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Esse é um dos conteúdos mais importantes no universo dos concursos públicos, portanto, sua missão é ter
tudo isso na ponta da língua. Vamos ao trabalho!
Conceituação
“Concordar”, de uma maneira geral, significa modificar as palavras de modo de elas se relacionem
harmoniosamente em uma sentença. Essa harmonia está relacionada à flexão dos termos. Sempre existirá, nos casos
de concordância, uma palavra que servirá de “orientação” para realizar a adequação da flexão.
Os casos mais incidentes, nas questões de concurso, são os de concordância de número. Isso não quer dizer que
você não deva prestar atenção aos demais casos.
• Lógica ou gramatical: consiste em adequar o termo que concorda ao núcleo de seu referente para
concordância. Veja o exemplo:
• Explicação: nessa sentença, o verbo realiza a concordância com o núcleo de seu sujeito, visto que ele
(boatos) se encontra no plural.
• Atrativa ou eufônica: consiste em adequar o termo que concorda ao termo que mais se aproxima
dele. Veja o exemplo.
• Explicação: nessa sentença, o verbo concorda com o núcleo do sujeito que mais se aproxima do verbo.
Também seria correto concordar com os dois elementos, ou seja, escrever no plural.
• Siléptica ou ideológica: consiste em adequar o termo que concorda com a ideia expressa pelo
referente e não com a palavra. Veja o exemplo.
• Explicação: nessa sentença, o verbo não concorda com o sujeito inteiramente, uma vez que a referência
para o sujeito está na terceira pessoa do plural (a lógica seria “os brasileiros são”). Ao escrever a forma
“somos”, ocorre uma silepse de pessoa, por isso – de certo modo – o falante “se inclui” na expressão
(mudança da terceira pessoa para a primeira pessoa do plural).
Concordância Verbal: análise que leva em consideração a relação entre sujeito e verbo.
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• Regra Geral (também chamada de regra do Sujeito Simples): o verbo concorda com o núcleo do sujeito em
número e pessoa.
b) Sujeito posposto ao verbo: verbo no plural ou concorda com o referente mais próximo:
✓ Chegou / chegaram Manoel e sua família.
✓ Foi citado / foram citados o parlamentar e seu companheiro no processo.
• Sujeito construído com expressão partitiva seguida de nome no plural: verbo no singular ou no plural.
✓ Grande parte dos jogadores fez / fizeram uma preparação intensa.
• Sujeito construído com expressão que indica quantidade aproximada seguida de numeral: verbo concorda
com o substantivo que estiver na expressão.
✓ Cerca de 50 % das pessoas gabaritaram a prova.
✓ Cerca de 50% do povo gabaritou a prova.
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Nesse caso, o sujeito “minhas alunas” faz o verbo ser flexionado no plurar, a fim de estabelecer uma
relação de concordância.
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Nessa frase, o núcleos nominais substantivos fazem que seus termos periféricos (artigo, adjetivo,
pronome) estabeleçam relação de concordância.
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a) Sem artigo ou com artigo no singular: verbo no singular.
✓ Minas Gerais exporta cultura.
✓ O Amazonas é vasto.
• Sujeito construído com pronome interrogativo / indefinido (no plural) + pronome pessoal: pode o verbo
concordar com um dos pronomes em questão:
✓ Quais de nós encontrarão / encontraremos a resposta?
✓ Muitos de nós reivindicam / reivindicamos as medidas mencionadas.
• Sujeito construído com a expressão “um dos que”: o verbo deve ir para o plural:
✓ César foi um dos intelectuais que mais apoiaram a nova visão de cultura.
• Sujeito construído com núcleos em gradação: verbo no plural ou concorda com o último núcleo:
✓ Um dia, um mês, um ano, uma vida de opressão não é suficiente (são suficientes) para nos vencer.
• Sujeito construído por pessoas gramaticais diferentes: o plural se dá para a pessoa predominante3:
✓ Marina e eu vamos à festa da praia hoje.
• Sujeito composto ligado pela palavra “com” (no sentido aditivo): o verbo deve ir para o plural:
✓ A menina com sua mãe registraram a queixa.
Obs.: se separada por vírgulas a expressão que inicia com a preposição o verbo fica no singular.
• Sujeito composto ligado pela palavra “nem”: não há consenso, mas o usual é empregar no plural:
a) Nem dinheiro nem fama encantavam aquela menina.
• Sujeito construído com a expressão “um e outro”: verbo no singular ou no plural, a menos que haja
reciprocidade (daí vai para o plural):
✓ Um e outro fez / fizeram a inscrição do concurso.
✓ Um e outro se cumprimentaram naquela tarde quente.
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A noção de predominância dá-se pela relação de ordem, ou seja, 1ª, 2ª e 3ª pessoa.
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• Sujeito construído com a expressão “um ou outro”: verbo deve ser empregado no singular.
✓ Dos meninos que estavam na sala, um ou outro entenderá a matéria explicada.
• Sujeito construído com a expressão “nem um, nem outro”: verbo deve ficar no singular.
✓ Das saídas propostas para a crise; nem uma, nem outra me parece cabível.
É muito comum haver questões a respeito desses verbos impessoais. A sugestão é memorizar e buscar
compreender os casos em que o verbo deverá permanecer no singular.
Mas, pelo amor de Deus, criatura; se a banca fizer trocas de verbos, preste atenção! O verbo que não possui sujeito
é o verbo “haver”. “Existir”, “ocorrer” ou “acontecer” possuem sujeito e podem ir para o plural. Veja:
✓ Existem meios de conseguir a vitória. (O verbo está no plural, porque o sujeito está posposto e tem
núcleo no plural)
• Haver, fazer ou ir (no sentido de tempo transcorrido): verbo fica no singular. Muito cuidado, pois na
oralidade costumamos falar incorretamente.
✓ Há duas semanas, comecei a estudar para o concurso.
✓ Faz três meses que iniciei minha preparação.
✓ Vai para três anos que não pego nos cadernos.
• Regra do verbo “ser” (indicando tempo ou distância): o verbo deve concorda com o predicativo do sujeito4.
✓ Daqui até ali são 60 metros. (O verbo concorda com o núcleo “metros”)
✓ De Cascavel até São Paulo, é uma hora de avião. (O verbo concorda com o núcleo “hora)
✓ Hoje é dia 20 de dezembro. (O verbo concorda com o núcleo “dia”)
✓ Amanhã serão 25 de março. (Aqui a concordância é com a ideia de “25 dias passados de março”)
o O verbo no infinitivo pode ir para o plural (parece errado, mas não está):
▪ Os alunos parece estudarem muito.
