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FACULDADE EDUCACIONAL DA LAPA – FAEL


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

MÁRCIA REGINA BOTER FERRAZ

BRINCADEIRA DE FAZ DE CONTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SINOP – MT
2016
2

FACULDADE EDUCACIONAL DA LAPA – FAEL


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

MÁRCIA REGINA BOTER FERRAZ

BRINCADEIRA DE FAZ DE CONTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


para a Faculdade Educacional da Lapa - FAEL
como requisito parcial para obtenção do título de
especialista em Educação Infantil.

Orientador: Prof. Vinícius José Henrique da


Costa Leonardi

SINOP – MT
2016
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BRINCADEIRA DE FAZ DE CONTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

FERRAZ, Marcia Regina Boter 1


LEONARDI, Vinícius José Henrique da Costa2

RESUMO
O presente trabalho de conclusão do curso visa analisar a importância do espaço destinado ao
brincar de faz de conta no desenvolvimento e aprendizagem da criança na educação infantil.
Atualmente vivemos um momento onde as crianças não dispõem de espaços significativos para
brincar e criar suas próprias brincadeiras são vítimas de pequenos espaços tumultuados de
brinquedos eletrônicos que pouco possibilitam o acesso à criação. Analisando esses fatores foi que
surgiu a necessidade de se criar espaço para a criança, possibilitando situações imaginárias que
proporcionem o desenvolvimento cognitivo, facilitando a interação com pessoas as quais contribuirão
para o seu desenvolvimento. A opção por este tema surgiu a partir das vivências na área da
Educação Infantil que oportunizaram observar e indagar o quanto é relevante os momentos
destinados a brincar, principalmente de faz de conta, a existência de espaços seguros onde a criança
possa brincar, interagir e desenvolver-se, além do resgate de um direito que vem sendo negado às
crianças, o de ser criança. No campo metodológico utilizou-se a pesquisa descritiva, método
qualitativo e indutivo, com procedimento técnico documental, com embasamento teórico pelos
pesquisadores como: Brougére (2004), Kishimoto (2008), Oliveira (1992), RCNEI (1998), Vygotsky
(1998). Por meio desta pesquisa e interlocuções dos teóricos, constatamos que o faz de conta no
desenvolvimento da criança é de suma importância para seu desenvolvimento integral. Ele deve ser
planejado e ter um espaço adequado para que possa haver uma boa interação entre as crianças
favorecendo assim seu desenvolvimento intelectual, físico e psicológico.

Palavras-Chave: Brincar. Faz de conta. Espaço. Aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho se desenvolveu através de uma pesquisa descritiva, com


método qualitativo e indutivo, com fonte de apoio e embasamento encontrado nas obras de
autores renomados que vieram fortalecer e aprimorar a prática educativa como: Brougére
(2004), Kishimoto (2008), Oliveira (1992), RCNEI (1998), Vygotsky (1998). Teve como
objetivo investigar, analisar e compreender como as brincadeiras de faz de conta interferem
no processo de desenvolvimento da criança, mostrando sua importância metodológica para
dar mais significado ao ato de aprender.

1 FERRAZ, Marcia Regina Boter; Licenciatura Plena em Pedagogia; Universidade Norte do


Paraná; UNOPAR, 2015.
2 LEONARDI, Vinícius José Henrique da Costa; Bacharelado em Física; Mestrado Matemática
Aplicada; Universidade Federal do Paraná; UFPR.
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A abordagem deste tema Brincadeira de faz de conta na educação infantil surgiu a


partir da curiosidade em saber como se dava o desenvolvimento das crianças enquanto
brincavam e se o espaço escolar reservado para as brincadeiras contribuía para o
desenvolvimento integral da criança. Sabendo o quanto nessa fase as crianças são
inquietas, curiosas e possuem um período curto de concentração, necessitando de
atividades significativas, e que tenham relação com o seu mundo como o brincar.
Para realização da mesma construiu-se questões que nortearão este trabalho: Qual
o conceito de brincar? Qual a importância do brincar de faz de conta? Como proporcionar
esse espaço lúdico e de aprendizagem?
Partindo das inquietações e questões, foi possível observar a necessidade de se
criar espaços para que a criança possa brincar, possibilitando situações imaginárias,
contribuindo para seu desenvolvimento e aprendizagem de forma significativa. E também a
importância das estratégias de ensino do professor nesse processo de aprendizagem, que
pode utilizar o método teoria/prática a partir do espaço e brincadeira de faz de conta.

2. DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O BRINCAR DE FAZ DE CONTA

2.1 HISTÓRIA E CONCEITO DE BRINCAR PARA A CRIANÇA

Desde o tempo de nossos avós, de nossos pais, e desde muito antes, as


brincadeiras são conduzidas de geração em geração. Hoje as crianças praticam novamente
as brincadeiras ou criam um novo jeito de brincar fundamentando no que ouviram, mas
completando à situação atual, à sua forma de brincar. É nítido que o brincar está agregado à
criança há séculos, mas foi através de uma ruptura de pensamentos que a brincadeira
passou a ser percebida e valorizada no espaço educacional das crianças menores. No
passado, o que se via era o brincar apenas como forma de fuga ou distração, não sendo
atribuído o caráter educativo.
O direito de brincar está reconhecido desde 1959, na declaração dos direitos da
criança, adotado pela assembleia geral da ONU. E é considerado tão importante para a
criança como direito a saúde, à segurança, à educação. Também na constituição brasileira
de 1988, no Estatuto da criança e do adolescente aparece a brincadeira sendo fundamental
para o desenvolvimento da criança. Ainda, o conselho Estadual de defesa dos direitos da
criança de Mato Grosso, lei 5.892/91, em seu artigo 4º “O ensino será com base na busca
da beleza, da criatividade, da ousadia, do desprendimento, da solidariedade, da liberdade e
da emoção” (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990, p. 6).
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A brincadeira sempre foi uma atividade significativa na vida dos homens em


diferentes épocas e lugares por isso tem que ser respeitada. A criança não é um adulto em
miniatura e, se for diminuída a isso, pior para ela e para a sociedade, pois a vida cobra as
fases não vividas. As necessidades lúdicas e afetivas das crianças têm o mesmo valor que
suas necessidades físicas. Se suas características individuais forem respeitadas, passarão
do brincar para o trabalho, sem perceber, pois, continuarão sentindo o mesmo prazer na
atividade.

Segundo o Referencial Curricular Nacional a brincadeira favorece a


autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas
aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização
de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos.
Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço
singular de constituição infantil. (RCN, 1998, p. 27)

As crianças têm o costume de brincar em todos os tempos e em todas as


civilizações. Empregando objetos ou não, competindo, ajudando, compartilhando, as
crianças, através da brincadeira, desenvolvem e constroem o seu pensamento lógico, o seu
jeito próprio de ver o mundo.

A criança adquire, constrói sua cultura lúdica brincando. É o conjunto de sua


experiência lúdica, começando pelas primeiras brincadeiras de bebê (...).
Essa experiência é adquirida pela participação em jogos com os
companheiros, pela observação de outras crianças (podemos ver no recreio
os pequenos olhando os mais velhos antes de se lançarem por sua vez na
brincadeira), pela manipulação cada vez maior de objetos de jogo.
(BROUGÈRE, 2008, p.27).

Neste sentido, entende-se que é somente no ato de brincar que a criança é capaz de
construir sua cultura lúdica. Pois a criança desenvolve-se brincando e aprende a interagir
com seus companheiros, observar regras, desafiar obstáculos, buscar com anseio a
grandeza e a descoberta do conhecimento, construindo assim sua cultura lúdica.
Os tipos de brincadeiras usados mostram a cultura de diversas sociedades e
diferentes momentos históricos, comprovando o tipo de relações sociais, a forma
educacional, a importância que se dedica à infância e o papel das crianças em
determinadas épocas, como relata Kishimoto (2008):

