As raízes do Romantismo
O mundo, às vezes, pode parecer um lugar assustador. Um lugar onde não conseguimos ver
espaço para nossa vida. A alma, então, fica ofegante, sem ar, buscando um lugar onde o horror não
seja a regra. Esse lugar pode ser um mundo invisível, o passado, um paraíso, a pessoa desejada,
ou, um outro inferno, como o mundo, ainda que feito da substância dos pesadelos. Quando esse
terreno encontra gênios literários, o horror pode virar beleza.
A descrição acima está muito próxima do que o filósofo judeu britânico Isaiah Berlin (século
20) pensava da Alemanha dos séculos 17 e 18, devido às terríveis guerras religiosas entre católi-
cos e protestantes, a “Guerra dos 30 Anos”. O resultado foi uma Alemanha devastada e reduzida
à “Idade Média”. Enquanto França e Inglaterra nadavam de braçada em direção à modernização
burguesa industrial, os alemães se afogavam no ressentimento e na melancolia. Nascia o Roman-
tismo. Essa Alemanha foi o seu berço. O Romantismo surge como um grande ataque ao Iluminis-
mo e sua fé na eficácia e na ciência da razão.
A modernidade é bipolar. Quando acorda bem, é iluminista, científica e progressista. Mas
quando ela acorda mal, é romântica, ciente da hostilidade do mundo e em dúvida com relação à
capacidade de sua grande criação: o iluminismo racionalista e técnico-científico. Pode-se dizer que
o Romantismo é antes de tudo uma afetividade angustiada com um mundo que nega aos homens e
mulheres sua espontaneidade. Uma espontaneidade recém-adquirida graças à liberdade moderna.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2013/09/
1338890-as-razies-do-romantismo.shtml. Acesso em: 21.09.2013. Texto adaptado.
Quanto ao ambiente
• A imprensa, dada a liberdade esta-
belecida pela independência, adquire maior
importância na vida do país. O escritor ganha
maior popularidade e importância social
em virtude da divulgação de suas obras de
arte e do jornalismo onde colaboravam.
• O Romantismo se aproxima das mas-
O escritor romântico é um ser espiri- sas populares. Ao invés das reuniões nas Aca-
tualista, indiferente às coisas materiais. Faz demias e nos salões literários, os românticos
culto aos sentimentos, entre os quais tiveram reuniam-se nos cafés, nas redações dos jor-
particular exaltação: o amor, a pátria e a reli- nais e nas confeitarias que passam a ser os
centros de discussões artísticas ou políticas.
gião. O romântico valoriza a paisagem, co-
• O escritor romântico atinge uma enor-
munga com a natureza que age diretamen- me popularidade, não só pelas ideias liberais,
te no estado emocional do escritor. mas também pelos temas sentimentais, ao
O tom das composições oscila entre a alcance de todos. O Romantismo foi um movi-
alegria e a melancolia. O romântico busca mento muito complexo: influiu no vestuário, nas
um mundo novo através do sonho e da ima- atitudes e nos adornos. É a época das longas
ginação que é responsável pelo sentimento cabeleiras, das olheiras, da palidez nas faces.
revolucionário ligado aos movimentos demo-
Literatura 2 - Aula 1 7 Instituto Universal Brasileiro
Romantismo no Brasil (1836-1881)
A publicação de “Suspiros poéticos e sau-
dades” (1836), de Gonçalves de Magalhães,
marca o início do período romântico no Brasil.
Diferentes sentidos do termo
O Romantismo brasileiro, na fase inicial, reves-
romantismo
tiu-se de um expressivo cunho nacionalista. A
Independência, conquistada em 1822, reforçou
a busca de elementos caracterizadores e dife-
renciadores de nossa nacionalidade. Daí o for-
te sentimento de fidelidade à pátria e às suas
tradições, e a criação de símbolos que pudes-
sem ser incorporados à consciência nacional
e que passassem a representar o país. Entre
eles o índio, a natureza e a linguagem. Embora
tenha traços próprios, o Romantismo no Brasil
é uma derivação do Romantismo europeu; em
poesia são três gerações.