• Pronome relativo “Que” (funcionando como sujeito da oração): verbo concorda com o referente do
pronome.
✓ O indivíduo que vir esses indícios deve procurar ajuda.
✓ As mulheres que estudam crescem na vida.
• Pronome relativo “Quem” (como sujeito de oração): verbo fica na 3ª pessoa do singular5.
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Cuidado! Esse é um caso de concordância muito particular! Não erre!
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Apesar de um descalabro gramatical, há algumas gramáticas que admitem a possibilidade de o verbo
concordar com o referente do pronome, ou seja, flexionar para algo diferente da 3ª perceira do
singular.
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✓ Foram os bandeirantes quem explorou a área.
✓ São os homens quem destruiu o planeta.
• Verbo “dar” (indicando “bater” ou “soar”) + horas: deve-se identificar o sujeito para realizar a concordância.
✓ Deu três horas o relógio da parede.
✓ Deram três horas no relógio da parede.
Quando se trabalha com verbos acompanhados da palavra “se”, o maior compromisso é desvendar a função da
palavra “se”. A partir de então, torna-se mais fácil a análise da concordância. Veja os casos seguintes.
Agora, vamos dar uma olhada em algumas (apenas algumas) regras de concordância nominal.
Concordância Nominal
A Concordância Nominal investiga a relação entre os termos do grupo nominal. Para quem não se lembra de quais
são esses termos, basta ver o seguinte esquema:
Artigo Adjetivo
Substantivo
Numeral Pronome
Além de saber quais são esses termos, é conveniente também lembrar quais são as palavras por natureza invariáveis
(que não flexionam) da língua.
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Usualmente, os verbos transitivos diretos os verbos bitransitivos possuem voz passiva. Isso ajuda a
identificar.
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Isso ocorre com verbo intransitivos, verbos de ligação e verbos transitivos indiretos.
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Palavras invariáveis da Língua
• Preposição
• Interjeição
• Conjunção
• Advérbio.
Regra Geral: o adjetivo, o numeral, o pronome e o artigo concordam em gênero e número com o substantivo a que
se referem.
• O primeiro momento árduo por que passei foi aquele citado por você.
Apesar de a concordância nominal ser fácil e praticamente intuitiva, é preciso atentar para alguns casos especiais.
Casos especiais
• Palavra “bastante”. Para não errar seu emprego, basta entender a diferença de classificação morfológica:
• Advérbio: invariável.
✓ O posicionamento do Governo mudou bastante.
• Adjetivo: variável.
✓ Havia indícios bastantes sobre o caso.
A sugestão é tentar trocar a palavra “bastante” pela palavra “muito” e observar sua possibilidade de flexão.
• A palavra “menos”: invariável, por ser um advérbio.
• Havia menos mulheres no festival.
• Anexo, incluso e apenso: são termos variáveis e devem concordar com o substantivo.
• Seguem anexas as imagens descritas.
• Seguem apensos os documentos.
• Seguem inclusas as provas.
• É necessário, é proibido, é permitido. Casos em que há verbo de ligação + um predicativo variável. Só variam
se houver na sentença um determinante à esquerda8 do núcleo do sujeito.
É evidente que existem muitíssimas regras de concordância. Aqui encontramos algumas das mais
recorrentes em provas de concurso público. Com o estudo regrado e paciente, você será capaz de entender todas
essas regras e reconhecê-las nos questionamentos. A banca pode esconder essas regras em questões sobre reescrita
de sentenças. O principal é manter o foco e estudar sempre! Agora, vamos praticar o que aprendemos.
Agora é hora de praticar!
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Um artigo, um pronome ou um numeral, basicamente.
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como James Cook, embora os conhecimentos humanos sobre o fundo do mar tenham permanecido insignificantes
até a metade do século XX. Os principais contornos dos continentes e da maioria das ilhas eram conhecidos, embora
pelos padrões modernos não muito corretamente. O tamanho e a altura das cadeias das montanhas da Europa eram
conhecidos com alguma precisão, as localizadas em partes da América Latina o eram muito grosseiramente, as da
Ásia, quase totalmente desconhecidas, e as da África (com exceção dos montes Atlas), totalmente desconhecidas
para fins práticos. Com exceção dos da China e da Índia, o curso dos grandes rios do mundo era um mistério para
todos a não ser para alguns poucos caçadores, comerciantes ou andarilhos, que tinham ou podem ter tido
conhecimento dos que corriam por suas regiões. Fora de algumas áreas − em vários continentes elas não passavam
de alguns quilômetros terra a dentro, a partir da costa − o mapa do mundo consistia de espaços brancos cruzados
pelas trilhas demarcadas por negociantes ou exploradores. Não fosse pelas informações descuidadas de segunda ou
terceira mão colhidas por viajantes ou funcionários em postos remotos, estes espaços brancos teriam sido bem mais
vastos do que de fato o eram.
Não fosse pelas informações descuidadas de segunda ou terceira mão colhidas por viajantes ou funcionários em
postos remotos, estes espaços brancos teriam sido bem mais vastos do que de fato o eram.
A frase acima respeita as orientações da gramática normativa no que se refere à concordância verbal e nominal,
assim como ocorre com a seguinte frase:
a) Se não fosse, naquela época, as ações de certos viajantes, muito do que se sabe hoje permaneceria
incógnito.
b) Fosse qual fossem as informações prestadas por andarilhos, tiveram todas sua utilidade para o
conhecimento do mundo do século XVIII.
c) Fossem quais fosse as intenções dos informantes, o fato é que aquilo que notificaram recebeu registro,
ainda que as notícias fossem descuidadas.
d) Caso fosse registrado com mais rigor as informações dos caçadores, e também se elas fossem mais
detalhadas, talvez mais se soubesse hoje sobre o conhecimento da época acerca dos rios da África.
e) Quaisquer que fossem as circunstâncias, mais favoráveis, ou menos favoráveis, cada habitante sempre
enfrentava algo do mistério sobre as cadeias de montanhas que lhe eram próximas.
Filosofia de borracharia
O borracheiro coçou a desmatada cabeça e proferiu a sentença tranquilizadora: nenhum problema com o nosso
pneu, aliás quase tão calvo quanto ele. Estava apenas um bocado murcho.
