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Acompanhamento social
individualizado das famílias
Da responsabilidade parental à intergeracionalidade
- O Caso do Projeto “O Trilho”
Agradecimentos
Gostaria de agradecer em primeiro lugar à Exma. Doutora Hermínia Gonçalves pelo desafio
aceite, que entre mudança de temas e timings mal cumpridos cumpriu com a expetativa do seu
rigor e profissionalismo, compreensão e motivação. Foi um gosto trabalhar consigo em todo o
meu percurso académico.
Não poderia deixar de agradecer à Associação de Solidariedade Social Via Nova, pela
oportunidade, embora de forma coincidente, que proporcionou para o desenvolvimento da
presente investigação. Obrigada aos representantes, Presidente Joaquim Alves Basílio e ao
Diretor Técnico Carlos Bento e a Coordenadora do Projeto “O Trilho” Dr.ª Ana Henriques.
Agradeço, ainda, a todos os colegas de trabalho que de diversas formas fizeram parte deste
trajeto, principalmente aqueles que sempre me apoiaram e me elogiaram quando eu estava
certa, que me corrigiram quando eu estava errada e que nos complementamos no trabalho em
equipa.
Termino com um especial agradecimento a minha família, namorado e amigos que me deram
apoio emocional e suporte afetivo para superar mais uma etapa. O pouco tempo que possui
para eles nos últimos meses foi imprescindível para a concretização de mais um projeto
académico.
II
Resumo:
A presente investigação surgiu no âmbito do mestrado em Serviço Social e inseriu-se na área
da intervenção em contexto de risco, nomeadamente no acompanhamento social com famílias
multiproblemáticas, de acordo com a inserção laboral da aluna.
A temática escolhida, “Acompanhamento social individualizado das famílias: da
responsabilização parental á intergeracionalidade – O caso do Projeto “O Trilho”, surgiu face
à preocupação de realizar um acompanhamento eficaz às famílias envolvidas no processo de
retirada das crianças e jovens. Pretende-se, então, compreender e explicitar o
acompanhamento social realizado na investigação, com vista a explorar as estratégias de
intervenção que reforcem as hipóteses de intergeracionalidade e de responsabilização pela
função parental, bem como compreender o acompanhamento social partindo da abordagem
etnográfica, que permitirá explicitar o método de intervenção, isto é, o que fazem os
profissionais de Serviço Social no âmbito desse acompanhamento? Como trabalham o
acompanhamento após a retirada do menor? Como envolvem a família após a
institucionalização?
Palavras-chave: Acompanhamento social individualizado, intergeracionalidade,
responsabilidade parental e famílias multiproblemáticas
Abstract:
This research appeared in the Masters in Social Work and inserted into the area of
intervention in the context of risk, in particular in keeping with social multi troubled families,
according to the labor insertion of the student.
The chosen theme , " Monitoring individualized social families : parental accountability will
intergenerationality - The case of the Project “The Trail” appeared in the face of concerns
about conducting effective monitoring to families involved in the removal of children and
youth . It is intended, therefore, to understand and explain social monitoring conducted
research in order to explore intervention strategies that enhance the chances of
intergenerational accountability and the role of parents as well as understanding social
monitoring based on the ethnographic approach , which will allow explain the method of
intervention, what do Social Service professionals within this monitoring? As follow up work
after removing the smallest? How to involve the family after institutionalization?
Keywords: Monitoring individualized social, intergenerational, parental responsibility and
multi troubled families.
Índice
Agradecimentos……………………………………………………………………………. I
Resumo…………………………………………………………………………………… II
Abstract……………………………………………………………………………………. II
Índice de Gráficos………………………………………………………………………… IV
Introdução………………………………………………………………………………… V
2.5.1. Comunicação……………………………………………………………………..… 32
2.5.4. Economia…………………………………………………………………………… 37
Bibliografia……………………………………………………………………………..… 126
Anexos
1
Forma de investigação através da recolha de dados com a preocupação de compreender a racionalidade/irracionalidade do outro, o outro
cultural, o outro submisso, o outro iletrado, o outro não ocidental (Shweder, 1997)
2
Como o próprio nome indica, a Investigação-Acção é uma metodologia que tem um objetivo duplo, de ação e investigação, no sentido de
obter resultados em ambos os conceitos: Ação – no sentido de obter mudança numa comunidade ou organização ou programa; Investigação –
para aumentar a compreensão por parte do investigador, do cliente e da comunidade (Dick, 2000).
VI
3
O projeto possui como principais atividades a promoção e a capacitação das famílias/cuidadores em contexto habitacional, a
organização de workshops de formação parental, bem como, Programas Estruturados de Formação Parental, promoção do convívio saudável
entre o núcleo familiar, promoção da autonomização das crianças/jovens em especial as que não se verificar viável o regresso à família e
promover dinâmicas de grupo.
