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O ROMANCE DE EÇA DE QUEIRÓS: O PRIMO BASÍLIO E A CIDADE E AS SERRAS

1. A PROSA DO REALISMO PORTUGUÊS

Eça de Queirós é um dos líderes da Prosa Realista em Portugal, junto com


Teófilo Braga, Fialho de Almeida e outros. Para eles, a preocupação principal no momento
era a reforma da sociedade portuguesa, empreendimento este que se daria por meio da
literatura entendida como o ‘espelho’ que deveria refletir as contradições sociais. Assim, o
romance seria uma análise crítica da sociedade burguesa. Assim, o casamento e o
adultério, por exemplo, tornam-se temas preferenciais de romances.
Elementos do determinismo naturalista se tornam ingredientes desses romances.
Por exemplo, a figura naturalmente frágil da mulher, unida as condições ambientais (a vida
fútil, sem grandes preocupações) se torna um tipo de personagem capaz de cometer
adultérios, justamente porque há todo um movimento que propicia tais atitudes.
A família, para os romancistas realistas, estava em decomposição; juntamente
com ela, os intelectuais enxergavam outros dois pilares destruídos por seus vícios e
hipocrisias: o clero e a aristocracia. Há algo de pedagógico no romance realista, pois,
através de suas obras, os escritores tinham a intenção de mudar a sociedade.

2. José Maria de Eça de Queirós

Considerado um dos maiores prosadores em língua portuguesa, Eça de Queirós


é o criador de uma vasta obra que pode ser dividida em três fases:

1ª fase: produz literatura impregnada de romantismo social – O mistério da estrada de


Sintra e As Farpas.

2ª fase: produção dos três romances teses que se propõem a realizar um inquérito da vida
portuguesa – O primo Basílio, O crime do Padre Amaro e Os Maias.

3ª Fase: romances de cunho filosófico e que demonstram um tom esperançoso nos


valores humanos e espirituais – A cidade e as serras.

3. O Primo Basílio

É um romance do realismo português de cunho moralizador, pois mostra como é


o retrato da burguesia média de Lisboa do século XIX. A história se passa nessa cidade e
narra a vida de um casal pacato: Luisa e Jorge. A ação se inicia quando Jorge vai viajar a
trabalho por motivos profissionais. Durante a ausência do marido, Luisa recebe a visita
inesperada do seu primo e amigo de infância Basílio, com quem no passado trocara cartas
românticas. Seduzida por Basílio, Luisa acaba por cair em adultério.
Contudo, Luisa tinha uma empregada, Juliana, que ao descobrir o segredo dos
amantes através de uma carta, começa a fazer chantagem, obrigando-a servi-la e exigindo
uma quantia alta de dinheiro pelo seu silêncio. Luisa se sujeita as chantagens, mas não
tinha tanto dinheiro. Pediu-o a Basílio, mas este, já entediado da relação com Luisa e
também não tinha dinheiro, regressa apressadamente para a França.
Luisa, já desesperada, numa tentativa de solucionar o problema, conta tudo a
Sebastião, um amigo de Jorge que, com a ajuda de um policial conhecido seu, consegue
tirar a carta das mãos de Juliana. Assustada com o acontecido, e com a bruta
interpelação, a empregada morre do coração. Este fato deixa Luisa alegre, e julga que
seus problemas haviam terminado.
No entanto, o destino não quis que assim fosse. Basílio tinha recebido uma carta
de Luisa a pedir-lhe dinheiro, e ele a responde depois de muito tempo. Na carta, ele
promete enviar a quantia necessária para calar a boca da empregada. Mas a carta acaba
por ser lida por Jorge que exige explicações à esposa.
Vendo-se descoberta, Luisa adoece e não resiste à morte. Após a sua morte,
Jorge abandona a casa onde viveram. Algum tempo depois, Basílio volta a Lisboa e
procura a prima. Ao ver a casa fechada, é informado que esta falecera. Basílio responde
com uma indiferença impiedosa à notícia.

4. A cidade e as serras

É um livro em que se critica a vida moderna, a vida citadina, e por isso, uma
crítica à Revolução Industrial, critica também o culto exagerado à tecnologia e as
facilidades que a civilização tem a partir da tecnologia.
O narrador da obra é Zé Fernandes, ele procura demonstrar ao leitor de que a
vida no campo é superior à vida urbana e para comprová-la, ele relata a trajetória de
Jacinto. Herdeiro de grande fortuna através da exploração agrícola em Portugal, Jacinto
nasceu em Paris, exemplo perfeito de civilização, único lugar em que o ser humano
poderia ser feliz. Chega a criar uma formula: Suma Ciência (tecnologia e erudição)
multiplicada a Suma Potência (capacidade humana) era igual a Suma Felicidade.
Jacinto e Zé Fernandes se conheceram na Universidade em Paris, mas este
último precisou retornar a Portugal por motivos familiares. Com isso, os dois se separaram.
Durante anos Zé se dedicou a administração da propriedade da família nas serras
portuguesas. Resolvida a tirar férias, vai para Paris a fim de reencontrar o amigo. Lá,
encontrou-o abatido e sem a vivacidade da juventude. Apesar de ter em sua casa uma
vasta biblioteca e ter ao seu alcance os maiores avanços tecnológicos, Jacinto se
encontrava entediado.
Jacinto era infeliz devido as amizades falsas e interesseiras, a tecnologia que o
cercava não podia fazer tudo o que queria e os livros que lia só lhe trazia aborrecimento.
Ao receber a notícia de que uma de suas propriedades rurais próxima a Guiães desabou,
Jacinto decide ir até lá e assim, vai para Portugal com seu amigo Zé Fernandes.
O atraso e a rusticidade da cidade de Tormes surpreenderam Jacinto no primeiro
contato. Mas aos poucos, a natureza o encantou e ele resolveu ficar. Reencontrando a
antiga disposição, dedicou-se a algumas reformas na propriedade, melhorando as
condições de vida dos empregados e estabelecendo com eles novas relações de trabalho.
Apaixonado por Joaninha, prima de Zé Fernandes, instala-se definitivamente nas
serras. Da modernidade parisiense, admite apenas a instalação do telefone, que lhe
parece útil ali. Assim, Jacinto encontra a Suma Felicidade bem distante da civilização. E
Zé Fernandes dá sua tese por comprovada.
É interessante pensar que, a partir das reflexões filosóficas de Schopenhauer,
filósofo que talvez norteou filosoficamente o livro, o homem quando parece conquistar tudo
o que almeja ele parece não ter mais nada a desejar e disso resulta um vazio existencial
que no livro é retratado pelo tédio. É justamente quando Jacinto encontra outros desafios
que parece reacender nele a vivacidade perdida. Portanto, não é o tudo ter que traz a
felicidade, mas é sempre ter disposição para se buscar o novo que dá o alento para a vida
humana.

5. BREVE COMENTÁRIO

O Primo Basílio marca um momento de extremo combate por meio da obra


literária; combate à burguesia citadina de Lisboa. Enquanto o livro Cidade e as Serras é
um livro da maturidade de Eça, onde o autor enxerga que não é o avanço tecnológico que
traz a felicidade, mas é o equilíbrio entre a simplicidade e a tecnologia.

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