− Camminando si sgonfia* − explicou o camarada, com um sorriso de pouquíssimos dentes e enorme simpatia.
O italiano vem a ser um dos muitos idiomas em que a minha abrangente ignorância é especializada, mas ainda assim
compreendi que o pneu do nosso carro periclitante tinha se esvaziado ao longo da estrada. Não era para menos.
Tendo saído de Paris, havíamos rodado muito antes de cair naquele emaranhado de fronteiras em que você corre o
risco de não saber se está na Áustria, na Suíça ou na Itália. Soubemos que estávamos no norte, no sótão da Itália,
vendo um providencial borracheiro dar nova carga a um pneu sgonfiato.
Dali saímos − éramos dois jovens casais num distante verão europeu, embarcados numa aventura que, de camping
em camping, nos levaria a Istambul – para dar carga nova a nossos estômagos, àquela altura não menos sgonfiati. O
que pode a fome, em especial na juventude: à beira de um himalaia de sofrível espaguete fumegante, julguei ver
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fumaças filosóficas na sentença do tosco borracheiro. E, entre garfadas, sob o olhar zombeteiro dos companheiros de
viagem, me pus a teorizar.
Sim, camminando si sgonfia, e não apenas quando se é, nesta vida, um pneu. Também nós, de tanto rodar, vamos
aos poucos desinflando. E por aí fui, inflado e inflamado num papo delirante. Fosse hoje, talvez tivesse dito,
infelizmente com conhecimento de causa, que a partir de determinado ponto carecemos todos de alguma espécie de
fortificante, de um novo alento para o corpo, quem sabe para a alma.
(Adaptado de: WERNECK, Humberto – Esse inferno vai acabar. Porto Alegre, Arquipélago, 2011, p. 85-86)
O poeta Ferreira Gullar disse há tempos uma frase que gosta de repetir: “A crase não existe para humilhar ninguém”.
Entenda-se: há normas gramaticais cuja razão de ser é emprestar clareza ao discurso escrito, valendo como
ferramentas úteis e não como instrumentos de tortura ou depreciação de alguém.
Acho que o sentido dessa frase pode ampliar-se: “A arte não existe para humilhar ninguém”, entendendo-se com isso
que os artistas existem para estimular e desenvolver nossa sensibilidade e inteligência do mundo, e não para produzir
obras que separem e hierarquizem as pessoas. Para ficarmos no terreno da música: penso que todos devem escolher
ouvir o que gostam, não aquilo que alguém determina. Mas há aqui um ponto crucial, que vale a pena discutir:
estamos mesmo em condições de escolher livremente as músicas de que gostamos?
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Para haver escolha real, é preciso haver opções reais. Cada vez que um carro passa com o som altíssimo de graves
repetidos praticamente sem variação, num ritmo mecânico e hipnótico, é o caso de se perguntar: houve aí uma
escolha? Quem alardeia os infernais decibéis de seu som motorizado pela cidade teve a chance de ouvir muitos
outros gêneros musicais? Conhece muitos outros ritmos, as canções de outros países, os compositores de outras
épocas, as tendências da música brasileira, os incontáveis estilos musicais já inventados e frequentados? Ou se limita
a comprar no mercado o que está vendendo na prateleira dos sucessos, alimentando o círculo vicioso e enganoso do
“vende porque é bom, é bom porque vende”?
Não digo que A é melhor que B, ou que X é superior a todas as letras do alfabeto; digo que é importante buscar
conhecer todas as letras para escolher. Nada contra quem escolhe um “batidão” se já ouviu música clássica, desde
que tenha tido realmente a oportunidade de ouvir e escolher compositores clássicos que lhe digam algo. Não acho
que é preciso escolher, por exemplo, entre os grandes Pixinguinha e Bach, entre Tom Jobim e Beethoven, entre um
forró e a música eletrônica das baladas, entre a música dançante e a que convida a uma audição mais serena; acho
apenas que temos o direito de ouvir tudo isso antes de escolher. A boa música, a boa arte, esteja onde estiver,
também não existe para humilhar ninguém.
Na literatura internacional da Ciência Política, é hoje dominante o entendimento de que democracia é um arcabouço
institucional para a pacificação das lutas inerentes à conquista e ao exercício do poder, não um padrão de sociedade
fundado na igualdade socioeconômica substantiva. A democracia surge historicamente em sociedades com profunda
desigualdade, estratificadas, sendo muito mais causa que consequência da redução das desigualdades sociais.
De fato, certa tensão entre os conceitos institucional e substantivo da democracia existe por toda parte, mas articula-
se de maneira específica no pensamento de cada país. Durante todo o século XX, a avaliação de que democracia só é
“autêntica” quando estreitamente associada a avanços no plano da igualdade foi compartilhada por correntes
ideológicas diversas.
Endossar o conceito analítico da democracia como um arcabouço político-institucional, a meu ver correto, não
significa que o corpo de hipóteses históricas e empíricas que explica a consolidação da democracia como sistema em
casos concretos possa passar ao largo das desigualdades sociais e dos obstáculos culturais delas decorrentes. Como
processo histórico, a evolução da democracia representativa deve ser compreendida como resultante de dois vetores.
De um lado, a formação de uma autoridade central capaz de arbitrar disputas de poder, inclusive mediante a
elaboração de uma complexa aparelhagem eleitoral; de outro, o crescimento econômico, com todas as implicações
para a elevação do piso de bem-estar e desconcentração das posições de privilégio, status. Num período dilatado de
tempo, tal processo propicia efetiva redistribuição de renda e riqueza, facilita o surgimento econômico e político de
uma classe média e torna mais provável o fortalecimento da “sociedade civil”.
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Desde a Segunda Grande Guerra, o principal determinante da estabilidade democrática foi o crescimento econômico.
Mesmo democracias que no início pareciam débeis foram se robustecendo à medida que ascendiam a níveis mais
altos de renda per capita, melhoravam seus níveis educacionais e conseguiam atender as demandas básicas da
população. Mas nada assegura que a configuração de fatores relevantes para a estabilidade permanecerá a mesma
até, digamos, a metade do presente século. Na América Latina, o regime democrático sabidamente convive com
níveis infamantes de desigualdade social, corrupção e criminalidade, e se beneficia cada vez menos da força
moderadora de valores e instituições “tradicionais”. Assim, até onde a vista alcança, a estabilidade e o vigor da
democracia dependerão muito do desempenho do sistema político e do aprimoramento moral da vida pública.