Os objetivos do Projeto são: Estimular os vínculos familiares de crianças e jovens; Facultar apoio às famílias das crianças institucionalizadas,
no sentido de trabalhar o retorno à família; Trabalhar as principais dificuldades das famílias, que têm levado ao rompimento dos vínculos ou
ao afastamento temporário da criança/jovem do ambiente familiar; Construir um espaço de discussão das situações de emergência nas
relações criança/jovem e família/cuidador, dentro do universo institucional, subsidiando tecnicamente as ações; Possibilitar o alívio de
ansiedades e “culpas”, que se apresentam na família das crianças que se encontram institucionalizadas; Formação Parental nas áreas
previamente identificadas como menos fortes das famílias; Formações teórico-práticas de temas atuais no grupo de crianças e jovens
acolhidos (agressividade, violência, sexualidade, limites, regras, respeito, drogas, relações familiares, entre outros); Abranger o maior
número de beneficiários do projeto, tentando colmatar áreas atualmente a descoberto na intervenção, como sendo a prevenção; “Dar voz” aos
principais beneficiários, operacionalizando a intervenção nas reais necessidades sentidas, e não percecionadas; Fomentar a participação ativa
na recuperação do ser; Encarar, na perspetiva de mudança a integração em LIJ, não como um fim, mas sim como um princípio; Eliminar o
handicap.
VII
4
Desde o momento do nascimento que o ser humano passa por diversas etapas de desenvolvimento até atingir o topo do seu
crescimento, ou seja, tornar-se um adulto, autónomo e participante ativo no desenvolvimento da sociedade onde se encontra inserido. Na
atualidade considera-se o adulto como um cidadão com plenos direitos e alguns poderes para se tornar um elemento participante em tudo
o que lhe diz respeito a ele e ao ambiente onde está inserido (Oliveira, 2011).
2
Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
em que habitamos, e ganha corpo a reflexão sobre a felicidade e o bem estar por não ser
uma condição atingida por todos de igual modo.
A resposta para isso reporta-nos para os vários tipos de família e fases de
desenvolvimento, pois, não passamos todos pelas mesmas fases e em alguns grupos
familiares existem roturas e marcos profundos nos períodos de desenvolvimento do ser
humano. Como por exemplo uma criança que é abandonada ou maltratada logo à nascença
não terá o mesmo progresso de uma criança que realiza a primeira fase de socialização
numa família em harmonia.
O lapso que existe nesta aprendizagem dos afetos, faz com que o vínculo seja
formado através dos medos constantes por a criança se relacionar com um adulto que não
consegue cuidar dela e que na maioria das vezes é maltratada. Ajuriaguerra & Marcelli
(1991) defendem que a criança é um ser em constante crescimento, desenvolvimento e
mudança. Esta mudança sendo necessária e útil, implica sempre um risco, pois contempla,
inevitavelmente, períodos de incerteza e fragilidades, que será tanto maior quanto maior
quanto mais forem múltiplos os parâmetros que regulam ou desregulam essa mudança
(Reis, 2009).
Então, a família enquanto microestrutura torna-se a base da sociedade e tem como
função primordial a criação e a educação dos filhos, elemento indispensável de uma
felicidade própria mas igualmente uma garantia da conservação da coesão social (Ariés,
1973).
“Sarmento (1999) fala ainda na emergência de um novo conjunto de imagens que
configuram a criança como cidadão, sujeito de participação ativa, uma representação
cuja substância envolve uma verdadeira transformação sociocultural que promova a
inclusão social plena de todas as crianças, a evolução para instituições que garantam a
defesa do seu superior interesse, e a aceitação da sua opinião, como forma de
participação no espaço que habitam e ajudam a construir” (Martins, 2005: 5).
Esta reflexão remete-nos para a noção de risco, que na infância é frequentemente
referida, apesar de muitas vezes não ser bem clara, tanto no que se refere à sua origem,
como aos seus conteúdos e contornos.
Hoje em dia, a noção de risco na infância é abordada com frequência, apesar de
não ser clara, tanto no que se refere à sua origem, como ao seu conteúdo e contornos.
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
leite’, regressando após o desmame, para que, por volta dos sete anos, fossem enviadas
para salas de aula (Sá, 1999). No decurso do Renascimento, a criança passa a apresentar
um vestuário adequado para a sua idade, o que durante excessivo período não sucedeu,
tendo apenas uma tira de pano e faixas que eram envolvidas à volta do seu corpo,
imobilizando-a completamente (Ariés, 1997). Quando ocorria a libertação das faixas, a
criança era vestida como um adulto. Nas classes pobres vestiam-se roupas usadas, trapos,
enquanto nas classes ricas usavam-se roupas de adulto feitas à sua medida. Tanto nas
classes pobres como nas mais abastadas ‘mimavam-se’ as crianças, e brincava-se com elas,
implicando uma sensação de ternura, por parte de quem o praticava (Reis, 2009).
O século XVIII é delimitado pela imutabilidade do sentimento de ternura. No
entanto, as crianças enquanto alunos, não possuíam tempo para si e para brincar, eram
apenas um pretexto para lições de gramática ou de moral. É neste século que é criada a
‘Roda’ existente em misericórdias, igrejas e outras instituições, onde se expunham as
crianças abandonadas, sendo que muitas delas acabavam por morrer (Canha, 2000 in Reis,
2009).
É no século XIX que surge a atenção pela proteção infantil, consequência da
Revolução Industrial, ainda que também tenha sido ela a responsável pela exploração do
trabalho na criança (Magalhães, 2002). Por esta altura, os pais oscilavam entre as agressões
físicas e o excesso de mimos e, deste modo, tanto as crianças açoitadas como as mimadas
eram as que predominavam. Os estudiosos da infância descobriram, neste século, que as
ameaças e as punições corporais eram inúteis, ensinando, então a seguir o que a natureza
infantil indicava, não a contrariando.
