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Livro:
Conceito de Ambiente significará tudo aquilo que nos rodeia e influencia, directa ou
indirectamente, a nossa qualidade de vida e os seres vivos que constituem a biosfera.
Todos os factores que integram o mundo natural estão relacionados em interacção
contínua e profunda, dando-se esta relação, também, com o mundo artificial ou humano.
Conclusão. Importa destacar a opção por uma noção de ambiente centrada nos
elementos naturais, objecto da tutela jurídica.
Dano ambiental
Dadas as preocupações ambientais e surgimento de normas jurídicas a tutelar o novo
bem jurídico (também direito fundamental) atrás descrito, teriam, obviamente, de surgir
disposições legais a ocupar-se das normas destinadas à tutela do ambiente – ilícito
ambiental. Assim, dano ambiental, ocorre sempre que uma dada acção humana viole as
disposições jurídicas destinadas a proteger o direito subjectivo ao ambiente dos
indivíduos, acarretando consequências danosas para o ambiente. A regulação de dano
ambiental levanta problemas diversos e de difícil resolução: ressarcimento do dano
ambiental – a responsabilização apenas resolve a questão do lado do autor do dano
porque, por exemplo, nos casos (mais comuns) em que os danos provêm de “emissores”
indeterminados, as suas insuficiências são evidentes.
Titulares do direito de indemnização decorrente de um acto ilícito ambiental, só o
Estado (com outras pessoas colectivas de direito público) ou os cidadãos
individualmente considerados? A questão remete-nos para a análise anterior referente à
dupla fisionomia do bem jurídico colectivo e direito subjectivo fundamental do
ambiente: se for um bem jurídico respeitante a toda a comunidade nacional, defender-
se-á que o titular do direito ao ressarcimento será o representante dessa comunidade – o
Estado; ao contrário, se for como direito subjectivo dos indivíduos, serão eles os
titulares do ressarcimento sempre que sofram as ofensas.
Em certas doutrinas – como a italiana – é acolhida a primeira concepção:
configuração do dano ao ambiente como dano público. Assim, os cidadãos
singularmente considerados e as associações ambientalistas ficam apenas com o direito
de denunciar factos lesivos ao bem ambiental e vedado o acto de promover acções de
defesa do ambiente.
Estão todos consagrados na lei. São úteis na interpretação e aplicação das normas
daquele ramo do Direito. São,
a) princípio da prevenção – visa evitar a produção de um dano antes dele ter ocorrido;
b) princípio da correcção na fonte – diz-nos quem, onde e quando se deve evitar a
poluição;
c) princípio da precaução – destina-se a superar o cepticismo decorrente da falta de
provas cientificas, invertendo o ónus da prova de um dano ambiental possível;
d) princípio do poluidor-pagador – estabelece que os danos ambientais devem ser
suportados pelos poluidores e não pelos contribuintes;
e) princípio da integração – a protecção do ambiente deve ser uma preocupação
subjacente as todas as actividades;
f) princípio da participação – confere aos cidadãos o direito de intervir nas decisões
que possam afectar o ambiente;
g) princípio da cooperação internacional – impõe aos Estados o dever de colaborar
para proteger eficazmente o ambiente.
Os princípios em detalhe
a) o principio da prevenção é uma regra de mero bom senso. Corresponde ao aforismo popular «mais vale prevenir
do que remediar». E mais vale prevenir porque: 1. na maior parte dos casos, depois da poluição ou o dano
ocorrerem, são impossíveis de remover. É o caso, p. ex., da extinção de uma espécie animal ou vegetal; 2. mesmo
quando a reconstituição natural é materialmente possível pode ser muito onerosa e esse esforço não pode ser
exigido ao poluidor; 3. economicamente é sempre mais dispendioso remediar do que prevenir.
b) o principio da correcção na fonte é bastante recente no Direito do Ambiente. Também designado por princípio
do produtor-eliminador, princípio da auto-suficiência ou princípio da proximidade. Visa pesquisar as causas da
poluição para, sempre que possível, as eliminar ou então, para as moderar, evitando que a mesma se repita. Apela
mais para a ideia de prevenção dos danos actuando a priori e na origem. Ideia mais de acordo com o espírito e
prática do Direito do Ambiente.
c) o principio da precaução é o mais recente do Direito do Ambiente. Não deve ser confundido com o princípio da
prevenção. Tem a máxima aplicação em casos de dúvida, reservando em favor do ambiente o benefício da dúvida
nos casos de falta de provas científicas evidentes sobre o nexo causal entre uma actividade e um determinado
fenómeno de poluição ou degradação ambientais. A aplicação deste princípio leva a que o ónus da prova da
inocuidade de uma acção em relação ao ambiente seja transferido do Estado ou dos potenciais poluídos para os
potenciais poluidores.
