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oe Aeolian te 29 Hance. L pre £596 Oe. 0 LOA O CONCEITO DE PAPEL NO PSICODRAMA, CARLOS José RUBINI* SINOPSE O presente texto apresenta diferentes conceitos e signific: encontrados na obra de Moreno e de outros psicodram: dos papéis psicossomaticos, sociais ¢ psicodramitico: within the psychodramatic context, UNITERMOS Papel Social. Papel INTRODUGAO ‘A nogio de papel nfo esti contribuiges de G. reno, para citar apenas os * Mestre em Prlcologia. Professor al -tupervisor pela FEBRAP. see. Professor Utecestdaite Federal Fl Por outro lado, Ray Holland (1977) em seu livro “Eueo Sontexto Social” analisa as contitbulgics de autores que buscaram a inter-relacio do papel e da Personalidade destacando a “teoria do construto. Pessoal ¢ papel" (G. Kelly, D. Hannisterc F.Fransella),a“teoriaesteuturaldo papel (Parke Burgess, ¢Mevton) indo papel eu/outro™ (Coser e Rosenberg). nsidcrandose diversos enfoques das Clem isede autores que femaem questio, verificase que o papel social podeser identiNeado apenas com as normas, mas igualmente com o status, em seu aspecto Padrao determinado de comportamento que “Hlete ¢ caracteriza uma posicao especial do individuo dentro do grupo soctal He pertence.A organizacio aticulada de papéis confere unidade 30 grupo, objetivos como pessoa e como integeante de ide. © processo de assuncio ou Incorporacio de um papel lente complexo. Caracteriza a socializacio do individuo atraves do mento da personalidade ao duplo estimulo de expectativas de Por outrem ou reclaboradas por ele proprio. le do presente texto, no entanto, nio € a de abordar todas as. ingindo-se ao concelto de papel no Psicodrama, ontribuic¢io de Moreno € de autores ligados a0 movimento: SENTIDOS DO TERMO PAPEL E A ORIGEM NO TEATRO Icamente diversos termos dio origem a palavra papel com rentes sentidos. O termo vem do latim medieval rotulus (derivado de rote: peda) auc pode significar tanto *unta fotha enrotada contendo um escrito, hem como * aqiiflo que deve recitar um ator numa peca de teatro” No see Xtotermo era utilizado também no sentido de ‘fungito soctal”, ‘projissdo” © crmo francés “r6le*, 0 Inglés “role” ¢ o castelhano “rol” igualmente tem sua resma etimologia latina “rottlus”. 3) vrs papel na lingua portuguesa, etimologicamente, vem do grego im paptro. Papiro designava um arbusto do Egito de cuja © papel, obtendo-se o material para a escrita O significado de role € 0 de uma folha contendo um escrito € 0 de papel oda folha. Da mesma forma, a palavra portugue- © material utilizado para a escrita. Constata-se s originais de rofulus foram incdrporndos na lingua portugue- "papel. Isso porque, além de indicaro material utilizado na eserita refere-sc também 4 *personagem representada por um ator", ott ‘or desempenha no teatro, no cinema, na televisio, etc.” e, cio de natureza moral, juridica, técni * A), Isto é, fi » médico, por exemplo. el necessita de um ator e todo ator tem um 5 Ne © teatro pode sobreviver sem um texto ir da cenografia (representagio ao ar livre), ¢ até dispensar 2 Palavra (mimica). Pode existir (como durante séculos) sem 0 direte, Mas o coro € corifeu (ji existentes nas inova representando vi € roupas, As representagiies de tragédias inclufam o coro, corifeu € ator (este, geralmente, 0 proprio pocta). Com Fisquilo surge 0 segundo ator e Séfoctes introduz.o terceiro. Na tragé frega munca havia mais de trés personagens em cena © os atores erm 0 onista, o antagonista ¢ 0 tritagonista. Ao primciro cablam os papéis is ¢ os demais divididos entre os atores secunditios, las pelos ponte uc procuravam decorarseusrespectivos ‘paptis”. NosséculosXVIEXVI,com © teatro moderno, as partes dos personagens teatrais eram lidas em “rolos" ou fasciculos de papel, Passousse, assim, a designar cada parte cénica como papel ou “role” © CONCEITO DE PAPI ‘A fonte inspiradora da teoria dos papéis de Moreno fol 0 origem, segundo ele, paps m conceito sociol6gico ou psi da linguagem do teatro e através dele entrou para 0 vocabulirio cientifico como o teatro representou, no inicio, a matrlz. 