem é modificada nessa década e influencia o ensino até hoje: o foco
deveria estar na interação entre as pessoas.
1997. São publicados os PCNs pelo governo federal para todo o Ensino Fundamental,
defendendo as práticas sociais (interação) de linguagem no ensino da Língua Portuguesa.
As aulas de Língua Portuguesa, desde o século 19, foram marcadas pelos métodos de ensino de
leitura e escrita nos anos iniciais de escolaridade e normativos nos anos seguintes. Foram as
pesquisas dos últimos 30 anos que mudaram esse enfoque. Leia o perfil de cada fase.
MÉTODOS SINTÉTICOS
Foram predominantes no ensino da leitura desde meados do século 19. A escrita era vista como
uma habilidade motora que requeria prática mecânica. Passada a alfabetização, os alunos
deveriam aprender regras gramaticais.
Foco: A alfabetização se inicia com o ensino de letras e sílabas e sua correspondência com os
sons para a leitura de sentenças. Nas séries finais, só os clássicos são trabalhados, já que a
intenção é ensinar a escrever usando a língua culta e a ler para conhecer modelos consagrados.
Estratégia de ensino: As técnicas de leitura adotadas desde cedo são a silábica, alfabética ou
fônica. Os mais velhos copiam textos literários sem levar em conta o contexto e o interlocutor.
MÉTODOS ANALÍTICOS
Surgiram no fim do século 19, em contraposição aos sintéticos. A alfabetização segue como uma
questão de treino e o enfoque dos anos seguintes voltado ao debate das normas.
Foco: A alfabetização parte do todo para o entendimento das sílabas e letras. Pouco muda nas
técnicas para as séries finais do Ensino Fundamental.
Estratégia de ensino: Mostrar pequenos textos, sentenças ou palavras para, então, analisar
suas partes constituintes e o funcionamento da língua.
PROPOSTA CONSTRUTIVISTA
Ganhou força na década de 1980, com as pesquisas psicogenéticas e didáticas e a concepção
interacionista de linguagem.
Foco: O estudante deve refletir sobre o sistema de escrita, seus usos e suas funções. Os objetos
de ensino são o sistema alfabético e os comportamentos leitores e escritores.
Estratégia de ensino: Leitura e escrita feitas pelo professor, produção de textos, leitura
(individual e coletiva) dos próprios estudantes e reflexão sobre a língua. Textos de diversos
gêneros devem ser trabalhados desde o início da alfabetização até os anos finais.
Essa situação faz com que os professores de Português realizem estudos e pesquisas e
apresentem alternativas para melhor funcionalidade desse ensino, a partir da análise das suas
deficiências.
No Brasil, o ensino da língua materna tem-se desenvolvido quase somente por meio do ensino
da gramática tradicional. E o pressuposto básico, nessa acepção, é de que saber a teoria
gramatical equivale a saber português.
O posicionamento, visto assim, é fruto de uma tradição histórica, organizada numa concepção
clássica do ensino da língua, trazida pelos jesuítas. Em termos concretos, essa tradição de
ensino, que procurava seu aperfeiçoamento evitando qualquer alternativa, fazia com que o
professor que só havia aprendido gramática, apenas gramática ensinasse, fechando assim um
círculo vicioso, com poucas perspectivas de mudanças.
Esse posicionamento foi sendo reforçado e estratificado pelas principais normas legislativas. Em
1959, por exemplo, a Portaria 36, do Ministério da Educação e Cultura (MEC), disciplina a adoção
da Nomenclatura Gramatical Brasileira e recomenda seu uso no ensino programático como
também em atividades que visem à verificação da aprendizagem. Nessa mesma Portaria são
definidas as instruções quanto à seleção dos termos da nova nomenclatura: exatidão científica
do termo; vulgarização internacional e a sua tradição na vida escolar brasileira.2 E quanto
às recomendações atinentes à aplicação, destaca-se: dá-se importância a revisão da doutrina
gramatical e à realização de pesquisas contínuas para detectar os erros mais comuns cometidos
pela coletividade escolar, atentatórios à gramática. Se é louvável a intenção da Portaria com
relação à revisão permanente da doutrina gramatical - o que nunca foi feito - e com a pesquisa
dos fatos lingüísticos correntes - o que também nunca foi feito - é lamentável a concepção
linguística subjacente à Portaria. É uma concepção defasada da variação lingüística, vista como
erros atentatórios à gramática, proveniente de um ensino monolítico, onde não se admitiam
alternativas, características do ensino tradicional. Por fim, como um simples apêndice, a Portaria
faz breve referência a que o ensino se subordine a um embasamento lingüístico e a uma técnica
dentro da Lingüística Aplicada.
