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De acordo com a revista Galileu, da Globo, um grupo de arqueólogos, liderado pelo professor
Christopher Henshilwood, da Universidade de Bergen (Noruega) encontrou o desenho mais antigo
de que se tem notícia: uma figura desenhada há mais de 70 mil anos na África do Sul, na caverna
Blombos – um sítio arqueológico localizado na Reserva Natural Blombosfontein, cerca de 300
km a leste da Cidade do Cabo, na costa sul de Cabo, com depósitos da metade da Idade da
Pedra, atualmente datados entre 100.000 e 70.000 anos, e do final dessa Idade, datados de entre
2.000 e 300 anos (Descobertas em Blombos, em 2016, demonstraram que os homens da Idade da Pedra trocavam
tecnologia em grande escala).
O pesquisador (com o grupo) realizou análises químicas e microscópicas que vieram a confirmar
que a ilustração é obra de mãos humanas, pois, “o desenho também é uma evidência da habilidade
dos primeiros humanos de armazenar informações fora de seus cérebros”.
Já tinham sido encontradas, na caverna, outras relíquias de há 70 mil a 100 mil anos, como
ferramentas e um tipo de tinta vermelha, o que leva os arqueólogos a acreditar que o desenho
encontrado na Blombos seja o mais antigo de que se tem notícia. Até agora, a figura considerada
mais antiga tinha 40 mil anos. E o estudo da Nature adianta:
“Essa descoberta demonstra que desenhar fazia parte do repertório das populações mais antigas de Homo sapiens do sul da
África. Isso demonstra a sua habilidade em aplicar padrões gráficos parecidos em várias formas usando diferentes
técnicas.”.
***
Nos termos do texto de Carlos Nogueira publicado no DN on line, de 12 de setembro, o desenho terá
cerca de 73 mil anos, o que significa que é o mais antigo já encontrado. E, questionando, responde:
“Será este um dos primeiros desenhos feitos por humanos? É pelo menos o mais antigo encontrado até agora e foi descoberto
na Caverna Blombos, na Reserva Natural de Blombosfontein, na África do Sul.”.
Explicando que o desenho é abstrato, consiste em três linhas vermelhas, com tom ocre, cruzadas
com seis outras linhas e, segundo os cientistas, foi feito de forma intencional num pedaço de rocha
há cerca de 73 mil anos, assegura:
“Este desenho agora encontrado supera em largos milénios os mais antigos que já eram conhecidos, datados de há pelo menos
30 mil anos, descobertos em África, na Europa e no Sudeste da Ásia”.
Mais informou ter sido o arqueólogo italiano Luca Pollarolo, investigador da Universidade de
Witwatersrand, em Joanesburgo, a fazer esta descoberta enquanto analisava, no seu laboratório
universitário, milhares de pedras retiradas da Caverna Blombos, a 300 quilómetros a sudeste da
Cidade do Cabo, que começou a ser explorada em 1991. Não obstante, não há contradição
relativamente à anterior informação, já que o arqueólogo italiano integra a equipa dirigida pelo
arqueólogo sul-africano Henshilwood, que iniciou as primeiras escavações na caverna Blombos,
local onde há material datado de 100 a 70 mil anos e também mais recentes, de há dois mil anos.
Quanto ao desenho em causa, “o grande desafio para os cientistas foi provar que o desenho foi
intencional” e que “foi feito por humanos, quando, como e porquê”.
Entretanto, o grupo de cientistas entende que o desenho ter-se-á estendido por uma superfície
maior, dado que o padrão de riscos vermelhos é abruptamente interrompido na lasca de pedra
encontrada. Comprova-se que as linhas foram aplicadas na pedra. E, baseados em várias
experiências feitas com vista a recriar o padrão, os investigadores assumem que o desenho terá
sido feito com um pedaço ocre pontiagudo, cuja extremidade teria uma largura entre um a três
milímetros. E a este respeito, o próprio Henshilwood considera:
“Estas observações apoiam a hipótese de que estes sinais eram de natureza simbólica e representavam um aspeto do
comportamento do mundo moderno destes Homo Sapiens, os antepassados de todos nós”.
***
Por seu turno, Teresa Sofia Serafim, no Público de hoje, dia 14 de setembro, parte da lasca acima
referida e escreve a propósito de Pollarolo, o qual nem queria acreditar no que tinha nas mãos,
mas percebendo ter “feito uma grande descoberta”:
“Há já algum tempo que Luca Pollarolo estava a analisar milhares de peças recolhidas de uma gruta na África do Sul. Mas,
de repente, encontrou uma lasca com cerca de quatro centímetros de comprimento, que era diferente.”.
Então, o arqueólogo italiano entrou em contacto com outros cientistas a saber se partilhavam da
mesma opinião e, após várias análises, chegou-se à conclusão de a pequena rocha com cerca de
73 mil anos “tinha o desenho mais antigo do mundo que se conhece até ao momento”.
O mencionado artigo científico publicado na última edição da revista Nature, de que um dos
autores é Luca Pollarolo (da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul), revela que o desenho foi
obra do homem moderno (Homo Sapiens) e, para já, “é considerado abstrato”.
Os cientistas, para inferirem que o desenho foi feito por humanos, seguiram o seguinte método:
reproduções das mesmas linhas do desenho com técnicas diferentes – reproduções feitas com
fragmentos de ocre afiados e aplicação de diluições de ocre em pó com pincéis – e comparação,
com recurso a técnicas de microscopia ou químicas, dos novos desenhos com o antigo. No final,
puderam confirmar que o desenho na lasca tinha sido feito deliberadamente pelos humanos.