É desta forma que se assegura a saída da criança do anonimato e da indiferença
dos tempos passados para se tornar na criatura mais preciosa, mais rica de promessas de
futuro (Ariés, 1997).
O século XX marca terminantemente a viragem de paradigma relativamente à
criança. No início deste século, verifica-se um ‘baby-boom’, simultâneo com os dois pós-
guerras, introduzindo grandes alterações nas famílias. No entanto, na segunda metade deste
século, a natalidade começa a decrescer (Reis, 2009). Contudo, em ambos os casos, havia
uma finalidade comum, era adquirir uma família feliz e fomentar o bem-estar futuro dos
filhos (Ariés, 1997).
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
6
Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
crianças” (Fernando Pessoa, s.d.), mas haverá sempre, também, quem pareça fazer disso
uma utopia.
Segundo Alberto (2004: 29-30), “(…) há uma evolução histórica na atitude face à
criança. Esta evolução processa-se de uma imagem da criança enquanto propriedade do
adulto, para uma perspetiva que realça as características específicas desta fase de
desenvolvimento. Esta evolução continua a permitir, contudo, situações de abuso de
crianças, e as estruturas socioculturais atuais ainda suportam várias formas de maltrato
infantil, aceitando-as como modos de educação e da interação adulto-criança”.
Realizando agora uma sinopse das noções sobre a conceção da infância, num
primeiro momento, até ao século XV, o conceito de criança não existia, num segundo
momento, no século XVIII, ocorre uma maior aproximação aos pais e ao novo tipo de
relações pais-filhos, porém a criança era vista como um ser inferior, num terceiro
momento, no século XIX, há aquisição de uma maior consciência sobre a especificidade da
criança e um reconhecimento da importância da relação mãe-bebe, num quarto e último
momento, século XX, surge a tomada de consciência da amamentação materna e do
sentimento maternal, existindo assim a valorização da maternidade, como ainda, a criança
enquanto cidadão com direitos.
A violência conduzida contra as crianças, em particular na família, beneficiou
durante muito tempo de um consentimento silencioso alargado, revelador da tolerância
social face a este fenómeno. Contrariamente, a violência aplicada pelas próprias crianças,
apesar de numericamente menos expressiva, suscitou e suscita reações mais fortes (Casas,
1998), o que indica uma preocupação especial com as crianças indigentes.
Ainda assim, o mau trato, a par da indigência, da delinquência e vagabundagem
envolvendo crianças, constituiu uma situação que, desde muito cedo, suscitou a
intervenção de instituições várias, particulares e estatais. Movidas sobretudo pela intenção
de prevenir a degradação moral da sociedade, subtraíam a marginalidade do próprio tecido
social que a gerava, circunscrevendo-a a espaços físicos e sociais diferenciados (Martins,
1999), numa expressão progressivamente mais nítida da necessidade social crescente de
regular, classificar e separar, para controlar (Casas, 1998). Inicialmente definido a partir
dos seus danos físicos evidentes em crianças muito novas, por ação objetiva levada a efeito
por familiares, o conceito de mau trato evolui com o aprofundamento da consciência social
deste problema. A violência emocional, psicológica e sexual, ganha estatuto de mau trato,
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
multiplicando-se os exequíveis agentes perpetradores, que acabam por abranger, para além
das pessoas exteriores à família, as instituições, os próprios serviços de proteção infantil e
a sociedade no seu todo (Gough, 1996).
“A reinterpretação do que é entendido como adequado em termos dos cuidados
prestados às crianças, e a valorização do seu impacto no desenvolvimento infantil, estende
a vigilância ativa e o olhar sancionador a condutas antes tidas como aceitáveis, numa
dinâmica evolutiva integradora e inclusiva de uma pluralidade de perspetivas sociais em
interação (Little, 1997). O conceito de mau trato infantil, em contínuo desenvolvimento,
constituiu-se como analisador privilegiado das imagens e representações da infância, das
relações adulto-criança, das práticas discursivas e de prestação de cuidados às crianças e
das estratégias de controlo social das práticas educativas” (Lopes dos Santos, 1994 cit. in
(Martins, 2005: 7).
Principiando do pensamento de que o futuro se constrói, e da participação
metódica na sua definição, as sociedades moderna e pós-moderna desejaram constituir
bases de segurança, concebendo sistemas de gestão do risco, em que este é assumido
conjuntamente ou em vez do “próprio sujeito, num contrato ativo com o futuro em que o
destino é expulso” (Giddens, 2000: 34). O Estado Providência, no âmbito do qual se gerou
a matriz das políticas de proteção da infância é exemplo disso.
Como vimos, o conceito de risco desde sempre existiu, desde a Antiguidade e
perdurou até aos dias de hoje. Foi-se construindo, desta forma, uma sociedade mais
persuadida das características e direitos das crianças, existindo uma maior inquietação com
o bem-estar das mesmas. A sociedade passou a ter, aos poucos, um maior controlo das
situações de risco, e consequentemente começou a estar mais atenta a determinados sinais.
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
“Se até então a criação dos enjeitados era cometida às autoridades municipais,
com a difusão das misericórdias, que rapidamente se espalharam por todo o reino, o
socorro aos expostos foi natural e gradualmente por elas assumido e o estatuto de
Instituição de Apoio à Criança foi tomando contornos mais nítidos, ao ponto de integrar a
responsabilidade pela formação profissional das crianças desprotegidas” (Lopes 1993:
504).