0 locus do projeto moreniano, nada mais logico, portanto, que oconcelto de papel tenha se constit das pedras angulares da teoria moreniana e da pritica s6cio-psicodramitica PARA MORENO, Aesquecido amtiide, que.a moderna teorta dos paps teve sua orlgem tno teatro, do qual tomou stas perspectivas. Tem uma longa storia © fradicdono teatro curopen, a partirdoqualdesenvolvt, graduatmente 4 direcdo teraptutica esoctal de nosso tempo. Introdusta nos Teta Unidos em meados da década de 20. Dos papéls e contra paptis situagdes de paptts e conservas de papel, desenvotoeramse nattral mente suas extensdes modernas:o executante de papel, odesenipenho de paptts, a expectativa de papel, a passagem ao ato (acting out) Sinaimente, 0 psteodrama eo soctodrama (18, . 28) A tarefa do Teatro Vienense da Espontancidade, entre 1921 € 1923, fola de produzir uma revolugio no teatro, procurinde modificar por completo os eventos teatrais. Das Stegreiftheater representoual no ato da criagho € representa autor, entre pessoa e drama, criandoa z ahlerarquia cntre os atores (0 protagonista nfo € fixo como na tragédia prc Desaparecea separacio entre platéia eatores, potscada membro. tornar-se ator e vice-versa Eimprovisado: a pe dos conflitos. as palayras, o encontro € a resolu o também desaparcce, surgindo em seu lugar 0 pralco- espago, 0 espago aberto, 0 espaco da vida, a vida mesma Surge, assim, um novo tipo de teatro, Nao um teatro repetitivo, de pega o, decorada, ensalada e encenada sucessivamente, rontancidade € sempre uma pega Ginica, que flul ¢ se consuma no » ato vivenclal dos atores-criadores, Um teatro vivo, teatro vida, “Minha visdo do teatro fot moldada segundo a tdéta do self espontancamen. fe criativo”, diz Moreno. (15, p. 17) scu teatro, Moreno buscava tanto o desenvolv mento pessoal quanto social do individuo. Para aleangar esses objetivos, ia psicodramatica dos papéis leva 0 conceito de papel a todas as, existéncia humana, desde o nascimento e ao longo de toda a vida . enquanto experiéncia pessoal ¢ modalidade de participagio , buscando transformi-lo através da agio. O conceito de papel, que pressupde inter-relacdo e acao, é central nesse conjun- de teorias, Imprescindivel, sobretudo, para a compreensio da teoria ¢ pritica do psicodrama, O homem € um ser que, a partir do Imputso da espontaneidade, poder’ ndo contra as conservas culturais, através da , chegari a assemelharse a Deus © encontrar stia F se 0 homem nao desenvolver essa espontaneidade, ele adocce, segundo Moreno. concepgio entende que o existir humano é um viver em coletividade. luo se realiza pelo desempenho de papéis na sociedade. “Este enfogue sesunda no princtpto de que o homem tem um papela desempenhar, cada indivfduo se caracteriza por uma variedade de papéis que regem seu comportamento e que cada cultura se caractertza por uma série de papéis que, com mator ou menor éxito, tmpbe a todos os membros da sociedade. ” 16. p. 81D Fncontrase, assim, na concepgio moreniana de homem como génio que se desenvolve a partir da espontaneldade, a dimensdo do indivfduo, ¢ na concep¢ao de homem como membro de um grupo inserido numa coletividade, @ sua dimensio soctal, 0 ponto de uniio entre ambas, para Moreno, encontrase no conceito de papel: “Todo papel 6 uma fusdo de elementos Particutares e coletivos, 6 composto de duas partes: seus denominadores colettvos e seus diferenciais individuats.” (16, p. 68) Dessa maneira, como sintese unificadora, 0 papel -conceito so conectacomaespontancidade, de contedido individual, Papele espontancidade caminharam juntos desde os primeiros trabathos de Moreno com seu teatro de Improviso: “O desempenho de papéts fol a técnica fundamental do teatro espontanco vienense. Dada a predominancta da espontanetdade e da cria- Hvidade no desempenho de papéts, este fol chamado ‘desempenho esponta- neo-criativo™ (17, p. 157) Essas duas dimensdes, a individual c a coletiva sio encontradas nos diferentes sentidos e concepgies de papel apresentadas por Moreno ao longo de sua obra = Opapel pode ser defintdo como a unidade de expertencia sintética em que se fundiram clementos privados, soctais e culturals. (18, p. 238) = 0 papel 6 a forma de functonamento que o indivtduo assume no momento especifico em que reage a uma situacao espectfica, na qual outras pessoas ou objetos estito envolvidos. (18, p. 27) = Opapel €uma cristallzacao final de todas as sttwagdes em wma zona espectat de operacies pelas quais.o indtvtduo