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NAQUELE DIA DEUS ESCUTOU

Escutar Como Atitude Bíblica em Relação à Criação

(Capítulo 2 de "Words Made Flesh" de Fran Ferder)

Na conclusão da história sacerdotal da criação, o autor diz que Deus descansou:


"Deus abençoou o sétimo dia e fez dele um dia sagrado, pois foi o dia em que ele
descansou" (Gén. 2:3).

A palavra hebraica menuha é traduzida como "descansou". Em The Sabbath,


Abraham Heschel diz que menuha implica realmente algo muito mais ativo que a
palavra portuguesa descanso. De acordo com Heschel, menuha significa "contemplação
com um propósito". Descreve um processo pelo qual uma pessoa fica sossegada por
dentro o suficiente para olhar a vida de forma mais profunda.
Nos tempos bíblicos, menuha veio a ser equiparado a uma boa vida — com a
ausência de luta, a presença de tranquilidade interior e oportunidade de reflexão. O
Salmo 23 exprime esta noção:

"Em verdes pastos me faz descansar e conduz-me a lugares de águas tranquilas."


(Sal. 23:2)

Deus convida as pessoas a passar da passividade à contemplação. O


envolvimento com Deus implica o envolvimento com a criação de Deus.
É esta noção de envolvimento contemplativo que caracteriza a própria resposta
de Deus à criação. Tanto no início como no fim do ato criador, Deus está em atitude
atenta — a princípio pairando e a seguir, contemplando.
Esta imagem final de Deus, absorvido na criação, descreve um Deus que escuta.
No primeiro dia, o espírito de Deus pairava. No sétimo dia Deus escutava. É uma
postura de envolvimento e um outro símbolo de intimidade. Era uma experiência
familiar e perto do coração do povo israelita.

Escutar a Natureza

Os povos antigos estavam altamente sintonizados com as estações e os


acontecimentos naturais. As suas festas e celebrações coincidiam frequentemente com a
mudança das estações. O tempo de plantar, a colheita, a morte da terra — tudo assinalava
a ação de um poder que captava a sua atenção. Os israelitas não eram diferentes, a não
ser pelo facto de que o poder que causava os ciclos não era uma força escondida e
impessoal. Era Yahweh, o Deus único que os tinha criado à imagem divina, que os tinha
escolhido como povo, e que continuava a caminhar com eles. Era Yahweh que trazia os
frutos, que enviava a chuva para regar a terra, que fazia tudo crescer, fazendo o sol
levantar-se e pôr-se e a lua dar luz à noite.
Algo na profundeza do coração destas pessoas os levava a escutar sob a
superfície das suas vidas. Algo do Deus que escuta, segundo a imagem do qual eles
tinham sido feitos, lhes chamava a atenção.
A terra ensinava os israelitas a escutar. Os profetas diziam-lhes como escutar.
Os acontecimentos das suas vidas lembravam-lhes que escutar era exigente, que não
surgiria sem custo.

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Escutar É um Trabalho Duro

No deserto, o Povo Escolhido escutava o seu desencorajamento e os seus medos.


Escutavam o maná e a coluna de fogo. Ao atravessarem o Jordão e entrarem na Terra
Prometida, escutavam as suas esperanças com renovado entusiasmo. Escutaram
conquistas e colheitas. Escutaram o amargo sabor do exílio em terras estrangeiras.
Escutaram enquanto trabalhavam e quando vagueavam. Frequentemente, cansaram-se
de escutar. Por isso tinham líderes para lho recordarem e orações para os encorajar:

"Na tua angústia, chamaste por mim e eu livrei-te; da nuvem que trovejava,
respondi-te, a ti que me provocaste junto das águas de Meriba.
Ouve, meu povo, a minha advertência; oxalá tu me obedecesses, Israel!" (Sal.
81:8-9)

"Prestem-me atenção e venham até mim; escutem-me e viverão!" (Isa. 55:3)

O Deus que falava continuamente com eles exigia uma resposta. A palavra
criativa não era pronunciada no vácuo. O fôlego não era soprado para o ar. Os israelitas
deveriam receber a palavra e tomar o fôlego — e ser levados a responder.
O profeta Isaias compreendeu que esta resposta estava profundamente
interligada à chamada para servir:

"O SENHOR Deus ensinou-me o que devo dizer, para saber dar uma palavra de
alento aos desanimados. Cada manhã ele me faz estar atento para que eu aprenda
como bom discípulo.
O SENHOR ensinou-me a escutar e eu não resisti nem recuei." (Isa. 50:4-5)

Para Isaias, a resposta flui do escutar. A capacidade de escutar vem de Yahweh


que "me faz estar atento". É este ouvido atento, esta prontidão inicial no princípio de
cada novo dia para escutar a vida que prepara os seguidores de Yahweh para terem uma
palavra significativa para um mundo desanimado. É um coração recetivo pela manhã
que nos equipa a experimentar os movimentos de Deus e as necessidades dos nossos
irmãos e irmãs. O profeta viu o escutar como algo tão importante que o identificou
como o propósito do acordar: "Cada manhã ele me faz estar atento para que eu
aprenda..."