Em 1780 ocorreu a criação da Casa Pia de Lisboa que, embora numa fase inicial
acolhesse mendigos de todas as idades, cingiu-se mais tarde ao acolhimento e educação de
jovens, desempenhando um papel notável entre as instituições de assistência, associando
ao alojamento e amparo das crianças e jovens desvalidos a sua formação literária e
profissional (Reis, 2009).
Nos finais do século XVIII o abandono era permitido por lei, e assumia valores
muito elevados, em consequência de uma conjuntura complexa, onde interferiam vários e
diversos fatores, um dos principais era a ilegitimidade. O poder central fundou as bases da
organização de acolhimento aos expostos.
Nesta altura a criança era entregue à instituição – a Roda – que a entregava
posteriormente a uma ama, onde era criada até aos sete anos. Nessa altura, os juízes dos
órfãos denominavam-lhe um tutor e acomodavam-na como empregada a troco de
alimentos, vestuário e dormida, começando a receber salário a partir dos 12 anos. Aos 20
anos, os expostos eram livres e emancipados. “A partir de meados do século a polémica
instala-se, tanto em Portugal como no estrangeiro, questionando-se a moralidade e a
defensibilidade de uma instituição como a Roda” (Lopes, 2004: 50).
As Rodas foram extintas em 1867, sendo então criados hospícios, onde se
analisava individualmente a entrada e permanência de cada criança. Devido ao surgimento
de novos enquadramentos legais, tomavam-se medidas de responsabilização dos pais, se
estes eram conhecidos, era-lhes imposta a obrigação de criar e sustentar os seus filhos. Só
em condições excecionais de miséria ou em casos de eminente perigo moral é que as
crianças eram acolhidas nas instituições.
Em 1834, surgiu a Associação das Casas de Asilo da Infância Desvalida, cujos
estabelecimentos se espalharam rapidamente por todo o país. Além do amparo de órfãos ou
crianças abandonadas, esta instituição procurava também socorrer crianças pobres com
família. Em 1922 a Santa Casa da Misericórdia fundou a “Casa Maternal”, que acolhia
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
mães latentes mas sem recursos económicos para manter os seus filhos. O acolhimento das
mães com os seus filhos conduziu a uma diminuição da taxa de mortalidade infantil que,
em 1922, era pouco superior a 20% (Ramos 1931, cit. in Ambrósio, 1992).
Como se constou, foram várias as instituições que na época se ocupavam das
crianças, o que nos leva a concluir que se começou a revelar um interesse crescente em
relação às crianças e jovens, revelador de uma modificação gradual do pensamento em
relação à infância.
A partir do século XIX e início do século XX, com a escolarização obrigatória
alarga-se inesperadamente a noção e o campo de intervenção das situações de risco.
Vemos, pois que os conceitos de risco, situação de risco, comportamento de risco
começam a fazer parte das consciências a partir dos finais do século XIX.
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
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Tais como Calheiros & Monteiro (2000)
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
Forma Definição
Abandono Ausência da resposta e de reciprocidade do adulto às formas de expressão e iniciativas de
interação da criança
Exploração Qualquer situação em que o menor é obrigado a realizar trabalhos que estão para além dos limites
laboral do habitual, que deveriam ser efetuados por adultos, e que vão interferir nas suas atividades e
necessidades escolares.
Prostituição Consiste na compra e venda de crianças com o fim de as utilizar para fins de abuso sexual.
Infantil
Mendicidade A criança é utilizada, de forma habitual ou esporádica, para mendigar ou então mendiga por
vontade própria.
Corrupção Condutas desencadeadas por adultos que promovem, no menor, comportamentos antissociais ou
desvios, particularmente nas áreas da agressividade, roubamos, sexualidade e tráfico ou consumo
de drogas.
Mau trato Situações que ocorrem em instituições que recebem menores e em que nas quais, por ação ou
institucional omissão, não são respeitados os direitos básicos referentes à proteção, cuidado e estimulação do
desenvolvimento.
Fonte: Adaptado de Reis (2009)
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Capítulo 1 - O risco e a sua multidimensionalidade
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Capítulo 2
Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
serviços públicos, menor o seu recurso a estes mesmos serviços. O recurso a estes serviços
aumentaria à medida que a capacidade de adequação da família a esses serviços, de forma
autónoma, fosse diminuindo). O aumento de formas familiares variantes relativamente ao
modelo assumido como culturalmente “normal” iria produzir um aumento das situações de
dependência, o que, por sua vez, produziria um crescente envolvimento entre a família e as
instituições de serviço público.
O papel das redes formais será retomado no próximo capítulo (terceiro), enquanto
neste capítulo se continuam a escalpelizar as dinâmicas familiares.
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
(Fulmer in Sousa et al., 2007), frisando que a função parental se degrada, dado o facto de se
dispersar por várias figuras internas e externas; ‘Famílias em permanente crise’ (Kagan &
Schlosberg in Sousa et al., 2007), sublinhando que estas famílias estão em crise constante, não
existindo períodos de estabilidade; e ‘Famílias multicrise’ (Minuchim, 1998), salientando o
facto de as vivências familiares serem demarcadas por crises sucessivas.