Karen van Niekerk, da Universidade de Bergen (Noruega), coautora do trabalho, declarou ao
Público: “Soubemos assim que as linhas na pedra não eram naturais”. E acrescentou:
“Encontrámos o desenho numa camada que tinha muitos outros artefactos feitos pelos humanos como conchas perfuradas,
gravuras em ocre ou ferramentas de pedra e osso. Também descobrimos vestígios humanos, nomeadamente dentes, na gruta.
Não temos dúvida de que o desenho foi feito por um humano, o Homo Sapiens.”.
No atinente à asserção de que o desenho é abstrato, a mesma cientista Karen van Niekerk também
declarou ao Público que “é abstrato porque não representa nada figurativo, como um animal,
por exemplo”, mas que “pode ter sido usado como um símbolo para algo mais figurativo” – o
que não se conseguiu “provar nesta fase”.
E, falando da gruta em que foi encontrada a lasca, Teresa Serafim, expõe:
“A lasca com o desenho foi encontrada na gruta de Blombos. Situada no Sul da África do Sul, a cerca de 300 quilómetros a
leste [outros dizem a sudeste] da Cidade do Cabo, esta gruta tem recebido escavações arqueológicas desde 1991 e tem
mostrado ter provas muito antigas de atividades culturais do humano moderno. Têm-se lá recolhido milhares de artefactos
com entre 70 mil e 100 mil anos como conchas ornamentais e fragmentos de ocre com gravuras.”.
E, fixando-se no desenho recuperado dessa gruta e descoberto, em 2015, entre outras peças
analisadas por Luca Pollarolo, descreve pormenorizadamente:
“Num pequeno fragmento de rocha siliciosa, há nove linhas verticais e horizontais – seis dessas linhas são cruzadas por
outras três, o que se assemelha a uma hashtag. Esse símbolo terá sido feito com um ‘lápis’ de ocre vermelho com entre um
e três milímetros de espessura. A lasca onde está esse desenho tem 38,6 milímetros de comprimento, 12,8 milímetros de
espessura e 15,4 milímetros de altura. E como as extremidades do fragmento têm cortes abruptos, pensa-se que esse desenho
faria parte de uma superfície maior composta por um símbolo mais complexo.”.
***
Em suma, trata-se de um desenho feito por humanos e abstrato, restando saber se terá sido usado
como um símbolo para algo mais figurativo e, como é óbvio, se será mesmo o mais antigo do
mundo. Poderão investigações posteriores vir a descobrir outro ou outros desenhos mais antigos?
É a ciência em aberto!
O facto de o desenho ter sido encontrado num estrato com 73 mil anos faz dele o mais antigo do
mundo que se conhece. E o aludido estudo permite-se propalar que “esta notável descoberta
precede os anteriores desenhos figurativos e abstratos mais antigos, pelo menos, 30 mil anos”.
Come efeito, até agora, os desenhos mais antigos abstratos ou figurativos – alguns deles tinham
cerca de 42 mil anos – vinham de sítios arqueológicos mais recentes como das grutas de Chauvet
Pont d’Arc (França), de El Castillo (Espanha), Apollo 11 (Namíbia) e de Maros (Indonésia).
Todavia, Karen van Niekerk salienta que, por agora, a sua equipa tem hesitado em considerar o
desenho descoberto na África do Sul como arte. E resume tudo o que, por agora, se sabe dele:
“É definitivamente um desenho abstrato, temos quase a certeza que tinha algum significado para o criador e, provavelmente,
formava uma parte de um sistema simbólico comum compreendido por outras pessoas do seu grupo”.
Talvez um dia se saiba o que esta hashtag com 73 mil anos representa.
***
Adicionalmente, por Teresa Serafim, surge um precioso esclarecimento. Niekerk refere, para que
não restem dúvidas, que desenho é diferente de pintura e de gravura. No caso deste desenho, usou-
se uma peça de ocre para desenhar linhas numa pedra, ao passo que a gravura “é um método
totalmente diferente, que implica usar uma pedra para fazer cortes nalguma coisa”, como explica
a cientista.
Ora, segundo um comunicado sobre o trabalho de investigação adrede desenvolvido, na gruta de
Blombos foram encontradas gravuras com padrão semelhante ao do desenho e também com mais
de 70 mil anos. Para a equipa, isto demonstra que, há cerca de 70 mil anos, os humanos modernos
na África do Sul já faziam sinais semelhantes em diferentes materiais, o que “apoia a ideia que
essas marcas tinham uma função simbólica”. Todavia, segundo o predito comunicado, a gravura
mais antiga conhecida é um ziguezague esculpido numa concha que foi encontrada no sítio
paleoantropológico de Trinil (na Indonésia), num estrato com 540 mil anos. Em relação a pinturas,
a revista Science revelou, este ano, que os neandertais (também humanos) foram os primeiros artistas
a pintar grutas. Esse estudo apresenta provas fortes (pela datação de pinturas rupestres em três grutas em
Espanha) de que esses humanos pintavam grutas intencionalmente há, pelo menos, 65 mil anos.
Por isso, conclui-se que que os neandertais já desenvolviam esta atividade antes dos humanos
modernos, ultrapassando as suas pinturas as de Chauvet Pont d’Arc (com cerca de 32 mil anos) e as
de várias grutas da ilha de Celebes (na Indonésia, com cerca de 40 mil).
***
Como se entrevê, com os arqueólogos cooperaram geólogos, químicos e físicos, o que deu uma
sólida e cautelosa abordagem multidisciplinar – o que parece não ter sucedido com as famosas
gravuras do Coa, privilegiadas em detrimento das da Vermiosa e do Douro (junto ao lugar de Cortes),
transpirando (talvez sem razão) para público a ideia principal de evitar a Barragem do Coa. Também
apareceram gravuras na Quinta das Laranjeiras a impedir a Barragem do Sabor.
2018.09.14 – Louro de Carvalho