O Ouvinte de Nazaré

Como judeu, Jesus estava familiarizado com as palavras de Isaias. Tinha sido
ensinado na crença hebraica que os movimentos da natureza revelavam Deus. A sua
vida dá evidência de que também ele via as obras do Abba e escutava a voz de Deus na
terra, no povo, na história do seu mundo.
A sua atenção à natureza é revelada pela sua frequente referência aos símbolos
da terra. Ele falava dos lírios do campo e das aves no ar. Notava que os campos estavam
maduros para a ceifa. Olhava além da prontidão do trigo para a prontidão dos corações
humanos. Usava sementes de mostarda e figueiras para falar do reino de Deus.
Assemelhava o ministério da pregação ao trabalho de lançar sementes a um campo.
Estava familiarizado com os diferentes tipos de solo. Sentava-se nas encostas dos
montes. Caminhava junto aos lagos e parecia entender muito de pesca.

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As Escrituras apresentam Jesus como urna pessoa que escuta, a partir dos
primeiros dias da sua juventude:

"Ao fim de três dias descobriram-no dentro do templo, sentado entre os


doutores. Escutava.o que eles diziam e fazia-lhes perguntas." (Luc. 2:46)

As histórias sobre a infância de Jesus têm mais significado teológico do que


histórico. Para Lucas, Era importante que Jesus seja entendido como alguém que, desde
o início, estava ansioso por ouvir a palavra de Deus.
Parece que uma atenção profundamente enraizada a essa palavra, à medida que
ela lhe chegava ao longo da sua experiência de vida, era característica de Jesus a partir
do início do seu ministério público. A sua agonia no deserto pode ser vista como uma
experiência de um escutar intenso, como um esforço para atingir uma maior consciência
da missão da sua vida. Todos os escritores sinópticos colocam Jesus no deserto
envolvido numa luta solitária contra as atrações que arrastam a maior parte das pessoas
numa ou noutra ocasião. Em Mateus e Lucas, Jesus vê pedras — os lugares frios e duros
da vida — e quer pão. Ele quer estar confortável e cheio.
Ele está de pé no parapeito do Templo e vê perigo. Anseia por proteção, por um
Deus que o abrigue da dureza da vida e afaste a morte. Ele sabe que é possível procurar
uma vida segura isolada das exigências das pessoas e protegida da dor.
Levanta os olhos para o campo. Vê poder. Imagina uma vida espetacular,
carregada de responsabilidades importantes e cheia de oportunidades de grande
liderança. Ele seria um líder justo. Podia ser uma vida boa para todos eles.
Jesus como que saboreava o pão e sentia o poder. Já experimentava a sensação
de completa segurança — pelo menos, por um momento. A história sugere que a tentação
de agarrar qualquer desses elementos foi forte. Deixou-o exausto.
Os escritores dos Evangelhos não apresentam Jesus como artista dramático
apresentando uma representação sobre como resistir à tentação. A sua luta não era de
faz-de-conta, suportada para representações. A fidelidade não chegou com facilidade.
Lá, no deserto, ele lutou. Lutou com a sua vida e com o significado dela. Enfrentou
todas as possibilidades e escutou atentamente as implicações de cada uma. Durante um
período de tempo que pareceu uma eternidade, ele esteve absorvido em pensamento,
perdido nas profundezas da reflexão. Gradualmente, a reflexão trouxe luz. Escutar
tornou-se oração.

Escutar Deus
É no deserto, nos lugares vazios, solitários e inseguros da vida que Jesus ouve a
voz de Deus:

«A Sagrada Escritura diz: Não se vive só de pão, mas também de toda a palavra
que vem de Deus.» (Mat.4:4)

Uma palavra. Toda a palavra. Era contudo outro início. No princípio da sua vida
pública haveria uma palavra para Jesus. Seria uma palavra pela qual ele poderia viver,
na qual poderia fundamentar a sua própria vida. Ele podia deixar toda a realização, toda
a segurança, todo o poder pela palavra continua de um Deus fiel. Seria uma palavra que
seria o seu pão. Ela pairaria sobre a sua vida e dar-lhe-ia fôlego. Ele escutá-la-ia nos
montes ao entardecer e nas multidões oprimidas durante o dia. Ele diria aos seus
seguidores para fazer o mesmo.

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Jesus aprendeu algo de essencial sobre a comunicação humana e a sua
proximidade à oração no deserto. Aprendeu que ambas começam com escutar. Através
da sua vida pública, ele é apresentado como alguém que escuta.

