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SEGURANÇA DE BARRAGENS
1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS
2
FICHA TÉCNICA
Realização:
EQUIPE TÉCNICA
Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA
Revisão Ortográfica
3
CURRÍCULO RESUMIDO
Prof. Carlos Henrique de A. C. Medeiros
4
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS 06
LISTA DE QUADROS 06
APRESENTAÇÃO 07
1 DIRETRIZES DE ENTIDADES RELACIONADAS À BARRAGENS 10
1.1 Diretrizes do International Commission on Large Dams (ICOLD) 10
1.2 Diretrizes do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) 13
1.3 Diretrizes do Ministério da Integração (MI) 13
2 REGULAMENTAÇÕES INTRERNACIONAIS 17
3 REGULAMENTAÇÃO NACIONAL 26
3.1 Evolução do Processo no Brasil 26
3.2 Histórico da Lei de Segurança de Barragens 27
4 POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS 30
4.1 Leis Federais Complementares 33
4.2 Regulamentação da PNSB 36
4.3 Obrigações Legais do Proprietário e Órgão Fiscalizador 44
5 CONCLUSÕES E RECOMENTAÇÕES 46
REFERÊNCIAS 49
ANEXOS I 57
ANEXO II 61
5
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Importância 14
Quadro 2 – Periculosidade 15
Quadro 3 – Grau de vulnerabilidade (condição da barragem) 16
Quadro 4 – Quadro de Periodicidade para a realização das inspeções 38
6
APRESENTAÇÃO
7
insegurança por razões de natureza técnica, administrativa e decorrente do
desconhecimento da necessidade de serem tratadas ou legadas a empresas,
organizações publicas e profissionais de comprovadas expertises nas diversas
áreas que contribuem para a consecução desse tipo de empreendimento:
multidisciplinar e interdisciplinar. A Lei N o. 12.334/2010 foi concebida tendo como
premissas essas considerações.
8
Prezado Aluno,
No decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:
• Interpretar a legislação pertinente aplicando no processo de análise dos
relatórios e pareceres técnicos;
• Cadastrar as barragens com vistas à manutenção da base de dados;
• Intercambiar experiências entre instituições governamentais que operem
com barragens.
9
1 DIRETRIZES DE ENTIDADES RELACIONADAS À
BARRAGENS
Segundo o ICOLD (1997) a maioria das causas de acidentes com barragens, com
consequências catastróficas (com perdas de vidas), ocorreu em barragens com
altura inferior a 30 m. Essas barragens passaram a ser motivo de preocupação e
de maior interesse de profissionais de segurança de barragens.
10
atenção, são:
• Barragens localizadas a montante de cidades, vilas ou outros elementos de
grande valor, para os quais a ruptura representa risco elevado;
• Barragens contendo rejeitos de mineração, com metais pesados, material
radioativo, poluente ou tóxico;
• Barragens cuja crista é utilizada como via de transporte de importância para
a interligação entre os diversos aglomerados urbanos, para o escoamento
de materiais, produção agrícola e industrial e as atividades de comércio;
• Barragens cujo reservatório tem importância na economia e/ou
sobrevivência de determinada região;
• Barragens sobre fundações muito deformáveis (argilas moles, solos
colapsíveis, solos expansivos, etc.);
• Barragens sobre fundações muito permeáveis (aluviões, rochas muito
fraturadas e sobre falhas geológicas).
• Definição de objetivos,
• Avaliação das condições de segurança da barragem;
• Identificação do(s) evento(s) inicial(ais): internos ou externos;
• Identificação do risco;
• Avaliação da resposta do sistema aos riscos de: transbordamento, ruptura e
incidente;
• Determinação do perigo potencial e dano associado decorrente da:
liberação súbita de água do reservatório, em diversas magnitudes;
• Estimativa das consequências devido a: perdas de vida e danos
econômicos e sociais;
• Avaliação do impacto da respectiva ruptura sobre a sociedade;
• Determinação da sequência de eventos a partir do evento inicial e a
11
resposta do sistema. Definido como modo de ruptura (failure mode).