Falsificações na internet
Quem frequenta páginas da internet, sobretudo nas redes sociais, volta e meia se depara com textos atribuídos a
grandes escritores. Qualquer leitor dos mestres da literatura logo perceberá a fraude: a citação está longe de honrar
a alegada autoria. Drummond, Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Fernando Pessoa, por exemplo, jamais
escreveriam banalidades recheadas de lugares comuns, em linguagem capenga e estilo indefinido. Mas fica a
pergunta: o que motiva essas falsificações grosseiras de artistas da palavra e da imaginação?
São muitas as justificativas prováveis. Atrás de todas está a vaidade simplória de quem gostaria de ser tomado por
um grande escritor e usa o nome deste para promover um texto tolo, ingênuo, piegas, carregado de chavões. Os
leitores incautos mordem a isca e parabenizam o fraudulento, expandindo a falsificação e o mau gosto. Mas há
também o ressentimento malicioso de quem conhece seus bem estreitos limites literários e, não se conformando com
eles, dispõe-se a iludir o público com a assinatura falsa, esperando ser confundido com o grande escritor. Como há de
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fato quem confunda a gritante aberração com a alta criação, o falsário dá-se por recompensado enquanto recebe os
parabéns de quem o “curtiu”.
Tais casos são lamentáveis por todas as razões, e constituem transgressões éticas, morais, estéticas e legais. Mas
fiquemos apenas com a grave questão da identidade própria que foi rejeitada em nome de outra, inteiramente
postiça. Enganarse a si mesmo, quando não se trata de uma psicopatia grave, é uma forma dolorosa de trair a
consciência de si. Os grandes atores, apoiando-se no talento que lhes é próprio, enobrecem esse desejo tão humano
de desdobramento da personalidade e o legitimam artisticamente no palco ou nas telas; os escritores criam
personagens com luz própria, que se tornam por vezes mais famosos que seus criadores (caso de Cervantes e seu
Dom Quixote, por exemplo); mas os falsários da internet, ao não assinarem seu texto medíocre, querem que o
tomemos como um grande momento de Shakespeare. Provavelmente jamais leram Shakespeare ou qualquer outro
gênio citado: conhecem apenas a fama do nome, e a usam como moeda corrente no mercado virtual da fama.
Tais fraudes devem deixar um gosto amargo em quem as pratica, sobretudo quando ganham o ingênuo acolhimento
de quem, enganado, as aplaude. É próprio dos vícios misturar prazer e corrosão em quem os sustenta. Disfarçar a
mediocridade pessoal envergando a máscara de um autêntico criador só pode aprofundar a rejeição da identidade
própria. É um passo certo para alargar os ressentimentos e a infelicidade de quem não se aceita e não se estima.
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se concordando com o termo sublinhado na frase:
a) O autor do texto acha que (ser) de se lamentar que tantas pessoas sejam enganadas pelos falsários da
internet.
b) Seria preciso que se (aplicar) a esses falsários alguma sanção, para que não houvesse tantos abusos.
c) Quem jamais leu Shakespeare nem (imaginar) as lições literárias e as discussões éticas que está
perdendo.
d) Não (dever) caber aos usuários da internet o direito de publicar o que quer que seja com assinatura falsa.
e) Infelizmente não se (punir) esses falsos gênios da internet com medidas rigorosas e exemplares.
[...] ser independente significa bem mais do que ser livre para viver como se quer: significa, basicamente, viver com
valores que façam a vida ser digna de ser vivida. Não basta um estado de espírito. Não basta, como diz o samba,
“vestir a camisa amarela e sair por aí”. Tampouco basta sentir-se autônomo, fazendo parte do bando. É preciso algo
mais. Ora, um dos valores que vêm sendo retomados pelos filósofos e que cabem como uma luva nessa questão é o
da resistência. Na raiz da palavra resistere se encontra um sentido: “ficar de pé”. E ficar de pé implica manter vivas,
intactas dentro de si, as forças da lucidez. Essa é uma exigência que se impõe tanto em tempos de guerra quanto em
tempos de paz. Sobretudo nesses últimos, quando costumamos achar que está tudo bem, que está tudo “numa boa”;
quando recebemos informações de todos os lados, sem tentar, nem ao menos, analisá-las, e terminamos por engolir
qualquer coisa.
Resistir como forma de ser independente é, talvez, uma maneira de encontrar um significado no mundo. Daí que,
para celebrar a independência, vale mesmo é desconstruir o mundo, desnudar suas estruturas, investigar a
informação. Fazer isso sem cansaço para depois termos vontade de, novamente, desejá-lo, inventá-lo e construí-lo;
de reencontrar o caminho da sensibilidade diante de uma paisagem, ao abrir um livro ou a porta de um museu.
Independência, sim, para defendermos a vida, para defendermos valores para ela, para que ela tenha um sentido.
Independência de pé, com lucidez e prioridades. Clareza, sim, para não continuarmos a assistir, impotentes, ao
espetáculo da própria impotência.
(PRIORE, Mary Del. Histórias e conversas de mulher. São Paulo: Planeta, 2013, p. 281)
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Considere as alterações propostas nas alternativas abaixo para alguns segmentos do texto. Mantém-se a correção
gramatical no que consta em:
a) Na raiz da palavra resistere se encontra um sentido ...
Na raiz da palavra resistere se encontra algumas indicações de seu significado ...
b) Não basta um estado de espírito.
Não basta algumas decisões tomadas nesse sentido.
c) Essa é uma exigência que se impõe tanto em tempos de guerra quanto em tempos de paz.
Essa é uma das exigências que se impõem tanto em tempos de guerra quanto em tempos de paz.
d) É preciso algo mais.
Faz-se necessário as mudanças de visão e de atitudes.
e) ... para que ela tenha um sentido.
... para que as metas estabelecidas a cada um tenha um sentido.
É indiscutível que no mundo contemporâneo o ambiente do futebol é dos mais intensos do ponto de vista
psicológico. Nos estádios a concentração é total. Vive-se ali situação de incessante dialética entre o metafórico e o
literal, entre o lúdico e o real. O que varia conforme o indivíduo considerado é a passagem de uma condição a outra.