Dessa forma, enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o sentido que
cada sociedade lhe atribui. É este o aspecto que nos mostra por que,
dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas.
Se o arco e flecha hoje aparecem como brinquedo, em certas culturas
indígenas representavam instrumentos para arte da caça e da pesca. Em
tempos passados, o jogo era visto como inútil, como coisa não séria. Já nos
tempos do Romantismo, o jogo aparece como algo sério e destinado a
educar a criança. (KISHIMOTO, 2008, p. 17).
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Segundo o RCN (1998. p.22. v.2) brincar é, assim, um espaço no qual se pode
observar a coordenação das experiências prévias das crianças e aquilo que os objetos
manipulados sugerem ou provocam no momento presente. Pela repetição daquilo que já
conhecem, utilizando a ativação da memória, atualizam seus conhecimentos prévios,
ampliando-os e transformando-os por meio da criação de uma situação imaginária nova.
Dessa forma, brincar constitui-se em uma atividade interna das crianças, baseada no
desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade, sem ser ilusão ou mentira.
Também se tornam autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colocando em prática
suas fantasias e conhecimentos, sem a intervenção direta do adulto, podendo pensar e
solucionar problemas de forma livre das pressões situacionais da realidade imediata.
Brincar, segundo o dicionário Ferreira (2003), é "divertir-se, recrear-se, entreter-se,
distrair-se, folgar", também pode ser "entreter-se com jogos infantis", ou seja, brincar é algo
muito presente nas nossas vidas, ou pelo menos deveria ser. Pois é brincando, jogando, que
a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e
entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos.
O brincar supõe também o aprendizado de forma particular de relação com o mundo
marcada pelo distanciamento da realidade da vida comum, ainda que nela referenciada. É o
ato que permite a criança desenvolver seu estímulo emocional, a coordenação, as
habilidades, raciocínio, a confiança em si. O brincar não tem idade, no decorrer do
desenvolvimento da criança e mesmo quando adulto, ela interage, brinca e descobre o
mundo em sua volta. “É importante a criança brincar, pois ela irá se desenvolver permeada
por relações cotidianas, e assim vai construindo sua identidade, a imagem de si e do mundo
que a cerca”. (MALUF, 2003, p. 20).
O brincar é essencial em todas as idades, pois através dele descobrimos o mundo,
não só as crianças, mas o adulto através de seu trabalho também brinca e ambos estão em
busca de novos conhecimentos e descobertas. A criança não brinca apenas na escola, ela
brinca em casa, locais de lazer, na rua, ou seja, a todo o momento ela está em busca de
novas descobertas. As crianças, quando brincam, se defrontam o tempo todo com os
vestígios que as gerações mais velhas deixaram.
Portanto desde os primórdios a brincadeira faz parte da vida das crianças. O faz de
conta é uma atividade principal para a criança. Por isso, entender um pouco mais sobre a
história do brincar e sua importância é de grande valia para aqueles que desejam contribuir
de forma significativa no processo ensino aprendizagem da criança.
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2.2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Brincar é tão importante para a criança como trabalhar é para o adulto. É o que a
torna ativa, criativa, e lhe dá oportunidade de relacionar-se com os outros; também a faz
feliz e, por isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo, a ser solidária.
Este ato é uma importante forma de comunicação em que a criança pode reproduzir
o seu cotidiano, num mundo de fantasia e imaginação. O ato de brincar possibilita o
processo de aprendizagem da criança, pois facilita a construção da reflexão, da autonomia e
da criatividade, estabelecendo, desta forma, uma relação estreita entre brincadeira e
aprendizagem.

No ato de brincar, ocorre um processo de troca, partilha, confronto e


negociação, gerando momento de desequilíbrio e equilíbrio, propiciando
novas conquistas individuais e coletivas. Através de jogos e brincadeiras
quando trabalhado no aspecto pedagógico, a criança realiza aprendizagem
significativa e vai construindo seu conhecimento de modo lúdico,
transformando o real com os recursos da fantasia e da imaginação.
Enquanto se divertem as crianças nem imaginam que estão se conhecendo,
aprendendo e descobrindo o mundo. Ao valorizar as atividades lúdicas,
ainda a percebemos como uma atividade natural, espontânea e necessária
a todas as crianças, tanto que o brincar é um direito da criança reconhecido
em declarações, convenções e leis a nível mundial. (SANTOS, 1997, p. 20).