• Modos plausíveis de ruptura
• Outro tipo de consequências com potencial para conduzir a um acidente
significativo.
12
imprescindível a participação dos agentes de fiscalização em todas as fases de
desenvolvimento do empreendimento, com destaque para as fases de concepção
e de construção (melhor forma de compreender o “as built” em situação de alerta
de emergência).
Os avanços tem sido significativos, é muito grande o interesse pelo tema por parte
de profissionais brasileiros, com contribuições a nível internacional a exemplo de
MELLO (1977, 2000), SILVEIRA (1999, 2000), CASTRO (1999) MEDEIROS e
MOFFAT (1998) e MEDEIROS (1999, 2000). Em 1999, o CBDB publicou em sua
edição especial o artigo: A Análise de Risco Aplicada a Segurança de Barragens;
bem elaborado e abrangente sobre o tema em termos mundiais (SILVEIRA, 1999).
Quadro 1 – Importância
POPULAÇÃO CUSTO DA
VOL. ÚTIL
A JUSANTE BARRAGEM
(hm3)
(No. de habitante) (R$)
(m)
(n) (o) I=m+n+o
Grande (2) > 800 Grande (2,5) Elevado (1,5) 3
Médio (1,5) 200 a
Média (2,0) Médio (1,2)
800
Baixo (1) < 200 Pequena (1,0) Pequeno (1,0)
14
Quadro 2 - Periculosidade
15
Quadro 3 – Grau de Vulnerabilidade (Condição da Barragem)
EXISTÊNCIA DE CONFIABILIDADE DEFORMA - ÇÕES DETERIORAÇÃO DOS
TEMPO DE
PROJETO DA ESTRUTURA TOMADA D’ÁGUA PERCOLAÇÃO AFUNDAMENTOS / ASSENTA - TALUDES /
OPERAÇÃO
(as built) VERTEDOURA (i) (j) MENTOS PARÂMETROS
(f)
(g) (h) (k) (l)
Existem “as built”, Satisfatória Com total Controle
< 30 anos Projetos e Muito Satisfatória Controle a pelo sistema de Inexistente Inexistente
(a) Avaliação do (2) montante drenagem (0) (1)
desempenho (1) (1) (1)
Satisfatória Sinais de umedeci Falhas no
De 10 a 30 Existem Projetos e Pequenos abatimentos da
Satisfatória Controle a -mento nas áreas de “rip-rap” e na proteção
anos “as built” crista
(3) jusante jusante, taludes e de jusante
(1) (3) (2)
(3) ombreiras (4) (3)
Zonas úmidas em
taludes de jusante, Falha nas proteções,
De 05 a Só Projeto Básico - Ondulações pronunciadas
Suficiente Aceitável ombreiras, área drenagens insuficientes
10 anos PB fissuras
(6) (3) alagada a jusante e sulcos nos taludes
(2) (5) (6)
devido ao fluxo (7)
(6)
Depressão
Surgência de água
Depressão na crista, no “rip rap”,
em taludes,
< 5 anos Não Existe Projeto Insatisfatório Deficiente afundamentos nos taludes, ou escorregamento, sulcos
ombreiras e área de
(3) (7) (10) (5) na fundação / trincas profundos
jusante
(10) de erosão, vegetação
(10)
(10)
NOTA: Pontuação (10) em qualquer coluna implica intervenção na
V > 35 - Elevado V = (f a l)
barragem, a ser definida com base em inspeção especial.
20 < V < 35 - Moderada a Elevada
5 < V < 20 - Baixa a Moderada
V<5
2 REGULAMENTAÇÕES INTERNACIONAIS
Inglaterra
Na Inglaterra, a segurança das barragens foi regulamentada por Ato do Parlamento,
em 1930; garantindo assim as ações de inspeção dessas estruturas, por engenheiro
especialista em barragens, membro de um grupo de engenheiros (panel engineers),
constituído para atender aos objetivos do Reservoirs Act 1930, que foi por sua vez
reforçado através do Safety Dam Act, promulgado em 1970 e ampliado através do
The Reservoirs Act 1975. Posteriormente foi implementado pelo Statutory Instrument
1985. Mais de 2.000 barragens britânicas foram atingidas por essa legislação que,
inclui barragens com volume acumulado, superior a 25.000 m 3 e altura superior a 7,5
m.
A Inglaterra tem cerca de 80% das barragens com altura inferior a 15 m, sendo que
média de idade das barragens esta em torno dos 90 anos, construídas com um
núcleo de vedação denominado puddle-clay (devido à técnica de compactação da
argila, com elevado teor de umidade através do amassamento) ou concrete cut-off;
sendo que a maioria não dispõe de registros sobre sua construção. Devido ao
desenvolvimento das vilas e cidades nas áreas de influência direta de jusante, ao
“desconhecimento” da situação dos aterros construídos anteriormente ao advento da
Mecânica dos Solos, etc.; o governo britânico vem promovendo programas de
avaliação da segurança dessas barragens, à luz do conhecimento técnico e
ferramentas tecnológicas atuais, através do Building Research Establishment (BRE).
BRE publicou o documento: BRE CI/SfB 187, intitulado “An Engineering Guide to the
Safety of Embankment Dams in The United Kingdom” (BRE, 1999).
17
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o Congresso Americano promulgou o The Dam Inspection Act
de 1972, autorizando a elaboração de um programa nacional de inspeção de
barragens. Num primeiro momento o U.S. Corps of Engineers constatou que 18%
das 49.300 barragens inventariadas, nunca tinham sido inspecionadas e que cerca
de 20.000 estavam localizadas em áreas onde, em caso de ruptura, poderiam
provocar perdas de vidas, danos a propriedades, edificações, etc. Dando
continuidade aos trabalhos, o Bureau of Reclamation (BUREC), em Denver,
Colorado desenvolveu os programas Safety Evaluation on Existing Dams (SEED) e
Safety of Dams (SOD), ambos implementados em 1978 e reforçados através do
Reclamation Safety of Dams Act of 1978.
18
Algumas particularidades das abordagens das diversas entidades responsáveis pelo
tema nos Estados unidos:
19
levantamento das capacidades operacionais de cada órgão do Estado e Federal, as
práticas e regulamentações relativas à concepção, construção, operação e
manutenção de barragens, o desenvolvimento de diretrizes para a inspeção e
avaliação da segurança de barragens; formulação e de recomendações para um
programa nacional abrangente. Um relatório sobre estas atividades e propostas
legislativas para implementar um programa de segurança Federal de barragem,
foram transmitidos ao Congresso em novembro de 1976, mas a falta de
financiamento impediram a execução das inspeções das barragens selecionadas
(U.S. ARMY CORPS OF ENGINEERS, 1976).
20
limitados a: Engenheiro Chefe de Segurança da Barragem (ou representante),
independente de revisão e aprovação das modificações propostas. Os
procedimentos escritos para realizar as inspeções de barragens são documentados.
São definidas normas de qualificação para o pessoal de inspeção de barragens, a
forma de supervisão da execução do Plano de Monitoramento, que atende aos
requisitos da FERC, e um programa de calibração de instrumentos, de avaliação de
risco para priorizar os problemas identificados durante a inspeção.
21
Cabe registrar que em 1929, após o acidente com a barragem Saint Francis, o
Estado da Califórnia aprovou um programa de segurança de barragens.
Posteriormente, ocorreram outros acidentes com barragens, causando perda de
vidas e propriedades, fato que motivou a elaboração de legislações adicionais a
nível estadual e federal.
Austrália
Na Austrália, o Australian National Committee on Large Dams (ANCOLD), publicou
22
uma revisão dos documentos intitulados: Guidlines on Dam Safety Management e,
Guidlines on Risk Assessment, em 1994; com o objetivo de contribuir no
planejamento, projeto, construção e operação de grandes barragens, e seus
reservatórios. O Prof. Robin Fell, da University of New South Wales, Sidney, tem
liderado as discussões sobre o tema, com destaque para o seu trabalho intitulado: O
Estado Atual dos Métodos Utilizados na Avaliação Quantitativa de Risco, Através da
Estimativa de Probabilidades de Rupturas de Barragens (FELL, R., 2000). A Nova
Zelândia segue a mesma linha da Austrália. Ambas, acompanham os avanços dos
ingleses.
Canadá
No Canadá, The Canadian Dam Association (CDA) publicou uma edição revisada do
Dam Safety Guidlines, contendo recomendações para avaliação de segurança de
barragens existentes, atentos a problemas de ordem construtiva e principalmente,
no intuito de contribuir com a legislação e regulamentação sobre segurança de
barragens (CDA, 1999).
Portugal
Em Portugal, onde muitas barragens de concreto foram construídas na década de
50, foi realizado em Coimbra, em 1984 um importante seminário sobre o tema
“Safety of Dams”. Desde 1986, o Ministério das Obras Públicas, com a participação
do LNEC – Laboratório de Engenharia Civil de Lisboa tem procurado avaliar, as
condições de segurança dessas estruturas antigas, através de retroanálises,
utilizando resultados dos estudos das características de resistência dos materiais e
parâmetros geomecânicos do maciço da fundação, à luz das ferramentas de
investigação modernas, de campo e laboratório, das técnicas de simulações
computacionais e de modelagem matemática do comportamento das estruturas, dos
materiais e interfaces solo-rocha-concreto. Novamente, temos que lidar com
incertezas em conjunto com modelos matemáticos sofisticados e bastante sensíveis
às pequenas variações nos dados de entrada (RSB, 1990; ALMEIDA, B., 2006).
23
O primeiro regulamento português sobre projeto e construção de barragens de terra
intitulado: Regulamento de Pequenas Barragens de Terra, foi oficializado através do
Decreto-Lei No. 48.373/68, em 08/05/1968. Em 1990, o governo português instituiu
um novo Regulamento para Segurança de Barragens, na forma de anexo ao
Decreto-Lei No. 11/90 de 06/01/90.
Espanha
Na Espanha, em 1992 foi publicada a Legislación Española Sobre Seguridad de
Presas, produzida pela Comission de Normas de Grandes Presas. Em 12 de março
de 1996, por ordem ministerial, foi aprovado “El Regulamento Técnico sobre
Seguridad y Emblases”, com ênfase para a classificação das barragens em função
do risco potencial e com os seguintes objetivos de definir: i) sobre quais barragens
precisavam de um PAE, ii) os critérios de projeto, operação e inspeção ou Plano de
Manutenção e Operação e, iii) estabelecer as prioridades de investimentos nos
programas de segurança de barragens.
24
Outros aspectos:
Os Estados Unidos, Austrália, Inglaterra e outros países preocupados com o ataque
terrorista ao World Trade Center (WTC), em 11 de setembro de 2001, reviram os
seus Planos de Ação de Emergência (Emergency Action Plan – EAP) e de
Segurança de Barragens (Dam Safety Plan) com o objetivo de adaptá-los para a
resposta a um eventual ataque de adversários potenciais, com foco nas
vulnerabilidades a esses ataques (terrorismo) e suas consequências; fato que
resultou no reforço do controle do acesso as barragens, instalação de sistemas de
alarme e câmeras de segurança.
25
definição das medidas mitigadoras dos impactos ambientais (WORLD BANK, 1996).
3 REGULAMENTAÇÃO NACIONAL
Na prática esses dois setores não se conheciam ou mantinham entre si, uma
distância que impedia a troca de experiências e de conhecimento. Cabe lembrar que
as barragens não identificam setor pobre do rico quando o assunto é ruptura. O
aprendizado com o acidente pode ser replicado em qualquer outra estrutura, não
importa qual seja a sua pujança.
São muitas as iniciativas e interesse pela discussão do tema, como neste seminário
e em eventos, promovidas por organizações governamentais e privadas, a exemplo
do Ministério de Integração Nacional (MI), ANA, ANNEL, ELETROBRAS, DNOCS,
CHESF, CESP, FURNAS e CEMIG, dentre outras associações técnicas, a exemplo
do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB). As empresas CESP, FURNAS, CEMIG e
ITAIPU, por exemplo, promovem a busca ininterrupta da garantia de segurança de
suas barragens; hoje em sua maioria com mais de 30 anos.
O Eng. Paulo Teixeira da Cruz, trouxe uma grande contribuição para a engenharia
de barragens, ao relatar a sua rica, surpreendente e detalhada experiência ao lidar
26
com 100 barragens brasileiras, com seu relato histórico e sobre aspectos de projeto,
construção e acompanhamento do desempenho dessas estruturas.
Considerando-se que não temos o hábito de escrever sobre as nossas experiências
com sucesso e insucessos, refuto ao seu trabalho um grande mérito (CRUZ, P. T.;
2004).
27
O acidente da Barragem de Algodões I, com perdas de vidas, danos econômicos,
ambientais e a exposição pública de colegas de profissão, foi o divisor de águas
entre o ceticismo e o desejo de mudanças na conduta das ações focadas na
consecução de empreendimentos de barragens.
Uma única lei para setores desiguais quanto à cultura de segurança e estrutura
organizacional. Esses acidentes contribuíram para a intensificação da mobilização
da comunidade técnica que, através de suas associações de classe: ABGE, CBDB,
ABMS, IBRACON, CREA.
28
FIGURA 1 - Principais Acidentes E Incidentes Registrados No Período De
Formulação E Tramitação Da Lei No. 12.334
29
4 POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS
(PNSB)
Fundamentos e Instrumentos
São fundamentos da política: a segurança de uma barragem deve ser considerada
nas suas fases de planejamento, projeto, construção, primeiro enchimento e primeiro
vertimento, operação, desativação e de usos futuros; a população deve ser
informada e estimulada a participar, direta ou indiretamente, das ações preventivas e
emergenciais; o empreendedor é o responsável legal pela segurança da barragem,
cabendo-lhe o desenvolvimento de ações para garanti-la; a promoção de
mecanismos de participação e controle social e, que a segurança de uma barragem
influi diretamente na sua sustentabilidade e no alcance de seus potenciais efeitos
sociais e ambientais (BRASIL, 2010).
Segundo a Lei No. 12.334, no Art. 7, as barragens serão classificadas pelos agentes
fiscalizadores, por categoria de risco, por dano potencial associado e pelo seu
volume, com base em critérios gerais estabelecidos pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH). A classificação por categoria de dano potencial
30
associado à barragem em alto, médio ou baixo será feita em função do potencial de
perdas de vidas humanas e dos impactos econômicos, sociais e ambientais.
31
Em muitas situações a responsabilidade técnica e legal dos atores é diluída ou de
difícil apuração nos casos de insucessos, devido a fatores não técnicos - quando as
decisões sobre o empreendimento sofrem influencias de ordem econômica e/ou
política, a exemplo de a contratação pelo critério de menor preço e negociações
para a redução de prazos de projeto e construção.
Muitos fatores não técnicos contribuem para a formação de uma cadeia de ações
que resultam em omissão em momentos de decisão, em simplificações no projeto
por desconhecimento das implicações técnicas implícitas ou por prioridades
(DEKKER, 2003; REASON, 1997; MEDEIROS, 2012).
Abrangência e Determinações
Na opinião de SILVA, J. M. e POSSAN, E. (2012), no Brasil, as Leis que possam
gerar descontentamentos ou prejudicar “interesses” ou trazer, sobretudo, prejuízos
de cunho político, tem certa deficiência na sua aplicação e cumprimento desde o não
atendimento do seu objetivo até mesmo da sua não publicação. Complementa
dizendo que isso causa entraves ao desenvolvimento do país, gerando discussões
de aspectos técnicos, econômicos e socioambientais, sobre a importância do
cumprimento da Lei que afeta diretamente a sociedade que depende desse tipo de
empreendimento. Entretanto, vale ressaltar que esse obstáculo será vencido,
considerando que a Lei No. 12.334, conta com o apoio da comunidade técnica
brasileira e suas entidades de classe; todas empenhadas no seu sucesso.
32
Sistema Nacional de informações sobre Segurança de Barragens (SNISB)
O Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB) tem o
objetivo de coletar, armazenar, tratar, gerir e disponibilizar para a sociedade as
informações relacionadas à segurança de barragens em todo o território nacional.
Os responsáveis diretos pelas informações do SNISB são:
33
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
34
Caberá a ANA, de acordo com o Art. 4, incisos V, VII e X, que tratam de aspectos da
política de segurança de barragens:
O Art. 4, com base no estabelecido na Lei No. 12.334, passa a vigorar acrescido dos
seguintes incisos XX, XXI e XXII:
35
4.2 Regulamentação da PNSB
36
Resolução ANA NO. 742, de 17/10/2011
Estabelece a periodicidade, a qualificação da equipe responsável, o conteúdo
mínimo e o nível de detalhamento das inspeções de segurança regulares de
barragens fiscalizadas pela ANA, conforme art. 9° da Lei 12.334/2010...
37
O Art. 4 define as periodicidades das Inspeções de Segurança Regular , conforme
quadro 4, em função da classificação em termos de categoria de risco e dano
potencial associado (conforme as matrizes de categoria de risco e dano potencial
associado).
A Lei No. 12.334 define barragem da seguinte forma: barragem: qualquer estrutura
38
em um curso permanente ou temporário de água para fins de contenção ou
acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos,
compreendendo o barramento e as estruturas associadas.
Segundo a Resolução No. 37, art. 2°, inciso V - Plano de Ação de Emergência
(PAE): documento que contém os procedimentos para atuação em situações de
emergência, bem como os mapas de inundação com indicação do alcance de ondas
de cheia e respectivos tempos de chegada, resultantes da ruptura da barragem. No
Art. 6 determina que as regras de operação dos reservatórios, assim como o PAE
poderão ser reavaliados pela autoridade outorgante, considerando-se os usos
múltiplos, os riscos decorrentes de acidentes e os eventos hidrológicos críticos,
observado o inciso XII, do Art. 4, combinado com o § 3º desse mesmo artigo da Lei
No. 9.984, de 2000.
A Lei No. 12.334, no Art. 12 determina que, o PAE, deve estabelecer as ações a
serem executadas pelo empreendedor da barragem em caso de situação de
emergência, bem como identificará os agentes a serem notificados dessa
ocorrência, devendo contemplar, pelo menos:
39
IV - estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades potencialmente
afetadas em situação de emergência.
40
O órgão fiscalizador poderá adotar critérios complementares tecnicamente
justificados.
Conforme o Art. 8, da Lei No. 12.334, para a classificação das barragens por
categoria de risco, dano potencial associado e pelo seu volume, os órgãos
fiscalizadores deverão considerar os quadros constantes dos ANEXOS I e II,
respectivamente: Matriz de Categoria de Risco e Matriz de Dano Potencial
Associado, para barragens de acumulação de água, desta Resolução.
41
dano potencial associado e pelo seu volume, em atendimento ao Art. 7 da Lei No.
12.334. O Art. 4, quanto à categoria de risco, as barragens serão classificadas de
acordo com aspectos da própria barragem que possam influenciar na possibilidade
de ocorrência de acidente, levando-se em conta os seguintes critérios gerais: i)
características técnicas: altura do barramento; comprimento do coroamento da
barragem; tipo de barragem quanto ao material de construção; tipo de fundação da
barragem; idade da barragem (aging); Tempo de Recorrência (TR) da vazão de
projeto do vertedouro; ii) estado de conservação da barragem: confiabilidade das
estruturas extravasoras; confiabilidade das estruturas de adução; eclusa;
percolação; deformações e recalques e deterioração dos taludes.
42
construídos após a promulgação desta Lei, do projeto como construído, bem como
aqueles necessários para a operação e manutenção da barragem; estrutura
organizacional e qualificação técnica dos profissionais da equipe de segurança da
barragem; os manuais de procedimentos dos roteiros de inspeções de segurança e
de monitoramento e relatórios de segurança da barragem; a regra operacional dos
dispositivos de descarga da barragem; indicação da área do entorno das instalações
e seus respectivos acessos, a serem resguardados de quaisquer usos ou ocupações
permanentes, exceto aqueles indispensáveis à manutenção e à operação da
barragem e o PAE, quando exigido.
43
“adequado” e “completo”, envolve custos elevados, principalmente devido a
necessidade de levantamentos topo batimétricos e estudos especiais com
simulações de rompimento e de propagação de onda de cheia e geração de mapas
de inundação. Do exposto, cabe lembrar que os requisitos a serem estabelecidos,
com exigências mínimas obrigatórias, e procedimentos complementares opcionais
para a elaboração do PAE; ainda não foi objeto de regulamentação pela ANA;
apesar de fazer parte do PSB, já regulamentado pelo CNRH.
44
Segurança da Barragem; permitir o acesso irrestrito do órgão fiscalizador e dos
órgãos integrantes do Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) ao local da
barragem e à sua documentação de segurança.
45
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Apesar dos avanços obtidos com segurança de barragens, ainda não dominamos o
conhecimento sobre os mecanismos que conduzem aos incidentes e acidentes com
ruptura em barragens. São muitas as incertezas, e crescente a utilização de
modelos e simulações matemáticas quando ainda dependemos de dados não
confiáveis, inexistentes, sem tratamento e avaliação critica por profissional
qualificado, de equipes sem capacitação e treinamento técnico adequado para as
atividades de operação e manutenção, sistemas de auscultação deficiente e/ou sem
regularidade nas leituras, analises e interpretação, desorganização da
documentação sobre a memória técnica da barragem, etc.
• A falha humana,
• A falta de capacitação do pessoal envolvido com obras da complexidade e
risco, inerentes às barragens e,
• A precariedade dos dados e/ou disponibilidade de dados sem análise e
interpretação por parte de profissional qualificado. Refiro-me aos dados que
alimentam os modelos hidráulico-hidrológicos e aqueles obtidos através do
sistema de auscultação instalado na estrutura,
• A sofisticação dos sistemas de auscultação com controle em estações
remotas e o “descuido” com o método observacional (inspeções visuais),
• A sofisticação dos sistemas informatizados e/ou especialistas (expert
systems) que devem ser tratados com cautela uma vez que, demandam
confiabilidade nos dados de entrada. Os sistemas especialistas, que
demandam o tratamento do conhecimento ou “judgement” e lidam com
cenários que interagem com o usuário, etc.
46
estar atento para: a descrição geral do sistema incluindo os perigos potenciais que
motivaram a analise de risco / definição da Categoria de Risco (Matriz de Risco); a
descrição das condições operacionais relacionados ao risco em análise e limitações
relevantes e, o detalhamento de todos os aspectos do empreendedor e do
empreendimento: técnicos e ambientais, organizacionais, recursos humanos e
circunstancias que sejam relevantes para o problema a ser analisado.
47
federais e estaduais..
A Lei No. 12.334, tem contribuído para a integração e troca de conhecimentos entre
os diversos setores. Todos preocupados com os critérios que definem as
responsabilidades que na lei, são claras e objetivas, contribuindo para a
padronização de procedimentos de inspeção e de monitoramento, o que reforça o
sistema de controle já imposto pelo CONFEA-CREA. A lei é um grande desafio para
todos nos, profissionais, empresários e contratantes. Começa com um enorme
esforço no sentido de focar nossos questionamentos sobre as causas dos acidentes
recentes. ‘
48
REFERÊNCIAS
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_____. Risk assessment in dam safety decision making. Proceedings. Of the 4th
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49
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_____. Resolução No. 144. Publicada no Diário Oficial da União, No. 172 de 04 de
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_____. The Field Guide to Understanding Human Error. Ashgate Publishing Ltd.
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50
ELETROBRÁS - Centrais Elétricas Brasileiras S. A. Critérios de Projeto Civil de
Usinas Hidrelétricas. CBDB: 279 p. 2003.
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ANEXO I
57
Anexo II
61