passou (p. ex. ocomedor, 0 pat, opitoto de avido) (18, p. 206) = O papel pode ser definido como uma pessoa tmagindria ertado por um autor dramdtico, p. ex. um Hamiet, um Otelo ot tm Fausto; esse papel {magindrio pode nunca ter existido, como, p. ex. umn Pindqito ou um Rant. 8, p. 206) = 0 papel 6 a untdade da cultura: ego e papel estdo em continua interagito. (18, p. 29) = Opapel pode ser tm modelo para a extstencta, como Fausto, ou unra Imitagao dela como Otelo. .. O papel também pode ser deft-nido como uma parte ou um-cardter assumtdo por umator.... Opapetatnda pode ser definido como uma personagem ou funcao assumida na realldade soctak p. ex. polcial, médico, juz... Finalmente o papel pode ser defintdo comoas formas reais e tangfvets que 0 eu adota, (18, p. 206) Nessas diferentes definigdes ¢ concepgdes pode-se notar que os papcis possuem algo comum: sio fendmenos observivels, aparecem nas ages, atuados, representam aspectos tangfets do eu. Moreno ora define 0 papel como fungio prescrita € assu Para ele, 0 papel orase refere A uma pessoa a.um modelo para a existéncia ou a um personagem da realidade s0% Imitago da vida ou uma forma tangivel do eu. B, como observa Rochchta Spenlé, destacase o sentido de representagao teatral ¢ agdo, fungdes soctais de: \das pelos individuos na socledade, representacao da individualidade das pessoas, modelo de experténcta, “parte” de uma pessoa real representada por um ator, cardter ot enfocam os papéis como fac de ¢ por representarem pad aspecto no do papel: a a do homem que 0 assemelha ages sio criadoras ¢ espontineas. Englobando sinteticamente os diferentes sentidos do termo papel pro- Postos por Moreno, Goncalves, C., Wolf, J. Re Almeida, W. C., definem papel como “a unidade de condutas interreiactonals observdvels, restltante de elementos constituttvos da singularidade doagenteedesua tnsergdona vida soctal.” (11, p. 68) ORIGEM DOS PAPEIS E.O SURGIMENTO DO EU / (0 desempenho de paptts ¢ antertor ao surgimento do eu. Os 4 paptis nao emergem do eu; € 0 ew quem, todavia, emerge dos ) Paneis."(18, p25) No processo de desenvolvimento do individuo, os papéis surgem no trizde Identidade que, para Moreno, constitul “a base psicolégica todososdesempenhos de papéis” ¢lanca osalicercesdo primeiro proceso de aprendizagem emoctonal da crianga. A'matriz. de Identidade € 0 universo renciado onde o bebé vive antes ¢ Imediatamente apés 0 nascimento, * Fssa matriz é existencial e pode ser considerada o locus donde surgem, em fases Rraduais, o en € suas ramificacées, os papéls. Os papéis sio os embrides, os Precursores do eu, ¢ esforgam-se por se agrupar e unificar. * (18, p. 25) Moreno distinguc trés ipos de papéis: os fisiologicos au psicossomaticos, gicos ow psicodramiticos € os socials, Consideraos como “cus” is. Postula que entre o papel sexual, o do Individuo que dorme, 0 do que edo que come, desenvolvemsse “vinculos operacionais” que os conjugam considerada uma espécle de eu fisioldgico, um “eu um conglomerado de papéis fistolégicos. Do mesmo modo, no decurso do desenvolvimento € histérla do Indi duo, os papéls psicodramaticos vaoseagrupando, formandoumaespécie de “eu psicodramatico”. O mesmo ocorre, finalmente, com os papéls socials, constitu: indo um “eu social”. O fsiolégico, 0 psicodramatico e 0 sacial sio apenas “cus *. Moreno afirma que 0 cu intelro, realmente integrado, de anos inca estd longe de ter nascido. £ necessério que se desenvolvam, ialmente, vinculos operacionals ¢ de contato entre os conglomerados de socials, psicoldgicos ¢ fistologicos para se identificar € experimentar, Uunificagio, aquilo que € chamado de “eu” No proceso de desenvolvimento Infantil os papéls psicossomaticos auxiliam a crianga a experimentar seu corpo (dimensio fislologica/ corporal). Por outro lado, 0s psicodraméticos vio ptoporcionar as condigdes da crianga expcrimentar ¢ descnvolver sua psiqué (dimensio psicoldgica do cu) € os socials, por sua vez, contribuem para produzir o que se denomina sociedade nensfio da rcalidade social). Corpo, psiqué © sociedade so as partes Intermedidrias e integrantes do et total. ‘Para Moreno, no momento do nascimentodo bebé,amatrizde identidade verso inteito, onde nio existe diferenclagio entre interno ¢ extemo, entre objetos e pessoas, psiqué c melo. Acxisténcia € una e total. S¥o, portanto, os papéiseatravés dcles quea crianga vai percebendoe descobrindoasi propria © o mundo que a rodcia, O surgimento ¢ desenvolvimento dos papéis € um processo que corre has fases pré-verbais da existéncia do ser humano ¢ nio se Inicia com a \guagem, polsEanterior’ cla. (Nese ponto Moreno diverge deG. M, Mead que enfatiza a finguagem como condigio da comunicacio entre os homens ¢ do desenvolvimento da personalidade.) Tal processo Indicativo da génese dos papéls ocorre em momentos fases diversas da matriz de identidade. Ao nasccr, a crlanga entra em seu primetro untverso que se divide em dots pe primetro € 0 da tdentidade total, onde a crianga nio objetos, nem fantasia de ide. Pessoas € objetos, incluindo a rd crianga, sio experimentados como um todo s6, Indivisivel, Nessa fase a erianca nccessita de um ego-auxiliar que faga para ela 0 que no consegue fazer por st propria. O segundo perfodo 6 0 da identidade total diferenctada ou da realidade total diferenctada, onde objetos, animais, pessoas ¢ a prapria erianga passam a diferenciarse. Surgem, porém, dols movimentos que se mesclim: ora a crianga concentra a atengio no outro, esquecendo-se on estranhandoasl, ora o inverso, ignora o outro, concentrandose ¢ ficando atenta em sl mesma, fa fase do espetho, onde nio existe ainda uma diferenga cfetiva raginado, entre animado ¢ inanimado, entre aparéncia das coisas (imagens de espetho) ¢ as coisas Na primeira fase da matriz de Identidade (a da identidade total Indiferenciada) os papéls que primcito aparccem, ligados as necessidades € fungdes vitais, so os psicossomiticos, tais como o de ingeridor, defecador, dormidor, etc. O conccito de papel psicossomitico, para Moreno, encontra se vinculado a0 de zona, foco, iniciador, aquecimento, con c/ou condigdes que ocorrem, por exemplo, no ato de mamar, filho. "Toda zona € 0 ponto focal de um disposttivo fisico de arranque no Processo de aquectmento preparatério de um estado espontanco de reatida de, sendo tal estado ou estados componentes na configuragito de wm papel. 18, p. 108) Os papéis psicossomiticos sio os pri humano. Definem as marcas gravadas pela ordem vital ¢ constituicm os pyr fos papéls a exigit do homem uma colocacio frente & sua propria existén Representam padrées de conduta ou funcionamento na satista dades fstolégicas, Incluindo aio modus operandi, com que os egos.auxiliares interatuam com a c suas necessidades. De certa forma, jA existe rel necessidades ou fungies fisiol res. A partir, portanto, da forma como foram experiencladas os papéis psicossomaticos, a erlanga continua 0 processo de assimilagio de novos aglomerados ou “cact de papéis, pois a partir da formacio dos primeiros ocorre como se cada novo papel surgido tendesse a se aglutinar com os outros por Influéncia ou “transfe Féncia do fator E". Moreno entende o papel como primeira unidade ordenado. fac estruturante do eu. J na segunda fase da matriz (a da identidade total diferenciada), embora do tenhasurgidoaindaa diferenciagioentre objetosde realidade e imaginarios, a crlanga comega a “Imitar” parte daquilo que observa. Moreno dcnomina tal Drrocessn como “adogio infantil de papéis" que consiste em duas fundies: dar (lado) ¢ reecher papéis (recebedor). Exemplifica com a sittiacio de entar: a concessio de papéis é realizada pelo egoausillar (mie) © 0 ao receber o alimento. A mie 20 da 1ece-se em relagioao filho para execugio de atosde certa cocréncla Interna, Eo behé, ao receher oalimento, aquece-se também paraa execucio de ia de atos que Iguatmente desenvolvem certo grau de cocrénca ido de tal Interagio val se estabelecendo, gradualmente, uma certa € reciproca expectativa de papéls nos parceiros do processo. Expectativa esta que cria as bases para todo o Intercdmbio futuro de papéis entre a crlanga © os egosauxiliares. O primetro untverso termina quandoaexperiéncia Infantil de um mundo em que tudo € real comega se decompondo entre fantasia €fealidade. Desenvol vese a construcio de imagens € comega a tomar forma a diferenciacio entre coisas reals © coisas imaginadas. f0 Inicio do segundo untverso infantil, marcado pelo surgimento do que Moreno denominou “brecha entre fantasia € reatidade”, (constituindo a terceira fase da