Escutar as Pessoas

A história dos 72 discípulos que regressam e contam a Jesus o que tinham


experimentado na sua primeira viagem missionária dá-nos uma boa imagem de Jesus
como uma pessoa que escuta:

"Os setenta e dois discípulos voltaram muito contentes e diziam: «Senhor, até os
espíritos maus nos obedecem quando lhes falamos em teu nome.»" (Luc. 10:17)

Jesus escutou o seu entusiasmo e ouviu a sua alegria. Falou com eles sobre a
experiência. Agradeceu a Deus por eles. Orou por eles. Era uma pessoa com quem os
outros podiam vir partilhar a sua vida. Quer estivessem cheios de alegria ou curvados
pela dor, podiam contar com ele para os escutar.
Havia os dois discípulos que viram Jesus à distância e o seguiram. Ele escutou a
pergunta que lhe fizeram com atenção:

«Onde é que moras, Rabi?» (Jo.1:38)

Ele entendeu mais do que curiosidade sobre o seu endereço nas palavras deles.
Sentiu avidez nos seus passos. Não foi só o conteúdo da pergunta deles que se tomou o
foco da sua atenção, foi o todo do comprtamento deles. Ele ainda iria escutar mais:

"«Venham ver», respondeu-lhes Jesus. Eles foram. Viram onde morava e


passaram o resto daquele dia com ele." (Jo. 1:39)

Temos então o assustado Nicodemos — tão inseguro em ser visto com Jesus que
só podia vir de noite. Aí, no escuro, ele colocou as suas questões e as suas dúvidas em
palavras:

«Como é que um homem idoso pode voltar a nascer? Pode entrar no ventre de
sua mãe e nascer outra vez?» (Jo. 3:4)

Jesus passou tempo com ele. Ouviu as suas preocupações. Falou com ele e
confiou nele. Desafiou as suas perceções limitadas e aumentou a sua visão.
Um por um, muitos vinham a ele — o cego e o coxo, os leprosos e os paralíticos,
pessoas miseráveis que viviam em túmulos e pessoas importantes que comandavam
exércitos. Havia líderes judaicos e civis, cobradores de impostos e prostitutas. Havia
pessoas que procuravam com honestidade e espectadores curiosos. Havia amigos e
havia inimigos. Todos vinham com as suas necessidades e as suas histórias a este
homem, cuja mera presença chamava a atenção. Ele ouvia-os a todos. Escutava-os com
tanta intensidade, que ouvia mais do que as suas palavras. Em alguns, ouvia a sua fé,
bem como a sua dor. Escutava-os e mandava-os embora, curados não só fisicamente,
mas com um novo sentido de paz interior:

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"Então a mulher, vendo que não podia passar despercebida, aproximou-se de
Jesus, toda a tremer, ajoelhou-se-lhe aos pés e confessou diante de toda a gente a
razão por que tocara em Jesus e como tinha ficado curada imediatamente.
Jesus então disse-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou. Vai em paz.» (Luc. 8:47-
48)
Noutros, ele ouvia maldade e manipulação. Ouvia para além das suas palavras
óbvias e sentia as suas intenções profundas:

"Mandaram depois alguns fariseus e alguns membros do partido de Herodes ir


ter com Jesus para ver se o apanhavam em falso nalguma coisa.
Quando chegaram ao pé de Jesus disseram-lhe: «(...) A nossa lei permite pagar
imposto ao imperador romano ou não?»
Jesus percebeu o fingimento deles e disse: «Por que me vêm pôr à prova?" (Mar.
12:13-15)

Jesus não se apercebeu do que se passava nos corações das pessoas carregando
na tecla "conhecimento instilado" de um computador divino. Ele não sabia
automaticamente o que as pessoas pensavam e sentiam, só por ser o Filho de Deus. Ele
tinha aprendido a escutar. Ele tinha aprendido a procurar os olhos e a notar o
comportamento. Ele tinha tomado conhecimento da sua própria visão e sentido de
direção. Refletia. Pensava. Orava. Encontrava espaço para o silêncio e tempo para si
mesmo. Tinha desenvolvido aquele tipo de sensibilidade pessoal às pessoas que só vem
do duro trabalho de escutar.
Para Jesus, escutar não era fácil. Os escritores dos Evangelhos dizem-nos que ele
conhecia as experiências de peso, impotência e cansaço que todos os que escutam
conhecem. Depois de dias a andar pelas cidades e aldeias, ouvindo a dor e vendo o
desespero, ele estava entristecido.

"Ao ver a multidão, Jesus sentiu imensa compaixão, porque andavam


desorientados e perdidos como ovelhas que não têm pastor." (Mat. 9:36)

Quando ele se despedia dos seus amigos e seguidores, escutar as suas


persistentes faltas de compreensão deixavam-no desencorajado:

"Filipe pediu-lhe: «Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta.» Jesus


respondeu lhe: «Filipe, há tanto tempo que vivo convosco e ainda não me
-

conheces? Aquele que me viu, viu também o Pai. Como é que tu me pedes:
Mostra-nos o Pai?" (Jo. 14:8-9)

Outras vezes, escutar surpreendia-o e era fonte de encorajamento para ele:

"Ao ouvir aquilo, Jesus ficou admirado e disse para os que o seguiam: «Fiquem
sabendo que ainda não encontrei ninguém com tanta fé entre o povo de Israel.
( ) Em seguida Jesus disse ao oficial: «Podes ir. Seja como acreditaste.»" (Mat.
8:10, 13)

Havia outros dias em que escutar se tornava demasiado, quando o cansaço


tomava conta dele e ele ansiava ir-se embora:

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"Quando Jesus viu a multidão que o rodeava, deu ordens para passar à outra
margem do lago." (Mat. 8:18)

"Naquele mesmo dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se à beira do lago.
A gente que se juntou à volta era tanta que ele subiu para um barco. Sentou-se e
toda a multidão se mantinha na praia." (Mat.13 :1-2)

Escutou e sentiu-se triste. Escutou e ficou desencorajado. Escutou e foi


surpreendido. Escutar trouxe-lhe visão e autodescoberta. Tornou-o grato, mas também
cansado. Mas ele sempre dava atenção. A campos de trigo e a covis de raposas; a
amigos fieis como Marta e a menos fieis como Judas; a párias e a amados; às festas e à
Lei; às necessidades humanas e a sinais dos tempos; a si mesmo e ao Abba — ele
escutava.