Famílias multiproblemáticas são frequentemente apresentadas com dificuldades ao
nível do desempenho de papéis, especialmente os parentais, fraca delimitação dos subsistemas
(influenciando a definição dos limites geracionais), tendência para a instabilidade psicossocial
nos sujeitos e nos subsistemas (dada a incoerência da organização estrutural) e um alto
número de elementos do sistema familiar com problemas (Cancrini, Gregório & Nocerino,
1997), são ainda, famílias cujo comportamento sintomático funciona como factor de
equilíbrio para as dificuldades emocionais dos outros membros do sistema e para o sistema
familiar na sua globalidade.
Dadas as características específicas das famílias multiproblemáticas, segundo
Cancrini, Gregório & Nocerino, 1997 (1997: 52-53), operacionalizaram o conceito tendo em
conta os seguintes critérios:
“- Presença simultânea de comportamentos problemáticos estruturados, estáveis no
tempo, em pelo menos dois elementos do mesmo sistema familiar, e suficientemente graves
para justificarem uma intervenção externa;
- Grave insuficiência por parte dos pais, no desenvolvimento das actividades
funcionais e afectivas necessárias para assegurar um adequado desenvolvimento da vida
familiar;
- Estruturação de uma relação de dependência crónica da família face aos serviços
externos, criando-se as condições para o desenvolvimento de um equilíbrio inter-sistémico;
- Desenvolvimento de comportamentos sintomáticos característicos nos pacientes
identificados, tais como a toxicodependência de tipo D (sociopática).”
Ultimamente, estas famílias têm sido definidas de forma a destacar alguns efeitos
consequentes da sua ligação com os serviços formais de apoio (usualmente caracterizado por
contactos constantes, alargados no tempo e por fronteiras espalhadas que promovem relações
de dependência), nomeadamente ‘Famílias diluídas’ (Colapinto in Sousa et al., 2007), que
deixam de usar os seus recursos em resultado da transferência de funções familiares para os
serviços sociais; e ‘Famílias multiassistidas’.
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
torna-se, cada vez, mais frequente. Nas famílias desmembradas os novos casamentos dão
origem a vários fragmentos familiares inter-relacionados através dos filhos, que poderão
coexistir desde que se mantenham determinadas normas de vida social, suportadas pelo amor
concorrente em relação a esses filhos.
Os fatores culturais estabelecem a preponderância de um certo tipo de família que é
veiculado por uma determinada cultura. Para Carneiro (1997), a família não é um simples
fenómeno natural, ela é uma instituição social que vai variando através da história e
mostrando até formas e finalidades diferentes numa mesma época e lugar, conforme o grupo
social que esteja sendo observado. Atualmente, a família é vista como algo dinâmico, mutável
internamente e em relação ao exterior.
Reconhecida a importância da qualidade e constância de uma família (e, sobretudo,
de uma figura materna) no desenvolvimento de qualquer criança, a sua carência poderá vir
não tardiamente a afetar as suas relações com os outros, devido às dificuldades relacionais que
marcam o seu percurso. Estando o processo identitário da criança comprometido, assim como
o seu funcionamento psíquico, isso irá refletir-se na forma de se relacionar com os outros, na
forma como perceciona e compreende os que a rodeiam.
A desvalorização que marca a autoperceção da criança que não tem garantidas estas
condições básicas de desenvolvimento, influencia, de forma negativa, o seu interesse e
investimento no mundo que a rodeia. Há uma estagnação do desenvolvimento normal da sua
personalidade.
No âmbito da investigação e segundo a perspetiva do Projeto “O Trilho”, estas
famílias são encaradas como famílias que superam multidesafios6. No âmbito do projeto fala-
se, ainda, de famílias competentes, sendo uma forma de dar à família a sua competência, antes
de ter em conta as suas faltas. De facto estas famílias associam-se a famílias desmembradas,
multiassistidas, multiproblemáticas, entre outras, porém segundo o Projeto “O Trilho” a base
para uma intervenção com sucesso é necessário classificar estas famílias com designações e
características positivas podendo desta forma iniciar a intervenção com um reforço da
autoestima destas famílias e cuidadores. A investigação levada a cabo baseou-se neste
princípio.
Na tentativa do reconhecimento de famílias em/de risco, é possível afirmar que se
torna extremamente difícil identificar previamente os pais que vão abandonar ou maltratar os
6
Esta designação já abordada referiu como autores de referência Summer, McMann e Fuger.
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
filhos, no entanto, é bastante mais fácil identificar futuros pais com um potencial estabelecido
para virem a ter possíveis dificuldades na interação com a criança.
No caso do Projeto “O Trilho” são consideradas famílias de risco àquelas que, pelas
suas características pessoais e/ou sociais de instabilidade, desestruturação e falta de
segurança, apresentam maiores probabilidades das crianças a seu cargo não receberem a
atenção e os cuidados físicos e psíquicos adequados (Pires, 2001).
Referimo-nos a famílias submetidas a pressões internas e externas que, pela sua
personalidade, não têm capacidade de enfrentar essas dificuldades, transformando-as em
agressões (maus-tratos, abandono, negligência, etc.) contra as crianças.
Uma questão relevante que se coloca na prática profissional - como identificar as
famílias mais vulneráveis à situação de risco? – Na tentativa de resposta a esta questão
importará acautelar a não estigmatizar nenhum grupo em especial, até porque há muitas
crianças pertencentes a estes grupos que são saudáveis e bem estimadas.
