A teoria desenvolvida por Vygotsky sublinha o papel da
cultura no desenvolvimento e a natureza intrinsecamente social deste processo.
O desenvolvimento cognitivo resulta de um processo
social de interiorização de ferramentas intelectuais – linguagem, conceitos, técnicas – de atitudes e de valores. Esta interiorização só é possível graças à interação com membros de uma determinada cultura que utilizam esses conhecimentos, proporcionando à criança a sua experiência explícita. Essa experiência envolve, simultaneamente, o objecto, a maneira de o pensar/concetualizar e de o sentir. De todos os instrumentos a que a criança tem acesso através da experiência social, Vygotsky dá um destaque particular à linguagem, poderoso instrumento de comunicação, mas também um importante instrumento de mediação semiótica.
A apropriação da linguagem é considerada como fonte
de descontinuidade no desenvolvimento porque introduz um novo meio de relação com o mundo exterior, mas também uma nova forma de organização interna. Enquanto para Piaget é a interiorização da ação que está na base da emergência do pensamento, para Vygotsky o desenvolvimento do pensamento é o resultado da interiorização de uma nova forma de organização interna imposta pela linguagem. A linguagem interna tem origem nos diálogos e nas trocas com as outras pessoas.
O discurso egocêntrico não resulta de uma centração individual e de
uma indiferenciação de pontos de vista, como postulava Piaget, tendo uma função de auto-regulação (organização mental e da ação). Relação entre Desenvolvimento e Aprendizagem
A relação entre estes dois conceitos é explicada através
da noção de zona proximal de desenvolvimento: “…a distância entre o nível de desenvolvimento actual que pode ser determinado através da maneira como a criança resolve os problemas sozinha e o nível de desenvolvimento potencial que pode ser determinado através do modo como a criança resolve os problemas enquanto assistida pelo adulto, ou quando colabora com outras crianças mais adiantadas” (Vygotsky, 1935, p.108,109). Vygotsky define a lei genética de desenvolvimento, considerando que todas as funções superiores aparecem duas vezes no decurso do desenvolvimento: primeiro ao nível social ou interpessoal, durante a interação com os agentes sociais, e somente mais tarde serão individuais ou intra-psicológicas, por interiorização dos processos interativos.
O desenvolvimento e a inteligência podem, desta forma,
beneficiar de uma educação sistemática ( ex: a aprendizagem de conceitos científicos tem como consequência a transformação e a reformulação dos conceitos “espontâneos” das crianças). Enquanto Piaget procurou estudar e esclarecer o papel da contradição, do conflito e da equilibração na aprendizagem, Vygotsky enfatizou o papel do diálogo. Ele estava, sobretudo, interessado no papel do adulto e dos pares do aluno quando conversavam, questionavam, explicavam e ajustavam os diferentes significados. Afirmou que a aprendizagem mais eficaz ocorre quando o adulto “puxa” a criança para o nível potencial de desempenho.