Compreender com o Coração: Escutar com Profundidade

Jesus enfatizava o relacionamento entre o escutar e o compreender e falava da


sua própria tristeza quando notava ausência desse escutar nos que estavam à sua volta.
Ele exprimiu a sua preocupação com as palavras do profeta Isaias:

"Ouçam e tornem a ouvir que nada conseguirão perceber, olhem e tornem a


olhar que nada hão de ver. É que o entendimento desta gente está fechado. Têm
os ouvidos duros e os olhos tapados. Doutro modo, talvez tivessem olhos para
ver e ouvidos para ouvir. Talvez o seu entendimento se abrisse e voltassem para
mim e eu os curaria." (Mat.13:14-15)

Como os profetas antes dele, Jesus parecia saber que escutar envolve muito mais
do que deixar passar o som através dos ouvidos. Escutar requer aceitar a mensagem e
permitir que ela influencie a nossa vida. Este escutar em profundidade impede o tipo de
dureza de coração ou frieza humana tão detestadas por Jesus.
O ouvir em profundidade que era característico de Jesus é o que os psicólogos
chamam escuta total. Significa esforçar-se por ouvir, ficar em bicos de pés para
apanhar a mensagem.
A nossa palavra portuguesa escutar deriva do latim auscultara, que significa dar
atenção a, tornar-se atento para ouvir. Escutar é voltar-se para alguém com uma
expectativa tão intensa que todo o nosso ser está em alerta.
Escutar exige uma escolha consciente para expandir a consciência. No cerne do
escuta total está uma clara decisão de centrar o nosso foco, tanto em direção a nós como
aos outros. Significa embarcar numa viagem dos ouvidos para o coração, para além do
ouvir para compreender.
A escuta total é um processo tão autoconsumidor que a sua presença nunca pode
ser tomada como garantida. Muitas pessoas assumem que são bons ouvintes sem nunca
pensar muito nisso. Assumem também que os outros os escutam quando falam. Na
realidade, muitos estudos sobre o escutar mostram que esse não é o caso. 75 por cento
da comunicação oral é ignorada, esquecida ou mal compreendida. Ainda mais rara é a
capacidade de ouvir para além das palavras, para compreender o significado mais
profundo do que as pessoas dizem.
Estudos da Universidade do Minnesota descobriram que as pessoas em geral não
sabem como ouvir bem. Mesmo quando as pessoas são convidadas a escutar
cuidadosamente o que outra pessoa diz, a pesquisa mostra que menos de metade foi

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realmente ouvido. A maior parte disso é esquecido dentro de um período de oito horas.
Parece que o que era verdade no tempo de Jesus é também verdadeiro no nosso: temos
ouvidos, mas não ouvimos. Escutamos, mas não compreendemos.

Ouvidos que Não Ouvem

Há dois estilos de comportamento que são muitas vezes confundidos ao escutar:


pseudo-escuta e passividade.
Na pseudo-escuta, a pessoa tenta parecer que está a escutar, mas, na realidade,
há pouca perceção dos sentimentos e reações dos outros. "O que escuta" tipicamente é o
que fala mais, interrompe livremente os outros para acrescentar um ponto importante,
controla o assunto da conversa e, habitualmente, leva-o para um do seu interesse. Esta
pessoa não ouve o que os outros dizem e não lhes responde apropriadamente pela
mesma razão. Também é comum a tendência dos que "pseudo-escutam" de ficarem
entediados e desinteressados quando os outros falam. Muitas vezes, eles não conseguem
esperar para entrar na conversa, se outra pessoa está a falar. Eles gostam de não deixar
mais ninguém falar e parecem precisar de estar nas luzes da ribalta. Frequentemente,
porque se assumem como extrovertidos, assumem que são bons ouvintes. Muitas vezes
conhecem as competências do escutar, mas a informação não passou do seu
conhecimento intelectual para o seu comportamento.
A passividade é muitas vezes confundida com timidez. O ouvinte passivo não é,
de facto, tímido, apenas não envolvido e desinteressado. Esta pessoa raramente fala,
nunca se responsabiliza por manter uma conversa e tem uma postura de distância. As
pessoas passivas às vezes parecem estar a ouvir, e até podem ser consideradas boas
ouvintes pelos outros. Contudo, o facto de que alguém não fala não significa que ele ou
ela está a escutar.
Vivemos num mundo onde há habitualmente mais fala que escuta — onde as
pessoas têm mais sentimentos, pensamentos e experiências do que os outros podem
ouvir. Os nossos filhos aprendem um jogo novo e ninguém quer jogar. Os nossos
adolescentes lutam pela identidade e chamamos-lhes insolentes. Os homens têm duas
profissões e dizemos que eles não se preocupam. As mulheres marcham pela dignidade
e nós rimos. Os velhos gastam a vida pela sua família e morrem sós.
Conhecemos o sentimento de não ser ouvidos. Sentimos o ferrão do isolamento
quando precisamos de companhia. Estamos habituados a ser ignorados e não
compreendidos. Sentimos a culpa de saber que muitas vezes falhamos uns aos outros.
Não seria possível nem desejável esperar que os outros nos escutassem o tempo
todo. Não seria realista esperar pelo dia em que todas as nossas necessidades
interpessoais seriam realizadas. Mas será possível e realista esperar que possamos
aprender a escutar com mais eficácia do que o fazemos.
É fácil para nós estarmos demasiadamente enrolados nos nossos próprios
pensamentos para nos preocuparmos com as necessidades do outro. É fácil estarmos tão
ocupados que não tempos tempo para parar junto a uma árvore ou para notar uma
lágrima. Às vezes há tanto ruído à nossa volta, ou dentro de nós, que não conseguimos
prestar atenção ao que as nossas próprias vidas estão a dizer. Num mundo em que
muitas pessoas começam o dia com despertadores, secadores, trânsito da hora de ponta
e rádios, é muitas vezes difícil experimentar o tipo de calma interior que o escutar total
exige. Frequentemente, o barulho simplesmente nos entorpece até ao esquecimento. Nós
estamos no deserto, mas, ao contrário de Jesus, não estamos a escutar.

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Reflexão: Prontidão para Escutar

Uma das razões por que o escutar verdadeiro é tão raro é que muito poucas
pessoas se concentram realmente em aprender as capacidades envolvidas nele. Estas
podem ser praticadas por qualquer pessoa que queira seriamente melhorar a sua
capacidade de escutar. O conjunto de capacidades específicas ao escutar inclui atender,
seguir e responder.
Básica a cada um destes componentes é a capacidade de refletir. A reflexão
descreve o processo pelo qual deixamos o óbvio e procuramos significado. Quer dizer
mergulhar nas profundezas, arriscando encontrar algo que não sabíamos que estava lá.
Para alguém que seja reservado, temeroso e supercontrolado, a reflexão pode ser um
processo ameaçador. Requer o abandono da rigidez e da autodefesa. Em relação à
comunicação interpessoal, significa um olhar honesto ao estilo das minhas interações
com as pessoas.
Recentemente, uma senhora membro de uma comunidade religiosa contava a um
grupo a sua história de um conflito interpessoal. Quando alguém sugeriu que mais
reflexão sobre a situação podia ajudá-la a clarificar o que tinha acontecido, ela replicou:
"Mas eu ando a refletir há meses e não cheguei a lado nenhum." Ao descrever as suas
"reflexões", ficou claro que ela andava a ruminar, não a refletir. Confundir os dois
processos é comum e muitas vezes obscurece as tentativas de compreender as nossas
interações.
Ruminar significa deter-se em algo — rever os detalhes concretos vezes sem
conta. É como ficar preso na lama. Por pouco tempo que se passe a reviver a situação na
nossa mente, não há alívio. A reflexão, por outro lado, significa examinar algo, olhando
para lá dos detalhes para o seu significado. A reflexão leva habitualmente a uma
clarificação de um acontecimento ou situação. A ruminação foca (por vezes
excessivamente) naquilo que aconteceu. A reflexão foca porque aconteceu ou como
aconteceu e o papel que desempenhamos ao fazer isso acontecer. A ruminação anda em
círculos. A reflexão avança. A ruminação incentiva a ansiedade e a depressão. A
reflexão incentiva o autoconhecimento. A ruminação preocupa. A reflexão escuta.
Visto que a reflexão está na base do escutar, como nos podemos tornar mais
reflexivos? Algumas pessoas parecem capazes de alcançar níveis profundos de reflexão
no meio da agitação, da azáfama e atividade, mas isso não é fácil para a maioria. A
maior parte das pessoas precisa que haja alguma solidão nas suas vidas para chegar ao
grau de silêncio interior necessário à reflexão genuína, particularmente no início. Como
Jesus, elas precisam de ir para os montes. Sozinhas.

