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BRUCE – UM HOMEM DA MÁFIA
Livro 3
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Índice
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
EPÍLOGO
CAPÍTULO BÔNUS
SINOPSE
É fácil perdoar?
Ainda mais quando quem te fere é a única pessoa que você permitiu se aproximar depois de tantos anos de
solidão.
Depois de alguns maus entendidos, Rita se vê a mercê de Bruce e das crueldades de que ela nunca imaginou
que ele fosse capaz de fazer. Era como se o seu pequeno castelo de areia desmoronasse de uma vez, bem na
frente de seus olhos.
Descobrir sobre a máfia foi um choque para ela, no entanto, foi muito pior ser torturada por ele.
Bruce tinha dado o melhor de si para não quebra-la, mas como perdoa-lo?
PRÓLOGO
O dia tinha começado numa bagunça para Rita, e a pior delas era que estava muito atrasada. O senhor
Albertini iria tirar seu fígado fora, com os dentes, quando chegasse a sua sala e ela não poderia culpá-lo por
tal atrocidade, já que não estava cumprindo com o combinado e exigido, de nunca se atrasar.
— Josh.
— Se você ainda quiser uma mãe inteira no final do dia, acho bom descer agora!
— gritou de volta.
Rita se agachou e terminou de amarrar as sandálias de saltos nos pés. Tinha descido completamente
desesperada com o horário, que não se deu conta que faltava prendê-las em seus tornozelos.
Endireitou o corpo, pegou sua bolsa e uma pasta de trabalho. Correu para sua cozinha e pegou o sanduiche
que tinha feito para Josh levar para escola, antes que esquecesse de pegar.
Voltou em passos rápidos para a sala e ele ainda não tinha descido.
— Joshua, desça de uma vez ou eu vou buscá-lo pela orelha — gritou e então ele apareceu na escada.
Ela sorriu para a figura loira que descia correndo em sua direção, era a cópia perfeita de seu pai e aquilo
sempre balançaria sua estrutura. Amava seu filho mais do que a si mesma, porém, as características físicas
que carregava traziam saudades de um tempo que nunca mais iria voltar. Mesmo com o coração apertado ela
lhe ofereceu um grande sorriso amoroso.
— Não posso, quando sei que o senhor Albertini vai me arrancar os rins. — Ela disse e ele sorriu.
— Semana passada era o coração — disse ele, enquanto a acompanhava até o carro.
— Daqui uns dias você vai ter uma mãe zumbi e a culpa será sua.
— Eu te amo, mãe.
Ela sorriu antes de ligar o carro e levá-lo para a rua. Ele fazia isto todas as vezes que ela tinha que dirigir,
para que acalmasse seus medos e inseguranças.
Ela respondeu com lágrimas nos olhos e depois se concentrou na estrada. Não gostava de dirigir e fazia isto
somente por necessidade.
— Mãe?
— Sim.
— E?
— Eu quero tentar.
— Um tênis novo?
— Ele vai me comer viva isto sim e já posso até ouvir seus gritos por estar atrasada. Aquele homem não tem
coração e você ainda brinca.
Eles riram juntos e Rita se sentiu feliz, todo o momento em que estavam juntos era assim. Josh trazia a
leveza e paz que precisava para a sua alma perturbada.
— Vamos pagar essa taxa de inscrição e você vai ser o meu campeão.
— Eu vou ser — afirmou ele com certa arrogância fazendo sua mãe sorrir.
Gostava de vê-lo confiante e de como suas atitudes eram parecidas com o jeito de seu pai. Mesmo estando
atrasada, seguiu devagar pelas ruas até que chegasse a escola de Josh. Estacionou o carro longe e precisou
acompanhá-lo até a porta, para garantir que ele entrasse na escola com segurança, mesmo sobre seus
protestos de que era um garoto grande e podia ir até a portaria. Porém, ela não iria arriscar sua segurança,
sabendo que ele podia se virar sozinho.
— Tchau, mama.
— E daí?
— Já sou um rapaz.
— Sempre será meu bebê, agora vá logo — disse e beijou a bochecha dele. —
Ela o abraçou forte e ele ficou envergonhado como qualquer mini garoto que se acha um adolescente. Rita
sorriu e esperou até que Josh sumisse para dentro de sua escola. O porteiro também ajudou para aumentar
seu atraso, já que ele começou a falar com ela sem parar, antes de voltar para seu carro.
— Rita.
— Ettore, como vai? — perguntou gentilmente e ele beijou sua bochecha rapidamente.
Rita escondeu o leve tremor que sentiu por tal ato e sorriu sem graça para o homem a sua frente.
Encerrou a conversa e entrou no carro. Ettore segurou sua porta e ela ficou confusa com sua atitude.
O tom de sua voz estava estranho e ela franziu a testa estranhando sua maneira de agir, achando meio
suspeito, mas mesmo assim ignorou suas dúvidas e sorriu para ele.
— Sempre — garantiu.
Dirigindo devagar novamente pelas ruas manteve sua completa atenção no trânsito tomando cuidado em sua
condução como sempre fazia. Sentiu o carro acelerar sozinho e seu coração acelerou junto. Seu corpo ficou
rígido quando tentou frear e não funcionou, tentou novamente e teve o oposto, ganhando mais velocidade.
Ela começou a tremer com o pânico crescente em seu corpo, viu alguns carros buzinarem irritados por sua
condução rápida e lembranças vieram a sua mente.
Ela não conseguia respirar enquanto tentava manter o controle do carro. As lembranças daquela noite não
ajudaram muito para tranquilizar seu espírito. Sua mente gritava para que o carro obedecesse a seus
comandos, mas nada funcionava e a cada segundo tomava uma velocidade maior.
Passando por uma pequena ponte, ela girou a direção desviando de uma moto.
Gritou quando o carro bateu na contenção lateral e voou por um instante antes de bater na água com força.
O pânico não deixava que ela pensasse direito, se debatia na intenção de sair do carro e sentiu o sangue
escorrer de sua testa em um corte. No impacto do carro na água, ela acabou batendo a cabeça antes do airbag
ser acionado. A água gelada estava entrando pelo carro e já cobria quase todo seu corpo, fazendo com
Levantou o rosto quando a água estava quase o alcançando e puxou o ar com força, enquanto ainda tentava
se livrar do cinto.
Nada que fazia ajudava em salvar sua vida, o ar tinha acabado e o carro foi tomado pela água. Rita queria
chorar por acabar em algo tão trágico e por deixar Josh órfão, ele não merecia sofrer isto quando ainda era
tão jovem.
Rita queria sobreviver e lutar pelo ar, para que seu filho ainda tivesse uma mãe no final do dia, mas sentiu-se
afogando e cada vez mais a esperança se distanciava.
Ficou inconsciente até que sentiu uma grande pressão sobre o peito, obrigando seu corpo lutar contra a água
que tinha entrado em seus pulmões.
Sentiu lábios frios e duros contra os dela, enviando fôlego ao seu corpo cansado e quase morto.
— Respire! — ordenou.
Rita abriu os olhos e mesmo sobre o embaraço neles viu a figura de preto inclinado sobre ela.
— Bruce.
CAPÍTULO UM
Adônis estava em seu escritório, acompanhado de Apolo e Bruce. Ele se encostou à cadeira de couro em que
estava e pensou no que fazer com sua secretária. Rita foi vista quinze vezes na presença de um inimigo da
máfia, aquilo tinha chamado sua atenção.
Antes que tivesse a chance de responder a porta se abriu e duas figuras femininas entraram furiosas.
— Não se atreva, Adônis. — Giulia disse e ele podia ver que sua esposa estava completamente irritada.
Ela consertou os óculos sobre o nariz em um gesto nervoso que pegou depois de começar a usá-lo, e Adônis
apreciava cada vez que ela fazia isto.
— Apolo como pode pedir tal coisa? Ficou maluco. — Milena bradou irritada.
— O que as duas fazem aqui? — O tom frio de Adônis não teve nenhum efeito
— Essa é minha casa também. — Ela disse brava. — Adônis, que Deus me ajude, mas se você prejudicar a
Rita de alguma forma, eu vou sair desta casa com meus filhos.
— Giulia! — Ele a repreendeu quase que horrorizado com o que ela disse.
— Isto serve para você também, Apolo, mas claro que depois de você acordar com um gesso de corpo
inteiro. — Milena disse e Adônis prendeu um sorriso.
Por Milena ser médica as ameaças dela sempre eram as melhores. Tinha uma mente tão malvada como a de
Apolo, quando era preciso.
— Milena, não brinque com isto. — Apolo disse suave, mas o fato de usar o nome de sua esposa mostrava
que ele ainda estava tentando deixar seu lado mafioso no controle.
Respeitou seu irmão por isto, mas tinha que fazer alguma coisa.
— Primeiro, isto não é assunto para vocês. — Adônis disse e viu os olhos de sua esposa brilhar em decepção.
Seu coração se apertou, não gostava de vê-la triste com ele, mas manteve-se firme.
— Se continuar a rir, vou dar um jeito de dosar sua bebida com uma maldita droga que te faça ter uma ereção
dolorosa por horas! E que a única solução para diminuir seja enfiando uma agulha no seu pênis para retirar o
sangue. — Milena ameaçou furiosa fazendo Apolo parar de rir no mesmo instante.
Adônis sorriu e viu Bruce endurecer as feições na tentativa de não rir da situação.
— Você não faria isto, doutora. — Ele disse ainda chocado com a ameaça.
— Com certeza eu faria, priapismo é muito doloroso, querido. Não aconselharia a experimentar.
Giulia caminhou e ficou bem na frente de Adônis. Ele olhou em seus olhos em busca da paz que transmitiam,
mas só conseguia encontrar preocupações neles.
— Pequena.
— Adônis, por favor, não mate ela. Eu não sei o que ela fez, mas tem que ter uma explicação. Rita é a pessoa
mais forte e doce que eu conheço, ela cria o filho sozinha, não pode deixar aquele garoto órfão.
As lágrimas escorrendo no rosto dela o deixou em conflito, era um assunto da máfia, mas a dor nos olhos da
sua esposa era uma prioridade e precisava acalmá-
la.
— Promete?
— Sim, vou procurar por respostas, depois tomarei uma decisão do que farei com ela.
Ele se levantou, limpou o rosto de sua esposa e beijou seus lábios com carinho.
— Não.
Adônis endureceu com a afronta de Milena, e admitiu que fosse uma mulher de coragem apesar de conseguir
ser tão irritante quanto Apolo.
Sua esposa não deveria enfrentar seu irmão, ele era o chefe e tinha que ser tratado com respeito.
— Mas, não para mim — disse firme e voltou a olhar para o marido. — Apolo,
aquela mulher me ajudou quando ganhei Rapha, ela esteve lá quando eu estive gripada demais para cuidar
dele. — implorou. — Sempre me ajudou e sei que ajudou Giulia também quando foi preciso, por favor, não
me negue isto.
madrugada. Era inocente, mas mesmo assim fui sequestrada, amarrada, agredida
— Sim.
— Eu tive um traumatismo craniano por causa de uma coronhada, o que acha que Rita pode ter sofrido por
causa de um acidente grave como este?
— Muitas coisas. — Adônis respondeu para seu irmão, e mais uma vez estava cedendo ao ver a preocupação
nos olhos de sua esposa.
Sabia que Milena estava certa em se preocupar, elas eram amigas de Rita e ele entendia que ferir e matar sua
secretária traria dor a sua mulher e a do seu irmão.
— Deixe que ela vá até Rita, Apolo — pediu Adônis, não querendo desrespeitar a opinião do seu irmão.
— Não é uma boa ideia, Adônis, mulheres são muito sensíveis e Milena vai entrar em guerra comigo para
tentar tirar Rita de lá.
— Eu te conheço, gatinha, você tem um bom coração e sempre quer salvar todos. Não é mesmo?
— Sabe que Bruce vai tirar respostas dela? Que ele vai lhe causar dor caso ela não contribua? — Apolo
questionou.
— Apolo.
O tom choramingado de Milena fez Apolo se levantar e abraçá-la.
— Esse é meu mundo, querida, pode até ir até Rita para avaliá-la, mas será uma única vez. Não permito nada
mais do que meia hora, e eu não quero nenhuma discussão sobre isto depois.
— Vou levá-la lá em uma hora, arrume tudo o que precisa para examinar Rita.
— Ok.
— Bruce?
— Senhora?
— Não a machuque muito, por favor. — Giulia pediu com pesar entendendo que
Bruce sem saber o que responder, somente acenou com a cabeça concordando.
— Não quero nem pensar sobre isto. — Adônis resmungou, enquanto voltava ao
Bruce queria protestar, mas não o fez. Ele tinha criado alguns sentimentos por Rita desde que a beijou no
elevador um tempo atrás e não queria machucá-la.
Tinha ficado afastado e só observou-a de longe, até que viu Ettore por perto.
Não queria causar dor a ela, mas ele não tinha outra opção. Devia sua lealdade a máfia e não podia fazer
nada para ajudá-la. Ver que quase morreu no acidente de carro tinha feito coisas estranhas a ele, mas ainda
assim não iria contra as regras de Adônis.
Preferia que fosse ele a buscar por respostas do que qualquer outro.
— Eu quero estar a três passos à frente dele, sempre. Antes de ir até Rita deixe o
terreno preparado, quero que ele seja como um pequeno rato em minha armadilha. — Adônis disse e Apolo
concordou.
— O que me intriga é o por que Rita? Ela fez algo para ele? Ela sabe de alguma coisa para ele ter tentado
matá-la? — Adônis disse passando a mão sobre a barba.
— Ela sabe de algo. — Apolo afirmou. — Ele não tentaria algo assim se não se sentisse ameaçado.
Saiu do escritório do chefe sentindo-se completamente irritado, ainda não sabia como tiraria respostas de
Rita. Não queria feri-la, ele sempre viu o lado bom dela, mas chegou à conclusão que todos têm um lado
escuro, mesmo o mais doce de todos.
“Todo mundo tem um lado escuro.” Lembrou-se do conselho de seu velho pai.
CAPÍTULO DOIS
Sentindo todo o corpo doer, Rita rolou sobre o colchão macio em que estava deitada. Não entendia o porquê
de tanta dor, mas sabia que precisava acordar.
Algo muito importante tinha acontecido e ela precisava voltar a sua consciência.
Forçou seus olhos abrirem um pouco e viu o colchão novo em que estava deitada. Levantou um pouco o
olhar e encontrou uma parede branca suja no fundo. Franziu a testa confusa sem reconhecer o lugar. Não
entendeu o que estava acontecendo, gemeu quando virou para o outro lado e todo o sangue drenou de seu
rosto.
Estava cercada por grades prateadas e muito resistentes, sua respiração engasgou quando percebeu que
estava presa. Fechou os olhos com força e voltou a abrir na esperança de que fosse um pesadelo, mas as
grades ainda brilhavam na sua frente zombando de sua esperança.
Forçou o corpo para cima até conseguir se sentar. Uma dor fisgou em sua coxa e seu olhar desceu para
encontrar o vestido, que colocou esta manhã para trabalhar, elevado e no meio da coxa uma faixa enrolada.
Arfou com o medo e seus olhos voltaram a percorrer pelo local. Estava apavorada com sua situação até que
seus olhos pararam sobre uma figura de preto sentada em uma cadeira enquanto a observava.
— Bruce.
Ele não disse nada e somente ficou a olhando com a mesma frieza de sempre.
Rita levou as mãos em seus olhos e os esfregou, tentando buscar por clareza.
Olhou para Bruce novamente e encontrou seus frios olhos verdes sobre ela.
Ele não respondeu e ela sentiu sua garganta ainda mais dolorida.
Seu corpo não tinha forças, mas ela foi teimosa até que conseguiu se colocar em
pé, mesmo balançado sobre os pés. Deu um passo dolorido para frente e outro, até que segurou nas grades
frias.
— Bruce — sussurrou aterrorizada. — O que está acontecendo? Por que estou presa aqui? ... Não estou
entendendo... Bruce, diga alguma coisa.
— Bruce, por favor, eu estou com medo. — Ela sussurrou com lágrimas nos olhos.
Viu ele se levantar e pegar uma bandeja que tinha na mesa a sua frente.
O tom perigoso dele a fez tropeçar para trás em seu corpo dolorido, acabou pisando nas suas sandálias no
chão da cela e caindo de bunda no chão. Gemeu alto com a dor que explodia por todo seu corpo.
— Vá para o colchão e fique deitada, não me faça te amarrar nele. — Ele disse duramente e empurrou a
bandeja por baixo da grade em um compartimento.
— Porque está fazendo isto... comigo? ... Nunca te fiz nenhum mal. — Ela sussurrou e ele evitou seu olhar
naquele instante.
— Beba água para aliviar o desconforto em sua garganta, passou mais de dez horas desacordada. Coma o
sanduíche e tome os analgésicos para dor que tem na bandeja.
— Dez horas?
— Sim.
— Josh.
Ela falou alto e forçou seu corpo para cima de novo, estava hiperventilando e cambaleando na cela. Agarrou
as grades com força para obrigar seu corpo a se manter de pé.
— Josh... eu preciso... buscar... ele na casa do seu nonno... meu filho... por favor... Josh... Bruce...
Suas palavras eram bagunçadas e ela se sentiu tonta, mas obrigou seu corpo a
— Ele vai... achar que... eu o abandonei... Josh... o meu Deus... eu nunca faria isto... ele é minha vida...
preciso vê-lo ...
— Deite-se — ordenou Bruce.
— Bruce para com essa brincadeira, eu preciso ver o meu filho! — Rita gritou completamente apavorada,
enquanto sentia sua cabeça explodir em dor.
A voz perigosa de Bruce chegou aos seus ouvidos e então Rita caiu para trás desmaiada.
Bruce queria xingar a si mesmo por ter sido muito bruto com ela, mas não havia um jeito mais delicado de
fazer isto. Correu para frente e abriu a cela onde ela tinha acabado de bater no chão, completamente apagada.
Não podia culpá-la pelo seu desespero, é normal o ser humano não saber lidar com o medo, mas o pavor que
ela demonstrou ao achar que o filho pensaria que ela o abandonou era real. Tão real que a levou no limite de
suas forças em poucos segundos.
Pegou-a com cuidado em seus braços e colocou Rita sobre o colchão novamente.
Pôs seus dedos sobre o pulso de seu pescoço e o sentiu leve. Ele esperava que ela não tivesse machucado a
cabeça com a sua queda. Sua perna machucada chamou a atenção dele pelo vermelho fluindo na faixa e ele
suspirou ao perceber que ela tinha aberto os pontos do corte.
...
Quando Rita abriu os olhos novamente uma hora mais tarde, ela chorou em silêncio ao perceber que não era
um pesadelo. Ela realmente era uma prisioneira naquele lugar, era real. Olhou para a perna machucada e viu
a faixa branca bem enrolada em sua coxa.
Permanecendo deitada enquanto procurava por Bruce com os olhos e o encontrou no mesmo lugar de antes,
sentado em uma cadeira confortável a observando.
Ela soltou um soluço e empurrou o corpo para o outro lado tentando ignorar a presença dele. Não queria
comer e nem aliviar a dor que sentia. Queria entender o porquê estava presa e sair dali de volta para a
segurança de sua casa junto com
seu filho.
Ficou naquela posição por muito tempo enquanto chorava baixinho. Sentia os olhos de Bruce sobre ela e
mesmo assim o ignorou.
— Rita.
Ela não o respondeu, deixando que ele provasse do próprio veneno. Bruce era bom em não responder
perguntas, o que sempre a deixava furiosa.
— Vamos falar sobre isto em algum momento, mas agora você precisa se alimentar e tomar os medicamentos
para sua dor.
— Por que você se importa? Por que está me mantendo prisioneira? Eu preciso do meu filho. — Ela
murmurou.
— Você não dita às regras aqui, faça o que eu te mando e será o melhor para você — ameaçou. — Não me
force ao limite.
— Nada.
— Não estou mentindo, não fiz nada — afirmou. — Ele está sobre os cuidados
de seu nonno.
— Ele pensa que viajou a trabalho. — Bruce respondeu, mesmo não tento nenhuma obrigação, ele queria que
ela se acalmasse e não se preocupasse tanto.
— Não.
— Não.
— Ele nunca dormiu longe de mim. — Ela falou e forçou seu corpo virar para o lado onde Bruce estava. —
Por favor, Bruce.
Ele se manteve em silêncio por um tempo tentando decidir se era uma boa ideia.
Mas se queria que o filho acreditasse que ela estava em uma viagem de trabalho, deveria deixar.
— Vou permitir, se dizer algo a ele sobre o que está acontecendo, eu serei obrigado a ir atrás dele também.
— Não direi nada! — prometeu ela apavorada que algo acontecesse a Josh.
Bruce acenou com a cabeça e se afastou para pegar o celular que tinha deixado em cima da mesa.
— Mama.
— O senhor Albertini arrancou seu rins por chegar atrasada? — Josh brincou um pouco tenso.
— Mais do que isto, nem sei como ainda estou viva. — Ela respondeu e ficou
Em um empurrão, obrigou-se a se sentar e implorou com o olhar para que ele não encerrasse a chamada.
— Vou lhe fazer um zumbi também quando voltar, porque a culpa é sua.
— Mãe, zumbis não sugam sangue e sim vampiros. — Ele riu alto.
— De nada, neh! Eles já vão estar mortos para isto, por isto são zumbis, mortos-vivos.
Ela quis chorar naquele momento, mesmo tentando impedir que as lágrimas saíssem, elas escorreram por
suas bochechas em silêncio sem sua permissão.
— Ainda acho que eles sugam sangue. — Ela disse com um tom firme, mas por
— Quando voltar vamos falar sobre a diferença de zumbi para vampiros, você é minha mãe e deveria me
ensinar, não o contrário — brincou.
— Já não tem mais nenhum órgão? O senhor Albertini arrancou tudo? — Josh
brincou.
— Até minha pele — brincou para que ele não sentisse falta de seu humor.
— Te amo, mãe.
— Oi.
— Já escovou os dentes?
— Sim e já estou na cama, não queria dormir longe da senhora, mas entendo que tenha que trabalhar, só
tenho medo de que nunca volte.
— E mãe.
— Hum.
— Sempre.
Então Rita começou a cantarolar a mesma canção que cantava para ele todas as noites desde que nasceu. Era
uma canção especial que sua mãe também cantava para ela em sua infância e Rita queria que Josh se sentisse
em paz toda vez que cantarolava para ele, assim como ela se sentia quando ainda era criança.
Bruce ficou em silêncio até que viu Rita adormecer depois de cantarolar para o filho. Sua voz suave acalmou
seu filho e a ela também. Afastou-se e encerrou a ligação, voltou a se sentar enquanto observava Rita dormir.
Ele ficou curioso para entender o porquê o garoto tinha tanto medo de que ela o abandonasse. Também se
perguntou por que ele pediu que ela dirigisse com cuidado. Mas sorriu ao se lembrar da conversa estranha
sobre zumbis e vampiros. Entendeu que ela disse a ele que Adônis arrancaria seus órgãos por chegar atrasada
ao trabalho, algo que ele realmente faria depois de gritar sobre como odeia esperar.
Suspirou e decidiu que a deixaria dormir até o amanhecer, e que quando acordasse, ele iria começar o seu
trabalho para ter as respostas que precisava.
CAPÍTULO TRÊS
Rita rolou para o lado e sentiu uma pressão dolorida em sua coxa, percebeu que estava deitada sobre sua
ferida e logo a realidade voltou a sua mente.
— Bruce — sussurrou lembrando que ele estava fazendo dela sua prisioneira.
Forçou seu corpo a levantar e se sentou no colchão, gemeu com a dor de cabeça e buscou por Bruce com os
olhos pelo local.
Ele estava na mesma cadeira de antes, cogitou a ideia de que ele nem mesmo tenha saído de lá em nenhum
instante.
— Pare com isto, Bruce, por favor, me tire daqui — pediu ela.
Ele se manteve em silêncio, fazendo o temperamento de Rita se elevar.
Ela se levantou com certo esforço e balançou em seus pés até a grade onde se agarrou para que se manter na
vertical.
— Que merda você pensa que está fazendo? Dá para parar com essa brincadeira ridícula logo? Eu estou
cansada. Tenho uma pessoa que depende de mim e em vez de estar cuidando da minha vida como sempre fiz,
estou aqui presa sem nenhuma razão — bradou ela.
— Me solta, per l’amor di Dio! Eu estive em um acidente, quase morri e você me mantém presa!
Acidente?
Rita estremeceu ao lembrar-se do seu desespero para respirar, enquanto seu carro afundava no rio.
Bruce ergueu uma sobrancelha em interrogativa quando viu o corpo de Rita tremer com a constatação de que
ela tinha sobrevivido a um acidente. Viu-a fechar os olhos e tremer novamente, quando seus olhos abriram
novamente eles brilhavam em lágrimas.
— Você.
Parecia que tentava se esforçar para lembrar o que mais tinha acontecido, ele viu-a se apoiar na grade
tremendo.
Bruce não se afetou, levantou e se encostou na mesa prateada com os braços cruzados.
Desta vez ela se manteve calada, não confiaria nele para tomar o remédio e muito menos para comer suas
refeições.
Bruce percebeu logo o porquê que ela se negava e resolveu ser mais duro.
Ela o olhou nos olhos e ele deu três passos ameaçadores para frente.
— Vou dizer mais uma única vez e acho bom me obedecer, não sou um bom praticante de paciência e não vai
ser nada bom você testar isto.
— Vai tomar a merda dos analgésicos que deixei para você e depois irá comer o sanduíche. Caso não faça, eu
vou entrar aí, te amarrar e forçá-los em sua boca.
Fui claro?
— Fui claro?
— Sim.
A ameaça em suas poucas palavras fez Rita tremer novamente, caminhou em passos vacilantes até a bandeja
que ele havia deixado em um canto e pegou os comprimidos, jogou-os em sua boca depois de hesitar, e então
bebeu a água da garrafa.
— Coloque seus braços para fora da grade — ordenou e Rita pulou ao perceber que ele tinha se aproximado
dela sem fazer nenhum barulho.
Ela fez o que ele ordenou e tentou puxar os braços, quando avistou as algemas, ele foi mais rápido e segurou
suas mãos.
— Não se atreva.
— Vou levá-la ao banheiro, mas não tente nenhuma gracinha. Eu não tenho senso de humor, então, não
provoque em mim o que você não pode controlar.
Lembre-se que eu posso muito bem ir buscar seu garoto para vim lhe fazer companhia nesta cela.
— Bom.
Ela o observou voltar para a porta da cela e destrancar o cadeado. As correntes que prendiam fizeram barulho
e a porta se abriu.
Rita balançou em seus pés para frente, ainda sentindo dor no machucado em sua perna e sua cabeça doía a
cada movimento que fazia.
Bruce a pegou pelo cotovelo e a guiou pelo local, e abriu uma porta no canto direito e ela viu o banheiro.
— Não interessa. Não está em nenhum hotel de luxo. Entre logo antes que eu te arraste de volta.
Ela suspirou cansada, sabia que não adiantava discutir com Bruce, não ganharia essa luta, ainda mais com ele
no controle de cada respiração que dava.
Caminhou para dentro e o viu se virar para lhe dar um pouco de privacidade. Ela usou a privada rapidamente
sentindo-se completamente exposta, lavou as mãos na pequena pia e estranhou o fato de não ter espelho no
local. Juntou o cabelo castanho em um coque acima de sua cabeça e lavou seu rosto, retirando a maquiagem
que tinha usado no dia anterior, tudo com as mãos algemadas. Sentiu um pequeno curativo em sua testa que
não tinha percebido antes e se lembrou de que havia batido a cabeça com o impacto do carro sobre a água.
Molhou mais o rosto e notou a presença de Bruce atrás dela, suspirou antes de fechar a torneira e se virar
para ele.
Surpreendeu-se quando ele lhe ofereceu uma toalha de rosto preta. Aceitou e não disse nada, enquanto
voltava para a sua cela depois de soltar suas mãos.
— Coma.
A ordem no tom de Bruce à fez tremer de raiva, ela se sentou no colchão de volta e secou o rosto com a
toalha tentando clarear sua mente para entender o que ele queria dizer.
Ela comeu em silêncio e percebeu o quanto estava com fome. Assim que deixou a bandeja de lado, ela viu
Bruce se levantando novamente.
— Levante-se.
Ela o olhou por um instante hesitando sem saber o que ele queria.
— Tire o vestido.
— Não estou pedindo — afirmou. — Estou ordenando que você tire o vestido.
— Bruce...
— Agora. — Bruce rosnou e ela tremeu com a intensidade que ele transmitiu em uma única palavra.
Alcançou o zíper nas costas e o deslizou para baixo, abrindo-o, respirou fundo antes de puxar os ombros para
baixo e deixar que o vestido preto caísse sobre seus pés. Ficou agradecida por estar usando sutiã ou ela
estaria em uma situação ainda pior.
— Então, por favor, pare com isto. Solte-me! — implorou. — Deixe que eu volte para minha casa e meu
filho.
— Rita.
— Bruce.
— Não tem essa opção ainda, coloque os braços para fora e não me force a entrar aí.
Sabendo que ele entraria e que suas promessas não eram vazias, ela cambaleou para frente sentindo a perna
doer, e então, colocou os braços para fora. O frio das algemas de aço se conectou em seus pulsos e lágrimas
encheram seus olhos.
Ele abriu o cadeado e levou Rita até o meio da enorme sala em que estavam.
Estendeu os braços dela e prendeu o meio das algemas a um gancho que tinha pendurado em uma corrente
presa ao teto. Ela arfou ao sentir que seus pés quase não tocavam o chão e sentiu choques de dor passar por
seus músculos já
— Rita.
Ela pode detectar uma leve sombra de pesar nos cinzentos olhos verdes de Bruce.
— Eu sinto muito por isto, mas não há nada que eu possa fazer para te ajudar. —
Caminhou até a parede e mexeu no painel de temperatura do local, logo Rita sentiu o clima mudar e viu-o
caminhando de volta para sua habitual cadeira. Ele se sentou de frente para ela e olhou em seus olhos, ela
reconheceu a frieza de volta em suas feições.
Então Rita quebrou o olhar entre eles e olhou para baixo, sabia que Bruce não deixaria que ela fosse embora
tão cedo e que lhe causaria dor. Aquele era somente o começo e seu coração se apertou com a mágoa
crescente dentro de seu peito.
Aguentaria o que fosse preciso para que pudesse voltar para Josh. Mesmo que não confiasse mais em Bruce,
ela se agarrou a certeza de que ele estava bem com o seu nonno e aquilo renovou suas forças.
Não sabia quanto tempo tinha se passado, mas ela sentia que não podia aguentar por muito tempo mais a dor
em seu corpo. As pontas de seus dedos dos pés dilatavam com a dor em ter o peso de seu corpo sobre eles
por muito tempo.
Tentava mudar o peso de uma perna para a outra e não conseguia, devido ao ferimento em sua coxa. Suas
mãos ficaram dormentes e seus pulsos estavam doloridos, sem contar que todo seu corpo tremia com o frio
ambiente que Bruce tinha imposto a ela. Tentava controlar os tremores, mas seus dentes começaram a bater
rápido e com força devido ao gelo se espalhando por cada centímetro de pele exposta de seu corpo.
De olhos fechados ela tentava lembrar de bons dias, tentava concentrar forçando sua mente a encontrar
forças, mas não podia mais. Sentia que a qualquer momento entraria em hipotermia se Bruce não trouxesse
uma fonte de calor para ela.
Abriu os olhos quando ouviu o suspiro dele e ficou surpresa em vê-lo na sua frente. Seu maxilar estava tenso
e um músculo saltava com a força que ele
trincava os dentes. Seus olhos tinham uma fúria desconhecida e um leve arrependimento brilhou nas
profundezas de suas sombras.
— Vou lhe fazer perguntas e imagino que já percebeu que eu não estou de brincadeira. Quero respostas
sinceras e cada vez que não gostar do que me responder haverá punições.
— Bruce...
— Vou te dar algo quente e aspirinas para dor. Mas se mentir para mim irá ficar aí até que seus braços
desloquem por causa de seu próprio peso.
Bruce queria muito pegá-la em seus braços e dar a ela o conforto que precisava.
Ver seu corpo pequeno tremer a cada fisgada de dor que passava em seus músculos estava matando Bruce
por dentro. Mas ele não tinha outra opção, devia sua lealdade à máfia e ele nunca seria um traidor, por mais
difícil que isso fosse.
— Rita.
Bruce se virou e foi até uma pequena mesa com instrumentos de tortura, pegou um pequeno Taser (arma de
choque usado para imobilizar momentaneamente uma pessoa) e voltou para Rita.
Rita odiou a forma que sua voz tremeu, mas estava assustada em ver o Taser nas mãos de Bruce.
— O que sabe da máfia, Rita? Última chance.
— Nada, per l’amor di Dio! O que eu saberia? — Ela respondeu exaltada e então sentiu a arma ser encostada
em sua barriga e o choque atravessar seu
corpo.
Ela sentiu seu corpo tremer de uma forma violenta causando dor a cada célula possível. Arfou tão alto que
perdeu a capacidade de respirar. Quando o choque parou, sabia que foi um minuto antes que perdesse a
consciência.
Rita sentiu que poderia chorar se não fosse pela dor excruciante corroendo todos os músculos existentes de
seu corpo. Duas mãos grandes seguraram seu rosto e levantaram sua cabeça, que estava caída para frente.
Ela fechou os olhos e lembrou-se dele gritando para que ela respirasse quando a resgatou, “Vamos lá porra,
respire!”, ele tinha um desespero na voz que por um instante ela acreditou que ele tinha medo de que ela
tivesse morrido.
— Rita! Respire!
Ela puxou o ar com força e nem se lembrava mais de que não conseguia fazer seus pulmões obedecerem.
Abriu os olhos e encontrou os dele olhando-a com pesar novamente.
— O que sabe da máfia? — Ele voltou a perguntar usando um tom de voz mais
duro.
— São as únicas que tenho para te dar! — exclamou quase sem forças.
Bruce voltou a colocar o Taser na barriga dela com raiva por suas respostas. Ele não queria machucá-la, mas
ela não estava cooperando. Assistiu, com pavor, o corpo dela tremer violentamente novamente com o choque
correndo por seus
Ele se sentiu furioso quando jogou o Taser no chão e estendeu as mãos para tirá-
la do gancho, pegou-a em seu colo preocupado e correu com ela em seus braços de volta para o colchão.
Colocou dois dedos no pulso de seu pescoço e sentiu seu pulso leve, ele não podia respirar aliviado, porque
não se sentia assim. Soltou as algemas dos pulsos dela e massageou cada um para aliviar a dor que o
vermelho em sua pele mostrava. Vestiu-a em seu vestido novamente tentando aquecer seu corpo e se
levantou.
Bruce tremeu com a fúria dentro dele, fúria por ter que machucá-la, fúria por ela estar nesta situação. Fechou
as mãos em punhos e socou a parede.
A dor veio em boa hora para ele, ofegante viu que tinha estragado a parede com tamanha força que tinha
usado e que também feriu os nós de sua mão. O sangue escorreu de seu machucado e ele encostou a testa na
parede, não se importando com a dor. Só queria terminar com isto logo, decidiu que era melhor ele do que
qualquer outro homem. Sabia que eles não teriam receio em machucá-la brutalmente, enquanto tentava
quebrar sua alma em busca de respostas.
Ela poderia não perdoá-lo, mas ele não poderia lidar com sua alma quebrada.
Tinha tomado a decisão certa em aceitar tirar as respostas dela. Bruce entendia a profundidade de dor que
uma tortura poderia trazer e não estava disposto a deixar que ela sofresse tal brutalidade.
Ele ficou por perto esperando o momento que ela acordaria, o que não demorou mais do que meia hora. Ele
deixou outro sanduíche e alguns analgésicos para dor. Por mais que precisasse de respostas, Bruce não tinha
forças para feri-la ainda mais, deixaria que ela se recuperasse um pouco mais, antes de tentar novamente com
algo menos doloroso.
Durante o resto do dia ela não disse uma única palavra, e ele manteve seu habitual silêncio. Deixou que ela
usasse o banheiro mais duas vezes e também lhe trouxe outras refeições.
Rita ficou no colchão por todo o tempo, cansada demais para lidar com Bruce e com as coisas que estavam
acontecendo. Chorou em silêncio por um tempo e
admitiu para si mesma que ele havia partido seu coração em tantos pedaços que ela jamais poderia contar.
Quando anoiteceu, Rita implorou para que permitisse que ela falasse com Josh novamente. Ele estava
irredutível com o assunto, não queria permitir que ela tivesse a oportunidade de falar com o filho de novo.
— Não renda muito, dez minutos é o máximo que eu vou permitir. E acho bom
Ele acenou com a cabeça e fez a chamada, ligou o viva-voz e Rita forçou seu corpo para cima, se levantou
ficando encostada na grade e mais próxima do celular desta vez.
O celular chamou uma vez e o coração de Rita acelerou com a ansiedade, chamou outra e outra vez e ele não
atendeu. Quando a chamada estava quase encerrando a voz de Josh preencheu o vazio no peito dela.
— Mama?
Ele disse visivelmente aflito.
— Desculpe, querido, mas não vou conseguir ligar nos próximos dias... Aqui não tem um bom sinal de
telefone e eu tenho muito trabalho.
— Não chore, mãe, por favor. — Ele sussurrou e ela colocou as mãos sobre a
boca para impedir de chorar alto. — Papa não gostava quando chorava e eu também não gosto.
suas bochechas.
— Fiz a inscrição do futebol, mama, vou passar e ser seu campeão. — Ele disse de forma presunçosa e ela
deu um pequeno sorriso.
— Você já é.
— Mas você não pode ser igual aquelas mães malucas que gritam e choram durante o jogo. — Ele brincou.
— Não posso prometer isto. — Ela disse quase em um sussurro. — Já sou assim, escandalosa e maluca.
— Eu te amo, mãe, está realmente bem? — O medo na voz de Josh à fez escorregar pela grade sem forças.
— Já foi ao médico? A senhora nunca fica doente... eu... eu... não posso perdê-la.
— Estou bem, filho, não vai me perder... estarei sempre com você. Que tal dormimos agora, hein?
Rita não disse nada, só cantarolou a mesma canção de todas as noites. Até que percebeu Bruce encerrar a
ligação e se afastar. O soluço veio alto por entre seus lábios, ela abraçou com força as pernas, ignorando a
picada de dor da coxa machucada e enfiou sua cabeça entre as pernas enquanto chorava.
Ela era forte e determinada sobre tudo, sempre lutou muito, mas ficar longe de Josh quebrava sua alma.
Saber que talvez nunca mais pudesse vê-lo partiu seu espírito em tantos pedaços que ela nem sabia se poderia
colá-lo um dia. Só piorou ao perceber que era a última vez que falaria com ele. Ele ficaria esperando por ela
e talvez ela nunca mais retornasse, ele acreditaria que estava o abandonando e esta constatação a quebrou.
Bruce ficou na sua cadeira, imóvel. Não podia se mover e teve que forçar várias vezes seus pulmões a
respirar sozinho. Rita estava na sua frente, enrolada em seu próprio corpo, enquanto chorava quebrada.
Sempre precisava de uma longa sessão de tortura, antes que um prisioneiro quebrasse em lágrimas na sua
frente.
Não havia feito praticamente nada do que sabia para infringi-la dor e parecia que ele tinha acabado com
todas suas esperanças. Ele não entendia o porquê daquilo, o porquê sua dor estava tão forte e quase o
sufocava em presenciar aquela cena.
Ficar longe do filho tinha quebrado sua alma da forma mais bruta possível.
Talvez ele não devesse ter dito que era a última vez que ela falaria com Josh, mas era tarde demais para
voltar atrás em suas palavras.
CAPÍTULO QUATRO
O tremor estava forte em seu corpo frágil e não podia fazer nada além de trincar os dentes na tentativa de não
bater uns nos outros com o frio que estava sentindo.
— Bruce? — E la arregalou os olhos com o medo do que viria depois, se lembrando do que tinha passado
no dia anterior.
Ele ficou em silêncio e o seu olhar a fez entender que ele realmente não repetiria. Lembrou-se de que ele
havia dito no dia anterior, que forçaria os remédios em sua boca caso ela não tomasse por conta própria. E
agora o seu olhar dizia que ele arrancaria o vestido de seu corpo caso ela não o obedecesse.
Forçou seu corpo de pé e abriu o zíper do vestido que estava usando. Tremeu quando sentiu que o local
estava mais frio que o normal e imaginou que ele havia mudado a temperatura térmica novamente. Deslizou
o vestido por seus ombros até que ele caiu sobre seus pés.
Desenrolou a faixa de sua coxa e sentiu uma fisgada de dor quando ela puxou um pouco a pele machucada.
Viu uma gaze bem colocada e percebeu que deve ter levado uns quinze pontos naquele corte.
Ela acenou com a cabeça e então ele a algemou. Guiou-a para fora da cela e
prendeu suas mãos acima de sua cabeça fazendo seus ombros protestarem por não terem se recuperado da
dor anterior, debaixo de um chuveiro que não tinha visto antes. Abriu a água e deixou que congelasse sobre
ela.
Seus pensamentos foram cortados quando a água fechou sobre sua cabeça e ela piscou para olhar para ele.
Ele se afastou por um instante e voltou com alguns papéis nas mãos, quando se aproximou viu que eram
fotos.
— Sim.
— Nenhum.
Viu que Bruce não gostou da sua resposta, ele esticou o braço e abriu a água fria sobre ela novamente.
Rita gemeu com o frio e seu corpo voltou a tremer tanto, que mal podia controlar.