Passagem rápida no caso do torcedor, cuja regressão psíquica do lúdico dura algumas horas e funciona como escape
para as pressões do cotidiano. Passagem lenta no caso do futebolista profissional, que vive quinze ou vinte anos em
ambiente de fantasia, que geralmente torna difícil a inserção na realidade global quando termina a carreira. A
solução para muitos é a reconversão em técnico, que os mantém sob holofote. Lothar Matthäus, por exemplo,
recordista de partidas em Copas do Mundo, com a seleção alemã, Ballon d’Or de 1990, tornou-se técnico porque “na
verdade, para mim, o futebol é mais importante do que a família”. [...]
Sendo esporte coletivo, o futebol tem implicações e significações psicológicas coletivas, porém calcadas, pelo menos
em parte, nas individualidades que o compõem. O jogo é coletivo, como a vida social, porém num e noutra a atuação
de um só indivíduo pode repercutir sobre o todo. Como em qualquer sociedade, na do futebol vive-se o tempo
inteiro em equilíbrio precário entre o indivíduo e o grupo. O jogador busca o sucesso pessoal, para o qual depende
em grande parte dos companheiros; há um sentimento de equipe, que depende das qualidades pessoais de seus
membros. O torcedor lúcido busca o prazer do jogo preservando sua individualidade; todavia, a própria condição de
torcedor acaba por diluí-lo na massa.
(JÚNIOR, Hilário Franco. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. São Paulo: Companhia das letras, 2007, p.
303-304, com adaptações)
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e) Certos jogadores conseguem, em momentos do jogo, que passa a ser considerado quase mágica, fazer a
bola descrever curvas inesperadas que ludibriam barreiras e, principalmente, goleiros, que resulta no gol que
hipnotiza os torcedores mais apaixonados.
Não é preciso assistir a 12 Anos de Escravidão para saber que a prática foi uma das maiores vergonhas da
humanidade. Mas é preciso corrigir o tempo do verbo. Foi? Melhor escrever a frase no presente. A escravidão ainda é
uma das maiores vergonhas da humanidade. E o fato de o Ocidente não ocupar mais o topo da lista como
responsável pelo crime não deve ser motivo para esquecermos ou escondermos a infâmia.
Anos atrás, lembro-me de um livro aterrador de Benjamin Skinner que ficou gravado nos meus neurônios. Seu título
era A Crime So Monstrous (Um crime tão monstruoso) e Skinner ocupava-se da escravidão moderna para chegar à
conclusão aterradora: existem hoje mais escravos do que em qualquer outra época da história humana.
Skinner não falava apenas de novas formas de escravidão, como o tráfico de mulheres na Europa ou nos Estados
Unidos. A escravidão que denunciava com dureza era a velha escravidão clássica − a exploração braçal e brutal de
milhares ou milhões de seres humanos trabalhando em plantações ou pedreiras ao som do chicote. [...]
Pois bem: o livro de Skinner tem novos desenvolvimentos com o maior estudo jamais feito sobre a escravidão atual.
Promovido pela Associação Walk Free, o Global Slavery Index é um belo retrato da nossa miséria contemporânea. [...]
A Índia, tal como o livro de Benjamin Skinner já anunciava, continua a espantar o mundo em termos absolutos com
um número que hoje oscila entre os 13 milhões e os 14 milhões de escravos. Falamos, na grande maioria, de gente
que continua a trabalhar uma vida inteira para pagar as chamadas "dívidas transgeracionais" em condições
semelhantes às dos escravos do Brasil nas roças.
Conclusões principais do estudo? Pessoalmente, interessam-me duas. A primeira, segundo o Global Slavery Index, é
que a escravidão é residual, para não dizer praticamente inexistente, no Ocidente branco e "imperialista".
De fato, a grande originalidade da Europa não foi a escravidão; foi, pelo contrário, a existência de movimentos
abolicionistas que terminaram com ela. A escravidão sempre existiu antes de portugueses ou espanhóis comprarem
negros na África rumo ao Novo Mundo. Sempre existiu e, pelo visto, continua a existir.
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Mas é possível retirar uma segunda conclusão: o ruidoso silêncio que a escravidão moderna merece da
intelectualidade progressista. Quem fala, hoje, dos 30 milhões de escravos que continuam acorrentados na África, na
Ásia e até na América Latina? [...]
O filme de Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão, pode relembrar ao mundo algumas vergonhas passadas. Mas
confesso que espero pelo dia em que Hollywood também irá filmar as vergonhas presentes: as vidas anônimas dos
infelizes da Mauritânia ou do Haiti que, ao contrário do escravo do filme, não têm final feliz.
(Adaptado de: COUTINHO, João Pereira. "Os Escravos". Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br)
Na margem esquerda do rio Amazonas, entre Manaus e Itacoatiara, foram encontrados vestígios de inúmeros sítios
indígenas pré-históricos. O que muitos de nós não sabemos é que ainda existem regiões ocultas situadas no interior
da Amazônia e um povo, também desconhecido, que teria vivido por aquelas paragens, ainda hoje não totalmente
desbravadas.
Em 1870, o explorador João Barbosa Rodrigues descobriu uma grande necrópole indígena contendo vasta gama de
peças em cerâmica de incrível perfeição; teria sido construída por uma civilização até então desconhecida em nosso
país. Utilizando a língua dos índios da região, ele denominou o sítio de Miracanguera. A atenção do pesquisador foi
atraída primeiramente por uma vasilha de cerâmica, propriedade de um viajante. Este informante disse tê-la
adquirido de um mestiço, residente na Vila do Serpa (atual Itacoatiara), que dispunha de diversas peças, as quais
teria recolhido na Várzea de Matari. Barbosa Rodrigues suspeitou que poderia se tratar de um sítio arqueológico de
uma cultura totalmente diferente das já identificadas na Amazônia.
Em seu interior as vasilhas continham ossos calcinados, demonstrando que a maioria dos mortos tinham sido
incinerados. De fato, a maior parte dos despojos dos miracangueras era composta de cinzas. Além das vasilhas
mortuárias, o pesquisador encontrou diversas tigelas e pratos utilitários, todos de formas elegantes e cobertos por
uma fina camada de barro branco, que os arqueólogos denominam de “engobe”, tão perfeito que dava ao conjunto a
aparência de porcelana. Uma parte das vasilhas apresentava curiosas decorações e pinturas em preto e vermelho.
Outro detalhe que surpreendeu o pesquisador foi a variedade de formas existentes nos sítios onde escavou,
destacando-se certas vasilhas em forma de taças de pés altos, as quais lembram congêneres da Grécia Clássica.