Importa então contextualizar as características desses grupos, integrando outros
indicadores específicos da nossa sociedade, de modo a documentar e a exemplificar como
estabelecidas circunstâncias que facilitem situações de risco, podem e devem ser estudadas e
exploradas.
Recusar os vários tipos de família explorados anteriormente, consideradas de risco, e
conceder atenção especial por parte do sistema de proteção social as suas principais
características. Sendo algumas características observáveis:
a) Famílias funcionalmente deficitárias;
b) Famílias expostas a elevados fatores de stress;
c) Famílias isoladas com debilitada inclusão em redes sociais de apoio;
d) Famílias numerosas com baixos rendimentos;
A presente investigação revê-se na visão de Ausloos (2003) onde a valorização da
competência é uma estratégia de capacitação das famílias, o que significa aceitar que são estas
as mais aptas a definirem e a compreender as suas necessidades, a atualizar os seus recursos, a
conceber o desenvolvimento repartindo o saber fazer com os outros e gerindo os recursos do
suporte da comunidade, ou seja, tornar o cidadão capaz de desenvolver as suas próprias
soluções, aumenta o sentimento de autoconfiança e competência. Em consequência, o papel
do Técnico de Serviço Social não é perceber ou encontrar soluções, mas sim, ativar o
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
processo para que o sistema encontre a sua própria solução, gere a sua autosolução e promova
assim um aumento da responsabilidade parental.
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
também, perturbações nos jovens e jovens adultos, assinaladas pela passagem ao ato de
agressão e incompetência na integração nos sistemas externos. A patologia mais vulgar é do
tipo sócio ou psicopático, associada a problemas de acomodação escolar, toxicomanias,
alcoolismo e delinquência (Alarcão, 2002; Linares, 1997; Sousa, 2005).
Entre os progenitores e os filhos é habitual estabelecerem-se algumas coligações
sobretudo disfuncionais (Minuchin, 1982): os pais aliam-se a outro sistema de suporte, como
por exemplo, a escola, contra o filho, reduzindo a motivação para responder e resolver
conflitos diretamente; à criança/jovem é-lhe imputada uma situação de divisão de lealdade,
tendo de escolher entre um dos pais, ficando a criança numa situação indesejável de poder
relativamente ao progenitor com o qual se alia.
A parentalidade degrada-se ainda, por tender a dispersar-se por várias figuras. A
presença de diversas figuras com potencial parental não designa diretamente ter pais, a
maioria das vezes envolve ausência de referências, porque o cuidar dos mais novos fica a
cargo de quem na rede social tiver mais disponibilidade para o fazer naquele momento.
Conjugando com a alta vulnerabilidade do seu meio é normal surgirem mudanças abrutas de
cuidadores, estas cisões estimulam sentimentos de medo, abandono, comportamentos
defensivos e prematura auto-suficiência emocional (Fulmer, 1989).
Os resultados nas crianças desta combinação de parentalidade dissipada e desarmonia
na conjugalidade são complexos e graves, sendo o abuso sexual frequente e emblemático.
Assim, se a vinculação emocional está afastada pelo uso instrumental no vínculo parental, e a
conexão conjugal implícita é frustrante e conflituosa, não se pode estranhar que as crianças
sejam utilizadas sexualmente, e que o incesto se insinue como possibilidade. Da mesma forma
que os impulsos hostis e os impulsos sexuais dos pais derivam-se livremente ficando os filhos
sem o domínio das funcionalidades protetoras, o que obtém como consequência os maus-
tratos físicos que emergem com assiduidade sobre um fundo de falta de cuidados ou mesmo a
prática do abandono (Alarcão, 2002; Cancrini et al., 1997; Linares, 1997; Sousa, 2005).
A importância das ligações entre subsistemas na família multigeracional emerge nos
estudos sobre redes sociais (Sluzki, 2002), que salientam a importância do contacto
intergeracional e intrageracional. Relações entre bisavós e bisnetos, avós e netos, pais e filhos;
relações cortadas, distantes ou funcionais; ligações entre agregados familiares desunidos,
unidos ou aliados, ou entre elementos da mesma geração ou da mesma linhagem, constituem
exemplos das redes sociais familiares que envolvem a interação de numerosos subsistemas
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
familiares. Na família nuclear «tradicional», composta por quatro elementos (o casal e dois
filhos), podem ser identificados, pelo menos, oito subsistemas (quatro individuais, um
parental, um conjugal, um filial e um fraternal), num total de vinte e oito ligações possíveis
entre eles. Um exercício matemático similar aplicado à família multigeracional seria bastante
mais complexo. O número de ligações num sistema familiar multigeracional revelar-se-ia
bastante superior, pois este é constituído por uma rede intrincada de relacionamentos entre
subsistemas de proporção assinalável, embora variável com o número de elementos no
sistema.
Granovetter (1983) apelidou estes elementos de «pontes sociais» (“social bridges”).
Buchanan (2002), no seu seguimento, refere que os elos mais fracos numa rede podem ser de
maior importância do que os elos fortes, pois atuam como laços cruciais que mantêm a rede
unida e que, se eliminados, podem causar o colapso da rede. Estas ideias encontram reflexo
nas relações familiares multigeracionais: os laços «fortes» seriam aqueles entre elementos
dum núcleo ou agregado familiar (por exemplo, entre pais e filhos ou entre marido e mulher);
enquanto os laços «fracos» ocorreriam entre gerações mais distantes (por exemplo, a geração
mais nova e a mais idosa numa família de quatro gerações), entre núcleos ou agregados
familiares dispersos geograficamente, ou entre linhagens distintas (por exemplo, entre
compadres e comadres).