Quando parou de cair água sobre sua cabeça, ela mordeu o lábio inferior para que ele não tremesse e o olhou
com temor.
Viu quando um músculo saltou do queixo de Bruce e ele levantou outra foto.
Nela Rita aparecia ao lado de Ettore no parque, tomando sorvete, enquanto ela olhava Josh brincar com sua
bicicleta.
— Ele... me disse.
A água fria voltou a cair sobre sua cabeça, Rita tremeu e tentou ser forte para não chorar mais. Suas lágrimas
já tinha alcançado o limite na noite anterior, onde ela chorou até dormir no canto da cela, e estranhou o fato
de acordar no colchão, mas sabia que Bruce a levou para lá depois que adormeceu.
A água parou de cair sobre ela, fazendo com que se concentrasse em Bruce novamente.
— Como o conheceu? Diga-me a verdade, se mentir eu vou trazer o inferno para fora de você. Não brinque
comigo.
— O conheci na apresentação... de verão... da escola... Josh teve... um teatro e eu conheci... Ettore lá... ele
disse que seu sobrinho também... participaria...
Rita enrijeceu o corpo para tentar parar o tremor e gritou com Bruce.
— Estou te falando a verdade! Eu não sei o que mais você quer de mim, porra!
— É o que você merece seu filho da puta! Achou o quê? Que eu ia manter a calma enquanto você me tortura
com água fria? — gritou.
Mal tinha acabado de falar quando a água gelada caiu sobre seus ombros novamente. Ela tentou manter a
raiva viva dentro de si, para que aquecesse seu corpo, mas não funcionou muito bem. Tremeu muito quando
a água foi fechada
— Não grite comigo. — Ele rosnou. — O que ele fazia com você no parque?
— Ele... não estava comigo... ele apareceu lá... quando fui levar... Josh para brincar... no parque... com sua
bicicleta nova...
— Sim.
— Não posso acreditar... trabalhei por tantos anos naquela empresa... como assim? Não estou entendendo
nada.
— Não precisa entender, só precisa me dizer o que estava tramando com Ettore.
— O quê?
— Eu não sei do que está falando... Bruce... eu estava levando meu filho... para escola... o deixei lá... depois
me envolvi em um... acidente... e acordei aqui...
— O quê?
— Eu não sei o que fez para ele querer te matar, mas você vai ter que me dizer ou as coisas vão ficar muito
ruins para você.
— Ele... disse-me para dirigir com cuidado... quando voltei para o carro... ele apareceu e disse... isto.
— Eu não sei... deve perguntar para ele... e não a mim... foi eu quem quase morreu.
— Eu não o vi cortar, estacionei meu carro na frente da escola para ver você deixar seu filho lá.
— Como então?
— E não me impediu de entrar no carro... eu iria morrer... meu filho iria ficar órfão e você não fez nada.
— Eu pulei naquele maldito rio e te tirei de lá. — Ele acusou em um tom duro.
— Não dá para entender o porquê fez isto. Se me queria morta também. — Ela
sussurrou. — Devo agradecer por me salvar no acidente e agora me torturar por respostas?
Bruce ficou em silêncio, ela sempre fazia isto com ele. O deixava sem palavras.
O olhar ferido dela fez seu coração bater descompassado e ele obrigou-se a se mover. Abriu a torneira
novamente e assistiu ela sofrer com o frio daquela água.
Quando fechou, ela tremeu fortemente e ele queria aquecer seu corpo quando a
Mas não voltou atrás, continuou fazendo perguntas e todas as vezes que não obtinha uma resposta que o
agradava ele a molhava com a água fria. Seguiram assim por horas, até que o corpo frágil de Rita não
aguentou e ela desmaiou com os braços ainda pendurados sobre sua cabeça.
Apressou-se a tirá-la de lá e a pegou em seus braços. Quando se virou deu de cara com Adônis o observando,
não esperava por sua visita e também não tinha o ouvido chegar. Caminhou com Rita para o colchão dentro
da cela, colocou ela sobre o lugar macio e depois jogou algumas toalhas em cima do seu corpo desmaiado.
— Ela não fala muita coisa que te agrada. — Adônis resmungou ainda observando Bruce.
— Nenhuma.
— Estranho, Ettore não sabotaria o carro dela caso não se sentisse ameaçado. Ou faria?
— Eu já vi você sendo muito pior do que isto em busca de respostas. Vi como seu corpo ficou tenso quando
ela desmaiou e sei que só está fazendo isto para não deixar que outro faça, sabendo que seria muito pior para
ela. E imagino que sua mão não tenha se machucado sozinha, assim como aquela parede não estragou do
nada.
Bruce se manteve firme, mas sentia-se exposto sobre o olhar de Adônis. Ele realmente era um homem que
estava três passos à frente de todos, até mesmo dos sentimentos que Bruce escondia e negava a si próprio.
Adônis se levantou e abotoou o terno, caminhou até Bruce e parou a um passo dele. Olhando em seus olhos
de forma intimidadora que só ele sabia fazer, mas Bruce não vacilou em seu olhar. Ficou firme, como
sempre, enquanto esperava o próximo passo de Adônis.
— Você mais uma vez me provou sua lealdade, Bruce, mesmo que negue, eu sei
que gosta dela, mas mesmo assim aceitou torturá-la, independente de como isso fosse difícil.
— Eu não perguntei também, só estou falando o que vejo. Tire as respostas dela e caso ela for inocentada,
vou deixá-la viver e você poderá ficar com ela.
Adônis se afastou sem dizer mais nada e foi embora, deixando Bruce preso em seus próprios pensamentos.
Assim que a porta fechou, Bruce tremeu de raiva entendendo o que estava acontecendo. Adônis o estava
testando, usando Rita como cobaia. O fato de Ettore ter aparecido somente motivou seu chefe a testar sua
lealdade assim como seus sentimentos. Olhou para Rita e soube que ficaria tudo bem, só precisava continuar
por mais um ou dois dias. Adônis iria acreditar em sua inocência, isto se já não fazia, e Bruce ganharia mais
de seu respeito.
CAPÍTULO CINCO
...
O fogo estava tão alto que Rita mal podia ver o carro, ela segurou Josh com mais força sobre seu peito e um
grito estrangulado saiu de seus lábios. Sentiu braços fortes ao redor dela e gritou dolorosamente novamente.
Gritou como se sua vida dependesse da resposta deles, mas Rodrigo não gritou de volta. Muito menos sua
mãe.
— Acorde, porra!
A voz dura de Bruce a trouxe de volta a dura realidade em que estava vivendo.
Ela prendeu o choro e o olhou com os olhos lagrimejando. Ele levantou de seu colchão e a encarou em
silêncio.
Rita prendeu os lábios firmes para não dar à oportunidade de que outro soluço saísse por eles. Não iria
desmoronar mais uma vez na frente de Bruce, pelo menos tentaria não fazer isto. Ela já estava exposta
demais e não daria a ele o gosto de ver ainda mais dela.
Ela virou de lado ainda se segurando para não chorar, ignorou o fato de estar somente de lingerie e puxou
algumas das toalhas, que estavam no colchão, para cima do seu corpo antes do soluço romper de seus lábios.
Não permitiu outro sair, mas as lágrimas desceram silenciosamente pelo seu rosto.
Suavemente ela cantarolou a canção de todas as noites, lembrando-se que não havia cantado para Josh na
noite anterior. Desejou que ele tivesse tido uma boa
noite de sono. A canção de sua mãe acalmou um pouco sua dor e trouxe outras, mas Rita se manteve firme e
não se deixou quebrar novamente.
— Coma.
A voz rouca de Bruce a fez arrepiar em terror, lembrando-se dos dias anteriores.
Sabendo que não podia ir contra ele, ela se sentou com certo esforço. Seu corpo estava muito cansado e doía
cada músculo que movimentava. Olhou sua barriga e viu o brilho de uma pomada espalhada nas
queimaduras que o Taser causou em sua pele. Sabia que ele mesmo a machucando estava tentando fazer com
que ela se sentisse melhor, mas isto não aliviava as coisas que fez a ela.
Puxou a bandeja sem esconder que cada movimento que fazia parecia ser muito doloroso.
Comeu tudo sem reclamar, mas fez isto no seu tempo. Devagar e ignorando os
olhos de Bruce sobre ela. Não sabia o que esperar do dia de hoje com ele, mas teria que ser forte para
aguentar.
Porém, faria.
Ele teve que entrar lá e acordá-la, enquanto ela gritava em seu pesadelo. Ouviu-a chamar por um homem e
ficou irritado por isto. Ele não queria assumir que ficou com ciúmes e até mesmo muito bravo por ela parecer
tão ferida quando abriu os olhos. Quem quer que tenha sido, tinha machucado ela de um jeito muito
profundo.
Mas ele não tinha o direito de sentir estas coisas, já que estava ferindo-a do mesmo jeito ou pior que o outro
homem. A delicadeza que ela mostrava não merecia tal aspereza que ele impunha.
Seus olhos caíram nos cabelos castanhos emaranhados sobre a sua cabeça agora presos em um coque, não
pareciam os mesmo. Estavam sem vida e muito bagunçados. Lembrou-se de como eles pareciam macios e
bem cuidados antes em cada vez que parava para observá-la, quando ninguém estava olhando.
Desceu o olhar e encontrou os olhos baixos dela. Antes eles eram os olhos
castanhos que mais brilhavam que já tinha visto em sua vida. Mas hoje, pareciam opacos e sem o menor
brilho.
Seus lábios estavam pálidos e rachados por causa do frio que enfrentou.
Sua pele estava extremamente pálida e tinha alguns pontos roxos criados pela água gelada e as marcas de
queimaduras do Taser. Os olhos dele pararam sobre a cicatriz em sua barriga levemente arredondada, era de
uma cesariana. Seu filho não nasceu de parto normal e ela carregava a marca do nascimento dele em seu
corpo com orgulho.
Desceu o olhar para a coxa ferida e viu que estava irritada a pele, um pouco azul as bordas pela falta de
cuidado de ontem. Bruce quase suspirou sabendo que ficaria uma cicatriz ali também, seria sua marca dos
dias que passaram em cativeiro e nunca se esqueceria do que ele fez a ela.
Seu corpo era bonito e perfeito aos olhos dele, mas ele não conseguia desejá-la naquele momento. Ela
sempre seria bonita, mas no instante só precisava de alguém para cuidar e passar a segurança que
necessitava. Ele desejava ser esse homem, que colocaria ela na proteção de seus braços e prometeria que
ficaria tudo bem.
No entanto, ele não podia, era seu carrasco e sequestrador. Ela o odiaria por toda vida. Pensar que infligiria
dor a ela novamente fez seu estômago revirar.
— Levante-se — ordenou.
Rita encontrou seu olhar e não disse nada. Somente forçou seu corpo para cima, ele podia ver o quanto ela se
sentia derrotada e humilhada.
Sentimentos e desejos confusos entraram em briga dentro dele, mas Bruce os ignorou e levantou-se também.
— Vá até o chuveiro.
Mostrou que ela deveria ir e então a seguiu com olhos atentos, seus passos eram vacilantes e Bruce queria
estar pronto para pegá-la, caso fosse necessário. Virou
suas costas para dá-la um pouco de privacidade, ouviu os sons que fazia dentro e depois que lavou suas
mãos, deu a ela passagem pela porta.
Novamente caminhou em passos vacilantes até o chuveiro e ficou lá esperando por ele obediente. Admirou
sua força e se sentiu ainda pior sobre o que estava prestes a fazer com ela.
Abriu o chuveiro frio e viu-a oscilar em seus pés, quando fechou à torneira ela tremia incontrolavelmente.
Desta vez seu tom foi mais suave e ela não disse nada, caminhou até a cadeira e se sentou. Ele amarrou seus
braços e pernas.
— Tudo... bem.
Ela não respondeu, somente abaixou sua cabeça evitando encontrar o olhar dele.
— Diga-me.
Bruce puxou a mesa de metal para mais perto dela e se sentou sobre ela. Tirou do bolso uma pequena caneta,
apertou um botão e encostou a ponta na pele de Rita, fazendo com que ela pulasse quando um pequeno
choque atravessou seu corpo molhado.
— De início ele não causa muitos danos, mas usado com frequência pode ser extremamente doloroso.
— Não tenho as respostas que quer — sussurrou ainda com o olhar baixo.
— É extremamente... doloroso.
Ela ficou em silêncio por um tempo e pôde perceber o tom mais suave que Bruce estava a tratando.
— Há cinco anos... sofri um acidente de carro... estávamos todos dentro dele ...
— Quem é Rodrigo?
Bruce sabia a resposta, conhecia a vida de Rita e tudo que já lhe aconteceu, mas já que tinha dado início
aquela conversa, decidiu continuar e ouvi-la.
— O que aconteceu?
— O motor aqueceu demais ... eu consegui sair com Josh e meu pai, mas minha mãe e Rodrigo não... eles
morreram quando o ... carro... ex..explo...explodiu...
— Desculpe.
Ela levantou o olhar e encontrou os olhos de Bruce, eles transmitiam sinceridade em seu pedido fazendo com
que a vontade de chorar voltasse.
Bruce não gostou de sua resposta e o choque logo passou pelo corpo de Rita. Ela arfou com a dor em seus
músculos e rangeu os dentes.
— Eu realmente não sei... os motivos dele ... juro que todas vezes que nos falamos foram em encontros
casuais... na escola, no parque, na gelateria perto da minha casa. Nunca marquei um encontro com ele ou
algo do tipo, sei que ele sempre estava nos lugares em que eu estava com Josh.
— Ele... ele... ele sempre estava perto do Josh também... se tentou me matar...
Os olhos dela pareciam que iriam sair de seu rosto pelo jeito que estavam arregalados. Bruce podia ver o
verdadeiro terror sobre ela, principalmente, quando começou a hiperventilar.
— Olhe para mim — ordenou, mas ela não o atendeu. — Rita! Olhe para mim.
Ela não disse nada. Sua respiração ainda estava acelerada demais enquanto tinha um ataque de pânico.
Rita obrigou seu corpo a obedecê-la por um instante e tentou ouvir o que Bruce dizia.
— Ele está bem e seguro.
— Eu tenho todos os passos de Ettore e estou sempre na sua frente, ele não vai machucar seu filho.
— Não pode, eu sou um homem de palavra, apesar de tudo. Estou dizendo que
— Você promete... que ele está bem junto com seu nonno.
Bruce segurou para não estremecer com a fragilidade do olhar dela. O desespero de uma mãe amorosa e
preocupada eram evidentes em suas feições.
— Eu prometo. Tenho homens o vigiando de longe, ele está bem e chegou à escola sem atraso — disse e ela
olhou em seus olhos com intensidade procurando pela verdade.
— Sim... eu demoro a levantar... e ele demora uma vida no chuveiro... qualquer dia sua pele vai cair de tanto
que fica no banho...
— Mas ele não se atrasa com seu nonno — afirmou Bruce e ela sorriu de leve por cima da tristeza que seus
olhos transmitiam.
— Rita.
— Sim.
— Sim.
— Entende que eu não posso fazer nada para salvar sua pele?
— Sim — choramingou.
— Entendo.
— Se não me dar a verdade, vamos ficar nesse jogo até que seu corpo não aguente mais. Eu não quero que
isto aconteça, mas devo minha lealdade à máfia e não poderia descumprir uma ordem. Entende isto?
— Sim.
— Então, por favor, fale-me sobre Ettore.
— Vou acabar te matando se não me falar a verdade, porra! — Bruce gritou furioso e ela estremeceu na
cadeira.
Rita nunca tinha o visto gritar antes e sentiu medo, Bruce era sempre silencioso e mal-humorado, mas vê-lo
tão irritado assim não foi boa coisa.
— Rita, se acha que o que tem passado em minhas mãos esses dias foi muito para você, eu te digo que foi o
mínimo de dor que posso causar a alguém.
Entende isto?
— Eu só aceitei fazer essa merda, porque outro iria feri-la muito e eu não queria isto. Mas você não está me
dando escolhas, fui treinado para torturar e matar.
— Bruce. — Ela sussurrou. — Eu já disse tudo o que sabia, não tenho as respostas que precisa. Eu o conheci
na escola de Josh e sempre estava por perto em algum momento. Nunca o deixei se aproximar muito de mim,
assim como qualquer outro homem.
— Explique-se.
— Desde que Rodrigo se foi eu nunca tive outro homem, o único que beijei foi você.
Perder Rodrigo e minha mãe juntos, dilacerou minha alma. Quase não sobrevivi ao luto se não fosse pelo
Josh, ele dependia de mim. Então, tinha que ser forte
para ele. Vivi como um zumbi por quase dois anos, não dormia bem... Porque deitar na nossa cama a noite
trazia a sua falta e acordar nela destruía-me, procurava por ele ao meu lado roubando o espaço todo da cama
e não o encontrava. Quando saía do quarto pensava em ligar para minha mãe, para dizê-
la como minha noite tinha sido difícil sem o meu Rodrigo... Mas ela também tinha ido para longe de mim...
Comer era difícil... A única coisa fácil foi trabalhar... Fui para a empresa Albertini diariamente e ficava lá por
quanto tempo precisasse. Não queria voltar para casa, mas Josh estava me esperando...
Então, precisava voltar.
Bruce ficou em silêncio e mais uma vez a vontade de pegá-la em seus braços para lhe dar todo o conforto
que estava preso dentro dele. Quase não se reconhecia quando se tratava de Rita, seus instintos cruéis eram
acalmados e a única coisa que queria era beijá-la novamente até que perdesse o fôlego.
CAPÍTULO SEIS
Bruce suspirou ao olhar para Rita de cabeça baixa esperando pelo próximo passo dele.
— Lembre-se de alguma coisa, Rita, precisa esforçar sua mente para me dar respostas.
— Bruce — choramingou.
— Ele disse algo para você alguma vez? Algo estranho? Ajude-me a te ajudar.
— Qual o problema?
— Estou com tanta dor que não consigo pensar direito — murmurou.
— Se esforce a lembrar de alguma coisa, que eu vou te tirar desse lugar. Vai poder voltar para seu filho e ter
sua vida de volta, sem uma resposta eu não posso fazer nada disto. Consegue me entender?
— Sim.
— Me dê o que eu quero, e eu vou te dar um banho quente e roupas. Nunca mais te causarei dor, mas precisa
falar comigo, Rita.
— Entendo — suspirou.
— Se eu não tiver as respostas, outra pessoa virá tirá-las de você e eu não poderei fazer nada — disse sério.
— O chefe precisa de respostas e eu tenho que tê-las, não me obrigue machucá-la.
— Continue.
— Queria sempre saber como foi meu dia, onde eu iria depois do trabalho...
— O que mais?
Ela suspirou sem saber o que dizer, forçou sua mente e a dor em suas têmporas aumentou.
— O que respondeu?
— Que era muito rígida. Ele perguntou se eu sabia o porquê uma empresa de construção precisava de tanta
segurança, mas eu disse que não sabia e também não me importava.
O desgosto na voz de Bruce era evidente, Rita o olhou nos olhos e encontrou a dureza de sempre neles.
— Não sei o que espera de mim, Bruce. Eu sou uma mãe solteira, que trabalha para seu sustento e que não
tem nada a ver com essa coisa toda que está acontecendo. O conheci na escola do Josh, mas não fui eu a me
apresentar. Não costumo ficar muito próxima de homens.
— Não fiquei.
Bruce ficou visivelmente irritado e andou pelo local em busca das fotos que tinha.
— Então, porque ele sempre está com você? Por que ele beija seu rosto? —
— Era só um cumprimento e ele sempre faz isto sem pedir minha autorização.
Eu trabalho há quase sete anos na construtora Albertini, quantas vezes me viu beijando alguém?
beijou!
Eles ficaram em silêncio novamente, Rita por não ter mais o que falar e Bruce por pensar nas possibilidades.
Bruce, você alcançou um lugar em mim que eu achei que tinha morrido há muito tempo.
— Que lugar?
pensar que eu o permiti entrar... não deveria ter deixado... você o quebrou...
— Rita.
— Não diga nada, Bruce, não diga nada — murmurou e desviou o olhar.
— Vamos voltar sobre as perguntas sobre a segurança do prédio.
— Tudo bem.
— Quantos seguranças tinham no térreo, se tinha que ser revistado para entrar...
— O que respondeu?
— Disse que éramos revistados para entrar, mas que nunca reparei na quantidade de seguranças.
minha vida sempre foi muito corrida. Tinha um filho pequeno, marido e casa para cuidar. Eu trabalho tanto
naquela empresa que às vezes não tenho tempo para comer, imagine só, se eu ia ficar contando quantos
seguranças tinham lá.
Senhor Albertini grita meu nome a cada cinco minutos e me faz correr de um lado para o outro que eu não
tinha tempo para essa bobagem... Logo depois entrei em luto, era automático... Levantar, comer, levar Josh
para escola, trabalhar e voltar para casa. Quando meu luto acabou, depois de um longo período, essas coisas
não faziam diferença para mim, entrava e saía de lá sem me dar conta de como era a segurança.
— Como assim?
— Acha?
— Sim, acho.
— Explique-se, então.
— Meu dia começa sempre atrasado, eu gosto muito de dormir e Josh de tomar
banho. Corro pela casa para ter certeza que o diretor da escola não vá brigar comigo como antes.
— Como antes?
— Sim, depois da morte de Rodrigo tive dificuldade de levá-lo a tempo para a escola. Ele sempre fazia isto
para mim e quando vi que eu teria que fazer algo que era costumeiro dele... Foi um desastre... Várias vezes
fui chamada pelo
— Entendo.
— Quando entro no carro, vem outro problema. Tenho pavor de dirigir desde o acidente, tremo da cabeça aos
pés antes de entrar no carro. Mas mesmo assim entro e vou devagar para não causar nenhum problema.
Deixo meu filho na escola e vou para o trabalho. Lá eu não tenho tempo para respirar. Então não, eu não me
lembro de cada coisa que me perguntam.
— Não, por que eu faria isto? Conheço o contrato que assinei sobre confidencialidade, nunca quebraria
minha palavra sobre isto.
A porta de entrada do local fez um pequeno barulho chamando a atenção dos dois, por ela entrou uma figura
potente que eles conheciam bem.
Adônis Albertini.
Ele caminhou tranquilamente pelo local e não se importou em vê-la com suas roupas intimas.
Rita tentou forçar a sua mente a entender o porquê ela nunca percebeu nada, todo este tempo trabalhando
para ele e nunca viu nada estranho. Ela trabalhava para um mafioso e não tinha a menor ideia disto.
— Bruce.
— Chefe.
— Não, nenhum.
— Cheguei!
A voz de Apolo encheu o local e fez Adônis fazer uma careta em reprovação.
Estava cansada de tudo o que tinha enfrentado nos últimos quatro dias e só queria ir para casa. Mas não sabia
o que ia acontecer com ela, principalmente, agora que os dois homens, chefes da máfia, estavam na sua
frente. Esperava que não pudesse piorar, mas as coisas sempre pioravam.
Duros e sombrios. Queria desviar o olhar, mas não fez isto. Tinha que enfrentá-
lo.
— Acredito em você.
Ele disse e então ela suspirou. Lágrimas encheram seus olhos e desceram por seu rosto silenciosamente.
— Conheço todos que trabalham para mim e sei que você realmente nunca se importou com a segurança do
local.
— Apolo brincou mostrando que estavam escutando a conversa e ela não sorriu, somente acenou com a
cabeça.
— Calado, Apolo.
— Ainda não sei quais são os planos de Ettore, mas vou descobrir em breve.
— E é por isto que acredito que é inocente nesta história. Mas você agora sabe demais. — Adônis declarou.
Rita abaixou o olhar entendendo que não sairia viva dali e Bruce ficou tenso com o rumo das coisas.
— Sim.
— Minha mulher gosta muito de você e eu não poderia feri-la. Para continuar viva, vai ter que seguir as
regras.
— Farei isto.
— Tem que ser leal a mim e ao meu irmão. Traição é um crime grave no meu
mundo e só é pago com a morte — disse. — A morte do traidor e toda sua família.
— Não estou pedindo para matar ninguém. Eu quero lealdade, você nunca deixou a desejar no seu trabalho e
eu espero que continue assim. Continuará a trabalhar para mim e fazer o mesmo de sempre, mas eu ficarei
mais atento a você. Cada passo que der eu vou saber, então, tenha cuidado por onde anda. Não haverá outra
chance. E no mais, seu silêncio é a chave para se manter viva.
— Bom, Bruce vai te levar para um lugar onde possa descansar antes de voltar para casa. — Adônis disse e
ela acenou com a cabeça.
— Disponibilizaremos um carro para você, este será rastreado e com algumas medidas de segurança. É para
garantir a sua segurança e a nossa. — Apolo disse tranquilo.
— Terá sempre um homem te seguindo de início, ainda não sabemos o que Ettore quer apesar de algumas
suspeitas, ele tentou te matar uma vez e quando vê que isto não aconteceu tentará novamente.
— Ok.
Assim que pararam do lado de fora, Adônis se virou para seu segurança.
— Tenha certeza de garantir a segurança dela e de seu filho. Também ensine a ela algumas de nossas regras,
não quero ter que matá-la.
— Leve-a para o apartamento que temos perto daqui, está tudo arrumado lá para recebê-los. — Apolo disse.
— Não pode ser outro a fazer isto? — Bruce perguntou tentando não mostrar sua hesitação.
— Ela irá te perdoar pelas coisas que sofreu, cuide dela, Bruce. — Adônis disse e se afastou.
— Ficar sem roupa é uma boa coisa, para que ela o perdoe — disse e se afastou.
Raiva borbulhou dentro de Bruce, sabia que o chefe tinha aproveitado a oportunidade da traição de Ettore
para inserir Rita na máfia. Isto o ajudaria em muitas coisas, desde que é muito eficiente em seu trabalho. E o
envolveu nisto para que ninguém quebrasse sua alma, por saber que nutria algum sentimento por ela, mas
machucá-la tinha acabado com a possibilidade de um dia conquistá-
la.
Na máfia sempre tinha um preço e este era o dele.
O peito de Bruce se encheu com insegurança e seu rosto se torceu de raiva. Não podia brigar com Adônis por
isto, mas jurou dar a ele um tempo muito ruim no próximo treino. Não deixaria aquilo passar.
CAPÍTULO SETE
Rita observou Bruce voltar para dentro do local, ele não encontrou o olhar dela em nenhum momento.
Caminhou com destreza e confiança para dentro da cela,
onde estava presa, pegou o vestido e o par de sandálias que usava antes.
Então voltou para ela, colocou as coisas sobre a mesa e desamarrou Rita.
— Fique de pé.
O tom de ordem dele a fez tremer, mas mesmo assim se levantou. Ele ficou na sua frente e passou o vestido
por sua cabeça.
— Passe os braços.
Ela fez o que ele pediu e então o vestido se encaixou em seu corpo levemente molhado. Fechou o zíper e
pegou a sandália dela sobre a mesa. Bruce colocou o celular no bolso antes de se abaixar e pegá-la em seus
braços fortes.
Rita arfou surpresa com a atitude dele e então quase suspirou ao sentir o calor do corpo pressionado sobre o
dela. Todo o lugar estava frio e ela estava quase implorando por calor.
Ela queria obrigá-lo a soltá-la afirmando que poderia andar sozinha, entretanto, seu corpo estava tão cansado
e dolorido que a única coisa que fez foi encostar sua cabeça no peito dele permitindo.
O alívio foi tão grande em saber que estava livre, que ainda não sabia se acreditava ou não.
Do lado de fora, tinha três carros parados, um homem abriu a porta do carro do meio e Bruce entrou com ela
ainda em seus braços.
Rita tremeu por estar novamente dentro de um carro e tentou sair do colo de Bruce, mas ele não permitiu.
Segurou-a com mais força, prendendo-a no lugar.
E ela ficou, não tinha forças para brigar com Bruce. Ela só queria ser livre
Ficou tensa quando o carro entrou em movimento, a mão de Bruce em suas costas lhe fez um carinho na
tentativa de acalmar seus medos. Ficaria grata se ele não tivesse lhe causado tanto sofrimento nos últimos
dias.
Os carros pararam na garagem de um prédio e, sozinho, Bruce a levou para o elevador. Digitou um código e
então o elevador os levou para dentro de um apartamento.
Ele se manteve em silêncio por todo o tempo, caminhou pelo local e entrou em uma suíte. Colocou-a sentada
sobre a bancada do banheiro e lhe olhou nos olhos.
Deslizou o zíper do seu vestido o abrindo. Rita tremeu quando os dedos dele roçaram em sua pele. Puxou o
vestido para baixo de seu corpo e então levou as mãos nas costas dela soltando o seu sutiã.
— Sei que pode — respondeu antes de puxar a pequena peça de renda preta pelos braços dela.
Automaticamente Rita colocou as mãos sobre seus seios para se cobrir. Ele não se importou e ela corou
envergonhada. Bruce pegou as alças laterais de sua calcinha e sem aviso as rasgou em um puxão.
Ela arfou e ele deu um leve sorriso antes de pegá-la nos braços novamente.
Colocou-a em pé debaixo da ducha e abriu. Rita suspirou, apreciando a água quente sobre seu corpo.
— Vou deixar você terminar seu banho, sozinha. Imagino que não queira mais minha ajuda.
Ela acenou com a cabeça e ele manteve seu olhar preso nos olhos dela por alguns segundos.
— Tem produtos femininos na prateleira, use o que precisar. Caso precise de alguma coisa, me grite.
Bruce estremeceu com a vontade de voltar para o banheiro e tomar Rita, mas manteve-se fora do banheiro
para não perder a cabeça e piorar ainda mais a sua situação, mesmo quando o estado na região sul do seu
corpo se tornou extremamente dolorida.
Rita respirou aliviada por ter Bruce fora, ela precisava de privacidade e espaço.
A água quente foi muito bem-vinda e ela demorou a sair. Lavou os cabelos sem pressa e tremeu cada vez que
fazia um movimento brusco. Quando saiu do boxe encontrou toalhas e um roupão de banho.
Enrolou-se em um e saiu para o quarto, nele viu Bruce encostado em uma parede olhando para ela. Ele não
transmitia nada do que pensava em seu olhar, além de intensidade.
— Eu irei fazer.
— Não...
— Sente-se — ordenou.
— Sente-se, Rita.
Ela o olhou e ele deu de ombros enquanto caminhava em sua direção, se ajoelhou em sua frente. Levantou
um pouco o roupão que ela usava e analisou o machucado.
Observou cada movimento dele para cuidar de seu ferimento. Ele manteve o silêncio de sempre e teve muito
cuidado com seu machucado. Quando terminou
de enrolar uma faixa em sua perna, deixou a pomada para a queimadura do Taser na cama e se afastou
rápido.
— Tome esses analgésicos para dor e descanse, enquanto eu preparo algo para comermos.
Bruce saiu tão rápido, que nem deu tempo dela gritar com ele por ser tão idiota, mas manteve a calma e
tomou os remédios que ele havia deixado na cabeceira da cama junto com o copo de água.
Jogou as roupas que estavam dentro da sacola sobre a cama e encontrou um par de lingeries de renda rosa
claro, uma camiseta branca feminina e um conjunto de moletom preto em seu tamanho. Ela se vestiu e ficou
grata por se sentir quente novamente. Deitou-se na cama e enrolou.
Seus pensamentos foram a levando para um sono pesado, os remédios que tomou fez seu corpo relaxar e
trouxe grande sonolência.
...
Acordou um tempo depois com Bruce a chamando, ele tinha trazido uma bandeja com uma refeição. Gostou
da massa com bolonhesa que fez, mas não elogiou. Assim que terminou ele saiu e não voltou mais,
deixando-a voltar a dormir.
Na madrugada ela acordou com sede e se levantou, mancou pelo quarto escuro
até a porta. Seu coração estava batendo rápido quando abriu a porta comprovando não estar trancada,
caminhou para fora e na sala viu Bruce parado na janela. Ele usava somente uma calça de moletom e Rita
não pode evitar passear seus olhos pelas costas musculosas que exibia.
Olhou para o sofá onde tinha um travesseiro e cobertas bagunçadas sobre ele,
junto com um notebook ligado a imagens de câmeras de segurança. Não fazia a menor ideia de onde poderia
ser.
Bruce era o homem mais musculoso que já tinha visto em sua vida, nunca poderia imaginar que debaixo dos
ternos pretos escondia tamanha beleza. Ela se virou e caminhou para a cozinha, não querendo olhar para ele.
Depois dos dias infernais que passou ao lado dele, agora só desejava distância entre eles.
Pegou um copo na bancada e abriu a geladeira em busca de água gelada para se refrescar. Depois de beber,
voltou para a sala e o encontrou no mesmo lugar, seu corpo parecia tenso enquanto ficava ali parado.
— Vá descansar, Rita, se estiver sentindo-se melhor amanhã irei te levar para casa.
— E você?
— Eu o quê?
— Nunca descansa?
— Boa noite, Bruce — respondeu sabendo que não iria adiantar discutir com ele.
CAPÍTULO OITO
grito atravessou todo o lugar. Seu corpo ficou rígido e em alerta ao mesmo tempo, correu para o quarto em
que Rita estava dormindo e a encontrou gritando em meio de mais um pesadelo.
— Rita, acorde!
Ele sacudiu seus ombros e ela abriu os olhos completamente aterrorizados, o medo estampados neles fez
Bruce puxá-la para seus braços em um abraço de conforto. Sabia que ela o odiaria para sempre, mas vê-la tão
assustada daquela forma, fazia que ele esquecesse o Bruce bruto e cruel para ser o Bruce que ela precisava.
Não era suficiente, desejava ser o homem que ela precisava. Pensou Bruce com pesar.
— Bruce?
— Outro pesadelo?
— Está bem?
Segurou para não estremecer, todo o medo tinha se esvaziado dela quando encarou seus olhos duros.
Rita acenou novamente incapaz de desviar os olhos da montanha de músculos que ele ostentava. Estava
vestido somente com uma calça social preta e seus sapatos pretos, que foram exaustivamente engraxados.
Quando se virou, ela pôde ver a arma enfiada na cintura de sua calça.
Rita forçou a mente a pensar se já houve alguma coisa na empresa que fosse suspeito, mas não se lembrava
de nada. Nunca percebeu nada estranho e aquilo a intrigou.
Encontrou uma nova escova de dente sobre o balcão e estremeceu ao lembrar quando esteve sobre ele e
Bruce arrancou as roupas de seu corpo. Os dedos dele roçando sua pele haviam acendido algo que estava
apagado há muito tempo, mas ela não queria pensar sobre isto. Não queria sofrer da síndrome de Estocolmo,
então, obrigou sua mente a esquecer das possibilidades que antes desejava dar a Bruce.
Seu cabelo estava bagunçado, depois de penteá-los fez um coque no alto da cabeça. Ainda tinha um pequeno
curativo na testa. Seus olhos estavam fundos e os lábios pálidos. Lavou o rosto e quando levantava a cabeça
encontrou um batom para hidratação labial.
Sabia que aquilo não estava ali ontem, com certeza Bruce tinha deixado para ela.
Não queria ficar agradecida a ele, mas ficou, quando sentiu os lábios mais macios e hidratados.
Depois de completar sua higiene, foi mancando para a cozinha. O encontrou de costas novamente, mas desta
vez mexia no fogão, ainda estava vestindo somente a calça social com a arma no cós atrás. Suas costas
pareciam ter sido esculpidas e chegava a ser hipnotizante olhar os músculos trabalhados em sua extensão.
Rita acenou e ele pegou um copo com água, observou enquanto tomava em
silêncio. E depois colocou uma grande xícara de café preto e puro na frente dela.
— Coma.
Ordenou enquanto puxava uma camisa social preta pelos ombros e abotoava os
botões rapidamente. Era sensual cada movimento dele e ela se obrigou a comer.
Tinha muito tempo que não via um homem se vestir em sua frente, o único que fez isto já havia partido há
tanto tempo que ela nem queria pensar.
— Hm — resmungou.
— Aquele dia em que ficou muito bravo comigo por não passar o telefone...
— Para quem não lembra muito das coisas, você tem uma boa memória. — Ele
— Eu só estou tentando me lembrar de algumas coisas, acho que realmente sou muito desatenta... E não tem
como esquecer a forma que você veio para cima de mim, parecia que iria arrancar minha cabeça com as
próprias mãos — murmurou e observou-o colocar a camisa para dentro da calça.
— Algo grave.
— Sim.
— Estava levando Giulia para alguns exames em uma clínica e fomos seguidos
— disse e deu de ombros. — Algumas caminhonetes nos perseguiram e conseguiram se livrar das minhas
escoltas de apoio.
— Sério?
— Sim.
— Quando consegui falar com Adônis, ele correu para nos ajudar.
— Sim, antes de Adônis chegar a mim, acabei perdendo o controle do carro quando bateram contra a
traseira. Capotamos algumas vezes antes de parar, mas ele chegou a tempo de impedir que fôssemos mortos.
Rita congelou com os olhos arregalados, ele falou com tanta naturalidade que ela mal podia acreditar que
quase causou a morte dele e de Giulia.
— Rita?
— Você quase morreu por minha causa. — Ela murmurou ainda chocada.
— Você demorou e me irritou por isto, mas não foi sua culpa — afirmou. — Não esperávamos pela
perseguição e os homens que fizeram isto pagaram pela ousadia.
— Sim.
— Me matou de susto... Achei que me bateria... Estava tão furioso. — Ela disse e tremeu com a lembrança.
— Não parecia.
— Sim.
— E a perna?
— Ainda dói.
— Não.
— Quer que eu te leve para casa ou precisa descansar mais um pouco antes de voltar?
— E não estou.
— Ok
— Sexta.
Ela pulou para fora do banco e gemeu quando a dor explodiu em sua perna.
Bruce acenou com a cabeça e andou pelo local, foi até o sofá e tirou de dentro de uma caixa um par de tênis
femininos de uma marca cara.
Ela acenou com a cabeça lembrando que estava descalça ainda. Mancou até ele e se sentou no sofá, ele se
ajoelhou em sua frente. Colocou meias brancas em seus pés, mesmo sobre seus protestos de que podia fazer
isto sozinha, e colocou os tênis.
Foram em silêncio para o carro no térreo e desta vez não tinha escolta, Bruce abriu a porta para ela e depois
entrou no lado do motorista. Pelo caminho ele foi falando de algumas regras básicas para manter-se viva e
salva da máfia. Ela escutou com atenção, com medo de que fizesse alguma coisa errada que causaria danos
sem reparos. Nunca colocaria Josh em perigo, então, seguiria à risca tudo que Bruce lhe disse.
Ainda estava processando as informações, era como se fosse demais para acreditar que esse tempo todo
trabalhou para os chefes de uma grande organização criminosa e nunca percebeu. Mesmo assim, ela se
esforçou para memorizar cada coisa que Bruce falava, não queria cometer nenhum erro que pudesse custar a
sua família.
— Você acha?
— Ele está naquela região, não sei quais vão ser os seus passos. Caso ele se aproxime de você, mantenha a
calma e não deixe transparecer nada. Deixe-o acreditar que fez algo errado no seu carro e não conseguiu
concluir o que tinha planejado.
— Ele vai.
— Bruce. — Ela tremeu.
— Mas...
— Tenho homens por todos os lados nesta cidade e conheço cada passo que Ettore dá, não vai lhe causar
nenhum dando — garantiu. — Eu te dou minha palavra que você está segura, assim com Josh e seu nonno.
— Vou te acompanhar hoje, já pensou no que dizer a ele quando perceber que
— Não, ele também tem medo de carros. Não quero assustá-lo, só vou dizer que caí. — disse. — É
suficiente.
— Tudo bem, acredito que Ettore não vai se aproximar de você comigo do seu
Ele saiu do carro e abriu a porta para ela, ajudando-a a sair do veículo com cuidado por causa de sua
perna ferida.
Guiou Rita para dentro da escola e foram para o lado das quadras de esportes.
Viu-a sorrir com lágrimas nos olhos quando achou o filho aquecendo no canto do gramado.
O garoto se virou e encontrou a mãe com o olhar, ele pareceu surpreso de início, mas depois correu
na direção dela.
Bruce se posicionou atrás de Rita e segurou seu peso quando Josh se jogou contra ela.
— Mama.
— Filho.
Ela o abraçou forte e não se importou com a dor na perna. Josh apertou seus braços em volta de sua
cintura.
— Estou vendo, nem se importou de abraçar essa pobre mãe na frente dos seus amigos.
— Também senti.
Quando ele se afastou olhou em seu rosto e depois para Bruce que continuava atrás dela lhe dando
apoio.
— Mama.
— Estou bem, ainda não sou uma mãe zumbi sugadora de sangue.
— Como eles são chatos, deve ser tão sem graça ser um zumbi.
— Desculpe, mãe.
Josh estendeu a mão para Bruce.
— Sou Josh.
— Cuidou dela depois que se machucou? — perguntou e levantou uma sobrancelha inquisitiva.
— Cuidei dela, vou acompanhá-la depois para casa quando você tiver garantido sua vaga no time.
— Hm... eu vou.
— Vá logo, pirralho.
Rita sabia que suas feições não eram as melhores e que isto estava assustando-o.
— Eu não babo.
— Então, que gosma é essa no meu rosto? — brincou e ela sorriu animada.
Josh jogou a cabeça para trás e gargalhou trazendo alívio a alma de Rita.
Ele sorriu, jogou um beijo para ela e depois correu para o campo.
Rita soltou um suspiro alto e estremeceu quando se deu conta da mão de Bruce em suas costas.
Rita acenou com a cabeça e juntos deram dois passos para frente, mas parou quando uma figura
feminina entrou em seu campo de visão vindo em sua direção.