Havia peças mais elaboradas, certamente para pessoas de posição elevada dentro do grupo. A cerâmica do sítio de
Miracanguera recebia um banho de tabatinga (tipo de argila com material orgânico) e eventualmente uma pintura
com motivos geométricos, além da decoração plástica que destacava detalhes específicos, tais como seres humanos
sentados e com as pernas representadas.
João Barbosa Rodrigues faleceu em 1909. Em 1925, o famoso antropólogo Kurt Nimuendaju tentou encontrar
Miracanguera, mas a ilha já tinha sido tragada pelas águas do rio Amazonas. Arqueólogos americanos também
vasculharam áreas arqueológicas da Amazônia, inclusive no Equador, Peru e Guiana Francesa, no final dos anos de
1940. Como não conseguiram achar Miracanguera, “decidiram” que a descoberta do brasileiro tinha sido “apenas
uma subtradição de agricultores andinos”.
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Porém, nos anos de 1960, outro americano lançou nova interpretação para aquela cultura, concluindo que o grupo
indígena dos miracangueras não era originário da região, como já dizia Barbosa Rodrigues. Trata-se de um mistério
relativo a uma civilização perdida que talvez não seja solucionado nas próximas décadas. Em pleno século 21, a
cultura miracanguera continua oficialmente “inexistente” para as autoridades culturais do Brasil e do mundo.
(Adaptado de: Museu Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em: https://saemuseunacional.wordpress.com. SILVA,
Carlos Augusto da. A dinâmica do uso da terra nos locais onde há sítios arqueológicos: o caso da comunidade Cai
N’água, Maniquiri-AM / (Dissertação de Mestrado) – UFAM, 2010)
Na margem esquerda do rio Amazonas, entre Manaus e Itacoatiara, foram encontrados vestígios de inúmeros sítios
indígenas pré-históricos. O que muitos de nós não sabemos é que ainda existem regiões ocultas situadas no interior
da Amazônia e um povo, também desconhecido, que teria vivido por aquelas paragens, ainda hoje não totalmente
desbravadas.
Em 1870, o explorador João Barbosa Rodrigues descobriu uma grande necrópole indígena contendo vasta gama de
peças em cerâmica de incrível perfeição; teria sido construída por uma civilização até então desconhecida em nosso
país. Utilizando a língua dos índios da região, ele denominou o sítio de Miracanguera. A atenção do pesquisador foi
atraída primeiramente por uma vasilha de cerâmica, propriedade de um viajante. Este informante disse tê-la
adquirido de um mestiço, residente na Vila do Serpa (atual Itacoatiara), que dispunha de diversas peças, as quais
teria recolhido na Várzea de Matari. Barbosa Rodrigues suspeitou que poderia se tratar de um sítio arqueológico de
uma cultura totalmente diferente das já identificadas na Amazônia.
Em seu interior as vasilhas continham ossos calcinados, demonstrando que a maioria dos mortos tinham sido
incinerados. De fato, a maior parte dos despojos dos miracangueras era composta de cinzas. Além das vasilhas
mortuárias, o pesquisador encontrou diversas tigelas e pratos utilitários, todos de formas elegantes e cobertos por
uma fina camada de barro branco, que os arqueólogos denominam de “engobe”, tão perfeito que dava ao conjunto a
aparência de porcelana. Uma parte das vasilhas apresentava curiosas decorações e pinturas em preto e vermelho.
Outro detalhe que surpreendeu o pesquisador foi a variedade de formas existentes nos sítios onde escavou,
destacando-se certas vasilhas em forma de taças de pés altos, as quais lembram congêneres da Grécia Clássica.
Havia peças mais elaboradas, certamente para pessoas de posição elevada dentro do grupo. A cerâmica do sítio de
Miracanguera recebia um banho de tabatinga (tipo de argila com material orgânico) e eventualmente uma pintura
com motivos geométricos, além da decoração plástica que destacava detalhes específicos, tais como seres humanos
sentados e com as pernas representadas.
João Barbosa Rodrigues faleceu em 1909. Em 1925, o famoso antropólogo Kurt Nimuendaju tentou encontrar
Miracanguera, mas a ilha já tinha sido tragada pelas águas do rio Amazonas. Arqueólogos americanos também
vasculharam áreas arqueológicas da Amazônia, inclusive no Equador, Peru e Guiana Francesa, no final dos anos de
1940. Como não conseguiram achar Miracanguera, “decidiram” que a descoberta do brasileiro tinha sido “apenas
uma subtradição de agricultores andinos”.
Porém, nos anos de 1960, outro americano lançou nova interpretação para aquela cultura, concluindo que o grupo
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indígena dos miracangueras não era originário da região, como já dizia Barbosa Rodrigues. Trata-se de um mistério
relativo a uma civilização perdida que talvez não seja solucionado nas próximas décadas. Em pleno século 21, a
cultura miracanguera continua oficialmente “inexistente” para as autoridades culturais do Brasil e do mundo.
(Adaptado de: Museu Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em: https://saemuseunacional.wordpress.com. SILVA,
Carlos Augusto da. A dinâmica do uso da terra nos locais onde há sítios arqueológicos: o caso da comunidade Cai
N’água, Maniquiri-AM / (Dissertação de Mestrado) – UFAM, 2010)
A forma verbal que pode ser flexionada indiferentemente no singular e no plural encontra-se em:
a) ... as quais lembram congêneres da Grécia Clássica.
b) Havia peças mais elaboradas, certamente para pessoas de posição mais elevada...
c) ...o grupo indígena dos miracangueras não era originário da região...
d) ...a variedade de formas existentes nos sítios onde escavou...
e) De fato, a maior parte dos despojos dos miracangueras era composta de cinzas.
Numa definição solta, a floresta tropical é um tapete multicolorido, estruturado e vivo, extremamente rico. Uma
colônia extravagante de organismos que saíram do oceano há 400 milhões de anos e vieram para a terra. Dentro das
folhas ainda existem condições semelhantes às da primordial vida marinha. Funciona assim como um mar suspenso,
que contém uma miríade de células vivas, muito elaborado e adaptado. Em temperatura ambiente, usando
mecanismos bioquímicos de complexidade quase inacessível, processam-se átomos e moléculas, determinando e
regulando fluxos de substâncias e energias.