d) o princípio do poluidor-pagador está expressamente consagrado no artigo 3º da lei de Bases do Ambiente: «[…]
sendo o poluidor obrigado a corrigir ou recuperar o ambiente, suportando os encargos daí resultantes, não lhe
sendo permitido continuar a acção poluente.» O princípio do poluidor-pagador (PPP) não é o mesmo que a
responsabilidade civil por danos ambientais; o PPP é o princípio que, com maior eficácia ecológica, com maior
economia e equidade social, consegue realizar o objectivo de protecção do ambiente. O PPP desempenha uma
função que, em linguagem económica, se denomina internalização das externalidades ambientais negativas, i.e.,
actividades geradoras de externalidades negativas são aquelas que impõem custos a terceiros
independentemente da vontade destes e também independentemente da vontade de quem desenvolve essas
actividades.
e) o princípio da integração considera que não há actividade humana que não seja susceptível de afectar de
maneira directa ou indirecta, em maior ou menor grau, o ambiente, é compreensível que as questões ambientais
não possam ser apenas preocupações dos Ministérios do Ambiente mas de todos porque a politica do ambiente é
transversal: perpassa as restantes políticas devendo ser tida em consideração em todas elas. Por força deste
princípio, é possível fiscalizar a legalidade de uma medida adoptada no âmbito de qualquer outra politica, à luz da
sua conformidade com os princípios de politica do ambiente e sancionar o seu desrespeito.
f) defende-se, ao nível do Direito do Ambiente, a necessidade de os órgãos e agentes administrativos bem como
os diferentes grupos sociais existentes na comunidade, intervirem, de forma consultiva e, também, com um papel
activo nas tomadas de decisão relevantes para o ambiente. Os cidadãos devem ser ouvidos na formulação e
execução da política de ambiente. Este principio – o da participação – está ligado ao direito à informação, pois só
os cidadãos devidamente informados é que poderão ter oportunidade de exercer convenientemente o seu direito
de participação.
a) serem um padrão que permite aferir a validade das leis, tornando inconstitucionais ou
ilegais as disposições legais ou regulamentares ou os actos administrativos que os con
trariem;
b) no seu potencial como auxiliares da interpretação de outras normas jurídicas;
c) na sua capacidade de integração de lacuna, i.e., quando não há previsão de um caso
na lei e a integração da lacuna consiste na criação da disciplina jurídica para aquele
caso concreto.
Objectivos
- preservar, proteger e melhorar a qualidade do ambiente.
visão ecológica pura e propugna a protecção directa do ambiente entendido como um fim em si mesmo.
- contribuir para a protecção da saúde das pessoas.
Considera-se o bem jurídico ambiente numa perspectiva mais antropocêntrica e conservadora. Tal como está for
mulado é demasiado restritivo e deveria ser ampliado, também, para a protecção da saúde dos seres vivos.
- assegurar uma utilização pendente e racional dos recursos naturais
advoga-se a protecção não instrumentalizada dos recursos naturais. Orienta-se, novamente, a protecção da na-
tureza para a sua utilização pelo homem na perspectiva de não exaustão futura e da durabilidade dos recursos
naturais. É a ideia de “desenvolvimento sustentável”.
Princípios
Artº 130R, no seu nº 2: princípios fundamentais do Direito Comunitário do Ambiente:
- princípio da prevenção;
- princípio da reparação na fonte;
- princípio do poluidor pagador (PPP);
- princípio da integração.
Desenvolvimento Sustentável
Houve, também, modificações introduzidas no artº 2 relativo aos objectivos da
Comunidade. Pela primeira vez surge agora, expressamente, o ambiente como “missão”
fundamental da Comunidade, condição para a melhoria da “qualidade de vida”, apenas
compatível com um “crescimento sustentável” da economia.
Mas o que é crescimento ou progresso económico sustentável? A expressão
doutrinalmente mais correcta é a de desenvolvimento sustentável, que surgiu para
contrapor à concepção clássica de crescimento económico que contabiliza a riqueza
nacional ignorando a existência e o estado de conservação dos recursos naturais. Os
métodos utilizados para aferir a riqueza de uma nação não nos dão uma ideia do bem-
estar do seu povo.
Analogamente, o crescimento económico sem preocupações com o ambiente,
também se reflecte na riqueza nacional. Contudo, o aumento da poluição e a degradação
das componentes ambientais daí resultantes não são sinónimos de bem-estar social.