— Alguém que eu não tenho paciência para lidar hoje. — Ela murmurou e continuou a caminhar para
as arquibancadas com a intenção de se sentar no local mais baixo, por causa do ferimento em sua
perna.
O barulho de saltos batendo no concreto mostrava que a mulher insistia em falar com ela, e Rita se
sentiu irritada.
— Rita?
Viu os sapatos pretos de saltos luxuosos, seguidos por um vestido branco e um corpo perfeito.
— Talita.
A mulher era a cópia da perfeição e um sonho para qualquer homem, mas só era bonita por fora.
Talita conseguia irritar Rita em níveis assassinos cada vez que se encontravam.
De repente, Rita se sentiu cansada e desejou por tranquilidade. Algo que parecia raro em seus dias
agora.
— Precisar de você para alguma coisa? Não querida, eu não preciso — esnobou.
— Vi que seu filho vai fazer o teste, Daniel também irá conseguir uma vaga no time.
— Boa sorte para ele, Talita, agora se me der licença, vim aqui para ver meu filho e não gastar meu
tempo com você.
Mas o segurança olhou para sua mão estendida e depois para seu rosto, não mostrando nenhuma
reação. Rita viu o rosto da mulher corar envergonhada e logo ficar furiosa pela reação de Bruce.
— Ele não é de muitas palavras, como disse, nos dê licença para que eu possa assistir meu filho.
Rita caminhou rápido passando por Talita e sentiu a presença de Bruce em suas costas. Mesmo
mancando, foi para as arquibancadas e se sentou no primeiro lance.
— Não precisava ser tão mal-educado. — Ela resmungou assim que ele se sentou no seu lado.
Bruce encarava os garotos no gramado e quando se virou lhe deu um olhar intenso, fazendo o ar ficar
preso em seus pulmões.
Ele prendeu seu olhar no dela e depois quebrou o olhar, voltando a encarar o gramado.
CAPÍTULO NOVE
Bruce dirigiu em silêncio na volta, levando Rita e Josh para casa depois do teste de futebol.
Bruce segurou o sorriso ao ouvir a repreensão na voz de Rita. No pouco tempo que teve perto dos
dois, percebeu que apesar de todo o bom humor que os rodeava, ela não dava moleza para Josh no
quesito educação.
Dividindo sua atenção no trânsito e no aparelho ele discou para Dânio, o homem que ele escolheu
para a segurança de Rita quando não estivesse por perto.
— Diga, Bruce.
— Tempo.
— Cinco.
Josh disse.
Bruce não perdeu o sarcasmo em sua voz, olhou pelo retrovisor e viu-o estremecer levemente.
— Joshua.
— Sinto muito, vou prestar mais atenção na próxima vez. — Bruce murmurou.
Sabia que eles tinham trauma de carro e eram tensos todas as vezes que estavam dentro de um. Não
pioraria a situação ainda mais, seria cuidadoso a partir daquele momento.
Assim que estacionou o carro na porta da casa de Rita, ele não perdeu o alívio no rosto dela.
— Claro, já estou fora — disse e saiu do carro mais depressa do que imaginou ser possível para um
pré-adolescente.
Ele não respondeu de início. Esticou o braço para o banco detrás e pegou uma caixa que estava ali.
— Esses são alguns de seus pertences que foram resgatados de seu carro.
Coloquei junto alguns medicamentos e aparatos para cuidar do corte em sua perna — informou. —
No fim da próxima semana vou levá-la para tirar os pontos. Também há um celular novo e outros
aparelhos eletrônicos que foram perdidos no acidente.
— Não...
— Você não tem a opção de negar — disse rude. — São ordens do chefe.
— Volte ao trabalho quando se sentir melhor e pronta para isto. Haverá sempre um segurança te
seguindo onde quer que vá, assim como Josh e seu nonno. Não precisará mais dirigir, Dânio estará
sempre à disposição para isto e não precisa se preocupar em estar atrás de um volante. — um pouco
de alívio passou por Rita.
— Evite se desviar de perto dos homens que te seguirem e não brinque com sua segurança. Se eles te
perderem de vista, pode colocar em dúvida sua lealdade, então não teste isto.
imediatamente. Evite ficar sozinha com ele, ou em algum lugar muito vazio.
— Ok.
— E Rita?
— Hm.
Ela o olhou por um instante percebendo a sinceridade em seus duros olhos, mas desviou o olhar.
— Não quero falar sobre isto. — Rita disse e abriu a porta do carro.
Bruce ficou tentado a insistir em conversarem sobre o que houve, mas permaneceu calado
observando-a sair do carro com um pouco de dificuldade.
Rita encostou-se à porta fechada e suspirou aliviada por estar em casa novamente. O choro estava
preso em sua garganta e quando levantou o olhar encontrou Josh a observando.
— Nunca pensei que sentiria tanta falta de casa — murmurou esperando que ele acreditasse em suas
palavras.
Ele sorriu deixando-a aliviada, se aproximou e pegou a caixa pesada de suas mãos.
CAPÍTULO DEZ
Rita virou na cama e sentiu o corpo adormecido de Josh ocupando a maior parte da cama, assim
como seu pai era. Parecia sempre ter os mesmos hábitos de Rodrigo. Sorriu e acariciou seus cabelos,
aliviada por tê-lo novamente perto. Foi uma semana muito ruim e estava feliz por estar de volta em
casa.
O telefone fixo tocou em sua base, em cima da mesa de cabeceira. Estendeu a mão para pegar e
atendeu.
— Alô.
— Sim, estive lá para buscá-lo — disse e sorriu. — Ele passou e agora é o novo jogador do time.
— Que bom. — Seu pai pareceu animado. — Sua voz parece cansada.
Ficou ali, observando e velando o sono dele por boa parte da noite até que adormeceu.
O sábado amanheceu mais frio do que o normal. Rita passou o dia assistindo filmes com Josh e
deixando seu corpo se recuperar do cansaço e maus tratos sofridos pela semana sendo prisioneira de
Bruce, ou melhor, da máfia.
Sua mente ainda corria preocupada por nunca ter reparado nada de errado na construtora. Sentia-se
preocupada e receosa em agora estar envolvida com algo tão perigoso quanto à máfia.
A verdade era que não tinha opções. O tom calmo de Adônis falando com ela sobre os riscos que
correria se não fosse leal a ele ainda lhe causava arrepios.
Mesmo com a mente fervendo em dúvidas e medos, ela não deixou Josh perceber.
Ao anoitecer ele dormiu em sua cama novamente, não assumiu, mas ela sabia que ele sentiu muito
sua falta. Sem poder negar isto a ele, deixou que dormisse com ela, gostando de tê-lo tão próximo.
...
— Já vou, mãe.
forno.
— Aquele garoto está crescendo mais rápido do que eu imaginava e parece com... Desculpe Rita.
— Tudo bem, Frank, Josh está cada dia mais parecido com Rodrigo.
Frank era o melhor amigo de Rodrigo e nunca se afastou depois de sua morte, foi um ótimo amigo
nos últimos anos e continuava a ser.
— Estou bem, logo vou estar ainda melhor — garantiu. — Quer algo para beber?
— Eu mesmo pego, sente-se que eu vou nos servir uma taça de vinho.
...
Quando amanheceu na segunda-feira, Rita se levantou determinada a não se atrasar. Não precisava
voltar a trabalhar tão cedo, mas o que ela faria em casa o dia todo?
Uma hora ou outra, teria que enfrentar Adônis Albertini outra vez e ela não correria disto. Mesmo
ainda com o medo correndo em suas veias, decidiu que lidaria com tudo da melhor forma possível.
Adônis havia dito que nada mudaria em seu trabalho e ela acreditou nele, mesmo que uma vontade
enorme de estapeá-lo se fez dentro dela, ao lembrar que ele era o responsável pela tortura que sofreu
nas mãos de Bruce.
Em sua opinião, não precisava de tudo aquilo. Era só perguntá-la se tinha alguma dúvida sobre seu
comportamento referente à presença de Ettore.
Ettore, este era outro que ela queria bater até a morte. Faria o possível e o impossível para ficar longe
dele, ainda não acreditava que tentou matá-la.
Mas porque ele a queria morta? Essa era a pergunta de um milhão de dólares.
Tomou um banho quente com a mente cheia de dúvidas e foi para o seu closet.
Fez um novo curativo no corte em sua perna e respirou fundo, enquanto procurava o que vestir para o
dia de trabalho.
Suas mãos tremiam e ela ignorou o nervosismo espalhando por seu corpo. Pegou um vestido azul
escuro que ia até seus joelhos e calçou as sapatilhas pretas.
Caminhou até o espelho do closet e observou seu rosto. Não estava mais tão pálida como antes e
ainda tinha olheiras abaixo dos olhos.
Escovou o cabelo e puxou uma trança embutida prendendo todos os fios, menos a franja. Fez uma
boa maquiagem que escondesse todos os traços de cansaço do seu rosto e passou o mesmo batom
rosa de todos os dias.
Pegando suas coisas de trabalho e um casaco de frio para o dia, ela saiu de seu quarto e bateu na porta
do quarto de Josh.
— Estou contando.
Desceu as escadas devagar sentindo os pontos na ferida repuxarem um pouco, colocou suas coisas no
sofá e foi para a cozinha preparar dois cappuccinos. Suas mãos tremiam enquanto esperava a primeira
xícara ficar pronta.
Ela respirou fundo inúmeras vezes e se obrigou a relaxar quando ouviu Josh descer as escadas.
Colocou uma xícara na frente do filho e alguns biscoitos. Ficaram em silêncio ainda sofrendo um
pouco de sono.
— Nenhum.
Josh parou e olhou atentamente Rita. Ele a conhecia melhor do que ela acreditava. Em seus dozes
anos, já podia dizer todas as diferenças de humor da mãe e agora não seria diferente.
— Você acordou cedo e está em silêncio — pontuou. — Sem contar que passou
o fim de semana disfarçando que não está preocupada com algo.
— Josh...
— Mãe, me conte qual é o problema e vamos ver o que podemos fazer — disse
— Eu confio, querido.
Rita pensou por um instante antes de decidir o que falar para Josh.
— Lembra-se de Ettore?
— Sim.
— Ele te machucou? Fez alguma coisa para você? — perguntou ficando vermelho de raiva igual ao
pai.
— Não, querido, ele não me machucou. Eu quero que você me prometa que toda
vez que ele se aproximar, você vai se afastar e nunca ficar sozinho com ele.
— Por que...
— Não precisa saber o porquê, Josh. Eu sou sua mãe e você tem que confiar em meu julgamento
quando digo que não confio nele para ficar por perto de nós dois.
— Querido, você ainda não precisa se preocupar com o que ele fez ou deixou de fazer. Eu só quero
que me prometa que vai ficar longe dele e caso se aproxime,
você procure ir para um lugar com mais pessoas. Pode me prometer isto?
— Obrigada.
— Pode confiar em mim, não vou deixá-lo se aproximar.
— Bom, agora vamos logo com isto antes que eu chegue atrasada.
— Acho que ele vai me tirar os membros. — Ela respondeu e ele sorriu.
E pela primeira vez em muito tempo, eles não estavam tão atrasados para sair de casa. Pegaram suas
coisas, trancaram a porta e quando olharam para fora um Jeep preto os aguardava.
Rita ficou visivelmente tensa quando a lembrança dela se afogando, brilhou em sua mente. Mas para
sua sorte, Josh estava distraído observando o carro e o segurança que saiu dele.
— Estragou.
— O quê?
— Estragou alguma coisa nele, mandei consertar, mas acredito que eu vá vendê-
lo e comprar um melhor. Até lá o senhor Albertini liberou um carro e um motorista para nos
acompanhar.
— Pelo menos não vai precisar dirigir — murmurou e Rita não percebeu como
Rita teve que sorrir com a facilidade de Josh para aceitar com outras pessoas, nem parecia que tinha
somente doze anos, afinal quando ele se tornou um adulto assim? Ela se perguntou e sorriu gostando
de ver como ele crescia rápido.
— Senhorita?
Dânio a chamou e ela percebeu que ainda estava parada no mesmo lugar.
Apesar do alívio de não ter que dirigir, Rita acabou tremendo levemente com as lembranças do último
acidente em que esteve envolvida. Porém, o que realmente a deixou tensa foi à imagem de Bruce
debruçado sobre ela exigindo que respirasse. A sensação de seus lábios frios sobre os dela eram ainda
tão vivos em sua mente, mais do que desejava.
Decidiu optar pela frieza, faria o seu trabalho como fez durante todos os anos em que esteve na
construtora e esqueceria que trabalhava para um mafioso. Mas a frieza em si seria para Bruce, não
falaria com ele nada além do que fosse necessário. Antes ela sempre o cumprimentava e perguntava
como estava, ou como foi seu fim de semana. Tentava manter um diálogo com ele, mesmo com
— Mãe.
— Também a amo.
Ele disse e pulou para fora do carro. Dânio e Rita ficaram observando Josh, até que ele sumiu para
dentro da escola.
Os dois foram em silêncio rumo à empresa, mas no caminho passaram pela ponte que Rita caiu com o
carro. Ela prendeu a respiração e tremeu tensa, Dânio percebeu e não disse nada. Ele tinha o controle
do carro e queria que ela percebesse isto sozinha.
Quando chegou ao prédio, ele dirigiu para o estacionamento de funcionários e parou na frente do
elevador.
— Obrigada.
— Não por isto, este é meu número, me ligue quando precisar sair do prédio.
— Não...
— Não lute contra isto, Rita, são regras e elas devem ser seguidas à risca.
— Só ia dizer que não pretendia sair antes do meu expediente — murmurou e ele acenou.
— Tudo bem, não saia sem minha companhia — pediu. — Vou estar te observando de longe e atento,
mas me procure quando precisar.
Ela acenou com a cabeça incapaz de continuar aquela conversa. Sabia que ele ficaria o dia todo
observando seus passos pelas câmeras de segurança e de repente se sentiu irritada por isto.
Rita saiu do carro carregando sua bolsa e o novo notebook, sem olhar para trás.
Assim que as portas se abriram, ela deu um passo para frente, mas parou quando viu Adônis Albertini
e Bruce atrás dele olhando para ela sem demonstrar nenhuma reação.
Rita prendeu a respiração e obrigou seu corpo a não tremer na frente deles, seu olhar saiu de Adônis e
encontrou o frio dos olhos de Bruce. A lembrança dele abrindo o chuveiro gelado sobre sua cabeça
brilhou em sua mente e uma raiva apareceu nos olhos de Rita.
CAPÍTULO ONZE
Rita engoliu o caroço de raiva que tinha se formado em sua garganta e forçou seu rosto a se tornar
frio, quase impassível.
— Senhor Albertini.
Ela o cumprimentou e entrou no elevador, ficou um passo na frente de Adônis e se virou de costas
para ele quando as portas do elevador fecharam.
— Pronta para volta? — Adônis perguntou duvidando de que já estivesse pronta para trabalhar.
Ficaram em silêncio até o andar da presidência e assim que as portas se abriram novamente, ela
mancou para fora com confiança mesmo estando ciente que os olhos dos homens estavam em suas
costas.
Viu Adônis e Bruce entrarem para o escritório, então pode respirar aliviada.
Ela focou sua atenção em seu trabalho, enquanto tentava recuperar sua agenda para a semana.
Não demorou muito e a porta se abriu novamente, dela saiu Bruce com sua postura tensa e rosto frio.
— Rita?
Ela o olhou e não falou nada, somente esperou que ele dissesse o que queria.
Rita acenou com a cabeça e ficou em silêncio, ele a observou por um instante enquanto se levantou
pegando suas coisas para enfrentar Adônis.
— Rita eu...
Ela não o ouviu, entrou na sala e fechou a porta em seu rosto sem se importar com a educação.
— Sim, sente-se.
Ordenou no seu costumeiro tom calmo e olhar sombrio. Ela não se importou, estava acostumada com
ele mandando nela e seu olhar não a assustava muito mais.
Sentou na sua frente e tentou não se constranger com o olhar dele sobre ela.
Adônis prolongou um silêncio entre eles, fazendo com que ela começasse a ficar ansiosa. Porém, Rita
manteve o rosto impassível mostrando que não ia se abalar por fora, mesmo que por dentro estivesse
tremendo de medo do próximo passo
— Tem certeza de que não precisa de mais alguns dias em casa? — Ele perguntou.
— Sim, não teria o que fazer lá — respondeu firme e ele a considerou por um momento.
— Estou bem.
— Bom.
O silêncio se estendeu novamente e Adônis não tirou os olhos de cima de Rita, estava procurando por
qualquer reação, mas ela se manteve firme ganhando um pouco mais do respeito dele.
— Percebi que você ignorou Bruce no elevador, algo que nunca fez antes. —
Adônis disse.
— Não quero falar sobre Bruce, senhor. — Rita disse firme, mas acabou tremendo levemente.
— Ele só fez o que era preciso — afirmou. — Era uma ordem minha.
Rita se esforçou para esconder sua raiva, respirou devagar e manteve o rosto impassível.
— Eu sei.
— Se está pronta para trabalhar, vamos começar pela agenda. — Adônis disse não rendendo mais o
assunto.
— Estou pronta.
As horas se arrastaram depois disto, mesmo que o trabalho acumulado estivesse tomando toda sua
atenção. Rita ficou aliviada de que Adônis colocou um dos seus seguranças para correr de um lado
para o outro em seu lugar, para que ela ficasse sentada e não forçasse sua perna.
Outra coisa incômoda foi ter Bruce sentado no sofá da sala, onde geralmente Pietro ficava. Na
verdade sempre tinha um segurança sentado ali, mas hoje Bruce tomou o posto e mesmo com um
notebook no colo, ela não perdeu que ele estava sempre a olhando.
Seus pensamentos foram interrompidos quando dois furacões atravessaram a sala quase que correndo
e gritando.
Ela não conseguiu formar palavras para responder, estava abalada demais para dizer qualquer coisa.
A presença das duas mulheres a fez se lembrar de que eram esposas dos homens que comandavam a
máfia. Dos homens que a manteve presa
injustamente por quatro longos dias. Queria ficar com raiva delas, mas não pôde,
a preocupação daquelas mulheres eram puramente genuínas e não mereciam o desprezo de Rita.
— E nem pense em me castrar, porque eu não fiz nada. — Ele disse para a esposa e sorriu.
— Seu idiota. — Ele respondeu e olhou para Giulia. — Sabe que eu não posso
mais fugir com você, neh? Está uma gata, mas agora sou um homem casado.
— Porque não levam Rita para almoçar? — Apolo disse. — Que bom que está
de volta, Rita.
E Rita se rendeu, não poderia lutar contra as duas juntas. Foi arrastada para fora e levada para o
restaurante do prédio, sentaram-se no lugar mais privado possível e fizeram seus pedidos.
— Sinto muito por tudo que passou, Rita. Assim que descobrimos o que estava acontecendo, fizemos
o impossível para impedir que fosse morta. — Giulia
informou.
— Imagino que ainda esteja em choque com o que passou, eu fiquei completamente abalada. —
Milena disse e sorriu com compaixão para ela.
— Adônis me sequestrou como pagamento da dívida que Otaviano, meu padrasto, tinha com ele. Mas
logo que descobriu tudo o que eu sofria nas mãos daquele homem e ainda por ser cega, fez de mim
sua protegida. Porém, antes me deixou dois dias em uma cela suja, com fome e frio. — Giulia contou
e Rita não perdeu o olhar apaixonado dela.
Se não conhecesse Giulia e Adônis, duvidaria da felicidade da mulher que se tornou sua amiga. Sabia
que o chefe a amava mais do que a própria vida e era extremamente protetor.
— Como assim?
— Ele planejou ser sequestrado para pegar um inimigo, mas eu acabei caindo no meio desta
confusão. Fui levada e muito machucada. Quando libertada, Apolo me deixou voltar para minha vida,
mas me perseguiu por cada canto. Até que engravidei e ele me mandou abortar, fez um inferno minha
vida, até que paramos de brigar e escutamos um ao outro. — Milena contou e revirou os olhos com
certeza lembrando-se de alguma coisa que não queria compartilhar.
— Coisas que eu não quero me lembrar. — Rita respondeu e mexeu em sua refeição sem vontade de
comer.
— Eu pedi para que ele não a machucasse muito, sabia que não tinha como lutar contra isto. —
Giulia disse com pesar.
— Só o corte na perna.
— Então, ele realmente pegou leve com você. — Milena afirmou e Rita arregalou os olhos.
— Imagino que sim, querida, não pergunte como, mas eu sei do que eles são capazes para conseguir
respostas. Quase não tenho estômago para suportar, e olha que sou médica, já vi de tudo nesta vida.
— Milena falou e segurou a mão de Rita tentando confortá-la.
Todos sabiam que Bruce não a machucou realmente, comparado ao que ele estava acostumado a
fazer.
...
Bruce entrou na sala de Adônis atrás de Apolo, que abriu a porta sem bater como sempre fazia e
revirou os olhos para a expressão brava do irmão.
— Rita foi arrastada daqui pelas senhoras Albertini.
Disse como se fosse desculpa para não ser anunciado e Bruce queria revirar os olhos para Apolo.
Sabia que ele nunca se importaria em impor sua presença em qualquer lugar e muito menos esperar
ser anunciado.
— Como se isto fizesse alguma diferença. — Adônis disse e voltou sua atenção para o notebook.
— Você pensa tão mal de mim. — Apolo disse e se sentou na frente do irmão.
— Pare, Apolo.
— Vamos logo ao que interessa. — Adônis disse olhando para Bruce. — Preciso ver como está a rota
de entrega e ver o que podemos fazer para melhorar, não quero mais ser surpreendido por policiais.
— Já dei uma adiantada e pesquisei sobre possíveis aliados, devo receber um relatório mais completo
em cinco minutos.
— Bom.
— Vai ter uma merda de trabalho para conquistá-la, se ainda quer domar a fera
— brincou Apolo.
Bruce ignorou o comentário e tentou se focar no que realmente interessava no momento, mas sua
mente insistia em fazê-lo pensar nela. Não perdeu o quanto Rita estava bonita essa manhã ao entrar
no elevador, seu cheiro era tão bom como se lembrava, e ele queria muito ter agarrado ela e permitido
que nunca mais se afastasse.
Desejava fazer o brilho de seus olhos voltarem e a que raiva viu neles não existisse mais. Porém, não
podia culpá-la por nada, ele merecia seu tratamento frio e impassível.
Bruce não queria que ela continuasse assim, desejava que voltasse ser a mulher faladeira e cheia de
perguntas que era.
Decidiu deixá-la por agora, talvez o tempo o ajudasse a se entender com ela.
Ou não!
CAPÍTULO DOZE
Os dias foram se passando rápido, logo completaram semanas e então um mês se passou desde o
acidente e sequestro de Rita. Ela não facilitou em nada para Bruce, levou sua vida longe do filho
praticamente no automático. O ignorou cada vez que foi possível e se tornou uma pessoa fria no
trabalho, nada de sorrir ou falar demais. Mesmo no dia em que ele a levou em uma clínica para retirar
os pontos do ferimento em sua perna.
Trabalhou com eficiência e não ouviu nada sobre a máfia durante esse tempo.
Deu-se conta que não era desatenta, a verdade era que todos envolvidos nesta organização criminosa
eram discretos demais para deixar qualquer coisa passar despercebido.
Ettore ainda não tinha aparecido e Rita começou acreditar que ele desistiu, mas Dânio não
concordava, sempre dizia que Ettore só estava esperando um momento de distração. Dânio continuou
a levando para todos os lados e se tornou amigo de Josh desde os primeiros dias em que esteve por
perto.
Outra pessoa que ficou mais próximo foi Frank, ele sempre aparecia para um almoço no fim de
semana ou um passeio por perto. Rita gostou de sua aproximação, Frank sempre a fazia se lembrar
dos tempos bons ao lado de Rodrigo e isto a fez bem.
Giulia e Milena também foram presentes durante o decorrer do mês. Sempre que dava almoçavam
juntas e falavam sobre muitas coisas em um tempo muito curto.
Mas quando Rita voltava para o escritório, seu rosto voltava a ser a máscara fria que tinha se tornado.
Desviando os olhos do notebook, ela pegou seu celular que chamava em cima da mesa, reconheceu
ser o número da escola e ficou tensa antes de atender.
— Alô.
— Senhora Castiel?
— Sim.
— Sou Eleonora, secretaria do diretor Tommaso, estou ligando para pedir que venha até a escola
imediatamente.
— Qual problema?
— Estou a caminho.
Rita desligou e seu corpo tremeu em raiva, não podia acreditar que Josh tinha se envolvido em uma
briga. Ela arrumou a mesa correndo, feliz por estar quase na hora do almoço, assim poderia sair
rapidamente. Levantou e bateu na porta do escritório de Adônis, entrou quando ele liberou.
Ela parou ainda na porta observando seu chefe e as costas de Bruce, que estava ali há mais de uma
hora em uma reunião com Adônis.
— Rita?
— Desculpe, senhor.
— Algum problema?
— Sim.
— Gostaria de sair mais cedo para o meu almoço, preciso ir à escola de meu filho. Seu diretor está
me aguardando.
— Se envolveu em uma briga — respondeu entre dentes sentindo uma raiva incontrolada aumentando
dentro dela.
— Tudo bem, vá ver como ele está — disse. — Bruce irá lhe acompanhar.
Ele se levantou rápido e ela olhou para Adônis, o olhar dele dizia que não havia alternativa. Aceitou
de uma vez seu destino já que com ele não havia como discutir.
Caminharam para fora e ela pegou sua bolsa, seguiram para o elevador em
silêncio. Quando estavam dentro do carro a caminho da escola, Bruce resolveu tentar mais uma vez
falar com ela.
— Sim.
— Eu estou.
— Rita...
Ele estacionou o carro na porta da escola e antes de destravar a porta, se virou para olhar nos olhos de
Rita.
— Uma vez eu te disse que não sou um bom praticante de paciência e acredite, já me cansei de
esperar — disse em um tom de aviso. — Em algum momento,
Irritada por ele praticamente prendê-la dentro do carro com a intenção de fazê-la ouvi-lo, Rita esticou
a mão na tentativa de apertar o botão para destravar as portas.
Mas Bruce foi mais rápido e segurou seu pulso no meio do caminho.
— Nós vamos conversar Rita, nem que eu tenha que te levar em meus ombros
— ameaçou. — Eu vou fazê-la falar comigo, vou fazer você soltar toda essa raiva que tem presa
dentro de você e vamos nos acertar.
Ele soltou o braço dela e Rita se arrepiou com a perda repentina do calor dele.
Destravou o carro e saiu sem esperar por ela, em silêncio ela também saiu e juntos foram para a sala
do diretor.
A secretária se levantou logo que os viu. Josh estava sentado em um canto com sua mochila e tinha
uma bochecha inchada.
Rita se encheu de preocupação, mas seus olhos foram para a porta do diretor que se abriu no
momento, uma mulher com um garoto que tinha um olho roxo saiu
O diretor a olhou por um instante antes de voltar para sua conversa com a outra mãe.
— Espero que isto realmente não volte acontecer.
A mãe do garoto disse e depois saiu puxando o menino para fora da sala, mas não antes de esbarrar
no ombro de Rita. Ela balançou em seus saltos e Bruce segurou sua cintura impedindo que
tropeçasse.
— Diretor. — Ela apertou sua mão e depois lançou um olhar de desapontamento para Josh. —
Poderia me dizer o que aconteceu?
— Claro, mas os dois garotos não quiseram me dizer o porquê se socaram. Sinto muito que tenha lhe
tirado do seu trabalho, não poderia deixar isto passar.
— Entendo.
— Esse comportamento é inaceitável, coloquei os dois para ajudar no projeto da feira depois das
aulas, duas vezes por semana — informou. — E caso Josh se envolva em mais uma briga, irei tirá-lo
do time de futebol.
— Vou conversar com ele sobre isto. — Rita afirmou. — Quando começa os projetos da feira?
— Amanhã.
— Estarei observando-o mais de perto, não vou aceitar violência na minha escola.
— Eu realmente o entendo. — Ela disse firme e olhou para Josh. — Joshua, vamos.
O garoto se levantou com os ombros baixos e não olhou para o rosto da mãe.
Caminharam para fora, Bruce apressou para abrir a porta do carro para Josh e depois para Rita.
Antes de dar uma volta no carro, Bruce visualizou Ettore do outro lado da rua os observando e ele
ficou rígido, mas o homem foi esperto em sumir rápido.
Esperou alguns minutos para ter certeza de que ele estava longe, abriu o capô do carro para garantir
que não teriam nenhuma surpresa no caminho.
— Sei que não gostam, mas preciso fazer uma chamada. — Bruce disse olhando
o retrovisor.
Rita também olhou pelo espelho procurando por algo suspeito e não viu nada.
Voltou a olhar para Bruce, mas ele já tinha o celular em sua orelha.
— Pietro, alvo muito perto. — Bruce disse. — Mande uma equipe para minha última localização, não
o perca — ordenou antes de desligar.
Um pouco mais para frente, Bruce puxou o carro para o estacionamento de uma farmácia.
Desconfiava de que o tal alvo, em que ele se referiu na sua chamada, era Ettore e isto a fez tremer.
Quando Bruce voltou, estava com uma pequena sacola na mão.
Rita considerou que Bruce merecia um ponto depois de demonstrar preocupação com Josh.
— Sim.
— Ok.
O celular de Bruce tocou novamente e ele atendeu mesmo sobre o olhar temeroso de Rita.
— Chefe... Não, tudo tranquilo... Eu o tenho. Nada que não se possa resolver...
Farei isto.
— Por que brigou na escola Joshua? — Rita perguntou não aguentando esperar
para conversarem.
— Mama — resmungou.
— Explique-se antes que eu pense em um castigo muito severo para você. — Ela o ameaçou.
Bruce segurou um sorriso.
— Eu estava na minha, mas ele começou a me provocar por não ter um pai.
— Eu sei... Mas ele ficou dizendo que eu estava mentindo, que meu pai não morreu, que na verdade
ele tinha ido embora por não suportar ficar com a gente.
— Josh...
— Eu sei que não é verdade, mama, mas ele me irritou muito e eu lhe acertei o olho — disse
emburrado.
— Violência gera violência... Não existe nada que não possa se resolver com calma.
— Bom, então eu ainda não entendi o porquê de socar seu colega. — Ela disse pensativa.
— Mama! — Ele exclamou nervoso e ela se virou no banco para olhar o filho.
— Josh você tem um pai, que morreu, mas que te amou muito quando ainda era
vivo. Não há razão para se irritar sobre isto, já que nós nunca mentimos um para o outro. Socar
aquele garoto pode ter te feito extravasar um pouco de sua raiva, mas te trouxe outros problemas.
Como: ser chamado pelo diretor, me tirar do trabalho, te fazer ficar depois da aula dois dias por
semana e sem contar que você está proibido de jogar vídeo game pelos próximos quinze dias.
— Ah, sim. Afinal, não poderia sair assim tão fácil para você — disse e sorriu da cara indignada dele.
— O que realmente não se faz é socar uma pessoa por uma coisa que você sabe que não é verdade —
repreendeu-o duramente. — E reze para que seu nonno não decida te dar um castigo também.
— Merda, aquele soco está saindo mais caro do que eu imaginei. — Josh resmungou e Bruce sorriu
gostando de ver a relação dos dois.
Ele viu que Rita era uma mãe melhor do que imaginava, vê-la o disciplinando foi quase que incrível
para Bruce. Achou ela ainda mais atraente em seu papel de mãe brava e ficou difícil resistir ao desejo
de conquistá-la.
— Olha a boca, pirralho. — Ela resmungou e Bruce estacionou na porta da casa do pai de Rita. —
Vou falar com seu avô por um minuto.
— Josh?
— Hm.
— Sua mãe está certa sobre a coisa da violência, mas você tem um bom soco de direita.
— Não podia deixá-lo falar mal do meu pai, não me arrependo de socá-lo mesmo sabendo que é
errado.
— Eu sei que não, mas na próxima vez me chame, que eu mesmo vou dar uma
— Obrigado.
— E não conte para sua mãe sobre o que eu disse da sua direita.
— Ela iria castrá-lo, não vou contar — prometeu rindo. — Valeu, Bruce.
— Tchau, garoto.
...
Para o alívio de Rita na volta para a empresa Bruce foi em silêncio, mas ela percebeu que ele estava
tenso mesmo que tentasse passar uma postura relaxada.
— Diga — rosnou para o telefone. — Ele fez o quê? Tem certeza? Merda do caralho... Estou a
caminho, chego em quatro minutos.
Desligou a chamada.
— Sim.
— Talvez.
— Rita, Ettore está cavando sua própria cova e eu sou o primeiro na fila para surrá-lo até a morte.
Então, se quiser uma resposta completa sobre o que está acontecendo ou o que estou pensando, acho
melhor pensar bem antes, poderia se chocar com o tamanho da brutalidade que guardo dentro de
mim.
Bruce respondeu em um tom baixo e calmo enquanto entrava na garagem, Rita
Bruce sorriu ao ver os punhos dela fechados, ela era uma mulher feroz e muito valente. Que não
gostava de ser afrontada como ele tinha acabado de fazer. Seus olhos brilhavam de raiva e ele gostou.
Acabou admirando os lábios rosados dela e desejou, muito, poder beijá-la.
Puxou ela por um braço e empurrou seu corpo contra a parede gelada do elevador.
Viu-a arfar surpresa e em choque de sua atitude, segurou-a pela nuca e colocou seu peso sobre ela,
prendendo-a ali.
Então ele abaixou sua cabeça e beijou Rita, ela ficou rígida e não correspondeu.
Mas ele não desistiu, lambeu seu lábio inferior e o puxou com os dentes.
— Beije-me — exigiu.
— N...
Ele aproveitou sua deixa e levou sua língua para dentro da boca dela, ela socou seu peito para afastá-
lo e não teve nenhum sucesso. Ela cedeu e o correspondeu, o beijou na mesma intensidade e suas
mãos não sabiam o que fazer, se batia nele ou se o trazia para mais perto.
Os dois foram queimados em um desejo brutal de serem possuídos um pelo outro. Paixão os
envolveram, seus corações aceleraram e o ar lhes faltou.
Rita se dando conta do que estava acontecendo, tentou se afastar novamente, não querendo permitir
que ele se aproximasse de novo e a machucasse. Ele não se moveu um único centímetro e então ela
mordeu seu lábio inferior com força.
— Merda.
Ele resmungou e se afastou, Rita pode ver que cortou sua boca ao mordê-lo.
Bem feito.
Pensou que ele ficaria furioso, mas ao invés disto, Bruce sorriu.
— Você afirmou no cativeiro que eu a queria morta, a resposta para isto é não.
Eu não a quero morta, me joguei naquele rio e a tirei do carro para te salvar, porque o mundo não
seria o mesmo para mim se tivesse que te enterrar.
Rita respirou fundo tentando entender o que ele quis dizer e saiu também, ainda bamba, mas a tempo
de vê-lo entrar no escritório de Adônis rapidamente como se já estivessem esperando por ele. Tinha
acontecido alguma coisa e ela sabia que não ia querer saber do que se tratava.
CAPÍTULO TREZE
Bruce entrou na sala de Adônis sentindo o lábio inferior dilatar, onde Rita o tinha mordido.
Encontrou um grupo de homens o observando e ele fechou seu semblante.
— Apolo, vamos ao que realmente interessa. — Adônis disse chamando a atenção do irmão.
— Foi mal, mas minha curiosidade não me deixa ficar calado — disse e deu de ombros.
— Precisamos voltar com ela, havia uma blitz inesperada no caminho. — Pietro informou.
— Acabei de falar com alguns contatos e eles informaram de uma denúncia anônima. — Malone
disse.
Bruce informou.
boa ideia.
— E não acharão nada. — Bruce disse firme. — Minha intenção é deixar que eles nos encontre,
acreditando que alguém daqui de dentro invadiu seus sistemas
— explicou. — Mas depois de vasculharem o prédio, ou alguns computadores irão ver que não passa
de um mal-entendido.
— Você é demais, Bruce. — Apolo brincou. — Tem certeza que dará certo?
— Sim — afirmou. – E será o meio mais fácil de conseguirmos rastrear a chamada que denunciou
nossa carga.
— Faça isto. – Adônis concordou. — Não é difícil se livrar de meia dúzia de policiais.
— Mas tenho quase certeza de que Ettore está por trás disto. — Bruce opinou.
— Ele está tentando desviar nossa atenção com Rita. — Adônis disse e todos concordaram.
— O encurralem, vamos ver até onde ele pode ir para tentar ganhar o meu território. — Adônis se
pronunciou.
Todos os homens trabalharam juntos para encontrar o responsável pela denúncia anônima durante
todo o dia e quando o encontraram, Bruce ficou encarregado de buscá-lo. Logo um dossiê foi
montado, mostrando cada passo da vida do alvo.
Bruce leu cada linha pelo menos duas vezes para que não perdesse nenhum detalhe.
busca de respostas.
Bruce organizou uma equipe e logo se espalharam pelas ruas italianas a procura do homem
responsável pela denúncia. Assim que o pegasse, Bruce seria o responsável por conseguir respostas e
depois o fazer sofrer. Foi considerado como inimigo e merecia a morte por afrontar a máfia.
cego e saiu a pé pelas sombras da rua. Viu o exato momento em que o homem
paralisou no meio da calçada. Seis dos seus saíram das sombras e o cercaram.
Aproximaram-se mais, fazendo uma roda em volta do alvo e só deram espaço para que Bruce
entrasse no meio.
— Não queremos o seu dinheiro. — Bruce disse baixo e calmo atrás do homem
Antes que ele pudesse gritar ou fazer qualquer outro tipo de besteira, Bruce o acertou na nuca uma
coronhada, fazendo-o cair no chão completamente apagado.
homens acenaram.
Ele se virou e nas sombras voltou para o seu carro. Mal tinha entrado e ligado o motor, quando seu
celular tocou.
Era Adônis.
— Chefe.
— Relatório — ordenou.
Bruce tentou não hesitar com Adônis na linha, mas como sempre, o homem estava sempre um passo
à frente de todos e já sabia que ele não acompanhava o novo prisioneiro.
— Indo marcar presença — disse firme. — Vou mostrar a ela que não vai ser tão fácil assim me
ignorar.
Bruce não teve nenhuma resposta de Adônis a não ser à chamada encerrada, era típico dele, desligar
sem informar ou se despedir. Não se importava com formalidades, esse era outro fato que o fez se dar
tão bem com Adônis, os dois tinham os mesmo hábitos.
Dirigiu rápido pelas ruas e mandou uma mensagem liberando Dânio por algumas horas. Ele logo
respondeu mandando sua localização e Bruce sorriu de leve em saber que Rita estava em um salão de
beleza.
Virou na próxima esquina e entrou na rua do salão onde ela estava. Logo visualizou Josh e sentiu seu
corpo rígido ao ver que Ettore estava parado na frente do garoto. Estacionou o carro bruscamente e
não deixou de notar que seu inimigo ficou tenso.
Saiu depressa e bateu a porta do carro com força, mostrando sua insatisfação.
— Vá ficar com sua mãe, Josh. — ordenou Bruce ignorando a pergunta de Ettore.
— Hum... Sim... Eu só vim buscar o chinelo dela... Vou ficar com ela. — Ele disse por fim ao
perceber a intensidade do olhar de Bruce em cima de Ettore.
Josh se virou e andou rápido para dentro do estabelecimento para encontrar sua mãe, como se
pressentisse o perigo.
— Não tenho medo de você, afinal, não estou fazendo nada demais.
Bruce colocou uma mão nas costas mostrando que poderia pegar a arma e sorriu
O tom calmo de Bruce assustou seu inimigo e ele ficou satisfeito com a sua reação.
— Se afaste, antes que eu resolva te levar mais cedo para o chefe — ordenou.
— Não vou precisar de ajuda, sou meu próprio exército se for preciso. —
garantiu Bruce.
Ao ver que Bruce não hesitaria, Ettore deu dois passos para trás.
— Estou esperando ansioso o dia em que meus punhos conversarão com você.
Ettore endureceu e deu mais alguns passos atrás antes de se sumir nas sombras.
Bruce ficou ali ainda por um tempo e fez algumas chamadas antes de entrar para procurar por Rita.
Quando se sentiu seguro, tentou relaxar um pouco seu corpo e caminhou para dentro do salão. Uma
bela e sorridente mulher estava na recepção o observando.
— Claro! Pode entrar e ficar com ela lá dentro enquanto termina as unhas.
Ele hesitou por um segundo antes de concordar e seguir a recepcionista para dentro do
estabelecimento. Logo avistou Rita sentada em uma poltrona enquanto uma moça limpava os cantos
das suas unhas de suas mãos. Josh estava ao seu lado e Bruce não perdeu o quanto os dois pareciam
tensos.
Assim que Rita o viu, ela parecia confusa com sua presença e depois relaxou um pouco. Ele
caminhou para dentro do lugar tentando não se constranger com a quantidade de mulheres falando e
se arrumando no local.
— Nada que tenha que se preocupar — respondeu e Rita ficou tensa, mas entendeu que ali não era
local para conversarem sobre aquele assunto.
Eles ficaram em silêncio por um tempo até que a manicure finalizou o serviço.
— Prontinha, Rita.
— Obrigada, Esther, ficou ótimo — disse. — Josh pague a ela, por favor.
Ele concordou e pegou o dinheiro na bolsa da mãe, pagou a mulher e quando se levantaram para sair.
— Tinha deixado meu chinelo no carro de Dânio, para que não estragasse as unhas quando
terminasse.
Ele desviou a atenção do rosto de Rita para seus pés descalços, onde também tinha esmalte novo
brilhando em suas unhas.