Nesse sentido brincar é um importante processo psicológico, fonte de


desenvolvimento, aprendizagem e experiência de cultura, auxilia no desenvolvimento físico,
mental e social, as crianças aprendem a relacionar-se com seus companheiros, observar
regras, desafiar barreiras, buscar com pretensão a grandeza e a descoberta do
conhecimento, construindo assim sua cultura lúdica. Para Maluf, (2003, p.17): “O ato de
brincar sempre foi e sempre será uma atividade espontânea e muito prazerosa, acessível a
todo ser humano de qualquer faixa etária, classe social ou condição econômica”.
Kishimoto (1994, p.22) a respeito do brincar no processo de desenvolvimento diz
que:

A criança que brinca passa por um processo educativo espontâneo e


aprende sem constrangimento de adultos, em interação com o ambiente.
Qualquer jogo empregado pela escola, desde que respeite a natureza do
ato do lúdico, apresenta o caráter educativo e pode receber a denominação
de jogo educativo.

Segundo Kishimoto (1994) o brincar pode ser visto como uma importante forma de
comunicação é por meio deste ato que a criança pode reproduzir o seu cotidiano, através do
faz de conta. Este ato de brincar possibilita a construção do seu eu interno através do
processo de aprendizagem da criança com o seu mundo exterior, além de facilitar a
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construção da reflexão, da autonomia, da criatividade, das aquisições motoras, cognitivas,


sociais e afetivas.
Kishimoto (1994, p.13) destaca que no contexto cultural e biológico as atividades são
livres, alegres e envolve uma significação. É de grande valor social, oferecendo
possibilidades educacionais, pois, favorece o desenvolvimento corporal, estimula a vida
psíquica e a inteligência, contribui para a adaptação ao grupo preparando para viver em
sociedade, participando e questionando os pressupostos das relações sociais. O lúdico é
um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário, como um meio de
expressão de qualidades espontâneas ou naturais da criança. Um momento para observar a
criança que, expressa por meio do lúdico, sua natureza psicológica. Também, esse colabora
com a aprendizagem de valores importantes, possibilita a socialização e a internalização de
conceitos de maneira significativa e prazerosa.
Compreende dessa forma, a brincadeira infantil passa a ter uma importância
fundamental na perspectiva do trabalho pré-escolar, tendo em vista a criança como ser
histórico e social. Se a brincadeira é efetivamente, uma necessidade de organização infantil,
ao mesmo tempo em que é o espaço da interação das crianças, então esta brincadeira se
transforma em fator utilizado pela criança para sua organização e trabalho. No entanto,
“essa atividade não surge espontaneamente, mas sob a influência da educação”.

O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o


desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde
mental prepara para um estado interior fértil, facilita o processo de
socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento,
(SANTOS, 1997, p.12).

Para o autor Santos (1997) nesses aspectos podemos definir que as brincadeiras
podem promover a socialização, a autonomia da criança, a realização de desejos como
gritar, pular, rolar, correr etc. além de determinar e explorar as capacidades das crianças
fazendo com que repitam as experiências até alcançar o objeto. Um exemplo disso é o ato
de pular corda, no qual começa a pular sem saber, mas com o ato de repetição ela começa
a descobrir maneiras de se executar a atividade melhorando suas habilidades. É através
das brincadeiras que fatores importantes para o desenvolvimento da criança se aprimoram.
Mas para que a brincadeira alcance o resultado esperado é necessário que as regras sejam
compreendidas.
O faz de conta é um momento privilegiado de interação entre as crianças. Por isso a
importância de ter espaço assegurado na rotina ao longo de toda a educação infantil.
(RCNEI 1988. v.2. p.32,33.):
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Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo à sua


maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o
objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe
atribui.

Segundo Piaget (1989), a maneira de a criança assimilar, transformar o meio para


que esta se adapte às suas necessidades e de acomodar (mudar a si mesmo para adaptar-
se ao meio) deverá ser sempre através do lúdico. Ao brincar a criança se relaciona com
outras crianças, sendo capaz de perceber-se com um “ser” no mundo numa relação entre o
que é pessoal e o que permite o ingresso no mundo das regras. Brincando as crianças
constroem seu próprio mundo; o mundo que querem e gostam; e os brinquedos são
ferramentas que contribuem para esta construção, pois proporcionam à criança demonstrar
e criar fantasias de suas vivências e experiências.
Dentro dessa mesma linha de pensamento Vygotsky (1998), o faz de conta é uma
atividade importante para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois exercita no plano da
imaginação, a capacidade de planejar, imaginar situações lúdicas, os seus conteúdos e as
regras inerentes a cada situação.