Nasce, então, uma reacção radical de alguns grupos ecologistas que se apercebem dos
problemas ecológicos decorrentes do crescimento económico. Põem em causa os
valores defendidos pela sociedade de consumo e defendem o crescimento zero. Surge a
noção de desenvolvimento sustentável.
- uma politica e estratégia de desenvolvimento económico e social contínuo, sem prejuízo do ambiente e recursos
naturais, de cuja qualidade depende a continuidade da actividade humana e do desenvolvimento.
(5º programa comunitário de acção em matéria de ambiente – Maio de 1993)
Subjacente a esta noção está a ideia de que os recursos naturais são escassos e
esgotáveis e que, por isso, devem ser objecto de uma utilização especialmente
parcimoniosa e jurídica.
AIA, o que é?
A avaliação de impacte ambiental é um procedimento administrativo que garante que, antes da autorização de um
projecto, os seus potenciais impactes significativos (positivos e negativos) sobre o ambiente, serão
satisfatoriamente avaliados e tidos em consideração. Este procedimento reúne o dono da obra, as autoridades
públicas e o público em geral.
Quais os fins?
Os fins são o aperfeiçoamento do processo de decisão dos poderes públicos com vista à prevenção e à protecção,
promovendo a protecção da saúde humana, melhoria da qualidade de vida, etc. Outro fim será a pacificação social
porque permite tornar os projectos mais conhecidos e transparentes e, portanto, mais bem aceites.
Qual o objecto?
A Avaliação de Impacte Ambiental aplica-se apenas a projectos públicos ou privados com sentido de obras ou
outras intervenções no meio natural ou paisagem. Nem todos estão sujeitos a avaliação mas apenas aqueles que
forem susceptíveis de produzir efeitos significativos sobre o ambiente.
Força jurídica.
A força jurídica do resultado da AIA pode considerar-se ambígua. Porque a sua não vinculatividade, ou seja, as
autoridades com competência para autorizar o projecto não estão inibidas de o fazer sempre que outras razões
sociais ou económicas mais fortes o justifiquem, constitui a sua principal fraqueza.
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* nos termos do artigo 3º são as que sejam equiparadas pelo Instituto Nacional do Ambiente
quer sejam de âmbito nacional ou regional.
a) descrição do projecto (localização, concepção, dimensões, exigências no domínio da utilização do solo, nas
fases de construção e de funcionamento);
b) descrição das principais características de fabrico (por exemplo, materiais utilizados);
c) estimativa dos tipos e quantidades dos resíduos e emissões previstos em resultado do funcionamento do
projecto.
d) descrição das medidas previstas para evitar, reduzir ou compensar os efeitos negativos significativos;
e) resumo das principais soluções alternativas estudadas pelo dono da obra e a indicação das principais razões da
sua escolha, atendendo aos efeitos no ambiente;
f) os dados necessários para identificar e avaliar os principais impactes que o projecto possa ter no ambiente e
descrição dos elementos do ambiente susceptíveis de serem afectados pelo projecto;
g) descrição de todos os efeitos importantes que o projecto possa ter no ambiente resultantes da sua existência
bem como a indicação pelo dono da obra dos métodos de previsão utilizados para avaliar os efeitos no ambiente;
h) resumo das eventuais dificuldades (lacunas técnicas) encontradas pelo dono da obra na compilação das
informações requeridas;
i) resumo não-técnico das informações referidas nos pontos anteriores.
Responsabilidade Civil
É um instinto cuja antiguidade remonta ao Direito Romano. Evoluiu porque teve que
se adaptar às necessidades postas pelas sociedades modernas. Em muitos casos revela-se
um meio inadequado de lidar com os atentados ao ambiente.
A configuração jurídica dos crimes contra o ambiente, teoricamente, pode ser concebida como:
a) crimes de dano: necessária a lesão efectiva do interesse ou objecto tutelado pela norma;
b) crime de perigo concreto: necessária a verificação efectiva de um perigo para o interesse ou objecto prote-
gido;
c) crime de perigo abstracto: consuma-se pela mera adopção de uma conduta que o legislador presume, sem exi-
gir prova em contrário, que é perigosa para o interesse ou objecto protegido.
d) crime de perigo abstracto-concreto: consuma-se quando a conduta adoptada for idónea a criar o perigo para
o interesse ou objecto protegido.
Sucede, porém, que todas estas configurações jurídicas são susceptíveis de criticas
relativamente à tutela do bem jurídico ambiente: tem interesse difuso porque misto
(interesse de todos mas também de cada um) e depois porque raramente o prejuízo
ambiental resulta da conduta isolada de um único agente poluidor, mas de múltiplos
agentes. Como ultrapassar, então, estes obstáculos? Vemos a seguir.