— Eu o liberei por algumas horas. — Bruce informou e voltou a olhar para Rita que agora parecia
irritada.
— Não sei se você já percebeu, mas sou eu quem manda nele abaixo de Adônis
Antes que pudesse concluir sua frase, foi surpreendida por Bruce que a levantou em seus braços.
— O que...
— Vou te carregar até o carro, madame. — Ele disse em um tom divertido e ouviu risadinhas vindas
das mulheres ao redor.
Ele não lhe deu ouvidos, carregou-a para fora ignorando todos os seus protestos.
Josh riu com a situação e parou quando sua mãe o olhou brava.
— Como sua mãe está mal-humorada — disse a Josh que ficou tentado a concordar, mas não ousaria
desafiar a mãe.
Ela abriu a porta resmungando e bateu depois que entrou, fazendo Josh rir alto e Bruce sorrir com a
situação.
— Josh?
— Diga, Bruce.
— Nada demais, perguntou se eu e minha mãe estávamos bem já que soube que
— Não sei bem, disse que encontrou com minha mãe e ela contou que acabou se machucando em
uma viagem de trabalho. — Josh respondeu.
Bruce acenou com a cabeça concordando e Rita ficou ainda mais rígida em seu acento. O celular dele
começou a tocar e Bruce pediu para que Rita o encaixasse no Bluetooth do carro.
— Estamos a caminho do cinema, consegui reservar uma sala somente para eles.
— Bom.
— Algo mais?
— Tenha certeza de que vai ficar tudo bem. — instruiu. — Estarei ocupado por um tempo, mas nada
me impede de ir aí se for preciso.
— Bom.
— Seu trabalho parece ser legal. — Josh disse conseguindo a atenção de Bruce.
— Ele é.
— Uau! Deve ser emocionante estar em uma perseguição. — Josh disse entusiasmado.
— A adrenalina é excitante, mas é melhor que situações como essa se mantenham somente em filmes
Josh.
Bruce disse para que Rita relaxasse um pouco, ela estava visivelmente tensa por causa do assunto e
ele não podia recriminá-la por isto. Desde que entraram no carro não estavam tendo um bom
momento.
Assim que estacionou o carro, Bruce pediu para falar com Rita por um momento e o garoto
concordou saindo do carro para dar a eles a privacidade que precisavam.
— Eu não falei com ele. — Rita disse nervosa assim que Josh fechou a porta.
— Sei cada passo que dá Rita, você não falou com ele — confirmou.
— Ainda não sei, mas tenho a sensação de que vou descobrir muito em breve.
— Ele está te usando para desviar nossa atenção de outros assuntos. — Bruce esclareceu.
— Não entendo porque ele demorou tanto para aparecer depois do acidente. —
Rita disse.
— Ele estava sendo cuidadoso, deve acreditar que não estamos prestando muita atenção. — Bruce
respondeu.
— Provavelmente — assegurou.
— Só queria saber o que ele estava planejando e a confiança em você estava abalada.
— Confiança abalada? Per l’amor di Dio! Você me deixou voltar para aquele carro e eu não morri
por muito pouco.
meus atos deveriam ter me perguntado a respeito e não me prender por quatro dias em uma cela,
enquanto me torturava por respostas que eu não tinha.
— Calma.
— Rita...
Ela abriu a porta do carro e ele foi rápido em segurar seu braço para impedi-la de sair.
— Solte-me.
— Não vamos falar sobre isto agora, mas vamos conversar em algum momento.
Você não tem para onde correr Rita — disse baixo. — Onde quer que tente ir, para longe de mim, eu
vou atrás de você. Não há alternativas.
Bruce disse baixo e calmo, mas foi tão ameaçador quanto poderia. Soltou Rita e deixou que saísse do
carro. Observou ela entrando em casa e ele ficou ali fora de guarda por um tempo, até que Dânio
voltou.
Seguiu direto para o galpão para tirar as respostas que precisava de seu prisioneiro. Adônis teria suas
perguntas respondidas ao amanhecer, disto Bruce tinha certeza.
CAPÍTULO QUATORZE
Rita suspirou ao ver o carro de Bruce se afastar, ele não a deixaria em paz. Essa era sua única certeza
sobre o comportamento dele. Quando se tratava de Bruce, ela nunca sabia o que fazer. Deveria ficar o
mais longe possível dele, depois de tudo que sofreu em suas mãos.
Ela ainda podia sentir os lábios exigentes dele sobre os seus. Mesmo com toda a brutalidade e
violência que ele ostentava, Bruce tinha um jeito surpreendente de beijá-la. Rita se repreendeu por
desejar mais dele. Em sua opinião, mesmo com todos seus atrativos, Bruce não merecia nada dela.
Colocá-la debaixo da água fria por horas e lhe dar choques não era coisa de perdoar.
Queria ter uma boa noite de sono, mas não conseguiu. Cada vez que fechava os olhos lembrava-se
das palavras de Bruce no elevador.
“Eu não a quero morta, me joguei naquele rio e a tirei do carro para te salvar, porque o mundo não
seria o mesmo para mim se tivesse que te enterrar.”
Sua mente fez questão de deixá-la ainda mais confusa do que antes, memórias diferentes passavam
por sua mente e a primeira delas foi quando ele caminhou em sua direção, furioso, estavam na sala de
Adônis e parecia que ele queria matá-la com as próprias mãos. Era uma cena que nunca poderia se
esquecer, a raiva no rosto dele a fez tremer dos pés à cabeça naquele dia. Hoje ela sabia que não podia
culpá-lo por sua fúria, afinal quase tinha morrido, assim como Giulia, naquele dia em que ela
demorou a passar o telefone para o chefe.
Nunca sequer passou por sua cabeça que eles estavam em uma perseguição. Ela se arrepiou pensando
que a morte deles poderia ser sua culpa.
Outra lembrança veio em sua mente, quando Bruce a beijou pela primeira vez.
Ela ficou em choque pelo resto do dia sem poder esquecer-se de como sua boca exigia a dela.
Entretanto, não podia esconder o fato de que ele se afastou ainda mais dela depois daquele dia. Não
permitia nenhum tipo de aproximação e aquilo a magoou. Talvez agora entenda um pouco seus
motivos, já que atrás de
toda aquela fachada de empresa existe uma grande organização criminosa, que atrai muitos perigos,
onde ela nunca imaginou que existisse.
— Ele não merece nada — murmurou em sua cama e se virou para o outro lado
tentando dormir.
Quando enfim amanheceu, Rita se sentiu quase que aliviada, tirando o fato de que não conseguiu
descansar durante a noite. Arrumou-se e como sempre, estava atrasada.
Pegou seu casaco e o lanche de Josh, correu pela casa em busca de sua bolsa e gritou pelo filho.
— Joshua, desça agora ou vai lavar a louça por um mês inteiro — ameaçou.
— Eu sei, de novo.
Ele acenou concordando e guardou seu lanche na mochila. Saíram pela porta e Rita a trancou.
Ela disse e virou-se para olhar o carro, mas se calou quando não viu Dânio, e sim Bruce. Ele estava
encostado no carro com os braços cruzados no peito fazendo com que todo o tecido de seu caro terno
preto se esticasse em seus músculos.
— E aí, Bruce!
Seu filho levantou a mão e eles bateram suas palmas, uma na outra, como se
conhecessem por anos. Rita estava chocada com a facilidade de que seu filho tinha para fazer
amizades, nunca imaginou que Bruce aceitaria um cumprimento tão adolescente como aquele.
— Vamos logo antes que o chefe da mamãe arranque seus órgãos por estar atrasada — brincou e
entrou no carro quando Bruce abriu a porta.
— Algo que ele realmente faria. — Bruce afirmou em tom de brincadeira mesmo sabendo que era
uma verdade quase que crua.
Josh sorriu e Bruce fechou a porta voltando sua atenção para Rita.
— Ocupado.
— Mandei que ele fizesse algo para mim. — Bruce afirmou e sorriu de leve ajudando aumentar a
irritação de Rita.
— Você está tentando fazer com que eu aceite sua presença — afirmou baixo.
Rita queria bater em Bruce por sua presunção, bater talvez até a morte. Sua resposta só fez com que
ela se sentisse frustrada e com raiva de sua insistência.
— Ei, vocês aí, vamos logo ou eu vou para a sala do diretor. — Josh gritou de dentro do carro.
Bruce deu um passo ao lado e ela passou quase que soltando fogo, entrou no carro e fechou a porta
deixando-o do lado de fora. Ele não se importou, deu a volta no carro e entrou.
No caminho para a escola, Josh contou para Bruce sobre o seu primeiro jogo.
Sem conter sua animação ele o convidou para ir assistir, fazendo com que sua mãe fizesse uma careta
desaprovando, mas não disse nada.
Quando enfim chegaram ao prédio da construtora, ele estacionou o carro e em silêncio caminharam
para o elevador. As portas se abriram, revelaram Adônis e
— Bom dia, Rita. — Adônis falou e Pietro somente acenou com a cabeça.
Bruce ficou ao seu lado e as portas se fecharam. O silêncio dentro daquele pequeno local era
desconfortável para ela, no entanto, fez um grande esforço em não demonstrar.
— Bruce, ainda não recebi seu relatório. — Adônis disse baixo ao seu segurança.
— O enviei há alguns minutos. — Bruce disse ao seu lado sem olhar para o rosto do chefe.
— Sim.
— Bom — resmungou.
Rita obrigou seu corpo a ficar relaxado, de alguma forma estranha ela tinha a sensação de que Adônis
estava a testando com aquela conversa enigmática. Ela fingiu não se importar, mesmo que ficou
curiosa para saber o que Bruce fez a noite. Demorou um segundo para voltar atrás em sua
curiosidade, não queria mais saber o que ele tinha feito. Na verdade, sentiu até um pouco de medo de
que tivesse uma resposta, se manteve quieta e forçou-se a parecer indiferente aquela conversa.
Saíram do elevador juntos, ela foi para sua mesa e os três homens entraram na sala do chefe.
...
— Não seja tão má com ele — disse e sorriu largamente para ela.
— Pietro pare.
Ela pediu voltando sua atenção para o relatório que estava preparando.
— Não sei o que significa leve para você, devemos ter definições diferentes sobre essa palavra —
disse e o olhou.
Viu Pietro ficar tenso por um instante e um sorriso malvado sair de seus lábios.
— Banho frio e pequenos choques são leves para mim. — Pietro afirmou.
Rita ficou rígida ao ver que ele também sabia o que tinha passado.
Ela ficou em silêncio e tentou ignorá-lo, mas Pietro não estava disposto a se calar tão rápido.
Aquilo chamou sua atenção, ela o olhou novamente e desta vez com curiosidade.
— Outro homem teria feito muito pior — garantiu. — Dedos quebrados, unhas
— Não seja tão dura com ele — disse e pensou. — Talvez só um pouco já que
ele tem um mau humor do cão, mas Bruce aceitou o trabalho só para que você
Ela desviou o olhar sem saber o que dizer e para seu alívio, desta vez Pietro acabou se calando.
Concentração foi uma coisa difícil depois das coisas que ouviu. Não conseguia aceitar a facilidade em
que Pietro relatou algumas das coisas que ela poderia ter sofrido em cativeiro, caso fosse outro
homem no lugar de Bruce.
Suas mãos tremiam enquanto tentava digitar, precisou respirar com calma diversas vezes em busca da
frieza que precisava.
Em um momento ela viu Pietro tenso e ele mudou de posição, saiu da pequena
sala e fez guarda na porta de Adônis. Murmurou algo em seu ponto eletrônico e ela não conseguiu
entender.
— Boa tarde, tem horário marcado? — Ela perguntou firme, mesmo sabendo que não tinha.
— Se não tem horário marcado, então, o que faz aqui, senhor Gonçalo? — Ela
perguntou firme.
O detetive pareceu que não ouviu o que ela disse, voltou sua atenção para Pietro e disse:
— Ele está nesta sala? Se sim, saia da frente ou eu vou tirá-lo daí.
Rita se sentiu extremamente brava, deu dois passos e ficou na frente de Pietro encarando o detetive.
— Eu realmente não sei e nem quero saber o motivo de sua visita, detetive, mas creio que pelo menos
um pouco de educação o senhor deve ter.
— Olhe aqui, moça, não estou aqui para falar com você.
— Mas vai falar, desde que não está sendo educado em um local que não o pertence.
— Não a ameace.
Bruce tinha aberto a porta e se projetava em suas costas como um cão de guardas raivoso.
— Já disse que vim até aqui para falar com o senhor Adônis Albertini.
acompanhava estava pronto para sair correndo. Pietro deu um passo ao lado e uma grande figura
passou por Rita.
mandado judicial, e como minha secretária mesmo disse, o senhor não está sendo educado.
— Não me importo com educação, não vou deixar que atrapalhe minha
investigação.
— Se não falar baixo e com educação comigo, sou eu que não vou me importar
— Não sou um homem de ameaças, diga logo o que veio fazer aqui antes que eu perca minha
paciência.
Rita estava quase sem fôlego ao ver o homem cruel que ele era quando preciso.
Em todos os anos trabalhando ali, nunca o viu olhar uma pessoa daquela forma.
Sem contar que seu tom de voz fez arrepios horríveis passar por sua espinha.
Alguém tocou seu ombro de leve e ela viu Bruce a olhando, entendeu que ele queria que ela se
afastasse e foi o que fez. Caminhou de volta para sua mesa e em choque assistiu à cena na sua frente.
— Minhas fontes me trouxeram até aqui, senhor Albertini.
— Fontes?
— E o senhor acha que eu fui o responsável por isto. — Adônis afirmou calmo.
— E? — questionou.
— Detetive, não sei o que o senhor acha que sabe, mas para mim não passa de perda de tempo. —
Adônis sorriu friamente. — Por que eu gastaria meu tempo
O detetive ficou vermelho e deu um passo ameaçador à frente. Para o choque de Rita aumentar, viu
Bruce introduzir-se na frente de Adônis com os punhos cerrados pronto para iniciar uma briga.
— Se der mais um passo à frente, aceitarei como uma ameaça. — Bruce disse baixo.
Bruce o observou de perto, seus olhos desceram para as mãos dele que tremiam levemente. Voltou a
olhar o rosto do detetive Gonçalo sem perder nenhum detalhe.
— O senhor está evidentemente estressado e eu não vou dar nenhum passo para longe do homem que
sou pago para proteger, desde que estou vendo que sofre TEPT (Transtorno do Estresse Pós-
Traumático).
— O que... como...
um deles. Por favor, dê alguns passos para trás ou qualquer movimento seu reconhecerei como
ameaça.
— Eu não sou um homem desequilibrado — bradou.
Nunca imaginou que Bruce seria britânico e muito menos ex-soldado. Franziu a testa quando o
detetive deu dois passos atrás devolvendo a segurança que Bruce precisava para sair da frente de
Adônis.
Sabia que Bruce era o chefe da segurança e que proteger Adônis era sua prioridade, mas nunca tinha
visto algo assim acontecer. Um olhar para Bruce e ela viu que ele estava pronto para dar sua vida pela
a do chefe, assim como Pietro.
Desviou o olhar para Adônis e percebeu que ele estava completamente relaxado, apesar de todo o
conflito. Era como se não se importasse com o rumo daquela história. Não se sentia ameaçado.
— Toda essa conversa já me cansou, detetive. Diga logo o que quer, pois eu realmente tenho mais o
que fazer. — Adônis foi claro em mostrar que não daria a ele mais tempo do que estava disposto.
Adônis o olhou por um segundo e seu olhar dizia mais do que as pessoas ao redor saberiam. Quando
encarou o detetive novamente, Adônis, tinha uma expressão sombria no rosto.
— Vem até minha empresa sem ser convidado — disse a Gonçalo. — Ameaça
minha secretária, acusa-me de coisas que não tem provas, teve a ousadia de me enfrentar em meu
próprio lugar e agora quer vascular meu computador sem um
mandado judicial.
— Uau. — Apolo disse fazendo certo drama e sorriu quando Adônis o olhou feio. — Quê? Parece
que estava mais divertido antes da minha chegada.
— Vou conseguir um mandato. — O detetive disse e se virou para sair.
— Sinta-se à vontade para dar uma olhadinha no meu notebook, afinal, não queremos que você perca
sua visita ou precise voltar depois.
Todos ficaram em silêncio enquanto o homem mexia e vasculhava cada pasta, arquivo e memória do
notebook.
Os homens ao redor de Rita pareciam calmos e tranquilos, mas ela não conseguia encontrar essa
tranquilidade que eles ostentavam sem o menor esforço. Sentou-se e pacientemente esperou o
detetive terminar sua busca por provas.
— Então? Algo interessante? — Adônis perguntou quando seu aparelho foi fechado.
— Não... Sinto muito pelo inconveniente. — disse e pareceu contrariado por não achar respostas que
queria.
Se quisesse uma busca mais completa precisaria de um mandato, no entanto, isto não o ajudaria
muito. Já que não existia mais nenhuma prova que incriminasse os irmãos Albertini.
— Aceite isto como cortesia, pois da próxima vez não vai conseguir entrar aqui sem uma ordem
judicial. — Adônis agora tinha um tom de voz duro e quase que impaciente.
O detetive ficou vermelho de raiva e talvez até de vergonha, mas se levantou, despediu com um aceno
de cabeça e entrou no elevador na companhia de Pietro.
— Relatório no final do dia, siga cada passo dele e descubra tudo sobre essa merda de investigação
— disse mostrando a Rita que não estava surpreso. —
Quero saber até com quantas pessoas ele falou no dia, faça esse idiota ser útil para mim — ordenou e
entrou em sua sala sem olhar para trás.
— Sim.
Bruce a encarou procurando saber se ela tinha sido verdadeira em sua afirmação.
Bruce nunca dava satisfação do que tinha que fazer, sempre se afastava sem ao menos que ela
percebesse. Não conseguiu esconder a surpresa que sentiu.
Fúria fluía em suas veias pela frieza de Rita. Gostaria de ter mais tempo com ela, talvez conseguisse
logo reverter toda situação.
Entretanto, agora outra coisa tinha se tornado sua prioridade. Precisa descobrir tudo sobre a vida do
detetive, ameaçar Rita foi o maior erro do homem.
CAPÍTULO QUINZE
A voz de Bruce chegou aos ouvidos de Rita, ela estava concentrada no e-mail que escrevia e não
percebeu sua presença. Algo que não a surpreendia, os seguranças do prédio sempre andavam sem
fazer um único barulho. Bruce superava todos, parece um animal sorrateiro quando caminhava.
Ele deu de ombros não se importando e sorriu de leve. O bom da convivência com Apolo era que
Bruce aprendeu a impor sua presença sem se importar com a opinião alheia e ele usaria todas suas
armas para que ela o aceitasse.
Rita finalizou o que estava fazendo, arrumou sua mesa, se levantou e pegou sua bolsa. Ao lado de
Bruce caminhou para o elevador. Rita respirou fundo e devagar, tentando ignorar a tensão. As portas
se fecharam prendendo-os no pequeno espaço. Sem conter sua curiosidade, ela resolveu ceder um
pouquinho e conversar com Bruce.
Bruce a olhou sem demostrar nenhum tipo de oscilação em surpresa por sua pergunta. Acenou com a
cabeça confirmando e quebrou o olhar.
Ela revirou os olhos para ele por ser evasivo sobre sua história.
Bruce pensou por alguns segundos, não gostava de falar de sua vida. No entanto, se isto despertasse o
interesse de Rita, estava disposto a contar sua história.
— Continue.
explicou em um tom baixo. — Ela voltou para Inglaterra e para o noivo que tinha em Londres. E meu
pai continuou sua vida de criminoso, na Itália.
— Sim, e ele não ficou muito feliz em descobrir a traição dela — resmungou. —
Mas ele não queria que o chamassem de corno por aí, se casou com ela e assumiu o filho que não era
dele.
— Não, me tratava mal por ser um bastardo — disse. — Culpava-me por minha
mãe nunca mais ter engravidado. Porém, preferia viver assim a ter uma má reputação, por causa de
infidelidade de sua mulher.
— Ele me disse que uma vez estava em Londres a trabalho e a viu comigo.
Ficou possesso por não ter sido informado de minha existência e investigou mais a fundo — contou
sério. — Nesta época, eu já tinha quase que dezoito anos, estava pronto para minha primeira missão
no exército.
Saíram do elevador e caminharam para o carro. Entraram e Bruce colocou o veículo em movimento.
— Como conseguiu se alistar já que não era filho legítimo de britânicos? — Ela perguntou curiosa.
— Meu padrasto era um senador na época e usou seus contatos para me empurrar para os campos de
guerra — murmurou mal-humorado. — Meu pai biológico me encontrou e disse que era seu filho —
deu de ombros. — Claro que eu sabia que não era filho do senador, ele nunca escondeu o seu
desprezo por mim, mas acho que foi muito pior descobrir que meu pai era um mafioso.
— Ainda assim você veio para a Itália. — Rita afirmou.
— Não foi tão fácil assim — disse. — Meu pai permitiu que eu fosse para o exército britânico, com o
argumento que ficaria mais resistente e duro vendo a guerra de perto. — Sua voz ficou amarga. —
Lembro como se fosse ontem
quando ele me disse para ir, mas que não deveria me encher de honestidade, já que assim que
terminasse minha missão ele estaria esperando por mim na Itália
eles chamam de guerra, enfim, estava voltando para casa. Não queria voltar para minha casa, quero
dizer, para casa da minha mãe — corrigiu. — Ela morreu quando eu estava fora, então, não tinha
razão para voltar a Londres.
— Morreu?
— Sim, eu o matei.
— Eu deveria perguntar o porquê? — Rita interrogou não se surpreendendo com aquela informação.
— Ele aproveitou que eu estava preso no exército para se livrar de minha mãe —
rosnou baixo. — Descobri isto anos depois, o imbecil queria a herança que ela tinha recebido naquela
época — explicou. — Quando descobri já estava há alguns anos na máfia, fui até ele e acertei nossas
contas.
que Bruce estava tenso demais com aquela conversa sobre seu padrasto.
— Meu pai me enviou uma boa quantia de dinheiro junto com uma passagem aérea para que eu
viesse imediatamente para a Itália, mas fui para outro lugar —
— E ele te encontrou?
— Sim.
— O que aconteceu depois?
— Ele me bateu.
— Sim, me espancou por dias para que aprendesse a não fazê-lo de bobo — deu uma baixa risada
amarga. — Quando se nega a máfia, a pena é a morte. E meu
pai jamais aceitaria uma desonra desta. Ele me caçou a cada canto possível, até que me encontrou. —
Ele segurou um suspiro. — Quando me recuperei de sua
surra, fui apresentado a Omero Albertini, o chefe daquela época. Ele sabia que eu tinha fugido,
mesmo que meu pai não tenha dito nada, algo que aprendi rápido sobre os chefes — disse. — Era
para Omero ter me matado naquele dia, mas um Albertini nunca descarta o que pode ser útil.
— Eu me dei bem no exército — informou. — Fiz parte de uma equipe de elite e tinha boa pontaria,
além de ser “filho” de um senador. Deram-me uma oportunidade como franco, apesar de ser só um
garoto. Fui muito bem no teste, apesar de algumas circunstâncias, e me promoveram a franco-atirador
— deu de ombros. — Omero não tinha um atirador tão bom quanto eu. Então ali estava minha
chance, cobria suas costas onde quer que estivesse e mantinha minha cabeça sobre os ombros.
— Mérito — afirmou. — Conquistei meu lugar, mas devo isto ao meu pai. Ele
nunca me deixou relaxar, me treinou duramente. Assim como Adônis e Apolo, eu e Malone
enfrentamos um inferno sendo treinados quase que no mesmo nível dos herdeiros — explicou. — Um
dia houve uma invasão onde morreu o chefe
da máfia e meu pai, que era seu principal segurança. Adônis tomou posse e me colocou ao seu lado.
— Eu nasci para ela, Rita. No começo não aceitei muito bem, mas me adaptei rápido — deu de
ombros. — Ou me acostumava, ou morria sendo considerado
um traidor e fraco.
Bruce estacionou o carro na porta da escola. Josh apareceu um minuto depois, correndo e ainda
usando suas roupas de treino. Abriu a porta, jogou sua mochila dentro e entrou ofegante.
— Oi, gente.
— Que cansaço é esse filho? — Rita questionou virando em seu banco para olhá-lo. — Por que não
tomou banho no vestiário?
— Não deu tempo mãe, to exausto.
— Isto é cheiro de homem, mãe. — Josh brincou sabendo que estava com mau
Rita não segurou a gargalhada. Riu tanto que pequenas lágrimas escorreram dos cantos de seus olhos.
Bruce não pode rir, ele estava encantado demais pelo som que ouvia sair dos lábios dela.
— Chegando em casa eu vou te afogar na banheira, Deus me livre desse cheiro de homem
impregnando minha casa.
— O que você não sabe é que vou comprar uma agora, não é mesmo, Bruce? —
questionou.
— Já estamos no caminho. — Ele afirmou e sorriu gostando de ser posto na conversa de mãe e filho.
Rita e Josh riram juntos trazendo uma sensação de paz para Bruce. Ele jamais saberia explicar porque
se sentiu assim, mas daria até sua última moeda para que se sentir assim novamente.
— O treinador pegou pesado hoje, queria ter tomado banho. — Josh resmungou
depois de um tempo.
Eles foram para casa ouvindo Josh contar sobre seu treino de futebol. Quando Bruce estacionou na
frente da casa de Rita, o garoto foi o primeiro a descer depois de se despedir. Rita agarrou sua bolsa e
segurou a porta mostrando que também não iria demorar.
Rita o interrompeu.
disse por alto o que outro homem poderia ter feito a mim.
Se encaram em silêncio por alguns segundos que mais pareceram uma eternidade.
Bruce se conteve para não segurá-la quando uma pitada de fragilidade brilhou em seus olhos
castanhos.
— Sim?
Rita não desviou seus olhos dos dele, não perdendo a sinceridade que brilhavam neles.
Bruce se virou mais em seu banco, ficando totalmente de frente para Rita.
— Entenda uma coisa, Rita, quando se trai a máfia, se paga com a morte —
disse firme. — Não tenho uma família para proteger, então, não me importaria em morrer para que
você ficasse viva.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Rita e Bruce se apressou para limpá-la.
— Bruce...
O celular dele vibrou e Rita acenou que deveria atender. Bruce pegou o aparelho, leu a mensagem
que recebeu e depois esfregou o próprio rosto com as duas mãos agora parecendo visivelmente
cansado.
— Estou bem...
Ela abriu a porta do carro e tentou sair, mas ele segurou seu braço. Rita voltou seu olhar para Bruce
um pouco confusa com a sua atitude. Não se surpreendeu quando ele se inclinou sobre ela e beijou
seus lábios de leve.
A sensação dos seus lábios eram sempre as melhores. A encantava com sua suavidade.
O beijo foi delicado e rápido. Rita não lutou contra ele, não podia. Seu coração não permitia. E
quando ele se afastou seus olhos cinzentos brilharam em intensidade.
— Vou te mostrar que está muito errada sobre isto, em breve — prometeu. —
Muito em breve.
— Você não deveria ser tão presunçoso. — Rita disse e desceu do carro.
Rita caminhou para dentro da sua casa sentindo-se um pouco mais leve em seus sentimentos
confusos, apesar de seu corpo estar cansado. Seu dia tinha sido tumultuado. Estava exausta, tanto
emocionalmente, quanto fisicamente.
Uma noite mal dormida, discussão com Bruce pela manhã, a conversa do elevador, as revelações de
Pietro, a briga do detetive, a história de vida do ex-franco atirador britânico que agora é um homem
da máfia.
As confissões no carro.
As palavras de Bruce ainda estavam vivas em sua mente, assim como a sinceridade de seu olhar.
Não sabia mais o que pensar a respeito do homem que conheceu depois do sequestro. Imaginar que
ela poderia ter sentido a dor de ter os dedos quebrados ou o sofrimento das unhas arrancadas fez Rita
estremecer.
Se poderia ser pior, então, ele realmente pegou muito leve comigo. Pensou assumindo que poderia ter
sido pior caso outro homem estivesse no lugar de Bruce.
Abriu os olhos e viu que ele estava sentado no sofá a sua frente, já de banho tomado.
Sentou-se reta.
— Não sou cego, mama — disse e agora sorriu. — Também gosto dele, não me
— Você o olha feio quando pensa que não estou vendo e ele percebe, mas não se importa. Você
sempre briga com ele, mas é visível que confia nele, de um jeito estranho, mas confia. Eu não perdi
que você fica aliviada quando ele está por perto e acaba afastando Ettore — disse e deu de ombros.
— Muito observador, garoto, mas porque eu devo namorar Bruce? — Rita perguntou e não mostrou a
ele que ficou abalada com a forma que ele via as coisas.
— Mama.
— Hm...
— Desde sempre eu te vejo apagada e sei que é por causa do meu pai — disse
deixando-a sem palavras. — Mas Bruce te faz reagir e brilhar, mesmo que seja de raiva — brincou.
— Deve dizer isto a ele. — Josh zombou e correu para longe da mãe, quando ela começou a jogar
almofadas em cima dele.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Bruce estava dirigindo a caminho de uma construção, levando Rita com ele. Ela avaliaria a etapa final
dos acabamentos em um cassino que Adônis e Apolo estavam construindo. Era um lugar para chamar
atenção dos policiais, por ser afastado e ser um cassino, mas também era um local de distração.
Quanto mais as autoridades focassem sua atenção ali, mais brechas teriam para os negócios ilegais da
máfia em outros lugares.
Ele olhou o retrovisor garantindo que somente a escolta o seguia e depois desviou o olhar para Rita.
Ela digitava quase que furiosamente em seu notebook, com muita eficiência, alheia aos olhos dele.
Pelo menos era o que ele acreditava.
Era uma missão simples que não duraria mais do que uma hora, mas Bruce não
estava tão confiante assim. Aquele sexto sentido de militar que ele tinha em suas veias nunca falhava,
o que estava deixando-o apreensivo. Não queria colocá-la em perigo e isto o angustiava como nunca
antes.
Batucou os dedos no volante de forma quase que imperceptível, já que ele nunca demonstrava o que
estava sentido.
— Nenhum — garantiu.
Rita levantou o olhar e deu uma olhada no retrovisor do seu lado, observando o carro de escolta que
os seguia e nenhum outro vinha atrás. Deu de ombros e voltou sua atenção para o notebook. Rita
sabia que Bruce era quase paranoico no quesito segurança, já que era o seu trabalho.
Quando estacionou o carro na frente do prédio praticamente pronto, Bruce viu que o homem
responsável pela obra já estava os aguardando.
— Não saia do meu lado em nenhum momento. — Ele disse.
— Bruce, não é a primeira vez que eu venho fazer uma inspeção aqui. — Rita
garantiu.
— Mas...
Ela o olhou com impaciência, era a primeira vez que o via tão protetor. Em sua mente não via
nenhum perigo e acreditava ser exagero da parte dele.
— Deixa de ser chato. — Ela o repreendeu. — Vamos logo que Allesio já está
nos aguardando.
Bruce segurou o seu braço de leve, obrigando que ela o olhasse nos olhos.
— Estou falando sério, Rita — disse baixo e ameaçador. — Se a merda vier a baixo, você se esconde
em minhas costas até que eu encontre um lugar seguro para você — ordenou. — E não teime comigo.
— Não vai acontecer nada — suspirou.
— Espero que não — disse. — Fique no carro por mais alguns minutos.
— Não, mas não estou com uma boa sensação — informou. — Deixe dois homens escondidos e mande
um ficar de sentinela — ordenou. — Traga nosso
— Algo mais?
— Você e o homem que sobrou entram comigo, fiquem longe das janelas e tome
cuidado com cada andar em que passarmos — instruiu. — Tenha sempre uma parede de escudo, como no
treinamento, e coloque o colete a prova de balas.
Dânio nunca iria contra uma ordem de Bruce, mas ele só queria ter certeza de todos os fatos.
— Algo não me cheira bem — disse e esfregou a nuca. — Chame uma equipe de
— Por enquanto nenhum — respondeu e conteve a vontade de levá-la para longe daquele lugar.
— Está sendo neurótico — acusou e arregalou os olhos. — Porque está tirando a roupa?
Desabotoou a camisa tão rápido que Rita quase não conseguiu acompanhar o movimento de seus dedos.
Ele puxou a camisa por seus ombros e deixou-a embolada nas costas do acento, enquanto esticava-se para
pegar o colete a prova de balas que ficava debaixo do banco detrás.
Rita ficou sem ar com o corpo musculoso de Bruce exposto e tão próximo dela.
Não sabia qual reação ter, mas queria muito poder tocar na sua pele e sentir o seu calor. Contudo, seus
pensamentos foram cortados por perceber a tensão que ele tinha nos ombros. Ainda achava que fosse
exagero dele, mas sabia que não iria ganhar esta briga.
Viu-o passar o colete preto pela cabeça e prender sobre o corpo com agilidade.
Depois puxou a camisa social preta sobre os ombros e abotoou com a mesma rapidez com que
desabotoou. Colocou o terno e a gravata em segundos, deixando Rita boquiaberta com sua eficiência em
ser rápido.
Ele colocou um pequeno aparelho no ouvido e então puxou a arma da cintura, fazendo-a arfar, mas Bruce
não se importou. Estava concentrado demais no que fazia.
Bruce pegou diversos cartuchos de recarregar de sua arma e colocou nos bolsos.
— Guarde esses na sua bolsa para mim — pediu entregando ela três recargas.
— Rita, se uma merda acontecer eu quero ter balas para salvar o seu traseiro —
disse baixo e rude. — Guarde isto para mim e reze para que eu não precise usar.
Ela bufou inconformada, porém, fez o que ele pediu, ou melhor, mandou.
Colocou os cartuchos na bolsa, na tentativa de fazê-lo permitir que saísse logo do carro.
— Não se esqueça, Rita, fique ao meu lado o tempo todo e caso precise, nas minhas costas — relembrou.
Bruce murmurou algo em seu ponto eletrônico antes de saírem do carro. Rita viu Dânio e outro homem os
seguindo, fazendo-a querer revirar os olhos.
Caminharam juntos para dentro do prédio com Bruce colado nas costas dela.
— Alessio, você marcou essa inspeção sabendo que não é assim que as coisas funcionam. — Rita disse.
Eles entraram no elevador com Bruce, deixando os outros dois seguranças no térreo. Alessio apertou o
código para o último andar antes de explicar.
— Não há desculpas para isto, sabe que o senhor Albertini não irá aprovar a próxima etapa. — Rita foi
firme e o homem suspirou.
— Sabe que não vai adiantar, terei que voltar e olhar tudo de novo. — disse irritada. — Vou embora, e
então marcamos quando tudo estiver pronto. E espere pelo esporro que vai levar, por não ter cumprido o
prazo.
Antes que ele terminasse de falar, Bruce já tinha partido para cima do homem. O
— O ... que... o que está fazendo? — gaguejou. — Rita... Tire esse homem de cima de mim...
Rita tremeu.
Só tinha o ouvido gritar quando estava presa no cativeiro e ele estava sob muita pressão querendo
respostas dela. Bruce esticou a mão que prendia o homem e arrancou a câmera de segurança com
facilidade da parede.
Ela não se mexeu, seus olhos arregalados e o coração acelerado quase a deixaram em pânico.
— Trave o elevador agora, faça isto, confie em mim — disse baixo e sem desviar os olhos dos de Alessio.
Rita se mexeu e travou o elevador confiando que Bruce tivesse certeza que algo estava errado. Ela
considerou isto, já que não visitava um local sem que a etapa da construção estivesse pronta.
— Não.o sei do que está falando... trabalho para o senhor Adônis Albertini...
— Não vou perguntar mais uma vez — ameaçou. — Se não falar o que eu quero
— Bruce, tem certeza que ele sabe de alguma coisa? — Rita questionou tensa.
— Um.
— Dois.
vídeo falando que deveria... chamar a inspeção do prédio antes do prazo... caso quisesse minha esposa e
meu filho de volta... não sei de quem se trata... mas eu não sabia o que fazer.
Bruce revistou o homem e só encontrou seu aparelho de telefone. Pegou e guardou em seu bolso para caso
alguém entrasse em contato.
— Bruce.
— Rita, fique calma, por favor, sem pânico — pediu. — Vou te tirar daqui, mas tem que confiar em mim.
— Faça agora o que mandei! — exigiu. — Cada vez que eu repetir algo para você, vou te dar um tiro em
um lugar diferente.
O homem ficou pálido, quase transparente, mas começou a se mover para fazer o que Bruce ordenou.
— Fique atento a qualquer movimento — disse. — Mate qualquer um que aparecer sem ser convidado.
Naquele momento, os únicos convidados eram a equipe de homens que o ajudariam a tirar Rita daquele
prédio.
Bruce olhou o relógio para ter certeza que ele tinha chegado no tempo estipulado.
Bruce sabia que ele estava rindo animado em querer atirar em alguns inimigos.
— Ainda no elevador, parei no terceiro andar, mas vou sair dele em outro andar.
— Bruce informou.
retalhos. Amarrou seus pulsos nas costas com bastante força. Fez uma mordaça para sua boca e também
amarrou suas pernas com a camisa, fazendo-o se sentar no canto do elevador.
— Fique aqui quieto e não me subestime, Alessio — ameaçou. — Um movimento errado e eu vou
garantir que morra bem devagar.
— Não faça nenhuma besteira — disse. — Talvez quando essa merda acabar você consiga ficar vivo e
com a sua família, mas não me teste, Alessio.
Ele acenou com a cabeça concordando sem esconder o medo de seus olhos.
Bruce olhou para cima em busca da saída de emergência, usou a vantagem de ser alto e conseguiu abrir o
teto com certo esforço.
— Quem estiver nos esperando do lado de fora sabe que estamos travados no elevador — explicou. —
Vamos sair pela saída de emergência e ter alguma vantagem.
— Tem certeza que alguém estaria nos esperando do lado de fora? — perguntou insistindo de que aquilo
não poderia ser verdade.
— E você acha que Adônis aceitaria um processo pela metade? — Bruce ergueu
uma sobrancelha para ela. — Que alguém mandaria Alessio pedir a inspeção de etapas sem concluir só
para te trazer aqui à toa?
Rita queria entrar em pânico, na verdade, ela estava pronta para isto, mas sabia que não era o momento
para choros e lamentações.
— Sim.
— Não vamos falar sobre isto, Rita, não agora pelo menos — disse. — Eu vou te levantar e você sai
primeiro. Tudo bem?
— Não.
Ela colocou a alça da bolsa atravessada em seu pescoço, para que não caísse de seu ombro, e deixou
Bruce segurar sua cintura.
— Eu vou te tirar daqui, Rita, e vou te levar para casa, para o Josh.
suas mãos, e por muito pouco não passou por causa de seus músculos. Sentou na borda e se ergueu rápido.
— Com força bruta — murmurou aliviado em ver que ela travou o elevador próximo da porta, assim não
precisaria escalar o poço.
Colocou as duas mãos no meio e usou toda força que tinha para abrir. No entanto, a porta não abriu na
primeira tentativa. Ficou surpreso quando Rita passou por baixo de seus braços, se equilibrando em seus
sapatos, e ficou na frente dele.
— Assim que abrir você se abaixa — instruiu. — Não quero correr o risco de ter alguém atirando em
você.
— Tudo bem.
Os dois juntos fizeram forças para abrir as portas, não foi uma tarefa fácil. Rita ficou ofegante na terceira
tentativa, mas enfim conseguiu que a porta se abrisse.
Bruce saiu primeiro segurando sua arma, garantindo que não tinha ninguém no andar. Depois a puxou
para fora do poço do elevador. Deram alguns passos à frente.
Rita se inclinou e tirou os sapatos. Bruce andou na frente e ela repetiu seus atos
De repente, Bruce a empurrou para trás em uma pilastra e o estouro de tiros quase perfuraram seus
tímpanos com o eco no prédio vazio. Ela ficou de costas contra a pilastra e Bruce se espremeu contra ela,
fazendo com que ela ficasse ciente de cada músculo pesado dele.
Ele atirou de volta e ela quase ficou congelada ao ver as balas se chocando contra a parede do fundo. Eles
estavam protegidos por uma única pilastra. Bruce falava algo em seu ponto eletrônico e ela não conseguia
prestar atenção no que ele dizia. Seus olhos estavam arregalados e a respiração ofegante.
— Fique aqui — ordenou. — Somente se mova se ver algo vindo em sua direção.
— Na próxima vez em que eu atirar, vou me mover para frente e pegar os desgraçados.
— Não, Bruce...
Não deu a ela tempo de protestar, se afastou e atirou. Começou a caminhar rapidamente, usou algumas
pilastras até que um homem apareceu na sua frente.
Seu dedo apertou o gatilho e a bala atravessou a testa do inimigo. Segurou o corpo usando-o como escudo
contra as próximas balas que vieram em sua direção.
Jogou o corpo no chão e se escondeu atrás de uma parede, balas batiam contra a quina dela. Esperou o
momento em que o inimigo precisou recarregar e voltou a avançar.
Atirou em mais dois no caminho e bateu com o punho no quarto quando sua arma mascou vazia. Foi
rápido e certeiro. Em um segundo já tinha trocado o cartucho da arma e atirado no homem. Um barulho
atrás o fez virar rápido. Viu o exato momento em que um homem caiu para frente depois que uma bala
atravessou seu crânio, depois de quebrar o vidro.
— Tenho suas costas, Bruce. — Roy disse no ponto e riu. — Contabilizei um.
— Quatro.
— Você não sabe brincar, Bruce, seus números são sempre maiores. — Roy protestou.
Bruce limpou a mão esquerda na calça, tirando grosseiramente o sangue e voltou a caminhar para buscar
Rita.
Bruce ignorou as vozes em seu ouvido, dos homens conversando, e foi até Rita.
— Fiquei com medo de que fosse atingido — sussurrou. — Não se atreva a morrer.
— Não olhe para o chão, mantenha os olhos entre as paredes e o gesso do teto —
— Eles teriam feito o mesmo conosco — afirmou. — Respire pela boca e não olhe.
Ela sabia que ele estava certo, mas se acostumar com tamanha brutalidade não era algo fácil. Rita gemeu
quando pisou em algo morno, sabia que era sangue, mas não abaixou seus olhos. Fez o que Bruce disse,
manteve o olhar no alto e ignorou qualquer coisa que sua visão periférica pegasse.
Ele a puxou por todo o local. Rita odiou como aquele prédio era grande, somente tornava a saída deles
mais difícil. Sempre andando com cuidado, se escondendo atrás de pilastras e paredes. Garantindo que
não fossem pegos de surpresa.
— Não estou falando com você, querida — resmungou irritado. — Esses idiotas que ficam fofocando no
ponto eletrônico, numa situação de merda como essa.
Pararam perto da porta de emergência e Bruce abriu devagar, apontou sua arma cegamente para dentro e
entrou.
Ela caminhou para dentro e os dois começaram a descer as escadas. Rita o viu apertar seu ponto de ouvido
e imaginou que os seguranças continuavam a falar.
— Último aviso — disse. — Calem a porra da boca, ou eu vou me lembrar disto no próximo treinamento.
— Estou sem fôlego, corremos aquele andar inteiro e agora escadas... Santo Deus... Eu vou ter um ataque
cardíaco a qualquer momento.
Antes que Bruce abrisse a porta, ela foi aberta por um homem e atrás dele tinha mais três. Atirou no
primeiro e forçou o ombro de Rita para baixo, para que ela se agachasse. Estava muito perto e poderia ser
baleada. O segundo homem fez menção de atirar, Bruce foi mais rápido. Atirou no braço do cara, que
deixou sua arma cair, deu dois passos à frente para lutar.
Bruce atirou no peito do inimigo, duas vezes. Não tinha tempo para lutar e o jogou para baixo nas
escadas, onde acabou vendo que vinham mais três em sua direção. Bruce pensou rápido e antes de ser
atingido pelo terceiro homem, atirou uma vez, mas errou quando um punho veio para cima dele. Desviou
e acabou entrando em uma luta corporal.
Talvez Ettore quisesse se vingar de Bruce, sequestrando-o, e isto trouxe uma raiva maior para o peito de
Bruce.
Rita arregalou os olhos vendo Bruce lutar com dois homens de uma única vez.
Não era uma luta justa, mas o homem da máfia não perdia um único soco. Jogou o homem pela escada e o
barulho oco dele batendo foi horrível.
Um soco forte atingiu o rosto do outro homem e ele deu dois passos para trás com o impacto. Bruce o
olhou com frieza e o atingiu com três tiros no peito, fazendo-o se desequilibrar e cair para trás na escada
com seu corpo morto.
— Estão vindo de baixo, vamos entrar no andar. Bruce disse puxando-a para cima.
Balas estouravam a cima deles. Rita firmou as pernas e deixou os sapatos para trás. Precisava correr mais
rápido e segurar coisas que estava atrapalhando.
— Pegue-os.
Bruce ordenou e ela não entendeu nada, tentou protestar, mas ele se abaixou rápido e pegou os sapatos.
— Fique atrás da pilastra e atenta a qualquer movimento — ordenou e ela acenou concordando.
Bruce usou os saltos do sapato para travar a porta e depois voltou sua atenção para Rita quando a ouviu
gemer frustrada.
Iria deixá-los para trás com o coração apertado, porém, ver Bruce praticamente
destruindo seus saltos doeu. Ele ignorou seu protesto, não se importou com quanto custou o sapato. Pegou
sua mão e correram pelo andar.
— Estou no quarto andar...
Bruce se calou no momento em que viu mais homens vindo em sua direção.
Puxou Rita para baixo e agachados se protegeram atrás do balcão de um bar daquele andar. Ela iria fazer
alguma pergunta e Bruce a calou, colocando sua mão sobre boca dela, impedindo que fizesse barulho.
Ele a liberou.
Rita se segurou para não puxar o ar com força. Respirou devagar recuperando o fôlego. Sentiu todo seu
corpo tenso quando ouviu a conversa dos homens que queriam matá-los.
— O cara é bom, matou todos que estavam em cima — disse. — Que porra!
Um tiro soou.
Os homens se abaixaram e xingaram algumas maldições. Começaram a atirar para todos os lados tentando
pegar o responsável pela morte do seu parceiro.
— Estamos enfrentando alguns no terceiro andar e não vai demorar para nossa munição acabar, inferno.
— Dânio informou ofegante.
Bruce respirou fundo e agachado puxou Rita para ficar mais no canto do bar.
— Vou atirar neles, minha munição também vai acabar em algum momento e eu preciso economizá-las...
— Bruce — choramingou.
— Vai ficar tudo bem — garantiu. — Me dê àqueles cartuchos de recarga que guardou para mim.
— Acha que tinha mais homens nos andares acima? — Ela perguntou em um sussurro.
— Sim — disse baixo e calmo. — Vieram preparados para pegar você ou eu, não sei bem, Ettore sabe que
não seria tão fácil nos enfrentar. Por isto, mandou tanto homens.
Rita se encolheu no canto quando Bruce começou a atirar. O barulho era ensurdecedor e parecia não
acabar nunca. Os segundos se tonaram quase que horas para ela. Prendeu o ar em pânico assistindo balas
se chocarem contra a parede atrás deles.
Seus pulmões doeram pela falta de oxigênio. Começou a hiperventilar quando percebeu que estavam
encurralados ali.
Gritos, múrmuros e estouros de balas de diversas armas diferentes. Homens gritando ordens ou gemendo
de dor quando eram atingidos.
Bruce encarou os olhos arregalados de Rita e prometeu uma morte muito dolorosa para Ettore.
Viu-o atirar duas vezes e pular por cima do bar, com tamanha agilidade que ela nunca imaginou que fosse
possível para um homem do tamanho dele, saindo do
esconderijo deles. Rita ficou em pânico, com medo de que ele morresse ou fosse gravemente ferido. Ela
se ajoelhou e espiou por cima da bancada. Viu que ele continuava a caminhar e atirar em pontos certos.
Por onde passava deixava um corpo caído para trás mostrando que não errava um alvo.
Ela o viu jogar a arma no chão e começar uma luta corpo a corpo com os homens que pareciam cada vez
se multiplicarem mais. Ele apanhou e levou alguns socos, mas batia como se fosse uma máquina de morte
que estava pronta para assassinar qualquer um que se levantasse ao seu redor.
Rita arfou quando sua atenção voltou para um homem se aproximando dela. Se
abaixou com o coração batendo mais forte do que achava possível. Agindo com a adrenalina, enfiou a
mão dentro da bolsa descartada no chão e em tempo recorde achou duas canetas dentro dela. As únicas
armas que tinha no momento.
CAPÍTULO DEZESSETE
Com a respiração travada e o sangue pulsando em seus ouvidos, Rita não conseguia se mexer. Fechou
com força as mãos em punhos, escondendo as canetas que começaram a machucar sua pele. Por incrível
que pareça ela não tremia, seu corpo estava rígido esperando pelo perigo.
Arfou quando algo grande passou por cima do balcão e caiu agachado na sua frente. A ponta da arma foi a
primeira coisa que viu, já que estava apontada para seu rosto. Encontrou o olhar morto daquele homem e
se arrepiou.
Rita olhou por cima do ombro dele e fez cara de surpresa conseguindo desviar a atenção do homem, ele
ficou tenso e olhou para trás apontando sua arma. Ela aproveitou essa distração e gritou quando jogou seu
corpo em cima do homem.
Ele apertou o gatilho acertando a parede e gritou em desespero quando Rita afundou as duas canetas em
seu pescoço, uma de cada lado. Desmoronou em cima dela e deixou sua arma cair, enquanto tentava fazer
com que Rita se afastasse.
Ela colocou mais força perfurando o homem com as pontas de suas canetas. Um tiro soou muito perto
dela. O seu agressor gritou de agonia. Ofegante, Rita empurrou o homem para o lado. Uma bala tinha
atravessado sua panturrilha e ele sofria com a dor. Rita levantou o olhar e encontrou Adônis os encarando
com frieza. Ela se rastejou para longe do seu atacante sem tirar os olhos do chefe.
Parecia câmera lenta, podia dizer que conseguiu ver todo o trajeto, a bala passou por ela e se enterrou
entre os olhos do bandido. Arfou em choque quando a vida foi arrancada do corpo daquele homem.
Respingos de sangue mancharam sua pele grosseiramente fazendo-a começar a tremer em pânico. Sabia
que era a sua vida ou a dele, mas nada diminuiria a clareza dos fatos. Nada faria com que se sentisse
melhor, depois de presenciar tanta violência a sangue frio.
Sentia-se como se não fosse capaz de dormir nunca mais. Seus olhos continuavam grudados naquele
corpo sem vida. Alguém chamou seu nome e ele
— Rita!
Bruce.
Não respondeu.
O encarou em silêncio tentando encontrar a paz que precisava nos seus olhos cinzentos.
Ele começou a se preocupar ainda mais quando ela não se moveu. Seus olhos estavam tão arregalados que
ele pensou que poderiam saltar de seu rosto.
O rosto dela estava manchado com respingos de sangue, o que parecia deixar a situação ainda pior.
Agachou devagar na frente dela, não queria assustá-la ainda mais. Seus músculos o fez estremecer de
leve, dor irradiou por todo seu corpo, mas Bruce ignorou. Sua prioridade era ela.
— Rita?
A voz de Pietro soou atrás dele, mas Bruce não desviou sua atenção.
— Não olhe para o lado — disse baixo. — Foque sua atenção somente em mim,
Rita.
— Ela está bem? — Pietro questionou. — Quer que eu a carregue para fora?
Se ergueu em menos de um segundo e encarou Pietro com raiva. Não estava gostando de toda aquele
preocupação que demonstrava pela mulher que considerava sua.
Bruce não disse nada, não tinha palavras para dizer ao amigo, mas se ele abrisse a boca de novo iria tomar
um tiro por demonstrar afeição demais com aquela que o pertencia.
— Bruce, acalme-se. — Adônis ordenou calmo, vendo que seu homem estava pronto para matar Pietro.
— Ele não vai mais abrir a boca, você ainda está com adrenalina muito alta — disse. — Foque sua
atenção em Rita.
Bruce não se moveu. Ainda encarava Pietro com raiva, como um animal raivoso, pronto para começar
uma briga para afastar o homem de perto de Rita. A adrenalina estava tão forte em suas veias que ele
estava perdendo a razão, mas não se importava, não aceitaria tal coisa.
Seu monstro interior tinha tomado posse de suas atitudes para proteger Rita.
— Bruce.
O murmuro trêmulo atrás dele o fez esquecer de sua raiva. Se virou para ela.
Rita olhava para suas mãos trêmulas e sujas de sangue. Sua respiração estava alta e seus olhos cheios de
lágrimas.
Ainda agindo por impulso, caiu sobre seus joelhos na frente dele. Segurou suas mãos, impedindo-a que
continuasse a ver o sangue. Apesar de que as mãos de Bruce não estavam em uma situação melhor, mas
era melhor ela ver as dele do que as dela.
ninguém... Na vida...
— Não.
Bruce a ergueu em seus braços, sentiu Rita ficar tensa por um segundo e depois se aconchegou em seu
peito. Não ficaria melhor a situação, já que seu terno preto estava coberto de sangue, mas tê-la em seus
braços o fez se sentir melhor.
Rita respirou devagar sentindo seu corpo relaxar de leve. A forma que Bruce a segurava contra seu peito
acalmou a tormenta que tinha se formado em seu peito.
...
— Por que me trouxe para casa? — Rita perguntou assim que Bruce estacionou
Ele saiu do carro sem esperar pela resposta dela, deu a volta e abriu a porta.
Rita desviou o olhar dele para suas mãos ainda sujas de sangue.
Ele a levou para dentro e ela não o parou quando Bruce começou a subir as escadas. Rita apontou qual era
o seu quarto, entraram no quarto e ela suspirou aliviada de poder estar de volta. Bruce sentou na cama
com ela em seu colo e apertou seus fortes braços ao redor de Rita.
Rita estremeceu com as lembranças do pesadelo que passou nas últimas horas.
— Não sei explicar, talvez seja os anos de experiência — resmungou. — Ou minha veia de mafioso que
me diz quando tem merda vindo no meu caminho.
— Estou feliz por isto, não quero nem pensar em como iríamos sobreviver aquilo...
— Preciso de um banho.
Ela acenou concordando e ficou quieta em seus braços. Rita sabia que ele ainda estava tenso, apesar de
não demonstrar o que sentia.
— Minha adrenalina ainda está muito alta, só sinto algumas dores musculares...
— Fique — ordenou.
— Bruce.
— Eu preciso segurar você, por pouco eu a perdi para sempre — murmurou olhando-a nos olhos.
— Bruce...
— Eu estou bem.
Garantiu ainda presa na angústia que mostrava em seus cinzentos olhos verdes.
Bruce se inclinou e beijou os lábios de Rita, ela suspirou e deixou que a beijasse.
Deu passagem para sua língua e foi beijada delicadamente. Era como se quisesse garantir que realmente a
tinha em seus braços. Foi o beijo mais doce que recebeu em toda sua vida. Ele degustava e explorava sua
boca devagar e dominante.
Surpreendia que ele pudesse ser capaz de ter tamanha suavidade. Era gentil e demonstrava paciência em
beijá-la com carinho.
Todo o mundo ao redor foi esquecido e só existia os dois naquele momento. Não havia mais lembranças
das horas de puro terror que passaram e também não havia mais a magoa que Rita sentia por ele a ter
torturado em cativeiro.
Rita sabia que não existia mais volta. Não queria estar em outro lugar a não ser nos braços dele.
E Bruce?
Ele tinha certeza de que ela o pertencia e ninguém seria capaz de dizer o contrário.
CAPÍTULO DEZOITO
Seus lábios desaceleram lentamente. Apreciavam a maciez de suas bocas enquanto suas respirações se
misturavam. Aquele momento não parecia real, tantos sentimentos se passaram em um simples beijo. Os
lábios quentes e molhados. Os corações acelerados e os olhos aquecidos de paixão.
Bruce se levantou com Rita em seus braços, um segundo depois que desgrudou
sua boca da dela. Ele caminhou em direção ao banheiro dela e a colocou sentada no mármore negro da
pia. Desviou seu olhar e levou as mãos de Rita debaixo da torneira para lavar o sangue que havia nelas.
Assim que lavou toda a mancha vermelha de sua pele delicada e pálida, ele voltou a olhar para ela.
Também limpou as manchas de respingo no rosto dela.
Respirou devagar apreciando a beleza de seus olhos castanhos. Ergueu sua grande mão e fez um carinho
no rosto dela. Rita fechou os olhos contemplando o carinho. Uma mexa de seu cabelo foi colocada atrás
de sua orelha com cuidado.
— Você é tão linda. — Bruce murmurou incapaz de manter seus pensamentos para si.
Ela sorriu.
— Eu quero você — afirmou Bruce e o sorriso de Rita se fechou. — Quero como nunca quis outra
mulher.
Ele se encaixou entre suas pernas e a segurou pela nuca. Os braços de Rita se fecharam no pescoço dele e
desta vez ela o beijou. Ela não tinha mais forças para lutar contra aquilo que sentia. Não existia mais a
possibilidade de mantê-lo longe, de ficar sem ele. Apesar de surpreso, Bruce retribuiu o beijo de Rita sem
hesitar nenhum segundo.
Não havia a mesma delicadeza de antes. Agora Bruce exigia mais dela.
Descendo as mãos pelas costas dela e depois voltando por sua cintura, Bruce
começou a desabotoar a camisa azul de seda que ela vestia. Rita não o parou, não era capaz de pará-lo.
Depois de tudo o que sofreu, ela só precisava esquecer.
Isto acontecia sempre que beijava e tocava em Bruce. Ele era sua válvula de escape. Não existia outra
pessoa que desejava mais do que ele, mesmo com todos os problemas e divergências, ela não poderia o
querer menos. Muito antes de conhecer o verdadeiro homem que se escondia atrás do chefe de segurança,
ela já tinha permitido que ele acessasse seu coração.
Empurrou o terno dele para fora de seus ombros, com pressa para tê-lo nu. Bruce a ajudou a tirar aquela
peça que teria que ir para o lixo depois do dia enfático que enfrentou.
A blusa de Rita foi jogada na mesma direção do terno dele no chão e ela se concentrou em tirar a gravata,
desfez o nó e a puxou pela gola. Seus dedos foram rápidos em encontrar os botões da camisa de Bruce.
Sem paciência acabou puxando com força o tecido, fazendo os botões se estourarem e voarem pelo
banheiro.
Ele afastou sua boca da dela e os dois respiraram fundo ouvindo o quicar dos botões no piso.
Bruce empurrou a camisa para fora dos ombros e Rita olhou para o colete a prova de balas que ele ainda
usava. Assim que saíram da construção do cassino, Bruce somente a colocou no carro e acelerou para fora
de lá a toda velocidade, ansioso em colocar distância entre o local e eles. Não tinha se livrado de suas
roupas sujas e equipamento de segurança.
Ele abriu o colete e o tirou para longe de seu corpo. Franziu o cenho quando os olhos de Rita arregalaram.
Bruce olhou para o seu peito e viu marcas vermelhas e arroxeadas marcando sua pele.
— Balas.
— Algumas vezes.
— Argh. — Rita praguejou. — Tenho vontade de te bater quando fala assim, como se fosse a coisa mais
natural do mundo.
Rita bufou e analisou o peitoral de Bruce. Viu marcas vermelhas em alguns lugares e seus olhos quase
saltaram para fora quando viu o machucado em seu braço esquerdo.
Rita gemeu irritada com a facilidade que Bruce tinha de naturalizar coisas que poderiam ter tirado sua
vida.
Tentou descer e para buscar gelo. Ele a segurou, impedindo que se movesse.
— Bruce...
— Eu quero muito te tirar destas roupas e tê-la totalmente para mim — disse rouco.
Rita ia protestar novamente, mas Bruce foi mais rápido. Ele a calou com sua boca e a distraiu com suas
carícias. Não deu oportunidade para que Rita pensasse mais, soltou o sutiã que usava e arrancou a saia do
corpo dela.
A boca dele era exigente e não permitia que Rita raciocinasse com clareza. Bruce rasgou a calcinha que
ela usava fazendo-a ofegar em sua boca. Seus lábios desceram devagar pelo pescoço dela até encontrar
seu seio. Enquanto provava dela, abriu seu cinto e tirou o resto de suas roupas, deliciou com seus suaves
gemidos. As pernas de Rita enlaçaram sua cintura nua e ele a carregou para dentro do boxe sem afastar
sua boca da pele dela.
Com as costas prensada na parede gelada, Rita sentiu a água morna descer pelo seu corpo. Bruce moveu
de leve o quadril fazendo sua dura ereção esfregar no ponto mais sensível de Rita.
Ela gemeu alto incendiada por um prazer alucinante, que há muito tempo não sentia. Suas reações aos
movimentos dele só o incentivou a fazer de novo e de
novo, até que Rita não suportou e entregou a ele o seu ápice.
Seu mundo parou enquanto sentia o prazer atravessar seu corpo como um choque alcançando cada célula.
Tornando respirar difícil com o mar de sensações que a afogava em deleite.
Abriu os olhos e encontrou Bruce a encarando. Os seus olhos verdes cinzentos brilhavam em paixão e
satisfação ao mesmo tempo, deixando Rita presa pela intensidade que eles transmitiam.
— Você é minha.
Ele levantou uma mão e fez um carinho na bochecha de Rita, antes de segurar seu rosto.
— Eu te protegerei sempre, nada vai acontecer a você ou a Josh, mesmo que custe minha vida —
prometeu. — Nada irá te machucar, Rita, nada. Nem mesmo
jurou.
Rita sentiu os olhos lacrimejarem ao detectar verdade em cada palavra em que Bruce disse. Seus olhos
brilhavam cheios de sentimentos sinceros.
— Bruce...
— Ter-lhe presa aqueles dias foi mais difícil para mim do que imagina —
sussurrou para ela. — Preferia que me odiasse pela vida inteira do que ver você quebrada, tanto
fisicamente quanto mentalmente... E isto aconteceria se eu tivesse permitido que outro homem a
interrogasse.
Ele se calou e lágrimas desceram pelo rosto de Rita, se misturando com a água do chuveiro. Ela sabia que
eles conversariam sobre aquele dia, mas não imaginou que seria ali e agora. Entretanto, não podia pará-lo,
precisava ouvi-lo e entender os seus motivos.
— Todas as noites ainda sonho com você — disse baixo. — Ainda escuto você
me dizendo “Bruce, por favor, eu estou com medo” — sussurrou. — Acredito que não entenderia o
quanto quis ir até você, pegá-la nos meus braços e te dizer que ia ficar tudo bem.
— Não tive uma única noite de paz desde então, ainda te escuto me pedindo para não machucá-la — disse
cheio de pesar. — Vejo em meus sonhos suas lágrimas, suas expressões de dor e pânico, seu corpo tremer
de frio ou de choque... Doeu mais em mim em torturá-la.
— Sei que poderia ter sido muito pior. — Rita disse tentando fazê-lo se sentir melhor.
— Sim, muito pior do que pode imaginar — afirmou. — Não sou um bom homem e já fiz coisas que te
enjoariam o estômago se soubesse. Costumo não ter piedade ou compaixão, e às vezes acredito que não
existe mais humanidade dentro de mim — disse. — Mas você alcançou algo em mim que eu pensei que
“— Bruce, você alcançou um lugar em mim que eu achei que tinha morrido há muito tempo.
— Que lugar?
— Meu coração, você o alcançou com seu jeito silencioso e mal-humorado. Em pensar que eu o permiti
entrar... não deveria ter deixado... você o quebrou...”.
As palavras estavam tão vivas em sua mente que parecia estar revivendo, a dor da mágoa naquela época
era tão difícil de suportar que tornou impossível esquecer.
— Meu coração.
Bruce sussurrou fazendo outro soluço sair dos lábios de Rita, ela acreditava na sinceridade de cada
palavra que dizia.
— Você o alcançou e o reviveu com seu jeito alegre e falador — disse com um leve sorriso. — E ele se
quebrou junto com o seu naqueles dias em que passou como minha prisioneira. — tristeza passou por seus
olhos. — Senti cada dor e mágoa que sentiu, porque meu coração já pertencia a você.
— Bruce...
pelo que fiz a você ou até mesmo me odiar pelo resto da vida, mas nada vai
mudar o que sinto — disse com pesar. — Perdoa-me? Deixe-me lhe mostrar que posso te fazer feliz? —
implorou com suavidade. — Que posso te proteger. Que posso te amar.
Eles ficaram em silêncio por um longo tempo sobre o barulho da água chocando contra os dois. Rita ainda
não sabia o que dizer com tudo o que ouviu e Bruce esperava pela rejeição, sabendo que era merecido se
ela não o quisesse nunca mais.
CAPÍTULO DEZENOVE
Rita o olhou emocionada, ergueu sua mão e tocou o rosto de Bruce com carinho.
Sinceridade ainda brilhava nos olhos dele e ela nunca poderia dizer que não acreditava em suas palavras.
Aquele conversa lhe mostrou que Bruce veio para lhe erguer das cinzas. Veio tirá-la da solidão. Ser seu
porto seguro. Sua força. E
por mais que o caminho não tenha sido fácil, era o momento de receber o que tanto precisava.
Sem poder suportar o silêncio entre eles, Rita abriu um grande sorriso, Bruce a observava atentamente e
pareceu levemente confuso com sua reação.
— Você nunca foi tão falador assim — brincou e ele sorriu de leve.
— Eu acredito em sua sinceridade, Bruce, e eu o perdoo, vamos esquecer aqueles dias de merda e seguir
em frente. — Rita disse.
Rita o interrompeu.
— Eu quero que você me beije e depois me leve para cama...
Antes que terminasse de falar, Bruce já tinha atacado sua boca com a dele e ela retribuiu com a mesma
intensidade.
Bruce não deixaria que Rita se arrependesse de sua decisão, ou melhor, de seu pedido. Ele fechou a água
do chuveiro e a carregou para fora. Somente parou diante do armário do banheiro, afastou de sua boca e se
esticou para pegar algumas toalhas.
Caminhou para o quarto com ela em seus braços e antes de deitá-la sobre a cama, Bruce forrou o local
com as toalhas para que eles não a encharcassem.
Devagar a deitou sobre o colchão, sem desviar seus olhos dos dela, e a cobriu com seu corpo.
Bruce venerou Rita com sua boca, beijou e mordiscou cada pedaço de pele que encontrou em sua frente.
Fez com que ela se perdesse no mar de sensações prazerosas. Usou todas suas armas, enlouquecendo-a
aos poucos e se perdendo junto.
Conheceu a definição de céu depois que deslizou para dentro dela, claro, devidamente protegido com um
preservativo. Inicialmente devagar e lento, mas ao senti-la se apertar ao seu redor, Bruce acabou
empalando Rita em uma única estocada dura. Em resposta ganhou um gemido alto.
Merda. Amaldiçoou Bruce em pensamentos quando percebeu que não conseguiria fazer amor com ela,
acabaria fodendo rápido e duro.
Ele ainda estava de joelhos, encaixado até o eixo dentro dela quando a viu arquear as costas empinando os
seios e o enlaçando com suas pernas.
Sorriu de leve quando puxou o quadril e o investiu com força, fazendo-a jogar a cabeça para trás e gemer
alto. Então ele fez de novo, puxou devagar e voltou duro para dentro dela. E de novo.
Quando deu por si, já estava em um ritmo frenético em busca do prazer para ambos.
O ar faltava.
O corpo necessitava.
A pele se arrepiava.
E o prazer os atravessou, Rita arfou alto quando foi tomada por um forte
para outro lugar com a emoção agradável que os ligava naquele instante tão íntimo.
— Só seu.
O celular de Bruce começou a tocar de dentro do banheiro e ele acabou suspirando sabendo que o trabalho
o esperava.
— Tudo bem.
Bruce voltou a beijá-la antes de sair da cama. Caminhou em passos apressados para o banheiro onde
encontrou o aparelho, ainda vibrando no meio de suas roupas descartadas no chão.
— Chefe.
— Como Rita está? — Adônis perguntou um minuto depois, parecendo mais calmo.
Bruce não se importava, Adônis era como uma bomba perto de explodir. Gritava quando não conseguia se
conter, mas recuperava rápido seu controle.
— Bom — disse. — Traga Ettore para mim, cansei dessa brincadeira de gato e
rato.
— Não faria isto na frente dela e ele parecia desesperado por causa da família —
explicou.
Bruce queria suspirar sabendo que Ettore estaria escondido em algum buraco agora.
...
Rita ainda estava extasiada com a calmaria em seu corpo depois do sexo incrível com Bruce. Nunca
poderia imaginar que seria daquela forma, mas não desejou que fosse diferente. Também não imaginou
que sentia tanta falta de um corpo masculino contra o dela. Ele havia a levado ao céu em segundos. Era
uma viagem sem volta. E ela não queria retornar nunca mais. Acreditava em cada palavra que ele lhe
disse. Sabia que Bruce não era homem de palavras, sempre foi calado e mal-humorado. Ela jamais se
esqueceria da postura dura e expressão fria de seu rosto todas as vezes que o encontrava na empresa.
Algumas vezes ele mal a respondia quando o cumprimentava, poderia contar nos dedos quantas ocasiões
ela o ouvir falar. Sempre muito fechado.
Seus pensamentos fugiram quando o viu sair do banheiro vestido somente com a calça que usava mais
cedo e parecia tenso.
— Bruce? — questionou.
— Vou ao carro buscar uma muda de roupas que tenho lá e pegar meu notebook, volto em alguns minutos.
Seu tom de voz foi duro, não duro com ela, mas duro com sua tensão que estava sobre os ombros dele.
Queria agradá-lo.
— Um pouco — resmungou.
Bruce acenou concordando e saiu do quarto. Apesar de querer não demonstrar, Rita sabia que ele estava
bravo com alguma coisa que ouviu em seu telefonema.
Rita se levantou e tomou um banho rápido para tirar o suor do corpo e terminar o que tinha começado
com Bruce. Foi para o seu closet e colocou um vestido solto de verão, alças finas e tecido leve de cor azul.
Desceu as escadas no exato momento em que ele voltou para dentro ainda tenso.
Rita passou direto, sabia que não deveria perguntar desde que não teria uma resposta. Ele tinha dito a ela
quando a tirou do cativeiro que perguntas sobre as coisas que a máfia fazia ou acontecia, não deveriam ser
feitas.
Passou para cozinha e começou a preparar um almoço para os dois. Sentiu ele se aproximar enquanto
trabalhava em dourar alguns bifes de frango.
Rita se virou para vê-lo e o encontrou escorado na parede com os braços cruzados sobre o peito. Bruce
tinha trocado de roupa, agora usava jeans e uma camiseta preta. Parecia ainda mais bonito do que o
normal, em seu estilo casual.
— Sente-se aqui que eu vou fazer um curativo nesse ferimento em seu braço.
Ela desligou o fogo e voltou sua atenção para Bruce. Era claro que ele pensou em protestar, mas ao ver o
olhar dela, o desafiando a dizer alguma coisa, acabou cedendo. Queria sorrir, porém, também não se
atreveu.
Ele não protestou, estava gostando da atenção que recebia. O ferimento no braço realmente não era nada
grave, parecia um arranhão profundo. Não precisaria de pontos e Rita ficou aliviada ao perceber isto.
Limpou e cobriu o machucado sem
Ela olhou os roxos em seu peito e queixo. Suspirou sabendo que se ele não tivesse colocado o colete a
prova de balas ainda no carro, Bruce estaria morto naquele momento. Sentiu-se agradecida por ele ser
paranoico com a segurança.
— Sim, querida, eu estou bem. — garantiu. — Não é a primeira vez que isto acontece e na hora estava
com tanta raiva, que mal me importei.
O gel tinha um ótimo anti-inflamatório e ajudaria a aliviar a dor que ele deveria estar sentindo, mas era
orgulhoso demais para admitir. Passou o gel gelado na pele dele e esfregou devagar tomando cuidado para
não causar mais dor.
Bruce levantou o queixo dela com as pontas de seus dedos e a beijou devagar, fazendo Rita parar de
espalhar o gel.
Parecia que todas as vezes em que a beijava isto acontecia, mas a mágica entre eles foi cortada quando o
celular de Bruce começou a tocar novamente.
Bruce se afastou e sorriu de leve para Rita, antes de puxar o celular do bolso para atender.
— Diga... Quando? ... Vamos fechar o circo para ele do mesmo jeito de sempre...
— Sim — confirmou.
— E isto envolve?
Bruce a puxou para seu colo, sorrindo, gostando da paz que estava entre eles.
— E além do mais, acredito que não gostaria de ouvir do que somos capazes de fazer para pegar um
inimigo.
Rita ponderou sobre o que Bruce disse e resolveu deixar aquilo para lá, ela realmente não queria saber.
Temia ter pesadelos pelo resto da vida se ouvisse do que eles são capazes, já bastava a quantidade de
corpo que viu hoje.
— Eu não tenho poder sobre isto Rita. — disse sério. — Ele sabia que caso acontecesse algo do tipo,
deveria nos procurar. Estava em uma das clausuras do contrato em que assinou — avisou calmo. — É
uma forma de informar aos funcionários que eles correm o risco de que algo assim aconteça. Então,
deveriam entrar em contato com a segurança dos Albertini imediatamente.
— Já aconteceu antes, de um funcionário ter a família sequestrada, mas o cara foi inteligente em nos
procurar e pedir ajuda como dizia no contrato de confidencialidade — contou. — Resgatamos a família
dele sem que
— Alessio não deve ter pensado direito nas coisas, se algo acontecesse com Josh eu ficaria desnorteada.
— Rita disse.
Rita estremeceu lembrando que Adônis não tinha hesitado em apertar o gatilho contra o homem que a
atacava, mesmo a salvando, Rita não podia esquecer a frieza do ato.
— Adônis e Apolo não perdoam traidores. — Bruce murmurou e abraçou Rita na tentativa de confortá-la.
— Não fique assim, está bem?
Erguendo o rosto dela, Bruce a beijou, calmo e lento. Rita suspirou retribuindo o beijo e esquecendo de
toda aquela conversa que estavam tendo.
Afastou sua boca da dela e ficou orgulhoso em como Rita estava ofegante. Com uma força quase que
sobrenatural, a levantou de seu colo e depois a colocou de novo, mas desta vez com as pernas separadas,
uma em cada lado de sua cintura.
Segurou sua cintura e a puxou mais contra seu corpo, pressionando sua ereção no ponto mais sensível
dela. Rita gemeu com a sensação e quase enlouqueceu Bruce com o som. Ela agarrou a camisa que ele
usava e puxou por cima de sua cabeça, a jogou no chão logo em seguida. Depois o abraçou, fazendo com
que suas mãos descessem pelas costas quente e musculosa de Bruce, descobrindo-o com os dedos.
Ele puxou seu vestido para cima e Rita precisou largá-lo para que se livrassem da peça de roupa.
seus braços.
Os cabelos dela que estavam presos em um coque preso no alto de sua cabeça, se desfez e caiu sobre o
ombro e rosto de Rita, deixando Bruce congelado com a beleza daquele simples movimento.
Rita empurrou o quadril para frente e os dois gemeram com a sensação de prazer
pelo contato. Bruce acabou saindo do seu estado de choque e encaixou seus dedos nos cabelos castanhos
de Rita o tirando do rosto dela, e a puxando para um beijo.
Eles arderam em desejo quando o beijo se tornou dominante e desesperado ao mesmo tempo. A outra mão
de Bruce largou a cintura de Rita e se encaixou no meio das pernas dela, rasgou o frágil tecido de renda
que ela usava. Seus dedos deslizaram com facilidade para dentro de Rita que prendeu o ar se deliciando
com as sensações.
A boca dele encontrou os seus seios, deu atenção a cada um deles com seus beijos e sugadas fortes. Rita
sentiu-se pronta para desmaiar com tanto prazer. Era como se seus seios tivessem ligação direta com seu
clitóris. Seu corpo fervia em uma paixão descontrolada. A leve mordida de Bruce em seu mamilo fez com
que Rita jogasse a cabeça para trás quando um gemido alto escapou de seus lábios.
Ele encurvou os dedos dentro dela alcançando um ponto muito sensível, trazendo um arrepio pela pele
dela com o prazer atravessando seu corpo. Bruce mudou a boca para o outro seio e depois de sugá-lo,
mordeu a ponta.
Aquele foi o ponto de ruptura de Rita, outro gemido alto escapou de seus lábios quando o orgasmo veio
forte e sem barreiras, assim como uma represa com suas comportas abertas.
Bruce a segurou firme em seus braços enquanto assistia Rita se perder em prazer.
Ele sentia-se tão duro em vê-la, que chegou ao ponto de dor. Quando ela voltou seu olhar para ele, seu ego
masculino foi nas alturas ao ver a pura satisfação brilhar em seus olhos nublados.
Bruce a segurou ali, aliviado por enfim tê-la para si. Ele nunca imaginou que se sentiria assim, tão leve e
sem aquele vazio que a frieza trazia.
Sentiu as mãos de Rita abrirem seu jeans e ele a ajudou puxar um pouco para baixo junto com a box que
usava. Estremeceu quando ela agarrou sua carne extremamente dura e dolorida. A maciez de sua palma
desceu e subiu em sua pele. Desejou por mais dela. Enfiou a mão no bolso e pegou uma camisinha, que
tinha conseguido em seu carro quando foi buscar sua muda de roupas. Por sorte encontrou uma no porta-
luvas.
Rasgando a embalagem, deslizou o látex sobre sua ereção. Agarrou a cintura de Rita a levantando e a
desceu sobre si, preenchendo-a com todo seu prazer. Os dois gemeram juntos quando ele estava todo
enterrado dentro dela.
— Nunca vou me acostumar com o quão boa é você, puta merda. — Ele murmurou.
Rita o beijou.
Ela subiu e desceu sobre Bruce com sua ajuda, porém, ele precisava de mais.
Levantou-se a carregando sem desgrudar suas bocas. Colocou Rita sentada sobre a mesa e começou a
balançar contra ela, duro e forte sem poder e nem querer se conter.
Ela arrastou sua boca longe da dele para poder respirar, mas acabou ofegando com o prazer que Bruce a
proporcionava.
— Bruce.
Rita gemeu seu nome enquanto ouvia o celular tocar insistentemente. Ela o ouviu resmungar alguma
maldição, mas não parou, ignorou totalmente a chamada e só existiam os dois naquele momento. Nada
mais importava. A fez se sentir mais importante, mais venerada, pelo simples fato de ignorar suas
chamadas para dar a ela toda atenção que precisava.
Rita ficou ainda mais excitada ao ver a figura máscula que Bruce ostentava. O
olhar quente. A boca avermelhada, dos beijos que trocaram. A expressão dura com o maxilar trincado. A
fina camada de suor que cobria sua pele rígida e musculosa.
Ela escorou os braços na mesa e ele segurou a tampa de vidro com força, fazendo os músculos de seus
braços saltarem enquanto chocava contra ela.
Duro e rápido.
— Rita.
Ele rosnou seu nome mostrando que não ia durar muito mais tempo e ela sentia a mesma coisa sobre si.
Jogando a cabeça para trás, Rita sentiu o prazer atravessar
O gemido que escapou dos seus lábios agora, foi tão alto quanto poderia. Com mais duas ou três
balançadas contra ela, Rita escutou o rouco gemido de Bruce.
Olhou em seu rosto enquanto ele se derramava e viu-se perdida na intensidade que seus olhos
transmitiam.
CAPÍTULO VINTE
Quando enfim recuperaram o ar, foi preciso mais um banho. Desta vez, Rita foi primeiro. Enquanto Bruce
ficou no celular rosnando e latindo ordens para a pessoa do outro lado da linha. Parecia que cada vez que
ele atendia o celular ficava ainda mais irritado com as informações que ouvia.
Ela se banhou e voltou para a cozinha quase que correndo, estava faminta e depois de todo aquele sexo,
quase selvagem, precisava repor suas energias.
ordenou.
Rita ligou a TV com o volume bem baixo, para não incomodá-lo, e ficou quieta ali perto dele até que
adormeceu. Acordou três horas depois arfando com o pesadelo dos piores momentos do seu dia em seus
sonhos. Bruce a abraçou e com toda calma, que ela não sabia que ele tinha, esperou que ela voltasse a se
tranquilizar prometendo que ninguém iria machucá-la.
Acreditava nele.
O que ela viu Bruce fazer naquela construção para protegê-la não deixava espaço para dúvidas.
Ela voltou a cochilar no sofá com a cabeça na perna de Bruce, por mais meia hora, antes de se levantar e
ir se arrumar para irem buscar Josh na escola. Vestiu uma calça jeans preta e apertada, nos pés colocou um
tênis branco casual.
Camiseta preta e jaqueta por cima. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto e passou o batom rosa nos
lábios.
Quando voltou para a sala encontrou Bruce arrumado e ele tinha até mesmo organizado a sala, e estava
observando algumas fotos na estante. Ela parou ao lado dele e viu que seu olhar estava focado na foto dela
com Rodrigo, seu falecido marido, e Josh.
— Rodrigo fez grande parte da minha vida e nunca vai ser esquecido, Bruce —
disse baixo. — Já aceitei a morte dele, mas isto não significa que eu deixei de amá-lo. No entanto, não diz
que os meus sentimentos por você não são sinceros
— explicou. — Ele faz parte do meu passado, passado que não deve ser esquecido, e você está fazendo
parte do meu presente — sorriu para ele. —
Presente que deve ser vivido e sentido.
— Sim.
Quando se afastaram, ela sorriu e de mãos dadas caminharam para fora da casa.
Bruce abriu a porta do carro para Rita e depois deu a volta. Colocou o carro em movimento e em um
silêncio confortável foram até a escola de Josh.
— Acho que chegamos cedo. — Bruce disse enquanto estacionava na porta da escola.
— Tudo bem.
Saíram do carro e o porteiro liberou a entrada deles. Bruce ficou o tempo todo segurando a cintura de Rita
enquanto iam para a quadra de esportes da escola.
Ele desviou de dois colegas e então fez o gol. Não aguentando se segurar ela levou dois dedos na boca e
assoviou alto assustando Bruce, por não estar esperando tal coisa.
Rita riu.
— Já me disseram isto.
— Seus tímpanos são blindados, Bruce, depois de aguentar todo aquele barulho pela manhã um assovio
não é nada.
Ele murmurou alguma coisa que ela não entendeu e eles voltaram sua atenção para o final do jogo.
Ela levantou seus olhos e encontrou Talita Agnelli vindo em sua direção. Rita queria bufar, aquela mulher
a irritava em níveis assassinos. Sentiu todo seu bom humor escorrer pelos dedos, sabendo que ela não
desistiria tão fácil.
— Como vai, Talita? — perguntou sendo educada, mesmo desejando que tropeçasse nos saltos e
quebrasse o tornozelo.
— Fiquei sabendo que seu filho corre risco de deixar o time por causa da briga na escola, deveria educá-lo
melhor.
— Afinal, não podemos correr o risco de Joshua saia por aí socando quem bem entender.