A mítica floresta amazônica vai muito além de um museu geográfico de espécies ameaçadas e representa muito mais
do que um simples depósito de carbono. Evoluída nos últimos 50 milhões de anos, a floresta amazônica é o maior
parque tecnológico que a Terra já conheceu, porque cada organismo seu, entre trilhões, é uma maravilha de
miniaturização e automação. Qualquer apelo que se faça pela valorização da floresta precisa recuperar esse valor
intrínseco.
Cada nova iniciativa em defesa da floresta tem trilhado os mesmos caminhos e pressionado as mesmas teclas. Neste
comportamento, identificamos o que Einstein definiu como a própria insanidade: “fazer a mesma coisa, de novo,
esperando resultados diferentes”.
Análises abrangentes mostram numerosas oportunidades para a harmonização dos interesses da sociedade
contemporânea com uma Amazônia viva e vigorosa. Para chegarmos lá, é preciso compenetração, modéstia,
dedicação e compromisso com a vida. Com os recursos tecnológicos disponíveis, podemos agregar inteligência à
ocupação, otimizando um novo uso do solo, que abra espaço para a reconstrução ecológica da floresta. Podemos
também revelar muitos outros segredos ainda bem guardados da resiliente biologia tropical e, com isso, ir muito
além de compreender seus mecanismos.
A maioria dos problemas atuais podem se resolver por meio dos diversos princípios que guiam o funcionamento da
natureza. Uma lista curta desses princípios, arrolados pela escritora Janine Benyus, constata que a natureza é
propelida pela luz solar; utiliza somente a energia de que necessita; recicla todas as coisas; aposta na diversidade;
demanda conhecimento local; limita os excessos internamente; e aproveita o poder dos limites.
(Adaptado de: NOBRE, Antônio Donato. O Futuro Climático da Amazônia. Disponível em: www.ccst.inpe.br)
Mantendo-se a correção, o verbo que pode ser flexionado em uma forma do singular, sem que nenhuma outra
alteração seja feita na frase, encontra-se sublinhado em:
a) Análises abrangentes mostram numerosas oportunidades... (4º parágrafo)
b) A maioria dos problemas atuais podem se resolver por meio dos diversos princípios... (último parágrafo).
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c) ... por meio dos diversos princípios que guiam o funcionamento da natureza. (último parágrafo)
d) ... processam-se átomos e moléculas... (1º parágrafo)
e) Dentro das folhas ainda existem condições semelhantes... (1º parágrafo)
Lendo os clássicos
Deveria existir um tempo na vida adulta dedicado a revisitar as leituras mais importantes da juventude. Se os livros
permanecem os mesmos (mas também eles mudam, à luz de uma perspectiva histórica diferente), nós com certeza
mudamos, e o reencontro é um acontecimento totalmente novo. De fato, poderíamos dizer que toda releitura de um
clássico é uma leitura de descoberta.
Essas considerações valem tanto para os clássicos antigos como para os modernos. Se leio a Odisseia, leio o texto de
Homero, mas não posso esquecer tudo aquilo que as aventuras de seu protagonista, o herói Ulisses, passaram a
significar através dos séculos, e não posso deixar de perguntar-me se tais significados estavam implícitos no texto ou
se são incrustações, deformações ou dilatações que se acresceram com as sucessivas leituras. E se leio um clássico
mais próximo de nós, como Os possuídos de Dostoiévski, não posso deixar de pensar em como suas personagens
continuaram a reencarnar-se até os nossos dias.
(Adaptado de: CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Penguin, 2009)
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se concordando com o elemento sublinhado na frase:
a) As leituras que, ao longo da História, se (fazer) das obras clássicas, constituem uma corrente de
interpretações reveladoras.
b) A cada geração em que se (interpretar) as obras clássicas, comprova-se a riqueza da significação delas.
c) De todas as interpretações a que se (sujeitar) um autor clássico, valorizemos sobretudo as dos
especialistas.
d) Nunca é tarde para se ler um clássico, pois em sua linguagem se (revelar) valores vivos dentro dos
antigos.
e) Há autores modernos cuja obra já (promover) à condição de um clássico seus leitores mais aplicados.
− E se a vida for como um cardápio? A pergunta pegou Rosinha de surpresa. Ela levantou os olhos do menu e se
deparou com o marido em estado reflexivo. − Ora, Alfredo, deixe de filosofar e escolha logo o prato que vai querer.
Os dois haviam saído para jantar e estavam na varanda do Bar Lagoa, de onde se pode ver um cantinho de céu e o
Redentor. − Rosinha, pense nas consequências do que estou dizendo. Se a vida for como um cardápio, nós talvez
estejamos escolhendo errado. No lugar da buchada de bode em que nossas vidas se transformaram, poderíamos nos
deliciar com escargots. Experimentar sabores novos, mais sofisticados... − Por que a vida seria como um cardápio,
Alfredo? Tenha dó. − E por que não seria? Ninguém sabe de fato o que é a vida, portanto qualquer acepção é válida,
até prova em contrário. − Benhê, acorda. Ninguém vai aparecer para servir o seu cardápio imaginário. Na vida, a
gente tem que ir buscar. A vida é mais parecida com um restaurante a quilo, self-service, entende? − Boa imagem.
Concordo com o restaurante a quilo. É assim para quase todo mundo. Mas, quando evoluímos um pouco, chega a
hora em que podemos nos servir à la carte. Rosinha, nós estamos nesse nível. Podemos fazer opções mais ousadas. −
Alfredo, se você está querendo aventuras, variar o arroz com feijão, seja claro. Não me venha com essa conversa de
cardápio existencial. Além disso, se a nossa vida virou uma buchada de bode, com quem você pensa experimentar
essa coisa gosmenta, o tal escargot? − Querida, não reduza minhas ideias a uma trivial variação gastronômica.
Minha hipótese, caso correta, tem implicações metafísicas. Se a vida for como um cardápio, do outro lado teria que
existir o Grand Chef, o criador do menu. − Alfredo, fofo, agora você viajou na maionese. É o cúmulo querer
reconstruir o imaginário religioso baseado no funcionamento de um restaurante. Só falta você dizer que, nesse seu
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céu, os anjos são os garçons! Nesse momento, dois chopes desceram sobre a mesa. Flutuaram entre as mãos alvas,
quase diáfanas, de um dos velhos garçons do Bar Lagoa. Alfredo e Rosinha trocaram olhares de espanto e antes que
pudessem dizer que ainda não haviam pedido nada, o garçom falou com voz grave: − Cortesia da casa. Já olharam o
cardápio?