Neste contexto, os autores põem a hipótese de existir a presença, na família
multigeracional, de um ou mais elementos a exercer a função de ligação privilegiada entre
subsistemas: o ‘elo de ligação familiar’.
As relações familiares intergeracionais ganham relevo à medida que as famílias
multigeracionais (coexistência de três ou mais gerações) se tornam mais comuns. No Projeto
“O Trilho” analisam-se as redes sociais pessoais de indivíduos pertencentes a famílias com
membros em quatro gerações, procurando-se ampliar uma perceção da matriz relacional que
sustenta o sistema familiar multigeracional. Esta análise da rede social pessoal é realizada
através de um instrumento criado pela investigadora (anexo A) adaptado da Análise da Rede
Social Pessoal de Alarcão & Sousa, 2007, baseado em Sluzki, 1996.
Vicente & Sousa (2007) afirmaram, relativamente a este instrumento, que existem
diferenças significativas nas características estruturais/morfológicas da rede consoante as
gerações; os conteúdos funcionais e de suporte da rede permanecem inalterados a partir da
idade adulta; as características estruturais e funcionais do quadrante familiar revelam a
31
Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
2.5.1. Comunicação
As características centrais da comunicação nas famílias designadas de
multiproblemáticas são o caos comunicacional, a pobreza emocional das mensagens e a falta
de diretividade e clareza.
De um modo geral a comunicação é interligada de forma diminuta e justapõe-se, não
apresentando ligações lógicas nem coordenação (pseudodiálogos ou diálogos paralelos - não
acreditam ser ouvidos e não ouvem se os outros falam), o que torna difícil chegar a
conclusões (Minuchin et al., 1967; Neto, 1996; Sousa, 2005).
Para Linares (1997) os membros destas famílias mostram epistemologias elementares
e pouco consistentes, onde os escassos elementos explicativos são utilizados de forma
32
Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
7
Segundo Alarcão (2002: 351) a metacomunicação trata-se de “Comportamento ou acto de comunicar sobre a comunicação. Na esfera da
interacção pessoal (…) tem como finalidade assinalar, especificar e pontuar o contexto de interacção. Este contexto determina como devem
ser interpretados os comportamentos relacionais”.
33
Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
8
Do ponto de vista centrado nas necessidades da criança/jovem, a Educação Parental é entendida como uma modalidade de intervenção na
parentalidade, com objetivos gerais de promoção e da capacitação dos pais no desempenho das funções básicas educativas, manutenção de
vida, estimulação, apoio emocional, estruturação do ambiente e supervisão (Bradley, 2002). Perspetivando-se a Educação Parental como um
processo co-construído ao longo da intervenção com os pais/cuidadores, no sentido de se desenvolverem e reforçarem competências
parentais que permitam um melhor e mais adequado desempenho das funções educativas (Cruz e Pinho, 2008).
9
Metáforas, provérbios, vídeos, role-playing, brainstorming, debates, entre outros. Estas metodologias contribuem de uma forma mais
evidente para a eficácia da intervenção junto da população geral, comparativamente com os métodos pelo didactismo (Graziano & Diamont,
1992).
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
separadas será menos afetivo qualquer procedimento adaptativo com negociação, decisão de
problemas e de conflitos. Uma das particularidades do ciclo vital das famílias
multiproblemáticas que tem sido evidenciada diz respeito ao protagonismo do elemento
feminino (Fulmer, 1989; Hines, 1989), ligado à responsabilização, em idade precoce, pelos
irmãos mais novos e pelas tarefas domésticas. A falta de regras, a desvalorização da
escolaridade e o facto de o trabalho não eleger uma fonte de realização profissional, agudiza
esse papel de adultização prematura, sem a adequada maturidade e preparação, sendo o
número de mães adolescentes elevado, tal como os casamentos e uniões de facto em idades
precoces (Fulmer, 1989).
Ao longo do ciclo de vida estas famílias têm, ainda, tendência a acumular crises
inesperadas, quase sempre, derivadas da sua elevada vulnerabilidade a pressões do meio.
Estes eventos requerem alterações súbitas, particularmente, no que toca à prestação de
cuidados às crianças, às quais a família tem dificuldade em adaptar-se. Desta forma, espera-se
que as crianças cresçam depressa, para assumirem algumas das tarefas dos adultos,
renovando-se, assim, o círculo – novas gerações, por mecanismo de ‘hereditariedade
relacional’, reconquistam uma vida igual à dos seus ascendentes (Sousa, 2005).
No âmbito da investigação a elaboração das histórias de vida demarcam-se como
relevantes no acompanhamento social individualizado pois, com a execução das mesmas,
constituem-se importantes momentos de (re)significação dos problemas. Há medida que a
família relata os acontecimentos está a reconfigurar-se mentalmente face ao problema. Esta
dimensão oferece, pois, grande importância para o acompanhamento social, sendo que o
mesmo permite a construção de uma história de vida mais descritiva, pormenorizada, rica em
factos, entre outros. Esta reconfiguração mental permite a consciencialização do problema em
qual as famílias estão inseridas, por parte das mesmas, através do reforço da problemática na
construção das narrativas. Esta tomada de consciência é o ponto de partida para o processo de
mudança, conforme refere a Teoria Comportamental.