Ele mesmo estava com raiva, queria poder calá-la de um jeito doloroso, por estar tentando ferir sua Rita.
— Se fosse meu filho a ser machucado, por um selvagem como o seu, eu teria te processado — provocou.
— Talvez o fato de ser mãe solteira faça você falhar na educação do garoto, o pai dele deve estar
decepcionado...
Se levantou em um movimento rápido, bufando de raiva, e só não foi para cima da mulher porque Bruce
segurou seu ombro.
— Não fale do meu filho e nem da memória do meu marido — rosnou furiosa.
ameaçando! — exclamou.
— Cale sua boca, Talita, ou eu não sei do que sou capaz para defender meu filho.
— Saia da minha frente antes que eu te bata na frente do seu filho — ameaçou.
— Você não me conhece e não sabe do que sou capaz para defender o meu filho e o meu marido.
— Senhora Agnelli, se não calar sua boca eu serei obrigado a lhe ensinar boas maneiras. — Bruce disse
friamente conseguindo a atenção de todos. — Eu não
vou permitir que continue a perturbar minha Rita e Josh com suas palavras venenosas.
— Não me ameace...
— Não mexa com eles e tenha pelo menos um pouco de respeito pela dor deles e não coloque Rodrigo no
meio da conversa — disse em um tom assustadoramente
calmo.
Bruce puxou Rita para trás do seu corpo e olhou fixamente para a mulher.
— Eu não sou um homem de ameaças ou promessas vazias, então, acho bom não
testar para saber do que sou capaz — disse agora duramente. — Com um único
A mulher ficou pálida e deu um passo para trás, conseguindo a atenção do mafioso em Bruce. Ele
estendeu a mão e pegou Josh, o colocou atrás do seu corpo e encarou a mulher.
— É a última vez que perturba Rita com suas palavras cruéis, ou terei a certeza de que nunca mais sairá
por aí esbanjando dinheiro e arrogância — ameaçou.
Talita tremeu com a voz calma e fria de Bruce, agarrou seu filho pelo ombro e saiu rápido sem ao menos
olhar para trás.
— Era só um susto, para ela aprender que sua mãe tem alguém para defendê-la.
— Bruce afirmou.
— Ela estava falando de mim e do meu pai, não é? — questionou e seu rosto foi ficando vermelho.
— Sim. — Rita respondeu ainda tremendo em fúria.
— Que bom que estava com Bruce, não quero ninguém magoando minha mãe.
— Não me agradeça por isto. — Bruce disse aliviado pelo garoto não ter ficado assustado com o que
presenciou.
— Não hoje, vamos para casa, não quero ficar mais um segundo nesse lugar. —
Ela disse.
— Vai ter que aguentar meu cheiro de macho até em casa. — Josh brincou e Rita sorriu.
— Por você, querido, eu aguento qualquer coisa, mesmo que talvez eu queira derrubar seu traseiro em
uma banheira quente — disse amorosa.
Eles sorriram e começaram a caminhar para fora da quadra. Josh pegou sua mochila em um canto e
reparou o queixo roxo e as mãos feridas de Bruce.
— Mama?
— Sim.
— Deve ensinar Bruce aquela coisa sobre violência — brincou e Bruce sorriu.
— Alguns? — questionou.
— Sim.
Rita ficou tensa e Josh gargalhou achando que ele estava brincando.
— Nem pensar, garoto. — Rita falou e ele revirou os olhos para mãe antes de entrar no carro.
— Não disse nada, querida — respondeu e abaixou a voz. — Não se esqueça que eu salvei seu bonito
traseiro com meus punhos hoje.
Ela entrou no carro sem responder, sabia que era verdade o que ele disse, mas não gostava de se render tão
fácil assim.
— Caímos em uma emboscada e eu não tinha muitas balas para resolver o problema — deu de ombros. —
Então, acabei optando pela luta corporal.
— Mais cinco no andar de baixo e eu estava sozinho com a pessoa que tinha que proteger — respondeu.
— Foi bom socar algumas pessoas.
— Escute sua mãe sobre aquela coisa de violência — brincou e Josh sorriu.
Josh pareceu pensar um pouco no que iria dizer, até que soltou o que veio à mente.
— Mama, confesse logo, já te disse que vejo mais do que imagina — disse sorrindo.
— Ela é muito teimosa. – Bruce disse e deu de ombros fazendo Josh rir.
— Sempre.
— Não a magoe. — Josh disse sem esconder que tinha uma ameaça atrás de suas palavras.
Mas ela não teve muita atenção, o celular de Bruce voltou a tocar e ele atendeu
rápido. Bruce não perdeu que todo bom humor de Josh se perdeu e que Rita ficou tensa. Eles ainda tinham
problemas com carro, mas não podia fazer nada, precisava atender a chamada.
— O que mais?
— Vou ter as respostas essa noite e esperar Adônis para uma reunião, ele dita os passos.
— Bom, nos vemos depois — disse Malone. — Vou acompanhar Milena e Raphael ao médico.
— Sim — afirmou. — Milena está grávida novamente, vai fazer alguns exames
de sangue e Rapha tem uma consulta de rotina hoje. Vamos aproveitar para não ter que retornar depois.
Malone questionou.
— Estou bem.
Bruce não rendeu o assunto, desligou a chamada e jogou o celular no painel. Ele estava tenso novamente,
mas Rita e Josh respeitaram o seu silêncio até que estacionou na porta da casa de Rita.
— Valeu, Bruce. — Josh disse e desceu do carro sem esperar por resposta.
Bruce segurou o volante com força, estava com raiva por Ettore estar
— Bruce?
A voz calma de Rita o fez respirar fundo, ele olhou para ela. Rita ficou em silêncio ao detectar a fúria no
olhar dele.
Bruce pegou o celular de novo e fez uma chamada rápida para Dânio.
Disse assim que o segurança atendeu sem lhe dar a oportunidade de falar algo e desligou sem esperar por
resposta.
— Você está com raiva. — Rita afirmou e ele manteve o silêncio. — Parece que voltamos à estaca zero,
pelo menos antes eu tinha respostas monossílabas, agora eu só estou tendo o seu silêncio.
— Estou com raiva, mas não é de você — disse. — Só preciso resolver alguns
problemas.
— Ettore? — perguntou.
— Sim — afirmou.
— Sim.
— Ter respostas essa noite, quer dizer que vai torturar alguém até a morte para lhe dizer onde Ettore estar.
— Ela afirmou.
Bruce ficou em silêncio e aquela foi à resposta que precisava, era sua confirmação.
— Bruce...
— Não diga mais nada, por favor, é melhor não falarmos sobre isto — disse baixo. — Não quero que se
afaste de mim sabendo do que sou capaz de fazer.
Bruce desviou o olhar para o retrovisor, um carro tinha acabado de estacionar atrás do seu Jeep. Ficou
tenso esperando por problemas. Viu um homem sair de dentro e olhar para casa de Rita. Segurou para não
bufar de ira. Ele sabia quem era, Dânio mandou fotos dele todas as vezes que vinha ver Rita e Josh.
Bruce mordeu a língua, estava com ciúmes e com raiva em ver aquele homem ali novamente.
— O que foi...
— Um amigo — respondeu.
— Amigo?
— Já disse que é um amigo, Bruce — revirou os olhos. — Ele era o melhor amigo de Rodrigo e depois da
morte dele, me ajudou muito.
Ele continuava observando os passos do homem. Frank tocou a companhia e esperou na porta.
Bruce viu Josh abrir a porta, sorrir e bater a mão na do homem em um comprimento. Josh apontou para o
carro mostrando onde a mãe dele estava e percebeu a confusão no rosto do homem.
Ele voltou sua atenção para Rita que continuava o olhando em confusão.
Sua mão segurou a nuca dela com força, para que não se afastasse, enquanto a beijava. Rita sentia-se sem
fôlego, mas sabia que Bruce não estava disposto a se afastar para que respirasse. Ele a sobrepujava com
sua boca e sua língua batalhada com a dela pelo domínio.
— Você é minha.
Rita disse devagar e pausadamente na tentativa de acalmá-lo, mas não fez nenhum efeito.
— Espero que você esteja certa, Rita, porque se ele encostar um dedo em você, eu vou matá-lo.
A ameaça estava ali em seu tom frio e calmo, fazendo-a ficar rígida sabendo que Bruce poderia matar
Frank.
dedo nele Bruce, porque aí sim não haverá perdão para você.
Ela abriu a porta do carro e foi rápida em sair para não dar a ele a oportunidade de segurá-la. Antes de
fechar a porta viu a frieza no rosto de Bruce e bateu a porta sem lhe dar nenhum tchau.
Frank sorriu e lhe beijou o rosto. Josh a olhou atentamente percebendo que o humor da mãe mudou e não
comentou nada. Juntos entraram em casa e deixaram
CAPÍTULO VINTE E UM
Bruce tremia de raiva por ver Frank beijar o rosto de Rita e logo entrar para a casa dela. Não conhecia o
homem, mas isto não esfriava seu sangue assassino.
Mil e um modos de tortura e morte passavam em sua mente. Sentia-se afrontado por ela e pelo homem,
que segundo os pensamentos possessivos e ciumentos de Bruce, queria sua mulher.
Sua atenção foi desviada quando Dânio estacionou do outro lado da rua. Ele ligou o carro e saiu em
direção ao depósito onde tinha dois prisioneiros aguardando por ele.
Por todo o caminho ele ainda tremia de raiva por alguém ter tocado em Rita.
Bruce sabia que ela não saía por aí distribuindo beijos e como prova disto, ele viu Frank beijar o rosto
dela.
Ela nunca se aproximava primeiro e de certa forma seu orgulho masculino inflou ao lembrar que ela
nunca tinha beijado outro homem desde que perdeu o marido.
O único privilegiado foi ele e mesmo assim foi ele quem a atacou naquele elevador. Esse pensamento o
acalmou um pouco, mas não durou muito. Pois ainda se lembrava de que ela tinha Frank dentro de sua
casa. Sentiu-se bravo por ver a ingenuidade dela em não perceber que o homem a queria.
Bruce estacionou e desceu, travou o carro e caminhou em passos duros para dentro. Geralmente ele seria
silencioso, mas sua raiva não permitia discrição.
Passando pelo local, foi direto para o porão e encontrou alguns de seus homens pelo caminho.
Uma porta se fechou atrás dele garantindo que estavam sozinhos naquele porão.
Viu Roy sentado em um canto tomando uma cerveja e os dois prisioneiros amarrados a um gancho no
teto, seus pés mal tocavam o chão.
Ele acenou e o homem lhe entregou uma completamente gelada, torceu a tampa
— Wow!
— Calado.
Bruce murmurou sua ordem e se sentou olhando para os dois homens pendurados. A bebida gelada ajudou
a esfriar o sangue dele um pouco.
Um gritou.
O outro resmungou.
— Seu filho da puta, me solte — ordenou o homem e Bruce o encarou em silêncio. — Eu não sei quem é
você, só me tirem daqui caralho!
— Esse é um maldito papagaio, não cala a boca nunca. — Roy disse e entregou outra garrafa para Bruce.
— Vou cortar a língua dele se não calar a boca. — Bruce disse calmo e tomou um longo gole de sua
cerveja.
— Ela te chutou para fora? Não te perdoou pelo cativeiro? — chutou possibilidades.
— Você anda ficando muito perto de Pietro. — Bruce disse lembrando-se de que queria matar o amigo
pela manhã.
Sorriu mentalmente ao perceber que Roy era tão questionador quanto o amigo.
— Minha vida pessoal não interessa a ninguém, então, guarde sua curiosidade para si.
Bruce disse baixo e colocou a garrafa vazia no chão, levantou e puxou a camisa para cima. Não tinha mais
peças de roupas no carro e não queria sujar às que usava.
— Puta merda! — Roy exclamou e Bruce se virou para olhar para ele. — Então, ela gosta de colocar as
garras de fora. — Roy brincou.
Bruce se deu conta de que Rita havia realmente o arranhado. No momento em que estava com ela nada o
importou, além do prazer dela.
Os prisioneiros perderam a cor do rosto enquanto observava cada movimento que Bruce fazia. A primeira
coisa que pegou foi um alicate e parou na frente do homem que falava muito.
— Eu quero respostas.
O homem respondeu e tremeu de medo quando Bruce agarrou seu rosto e obrigou sua boca a abrir.
O grito de dor ecoou por todo o lugar quando Bruce arrancou o primeiro dente.
Movido por ira, lembrando de todos os perigos que Rita já tinha passado por causa de Ettore, nada era
capaz de pará-lo.
Apesar da frieza de seu corpo por fora, por dentro ele queimava em uma raiva descontrolada.
Quando enfim acabou e tinha algumas respostas, dois corpos e muito sangue sobre si mesmo. Desviou a
atenção para o canto onde Roy ainda estava e encontrou nos olhos dele certo receio, o mesmo receio de
quando observavam Adônis e Apolo torturar alguém.
Caminhou até o canto do porão onde tinha uma mangueira, tirou a boxer que usava jogando-a no lixo e
lavou o sangue que manchava sua pele. A água gelada não foi capaz de acalmá-lo, mas aliviou um pouco
da tensão de seus ombros.
Roy jogou uma toalha assim que acabou. Bruce viu alguns homens entrando para iniciar a limpeza do
local. Em completo silêncio ele se vestiu, acenou para Roy e saiu dali.
Dirigiu sentindo o cansaço pensar em seus ombros, mas não parou. Foi para casa de Adônis, onde era
mais perto. O portão se abriu para ele e Bruce levou o carro para o chalé que tinha no terreno. Entrou,
tomou outro banho, desta vez mais demorado e quente. Arrastou-se nu para cama e, depois de colocar o
celular para despertar em um par de horas, adormeceu.
...
Bruce estacionou na porta da casa de Rita cinco minutos atrasado, mas sabia que ela também estaria
atrasada. Aguardou dentro do carro por quinze minutos até que a viu sair de casa com Josh ao seu lado.
Ele ficou paralisado com a beleza natural que ela exibia. O vestido cor de vinho e o blazer preto deixavam
muito para sua imaginação. Os saltos altos alongavam suas pernas, o que deixou Bruce duro em segundos
ao se lembrar de como elas o enlaçaram, com perfeição, no dia anterior. O cabelo solto e os lábios
rosados, trouxeram a vontade de agarrar os fios e beijar a boca que tanto o atraia.
— Buongiorno.
— Meu jogo é hoje à noite, você vai vim mesmo? — perguntou tentando não parecer ansioso.
— Estarei aqui a tempo de te ver jogar. — Bruce garantiu gostando que Josh quisesse sua presença.
Ele pulou para fora do carro depois de ouvir todas as recomendações da mãe.
Depois aguardaram até que Josh sumiu para dentro da escola. Bruce voltou a colocar o carro em
movimento.
Rita se virou para observá-lo sem perder nenhum detalhe. Os ombros rígidos, as olheiras escuras e a barba
de três dias. Era visível que ele estava cansado e ela queria sair desse clima pesado que estava entre eles,
mas não queria irritá-lo, parecia cansado e merecia um pouco de paz.
— Algumas.
— Algumas quantas?
— Bruce...
— Eu não sei se você sabe, mas dormir é uma necessidade básica assim como comer.
— Não me diga.
Rita se virou e olhou para a janela, agora seria ela que o ignoraria. Não queria entrar em mais uma briga,
sentia o pesar de que o clima de paz que eles passaram ontem tinha acabado.
— Percebi.
— Seu amigo não durou muito tempo na sua casa ontem — disse baixo.
— Quer mesmo falar sobre isto a está hora da manhã? — ergueu uma sobrancelha.
— Não... eu só...
Bruce ficou calado e estacionou na garagem. Ela também não esperou que ele dissesse algo, saiu do carro
e o aguardou no elevador.
Ele desceu do carro e o travou enquanto seguia até ela, colocou as mãos nos bolsos e juntos entraram no
elevador. Ficou um passo atrás dela e seus olhos correram para o corpo de Rita sem nenhuma discrição.
Bruce não aguentava mais não tocá-la. Ele agarrou sua cintura e colou seu corpo nas costas dela. Rita
arfou surpresa e ficou tensa por alguns segundos, mas relaxou ao sentir as mãos dele sobre ela. Bruce
segurou firme suas coxas prendendo-a forte, pressionando-a contra a ereção que ele tinha desde que a viu
sair de casa.
Rita se arrepiou e virou o rosto para poder beijá-lo pela primeira vez naquele dia.
Ele entendeu o pedido e beijou Rita, devagar e sensual. Os dois estavam completamente excitados, mas o
barulho do elevador parando e abrindo obrigou que se afastassem.
Ela sorriu para Bruce e ele sentiu-se se derreter por dentro em saber que aquele sorriso sincero era seu.
Aquele sorriso o fez esquecer-se de todos os problemas e só focar nela enquanto caminhavam para fora.
Rita parou em sua mesa e Bruce bateu na porta de Adônis, que já o aguardava.
— Vejo que se acertou com Rita. — Apolo afirmou e Bruce ergueu uma sobrancelha. — Você não fica
bem de batom rosa.
Apolo gargalhou.
Bruce revirou os olhos impaciente antes de levar a mão aos lábios e limpar o batom. Ele também queria
sorrir, Rita o tirava do sério e depois do beijo no elevador ele não teve capacidade de pensar em muitas
coisas que não fosse tomá-la.
de assunto.
Adônis endureceu as feições e acenou para que ele se sentasse. Apolo ainda sorria por causa do batom e
Bruce o ignorou.
— A intenção dele era pegar sua área de distribuição, por isto, começou esse inferno na nossa cabeça —
informou. — O ataque de ontem era uma tentativa de matar Rita e se conseguisse me pegar, ele queria me
torturar até a morte.
— E por que ele quer você? — Apolo perguntou descontraído.
— Como já relatei antes, tive uma pequena conversa com ele uns dias atrás e acredito que não ficou muito
feliz em ser intimidado — respondeu com tranquilidade. — Deveria ter atirado naquele idiota.
— Ele só está com o ego ferido, assim como foi com Belchior. — Adônis disse e os homens acenaram
concordando.
ela, mais precisamente, me viu a seguindo quando desconfiei da proximidade dele. Resolveu matá-la para
que não contasse que estava tentando se aproximar dela.
— Se ele te viu pode ter pensado que iríamos estragar os planos dele antes que conseguisse algo. —
Adônis disse e Bruce acenou concordando.
— E então acharia outro funcionário que lhe desse informações sobre a segurança do prédio. — Apolo
afirmou. — Talvez ele estivesse tentando pegar algum registro nosso, ou até mesmo querendo nossa
cabeça para conseguir o território.
A inocência dela era irrevogável, mesmo sabendo disto somente agora, Bruce nunca se perdoaria por não
ter impedido de voltar para o carro. Principalmente, por ter a torturado por cinco dias seguidos, mesmo
que tenha pegado, nada o faria se perdoar por ter imposto tamanha aspereza sobre a mulher que se
apaixonou.
No entanto, Bruce não se deixou levar somente pela raiva em Ettore. Sabia que Adônis se aproveitou da
situação para inserir Rita como colaboradora da organização. Respirou devagar, tentando não demonstrar
suas reações, mas seu chefe sabia que ele não era nenhum idiota. Que descobriria logo suas intenções.
Se encararam por um segundo e um recado brilhou nos olhos de Adônis. Foi melhor assim. Bruce não
disse nada, era melhor se manter calado do que prejudicar a aqueles quem agora tinha a obrigação de
proteger.
— Estou cansado desses idiotas achando que podem me tocar, Bruce. — Adônis
falou. — Vamos fechar o circo para Ettore, pegar todos os seus homens e também suas famílias. Ele foi
longe demais achando que poderia pegar algo meu.
— Vamos visitar nossos aliados e aterrorizar algumas pessoas, talvez os lembrando de quem manda na
cidade afaste esses imbecis. — Apolo disse sério.
— Eu não quero colocar a minha família em risco, ainda mais agora que Milena
está grávida. — Agora ele não tinha nenhum traço de bom humor.
— Morto. — Adônis afirmou com frieza. — Nada de traidores ao meu redor, mas mandei resgatar a
família dele — disse. — Fique de olho neles e tenha certeza de que não sabem da máfia, caso contrário,
sabe o que deve ser feito.
Bruce acenou e se levantou pronto para sair.
— Sim, chefe.
— E...
— Para casa dormir. — Adônis repetiu desta vez, mostrando que não aceitaria desculpas. — Quantas
noites sem dormir direito?
Bruce saiu sem olhar para trás, concordando que Apolo era um idiota.
Mas sorriu ao passar a língua no lábio inferior, não se importava em usar o batom tirado diretamente da
boca dela.
Rita sentou em sua cadeira depois que Bruce entrou para a sala de Adônis, ela sabia que eles iriam
demorar em reunião. Deixou a agenda pronta para atualizar o chefe e viu que teriam uma visita da
decoradora ainda àquela manhã. Caso Bruce demorasse muito, o responsável pela decoração iria ter que
esperar.
Pietro disse assim que assumiu seu posto ao lado da porta de Adônis.
— Ela vai tomar um chá de cadeira. — Pietro disse confirmando o que já sabia.
Voltou sua atenção ao seu notebook por alguns segundos até que o elevador apitou suavemente avisando
que pararia no andar. Rita prendeu a respiração ao ver a figura que saiu de dentro. Caminhava com o nariz
empinado ao lado de um dos seguranças do prédio, como manda a regra.
Talita Agnelli.
Mau humor encheu Rita e suas feições endureceram. Não tinha a menor paciência para lidar com Talita
depois da noite anterior. Viu que ela ficou surpresa ao vê-la sentada a aguardando, mas logo tinha se
recuperado.
Continuou caminhando em sua direção com ar de superioridade.
Rita odiou a forma em que pronunciou seu nome, mas não se deixou ser humilhada.
— Pode aguardar ali. — Rita apontou para a sala de espera com uma enorme satisfação.
Talita lhe deu um olhar frio antes de se virar e caminhar com o mesmo ar de superioridade que chegou.
— Perdi alguma coisa? — Pietro perguntou baixo. — O que foi essa troca de farpas assassinas?
Pietro a lembrava de Josh com suas infinitas perguntas e besteiras que dizia.
Rita não o respondeu, era como colocar gasolina na fogueira, ele nunca pararia com as perguntas.
— Quer que eu a chute pra fora? — perguntou. — Não gosto de pessoas que se
Quase uma hora depois Bruce saiu do escritório. Rita olhou em sua direção e se surpreendeu ao encontrar
um leve sorriso em seus lábios.
Ele começou a dizer, mas se calou quando seu olhar varreu a sala de espera e encontrou Talita. Suas
feições endureceram, seus ombros rígidos e suas costas restas. Parecia em alerta e ficou pior quando a
mulher lhe deu um sorriso
superior.
Rita o encava com fascinação, ele parecia ter crescido uns dez centímetros em sua posição de pronto para
o ataque. Bruce voltou a encarar Rita, seus olhos estavam frios.
— Decoradora substituta. — Rita respondeu e deu de ombros. — Tem uma reunião agora para decidir o
padrão em que se deve seguir no cassino.
Ela segurou para não estremecer, o cassino tinha virado uma zona de guerra e precisaria de muitas
reformas.
— Ainda assim eles precisam adiantar o trabalho — respondeu baixo. — Para conseguirem todo o
material a tempo.
— Não precisa...
A cortou.
Rita acenou sabendo que não adiantava teimar com Bruce, principalmente, no trabalho. Ele voltou para
dentro do escritório e alguns minutos depois ela recebeu uma ligação avisando que estavam na sala de
reuniões. No escritório de Adônis tinha uma porta de acesso para a sala de reunião.
Rita abriu a porta e deixou que ela passasse primeiro. Logo após entrou e fechou a porta. Na mesa
estavam Adônis e Apolo e atrás deles, como um cão raivoso, Bruce.
— Já fui informado, sente-se e vamos direto ao que interessa. — Adônis falou curto e grosso.
Rita ficou surpresa pelo tratamento dele. Talita tinha ficado pálida, parecia não saber encarar a frieza do
olhar de seu chefe e lidar com sua voz grossa. Rita segurou para não rir, apontou onde Talita deveria se
sentar e depois se sentou ao lado de Adônis.
A reunião começou tensa, porém, logo tornou profissional. Apolo ditava suas ideias que logo era discutida
com o irmão. Já que Adônis gostava de um estilo mais discreto e Apolo não negava ao luxo e
extravagâncias. Talita acompanhava tudo atenta e dava suas ideias.
Entretanto, havia dois fatos que conseguia deixar Rita irritada. Primeiro, o fato de que Talita sempre
desviava seu olhar para Bruce e sorria de forma provocativa, flertando com ele sem esconder suas
intenções. Segundo, a cada fala tinha uma provocação para Rita. Era como se fosse superior a ela, por
Rita ser uma secretária. O olhar de Talita mostrava que não acreditava que Rita merecesse ser secretária
executiva dos homens que estavam naquela sala.
O sorriso que apareceu nos lábios de Apolo fez Rita querer tremer. Descobriu que aquele sorriso travesso,
em algumas situações, significava que iria fazer alguma maldade.
Mas eu não gosto da forma que está tratando nossa secretária, assim como não gosto da forma que sempre
desvia seu olhar para Bruce. — O sorriso dela morreu. — Poderia me dizer o motivo? Estou curioso.
Talita ficou tensa, era fácil ver que ela não esperava por aquela pergunta. Talvez tenha pensado que os
Albertini seriam tão arrogantes como ela. Rita admirou como ela recuperou o controle de suas emoções
rapidamente. A encarou de forma desafiadora, provocando a dizer.
— Não a trato de jeito nenhuma — respondeu com superioridade. — Afinal, não me misturo com pessoas
de classe tão baixa.
— Pelo que entendi, vocês se conhecem da escola de Josh. — Apolo disse como se fosse muito próximo
do filho de Rita.
Talita o olhou confusa, como se não entendesse como ele poderia saber daquilo já que não disse.
— Esse homem com cara de cão raivoso é o nosso chefe de segurança. — Apolo
brincou por um segundo explicando e depois fez seu rosto ficar frio. — Ainda estou confuso, como ela
pode ser de uma classe baixa se vocês frequentam o mesmo lugar.
— Oh, por favor, não se confunda — disse desdenhosa. — Não gosto dela e da forma como cria aquele
pobre garoto. O menino é quase um selvagem, agrediu um colega da turma com um soco no olho...
lugar e ficar com medo de perder seu emprego — disse com prepotência. —
Imagino que esteja tendo um caso com o chefe de segurança, mas acredito que ele mereça alguém melhor
do que você.
Suas mãos começarem a tremer com a fúria que se formava em seu peito. Talita
estava atravessando limites que não deveria. Rita nunca entendeu o motivo da implicância dela, nunca deu
motivos. Mas agora percebeu que não precisava de motivos, Talita gostava de espalhar seu veneno por aí
para se sentir melhor.
Rita respirou fundo antes de afastar sua cadeira, começou a dar a volta na mesa determinada a acabar com
aquela mulher ofensiva. Nunca deu liberdade a ela para se meter em sua vida pessoal, era o momento de
colocar um ponto final naquela história.
— O que pensa que está fazendo? — questionou. — Volte para o seu lugar —
ordenou.
Rita não parou, continuou andando devagar até a mulher. Seu corpo tremia de raiva a cada passo que
dava.
Não precisou de muito para Rita agir, as ofensas ainda repetiam em sua mente como um mantra. Era a
última vez que Talita iria humilhá-la. Em um piscar de olhos, a mão de Rita se ergueu e acertou um forte
tapa no rosto de sua rival.
Talita gritou quando o rosto flamejou. Antes que pudesse reagir outro tapa veio, com a mesma força, e
outro. Ela tropeçou para trás e Rita agarrou seu cabelo pela nuca.
Arrastou-a em direção ao elevador de emergência. Talita perdeu um de seus sapatos no caminho, ela
gritava alto de dor. Os dedos de Rita estavam cravados em seu cabelo como garras de ferro, incapaz de
soltar. Ela também não conseguia dar atenção aos protestos de Talita, estava com tanta raiva que seus
ouvidos pulsavam a cada batida frenética de seu coração.
com mais dois tapas. Sangue desceu do canto da boca da mulher, gritou parecendo horrorizada. Rita não a
ouviu, a jogou dentro e tremeu em fúria.
— Quando for ofender alguém, pelo menos saiba se defender antes! — disse bradou.
— Você ainda não me viu louca — avisou. — Não fale nunca mais do meu filho, não ouse dizer algo do
meu marido — ordenou furiosa. — Não fale da minha família.
A mulher tinha um olhar arregalado e ofegava quase que sem entender o que estava acontecendo.
— Essa é a última vez que eu lhe dou um aviso, Talita, na próxima eu mesma vou fazer questão de
enterrar seu corpo morto — ameaçou. — Porque é isto que vai acontecer se continuar a ofender a
memória do meu Rodrigo ou por insultar meu Josh — tremeu. — E nem se atreva a dizer algo do meu
Bruce. Nem mesmo
olhe na mesma direção dele, ou que Deus te ajude, porque eu vou lhe bater até a morte.
Rita deu um passo atrás e Pietro passou por ela, não tinha visto o homem entrar na sala. De forma quase
que rude, ele se abaixou, agarrou o braço de Talita trazendo-a em seus pés.
— Vou te acompanhar até a saída e aguardarei que suas coisas sejam entregues.
O tom de voz de Pietro fez Rita estremecer, aquele tom calmo e frio nunca significava boa coisa. As
portas se fecharam e foi a última vez que ela olhou para Talita.
O som de palmas a vez virar em seus pés, Apolo ria e aplaudia como se tivesse visto um show de talentos
emocionante.
Adônis tinha um sorriso malvado nos lábios, também parecia ter apreciado o show.
E Bruce?
De repente, tudo aquilo estava sendo demais para Rita. A raiva incontrolada a
levou ao limite e sentia-se pronta para deixar uma enxurrada de lágrimas saírem.
Se enrolar em algum lugar e não sair até que tudo volte ao seu lugar.
Tudo se acumulava dentro dela a sufocando aos poucos. Olhar para aqueles homens depois de ter
ameaçado a vida de uma pessoa a levou ao pânico.
Percebeu que mesmo que fosse para defender sua família ela estava se acostumando com as brutalidades
da máfia.
Rita estremeceu e não encarou os irmãos Albertini, virou em seus pés e caminhou para fora daquela sala o
mais rápido que conseguiu.
...
Bruce estava orgulhoso de Rita, mas agora se sentia preocupado ao vê-la correr para fora. A gargalhada de
Apolo se calou e Adônis continuou quieto. As cadeiras dos dois se viraram para Bruce no mesmo instante.
— O que ainda está fazendo aqui? — Apolo perguntou sem deixar de sorrir.
— Diga isto só por você. — Adônis completou interrompendo o irmão que revirou os olhos.
— Ela está em pânico com a raiva que sentiu. — Apolo explicou e Bruce começou a se mover para ir
atrás de Rita. — Tire suas roupas e acalme ela, não me decepcione Bruce — gritou.
Saiu a tempo de vê-la entrar no banheiro feminino. Estava preocupado, nunca imaginou que a reunião
terminaria daquela forma ou jamais teria permitido que Talita continuasse no prédio. Assim que a viu na
sala de espera, Bruce voltou para informar Adônis e Apolo da situação e de como não confiava na mulher.
Já que ela sempre arrumava um jeito de humilhar Rita ou tocar em suas feridas,
Entrou no banheiro e trancou a porta, encontrou Rita soluçando debruçada em cima de uma pia tentando
lavar o rosto.
— Rita — murmurou.
Ela ficou tensa.
Ele caminhou para dentro e no armário pegou uma toalha branca. Segurou os ombros de Rita e a virou
para ele, a dor em seus olhos o fez se sentir mal. No entanto, não se afastou. Desejava cuidar dela.
Outro soluço saiu de seus lábios e Bruce a abraçou, dando-lhe o conforto que precisava. Pegou Rita em
seus braços e caminhou com ela, chorando baixinho em seus braços, até o elegante sofá que tinha no
canto.
— Eu bati nela.
— E ameacei.
— Ameaçou — confirmou.
garantiu. — Você está certa em defender quem ama. Ninguém vai julgá-la por isto.
Ela chorou mais alto desta vez e se agarrou ao corpo de Bruce como se fosse sua tábua de salvação. Ele
ficou ali, com Rita em seus braços, segurando-a e mostrando que não iria a lugar nenhum.
E quando enfim Rita se acalmou, Bruce ergueu seu rosto e limpou as marcas de lágrimas.
— Não se sinta mal por defendê-los, querida, está tudo bem — garantiu. — Eu vou ter a certeza de que
nunca mais precise encontrar com aquela mulher —
Entendeu?
Rita ofegou quando ele simplesmente a atacou, beijou-a duramente, afastando todos os sentimentos que a
afligiam. Depois que a surpresa passou, ela abriu os lábios e deu a ele passagem em sua boca.
Ela entendia e acreditava que ele faria de tudo para protegê-la. A intensidade de seu olhar mostrava o quanto
era sincero em suas palavras, quando garantiu que nunca iria permitir que alguém a ofendesse ou fizesse
chorar novamente. Atrás de suas promessas também havia uma ameaça de quem a ferisse, física ou
mentalmente, sofreria em suas mãos.
Bruce se levantou carregando-a, fazendo que se sentisse leve e feminina em seus braços. Depositou-a sobre o
mármore branco da pia. Se afastou por um instante antes de abrir suas pernas e se encaixar no meio delas.
A primeira roupa a cair foi o tradicional terno preto que ele usava todos os dias.
Depois que passou por seus fortes braços, foi descartado no chão. Bruce desfez o nó de sua gravata sem
desgrudar os lábios exigentes dos de Rita. Puxou o tecido pela gola que teve o mesmo destino que o terno.
Rita não o ajudou a se despir, suas mãos estavam grudadas nos cabelo da nuca de Bruce. Aproveitando que
ele estava deixando os fios crescerem para puxá-los enquanto se exploravam em um beijo enlouquecedor.
Antes que percebesse, Bruce já tinha se livrado da camisa social preta e sua pele levemente bronzeada estava
exposta para suas mãos. Uma mão de Rita largou o cabelo e apertou a massa de músculos do braço dele.
Um gemido alto foi ouvido e Rita custou a perceber que o barulho veio dela.
Bruce tinha rasgado a fina renda de sua calcinha e a arrancado de seu corpo.
Outro gemido de pura satisfação saiu de sua garganta. Os grossos dedos dele a acariciaram espalhando a
umidade que se fazia presente no meio de suas pernas, devido ao tamanho de sua excitação.
Rita puxou sua boca para longe da dele e o olhou com os olhos nublados pelo prazer em tê-lo massageando
seu clitóris inchado. Quando um dedo deslizou para dentro dela Rita gemeu alto.
— Bruce — choramingou.
— Sim, querida.
Ela não conseguiu concluir o que estava dizendo, Bruce tinha puxado seu dedo para fora e deslizado dois de
volta para dentro dela. Rita se segurou mais forte a ele com medo de cair, por se perder no meio do mar de
prazeres, quase que insanos, que se sentia.
A adrenalina de bater em Talita e do choro ainda estavam muito presentes em suas veias, fazendo a
experiência com Bruce naquele banheiro se tornar ainda mais intensa do que realmente seria.
Teve que soltá-lo quando ele começou a se abaixar. Acompanhou o olhar de Bruce descer por seu corpo e
encontrou seu vestido preso em sua barriga e suas pernas bem espalhadas, uma mão dele continuava a
estocar seus dedos dentro dela.
Sentiu a respiração dele em sua pele exposta e se arrepiou. Antes que tivesse tempo de protestar ou falar
algo, Bruce já estava com sua boca sobre ela. A atacando com tamanha maestria que fez Rita jogar a cabeça
para trás e morder os lábios, impedindo a si mesma de gritar com o prazer.
Ele era implacável, enquanto a chupava duro e firme, e seus dedos trabalhavam rápidos dentro dela.
É demais. Pensou Rita incapaz de segurar o gemido de satisfação.
O nome dele escapou de seus lábios inúmeras vezes como um mantra, tentando
memorizar cada toque de sua boca em sua pele. Mas chegou em um momento que não podia mais se segurar,
o prazer era tanto que chegou a ser doloroso.
Mais uma vez o nome dele saiu de sua boca enquanto explodia em um orgasmo
intenso, talvez o mais intenso que já teve. Estremeceu fortemente com as sensações inundando seu corpo e
um arrepio atravessou sua pele fazendo-a perder o ar.
Antes que pudesse se recuperar, viu Bruce se levantar já puxando sua boxer para
baixo. Ele ergueu suas pernas, para abraçarem sua cintura, segurou suas coxas e em um só golpe entrou nela.
Rita segurou seus ombros e mordeu com força os
lábios para não gritar. Bruce puxou o quadril e o empurrou com força novamente para dentro dela. Os dois
gemeram. Ele não parou. Balançou cada vez mais forte e mais rápido contra Rita. Estavam presos um no
outro, nada mais importava.
Somente a conexão de tinham. O prazer. O leve suor. A respiração falha. O corpo dele a invadindo. E o dela
o recebendo. Não havia nada que pudesse os separar ou diminuir os sentimentos que inflavam entre eles
naquele momento tão íntimo.
— Rita.
Quando Bruce rosnou seu nome, soube que ele estava por um fio. Agarrou o cabelo da nunca dele e então o
puxou para um beijo. O mesmo beijo duro em que eles começaram iria terminar. Ele a engoliu com a boca e
suas línguas batalharam em uma dança sensual.
Rita foi à primeira em encontrar o prazer, mas desta vez foi mais suave. Duas estocadas a mais e Bruce se
derramou dentro dela com um gemido rouco, ele estremeceu ao senti-la se apertar em sua volta.
— Amo quando sorri. — Rita sussurrou ainda com os olhos nublados de prazer.
Ele escorregou os dedos pelo rosto dela e agarrou os cabelos de Rita com carinho.
Rita demorou um tempo para raciocinar sobre o que ele havia dito. Seus olhos brilharam com a declaração
que acabou de ouvir e com a sinceridade que via nos verdes cinzentos de Bruce.
Era o que mais gostava nele, sempre que se falavam, ele a olhava nos olhos e demonstrava ser sincero em
cada palavra que a dizia.
— Eu também o amo.
Ela respondeu deixando que ele se sentisse aliviado por ouvir sua declaração sincera. Bruce sorriu
novamente e voltou a beijá-la. Rita correspondeu ao beijo e
o sentiu endurecer novamente dentro dela, porém, algo a fez congelar no lugar.
— Rita? O que foi, querida? — perguntou quando sentiu a tensão do corpo dela.
Bruce se preocupou ao ver os seus olhos arregalados, pensou que tivesse a machucado.
— Camisinha.
O sussurro dela quase não pôde ser ouvido, mas Bruce entendeu o porquê ter paralisado. Sentiu-se endurecer
ainda mais quando apreciou o calor molhado dela sem o látex para atrapalhá-lo. Nunca tinha feito sexo sem
camisinha, mas Rita o levava à beira da insanidade tirando dele qualquer pensamento sensato e responsável.
Não se arrependeu.
De repente, ela saiu de seu estado de choque e queria afastá-lo, mas Bruce não se moveu.
— Preciso ir a uma farmácia... Oh merda... Não estou no controle de natalidade... Uma pílula do dia
seguinte...
— Você enlouqueceu? — perguntou. — Per l’amor di Dio, Bruce, começamos a nos envolver ontem e você
já quer ter um filho comigo?
— Ontem começamos a nos envolver, mas há quanto tempo tem sentimentos por mim? — questionou. —
Posso responder por mim...
— Eu a quero desde o primeiro dia em que a vi entrar neste prédio para uma entrevista de emprego —
confessou. — Mas você era casada e tinha um filho pequeno. Eu a desejei desde sempre, mas nunca me
aproximei, não queria atrapalhar sua vida e muito menos a trazer para o meu mundo — disse. — Isto foi anos
atrás e hoje eu ainda te quero, a diferença é que eu te quero para mim todos os dias. Você já conhece o
mundo em que nasci e o homem que me tornei.
— Bruce...
— Eu quero você, Rita, sempre! — afirmou. — A pediria em namoro, mas a verdade é quero me casar com
você.
Preciso ir com calma. Pensou Bruce e respirou fundo. Desacelerar, para não assustá-la.
— Vamos fazer o seguinte, prometo usar camisinha sempre, mas você não vai tomar nenhuma pílula agora
— propôs.
— Bruce...
— Bruce, eu vou fazer trinta anos, não tenho mais idade para ter outro filho —
protestou.
— Besteira, você ainda é jovem e cheia de amor de mãe — disse. — Promete que não vai tomar nada?
Ela ficou em silêncio e mordeu o lábio inferior indecisa, achando aquilo insanidade.
Bruce voltou a beijá-la fazendo com que esquecesse o motivo da discussão entre
— Bruce...
Não pode mais falar, Bruce estava incontrolável quando começou a estocar rápido contra ela. Batendo em
cima do ponto mais sensível de seu corpo.
Como prometido, Bruce foi rápido em levá-los ao prazer e muito eficiente em ter a certeza de que ela
gozasse novamente. Quando se derramou dentro dela, mais uma vez naquela manhã, desejou que fosse
suficiente para engravidá-la. Já que prometeu usar camisinha nas próximas vezes e ele nunca quebrava uma
promessa.
Mesmo com a impaciente vontade em tê-la de todas as formas, como sua mulher e esposa, como mãe de seus
filhos, como sua. Bruce sabia que tinha que desacelerar, ela tinha sofrido muito quando ficou viúva e estava
acostumada a ser sozinha. Ele iria mostrá-la que as coisas mudaram, que não era mais sozinha, que o
pertencia.