Para este autor "a situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já


contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com
regras formais estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe da
boneca e a boneca como criança e, dessa forma, devem obedecer às
regras do comportamento maternal" (VYGOTSKY, 1998, p. 124).

Para ressaltar ainda mais este espaço o RCN contribui dizendo para brincar é
preciso que as crianças tenham certa independência para escolher seus companheiros e os
papéis que irão assumir no interior de um determinado tema e enredo, cujos
desenvolvimentos dependem unicamente da vontade de quem brinca. (RCN, 1998, p.28
v.1).
De acordo com o RCNEI (1998, p.22. v.2). A diferenciação de papéis se faz presente,
sobretudo no faz de conta, quando as crianças brincam como se fossem o pai, a mãe, o
filhinho, o médico, o paciente, heróis e vilões etc., imitando e recriando personagens
observados ou imaginados nas suas vivências. A fantasia e a imaginação são elementos
fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre o eu
e sobre o outro. Na brincadeira infantil a criança assume e exercita os vários papéis com os
quais interage no cotidiano. Ela brinca, depois, de ser o pai, o cachorro, o motorista, jogando
estes papéis em situações variadas. (OLIVEIRA, 1992, p. 57.)
Portanto enquanto a criança está brincando de faz de conta com outras crianças e
usando vários brinquedos, esse acaba funcionando como elementos introdutórios e de apoio
à fantasia, aumentam o repertório de conhecimento da criança, favorecem a compreensão
de atribuições de papéis. Nesse sentido a criança se empenha durante as suas atividades
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do brincar da mesma maneira que se esforça para aprender a andar, a falar, a comer etc.
Brincar de faz de conta ou de outras brincadeiras é natural na vida da criança do seu
desenvolvimento está evidente a transição, de uma fase para outra, que é a imaginação em
ação. Ela precisa de tempo e de espaço para trabalhar a construção do real pelo exercício
da fantasia.

2.3 OS ESPAÇOS E SUAS CONTRIBUIÇÕES

O espaço físico escolar é muito importante para os alunos, visto que eles passam
parte de sua vida presente neste ambiente e não apenas para serem educados, mas
também para aprenderem a se socializar com as demais pessoas ao seu redor.
O RCN propõe: Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é
imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhe são oferecidas nas
instituições, sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou as aprendizagens que ocorrem por
meio de uma intervenção direta nas Instituições de Educação Infantil. (RCN, 1998, p. 27,
v.1):

Concordamos com Wajskop (1999, p.31) quando afirma: “a garantia do


espaço do brincar na pré-escola ou creches, é a garantia de uma
possibilidade de educação da criança numa perspectiva criadora, voluntária
e consciente”.

Desse modo vimos a importância de se preparar dentro do espaço escolar um


espaço para a brincadeira faz-de-conta, tudo isso de forma planejada para que dentro desse
brincar a criança possa se desenvolver com autonomia.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional (1998 v1 p.69) nas salas, a forma
de organização pode comportar ambientes que permitem o desenvolvimento de atividades
diversificadas e simultâneas, como, por exemplo, ambientes para jogos, artes, faz de conta,
leitura etc.
A organização desse espaço dentro de sala de aula, no pátio, brinquedoteca ou
outros é de suma importância para a criança e para o professor também e enquanto brincam
o professor tem que observar e registrar esses momentos, pois através disso ele terá uma
visão integral das crianças. Segundo Piaget (apud KRAMER, 2000, p.29) “o
desenvolvimento resulta de combinações entre que o organismo traz e as circunstâncias
oferecidas pelo meio [...] e os esquemas de assimilação vão se modificando
progressivamente, considerando estágios de desenvolvimento”.
Nesse sentido, pode-se dizer que a aprendizagem tem certa relação com o espaço
físico em que se desenvolve uma atividade de ensino. O espaço físico e estrutural de uma
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escola deve ser organizado de modo que atenta às necessidades sociais, cognitivas e
motoras do aluno.
Nesse aspecto, a pré-escola, parte integrante da educação infantil pode oferecer a
compreensão por parte da criança desses fatores que envolvem o brincar e o brincar faz de
conta também, já que este é o período que as crianças passam a se socializar de uma
maneira mais complexa com o mundo, onde elas aprendem conceitos que as
acompanharão durante a vida escolar, como a percepção de tempo, por exemplo. Existem
recursos nessa fase da pré-escola que facilitam o aprendizado dos quais as brincadeiras faz
de conta podem ser citadas já que prendem a atenção das crianças.
Santos (2000, p.166) descreve que:

A importância da inserção e utilização dos brinquedos, jogos e brincadeiras


na prática pedagógica pré-escolar é uma realidade que se impõe ao
professor. Brinquedos não devem ser explorados somente como lazer, mas
também como elemento bastante enriquecedor para promover a
aprendizagem. Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira
para a criança é necessária e que ela traz enormes contribuições no
desenvolvimento da habilidade de aprender e pensar.

A criança que tem acesso as brincadeiras bem planejadas com espaços adequados
com vários cantos para explorar o brincar faz de conta torna-se desinibida e sua capacidade
de pensar fica mais acentuada. Ela consegue se desenvolver e se socializar mais
perfeitamente.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL,
1998, p. 23):

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e


aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e
estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e
confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da
realidade social e cultural.

Por isso o educador é a peça fundamental nesse processo, devendo ser um


elemento essencial. Educar não se limita em repassar informações ou mostrar apenas um
caminho, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesmo, e da sociedade. É
oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher caminhos, aquele que for
compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que
cada um irá encontrar.
Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil
(BRASIL, 1998, p. 30):
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O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento,


organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que
articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e
cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos
conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano.

Educar é acima de tudo a inter-relação entre os sentimentos, os afetos e a


construção do conhecimento. Segundo este processo educativo, a afetividade ganha
destaque, pois acreditamos que a interação afetiva ajuda mais a compreender e modificar o
raciocínio do aluno. E muitos educadores têm a concepção que se aprende através da
repetição, não tendo criatividade e nem vontade de tornar a aula mais alegre e interessante,
fazendo com que os alunos mantenham distantes, perdendo com isso a afetividade e o
carinho que são necessários para a educação.
Nesse contexto RCNEI (1998) O professor tem que planejar o brincar faz de conta,
pois, ele é uma atividade que, se é planejada com antecedência e de forma adequada, pode
proporcionar momentos enriquecedores com as crianças. Além de lhes permitir a exploração
do espaço e de lhes oferecer a oportunidade de entreter-se com brinquedos, o professor
pode sugerir vários espaços de faz de conta e situações diferentes umas das outras.

A criança, portanto, tende de explorar o mundo que cerca e tirar dele


informações que lhe são necessários. Nesse processo, o professor deve
agir como interventor e proporcionar-lhe o maior número possível de
atividades, materiais e oportunidades de situações para que suas
experiências sejam enriquecedoras, contribuindo para a construção de seu
conhecimento. Sua interação com o meio se faz por intermédio de
brincadeiras e jogos, da manipulação de diferentes materiais, utilizando os
próprios sentidos na descoberta gradual do mundo. (ARANÃO, 2004, p.16)

Nesse sentido, Aranão ressalta a importância de o professor organizar situações para


que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada para propiciar às crianças a
possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar
ou os jogos de regras e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e
independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais. Reconhecendo
à importância da brincadeira faz de conta quando bem planejada e associada às atividades
propostas, enriquece o trabalho docente e, consequentemente, as aulas, elevando assim o
grau de interesse da criança, mesmo a instituição não tendo um ambiente propício para as
crianças brincarem como deveria, porém, procurar na medida do possível trabalhar
integralmente os alunos.
De acordo com o RCNEI (1998 v2 p.31) o professor pode propiciar situações para
que as crianças imitem ações que representam diferentes pessoas, personagens ou
animais, reproduzindo ambientes como casinha, trem, posto de gasolina, fazenda, etc.
Esses ambientes devem favorecer a interação com uma ou mais crianças compartilhando
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um mesmo objeto. Ainda segundo o RCNEI a intervenção intencional baseada na


observação das brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material adequado, assim como
um espaço estruturado para brincar permite o enriquecimento das competências
imaginativas, criativo e organizacional infantil.
O desenvolvimento da criança e seu consequente aprendizado ocorrem quando
participa ativamente, seja discutindo as regras do jogo, seja propondo soluções para
resolvê-los. É de extrema importância que o professor também participe e que proponha
desafios em busca de uma solução e de participação coletiva, o papel do educador neste
caso será de incentivador da atividade. A intervenção do professor é necessária e
conveniente no processo de ensino-aprendizagem, além da interação social, ser
indispensável para o desenvolvimento do conhecimento. Na fala de Brougére (2004, p. 105):
“O educador pode, portanto, construir um ambiente que estimule a brincadeira em função
dos resultados desejados”.
Partindo desse contexto o projeto brincadeira de faz de conta na educação infantil
objetivou propiciar a interação entre as crianças, considerando as diferentes formas de
sentir, expressar e comunicar a realidade por elas, resultando em respostas diversas que
são trocadas entre si e que garante parte significativa em suas aprendizagens, levando em
consideração que a criança é a principal construtora de seu conhecimento com suas
características próprias, permitindo que a mesma supere, cada vez mais e melhor o seu
estado atual, assim sendo, constrói o próprio conhecimento através da ação.
Sendo desenvolvido no dia a dia o brincar do faz de conta no contexto escolar da
educação infantil, pode utilizar o ambiente de sala de aula bem como os espaços externos
onde serão desenvolvidas atividades lúdicas através de jogos simbólicos (imitação do
cotidiano de uma família: os papéis de cada membro da família), uso de brinquedos diversos
(carros, bonecas, jogo de montar etc.), e imaginação da criança. É importante que o espaço
seja organizado de forma que convide as crianças a descobrirem e aprofundarem o prazer
do brincar e comunicar. Esta organização pode ser a divisão das atividades lúdicas em
“cantos de brincar” onde as crianças participam do momento e dos cantos conforme seu
interesse sem interferência do adulto, no qual o professor será mediador, podendo também
interagir conforme a imaginação e convite da criança.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desta pesquisa, foi possível investigar e compreender melhor a brincadeira
faz de conta na educação infantil e sua relação com o processo de desenvolvimento da
criança. Valorizar a brincadeira não é apenas permiti-la e suscitá-la. E para que isto
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aconteça, precisamos perceber o brincar como ato de descoberta, de investigação, de


criação.
A partir dos pensamentos colocados de vários teóricos neste trabalho foi confirmado
que quando a criança brinca, vivencia situações novas como se comunicar, respeitar o
próximo, trocar brinquedos com os outros, ou seja, durante essa interação com o outro ela
está se desenvolvendo integralmente e aprendendo sobre o mundo em que vive, no qual os
desafios são superados. Pois através do brincar a criança aprende a ser um cidadão
autônomo, capaz de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas e
compreendendo um mundo que exige diferentes conhecimentos e habilidades, o que
contribui para seu aprendizado, também favorecendo métodos de ensino mais eficazes.
Neste contexto, o professor vê o brincar de faz de conta como objeto de
conhecimento e usa-o em sala de aula como conteúdo de recreação e ensino. Por isso,
nesse projeto brincadeira de faz de conta na educação infantil, é ressaltada a importância do
brincar para o desenvolvimento integral do ser humano nos aspectos físico, social, cultural,
afetivo, emocional e cognitivo, pois enquanto a criança brinca expressa sentimentos,
crenças e modos de pensar, agir e falar, onde a brincadeira estimula a participação de todos.
Podendo assim, ser considerado como recurso didático fundamental no processo ensino
aprendizagem.
Portanto, proporcionar um espaço para o brincar na educação infantil permite a
criança desenvolver-se integralmente. Deste modo, a criança poderá resolver conflitos e
hipóteses de conhecimento e, ao mesmo tempo, desenvolvendo a capacidade de
compreender pontos de vista diferentes, de fazer-se entender e de demonstrar sua opinião
em relação aos outros, e ainda é nesse ato que podemos diagnosticar e prevenir futuros
problemas de aprendizagem infantil. É importante perceber e incentivar a capacidade
criadora das crianças, pois esta se constitui numa das formas de relacionamento e recriação
do mundo, na perspectiva da lógica infantil.

REFERÊNCIAS

ARANÃO, Ivana V.D. A matemática através de brincadeiras e jogos. 5ª Ed. Campinas, São Paulo:
Papirus, 2004. p.16.

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- não destacar com negrito os subtítulos (apenas o título)

APROVADO: 96

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