A Lei 5.692/71, se bem que apresente também uma evolução do quadro da legislação, acabou
por produzir uma situação extremamente paradoxal no ensino da Língua Portuguesa, quer em
termos intrínsecos - contradição entre os pressupostos gerais da lei e seus desdobramentos em
textos complementares -, quer em termos extrínsecos - a contradição entre a lei e sua aplicação.
O artigo 5º desse Parecer afirma que nas séries iniciais, sem ultrapassar a quinta, a língua
será desenvolvida sob a forma de Comunicação e Expressão, tratada predominantemente
como atividade; em seguida, até o fim desse grau, sob a forma de Comunicação em Língua
Portuguesa, tratada predominantemente como área de estudo; no ensino do 2º grau, sob a
forma de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, tratada predominantemente
como disciplina.
Como foi dito antes, a contradição se encontra no próprio corpo da legislação, assim como nas
situações em que ela é aplicada. Quanto à legislação, a um princípio avançado - dar precedência
ao ensino centrado no uso da língua - correspondeu uma aplicação tímida (facilmente percebida
no art. 5º) e não coerente, como quando caracteriza os objetivos da área de Comunicação e
Expressão para os alunos de 5ª a 8ª série:
Na prática escolar até agora mais freqüente dá-se, por exemplo, que a preocupação prematura e
exagerada com a função metalingüística vem a perturbar e mesmo inibir o desenvolvimento das
demais funções: não só o excesso de atenção e de tempo destinados, já nas primeiras séries do
1º grau, a falar a língua restringe, senão elimina as oportunidades de cultivar qualquer outra
função lingüística, mas ainda a apresentação insistente e de forma inadequada de modelos
conflitantes com a competência lingüística dos alunos acarreta nestes um verdadeiro complexo
de incompetência lingüística, que tende a bloquear o exercício de todas as demais funções da
linguagem.
Foram vistos, até aqui, dois fatores que dificultam avanços na metodologia do ensino da Língua
Portuguesa: de um lado, a quase exclusividade do ensino de gramática - fruto da tradição trazida
pelos jesuítas - e, de outro, as contradições internas e externas da legislação.
Nesta sociedade, cabe ao professor a tarefa de levar a criança a saber questionar, a criar novos
modelos. Para essa nova função, se o professor continuar a trabalhar com o mesmo instrumental,
sentir-se-á fatalmente insatisfeito, seja porque ciente das mudanças, percebe-se defasado em
sua formação, seja porque, indiferente ao processo inovador, continua a visar um modelo
anacrônico cujo resultado nulo tem efeito frustrador para suas aspirações profissionais.
A leitura passa a ser instrumento de libertação para a pessoa interpretar, refletir, formar-se,
conscientizar-se. O mais importante da leitura, nesse enfoque, é que ela nos torna pensadores,
pois irá instrumentalizar o indivíduo para uma compreensão mais ampla do seu mundo e para a
comunicação. Dessa forma, a escola ganha novo sentido, o professor já não é a única fonte de
informação.
Outro desafio para o ensino de Português é a extensão social dos mais variados meios de
comunicação, em decorrência dos avanços tecnológicos das últimas quatro décadas. O indivíduo
está cercado, por todos os lados, pela força dos meios de comunicação, força essa que motiva as
diretrizes da vida, que impulsiona, que faz aparecer interesses e necessidades.