Rita observou Bruce abotoar a camisa devagar e parecia preso em seus pensamentos. Ela olhou seu rosto e
viu que ele parecia mais cansado do que mostrava. Rita se sentou no sofá e continuou o olhando se vestir.
Passou a gravata pela gola da camisa e com eficiência fez um nó. Quando se abaixou para pegar o terno
percebeu que ela o olhava e, então, sorriu de leve.
Um sorriso que ela aprendeu a apreciar a cada vez que recebia um. Nunca era um sorriso aberto demais, era
sempre pequeno e discreto, mas que fazia seu coração bater cada vez mais rápido e apaixonado ao notar que
ele sorria somente para ela.
— Vou, Adônis ordenou que eu fosse para casa dormir um pouco — resmungou.
ele, preciso de algumas horas de sono. Afinal, dormir também é uma necessidade básica, não é mesmo?
Bruce fez um carinho em seu rosto e ela fechou os olhos apreciando o gesto.
Ele a beijou mais uma vez, mas desta vez foi delicado e cuidadoso. Caminharam para fora de mãos dadas e
Bruce parou na frente do elevador, levantou seu olhar e encontrou Pietro sorrindo para ele.
— Fique longe de Pietro também, ou vou ser obrigado a dar uma surra nele —
Rita estava organizando sua mesa no final do expediente e tentando não dar ouvido para as besteiras que
Pietro dizia.
— Cale a boca. — Ela pediu tentando não pensar nos acontecimentos daquela manhã.
— Ela ainda deve estar tentando entender qual foi o caminhão que a atropelou
— brincou.
Desta vez, Rita não conseguiu resistir e riu alto concordando com as besteiras de Pietro. Ainda se sentia
surpresa por ter ficado com tanta raiva, mas não podia negar a graça do fato.
— Espero que o rosto dela queime o dia inteiro, para aprender que ninguém mexe com meu filho — disse.
Eles riram e desviaram o olhar para o elevador quando as portas se abriram. Rita prendeu a respiração
quando de lá saiu o homem que tem abalado seus dias.
Bruce.
Envolto em um terno preto, que se ajustava perfeitamente em seu corpo, e com os cabelos molhados de um
recém banho, parecia mais lindo do que nunca. Ela acompanhou cada passo que ele deu em sua direção. Rita
não perdeu a forma que Bruce estreitou os olhos na direção de Pietro, que ainda sorria como sem medo do
homem que se aproximava.
Com passos perigosamente calculados, mostrando agressividade e poder, Bruce chegou até eles parando a
um metro de Pietro. Como se preferisse a distância ou seria capaz de iniciar uma briga.
— Pronta, querida?
— Sim.
— Ela tem razão, você é um idiota, mas um idiota que vai sair daqui carregando os dentes se não parar de
sorrir. — Bruce ameaçou.
— Uma pena que ela não tirou esse seu mau humor. — Pietro brincou.
— Pare de provocar Bruce ou eu vou deixá-lo te dar uma lição.
A voz de Adônis encheu a sala deixando todos surpresos, menos Bruce que tinha o visto se aproximar.
— Vamos buscar Giulia e as crianças na biblioteca de Frontin, antes que eles coloquem fogo nos livros do
avô. — Adônis disse e sorriu de leve ao pensar em como seus filhos estavam levados.
Ele olhou para Bruce e depois para Rita, reprimiu um sorriso gostando que os dois, enfim, estavam se
acertando.
— Rita?
Ela pensou em protestar, mas Adônis não aceitaria não como resposta. Se Giulia queria que ela fosse almoçar
no domingo com eles, então, ela iria, nem que fosse amarrada.
— Ficar dando ordem para pessoas e sair sem ouvir o que elas têm a dizer. —
...
Bruce estacionou o carro na escola, segurou a mão de Rita e a puxou para um beijo. Ela o correspondeu a
mesma altura, mostrando a falta que sentiu durante o dia em que estiveram afastados.
Poderia estar juntos a menos de dois dias, mas os sentimentos que tinham um pelo outro eram sinceros e
foram alimentados por muitos anos.
Quando se afastaram, ela arfou em busca de ar e ele sorriu orgulhoso ao ver que a deixou tão ofegante. Rita
levantou a mão e limpou o batom rosa dos lábios dele e Bruce mordeu de leve seu dedo.
— Quero você.
— Quero você.
— Não aqui, não me olhe assim — ordenou. — Nem pensar, vamos logo antes
que me ataque.
Bruce gemeu frustrado, sentia-se duro e louco para ter o corpo nu de Rita sobre ele. Mas ela estava certa.
— Vamos.
O tom duro dele mostrou a Rita que seu costumeiro mau humor estava de volta, mas Rita não se importou,
achava atraente sua cara fechada e somente sorriu concordando. Desceu do carro e Bruce fez questão de
pegar em sua mão, entrelaçaram seus dedos e caminharam para dentro. Rita não protestou, mas também não
era como se fosse adiantar alguma coisa. Sabia que ele não era homem de perder uma briga facilmente e ela
não estava a fim de estragar o momento de paz entre eles.
Nas arquibancadas, Bruce fez questão de se sentarem no primeiro lance. Não deixando que ela subisse e se
sentasse mais no alto, por estar sem calcinha, culpa dele, mas isto não significava que estava disposto a
arriscar que ela se distraísse e mostrasse mais do que deveria.
Mal se sentaram e Bruce percebeu a aproximação de dois homens, ele os conhecia. Um era Marzio Adamo,
pai de Rita e nonno de Josh. E o outro era Frank, o cara que fingia não querer a mulher que pertencia a Bruce
e que se passava por amigo.
— Filha?
Rita sorriu e abraçou a pai fazendo o peito de Bruce inchar ao ver como era carinhosa. Seu pai retribuiu o
abraço do mesmo modo e sorriu para ela.
— Claro que iria vir, é o meu garoto que vai jogar. — Marzio disse e desviou o olhar para Bruce.
Marzio o olhou por alguns instantes e Bruce não se intimidou com seu olhar de pai avaliador. O deixou
encarar por quanto tempo quisesse, nada faria Bruce desistir de Rita. Quando o homem na sua frente sorriu, o
alívio foi instantâneo.
— Muito prazer, Bruce. — Marzio disse. — Vejo que alguém restaurou o coração da minha menina.
— Pai!
— Pai!
— Obrigado. — Bruce respondeu e sorriu de leve ao perceber de onde Rita puxou seu jeito inconveniente e
falador.
— Quê? Eu não sou cego e nem burro, Rita, você não traria alguém para ver Josh se você não estivesse
namorando com ele. E Josh também me disse algumas coisas...
Bruce desviou o olhar para o homem calado atrás do pai de Rita e sorriu de forma maldosa, hábito que pegou
depois de sua convivência com Adônis e Apolo.
Pode desejá-la, mas ela é minha. Pensou enquanto o encarava e fechou sua expressão para mostrá-lo que era
melhor nem tentar tocar no que o pertencia.
Você a toca e eu arranco suas mãos. Prometeu em pensamentos. Seu temperamento inflou quando o homem
se aproximou de Rita e beijou o rosto dela.
Bruce acenou com a cabeça e aceitou sua mão, mas o que Frank não esperava era que ele apertaria com
força.
— Vou comprar pipoca. — Marzio disse já se afastando e não percebeu o que estava acontecendo.
Rita ficou confusa ao ver os olhos de Frank arregalar e então desviou seu olhar para Bruce, que tinha uma
expressão fria no rosto. Ainda sem entender, ela olhou para as mãos deles que se apertavam e entendeu o
motivo. A grande mão de Bruce espremia os dedos de Frank, um segundo depois ele a soltou e não disse
nada.
constrangido.
Ela respirou fundo antes de olhar novamente para o homem ao seu lado.
— Bruce! — repreendeu-o.
— Quê? Não tenho culpa se ele não aprecia um bom aperto de mãos.
A cara de paisagem que Bruce fez, foi o que mais irritou Rita. Ele tinha feito de propósito e não precisava ser
nenhum gênio para chegar a essa conclusão.
Puxando o ar com força tentou controlar a vontade de acertar o rosto dele algumas vezes também para ver se
aprendia a não ser tão ridículo, possessivo, ciumento, idiota... e lindo.
— Não vai se sentar? O jogo vai começar — disse provocando-a.
— Se fizer isto, eu vou te arrastar para algum lugar nessa escola e vou te foder.
seu amigo se atrever a tocar em você, eu vou matá-lo, entendeu? — perguntou baixo e ameaçador.
— Então, acho bom fazê-lo manter as mãos longe de você, Rita — avisou. – Ou eu vou arrancá-las e vê-lo
sangrar até a morte.
Bruce viu o medo nos olhos de Rita, tentou se arrepender, mas não sentia nenhum pouco de arrependimento
pela ameaça. Jamais permitiria que outro homem a tocasse e vivesse. Ele faria muito mais do que arrancar as
mãos do homem, o faria sofrer muito.
— Você sabe quem eu sou e o mundo que vivo, Rita — disse. — Sempre vou cuidar e proteger de você, mas
não acredite que o que sinto por você me fará mudar, mataria qualquer um que tente tocar no que é meu. E
você é minha!
Sorriu de leve para Rita e segurou sua mão ao ver que o seu pai estava retornando, acompanhado de Frank.
Marzio se sentou ao lado da filha e entregou a ela pipoca, ofereceu a Bruce, que recusou, conversaram
enquanto esperavam o início do jogo. Frank ficou em silêncio observando o gramado e Bruce interagiu com
o sogro em alguns momentos.
— Santo Cristo, vou ficar surdo assim. — Marzio protestou e Rita olhou para ele sorrindo.
— Jamais — afirmou e assoviou alto olhando para o pai, que fez uma careta.
Rita voltou a olhar para o campo, assoviou e gritou pelo filho, que logo achou a mãe. Balançou a cabeça e
sorriu com seu jeito espontâneo.
O jogo começou e ela não se sentou em nenhum momento. Mostrou a Bruce como ela era uma mãe babona e
orgulhosa a cada grito, assovio e sorriso que dava. Quando Josh pegou a bola e fez um gol, Rita foi à loucura
sem a menor vergonha de demonstrar o quanto era maluca, apoiando o filho em cada passo.
Para a diversão de Bruce, Marzio não era diferente, ele só não sabia assoviar, mas gritava e pulava com a
filha enquanto torciam pelo garoto no campo.
O jogo ficou empatado no final, mas valeu a pena cada segundo. Assim que o juiz apitou, Josh correu para
abraçar a mãe. Rita abriu os braços e o recebeu com um grande aperto quando ele se jogou sobre ela. Bruce
manteve uma mão nas costas dela para que não caísse e sorriu ao ver que Marzio tinha feito à mesma coisa.
sorrindo.
— Você é terrível, mama — disse e levantou a mão para Bruce. — E aí, Bruce?
Os dois bateram as palmas e Rita sorriu, gostando daquela interação entre eles.
Ele sorriu orgulhoso e foi abraçar o avô, que o recebeu da mesma forma que a mãe, com um grande abraço
de urso. Josh também bateu na mão de Frank e depois se afastou dizendo que iria tomar um banho no
vestiário e voltaria logo.
Bruce abraçou Rita pela cintura enquanto ela conversava com o pai. Frank se afastou um momento depois
dizendo que logo voltaria.
— Ótima ideia pai, principalmente, de que não vou precisar cozinhar. — Rita respondeu animada.
— Bom, vou buscar uma garrafa de água — disse. — Estou quase morto de sede
— Vamos te esperar aqui. — Rita falou ao pai e ele acenou concordando antes de se afastar.
Bruce segurou a cintura de Rita e a puxou, ficando com o corpo colado ao dele.
Ele fez um carinho em seu rosto e colocou uma mecha de seu cabelo para trás.
Rita sorriu e abraçou seu pescoço, gostava de quando ele era doce e carinhoso. O
que mais a encantava era seu tom de voz e o olhar sincero. Ela sabia que Bruce não era homem de muitas
palavras, às vezes quase nenhuma palavra, mas que se esforçava para se comunicar melhor com ela.
— Você é lindo — disse a ele que sorriu de leve, o mesmo sorriso discreto de sempre que amava ver.
Acompanhou seu olhar descer para seus lábios e um segundo depois sentiu seu beijo. Fechou os olhos e
apreciou a delicadeza em que era beijada. Foi um beijo curto, mas que valeu cada segundo.
Quando ele abriu os olhos o desejo de prolongar brilhava nos seus olhos verdes cinzentos, porém, um
segundo depois, o corpo de Bruce ficou tenso e seu olhar frio quando encontrou algo atrás dela.
Rita se virou rápido sabendo que alguma coisa estava acontecendo, pela a mudança rápida de Bruce.
Encontrou o motivo correndo em sua direção. Josh.
Ele estava de banho tomado, carregava sua mochila e tinha um rosto tomado pelo pânico.
Ele se jogou em seus braços e a abraçou com força. Rita quase caiu ao se desequilibrar em seus saltos, mas
Bruce a segurou.
— Ele tentou me pegar na saída do vestiário... já que fui o último a sair... quando me agarrou... pisei no seu
pé com força e depois... dei uma cotovelada no estômago... ele me soltou e eu corri para cá.
Josh acenou com a cabeça e viu Bruce tirar o celular e correr na direção que indicou. A saída. Rita voltou a
puxar Josh pelos ombros e o abraçou forte. Sua mente tinha travado assim que ouviu o nome do homem que
a queria morta.
O pânico corria fortemente em suas veias ao pensar que Ettore poderia ter machucado seu filho.
— Mama? — Josh a chamou novamente. — Está me sufocando — disse ofegante e garantiu. — Estou bem.
— Desculpe — murmurou.
Seu olhar varreu o corpo do filho para saber se ele estava bem.
— Bruce não deveria ter ido atrás dele. — Josh disse preocupado.
— Bruce?
— É mãe, o cara grande como um armário. Dois metros de altura, músculos e uma cara de mafioso do mal
— brincou. — Já se esqueceu dele?
— Tem certeza?
Completamente. Pensou ao se lembrar de como ele os salvou no atentado que sofreram na construção do
cassino.
— Sim, eu tenho — afirmou. — Se ele fosse pra guerra, seria o próprio tanque
Rita sorriu e tornou a abraçá-lo, desta vez sem tanta força. Somente queria senti-lo em seus braços e voltar a
ter a paz em saber que seu filho estava bem.
Alguns minutos depois viu Bruce se aproximar com o rosto tenso e o andar perigoso, as pessoas saíam do
caminho dele sem que pedisse.
Rita respirou aliviada em ver Bruce de volta, mesmo sabendo que ele poderia se virar muito bem sozinho.
Também se sentiu mais leve ao ver que o humor do filho tinha voltado e a expressão de pânico havia sumido
do seu rosto.
— Ele sumiu, tem muita gente aqui, fica fácil se misturar. — Bruce informou.
— Estarei pronto para pôr minhas mãos sobre ele. — Bruce garantiu fazendo o garoto relaxar. — Fez bem
em acertá-lo e correr para um lugar cheio.
Josh acenou e Bruce se abaixou para ficar no mesmo nível que ele.
— Não conte a ninguém sobre o que aconteceu hoje...
— Mas...
Bruce pediu para que ele se calasse quando levantou uma mão.
— Está vendo os cincos homens de terno preto igual o meu atrás de mim?
terno preto e o tamanho deles não permitia que fosse impossível de achar.
— São meus homens, eles estarão por perto enquanto outros procuram por Ettore. Ele não vai ficar muito
tempo escondido, porque eu vou pegá-lo —
prometeu. — Não vamos preocupar mais ninguém com esse assunto, está bem?
instruiu. — Ligue-me caso tenha qualquer coisa estranha por perto, vou chegar a você ou a sua mãe o mais
rápido que puder — prometeu.
— Bom. — Bruce se ergueu. — Vamos achar seu nonno e o idi... Frank para irmos comer em algum lugar.
— Posso saber o motivo de tanto riso? — Marzio perguntou ao se aproximar, Frank o acompanhava.
Josh deslizou seu olhar de Bruce para seu nonno e encontrou Frank, então, prendeu o riso.
— E desde quando você não está com fome garoto? — Frank perguntou.
— Não sei, diria que quando durmo, mas eu sonho com comida também —
Sabia que não demoraria para Ettore se aproximar de novo. Seu foco ficou maior em Rita, agora não se
importava se ela contaria algo ou não.
Bruce só estaria aguardando o momento em que ele seria imprudente, para fazer Ettore se arrepender do dia
que nasceu.
Todos se acomodaram do lado de fora da pizzaria, que estava bem cheia no momento, mas Marzio conseguiu
uma mesa, já que o dono era seu amigo.
coisa mais emocionante que fiz no meu trabalho foi fazer contas.
Bruce sorriu.
— Sim.
Cada vez que ouvia a voz do homem, sua vontade de socá-lo aumentava.
— Franco.
— Nunca errei um alvo — disse calmo, mas outra ameaça estava em suas palavras, quando desviou o olhar
para Frank que o encarava sério.
Conversaram mais um pouco até que o celular de Bruce tocou, ele olhou o visor um segundo e no outro já
tinha colocado em seu ouvido.
— Chefe.
Todos olharam para Bruce, ele ouviu o que Adônis tinha para dizer sem modificar suas feições e desligou
sem dizer nada. Na verdade, Adônis desligou, ele sempre fazia isto. Ligava, dava ordens e desligava sem
esperar por respostas.
— Nada difícil de resolver — respondeu e olhou para Rita. — Volto em meia hora, querida.
— Bruce...
Ele beijou os lábios de Rita rapidamente, impedindo-a de prosseguir com perguntas. O barulho de um carro
freando bruscamente chamou a atenção de todos. Bruce acenou para o pai de Rita antes de caminhar rápido
até o carro. A porta foi aberta antes assim que se aproximou, com destreza entrou e bateu a porta.
Rita quase ofegou quando o carro cantou pneu e acelerou pelas ruas.
— Como o seu chefe sabia que ele estava aqui? — Josh perguntou curioso.
— O senhor Albertini sabe até quantas vezes Bruce respira por dia — respondeu e revirou os olhos sabendo
que Adônis tinha o controle de cada pessoa ao seu redor.
— Esse cara se chama Bruce, e sim, estou com ele — afirmou. — Algum problema com isto?
— Nenhum — garantiu.
— Bom.
Josh sorriu ao ver como sua mãe era uma fera para proteger quem gostava. E só agora parou para observar as
reações de Frank, acabou concordando com Bruce.
Josh sabia que Frank estava interessado em sua mãe, mas ela nunca o deu esperanças. Gostava de Frank, mas
isto não significava que ele podia agir como um babaca. Sua mãe estava feliz e isto tinha que ser somente
motivos de alegrias
para eles.
...
Bruce pulou para fora do Jeep assim que foi freado bruscamente e entrou na caminhonete que o aguardava.
Victor dirigia e Roy estava no banco de trás com as armas.
— Vamos fazer alguns furos. — Roy disse animado e lhe passou uma máscara.
Bruce colocou sobre o rosto e pegou a metralhadora que Roy ofereceu. Em silêncio, conferiu a potente arma
que tinhas nas mãos, mesmo sabendo que seus homens já tinham feito aquilo.
Roy e Victor falavam besteiras durante o rápido caminho.
Entretanto, Bruce estava concentrado e ignorando os dois rapazes. Ainda podia ouvir a voz fria e calma de
Adônis quando atendeu o celular.
“Mandei alguém te busca, tem vinte minutos para fazer o que mandei e poderá voltar para sua mulher.”
Ele suspeitava de algo e foi confirmado assim que entrou no carro. Pedro o informou que o detetive não era
mais útil, sua fonte de informações vinha de Ettore e naquele momento estava de guarda na frente de um dos
galpões de Adônis, fazendo tocaia.
O local era distante de casas e quase não tinha movimento, o homem tinha colocado o carro debaixo de uma
árvore fora da estrada e só estava aguardando.
Bruce apoiou um joelho no banco e abriu a janela dois segundos antes do carro frear. Sabia que Roy também
estava posicionado. Eles abriram fogo, juntos. Seu corpo nem sequer balançou com a potência dos disparos.
Firmou as mãos ainda mais sobre a arma, enquanto acabavam com o carro e com a vida do detetive.
Ele e Roy garantiram que não sobrasse nenhum espaço sem furo na lataria do sedan.
Quando estavam satisfeitos um de seus homens correu até o alvo e acenou confirmando a morte do detetive
Gonçalo.
Victor acelerou para longe, fazendo a volta para encontrar com o Jeep que
Bruce devolveu a arma para Roy e começou a tirar a roupa. Limpou as mãos para apagar os resquícios de
pólvora e vestiu um terno limpo, seus homens eram eficientes e sabiam que ele voltaria para Rita.
Outros homens iriam limpar a cena do crime e jogar o corpo morto do homem
em algum lugar. Poderia ter matado o detetive de outra forma, mais discreta, mas aquele era um jeito de
informar aos seus inimigos quem manda na cidade.
— Valeu, cara.
Roy gritou assim que Bruce pulou para fora da caminhonete e entrou no Jeep onde Pedro dirigia.
Pedro sorriu concordando e pisou fundo no acelerador, somente diminuiu a velocidade quando estavam
próximos e parou devagar para não levantar suspeitas.
Bruce desceu do carro e encontrou Rita e sua família no mesmo lugar, conversavam distraídos e só o notaram
quando se aproximou.
Bruce desviou o olhar para o garçom que trazia a pizza sobre uma pedra.
Ele tinha chegado a tempo de acompanhá-los para a refeição, pediu uma bebida sem álcool e beijou Rita. Ela
olhou em seus olhos tentando descobrir o que tinha ido fazer, mas Bruce não demonstrou nada, como
sempre. Ele somente piscou para ela e voltou sua atenção ao garçom que lhe serviu uma fatia de pizza.
A noite foi agradável, apesar da presença irritante de Frank. Bruce manteve a calma todas as vezes que foi
provocado e nenhuma vez sacou sua arma para atirar no homem que não escondia que queria algo que
somente o pertencia.
O que foi um alívio ver que ele manteve seu controle, mas isto não significava que Bruce não estaria pronto
para ir atrás de Frank mais tarde.
— Mama?
Estava cansada de seu dia e semana de trabalho, e agora estava quieta enquanto Bruce os levava para casa.
— Sim.
— Ele me contou hoje, estava triste porque a mãe dele o deixou, mas disse que ela não o tratava bem —
explicou.
— Acho que ele vai ficar bem com a nonna, sua mãe o tratava mal e ele é um cara legal. — Josh disse.
— Talvez seja o melhor para ele. — Rita disse sem desviar os olhos de Bruce.
Ela sabia que ele tinha algo a ver com aquele assunto.
Voltaram a ficar em silêncio por todo o caminho e quando Bruce estacionou na porta da casa dela. Josh foi o
primeiro a sair, como sempre fazia, para deixar que a mãe conversasse com Bruce e se despedisse.
— Eu?
— Bruce. — repreendeu-o.
— Maldade é ela maltratar aquele garoto — afirmou. — Ele vai ficar bem sem
ela, e não, eu não fiz nada com ela — deu de ombros. — Talvez algumas ameaças, ordens diretas de Adônis
— defendeu-se. — Ele a expulsou da cidade depois de descobrir algumas coisas erradas que fez por aí.
— E por acaso ele pode expulsar alguém da cidade? — perguntou ainda brava.
Bruce somente ergueu uma sobrancelha como se aquela fosse à pergunta mais idiota que já ouviu.
— Sim.
— Todo mundo tem esqueletos no armário e o dela não era nada bonito — disse.
— Sonegação de impostos, traía o marido e outras coisas que foi possível chantageá-la para sair da cidade e
não voltar mais.
— Que dia! – murmurou. — Ou melhor, que semana! Parece que não vai acabar
nunca.
Ela o olhou e permitiu que a beijasse. Começou devagar e lento, para se tornar quente e necessitado. Mesmo
não querendo admitir, Rita sabia que nunca mais seria a mesma depois de deixá-lo tocá-la.
— Tem certeza?
Pareceu surpreso.
— Vai mesmo me dar tempo para pensar se eu o quero ou não você na minha cama a noite toda comigo?
— Vamos — afirmou.
— Josh...
Bruce respondeu enquanto observava o garoto pegar a mochila e o par de tênis descartado no chão. Ele sorriu
de leve para eles e subiu as escadas.
— Tem certeza que quer que eu fique? — perguntou não querendo causar nenhum mal-estar entre eles.
— Tudo bem, vou no carro pegar uma roupa e fazer algumas ligações.
Ele beijou-a devagar e lento antes de voltar a sair da casa em direção ao carro.
Rita suspirou e subiu as escadas, parou na porta do quarto de Josh e bateu de leve antes de entrar. Ele estava
deitado sua cama com os braços atrás da cabeça e olhando o teto.
— Filho?
Ela se moveu na cama, levantando de leve para encarar o filho nos olhos.
— Eu sempre vou amar seu pai — disse baixo. — Rodrigo foi meu primeiro amor e era totalmente diferente
de Bruce. O que tive com seu pai foi um amor leve e suave que fazia bem para minha alma — explicou
amorosa. — Mas isto
não quer dizer que eu não possa amar mais ninguém — disse emocionada. —
— Intenso — respondeu e sorriu. — Seu pai sorria e falava fácil, era divertido e
— Ele sempre chamou minha atenção por causa disto, sempre calado e fechado
— contou. — Era praticamente a sombra de Adônis e aquilo me intrigava. Eu poderia fazer mil e uma
perguntas que ele não me responderia — sorriu. — Se respondesse seria com uma irritante resposta
monossílaba.
— Sim — concordou. — Ainda não estou acostumada em como você está crescendo rápido.
— Você sempre vai ser meu bebê — afirmou e apertou as bochechas dele.
— E vai fazer parte da família zumbi sugadora de sangue que estamos nos tornando.
— Como eles são chatos — riu e se levantou. — Você está bem? Precisa de algum remédio para dor
muscular?
— Estou bem.
Rita saiu do quarto do filho aliviada por ter tanta liberdade em conversar com
ele. Entendia os seus receios e medos, chegou até mesmo a cogitar a ideia de pedir para Bruce ir embora.
Achando que tinha se precipitado.
No entanto, quando desceu e o encontrou sentado em seu sofá conversando baixo no celular, soube que tinha
acertado em pedi-lo para ficar.
Ela já tinha superado o luto há muito tempo e agora estava pronta para outro relacionamento. Mesmo
achando que poderia ser loucura, já que Bruce não conhecia o significado da palavra devagar. Dois dias
juntos e eles já haviam feito sexo loucamente, ele afirmou que queria compromisso sério com ela, e também
existia a possibilidade de uma gravidez. Já que não tinha usado camisinha quando estiveram juntos naquela
manhã.
Rita acreditava estar enlouquecendo pelo simples fato de que ainda não tinha pirado e aceitado tudo com
tanta facilidade.
— Sim — afirmou.
— Posso ir...
— Ele está bem, só estava com receio de que seu pai fosse esquecido — contou.
— Expliquei que isto nunca seria possível — sorriu. — Então, meu filho de doze anos que parece um adulto
me mandou te colocar para dormir, porque acha que você nunca fez isto, e que a qualquer momento vai virar
um zumbi também —
brincou.
— Não estou pronta para deixá-lo crescer — disse e deitou a cabeça no peito de
Bruce.
Rita riu e eles ficaram em silêncio, até que a curiosidade despertou Bruce.
— Sim.
Rita ficou tensa e sentiu Bruce afagar suas costas, respirou fundo e decidiu responder. Afinal, Bruce sempre
contava tudo sobre sua vida e merecia o mesmo.
suspirou.
— O que aconteceu?
— Eu me perdi no meio da dor que senti, meu luto foi forte, quase morri de tanta tristeza. Cuidava do Josh
no automático com a ajuda do meu pai, que também estava sofrendo — murmurou. — Um dia meu corpo
não aguentou, fui internada
e fiquei alguns dias lá para me recuperar. Então, minha ex-sogra aproveitou para ficar um pouco com Josh.
No momento eu não me importei, já que não esperava que ela fosse fazer o que fez.
Rita se calou e respirou devagar tentando ignorar o caroço que se formava em sua garganta.
— Ela juntou todas as coisas dele e o levou embora para Nova York, onde mora até hoje — disse e raiva
brilhou em seus olhos. — Quando descobri o que aconteceu movi céus e terras para buscá-lo, mesmo ainda
imersa no luto. Meu pai usou seus contados e um advogado foi comigo buscá-lo. No início se negou a
devolvê-lo, a polícia considerou sequestro de menor. Não sei como ela conseguiu levá-lo sem a autorização
devida, mas isto não importa — disse firme.
— Fui e peguei meu menino, mas antes de sair de lá eu lhe dei uns bons tapas.
— Sim, aquela vaca — xingou. — Meu advogado lhe deu uma ordem de restrição, ela nunca mais pôde se
aproximar do meu filho até que ele tenha dezoito anos e decida o que quer — afirmou. — Mas ela deu uma
ferrada na
mente de Josh — suspirou. — Disse a ele que eu não o queria mais. Que meu amor pelo pai dele era maior
do que o que sentia por ele. Ele era só um bebê que não entendia muito as coisas, mas que passou pelo
acidente... o carro que explodiu na frente de nossos olhos... e vem aquela mulher roubar meu filho.
— Ela nunca mais voltou?
— Tentou no início, mas quando viu que eu não iria ceder, ela desistiu.
— Bom.
Bruce levantou o rosto de Rita e a beijou com a clara intenção de fazê-la esquecer das coisas que estavam
conversando. Ela retribuiu o carinho e os dois se perderam, um nos lábios dos outros.
Precisava dela nua e sobre ele. Ela não protestou, sentia-se da mesma forma. Os dois estavam viciados um no
outro.
Depois de colocá-la sobre a cama, os dois se amaram intensamente, sem se importar ou lembrar-se de
qualquer outra coisa.
Bruce despertou quando ouviu um leve barulho. Rita continuava dormindo na mesma posição de conchinha
com ele, usando seu bíceps de travesseiro e ele segurava sua cintura com o outro braço.
Levantou a cabeça ao ver uma luz fraca pela fresta da porta e então ouviu alguns passos leves. Sentiu-se
tenso por um momento e até mesmo pensou em pegar sua arma, mas não o fez. Se fosse alguém tentando
matá-los, seria mais cuidadoso com passos e não acenderia a luz. A porta se abriu devagar e lá estava a
pessoa que fez o barulho que o acordou.
Josh.
Carregava um travesseiro e uma coberta, usava somente a calça de flanela de seu pijama e o olhava ansioso.
Bruce acenou com a cabeça e o garoto pareceu aliviado quando caminhou para dentro e fechou a porta
devagar.
Bruce se lembrou de que Rita ordenou que ele usasse pelo menos a boxer, já que tinha a certeza que Josh
apareceria no quarto em algum momento. De início não entendeu, então, ela explicou que o medo que ele
sentiu ao quase ser pego por Ettore o traria a sua cama quando acordasse. Ela vestiu uma camisola de ceda
rosa claro e se aconchegou a ele, logo caiu no sono por causa da exaustão, depois de três rodadas de sexo
intenso. Eles tinham sido cuidados em trancar a porta e não fazer muito barulho enquanto namoravam, mas
depois de se vestirem ela destrancou a porta.
O movimento na cama chamou sua atenção, Josh deitou ao lado da mãe. Como
O silêncio ficou entre eles por alguns segundos até que Josh voltou a falar.
— Bruce?
— Sim?
— Você sente falta do seu pai? — questionou surpreendendo Bruce.
— Por quê?
— Eu sinto falta do meu pai, mas quase não me lembro dele — divagou. —
— Não é estranho, ele foi um bom pai para você e querer que ele não tenha ido é normal. — Bruce o
confortou.
— Minha mãe sempre diz que ele me amou muito quando era vivo.
— Sim.
— Sério?
daqui um tempo.
— Tudo bem, posso viver com isto — disse. — Sabe por que eu não me importo
Bruce ficou em silêncio surpreso com o rumo que aquela conversa no meio da madrugada, com o filho da
mulher que ele ama e que passou horas fazendo sexo, estava tendo.
— Sentir?
— Sim, nem que seja raiva — brincou e Bruce sorriu. — Ela não tinha brilho e há alguns meses isso mudou,
você a mudou.
— Não me agradeça por isto, amo sua mãe, mas nunca vou querer tomar o lugar do seu pai — prometeu.
Eles ficaram quietos até que Bruce sentiu a respiração de Josh mudar, comprovando que ele estava dormindo.
A cama ficou um pouco sem espaço com
o novo corpo sobre ela, mas Bruce nunca se sentiu tão bem quanto naquele momento. Jamais negaria a ele a
oportunidade de deitar na cama da mãe, também não ocuparia o lugar de seu pai.
Sabia que eles nunca deixariam de amar Rodrigo, mas havia espaço para um novo amor ali.
Um novo relacionamento.
Bruce estava disposto a dar o seu melhor para que desse certo.
...
Bruce acordou assustado por não lembrar direito onde estava ainda inerte de sono. Deparou-se com uma
cama vazia e lembranças vieram em sua mente.
Suspirou sabendo que sobreviveu a uma noite com Rita, e Josh grudado nela.
Rolou para fora ainda surpreso pelo sono pesado que teve, coisa que não acontecia há muitos anos.
Tomou a liberdade de tomar um banho na suíte dela e depois de se vestir, desceu as escadas procurando pelos
dois. Encontrou Josh tomando café na ilha da cozinha ainda vestido somente com a calça de seu pijama. E na
frente dele estava a mulher mais linda que ele já conheceu. Rita. Um hobby de seda envolvia seu corpo,
cobrindo somente até suas coxas nuas.
— Buongiorno.
— Oh, merda. — Bruce xingou percebendo que ainda tinha um trabalho a zelar.
Ele puxou o celular do bolso se lembrando de que não olhou se tinha alguma chamada. Empalideceu quando
viu que já era nove da manhã e leu algumas mensagens de Adônis.
— Nunca dormi tanto na minha vida, não ouvi as mensagens do chefe — disse e fez uma careta fazendo o
garoto ao seu lado se divertir com a situação.
— Sim.
— Claro.
Tomaram o desjejum juntos e tranquilo. Bruce fez algumas ligações e depois foi jogar com Josh, depois de
muita insistência sua mãe permitiu.
Adônis tinha dado a ele o dia de folga e Bruce apreciou isto. Não sabia quando foi a última vez que tirou
uma folga e esperou que Pietro tivesse bastante trabalho para compensar as horas que ele o perturbava.
Bruce passou o dia na companhia de Rita e Josh, jogou algumas partidas com o garoto e beijou Rita várias
vezes escondido. Os levou ao mercado e depois pararam para tomar um gelato próximo à casa dela.
Quando anoiteceu, Bruce esperou Josh ir dormir para então ter o que tanto esperou por todo o dia.
Levou-a para cama e fez amor com ela por incontáveis horas até que seu celular tocou e precisou sair para o
trabalho. Rita não gostou muito de ser deixada depois do que fizeram em sua cama, mas entendeu que não
tinha como lutar contra aquilo. Deu uma chave reserva para ele, assim quando terminasse, o que foi fazer,
poderia voltar para sua cama.
O domingo amanheceu preguiçoso para Rita, mas ao sentir o calor de um grande corpo prensado em suas
costas se despertou. Bruce retornou no meio da madrugada e ela não tinha percebido. A segunda coisa que
percebeu era que ele estava completamente nu e excitado, como qualquer homem pela manhã.
Rita sorriu sabendo que estava o provocando. Ficou quieta por um minuto e depois se remexeu contra ele.
— Rita.
Agora ele não parecia tão sonolento, sua voz veio com um tom de aviso e ela gostou da sensação de perigo
que soou. Esfregou-se mais contra ele e sentiu a mão de Bruce segurar sua coxa, a puxou contra seu corpo
duro. Contudo, não durou muito, ele a soltou logo e se inclinou sobre ela.
— Eu vou te foder.
Não era um pedido e sim uma afirmação.
Rita sorriu animada e deixou que ele fizesse o que queria com ela. Estava a sua mercê. Apesar do rosto
marcado pelo sono, Bruce tinha um olhar quente.
Mais tarde ela saiu do quarto deixando um Bruce completamente morto em sua
cama. Ele parecia cansado e Rita se sentiu um pouco culpada por ter o provocado, aquele sentimento não
durou muito.
Rita estava mais do que satisfeita sabendo que valeu cada segundo em que ele a beijou, cada canto do seu
corpo, a levou a beira da loucura tomando-a de forma selvagem.
Balançou a cabeça pensando que ele poderia dormir mais um pouco em seu quarto em vez de insistir em ver
TV àquela hora da manhã.
Foi para cozinha e preparou um café. Se deitou no sofá com Josh e o aconchegou em seus braços como
sempre fazia.
Duas horas mais tarde, Bruce desceu as escadas completamente arrumado em um terno preto. Rita se sentiu
encantada quando viu o rosto dele. Não tinha mais aquela sombra mal-humorada que se acostumou em ver.
Ele parecia relaxado e
tranquilo.
O cheiro dele a fez sorrir, gostava do perfume masculino e o frescor que tinha.
— Acho que não, mas estou indo chutar o traseiro de um idiota — respondeu.
da senhora Jianne Albertini, até a casa do chefe. — Bruce sorriu e olhou para Josh. — Nada de chutar
traseiros por aí, garoto, me chame quando for preciso, não ligo para essa coisa de violência.
Rita olhou para o filho que ainda ria e tentou não rir.
— Nem pense nisto, ouviu?
— Ah, mama.
— Não pense em chamá-lo para bater em alguém ou vai ficar de castigo até completar vinte anos.
Ele riu e os dois seguiram naquela conversa por mais um tempo, antes de irem se arrumar para o almoço na
casa de Adônis e Giulia.
Bruce retornou no tempo estipulado e teve que esperar Rita se arrumar, algo que ele já deveria ir se
acostumando se quisesse continuar com o relacionamento. Ela demorava muito para se aprontar e Josh não
ficava atrás, o garoto demorava em sair do chuveiro e era muito vaidoso.
Esperar era uma coisa que ele não estava acostumado. Sempre foi pontual e nunca se atreveu em deixar
Adônis esperando. Quando, enfim, Rita desceu ele esqueceu tudo e somente se importou na bela mulher que
tinha ao seu lado.
O almoço na casa do chefe da máfia foi tranquilo e animado. Coisas que Rita nunca imaginou que seria. Ver
Adônis e Apolo em um ambiente tão familiar como aquele, a surpreendeu. Claro que ela já tinha presenciado
situações deles com suas esposas e filhos, até mesmo frequentado suas casas quando eles não estavam, tinha
se tornado amiga de Giulia e Milena, mas vê-los completamente relaxados era algo que nunca imaginou.
Foi muito bem recebida por Giulia e sua sogra, dona Jianna. Depois de tantos anos de trabalho na
construtora, Rita já conhecia todos e se sentiu muito à vontade entre eles. Menos no momento em que Apolo
contou a todos como foi
que ela chutou Talita para fora do prédio na sexta-feira. Josh ficou um pouco surpreso, mas depois sorriu
pedindo mais detalhes do que havia acontecido.
Claro que Apolo não negou, narrou tudo e até acrescentou coisas a história.
O momento em que Apolo não riu muito foi quando Marion e Frontin começaram a perturbá-lo por ser pai
de uma menina agora. Sim, Milena está grávida de quase quatro meses e gerava uma linda menininha. Claro
que Apolo
estava animado com a notícia, mas também paranoico. Não escondeu o fato de que sua filha seria colocada
em um internato de freiras e cada vez que um garoto respirasse ao lado dela ele iria matá-lo por tamanha
ousadia. Adônis concordou com o irmão e garantiu que a mesma coisa ia ser feita com Lilian, mas ele não
deixou de provocá-lo dizendo que Apolo pagaria todos seus pecados com juros e correção monetária nas
mãos de sua pequena princesa.
Suas esposas somente riam deixando os maridos se iludirem, acreditando que iriam prender suas meninas.
Rita entendia o porquê delas não discutirem.
Aqueles homens ao seu redor eram bons em discussão e não entravam em uma
briga para perder. Naquele momento, poderiam acreditar nas besteiras em que diziam, mas elas jamais
permitiriam tal coisa, o que deixou a conversa ainda mais divertida.
Quando a tarde chegou, ela voltou para casa se sentindo cansada, mas era um cansaço bom. Há muitos anos
não se divertia tanto, uma leveza encheu seu coração e ela pode dormir tranquila sabendo que teria uma
longa semana de paz.
— Josh!
Bruce quase estremeceu quando Rita gritou pelo filho. Ele respirou devagar e levou a xicara nos lábios, o
sabor do cappuccino o ajudou a relaxar. Havia se passado pouco mais de um mês que estava namorando Rita,
e desde então, nunca mais teve uma manhã silenciosa.
A primeira e mais difícil coisa que teve que se adaptar era a falta do silêncio. Os dois sempre estavam
animados demais para uma manhã. Não importava qual dia fosse, sempre teria conversas e risos. No entanto,
Bruce não reclamava. Tudo aquilo preenchia um vazio que ele nem sabia que tinha dentro de si.
A segunda coisa que teve que se acostumar era com os atrasos pelas manhãs.
Algo inevitável. Rita enrolava na cama até o último minuto possível e Josh se esquecia do mundo quando
estava tomando banho. Não havia nada que pudesse
ser feito para mudar aqueles hábitos e pelo jeito também não adiantaria muito.
Então Bruce se sentava na bancada, tomava seu café tranquilamente e resolvia alguns de seus problemas pelo
telefone. Enquanto Rita ameaçava Josh com castigos por demorar muito no banheiro.
