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Contudo, ao mesmo tempo, a escola deve ser entendida como “espaço de luta de
classes”, o qual “reflete as relações conflituosas entre dominantes e dominados e a luta
incessante dos trabalhadores contra a exploração e opressão”(ibid, p. 9). Nesse sentido, na
perspectiva marxista é ilusão pensar que existam atividades pedagógicas que não sejam
conflituosas, estas, enquanto resultado de uma produção de conhecimento, que se dá,
invariavelmente, por meio de uma luta de ideias, são também uma manifestação das lutas de
classes. Assim, visto que a “escola tem caráter de classe”, “é ilusório considerar possível a
neutralidade na definição dos conteúdos curriculares, porque eles são carregados de marcas
ideológicas e têm conteúdos de classe” (ibid, p. 12)
Com isso, é evidente que o movimento dialoga com grupos sociais privilegiados e
comprometidos com a preservação da ordem, ou seja, conservadores. De acordo com Flach,
“os impactos de uma proposta que têm seu alicerce no solo pantanoso do conservadorismo
afetam toda a população, omitem a luta de classes, condenam os mais pobres ao conformismo
pregado por seitas religiosas e, ainda, impedem uma visão crítica sobre a realidade vivida”.
(ibid, p. 36).
Sob outra perspectiva, também atuam, nesse sentido, diversos grupos empresariais,
principalmente aqueles organizados no movimento Todos Pela Educação (TPE), os quais
advogam em favor do “estreitamento curricular”, difundindo as recomendações dos
organismos internacionais, o qual dá “ênfase nos conteúdos cognitivos e disciplinares
previstos nas avaliações de larga escala em detrimento do desenvolvimento dos sentidos
psicomotor, estético, artístico” (GAWRYSZEWSKI; MOTTA, 2017, p. 21). Portanto,
a concepção de educação que se busca hegemonizar, articula a falta de pluralidade,
de debates e de criatividade com o estreitamento do conteúdo escolar, priorizando
aqueles considerados úteis para o suposto desenvolvimento econômico, em
conformidade com a agenda da OCDE. Esta concepção de educação estabelece uma
relação direta e restrita da formação humana à dinâmica do mercado e concebe o
trabalhador como um dos fatores da produção que, se adquirir habilidades e
competências em especificidades do processo produtivo, pode gerar produtividade
e competitividade(ibid, p. 22)
Pode-se dizer, aliás, que a crise escolar que hoje se difunde liga-se precisamente ao
fato de que este processo de diferenciação e particularização ocorre de modo
caótico, sem princípios claros e precisos, sem um plano bem estudado e
conscientemente estabelecido: a crise do programa e da organização escolar, isto é,
da orientação geral de uma política de formação dos modernos quadros intelectuais,
é em grande parte um aspecto e uma complexificação da orgânica mais ampla e
geral. A divisão fundamental da escola em clássica e profissional era um esquema
racional: a escola profissional destinava-se às classes instrumentais, enquanto a
clássica destinava-se às classes dominantes e aos intelectuais (GRAMSCI, 2000, p.
33)
Desse modo, Gramsci entende que as crises que envolvem a escola no capitalismo,
relacionam-se com sua organização, que, notoriamente, não pode ser destacada do seu
“caráter de classe”, que a conformam de maneira fragmentária, isto é, seguindo uma lógica
que separava as classes dominantes, que se dirigem para círculos mais voltados para uma
formação de intelectuais e as classes produtoras, as quais são, quase sempre, obrigadas a
cursar o ensino técnico ou “profissional”. A esta ideia de escola, Gramsci contrapõe um
projeto de “escola unitária”, que tem como objetivo integrar esses dois elementos, conjugando
trabalho intelectual e industrial, construindo uma articulação que “tenha uma centralização e
um impulso da cultura nacional que fossem superiores aos da Igreja Católica” (ibid, p. 41),
dessa maneira, desenvolvendo as capacidades individuais das massas populares. Saviani
resume que:
Todas essas exigências (a formação multifacética, a relação dialética teoria-prática,
a estruturação num sistema nacional de educação) definem o caráter unitário de uma
escola democrática: ESCOLA UNITÁRIA – a que busca unidade, não a
uniformidade. Nada tem a ver com a escola “única” da proposta liberal-burguesa ou
de sua versão, recomposta, de “escola única diferenciada”. É parte integrante da
proposta socialista de escola única do trabalho, só possível à medida que forem
eliminadas as condições geradoras da diferenciação e da desigualdade social,
realizável na sociedade sem classes. ESCOLA UNITÁRIA – a escola da sociedade
socialista, em que é possível tomar as medidas para o encurtamento das distâncias
entre trabalho manual e intelectual, trabalho do campo e da cidade, trabalho do
homem e da mulher... E tantos outros antagonismos da sociedade capitalista
(SAVIANI, op. cit., p. 13)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FLACH, Simone de Fátima. O retrocesso conservador do projeto “escola sem
partido”: uma análise ancorada no pensamento de Antonio Grasmci. Revista Pedagógica, v.
19, n. 42, p. 34-48, set./dez.
GAWRYSZEWSKI, Bruno, MOTTA, Vânia Cardoso da. A ofensiva conservadora-
liberal na educação: elementos para uma análise da conjuntura contemporânea. Trabalho
Necessário[online], v. 15, n. 26, p. 6-29, jan./abr., 2017.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, volume 2: Os intelectuais. O princípio
educativo. Jornalismo. Edição e tradução Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2000.
SAVIANI, Nercide. Escola e luta de classes na concepção marxista da educação.
Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Londrina, v. 3, n. 1, p.7-14; fev. 2011.
Questão 2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS