Você está na página 1de 7

Lucivalter Expedito Silva

OAB/MG 91.079

Lourivalter Silva Júnior


OAB/MG 132.715
Excelentíssimo Juiz de Direito da Vara Única da Comarca de Santana do Parnaíba/SP

PAULA TAVERES GONÇALVES, brasileira, casada, empresária,


nascida em Brasília/DF no dia 09.01.1978, filha de Paulo Cesar Tavares e Almedi Alves
Dias Tavares, portadora do CPF n. 786.177.741-34 e RG n. 1.559.193 SSP/DF, residente
e domiciliado na Avenida Flamboyant, Lote 06, Apartamento 805, Ed. Vinícius Serrão,
Águas Claras/DF, CEP: 71.917-000, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
com fulcro no artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor e nos artigos 133 a 137 do
Código de Processo Civil, requerer a instauração do competente

INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

da empresa CAREMundi – Sourcing Trusted Medication (CAREMUNDI.com), com


sede nos Estados Unidos da América, sob o Federal TX ID n. 300971615, com sede no n.
601, Brickell Key Drive, 33131, Loja 901, na cidade de Miami/Florida, ora Requerida, em
desfavor de seus sócios ANDRÉ CRISTIANO DI DONATO, qualificação; e FELIPE
DOMENICO NEGRI, qualificação; pelos fatos e fundamentos jurídicos doravante
aduzidos:

I. DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, o Requerente declara, sob as penas da lei, que não possui


condição financeira que lhe permita arcar com as custas e despesas processuais sem que
isso implique prejuízo para a sua manutenção, conforme se verifica na declaração de
hipossuficiência anexa, razão pela qual, com fundamento na Lei n. 1.060/50, requer lhe
sejam concedidos os benefícios da gratuidade da justiça, sob pena de violação ao artigo 5º,
inciso XXXV, da Constituição da República.

II. ANTECEDENTES NECESSÁRIOS E JUSTIFICAÇÃO DO INCIDENTE

Brasília/DF: SAS, Quadra 04, Ed. Victoria Office Tower, Bloco A, Sala 213, CEP 70.070-938
Frutal/MG: Rua Olavo Bilac, nº 116, Centro, CEP 38.200-000
Fone: (34) 3421-5208 – (34) 9999-9815 - (61) 8242-5551 - (34) 9636-9815
Aqui, fazer uma síntese dos fatos da ação principal (partes, objeto, valor
da causa e trâmite processual), demonstrando o esgotamento das vias ordinárias de
recebimento do débito, o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade e/ou pela confusão patrimonial.

Lembrar que a mera existência de grupo econômico sem o preenchimento


desses pressupostos não autoriza a desconsideração, nos termos do artigo 50, §4º, do
Código Civil (inserido pela Lei n. 13.874/2019).

III. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Nos termos do artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor, é cabível


à parte interessada postular pela instauração do incidente de desconsideração diante do
abuso da personalidade da pessoa jurídica de empresa que figure no polo adverso da
ação, sendo o abuso passível de verificação em virtude de desvio de finalidade e/ou de
confusão patrimonial entre a empresa e seus sócios ou entre grupo econômico porventura
formado entre diversas empresas.

Eis o teor do referido dispositivo:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio


de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte,
ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la
para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Grifo nosso)

Por sua vez, os artigos 133 e seguintes do Código de Processo Civil vêm
de delimitar os procedimentos a serem adotados na hipótese de instauração, estabelecendo:

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a


pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos
previstos em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as
anotações devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade
jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa
jurídica.
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º.
§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais
específicos para desconsideração da personalidade jurídica.
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-
se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens,
havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.

Neste quadro legal, verifica-se plenamente cabível a instauração do


presente incidente, eis que se propõe por iniciativa dos Requerentes e que admissível em
qualquer fase processual, encontrando-se a demanda em estágio de execução.

Quanto ao preenchimento dos pressupostos para a instauração do


incidente, tem-se, em primeiro plano, que restaram frustrados todos os meios
tradicionais de satisfação do débito em face da Executada, NOME DA EMPRESA.

Ocorre que, conforme já demonstrado, CITAR INDÍCIOS E


ELEMENTOS PROBATÓRIOS CONSTANTES DOS AUTOS QUE
DEMONSTREM O DESVIO DE FINALIDADE E/OU A CONFUSÃO
PATRIMONIAL ENTRE EMPRESA E SÓCIOS.

Deste modo, no presente caso resta evidente o desvio de finalidade da


personalidade jurídica da empresa Executada, tendo em vista o uso da pessoa jurídica como
instrumento de práticas fraudulentas, revelando claro desvio dos objetivos da sociedade e
causando flagrantes lesões a terceiros.

É neste quadro que o artigo 50 do Código Civil autoriza a concessão de


provimento judicial destinado a afastar a proteção conferida aos sócios pela personalidade
jurídica da empresa para alcançar seu patrimônio pessoal, sendo que a ratio legis consiste em
iniciativa de desmantelamento de fraudes perpetradas por intermédio de empresas.

É o magistério de Sérgio Campinho1:

Em função da autonomia de patrimônio verificável a partir da personificação da


sociedade que passa a ser titular de um patrimônio distinto, inconfundível com o
patrimônio particular de cada sócio que a compõe, passou a pessoa jurídica da
sociedade, em certas circunstâncias, a ser instrumento para a perpetração de
fraude contra os credores. Torna-se a pessoa jurídica manipulável por sócios ou
administradores inescrupulosos, com vistas à consumação de fraudes ou abusos
de direito, cometidos por meio da personalidade jurídica da sociedade que lhes
serve de anteparo.

1CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p.
65, grifo nosso.
Em consonância ao compreendido pelo doutrinador, é certo que não
devem os sócios, através da ficção da personalidade jurídica, utilizarem de tal meio para se
eximirem do cumprimento de suas obrigações, de modo a fraudar seus credores ante o
exaurimento de patrimônio de forma indevida.

O “mau uso” da personalidade jurídica caracteriza-se justamente pela


utilização do direito para fins diversos dos quais deveriam ser buscados, o que,
primordialmente, autoriza a desconsideração.

Nesse sentido, confira-se o entendimento da jurisprudência quanto à


desconsideração da personalidade jurídica, aplicando-se os requisitos supracitados:

FALÊNCIA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.


PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL. ABUSO DA
PERSONALIDADE E DESVIRTUAMENTO DA AUTONOMIA
PATRIMONIAL. PRECEDENTES DO STJ. A teoria da desconsideração da
personalidade jurídica tem por escopo alcançar o patrimônio dos sócios-
administradores que se utilizam da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para fins
ilícitos, abusivos ou fraudulentos, nos termos do que dispõe o art. 50 do Código Civil:
comprovação do abuso da personalidade jurídica mediante desvio de finalidade ou de
confusão patrimonial, em detrimento do interesse da própria sociedade e/ou com
prejuízos a terceiros. [...] No caso, a fundamentação para a desconsideração da
pessoa jurídica está ancorada em abuso da personalidade e no desvirtuamento
da autonomia patrimonial de acordo com as provas e os documentos carreados
ao processo, indicativos de que houve transferência do patrimônio da falida para
empresas sucessoras, dentro do período suspeito, o que sugere, ao menos em
tese, o intuito de prejudicar os credores [...]. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ-RJ – AI: n. 0033165-77.2016.8.19.0000, Relator:
Desembargador Ferdinaldo do Nascimento, Décima Nona Câmara Cível, julgado em:
22/08/2017, DJe: 24/08/2017, grifo nosso)

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO –


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA – DESVIO DE
FINALIDADE – CONFUSÃO PATRIMONIAL. Para evitar o abuso do uso da
sociedade e a prática de fraude por meio da proteção da personalidade jurídica,
permite-se seja ela desconsiderada, para que o patrimônio dos sócios venha a
responder pelas obrigações contraídas pela sociedade empresária. A personalidade
jurídica da empresa somente será desconsiderada se for cabalmente
comprovado que há confusão patrimonial ou desvio de finalidade do objeto
social da sociedade empresária. (TJMG – AI n. 1.0317.10.003835-3/001, Relator:
Desembargador Marco Aurelio Ferenzini, 14ª Câmara Cível, julgado em: 20/02/2014,
DJe: 28/02/2014, grifo nosso)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DESVIO DE
FINALIDADE OU CONFUSÃO PATRIMONIAL. COMPROVAÇÃO.
1. A desconsideração da personalidade jurídica é medida de caráter
excepcional, cuja aplicação somente é possível quando o desvio de finalidade,
caracterizado pelo uso abusivo da autonomia patrimonial da pessoa jurídica
para fraudar terceiros, ou a confusão patrimonial.
2. Havendo provas nos autos da alegada confusão patrimonial entre as empresas
integrantes do mesmo grupo econômico, aplica-se a teoria da desconsideração da
personalidade jurídica. 3. Deu-se provimento parcial ao agravo de instrumento.
(TJDFT – AI n. 20150020015164, Relator: Desembargador Sérgio Rocha, 4ª Turma
Cível, julgado em: 10/06/2015, DJe: 25/06/2015, grifo nosso)

Dessa forma, está nitidamente configurado o desvio da finalidade das


atividades, evidenciado na medida em que os sócios possuem patrimônio suficiente, tendo
constituído empresa nos moldes da anterior, sendo, portanto, capaz de responder por suas
dívidas, enquanto os Requerentes se encontram sem o recebido do débito perseguido.

MANTER A PARTE A SEGUIR CASO SE QUEIRA ARGUMENTAR


EXISTÊNCIA DE GRUPO ECONÔMICO – atenção ao art. 50, §4º, CC

Noutra margem, além de configurado o desvio da finalidade da empresa


Executada, resta caracterizada também patente confusão patrimonial, dada a manifesta
comunicabilidade patrimonial entre seus ativos e os da empresa XXXXXXX, titularizada
pelos mesmos sócios e destinada a alcançar o mesmo objeto social (OBJETO DA
EMPRESA INTEGRANTE DO GRUPO ECONÔMICO).

CITAR INDÍCIOS E ELEMENTOS PROBATÓRIOS


CONSTANTES DOS AUTOS QUE DEMONSTREM O DESVIO DE FINALIDADE
E/OU A CONFUSÃO PATRIMONIAL ENTRE AS EMPRESAS DO GRUPO.

A possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica de empresas


pertencentes ao mesmo grupo econômico está amparada, inclusive, pela pacífica
jurisprudência pátria, do que destacamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA PARA
INCLUSÃO DE EMPRESA DO MESMO GRUPO ECONÔMICO.
Possibilidade, no caso em tela. Nulidade por ausência de intimação prévia daquele que
é inserido no polo passivo. Inexistência. Contraditório diferido. Indícios de uso
abusivo da personificação societária.
- O esvaziamento patrimonial da antiga empresa, aliado à constituição, pelo
mesmo sócio, de nova pessoa jurídica com finalidade e nome idênticos,
evidencia não só a existência de grupo econômico, mas o desvio de bens
(confusão patrimonial) e o intuito fraudulento da conduta, que busca se valer
de nova sociedade para imunizar os bens de seus titulares das dívidas
constituídas no exercício da empresa individual. Manutenção do entendimento
adotado em Primeiro Grau. Negado provimento. (TJSP – AI n. 2002149-
81.2013.8.26.0000, Relator: Desembargador Hugo Crepaldi, 25ª Câmara de Direito
Privado, julgado em: 22/08/2013, DJe: 27/08/2013, grifo nosso)
Portanto, nesse caso, é certo que a nova empresa deve compor a presente
lide no polo passivo, para que possa responder solidariamente pelos prejuízos causados aos
Requerentes, juntamente com seus sócios.

É a lição pretoriana:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO.


SOCIEDADE EMPRESÁRIA. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. POSSIBILIDADE. DESVIO DE
FINALIDADE. DEMONSTRAÇÃO. TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS
ENTRE PESSOAS JURÍDICAS QUE POSSUEM SÓCIOS COMUNS.
OPERAÇÃO QUE VISOU FRUSTRAR A SATISFAÇÃO DA DÍVIDA
EXEQUENDA. USO ABUSIVO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
1) Ao teor do art. 50 do Código Civil, o deferimento do pedido de desconsideração
da personalidade jurídica de sociedade empresária requer a demonstração pelo
requerente da ocorrência de desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
2) A transferência de recursos financeiros realizada entre sociedades
empresárias que possuem sócios comuns com o objetivo de inviabilizar a
satisfação de dívida exequenda caracteriza o desvio de finalidade e possibilita
o deferimento do pedido de desconsideração da personalidade jurídica, para
que o patrimônio dos sócios possa ser atingido pela penhora.
3) Agravo parcialmente provido. (TJAP – AI n. 0000418-55.2015.8.03.0000, Relator:
Desembargador Carlos Tork, Câmara Única, julgado em: 14/07/2015, DJe:
16/07/2015, grifo nosso)

Forte nessas razões, imperiosa a desconsideração da personalidade


jurídica da empresa Executada em desfavor de seus sócios, bem assim a inclusão da
empresa CAREMundi.com e de seu sócio FELIPE DOMENICO NEGRI no polo Commented [L1]: Manter esse excerto somente se for pleitear a
existência de grupo econômico utilizado como meio de fraude.
passivo da demanda a fim de que respondam solidariamente à ação de execução, uma
vez verificados flagrante desvio de finalidade e confusão patrimonial entre as referidas
pessoas jurídicas e seus respectivos sócios no intuito de fraudar as obrigações por si
contraídas em detrimento de seus credores.

V. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

(i) A instauração do presente incidente, eis que plenamente cabível, procedendo-


se à comunicação do distribuidor para as anotações devidas e à citação dos
sócios da empresa XXXXXXXX para que, querendo, se manifestem e
requeiram as provas que entenderem cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias, firme
o disposto nos artigos 134, §1º, e 135 do Código de Processo Civil;

(ii) A suspensão do processo principal até o encerramento e julgamento do


presente incidente, nos termos do artigo 134, §3º, do CPC;
(iii) No mérito, seja o presente incidente julgado integralmente procedente, com
a consequente decretação da desconsideração da personalidade jurídica
XXXXXXX, de sorte que sejam os seus sócios incluídos no polo passivo do
processo principal, o qual deverá ter regular prosseguimento também em
desfavor destes;

(iv) Ainda, a inclusão da empresa CAREMundi.com e de seu sócio FELIPE


DOMENICO NEGRI no polo passivo da demanda a fim de que respondam Commented [L2]: Manter esse excerto somente se for pleitear a
existência de grupo econômico utilizado como meio de fraude.
solidariamente à ação de execução, uma vez presentes os requisitos
autorizadores constantes do artigo 50 do Código Civil.

Termos em que,
Pede deferimento.
Frutal/MG, 13 de dezembro de 2019.

Lucivalter Expedito Silva Lourivalter Silva Júnior


OAB/MG 91.079 OAB/MG 132.715

Você também pode gostar