matriz. de Identidade). Surgem, ais processos de aquecimento: um de atos de realidade ¢ outro de atos de fantasia. Dessa divisio do universo em fendmenos reais e ficticios, surgem, ‘mundo social e um mundo de fantasia, separados do mundo wamatrizde identidade, Emergem, agora, formasde representar que pemacrianga emrelagio com pessoas, colsase metas, noamiblente real, exterlores a ela (papéis sociais) ¢ com pessoas, coisas ¢ metas que ela fmagina We screen exteriores (papéls pstcodramitieos), sor, ete. io personificagdes de coisas Imaginadas, tanto reals como Irreais. Nu fiagrama de papéis (18, p. 129)Moreno representa divisio entre ambos como , mas atribul maior espaco ¢ predomindncia aos psicodramsticos. ‘Com o desenvolvimento desses novos conjuntos de papéis (os $0 relacionados com 0 mundo real, os psicodramaticos com o mundo da fant: ase a terccira fase da matriz.de kdentidade, denominada ada tnverso de papéis onde, primelro existe a tomada de papel do outro para, em seguida, ocorrera Inversio concomitante de papéls, o que acarreta uma transformacio Os papéis psicodramiticos € soclais completam as condigées para o nento do eu. Os trés papéls definidos por Moreno, desdobrando-se em aglomerados ou “cachos” correspondem aos papéls precursores do ego, cons: tituindo os “eus parcizis” psicossomitico, psicodramatico ¢ soc Nos sociais opera, fundamentalmente, a funcio da realidade mediante terpolacées de resisténclas, no produridas pela erlanga, mas que the si0 impostas pelos outros, suas relagdes, colsas, atos € distinclas no espago, no tempo, Dessa mancira, através dos papéis socials, 0 individuo val Incorporando otié inserido no mun deveres, etc. . fo mundo instituido da conserva cultural ‘A dimensio psicodramitica constitu contrapartida da re: nos papéls ps lamentalmente, a funcio da fantas Moreno emendia como papéie psicodramiticos Canto os desempentiados no cendrio durante uma dramati to 08 oriundos da fantasia, da imagina ‘go como produgées imaginarias do individuo. “Os papéts pstcodranrat personificacses de cotsas tmaginadas, tanto reats quanto irreats”. Corres: pondem, portanto, 4 dimenste mals Individual da vida psiquica, 4 *dimensio ica do cu’, livre das resistencias extrapessoais, io ser as criadas por -apacidade de tnictar processos de aquecimento diferencindo desempenho de um ou de outto tipo de papel. ppassagem do mundo da fantasia para o da realidade € vice-ve dade como principio da adequagao da a¢io do indi “A fase dla Inversio-de-papéis-que-ocorre no segundo univer (precedida pela do duplo ea doespetho) representa culminincia do processo d€desenvolvimento docu e constituta base psicol6gica para todos os processos de desempenho de papéis ¢ para fendmenos como imitagao, identifieacio, projecio ¢ transferéncia. Inverter ¢ desempenhar 0 papel do outro, nio surge de sibito nem ocorre nos primeiros meses de vida. Somente coma io dos papéis precursores, em torno do terceiro ano, a crianga dispe de wma Identidade que the permitiré relactonarse com outras pessoas, Poder, assin inverter o quadro, assumindo o papel de quem, no colo ou com cla passeou. Dessa mancira, a experiéncia da realidad I claro que ‘0 pat encontram-se implicados, constituindo se, de estimulos € respostas. Interagio que tan resposta em fun: elementos imprevisive tes da interagio. Necessirio se faz, portanto, analisar um outro aspecto, © conccito de complementariedade, 0 contra-papecl. (© papel, originariamente, nasceu da interacio mic-filho € base complementariedade dos dois. Somente existe em fungio de scu complemen: tar: o contra papel. A Inter-relagio de ambos, polarizada em papel ¢ contra papel, constitul os vinculos./ juo atuare Interagir € através dos papéis. Tstes correspondem 20 conjunto de respostas que cle di a Rese aprendizado implica em conseguir viver os varlos patos de uma cat podendo jogar tanto 0 seu papel quanto o complementar. Papel ¢ contrx-papel sio constitutivos um do outro, Nao hi pal sem filho. . O modo de ser de uma pessoa decorre dos papéis que ela val complementando ao tongo de is na Interago social, por outros papéls jementam os seus amente, 2 nogio de papel aparece veiculando uma comple mentariedade: 0 contra papel, existindo entre ambos uma relagao estrutural € de inter determinagio