Caso o segmento sublinhado seja substituído pelo que está entre parênteses, o verbo que deverá sofrer alteração
encontra-se em:
a) Ninguém vai aparecer para servir o seu cardápio imaginário... (os pratos solicitados)
b) ...do outro lado teria que existir o Grand Chef... (uma equipe de cozinheiros)
c) ...não reduza minhas ideias a uma trivial variação gastronômica... (variações gastronômicas)
d) Minha hipótese, caso correta, tem implicações metafísicas... (uma decorrência espiritual)
e) ...se a nossa vida virou uma buchada de bode... (nossas vidas)
Uma das coisas mais bonitas e importantes da arte do cineasta Eduardo Coutinho, mestre dos documentários, morto
em 2014, está em sua recusa aos paradigmas que atropelam nossa visão de mundo. Em vez de contemplar a
distância grupos, classes ou segmentos, ele vê de perto pessoa por pessoa, surpreendendo- a, surpreendendo-se,
surpreendendo-nos. Não lhe dizem nada expressões coletivistas como “os moradores do Edifício”, os “peões de
fábrica”, “os sertanejos nordestinos”: os famigerados “tipos sociais”, usualmente enquadrados por chavões, dão
lugar ao desafio de tomar o depoimento vivo de quem ocupa aquela quitinete, de investigar a fisionomia desse
operário que está falando, de repercutir as palavras e os silêncios do morador de um povoado da Paraíba.
Essa dimensão ética de discernimento e respeito pela condição singular do outro deveria ser o primeiro passo de toda
política. Nem paternalismo, nem admiração prévia, nem sentimentalismo: Coutinho vê e ouve, sabendo ver e ouvir,
para conhecer a história de cada um como um processo sensível e inacabado, não para ajustar ou comprovar
conceitos. Sua obsessão pela cena da vida é similar à que tem pela arte, o que torna quase impossível, para ele,
distinguir uma da outra, opor personagem a pessoa, contrapor fato a perspectiva do fato. Fazendo dessa obsessão
um eixo de sua trajetória, Coutinho viveu como um homem/artista crítico para quem já existe arte encarnada no
corpo e suspensa no espírito do outro: fixa a câmera, abre os olhos e os ouvidos, apresenta-se, mostra-se, mostra-o,
mostra-nos.
O verbo indicado entre parênteses deve flexionar-se de modo a concordar com o elemento sublinhado na seguinte
frase:
a) A rejeição que demonstra Coutinho a preconceitos sociais (distinguir) sua obra da de outros
documentaristas.
b) Grupos ou classes sociais, numa visão a distância, não (merecer) desse cineasta qualquer atenção
especial.
c) Não (dever) satisfazer-se um bom documentarista com os paradigmas já cristalizados.
d) Aos tipos sociais já reconhecidos (faltar) a imprescindível singularização dos indivíduos.
e) Sertanejos nordestinos e peões de fábrica são designações que não (derivar) senão de uma mera
tipologia.
Preconceitos
Preconceitos são juízos firmados por antecipação; são rótulos prontos e aceitos para serem colados no que mal
conhecemos. São valores que se adiantam e qualificam pessoas, gestos, ideias antes de bem distinguir o que sejam.
São, nessa medida, profundamente injustos, podendo acarretar consequências dolorosas para suas vítimas. São pré-
juízos. Ainda assim, é forçoso reconhecer: dificilmente vivemos sem alimentar e externar algum preconceito.
São em geral formulados com um alcance genérico: “o povo tal não presta”, “quem nasce ali é assim”, “música
clássica é sempre chata”, “cuidado com quem lê muito” etc. Dispensamnos de pensar, de reconhecer
particularidades, de identificar a personalidade própria de cada um. “Detesto filmes franceses”, me disse um amigo.
“Todos eles?” − perguntei, provocador. “Quem viu um já viu todos”, arrematou ele, coroando sua forma
preconceituosa de julgar.
Não confundir preconceito com gosto pessoal. É verdade que nosso gosto é sempre seletivo, mas ele escolhe por um
critério mais íntimo, difícil de explicar. “Gosto porque gosto”, dizemos às vezes. Mas o preconceito tem raízes sociais
mais fundas: ele se dissemina pelas pessoas, se estabelece sem apelação, e quando damos por nós estamos
repetindo algo que sequer investigamos. Uma das funções da justiça institucionalizada é evitar os preconceitos, e o
faz julgando com critério e objetividade, por meio de leis. Adotar uma posição racista, por exemplo, não é mais
apenas preconceito: é crime. Isso significa que passamos, felizmente, a considerar a gravidade extrema das práticas
preconceituosas.
"O ar da cidade liberta", diz um provérbio alemão do fim da Idade Média. Depois, no início do século 20, pensadores
como Georg Simmel e Walter Benjamin mostraram como a grande cidade, lugar da massa, é, paradoxalmente, o
lugar da individualidade. Pois, no contexto de comunidades pequenas, a liberdade individual está sempre tolhida pelo
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olhar e julgamento do vizinho. Já na cidade, ao contrário, o sujeito é anônimo na multidão, por isso está livre para ser
ele mesmo, isto é, ser outro, aquilo que não se esperaria dele.
Toda a graça da cidade, assim, repousa no fato de que ela existe para dar espaço à individualidade, não ao
individualismo. Lugar da coletividade, ela se funda sobre as noções de comum e de público. Na cidade, vivemos com
uma multidão que não escolhemos. A boa convivência com esses outros depende da aceitação da diferença como
algo estruturante. Aqui está o ponto crucial. A aceitação radical da diferença supõe a empatia, mas não a simpatia
nem a recusa. É o que Richard Sennett, em "Juntos", define como conversa dialógica. Uma conversa que não supõe
concordância total, mas uma gestão orquestrada de conflitos.
Daí que o atributo essencial de um espaço público vivo seja o conflito, não a falsa harmonia. Igualmente, o temor da
violência urbana, pretensamente protegido atrás de muros e cercas elétricas, aparentemente não enxerga o quanto
acaba sendo, ele mesmo, produtor de violência, pois a cidade não pode ser segura apenas para alguns. Sua lição
histórica é a de que a defesa do interesse individual não deve ser antagônica a uma visão solidária da coletividade.
Gabarito
1) - E
2) - A
3) - C
4) - D
5) - B
6) - D
7) - E
8) - C
9) - D
10) - E
11) - B
12) - C
13) - E
14) - B
15) - A
16) - E
17) - A
18) - D
19) - C
20) - A
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