O crime de poluição
(artigo 279º do Código Penal)
Crime ecológico tal como o anterior. Objectos da tutela da norma são a água, o solo,
o ar ou o domínio do som. Também aqui estamos em presença de crime de
desobediência qualificado como dano.
Coima – sanção pecuniária oscilando entre um limite mínimo e um máximo consoante o agente seja uma pessoa
singular ou colectiva e também consoante a conduta seja dolosa ou meramente negligente. Assim, os critérios
para determinar o montante da coima são: a gravidade da contra-ordenação, a culpa; a situação económica do
agente e o beneficio económico retirado da infracção pelo agente responsável pela conduta.
A coima não é algo de análogo à multa, porque esta tem finalidade exclusivamente
preventiva e a primeira é uma mera advertência ao cidadão faltoso. (p. 181 manual)
Assim se o agente condenado não pagar uma multa, quer voluntária quer coercivamente,
terá que cumprir pena de prisão o que já não acontece no caso da coima. Aqui há várias
hipóteses a considerar:
- a autoridade administrativa ou o tribunal podem autorizar o pagamento no prazo de
um ano ou em prestações conforme a situação económica do agente;
- o condenado pode pedir (requerer) a substituição desta por prestação de trabalho a
favor da comunidade;
- se não se verificar nada do anterior exposto, a coima prescreve. E não haverá, em
caso algum, cumprimento de uma pena de prisão por força deste não pagamento.
A autonomia processual
Duas fases distintas e autónomas entre si no processo contra-ordenacional:
1. fase administrativa – a autoridade competente investiga o ilícito e, caso recolha
indícios suficientes, o sanciona;
2. fase judicial – é meramente eventual porque a sua existência depende da vontade
do particular que ficou descontente com a condenação da autoridade administrativa.
(exemplos nas páginas 182, 183 e 184 do manual)
Apreciação critica de algumas especificidades do processo contra-ordenacional
a) a fase administrativa do processo esta configurada de forma bilateral. De um lado
a Administração sancionada e do outro o agente poluidor. Neste caso a intervenção das
associações de defesa do ambiente e dos particulares é muito limitada.
b) a intervenção do Ministério Público na fase administrativa do processo é também
praticamente inexistente. A competência cabe exclusivamente à Administração.
c) na fase judicial, a situação inverte-se tendo, agora, o Ministério Público, uma
posição dominante. Pode evitar o sancionamento do agente poluidor bastando ouvir a
autoridade administrativa mas não sendo obrigado a fazê-lo, nem, caso a ouça, a ficar
vinculado na sua decisão.
O ambiente como uma das áreas destinatárias por excelência do direito de mera
ordenação social
- Características das contra-ordenações ambientais: existem algumas relevantes
especificidades das contra-ordenações ambientais relativamente a todas as outras
condutas que constituem um ilícito de mera ordenação social;
- A punição das condutas negligentes: são punidos só os casos previstos na lei. O
agente só poderá ser punido pela prática de uma contra-ordenação quando agir com
dolo. Mas em sede de contra-ordenações ambientais, as condutas negligentes são
normalmente punidas pelo que a punição da negligência neste domínio deriva da
simples ideia de que, quando está em causa o ambiente, todo o cuidado é pouco.
- A punição de tentativa: “há tentativa quando o agente pratica actos de execução de
uma contra-ordenação que decidiu cometer sem que esta chegue a consumar-se” (artigo
12º do regime geral). A tentativa só pode ser punida quando a lei expressamente o
determinar: coima, especialmente atenuada.
- As especificas sanções acessórias: uma das características fundamentais do direito
de mera ordenação social é a previsão de variadas sanções acessórias aplicadas
conjuntamente com a sanção principal que é a coima. Geralmente são mais gravosas
para o condenado do que a própria coima.
- Técnicas de definição das condutas que constituem contra-ordenações ambientais:
O legislador parece adoptar quatro modalidades de determinação das contra-ordenações
na área do ambiente:
1. recorrer a cláusulas gerais, dizendo-se que é contra-ordenação toda a conduta que
violar determinada norma jurídica indicada por forma directa ou indirecta.
2. outra será considerar contra-ordenação a adopção de determinados actos que
contrariem formas de controlo estabelecidas pela Administração com o sejam as
licenças e as autorizações.
3. outra será a de optar por autonomizar a conduta lesiva do ambiente, descrevendo-a de
forma intensiva por indicação dos seus elementos constitutivos.
4. é ainda possível considerar contra-ordenação a conduta que constitua o
incumprimento por um determinado agente de uma imposição concreta e individual da
autoridade administrativa.