reciproca, © PAPET. NA PRATICA PSICODRAMATICA Os interesses de Moreno - terapeuta ¢ pedagogo - esto voltados mais as relagdes do que para a cultura, os valores € normas sociais, Visam, preferen le € criatividade para que estes possam agir © © desenvolve técnicas © mentos operativos como recursos para que o individuo possaatingtr tals, objetivos. As primeiras técnteas histériens sio representadas pelo teatro de nproviso ¢ o jornal dramatizado (Jornal vivo), as técnicas relacionadas As fases odescnvolvimento: duplo, espetho¢ inversio de papéis, consideradas basicas por servirem de base ¢ fundamento para as demais. * Como para Moreno eu “é revelado pelo desempenho de papéis*, ele val priv obremancira, a técnlea do role playing comtodoseu desdobramen: Tor pedagigico (aprendizagem € treinamento de papéis) ¢ terapeutico. A finalidade do role-playing como jogo psicodramstico de papéls “€ proporcionar 0 ator uma visio do ponto de vista de outras pessoas, a0 atwar no papel dos outros, seja em cena, seja na vida real” desenvolvimento de um novo papel passa por trés fases distintas: jas: a) @ tomada do papel (colesaking) ou adogio do papel Ja pronto € inteiramente , podendo o individuo apenas imité-lo a partir dos modelos dispo- permite variagio nenhum geau de liberdadc. Cabe apenas ace! tn, desempenhando.o ds mancim ji convenctonada. Para Moreno, conaitlse 3b) @ Jogo de papéts (role-playing) 1 desempenho que permite certo grau de liherdade. Consiste em jogar o papel explorindo simbolicamente suas possibilidades de represen- \siio. Para Moreno, 0 Jogo de papéis é ato, brincadeira espontinea; € c) a crlagdo_de papéis (role creating) permite alto grau de liberdade, deixando margem 4 iniciativa pessoal, como no caso do ator espontinco. Criar o papel € ho de forma espontanea e criativa. E como todo papel necesita de fase do processo de scu desenvolvimento encontram-se os atores ntes: 0 “receptor”, o “intérpréte” ¢ 0 “criador de papéis” ‘como pensar oPsicodrama, seus instrumentos, acstrutura de uma inculado de papéis e atores que os vivenclam. Toda dramatizagio, quer técnica psicodramitica somente pode acontecer quando colocados em acio e, através destes, personagens interatuam se vinculando como interlocutores. Ver lero de Monte Eaditora Drastllense, 1993. talll “Técnicas Fundamentals do Prlcodrama”, Slo Paulo, BA No Psicodrama, encontrandose com seu eu em papéis im: correspondentes a fungées assumidas dentro da realidade social, 0 individuo recupera a capacidade de realizar transformagées auténticas em sta v suas relagdes € no meio onde vive. Arealizagio da verdadcira ago espontanea equivale criagioe desempe nho de papéis que correspondema modelos proprios de existéncia, Adimensio dohomem criativo/espontineose contrapde continuamente coma conserva da cestrutura social, com os papéis que o aprisionama modelos ¢ padrdes, normas, status, rotulos pré-ceterm seu potencial imaginativo/criativo para transformara re: sociais instituidos, cristalizados ¢ conservados, para recrifos modificando-os ¢ Invertélos, reinventandoos na vivéncia das relagées em que se encontra envolvido € Implicado. Uma ver. que a proposta psicodramética é resgatar 0 homem espontinco-criativo preso nas amar ontaneidadeatrantsdo confuntode papéts que desempenhia nojogoda vida. © CONCEITO DE PAPEL F 0S PSICODRAMATISTAS ntimeros sio os psicodramatistas que tém atendido ¢ est aoapelo de Moreno de nio tomarsua obra como pronta e acabada. Pul témse sucedido numa demonstracio viva do esforgo est da frea, principalmente no cenirio psicodramatico brasi Papel tem reccbido diversas contribulgdes de bom ntimero desses autores. J. G. ROJAS BERMUDEZ, (1966), em seu livro Que es el Sicodrama?", desenvolve uma teoria neurofisiolégica de desenvolvimento, personalidade € psicopatologia - “a tcoria do Nacleo do Fu". Denomina Naiclco do Fua cstrutura resultante da confluéncia dos papéis psicossomiticos de Ingeridor, urinador © defecador com as reas mente, corpo ¢ ambiente. Bermudez considera o ser humano uma condensagio los fatores ambien: te, corpo € mente com destaque para os papéls psicossomaticos de dcfecador ¢ urinador oiundos das fungdes Asioligicas corres Importincia fundamental da estruturagio dos papéis psicossomiticos € a progeessiva delimitagio de