E, nesse campo, os veículos de comunicação marcam presença: seja pelo número de horas
absorvidas pela assistência aos programas de TV, seja pela gama infindável de opções no campo
das publicações. O trabalho do professor de Português ganha realce em face dessa situação,
visto o aluno precisar adaptar-se criticamente a ela, desenvolvendo a capacidade de maior
compreensão dessas formas de comunicação e evitando ser um receptor passivo: ele precisa
discutir a mensagem postando-se ativamente diante das situações criadas.
Um último dado a ser considerado é o fato de a língua Portuguesa ocupar posição de destaque
na escola de 1º e 2º grau, isto por ser a disciplina base das outras matérias de estudo, pois é
veículo de todos os conhecimentos que a escola proporciona: fala-se e lê-se em português ao
discutir sobre matemática ou estatística, sobre ciências naturais ou químicas. Tudo reconduz ao
português a todo momento da vida escolar. O ensino de português é, por assim dizer, uma
espécie de educação permanente instalada na forma de todas as disciplinas.
Se o indivíduo não conhece bem a Língua Portuguesa, não pode aprender adequadamente aquilo
que deseja. Se não aprende, não assimila e, por outro lado, torna-se incapaz de elaborar um
pensamento lógico.
No entanto, tudo o que vimos discorrendo sobre ensino da Língua Portuguesa só se tornará
efetivo se as suas finalidades forem reexaminadas e seus métodos revistos a partir de teorias
recentes formuladas e que fornecem uma compreensão mais abrangente do fenômeno
lingüístico. Dessa forma esse ensino assume, nos seus multiaspectos, importância e novas
perspectivas; e, na discussão das formas que ele pode assumir, é essencial uma fundamentação
científica, abandonando-se a gramática tradicional como centro de ensino.
Diante das inter-relações da língua com todos os aspectos da vida do indivíduo, fica claro que o
ensino não pode restringir-se à gramática tradicional e que as alternativas deverão encontrar
caminhos para a prática da abrangência. Esse caráter abrangente é decisivo na metodologia do
ensino da Língua Portuguesa e resulta na necessidade de se analisar o descompasso entre a
investigação teórica da linguagem e a fundamentação do ensino de Português.
Observou-se, até aqui, que no Brasil o ensino da Língua Portuguesa, apesar da sua importância e
multiaspectos, tem-se conduzido quase somente por meio da gramática tradicional, sendo isso
responsável por grande parte do insucesso dos alunos na aprendizagem da língua materna e da
falta de segurança na comunicação.
Os próprios linguistas nos seus estudos já não utilizam tal gramática como modelo analítico, salvo
criticamente, como ponto de partida para outros modelos mais coerentes e abrangentes. O ensino
da Língua Portuguesa só pode ser desenvolvido a partir de uma reflexão sobre a própria noção
de língua e pela análise da situação lingüística em que todo o indivíduo está envolvido.
1) entender o domínio da língua não apenas como um saber sobre ela, mas primordialmente
como o domínio de um conjunto de habilidades de uso da língua em cada situação;
A aplicação da Linguística implica uma compreensão das coordenadas e dos termos que
configuram o ato verbal e do complexo de funções nele inseridas.
Compreende-se, desta forma, que o ensino da língua deve estar associado a uma ciência que é a
Lingüística. Contudo, repensar o ensino de língua como fundamento na Lingüística não significa
introduzir diretamente, nas escolas de 1º e 2º graus, as formulações teóricas mais recentes; nem
se trata de realizar um exercício meramente mecânico de passar as conclusões teóricas para a
atividade pedagógica; é, isto sim, desenvolver uma pedagogia de Português a partir de se
assumir uma ou outra ou várias das diferentes teorias lingüísticas. É um trabalho indireto e, por
isso, interdisciplinar. Uma compreensão mais rica do fenômeno lingüístico - fornecida pelas
formulações teóricas - será o suporte para a definição de novas diretrizes para o ensino.
Também não é o caso de introduzir uma terminologia nova - oriunda das teorias lingüísticas - nas
gramáticas tradicionais e no ensino - como tem ocorrido com certa freqüência - e pensar que se
está com isso produzindo uma mudança qualitativa no ensino de língua.