A supervalorização do amor, a fuga da
realidade através da imaginação, o com-
portamento baseado, sobretudo, na emo-
ção, são características do estado de alma
romântico. Trata-se de um modo de sentir
e interpretar a realidade e de um modo de A literatura romântica no Brasil
agir. Esse romantismo (modo de sentir a
realidade, estado de espírito) difere de Ro- Os escritores buscavam uma identi-
mantismo (estilo de época). dade brasileira, pois acabávamos de nos
Como estado de espírito ou tipo de emancipar politicamente; daí o desejo de
comportamento, o romantismo caracte- desenvolver uma literatura com elementos
riza-se por uma atitude profundamente nacionais. O Brasil precisava ter caracte-
emotiva diante da vida, e pode surgir em rísticas próprias de uma nação indepen-
qualquer momento histórico, não estando dente;as paixões e as emoções naciona-
sujeito a datas. Por isso, pode refletir-se na listas tinham que ser despertadas. A fé, a
produção artística de qualquer época. Na valorização das ideias, liberdade de cria-
literatura, por exemplo, o comportamento ção, o amor platônico, o desejo de igualda-
romântico aparece registrado desde a An- de, a natureza, a religião, o individualismo
tiguidade até os nossos dias. e o nacionalismo foram exaltados.
Já o Romantismo entendido como
estilo de época diz respeito à tendência
geral da vida e da arte que predominou
na Europa durante a primeira metade do
século XIX. Nesse caso, o Romantismo
designa um estilo artístico delimitado no
tempo, que apresenta características que
exaltam o estilo romântico.
Feita a distinção, fica claro que é pos-
sível ocorrerem manifestações da sensibili-
dade romântica até em obras contemporâ- A proclamação da Independência,
François Moreaux (1844).
neas, de nosso século.
Soneto
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
1. Leia as considerações a respeito do Ro- Surda agonia o coração fenece,
mantismo e assinale a alternativa correta. E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
I - Com a poesia lírica, o Romantismo ganhou Tento o sono reter!… já esmorece
formato na literatura do século 19. Os poetas român- O corpo exausto que o repouso esquece…
ticos usavam e abusavam das metáforas, frases di- Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
retas e comparações. Os principais temas aborda- O adeus, o teu adeus, minha saudade,
dos: amores platônicos, nacionalismo e morte. Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
II - O Romantismo caracteriza-se como um
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
movimento que segue os moldes clássicos, bus-
Volve ao amante os olhos por piedade,
cando uma produção estética que se enquadre nas
Olhos por quem viveu quem já não vive!
formas fixas da poesia, sem liberdades na produ-
ção poética. (AZEVEDO, Aluísio. Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)
a) ( ) Afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Afirmativas I e II estão incorretas. O núcleo temático do soneto citado é típico
c) ( ) Somente afirmativa II está correta. da segunda geração romântica, porém configura
d) ( ) Somente afirmativa I está correta. um lirismo que o projeta para além desse momen-
to específico. O fundamento desse lirismo é:
2. De acordo com as características do movi-
mento romântico, coloque nos parênteses diante dos a) ( ) a angústia alimentada pela constata-
textos: (1) indianismo, (2) nacionalismo, (3) valoriza- ção da irreversibilidade da morte.
ção da infância, (4) crítica social, crítica à escravi- b) ( ) a melancolia que frustra a possibilida-
dão do negro e assinale a alternativa correta. de de reação diante da perda.
c) ( ) o descontrole das emoções provoca-
( ) “Meu canto de morte, do pela autopiedade.
guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
d) ( ) o gosto pela escuridão como solução
Nas selvas cresci; para o sofrimento.
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.” (Gonçalves Dias) 4. A Terceira Geração do Romantismo, cujos
( ) “Na senzala, úmida, estreita, textos são marcados pela crítica social, principal-
Brilha a chama da candeia, mente a escravidão, é conhecida como condo-
No sapé se esgueira o vento. reira, e seu maior representante é o poeta:
E a luz da fogueira ateia.
Junto ao fogo, uma africana,
Sentada, o filho embalando, a) ( ) Gonçalves de Magalhães.
Vai lentamente cantando, b) ( ) Gonçalves Dias.
Uma tirana indolente c) ( ) Castro Alves.
Repassada de aflição” (Castro Alves)
d) ( ) Junqueira Freire.
( ) “Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá; 5. Assinale a alternativa em que todas as
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.” (Gonçalves Dias)
obras citadas foram escritas por Castro Alves.
( ) “Oh! que saudades que tenho
a) ( ) “Vozes d’África”; “Navio negreiro”;
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida “Espumas flutuantes”.
Que os anos não trazem mais!” (Casimiro de Abreu) b) ( ) “Navio negreiro”; “Espumas flutuan-
tes”; “Cântico do calvário”.
a) ( ) 1 - 4 - 2 - 3 c) ( ) “Espumas flutuantes”, “A cachoeira
b) ( ) 1 - 2 - 2 - 3 de Paulo Afonso”, “Lira dos vinte anos”.
c) ( ) 3 - 4 - 2 - 3 d) ( ) “Lira dos vinte anos”, “Cântico do cal-
d) ( ) 1 - 3 - 2 - 4 vário”, “Navio negreiro”.