Um pequeno sorriso se formou nos lábios dele quando percebeu que não trocaria aquela nova rotina nem por
um milhão de dólares. Estar perto de Rita fazia qualquer outra coisa perder a importância.
Durante esse tempo que se passou, ele dormiu quase todas as noites na cama dela e não houve outro episódio
com Josh invadindo o quarto de madrugada.
Acreditava que o garoto tinha realmente se assustado naquele dia, por isto, precisou se sentir mais seguro
durante a noite, no que seria na cama da mãe.
— Joshua! – gritou. — Se não descer em um minuto, não vou mais permitir que viaje com a escola —
ameaçou.
Encontrava-se tão distraído em seus pensamentos que não percebeu que Rita estava pronta para arrancar as
duas orelhas do filho, que ainda não tinha descido.
— Ele vai descer, querida — disse baixo e descansou sua xícara na bancada.
Bruce a observou preparar o café para o filho e não perdeu a forma como seus ombros estavam rígidos.
— Estamos atrasados, ou melhor, você está — disse. — Tinha que chegar mais
cedo hoje e não vamos conseguir.
— Mas...
Ele a interrompeu.
— Nada de “mas” hoje, ele vai viajar com a escola e vai se divertir — disse firme. — Conversamos sobre
isto.
— Sei que está preocupada, mas não tem o porquê. — Bruce afirmou.
— Eu quero que se divirta, mas que seja inteligente — disse firme. — Nunca fique sem seu celular ou
esqueça-se de verificar a bateria. Não fique sozinho em nenhum lugar, esteja sempre acompanhado de seus
amigos e professores —
instruiu. — Se ver algo estranho, corra para perto de seus amigos e vá para um lugar seguro.
— Josh — disse calmo. — Se ele aparecer você vai me ligar e correr para os seguranças que estarão te
olhando.
Bruce pegou o celular e mostrou as fotos dos homens que seguiriam Josh.
— Esses são Pedro e Victor — apontou. — Eles vão estar por perto garantindo que esteja seguro. Se a merda
vier a baixo, você corre para eles — ordenou. — E
se ainda assim eles estiverem feridos você entra no carro e se tranca lá. Todos os meus carros são blindados e
vai estar seguro até que eu o alcance — prometeu.
— Não, eu não acho — afirmou. — Você já sabe o que fazer, no mais somente
se divirta.
— Posso fazer isto. — Josh sorriu.
— Ok — murmurou.
Rita voltou sua atenção para outra coisa. Queria acreditar que Josh ficaria bem, mas não conseguia. Saber
que ele passaria três dias longe dela não lhe trazia nenhum conforto. Além de que, seu lado mãe protetora
estava ligado no máximo. Não queria aceitar que seu filho estava crescendo tão rápido e já não dependia
mais tanto dela.
Foram para o carro e deixaram Josh na escola depois de Rita repetir tudo o que Bruce tinha dito a ele na
cozinha. Quando voltou a entrar no carro a sessão de choro começou e Bruce foi obrigado a parar em algum
lugar para acalmá-la.
Rita acabou confessando que estava mais chateada por se separar dele. Depois de doze anos sempre cuidado
do filho e a forma em que superaram a morte de
Rodrigo juntos, os deixou ainda mais unidos, era difícil se separar. Mesmo que fosse somente por três dias.
Ela não queria que ele crescesse, mas entendia que não podia prendê-lo a ela para sempre. Josh precisava
crescer longe de suas asas.
Rita entendia, porém, como toda mãe coruja, não queria aceitar aquele fato tão facilmente.
Depois de meia hora sendo consolada e ouvida por Bruce, eles enfim puderam ir
para a construtora. O dia de trabalho foi longo e passou devagar, a cada duas horas ela recebia uma
mensagem de Bruce afirmando que estava tudo bem com
Josh. Rita apreciou seu gesto, saber que ele estava bem acalmava seu coração.
No fim do expediente, Rita foi para casa com Dânio. Bruce tinha ligado e avisado que não poderia
acompanhá-la. Estava ocupado com algo, que ele não disse o que era, mas afirmou que voltaria para dormir
com ela em seus braços.
Rita não escondeu que ficou aliviada, não queria enfrentar a casa sozinha sem a presença do filho. Seria bom
tê-lo para distraí-la, seus nervos de ansiedade estavam acabando com ela.
Tomou um longo banho quente e vestiu uma camisola de seda branca que ia até seus pés. Escovou os cabelos
com calma, tentado ignorar a aflição de estar sozinha. Quando não tinha mais nada para fazer no quarto,
desceu e foi para cozinha preparar algo para comer.
Logo após ficou um pouco na sala assistindo qualquer coisa que lhe prendia um pouco de interesse. Quando
isto não funcionou, se arrastou de volta para seu quarto e tentou dormir.
Acabou adormecendo somente por meia hora e abriu os olhos de novo sentindo-
se impaciente. Levantou e no escuro da casa desceu de volta para cozinha. Pegou um copo e abriu a
geladeira. Pegou a garrafa de leite e derramou o conteúdo no copo. Guardou e fechou a geladeira. No escuro
da cozinha, se encostou na ilha e tomou a bebida devagar.
Um pequeno ruído do lado de fora a fez congelar. Rita respirou lentamente e esperou para ver se ouvia algo
de novo. Alguns minutos se passaram e não ouviu nada. Seu corpo relaxou. Caminhou até a pia e colocou
seu copo dentro com a intenção de lavá-lo no outro dia.
Porém, o pequeno som de alguém torcendo a maçaneta da porta da cozinha à fez paralisar novamente.
Hesitou por um segundo pensando que fosse Bruce, mas ele tinha somente a chave da porta da frente e do
portão.
Adrenalina subiu em suas veias e ela respirou devagar enquanto esticava as mãos para pegar duas facas no
apoio em cima da bancada.
Precisava subir e pegar seu celular para ligar para Bruce, no entanto, o barulho do clique na porta informou
que não tinha mais tempo.
Rita caminhou devagar para um canto e aguardou. Um segundo depois sua porta fez o costumeiro barulho
irritante de quando é aberta, mostrando que precisava ser lubrificada em alguns pontos.
A luz de fora iluminou um pouco e ela viu um homem entrando com uma arma
na mão. Segurou para não tremer ao detectar o rosto coberto para não ser identificado.
Veio me matar. Rita pensou com a adrenalina bombeando fortemente em suas veias.
Questionou se deveria fugir, mas tinha praticamente a certeza de que ele não veio sozinho.
O homem deu três passos para dentro, passando sem perceber que ela espreitava.
Rita, pulou em suas costas e afundou suas facas no corpo dele. O homem gritou em agonia deixando sua
arma cair no chão. Rita em completo desespero puxava e afundava as facas afiadas nas costas dele.
Não sabia dizer quantas vezes o esfaqueou, mas quando o homem caiu para frente e se esparramou no chão
na cozinha, ela estava completamente trêmula e ofegante.
Antes que pudesse piscar novamente algo a puxou e a empurrou para baixo.
Uma de suas facas caiu de sua mão e a outra enfiou no braço do seu agressor. Ele gritou de dor e ela se
debateu quando teve as mãos imobilizadas.
— Sua vadia.
Arrepios passaram por sua pele e ela respirou com dificuldade, por causa do peso em cima dela.
Ettore.
Rita o olhou, teve dificuldades para vê-lo direito por causa da falta de luz, mas o brilho fraco que vinha do
lado de fora dava para reconhecê-lo. Uma barba cheia
cobria seu rosto e seu cabelo loiro foi pintado para uma cor escura.
Entretanto os olhos, os olhos eram os mesmos frios e sem muita emoção que ela conhecia.
— Vejo que não tem medo de mim — disse. — Quero ver até quando.
— Eu não vou a lugar nenhum, sem antes garantir que você não respire mais —
afirmou.
— O.o..o que você quer de mim? — gaguejou. — Nunca lhe fiz mal, nem mesmo te conhecia. Porque...
Ele gargalhou e inclinou mais seu corpo sobre o dela tirando o ar de seus pulmões com o peso.
— Queria que fosse minha informante quando me aproximei, mas você nunca me deu muita brecha — disse.
— Tentei isto por três fodidos meses e você não me deu nenhuma informação. Tanta perca de tempo para
nada! — exclamou furioso.
— Por que eu faria isto, seu idiota? — questionou brava. — Jamais compartilharia informações.
Rita arfou em busca de ar quando Ettore segurou seus punhos com uma mão e a outra se fechou em seu
pescoço.
— Percebi isto, poderia ter deixado para lá — rosnou. — Mas um dia vi aquele cão de guarda da máfia te
seguindo.
— Bruce — gritou. — Eu o vi te seguindo e precisava descartar você, não poderia colocar em risco meu
plano de tomar o posto de venda da máfia — disse
em um rosnado. — Mas você é mais difícil de matar do que pensei. Desta vez, não vai escapar de mim Rita.
Eu mesmo vou te matar com minhas próprias mãos. Vou te fazer sofrer pela raiva e perca de tempo que me
fez passar. Vai experimentar dor e humilhação na sua própria casa. E depois vou deixar seu fodido corpo para
que aqueles idiotas venham enterrar — ameaçou.
Rita estava em pânico, completo pânico para ser mais exato. Percebendo as intenções dele de machucá-la
primeiro, ela voltou a lutar pela sua vida. Mesmo quase não conseguindo respirar gritou alto e se debateu
tentando salvar a si mesma de um fim cruel.
Bruce! Gritou em sua mente esperando inutilmente que ele a ouvisse e viesse logo em seu socorro.
...
Sentiu o celular vibrar no bolso e o pegou, uma mensagem avisava de um ataque a um galpão no norte da
cidade. Longe de onde eles estavam, aquilo fez o estômago de Bruce se contorcer.
Pietro e Malone que estavam pertos receberam a mesma mensagem. Olharam para Bruce esperando que ele
interrompesse os chefes e lhe informasse que tinha uma emergência.
Bruce não desviou o olhar da tela tentando entender o que estava acontecendo.
Sabendo que era uma emergência grave, Malone chamou por Adônis.
Quando os homens se viraram para ele, Malone temeu um pouco pela brutalidade que estava mostrava em
seus olhos.
Bruce não escutou mais o que foi dito, discou o número de Dânio e levou o celular em seu ouvido. Chamou
até cair à ligação, aquilo fez um arrepio passar por sua coluna. Ligou novamente e de novo não obteve
respostas.
Encontrou seu olhar e não se afetou com a violência que via em suas expressões.
— Vamos para o norte e nos dividir, quero os homens vivos para ter algumas respostas. — Adônis ordenou.
Bruce respirou devagar quando viu Adônis dar um passo ameaçador em sua direção.
— Tem algo errado — disse sério e isto fez Adônis parar. — Dânio não atende o celular e agora esse ataque.
Adônis precisou de um segundo para entender o que tinha acontecido, estava pronto para chutar Bruce por
tê-lo afrontado.
— Apolo vá para o galpão com uma equipe, estou indo com Bruce até a casa de Rita com outra — ordenou.
Bruce pisou fundo no acelerador e logo percebeu outros carros o seguindo. Sabia que Adônis tinha entendido
que o ataque ao galpão não passava de distração.
A casa de Rita parecia mais longe do que se lembrava. Bruce nunca tinha rezado em sua vida, ou se alguma
vez já o fez, não lembrava. Contudo, agora ele implorava aos céus para que não fosse tarde demais. Não
poderia viver se precisasse enterrá-la. Já havia dito isto a Rita algumas vezes e era a mais pura verdade. Não
poderia. Medo o agarrava da forma mais desesperadora possível.
Como uma tentativa de se agarrar a uma falsa esperança, ele ligou para o celular dela diversas vezes por todo
o caminho, ansioso para que o atendesse e que tudo não passasse de paranoia sua. Ele iria respirar aliviado e
depois daria uma surra em Dânio, por fazê-lo quase ter um ataque cardíaco com o medo de encontrá-la
morta. Sem contar que apanharia de Adônis por afrontá-lo, mas valeria a pena se encontrasse Rita bem e
viva.
Seu coração batia tão violento em seu peito que não duvidou da hipótese de sofrer algo quando ele parasse de
bater por exaustão.
Conseguiu respirar um pouco ao virar na rua dela, os pneus do carro cantaram com sua virada brusca.
Avistou o carro de Dânio e freou ao lado e correu para fora do veículo. Viu o homem sentado no banco, à
janela do carro estava parcialmente aberta e para seu desespero havia um furo na têmpora do segurança.
Viu Adônis pulando para fora de um carro. Bruce correu atravessando a rua e pulou o pequeno portão da casa
dela. Algo pulou atrás dele e sabia que era o chefe, mas não deu importância, precisava chegar até ela.
Bateu o ombro contra a porta da frente e não conseguiu arrombá-la. Esquecendo que tinha posse da chave.
Deu um passo atrás e quando se lançou na porta, Adônis foi junto com ele. A força dos dois rompeu a
madeira bruscamente.
Bruce movia-se automaticamente em direção aos gritos de sua Rita. Invadiu a cozinha e presenciou o exato
momento em que Ettore soltou as mãos dela e rasgou sua camisola entre os seios.
Ele estava tão envolvido com o que planejava fazer com Rita que não percebeu a presença dos homens em
suas costas. Bruce caminhou para frente e deu uma coronhada forte na nuca de Ettore. A frieza dentro dele
não permitiu que
apertasse o gatilho. Precisava se vingar lhe dando uma morte lenta e muito dolorida. Puxou o homem pelo
cabelo e o jogou do outro lado da cozinha.
Então, seus olhos a encontraram.
Estava aterrorizada e coberta de sangue, sua camisola branca destacava todo o líquido viscoso que caiu sobre
ela. O decote foi rasgado até seu umbigo, porém, não revelava muito de seus seios. Seus cabelos estavam
selvagens e molhados de sangue inimigo.
Bruce a viu hiperventilar em pânico. Acompanhou seu olhar para um corpo morto que ainda sangrava no
impecável chão branco de sua cozinha. Ele não sabia o que sentir, estava entre o alívio e o medo. Alívio de
ter chegado a tempo para encontrá-la com vida e medo por ela ter matado um homem, talvez nunca
O medo e pânico em seus olhos deixou Bruce aflito, ele se agachou devagar perto dela para não assustá-la
mais, já que parecia perdida em seu próprio medo.
Porém, lidar com o fato de que matou um homem e quase foi morta por outro é ainda pior. Era como se
vivesse em um pesadelo do qual nunca fosse capaz de acordar.
Quando fechava os olhos podia ver cada vez que suas mãos empurraram aquelas facas nas costas do bandido
que invadiu sua casa. Ainda sentia o calor morno do sangue em suas roupas e do pânico sentido ao percebeu
que Bruce não chegaria a tempo para ajudá-la.
Era como se já tivesse com um pé do lado do mundo dos mortos, não haveria mais volta. Não existiria outra
chance. Todas suas esperanças tinham escorregado por entre seus dedos.
A lembrança do peso do corpo de Ettore sendo retirada de cima de si ainda brilhava em sua mente, mesmo
tendo passado dois dias do incidente.
Depois daquele momento, sua mente falhou em algumas lembranças. Rita se lembrava de ver Bruce
agachado ao seu lado e na sua frente estava Adônis com alguns de seus homens. Era fácil visualizar a fúria
no rosto deles e sentiu medo.
A voz suave de Bruce ao falar com ela ainda marcava sua memória.
Estava mesmo tudo bem? Era uma pergunta que não se calava enquanto hiperventilava em pânico.
Ele foi sábio em não tocá-la sem sua permissão, naquele instante não sabia se podia entender que não era seu
inimigo.
Bruce foi paciente em esperar que se acalmasse um pouco, teve a certeza de garantir que ele a tinha. Que
nada mais poderia machucá-la ou feri-la. Que estava segura.
Mas como acreditar naquilo depois dos longos minutos de completo desespero que passou?
Ela fez o que ele pediu. Respirou devagar e diminuiu o ritmo até normalizar sua respiração, sem desviar seus
olhos dos dele em nenhum momento.
Ele a colocou debaixo do chuveiro e ela não se lembrava de quando e nem como, Bruce retirou sua camisola
e as roupas dele. Rita foi completamente obediente em não desviar os olhos. O encarou o tempo todo, tinha a
certeza de que a água que escorria de seu corpo tinha uma tonalidade vermelha intensa.
Sabia que ele lavou sua pele e teve a certeza de que não tivesse nenhuma gota de sangue sobre ela. Assim
como também garantiu que não tivesse nenhum machucado grave que precisasse de assistência médica. Sem
mesmo perceber, Bruce tinha a vestido com moletom e camiseta.
Depois, Rita se lembra de estar dentro de um carro no colo dele seguindo para algum lugar longe da sua casa.
Somente percebeu que estavam no apartamento, que ele a levou depois do cativeiro, algum tempo depois. Lá,
ele a carregou para cama e ficou ao seu lado até que Milena entrou carregando sua maleta médica.
Ela tinha feito questão de atender a Rita, para ter a certeza de que ficaria bem.
Em todo o tempo, Milena falava e pergunta coisas a ela, mas Rita somente conseguia balançar a cabeça em
resposta. Nem se quer se lembra do que foi perguntado.
...
Bruce não esqueceu nenhum momento do pesadelo que Rita estava vivendo.
— Ela está em choque, não deixe que fique sozinha por muito tempo — disse preocupada.
— Não sei, Bruce, ela não tem machucados físicos, mas ainda está em um grande estado de choque —
suspirou. — Aconselharia levá-la a um psicólogo ou algo do tipo quando a barreira emocional dela se
romper.
— Sim, infelizmente, eu acho — afirmou. — Por isto precisa ficar ao lado dela.
disse.
Ele acenou e observou Milena sair do quarto. Adônis apareceu na porta e lhe deu um breve aceno de cabeça
antes de sair do apartamento.
Bruce ficou ali com Rita em seus braços a noite toda. Ela não fechou os olhos em nenhum momento e aquilo
o angustiava cada vez mais. Quando amanheceu,
ele cochilou por alguns minutos e quando acordou, ficou assustado por ela não estar na cama ao seu lado.
Ouviu seu soluço.
Correu para o banheiro, onde encontrou Rita encolhida dentro da banheira seca.
Parecia que ela somente se deitou lá e se deixou quebrar. Sentindo os olhos úmidos, Bruce se aproximou
devagar e sentou dentro da banheira. Puxou o corpo magro e frio de Rita para seu colo permitindo que ela
chorasse em seus braços.
Aquele foi o momento mais íntimo e perturbador que ele já teve em sua vida.
Ouvindo o choro dolorido dela e as confissões dos seus medos e pânico do que aconteceu em sua casa.
Mesmo sabendo que tudo que fez era para sobreviver, Rita não podia se conformar com a brutalidade em que
atacou o homem pelas costas.
Bruce não tinha o que dizer para confortá-la, somente ficou ao seu lado e lhe deu todo o apoio que precisava.
Quando amanheceu na segunda-feira, Bruce teve que colocar Rita para se mover.
Ela não respondeu, estava mais uma vez perdida em seus pensamentos.
Não queria voltar para sua casa, lá existiam lembranças demais para aguentar.
— Tudo bem, no caminho vamos pegar Josh na casa do seu pai — informou. —
Adônis tinha organizado tudo como se o homem que Rita matou tinha ido lá para roubar. Homens da máfia
infiltrados no departamento de polícia foram chamados e fizeram um relatório completamente diferente do
que realmente tinha acontecido.
No sábado de manhã, Marzio tinha ido falar com Rita e vê-la, já que também foi informado do que tinha
“acontecido”. Ele estava realmente preocupado com a filha e ficou ainda mais em ver seu estado de espírito.
Quando Bruce estacionou na porta da casa de Marzio, Josh já estava na porta com sua mochila nas mãos e
parecia visivelmente ansioso. Rita pulou para fora e agarrou o garoto com tanta força que Bruce pensou que
poderia quebrar as costelas do garoto se ela não afrouxasse o aperto. Porém, aquela foi à primeira reação
espontânea dela desde sexta à noite e ele ficou aliviado em ver que ela não tinha quebrado sua alma por
completo.
Bruce os levou dali direto para a casa que ganhou de Adônis. Era ao lado da dele e dividiam o mesmo muro.
A casa era usada somente como saída de emergência
caso fosse preciso e estava desocupada há muitos anos. Giulia, Milena, Sonia e Jianna tinham trabalhado o
fim de semana inteiro para mobiliar a mansão inteira, para que ficasse confortável e familiar para receber
Rita e Josh.
Ele já tinha mandado recolher todas as coisas dela e de Josh na sexta mesmo, antes de levá-la de lá para o
apartamento. Se Rita tivesse dito que queria voltar para casa dela, daria um jeito de persuadi-la a dizer o
contrário. Aquele tinha sido o último dia em que viveriam separados e não existia ninguém no mundo que
pudesse separá-los.
Ao entrar na casa não repararam muito nas coisas ao redor, somente foram para
o quarto principal. Rita se deitou com o filho na cama apreciando a presença dele. Bruce não se importou,
parecia estar se juntando para Josh e aquilo fazia bem a ela. Ele os deixou sozinhos e foi fazer algumas
ligações.
Quando voltou para o quarto, Rita tinha adormecido. O que foi de grande alívio para Bruce, já que ela mal
tinha dormido nos últimos três dias. Josh a abraçava carinhosamente e Bruce sorriu de leve ao ver o tamanho
do amor entre eles.
Sentiu-se um pouco nostálgico e se lembrou de sua mãe. Ela não foi a melhor mãe do ano, mas ele não tinha
dúvidas que ela o amava. Ainda se lembrava dos seus carinhos e do sabor dos biscoitos que fazia para o chá
da tarde. Foi uma boa mãe, mas sempre escolhia o padrasto em vez do filho, e isto o machucou muito.
Bruce afastou as lembranças, não querendo pensar em um passado que lhe trazia tanto pesar.
— Bruce?
— Sim.
Bruce ficou em silêncio por um tempo pensando no que responder ao garoto, até que decidiu que ele merecia
uma explicação mais clara. Josh era um bom filho e sempre queria o melhor para a mãe, merecia seu respeito
e sinceridade.
Josh acenou e com cuidado desceu da cama. Seguiu Bruce para fora do quarto e pararam na sala do segundo
andar. Sentaram-se um na frente do outro. Bruce pensava em como explicar a ele de uma forma suave o que
tinha acontecido.
— Tudo bem — disse. — Os meus chefes, Adônis e Apolo, são homens muito
ricos e importantes na cidade. — Bruce começou hesitando um pouco, procurando pelas palavras certas. —
E isto atrai muitos inimigos.
— Então foi por isto que ele se aproximou, pensou que minha mãe divulgaria informações a ele — afirmou
pensativo.
— Vai me deixar contar? — questionou impaciente. — Ou vai continuar afirmando coisas e mostrando que
parece um adulto no corpo de um adolescente?
Josh sorriu.
— Ettore se aproximou com essa intenção e tentou por um tempo, até que eu percebi a presença dele —
segurou um suspiro. — Como chefe de segurança sei cada passo que os funcionários dão, para evitar que
coisas deste tipo aconteçam
— explicou. — Ele me viu o seguindo e decidiu que teria que... hum... matar sua mãe para que ela não
contasse de sua aproximação.
— Ele tentou algumas vezes, mas eu não permiti que tivesse êxito em suas tentativas — contou.
— Por isto Dânio sempre estava por perto e você também. — Josh afirmou.
— Sim, mas na noite de sexta-feira — suspirou. — Eu estava com Adônis resolvendo alguns problemas
quando um galpão nosso foi atacado. Era para termos corrido diretamente para lá, mas estranhei a situação e
liguei para Dânio algumas vezes. Ele não me atendeu, percebi que aquele ataque era somente uma distração,
já que Dânio sabia que comeria o fígado dele por não me atender —
explicou. — Corri para sua casa com minha equipe, encontrei Dânio morto e Ettore atacando sua mãe.
— Não, ela me disse que percebeu que tinha alguém invadindo a casa, então, pegou duas facas e esperou o
invasor passar. Viu que ele tinha uma arma e tampava o rosto. Ela agiu na adrenalina e atacou o homem o
esfaqueado —
contou. — Ettore apareceu depois e quase a machucou se eu não tivesse chegado a tempo.
Bruce rosnou com raiva, Ettore ainda não estava morto, mas estaria em alguns dias, assim que se vingasse.
Não iria parar tão rápido de fazê-lo sofrer. Adônis tinha lhe dado a liberdade para torturar o homem e ele
faria com um enorme prazer.
— Ela está assim por que... matou... alguém? — Josh perguntou com a voz falha.
— Sim — afirmou.
Josh suspirou.
— Acho que se os grandes presidentes quisessem poderiam acabar com esses conflitos. — Josh disse
pensativo.
— Claro que eles poderiam, tem força e dinheiro, mas não faria bem para a política e economia. Muitas
vezes eles não intervêm porque é de puro interesse, o comércio de armas e munições é milionário —
esclareceu.
— Quando matei o primeiro homem, foi um inferno — murmurou. — Sempre tive boa pontaria. Estava há
um quilometro de distância do meu alvo naquele dia. Um único tiro — disse. — Atravessou a nuca do
inimigo e ele foi abatido.
Passei mal por três dias diretos, até que meu capitão me chamou e me xingou.
Eu era um soldado e tinha que aprender a lidar com a morte. Ele não me aprovou no teste para ser franco por
me considerar fraco com as emoções — sorriu malvado. — Até que nosso acampamento foi atacado duas
noites depois. Meus
noite. Principalmente, do meu capitão. — Bruce sorriu ao perceber o interesse de Josh em suas histórias. —
Com minha pontaria e meu sobrenome consegui o posto de franco.
— Claro que passei, por mais de três dias e às vezes quando fecho meus olhos ainda lembro-me de como
nosso acampamento ficou. Parecia uma cena vinda direto do inferno. — Bruce se calou e suspirou. — Isto
vai acontecer com sua mãe, ela não vai esquecer o que aconteceu. A lembrança sempre vai estar em sua
mente, pesadelos, medos. — De repente Bruce parecia cansado. — Ela vai precisar de nós dois nesse
período, ela vai superar, mas talvez demore um pouco para isto.
— Bom — acenou. — E quanto ao que conversamos você não deve contar a ninguém, Josh. São
informações confidenciais que eu lhe disse somente porque merece saber a verdade.
Mais dois dias tinham se passado e o estado de ânimo de Rita tinha dado uma leve melhora. Josh não foi para
a escola e ficou com ela o tempo todo, principalmente, quando Bruce precisava se afastar. Os dois fizeram
uma boa dupla e estavam determinados a não deixar que Rita se quebrasse por completo.
Bruce entrou em casa depois de resolver alguns problemas e não encontrou com nenhum dos dois pelo
caminho. Foi até seu quarto e não os encontrou na cama também, mas ouviu a voz baixa de Rita vindo do
closet.
Caminhou devagar para dentro e parou na porta. Josh e Rita estavam sentados no chão de costas para ele e
não perceberam sua aproximação.
— Esse dia foi incrível. — Ela disse e levantou uma foto. — Passamos o dia
— Também, depois de cinco voltas na montanha russa não tem estômago que aguente — disse ainda rindo.
Josh riu junto com ela e vasculhou a caixa com as lembranças que estavam guardadas há tantos anos.
— Essa foi de quando eu nasci. — Ele disse lhe mostrando outra foto.
— Oras, por ele ter me engravidado — respondeu e riu alto. — Foi extremamente doloroso e no final eu não
aguentei, mandei fazerem uma cesariana logo e me livrasse daquele sofrimento.
riu.
— Mas, mãe...
— Eu vive muitos anos com seu pai, ele foi meu primeiro amor desde a adolescência. Não preciso destas
fotos para me lembrar dele, filho — disse emocionada. — Fique com elas e guarde o seu pai para sempre
contigo.
— Obrigado, mama.
— Agora vamos fazer novas lembranças, mas com Bruce. — Josh disse.
— Sim, vamos fazer novas lembranças com Bruce. — Rita afirmou e beijou a testa de Josh.
Ela acabou percebendo a presença de Bruce e sorriu para ele. Bruce não se moveu, ele estava paralisado em
ver seu sorriso. Não tinha percebido o quanto
— Acho que estou com essa mesma cara de bobo. — Rita disse rindo.
Bruce sorriu e se aproximou deles, se sentou do lado de Rita e beijou os lábios dela rapidinho.
— Acho que deveríamos tirar aquela foto agora. — Josh disse e estendeu o celular.
Os três se juntaram e tiraram uma selfie. Todos sorrindo, até mesmo Bruce que quase nunca sorria, tinha um
aberto sorriso para aquela foto. Era o momento em que tudo estava ficando para trás, eles estariam trilhando
um novo caminho juntos.
Se seria fácil?
Mas estavam dispostos a tudo para serem felizes, para se protegerem e, principalmente, para se amarem.
Bruce continuaria sendo um homem da máfia, duro e cruel, mas também protetor e mal-humorado. Rita
sempre seria destrambelhada, faladeira e uma fera quando preciso, mas com um coração enorme.
E Josh? Continuaria a demorar no banho até que um dia sua pele caísse, mas manteria o costumeiro bom
humor e a perspicaz de sempre.
Fim!
EPÍLOGO
Nunca se acostumaria com o fato de que Rita tinha uma temperatura corporal tão baixa pela manhã.
Parece uma pedra de gelo. Pensou e sorriu de leve quando ela agarrou suas costas.
Murmurou algo em seu sono, que ele não entendeu. Logo, Bruce, sentiu um leve empurrão nas costas. Seu
filho. Rita estava grávida de sete meses e o garoto já era bagunceiro em seu ventre. Seu lado protetor inflou
um pouco mais, eles agora eram sua família. Sua prioridade. Seus para proteger e amar.
Aquele dia no banheiro da construtora tinha atendido o desejo de Bruce em querer engravidá-la. Agora era
um homem completo e se sentia feliz com a paternidade. Ainda podia se lembrar claramente de como
descobriram a gravidez. Tinha acabado de chegar em casa quando ouviu Rita gritando com Josh.
— Joshua!
— Não me mande ficar calma! — gritou. — É a terceira vez essa semana que encontro seu quarto parecendo
uma zona de GUERRA.
Bruce tinha parado atrás de Josh tentando entender o motivo de tanto estresse.
Antes que ele terminasse de falar, ela já tinha atirado um porta-retrato de madeira em sua direção. Josh se
abaixou e Bruce segurou o objeto um segundo antes de acertá-lo. Josh se virou e viu a cara de Bruce, acabou
gargalhando com a situação. O que com toda certeza deixou a mãe ainda mais brava do que antes.
Deixou o porta-retrato no sofá e se preparou para pegar qualquer outra coisa que ela jogasse.
— Esse pirralho! — exclamou furiosa. — Ele acha que sou empregada dele!
Está precisando de umas palmadas e ficar de castigo pelo resto da vida. — Seu rosto estava vermelho de
raiva. — Se ele continuar rindo Bruce, vai ter que levá-
— Se me mandar ficar calma de novo, vai levar as chineladas que nunca tomou...
Rita não conseguiu concluir, colocou uma mão na boca e saiu correndo para o banheiro mais próximo.
Vomitou tudo o que tinha no estômago e para o desespero de Bruce e Josh, desmaiou.
Bruce a pegou no colo e levou ela para o hospital no mesmo instante. Lá acabaram descobrindo a gravidez de
dois meses e Bruce ficou em choque com a notícia. Sabia que era possível e até mesmo desejava que
acontecesse. Porém, não estava pronto para o choque em descobrir que iria ser pai.
Josh riu dele por dias em lembrar-se da cara de pânico que fez.
Depois daquela notícia, sua vida virou uma loucura enquanto Rita provava que grávidas poderiam ser loucas
por comida, sexo e com suas mudanças de humor.
Precisou trazer uma senhora para trabalhar em casa e ajudar sua mulher com as tarefas domésticas. Josh não
fazia mais tantas bagunças e os dois se revezavam em cuidar dela.
Quando descobriu que esperavam um menino, ela logo o quis chamar de Dânio.
Era uma pequena homenagem ao segurança que tanto zelou por ela e Josh, mas
De homem da máfia a pau mandado. Pensou ele ainda deitado em sua cama.
Esse era seu destino e não tinha como voltar atrás, nem mesmo queria. Casou-se com Rita quando ela
completou cinco meses de gestação. Claro que depois de
muito persuadi-la. O fato de colocar uma aliança no dedo dela e lhe dar seu sobrenome, enfim, afastou Frank.
Ele não aceitou muito bem o fato de Rita não o querer e foi preciso Bruce lhe fazer algumas ameaças. Coisa
que ele não contou a sua mulher ou ela teria o decapitado. Rita ainda se sentia um pouco triste por Frank ter
se afastado, gostava dele e o considerava seu amigo, mas o homem não foi capaz de superar seus sentimentos
frustrados.
Depois de ser chutado mais uma vez nas costas por seu filho, que ainda estava no ventre da mãe, Bruce
acabou cedendo e levantando. Tomou um banho rápido
...
Rita soube o exato momento em que Bruce se levantou, mas estava com muito
sono para acompanhá-lo. Seu bebê se mexia muito e ela tentava ignorar para que conseguisse mais algumas
horas de sono.
Depois de meia hora virando de um lado para o outro, ela também acabou se levantando.
Tomou um banho e depois foi ao quarto de Josh. Viu o filho dormindo e lhe deu um beijo na testa antes de
sair. Pegou um café que Maria lhe ofereceu e seguiu para sala de treinamentos onde sabia que iria encontrar o
marido.
Parou na porta assim que o avistou, somente com uma calça de moletom, fazendo abdominal pendurado no
grande saco de pancadas.
Suas pernas fortes estavam presas ao redor das correntes que seguravam o saco de pancadas e ele estava de
cabeça para baixo. Suas mãos atrás da nuca enquanto forçava o corpo para cima em seu exercício abdominal.
Uma leve camada de suor cobria sua pele, seus músculos estavam mais rígidos e evidentes, seu maxilar
trincado e o rosto vermelho.
Bruce largou o corpo para baixo e olhou para ela do ponto em que estava pendurado.
Bruce piscou para ela e impulsionou o corpo, torcendo o tronco e caindo agachado no chão.
— Quero te ver impressionada quando eu te dobrar aqui mesmo. — Ele disse com a voz baixa e um pouco
rouca.
Ele a atacou em um beijo faminto e Rita retribuiu no mesmo momento. Antes que se desse conta, ele já tinha
deixado ela nua e a dobrado na parede. Estava pronta para recebê-lo e ele não esperou.
Sentia-se feliz.
Depois de tudo o que passou, ela conseguiu dar a volta por cima. Josh e Bruce foram os grandes responsáveis
por não ter se perdido em desespero e pânico.
Ainda não tinha esquecido que tirou a vida de uma pessoa, mas a cada dia que se passava superava mais um
pouco. E foi assim todos os seus dias, vivendo um de cada vez e com calma.
Gerar outro filho também lhe trouxe mais forças, mais determinação e muito mais amor. Não precisava de
mais nada na vida, ela tinha tudo o que queria.
Filhos incríveis.
CAPÍTULO BÔNUS
Por Bruce.
Abri a porta da minha casa as duas da manhã, estava tudo quieto e silencioso.
Algo realmente raro, mas de madrugada era o momento de todos estarem em suas camas. Subi as escadas e
antes de entrar no meu quarto, para encontrar minha esposa, vi que uma fraca luz brilhava pela fresta do
quarto de Josh.
Caminhei até lá e bati de leve. Abri a porta e o encontrei jogando vídeo game.
— Sua mãe vai arrancar suas orelhas por ainda estar jogando — digo baixo.
Ele sorriu sabendo que era verdade, tinha uma expressão muito mais madura e parecia ter mais do que seus
dezesseis anos. Seu corpo se desenvolveu bastante depois das longas sessões de luta que eu o obriguei a
fazer. Queria que sempre estive pronto para se defender, assim como nossa família. O considerava meu filho
e não queria que nada de mal o acontecesse.
— Bruce? — disse.
— Hm.
Nunca foi uma novidade para mim que o garoto fosse observador, mas eu estava curioso para saber em como
ele chegou a àquela verdadeira conclusão.
pontuou. — Anda mais armado do que a própria polícia e tem um olhar duro.
Ele sorriu.
— Sabe que não — disse. — Não minta para mim, Bruce, eu quero saber a verdade.
— E por que a verdade se tornou tão importante para você agora? — perguntei.
— Você continua me levando para seus treinos, me ensinando a lutar e usar armas — disse pensativo. — É
como se estivesse me preparando para o pior.
— Mas, como pode ter tanta certeza de que um dia não vai poder? — perguntou.
— Você é o homem mais grande que conheço, claro que depois de Adônis.
Sorri de leve.
— Nada.
— Porque um dia ela acabou na mira de um inimigo e soube da pior forma que
traição se paga com a morte — digo. — Não existe nada para se dizer, somente precisa ser leal.
— Não.
— Quero a verdade, Bruce — disse. — Não vou te julgar por fazer parte de uma organização criminosa,
porque sei de tudo o que fez por mim e por minha mãe.
Sei que ama a família que criou e eu nunca seria capaz de ir contra aquilo que você fez a vida inteira —
suspirou. — Mas acredito que mereço sua sinceridade.
Acenei concordando.
— Você não tem nenhuma obrigação com a máfia desde que eu não sou seu pai,
caso queira entrar, vou te assumir como filho e será meu sucessor — explico. —
Mas eu não tenho te treinado por isto. Você precisa saber se defender, precisa estar pronto para proteger
nossa família. Não sou imortal, Josh, um dia algo muito ruim pode acontecer e minha vida ser tirada, quem
vai proteger sua mãe?
Quem irá proteger nossa família? — perguntou sério. — Terá que ser você, porque Dânio ainda é uma
criança.
— E isto foi o que sempre quis? — perguntou. — Que seus filhos sejam criminosos?
um — suspirei. — Nunca pensei que o homem responsável por me dar a vida era um mafioso e que eu teria
que assumir seu lugar. Essa vida foi mais dura comigo do que pode imaginar, Josh — digo. — Mas eu tenho
sangue criminoso correndo nas veias, se eu não assumisse meu papel seria morto. As regras da família são
cruéis e a punição é sempre com a morte.
— Eu entendo um pouco, mas depois vai ter que me contar direito toda sua história.
— Tudo bem — aceno. — Não se esqueça, tudo o que disse neste quarto não deve ser compartilhado.
Lembre-se que a punição é sempre a morte, isto afeta
toda a família.
Acenei concordando, não iria morrer tão cedo. Tinha muito o porquê viver e lutar. Saí do seu quarto e esperei
um minuto do lado de fora, ouvi que ele desligou seu vídeo game e suspirou. Sabia que ele não dormiria bem
essa noite, mas a conversa foi boa e esclarecedora. Esperava que ele não decidisse se juntar a máfia, no
entanto, algo me dizia que ele estaria lá ao meu lado. Josh era protetor e saber que seus irmãos seriam parte
de algo tão perigoso o atrairia.
Agora com três anos, Dânio era difícil de se segurar. Corria por toda a casa e tinha mais brinquedos do que
conseguia brincar. Agachei ao lado da sua cama e fiquei encarando aquela pequena parte de mim.
Ele se mexeu e abriu os olhos devagar. Olhos verdes cinzentos como os meus.
— Papai.
Meu coração inchava em uma emoção que nunca seria capaz de me acostumar.
Seu sorriso se abriu novamente, tão bonito quanto o da sua mãe. Seus pequenos braços se ergueram e
rodearam meu pescoço, um abraço gostoso e inocente que eu tanto amava. Me soltou e voltou para o
travesseiro. Beijei sua testa e fiquei ali velando seu sono. Queria que ele soubesse que sempre estaria zelando
por sua vida.
Saí do quarto quinze minutos depois, Dânio estava em sono profundo e agora era a vez de ver outra pessoa.
Entrei no meu quarto e as encontrei na minha cama.
Minha esposa dormia tranquilamente e ao seu lado nossa pequena Isa de dois meses. Encarei minha filha e
encontrei seus olhos abertos brincando com o
cabelo da mãe.
Depois de toda a brutalidade que fiz essa noite, sentia-me recompensado com a paz que minha família me
trazia. Peguei minha bebê da cama e a embalei em meus braços.
— Você deveria estar dormindo, pequena encrenqueira — murmuro e ela sorri para mim.
Não existia nada melhor do que a paternidade. Era incrível saber que somos capazes de criar seres tão
incríveis como minha pequena encrenqueira. Para o completo terror de Rita, Isa tinha herdado todo o meu
mau humor. Era impaciente e fazia a casa tremer cada vez que chorava de fome ou birra, já estava manhosa e
só queria ficar no colo.
Balancei ela devagar e caminhei para o seu quarto cor de rosa. Não sabia como, mas a cada dia aparecia mais
brinquedos cor de rosa dentro daquele quarto.
Daqui alguns meses terei que reservar um quarto somente para as tralhas, que são chamadas de brinquedos,
ou não teríamos mais como andar dentro de casa.
Parei na frente do seu berço e percebi que ela dormia. A coloquei lá bem devagar e cobri seu pequeno corpo.
Fiz o mesmo que fiz com Dânio, fiquei com ela por alguns minutos e depois fui para o meu quarto. Tirei
minhas roupas e deitei ao lado da minha esposa.
— Sim — digo.
Rita abriu os olhos e me encarou com a mesma intensidade de quatro anos atrás.
— Eu te amo, Bruce.
— Eu também te amo, Rita — murmurei antes de inclinar meu corpo sobre o dela.
Família que pensei nunca ser capaz de ter, mas que por sorte do destino ou
Eu conhecia a morte de perto e faria de tudo para que minha vida ao lado deles não fosse desperdiçada.
Para refletir
“Somos o resultado dos livros que lemos, das viagens que fazemos e