reas que eles vio produzindo. Assim, © papel de Ingeridor-delimita as areas corpoambiente, o de defecador as de ambiente- mente ¢ o de urinador mente-corpo. Evolutivamente, para Bermude7, 0 papel ‘de ingeridor estruturase nos primeiros dias de vida, 0 de defecador entre 0 terceiroeoitavo mése o deurinadorentre ooitavoe vigésimo quarto. O“Naicleo do Eu” € a estrutura resultante da integracio das trés Areas com os trés papis psicossomiticos a partir da “estrutura genética programada interna” ¢ da “externa”, Como um dos pionciros na histéria do movimento psicodramitico brasileiro, Bermudez. tem feito escola € sua teoria do Nicleo do Fu possut Inimeros seguldores. DATMIRO BIISTOS (1979), gurade destaque no cenirlopstcodramitien, centre suas inumeriveis contribuigdes ao Pstcodrama, apresenta os conceitos de 55 suplementariedade, de papel complementar interno patologico, de dinamtca dos papéls (vinculos) € papel gerador de tdentidade, is estruturam o ego em suas troeas com 0 melo o entre 0 ¢g0.€ o mundo exterior esté estruturada Cada papel se relaciona com complementares de outras ho com scu complementar: mie ou pal. A sit que este papel fique fixado emseu modus operandiao papel ido complementar interno patoldgico. Quan- ais forte oconMlito, mais incapacitante o resultado e malor némerode papéls, odo estimulo externo que desencadele esta dinimica Ne correspondem a ico poder apresentar condutas afins em sus relagdes com outras as de autoridade, Iss0 ocorre, porque, para se despreender dos comple- ‘ntares primirios, a crianga necessita de apolo indispensavel para superar a da separagio € retomar a espontaneldade. Na falta desse apoio, cla primério, parcial ou totalmente, configurando-se, assim, opapelcomplementar snterno patol6gico. Este ia bloquear ou afetar em difercntes graus as relagdies com os outros, revelandose parte constitutiva permanente dos vinculos, provocando respostas ou atitudes de acordo com as experiéncias primitivas do . € no com os estimulos externos e atuals. Diminul a capactdade de 's espontaneas, aumentando a ansiedade. Constitul a base das_relagées transferenciais. (5, p. 18-23) (6, p. 24). ~~ Segundo Bustos, os papéls se agrupam conforme sua dindmica, configu: rando clusters ouagrupamentos. (7, p. 76).O primetro dependedo complemen- tar_materno, responsivel por fungdes de_dchendéncia ¢ incorporngio. O segundo do complementarpaferno, gerando a matrlz dos papéis ativos, Ambos possticm tim primciro complementar finico: mie e pal ou os adultos que desempenham esses papéis. Estes dois papéls primarlos sio assimétricos por tureza. A simetria aparece mais tarde, quando @ paridadc se apresenta na forma de frmdos ou companheiros de brincadeira. Esta interagio diferenclada uutras duas determina o surgimento de um tercelro cluster, que representa as.relagiies de paridade, Configurase, assim, 0 esquema bisico de papé Passive, alive e interafivo. O primeiro esquema, de fungdes passiva: Incorporativas, dependentes, esti vinculado a0 papel gerador de mic © a aspectos femininos. O scpundo, gerador de capacidade ativa, penetra auténoma, ligase ao papel de pal ea aspectos masculinos . Eo tercciro vinculo Essas trés ‘de todos os papéis Outro conceito desenvolvido por Bustos € 0 de papel gerador de identidade (5, p. 22), p.77-78), caracterizado comoaquele que, dentro de um repertério de papéis de um adulto, predomina como um ponteiro positive truindo auto-confianca, especi diferentes momentos de suas vidas. Constitul se em eixo predominante funciona como defensivo nas sittagdes de conflito, bem como possul f ordenadora (ordenamento interno). ALFREDO N descolontzando 0 imaginarl papel dramitico, psicodramitico, imaginirio ¢ hist6rico. Para cle, 0 papel dramAiico € 0 vivido pelo ator do teatro. & prédeterminado pelo script, confervado, estratificado © perpetuador de um drama deslocado do al exterior a ele. Por outro lado, distingue papel pstcodramdtico de papel dmagindrio. Para Moreno 0s potencial criativo, ora designam o mundo da oposigo aos papéis sociais, que definem o mundo real e das Naffah, entretanto, caracteriza 0 papel psicodramdtico como 0 que, de narlo concrettza-se espontaneamente em acito real, crfado e desempenhado jivro de Moreno, distinguc papel dramitico e do papel pessoal. (Termo