Tornar se Reflexivo
-

O melhor para começar é construir um tempo em cada dia ou em cada semana


para estar só num sítio silencioso. O passo seguinte é ficar em silêncio lá dentro,
desligar-se dos ruídos da vida e esperar. Algumas coisas que ajudam neste processo de
se aquietar incluem:
parar todos os pensamentos de forma consciente
abrandar a respiração e respirar mais profundamente
contrair e descontrair os músculos para relaxar o corpo
notar quaisquer partes do corpo que estejam tensas e relaxá-las lentamente
Uma vez relaxados e experimentando um sentido de calma interior, estamos em
posição de focar a nossa consciência numa variedade de direções diferentes. Podemos
escolher focarmo-nos no que quer que venha à nossa consciência de forma espontânea,
ou selecionar algo em que concentrar a nossa reflexão.
O processo de focagem envolve ver algo ou alguém por todos os lados. Significa
fixar o nosso olhar e tentar ser olhar mais profundamente para alguma dimensão da vida
que já contemplámos anteriormente. Podemos escolher focar uma variedade de áreas:

- uma palavra, som ou memória


os nossos próprios sentimentos ou necessidades
- a forma como temos agido para com alguém
os sentimentos ou necessidades de alguém próximo de nós
- acontecimentos mundiais
o dilema dos oprimidos
- a Bíblia
tempestades
- o primeiro botão da primavera

À medida que o processo de reflexão se torna mais familiar, encontrar-nos-emos


a refletir muitas vezes, durante muitos momentos do dia.
Podemos caminhar sobre folhas que estalam no inverno e levantar o olhar para a
árvore vazia que as deixou cair. Podemos olhar os ramos um momento e continuar a
caminhar. Podemos ouvir o som das folhas secas debaixo dos nossos pés. Notámos o
exterior invernoso, mas ainda não refletimos. Não refletimos até os sons e vistas da
estação nos levarem a procurar o sentido das folhas e ramos secos. Quando deixamos a
árvore falar-nos sobre a nossa solidão e recordar-nos os lugares áridos da nossa vida,
começámos a refletir. Quando voltamos a olhar para a árvore, alta com os seus membros
retorcidos expostos e desaparecida a sua beleza do verão, e virmos ali o ciclo da vida, a
nossa reflexão atingiu profundidade. Se persistirmos o suficiente para nos lembrarmos
da primavera, começamos a escutar.

Autorreflexão

Muitas pessoas estão familiarizadas com o processo de reflexão, porque ele se


relaciona com a oração e a meditação. Muitos são também adeptos de refletir sobre a
natureza, as Escrituras e outras pessoas, e sobre a presença de Deus nas suas vidas.
Essas pessoas são frequentemente boas na reflexão sobre outras e podem ser muito
percetivas quando se trata de analisar o comportamento de alguém. Mas algumas destas
mesmas pessoas reflexivas permanecem surpreendentemente sem consciência de si
mesmas e do impacto que o seu comportamento tem nos outros. Falta-lhes muitas vezes
o discernimento mínimo sobre os seus próprios estilos interpessoais. Ao contrário de
Jesus, nunca foram suficientemente longe no seu próprio deserto para ouvir as suas
próprias tentações.
A autorreflexão é crítica a todo o processo reflexivo e central ao escutar total. Se
nunca paramos para olhar bem para o nosso estilo de falar, exprimir sentimentos, lidar
com conflitos, ou interagir com outros, são grandes as possibilidades de haver pelo
menos uma dimensão do nosso comportamento que torna difícil que os outros se
relacionem connosco. Para assegurar que o nosso estilo interpessoal ajuda mais do que
impede os nossos relacionamentos, precisamos de refletir regularmente sobre o nosso
próprio comportamento:

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- Como falo? Demais? De menos?
- Com que frequência interrompo quando os outros falam?
- O que é que a minha postura do corpo diz aos outros?
- O que é que minha expressão facial diz? Estou consciente do que a minha cara diz
quando estou com outros?
- Gosto de receber resposta? Como reajo quando a recebo?
- Como é que permito aos outros saberem quais são as minhas necessidades? Sou
dependente? Manipulativo? Possessivo? Controlador? Carinhoso? Preocupado?
Disponível?
- Como reajo quando estou zangado? Invejoso? Solitário? Inseguro? Ameaçado? Feliz?
Entusiasmado?
- Tenho sempre que estar certo? Ter a última palavra?
- Como exprimo a minha sexualidade?
- Os meus sentimentos e o meu comportamento são congruentes? O que eu sinto por
dentro tem a ver com o que digo cá fora?
- Experimento um relacionamento real entre os meus valores cristãos e a forma como
trato as pessoas?

É impossível ser bom ouvinte de outros se não escutamos o que o nosso próprio
comportamento diz. É impossível atingir um nível profundo de reflexão espiritual e
oração, se a nossa reflexão não é transportada para os nossos relacionamentos. Não
podemos ver bem o cisco no olho do vizinho, se não tivermos primeiro visto a trave no
nosso.
Quando nos habituamos a notar a vida por baixo do óbvio, quando as expressões
faciais fizerem diferença, quando o pôr do sol nos emocionar, quando procurarmos
pistas num tom de voz e lermos mensagens nas estações do ano, quando nos
familiarizarmos mais com os padrões da nossa própria vida, então teremos entrado
profundamente no processo chamado escutar total.
É a reflexão que está em constante companhia a esse processo. A reflexão
prepara-nos para entregarmos cada parte do nosso corpo ao escutar. Permite-nos escutar
com os olhos e os ouvidos, com o nariz, a boca, o tato. Afina a nossa perceção para que
as mensagens da natureza, dos acontecimentos, das pessoas e dos nossos próprios
sentimentos captem a nossa atenção e formatem respostas apropriadas. A reflexão
ajuda-nos a atingir aquele equilíbrio necessário e delicado entre estar autocentrado e
centrado nos outros. Ensina-nos quando devemos atravessar para o outro lado do lago
para nos afastarmos e quando ficar e misturarmo-nos com a multidão.