O ponto crítico do ensino de Português tem sido a ênfase unilateral ao estudo da teoria
gramatical. Nossos alunos passam onze anos na escolar e, freqüentemente, o que lhes é
apresentado é apenas metalíngua - conceitos, regras, exceções.
Em estudos realizados sobre a gramática tradicional, FARACO acentua que a língua continua a
ser vista de modo cristalizado: para as gramáticas tradicionais só existe uma língua portuguesa
(aquela prevista por elas); as variantes lingüísticas, em geral, são vistas como formas erradas,
condenadas, não recomendáveis, uma espécie de corrupção da língua verdadeira, pura.
Tem-se a impressão que a língua é um fenômeno homogêneo e imutável no tempo: os fatos que
as gramáticas apresentam são, em geral, arcaicos.
Entre os motivos apresentados como contrários ao ensino da teoria gramatical, destacamos dois:
primeiro, o fato de que é possível dominar a língua sem conhecer-lhe a teoria gramatical, como
acontece na aquisição da língua pela criança; segundo, o fato de que a teoria gramatical ensina
nas escolas é bastante imprecisa, defasada em relação às mudanças ocorridas na língua.
Concluímos, então, que não se pode restringir o ensino da Língua Portuguesa ao ensino da teoria
gramatical.
Mas, além de ter feito pouco esforço no sentido de criar uma lingüística aplicada ao ensino de
Português, com suas naturais consequências para a formação do professor de 1º e 2º graus
(basta lembrar que a normalista não tem nenhuma formação lingüística), há um outro problema
que afeta esse ensino, a saber: a falta de descrições razoáveis da língua portuguesa nas
modalidades em que ela é falada aqui no Brasil, o que dificulta a orientação do seu ensino.
RODRIGUES afirma que uma das tarefas da Lingüística no Brasil é a investigação do nosso
idioma e que há necessidade de se analisar ou reanalisar a língua portuguesa de um ponto de
vista puramente descritivo.1A esse respeito ISAURA HIGA se pronuncia colocando a necessidade
que em todos os recantos de nosso país sejam feitas pesquisas lingüísticas que venham
contribuir de forma prática para elaboração de uma descrição da língua nacional que servirá de
ponto de partida à atualização do ensino de nossa língua materna.11
Se, de um lado, uma descrição melhor da língua nos vai fornecer um panorama mais atualizado
dela - e poderemos trabalhar nas escolas com uma língua menos arcaica e mais próxima das
experiências e necessidades de nossos alunos -, será também de utilidade adiantar diretrizes
gerias para o ensino da língua como base na aplicação de uma teoria que nos fornceça uma
noção mais abrangente dessa língua, vista não apenas como um sistema formal, mas também
como um sistema de opções comportamentais.
Deve-se ressaltar, contudo, que a ênfase dada a um deles não exclui o outro, e que no ensino de
1º grau deve predominar o desenvolvimento da habilidade de comunicação sobre a aquisição de
conhecimentos a respeito da língua, uma vez que outros conhecimentos a respeito da língua só
podem ser desenvolvidos nos alunos a partir de um bom domínio da mesma por parte deles.12
Um modelo lingüístico aplicável ao ensino deveria, segundo LOBATO, englobar, além dos
elementos propriamente lingüísticos, principalmente outros aspectos tais como o contexto
lingüístico dos falantes e as variações no uso da língua pois dominar uma língua significa
dominar, além das regras de boa formação de frases, os princípios e condições de utilização
adequada dessas frases num dado contexto lingüístico e numa dada situação de comunicação.
Essa abordagem tem merecido, recentemente, especial atenção do sócio linguistas e, nesse
campo, os estudiosos têm dado maior destaque ao aspecto sócio-semântico das opções
lingüísticas que caracterizam a heterogeneidade do uso da língua entre uma determinada
população.
BIBLIOGRAFIA
https://novaescola.org.br/conteudo/303/o-que-ensinar-em-lingua-portuguesa
https://www.youtube.com/watch?v=aZAt8lJc9EM
https://www.youtube.com/watch?v=fZ7yYKgfdJo
https://www.youtube.com/watch?v=FSwr9LyrTIE
https://www.youtube.com/watch?v=oQVfpDZTAuA