ut pelo qual 0 individuo determina ele mesmo stta posi outros € age conforme um modelo de conduta que constitul como norma das religdes inter-subjetivas.) (22, p. 172). Afirma que o papel psicodramitico “retoma € focaliza num mesmo cixo 0 ator € 0 drima como di Implicadas entre si, possibilitando a emergéncia da espontanci deea retomada pelo ator de seu ver odeagente”. (19, p. 18 ‘© papel psicodramatico designa a emergéncia de uma nova sintese entre Imaginagio ¢ agio, entre espirito ¢ corpo. Dissolve se a clivagem entre papel social ea pessoa privada surgindo o sujeito como existéncka una, Na cisio entre pessoa privada e papel soci «¢ fechada em st mesma. Nessa clivagem a pessoa fantasia se € Imaginase em determinadostiposde relaga nclo, sonho) que nfosio transformados em agio efetiva. Com a emergéncia do segundo universo infantil (quando 0 Imaginirio diferenciase do real) o desempenho dos papéls soc sobreporao mundo Imaginario, tendendo restringir tiva. Para Naffah, 0 papel psicodramitico representa o momento em que a inagio compe seu espago solipsista para encarnarse ¢ fazerse verdad: Tepresentando io © ago. fo esforgo de lesta clivagem que define a espontaneidade criativa ea emengénci ts pstcodraméiicas. 08 papéts imagindrios sio os resultantes da fantasia ¢ imaginagio do Gonho, fantasia) mas ndo transformados em agdo efeliva, ndo atuados edesempenhados. & para Natl icodramtico a0 ser vivido € desempet ios ndo-atuados, concre de papel social chega ao cariter odo mesmo ou, conforme o denomina, a um tipo de papel: o historico duc, enquanto modelo, circunscreve ¢ delimita os papéis socials, Moreno nio © descreve, segundo Naffah, por nio considerat a fungio estruturante da corda com Moreno quando este afirma que os “os Iquer cultura especifica’, esquega que estas formas relacionais esto circunscrita ico € uma estrutura social, politica econdmica, de que festagScs necessirias, consolidagio do instituide. Conch s, sua estrutura ¢ Oprlas, nada mais fazem que repetir ico, a estrutura de contradigio io bisicas que se realiza entre papéts hist6rtcos, constituida pela relagio dordominado, uma vez que o conceito de papel social pressupde ode se social € vice-versa. Jo 0s fatos mais significativos dentro de q desde que n proc n “Psicodrama da Loucura”, JOSE FONSECA FILHO (1980) apreset nade desenvolvimento humano, expde uma visio da loucurae satide, ando uma tcoria da personalidade bascada nas fases da matriz de identida. ‘© postulado moreniano de que o eu se formaa partir do desenvolvimen- ipéis, enfoca sua andlise na capacidade do individuo tomar, jogar ¢ "apel € uma experiencia interpessoal e necessita de dois ou mais, \viduos para ser posta em agio. Todo papel é uma resposta a outro (de outra pessoa). Nio existe papel sem contra-papel”. (8, p. 20) Cc e, pela técnica de inversio de papéis, uma espécie de lade de “inverter ou experienciar 0 outro”, avaliandose, n, © grau de satide ou docnga que atinge as pessoas. Um desempenho ¢ versio de papéis perfeitos significa auséncia total de “elementos psicéticos”. firma que a técnica de inversio de papéis “pode realmente, guardadas as vidas ressalvas, constituirse um dispositivo para “medir” 0 grau de “satide- docnga” de uma pessoa”. (8, p. 102) sua formagio apresenta um enfogue de pa instrumentalizagio pritica para o trabalho do psicoterapeuta Com 0 propésito de inovagio, procurando novos modelos ile atuagio terapéutica, Fonseca tem desenvolvido um métode de psicoterapia individu: a “Psicoterapta da Relacao” (10), técnica psleoteripica derivada do psicodra- rica € toda sua experiéncia clinic I bastante operativo, oferecendo uma ma, fundamentada principalmente no jogo de papi icos) entre terapcuta ¢ paciente, onde o pri personagens do mundo interno e relacional do pacient Interlocutor deste. O terapeuta da relagio assume o papel paciente, previamente descmpcnhado por ele on diret ainteracio. Fonseca considera que 0 jogo ¢ inversio de papéis faci ioco-inconsciente ¢€ revigorante para os participantes. Jogaro pap. pessoa, abrindo mao, parcialmente, da identidade para receber a do 0 fetornando em seguida 4 sua propria, produz. sutis alteragdes de consciéncia ¢ liberagio de energia, provocando bemr

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