Atender: O Primeiro Estágio do Ouvir

Atender significa simplesmente prestar muita atenção — notar e tornar-se


sensível a pistas sobre si mesmo, outros e o ambiente, que digam algo sobre o que se
está a passar. Atender significa estar em contacto. Quando a palavra atender é traduzida
para o grego, usamos a palavra diakonos, o nome técnico para o minstério. Em sentido
muito real, estar atento é ministrar. Nos tempos do Novo Testamento, o ministério
descrevia as formas específicas como os cristãos primitivos serviam uns aos outros.
Notar as necessidades das viúvas, olhar a situação dos pobres, reconhecer os doentes no
seu meio — todas estas atividades de ministério são simplesmente formas de descrever
os cristãos primitivos como uma comunidade que atendia. Eles prestavam grande
atenção às pistas do ambiente e respondiam de forma apropriada.

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Em situações interpessoais, atender começa sempre comigo. Sintonizar as nossas
próprias reações e saber o que se passa dentro de nós ao interagirmos é essencial a um
ouvir eficaz. Se começamos a ficar na defensiva e não o compreendemos, se
começamos a ficar zangados e não prestamos atenção a isso, iremos provavelmente
reagir de formas que criem distância em vez de compreensão. Prestar atenção ao nosso
corpo — notar se a boca começa a ficar seca ou se a cara começa a aquecer — pode
dar-nos sinal de que devemos estar mais conscientes das nossas reações emocionais.
Atender também envolve estar consciente do que se passa nos outros, entre os
outros e em grupos. Há uma capacidade que os golfinhos têm, que se assemelha muito a
este tipo de sensibilidade interpessoal. Chama-se ecolocalização (ou sonar biológico).
Estes animais desenvolveram de forma aguda um sentido acústico. Isso permite-lhes ver
imediatamente a saúde física, bem como o estado psíquico de um outro — bastando-lhes
estar na mesma vizinhança geral. O nosso esforço para atender uns aos outros pode
levar-nos perto de uma informação semelhante. Pode ajudar-nos a saber algo do mundo
de outra pessoa, a compreender melhor as interações entre os outros e a
apercebermo-nos de climas de sentimentos em grupos. Ter esta informação torna as
nossas tentativas de responder a isso muito mais fundadas na realidade e maximiza o
nosso potencial de chegar ao outro.
Os golfinhos e as baleias, que desenvolveram padrões de comunicação tão
elevados, também têm, espantosamente, interações pacíficas. Talvez os nossos vizinhos
subaquáticos tenham algo a dizer-nos sobre a importância de atender, no que diz
respeito a relacionamentos.

Seguir: O Segundo Estágio do Escutar

Tanto em sentido bíblico, como no psicológico, seguir significa ficar com o


outro. Quando Jesus pediu aos seus discípulos iniciais "sigam-me", ele não lhes estava a
pedir que formassem fila e caminhassem atrás dele. Ele pedia-lhes companheirismo, o
tipo de companheirismo envolvido em caminhar ao seu lado e aprender dele. O seguir
psicológico envolve a mesma coisa: companheirismo, aprendizagem. Significa
caminhar com outro e tentar aprender algo mais sobre a sua perspetiva. Significa fazer
todo o possível para permitir que o outro nos revele o seu mundo.
Interromper, distrair o outro com perguntas e dar conselhos, tudo isso interfere
com o seguir. Quando seguimos alguém, ficamos fora do caminho. Não impomos as
nossas opiniões, nem pressionamos para que elas sejam ouvidas. Ficamos simplesmente
ali, como companheiros, enquanto a outra pessoa fala. Esta é outra do conjunto de
capacidades envolvidas no escutar total.
Uma vez desenvolvida uma postura atenta, a tarefa seguinte para o ouvinte
eficaz é ajudar o orador a falar. Isso é o que o seguinte passo realiza. Permite ao ouvinte
"ir ver", ir a casa de outro para ver onde a pessoa vive lá por dentro.
Seguir envolve oferecer "formas de abrir a porta", ou convites não coercivos
para falar. Podemos seguir estando genuinamente interessados permanecendo
presentes e abertos ao outro enquanto ele/a fala e fazendo curtos comentários que
encorajem a conversa. Seguir pode ser tão simples como ficar com o outro em silêncio,
oferecer-lhe tempo para pensar no que vai dizer, ou pode envolver oferecer descrições da
linguagem corporal da pessoa: "Tens a cabeça bastante baixa hoje" ou "Tens um sorriso de
orelha a orelha!" Estas afirmações mostram interesse e indicam uma vontade de ouvir a
história da outra pessoa.
Em conversas, tanto entre indivíduos como em grupos, seguir envolve fazer algo
que tome mais fácil que uma pessoa fale: acenar com a cabeça, sorrir, adequar a

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expressão facial à da pessoa, manter contacto visual. Podem também ser úteis palavras
soltas de encorajamento: "Realmente!" "Claro!" "Sim!" "Eu também!" "Uau!" "E?"
"Oh?"
Os comportamentos relacionados com o seguir dão a mensagem que a história
da outra pessoa é importante e vale a pena ser contada. Ficar com o indivíduo
psicologicamente, bem como fisicamente é o objetivo do seguir. Olhar pela janela, ler o
papel, tricotar ou sair e entrar na sala dificilmente encorajam a pessoa a falar.
Seguir leva-nos para o mundo de outra pessoa. Permite-nos ter uma rápida visão
do reino, de uma outra perspetiva.
Responder: O Terceiro Estágio do Escutar
O objetivo do atender é aprender a mover-se para além do óbvio, penetrar a
superfície. Sem a capacidade de ver mais do que o exterior, sem a vontade de entrar no
mundo de outra pessoa, responder é difícil e pode ser inapropriado.
Há pouco tempo, eu visitava Jean, uma jovem casada cujo marido de há cinco
anos acabava de lhe dizer que estava envolvido com outra mulher e queria o divórcio.
Jean tinha os olhos inchados de uma noite sem dormir. Tinha a cara inchada e sem a
maquilhagem habitual. A voz tremia-lhe quando falava. Enquanto conversávamos, Pat,
uma vizinha de Je an, veio pedir-lhe um tabuleiro emprestado, para a festa que
preparava. Ela pegou no tabuleiro e começou a falar das entradas que tinha preparado.
Passada meia hora de conversa sobre receitas e planos para a festa, Pat levantou-se para
sair. Com um instinto estranho para o ambiente naquela sala, ela saiu, lançando sobre o
ombro: "Jean, as raquetes estão a fazer-te maravilhas!"
A Pat não pareceu notar a tristeza em que Jean estava totalmente envolvida.
Pareceu não notar a agonia sob as maneias educadas da Jean, nem sentir o peso que
flutuava na sala. Ou então talvez ela tenha visto e notado e sentido, mas não sabia como
responder. Em qualquer caso, o comportamento dela deixou a Jean com os sentimentos
característicos que se arrastam atrás de comentários superficiais e observações
insensíveis: ferida, zangada, mais só do que antes.
Quando a nossa resposta a outra pessoa sai das nossas próprias necessidades, ou
de má capacidade para escutar, os nossos relacionamentos sofrem sempre. Pat
respondeu a Je an , mas a sua resposta foi inapropriada por causa de falta de
compreensão da situação de Jean. As pistas ambientais estavam lá, mas não foram
usadas na resposta de Pat. Quando se ignoram as pistas, as respostas são quase sempre
inadequadas. Muita da comunicação humana falha precisamente porque as pessoas
respondem umas às outras sem fazer uso das pistas habituais: tom de voz, expressão
facial, sentimento escondido, postura do corpo, comportamento.
Responder com compreensão é aquela capacidade que completa o processo de
escuta. Mais do que qualquer outra capacidade de comunicação, a resposta apropriada
e compreensiva solidifica a confiança e promove laços interpessoais de longa duração.
Responder com compreensão dá às pessoas o sentimento de que estamos com elas.
Quando as coisas que dizemos e fazemos refletem que nós ouvimos a mensagem e a
recebemos de forma a não julgar quem a enviou, estabelece-se a fundação da amizade.
Há uma série de coisas que podemos fazer para termos a certeza que as nossas respostas
aos outros são tanto apropriadas como compreensivas:

- assegure-se de que a resposta vem da reflexão


- evite reações e comentários rápidos (o velho ditado de "contar até dez" é uma boa
regra)

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- evite julgar e categorizar o que as pessoas dizem
- espere para responde até que a outra pessoa tenha terminado
- comente o que a pessoa disse, antes de introduzir um novo tópico
- evite monopolizar as conversas ou falar de si mesmo
- desenvolva o hábito de ,verificar com frequência o que a outra pessoa pode estar a
sentir, enquanto ela fala
- participe na conversa (ficar em silêncio eleva a tensão num grupo)

A Agradável Sensação de Se Ser Ouvido

Não há nada na interação interpessoal que dê tanta energia como a sensação de


se ser ouvido, a experiência de se ser compreendido.
A mulher samaritana do Evangelho de João teve essa experiência ao interagir
com Jesus junto ao poço. Depois dessa conversa, ela foi à cidade e disse às pessoas:
«Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será este o Messias?»
(João 4:29). Ela tinha encontrado alguém que a conhecia como mais ninguém antes. Ela
veio dessa conversa a sentir que tinha sido totalmente compreendida e, mais
surpreendente que tudo, a sentir-se totalmente aceite. Não julgada. Não repreendida.
Não aconselhada. Apenas compreendida. Isso deu-lhe energia e entusiasmo para o
ministério. Ela começou a falar sobre Jesus e a trazer outros para conhecer aquele cujas
respostas às pessoas fluiam do facto de ter entrado no mundo delas.

Nota: As passagens bíblicas são de "A Bíblia Para Todos"

Tradução de Eunice Cavaco

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