No âmbito do projeto, a construção de histórias de vida baseiam-se num exercício
que se poderá denominar de anamnese. Através da anamnese, a investigadora procura
identificar a composição e estrutura do núcleo familiar bem como a família alargada, a
história familiar (inlcuindo marcos como a formação do casal, os falecimento e/ou ruturas,
nascimento de filhos, epocas de crise, entre outras) uma abordagem ao risco (identificando o
tipo de risco pelo ao qual a criança/jovem foi submetido analisando a tomada de consciência
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
2.5.4. Economia
As famílias multiproblemáticas apresentam, de uma forma geral, um baixo nível
socioeconómico, uma elevada taxa de desemprego ou um trabalho precário, iliteracia ou baixo
nível de escolaridade, e pouca formação/qualificação profissional. O sucesso na
escola/profissão (o emprego é visto como uma forma de obter rendimentos em termos de
dinheiro e não como fonte de realização) é muitas vezes desvalorizado, não conferindo um
significado à vida (Fulmer, 1989; Minuchin et al., 1967; Neto, 1996). Tanto faz um emprego
como outro, desde que sejam similares em dificuldade, salário, estímulo e estatuto social
(Sousa et al., 2007).
A gestão financeira ou a relação com o dispêndio contrai contornos caricatos,
verificando-se contratempos em gerir os rendimentos e prioridades – é frequente encontrar
casas carentes de bens considerados de primeira necessidade, e invadidas de objetos inúteis,
caros e de pouca utilidade, mas largamente desejados (Alarcão, 2002; Cancrini, Gregório &
Nocerino, 1997; Sousa et al., 2007). Os recursos económicos advêm, em grande parte, de
subsídios de ordem distinta, por vezes, acrescidas do produto de atividades ilegais (que tentam
esconder dos técnicos), sendo habitualmente utilizados para objetivos familiares, no caso das
mulheres, ou para objetivos pessoais, no caso dos homens (Alarcão, 2000; Linares, 1997;
Sousa et al., 2007).
A falta de recursos económicos não deverá ser um impedimento para o regresso das
crianças/jovens às respetivas famílias, porém, no âmbito do Projeto “O Trilho” esta vertente é
bastante considerada, sendo que à maioria das famílias é realizada uma sessão de
acompanhamento individualizado que estimule a procura ativa de emprego dotando os
intervenientes de ferramentas mínimas para a procura de emprego, bem como uma sessão
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
multiproblemáticas complicando o balanço entre ganhos e perdas, uma vez que as supostas
primazias destas intervenções poderão não recompensar os incómodos provenientes da troca
dos recursos do sistema por outros alheios (Linares, 1997).
Na intervenção institucional não há, na maior parte das vezes, um trabalho de
meditação agrupada sobre os problemas a resolver nem sobre as dificuldades a equacionar.
Consequentemente, o reenquadramento não atende à globalidade nem à complexidade das
situações e dos participantes, onde se englobam as instituições e os técnicos (Alarcão, 2002).
Linares (1997) refere que, para potenciar uma transformação da família para que a
organização familiar seja senão caótica e a mitologia mais abundante e diversa, deve ser tido
em conta que os espaços emocional, cognitivo e pragmático: a) será útil trabalhar no sentido
de ampliar o espaço de partilha das emoções, para que nele possam convergir os mais
variados afetos; b) sem confrontar diretamente os valores e crenças familiares convêm
relativizá-los para que possam surgir outros novos; c) procurar o desenvolvimento de rituais
familiares que reúnam os vários membros em ações conjuntas. Ao nível das instituições,
torna-se importante a dinamização de encontros inter-institucionais para ampliar a eficácia e
eficiência da intervenção de cada instituição e de cada técnico (Alarcão, 2002).
39
Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
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Capítulo 2 – Famílias multiproblemáticas/multiassistidas
41
Capítulo 3
44
Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
Numa análise das políticas públicas em geral, bem como em Portugal e no contexto
Europeu, é possível identificar uma associação contraditória entre discursos e práticas
assentes em pressupostos diferenciados. O redimensionamento dos Estados Providência após
a década 80 do século XX tem-se centrado na revalorização do papel da sociedade civil, dos
cidadãos e do mercado, numa lógica de produção mista de bem-estar social. Um modelo de
Estado omnipresente dá lugar ao modelo de ‘embirrento’, capaz de libertar a sociedade da
necessidade e do risco, o novo modelo apela à participação dos diversos agentes na
construção de respostas mais adaptadas às reais necessidades, potenciando uma gestão
eficiente de recursos diferenciados (Albuquerque, 2010).
A nova geração de políticas sociais possuem, segundo Albuquerque (2010) os
seguintes pressupostos:
a) Territorialização, valorizando a intervenção sociopolítica nos territórios locais pelo
aproveitamento das respetivas potencialidades;
b) Inserção e ativação, apelando ao papel ativo dos cidadãos na reconstrução de um
projeto de vida e coligando a execução de deveres, devidamente contratualizados, à
prestação de um direito;
c) Singularização, procurando apropriar as respostas sociais aos trajetos de vida, às
potencialidades e às esperas pessoais e sociais de cada sujeito.
Neste sentido as políticas e práticas atuais consagram a valorização do sujeito no
processo de condução e construção de si mesmo, num percurso pessoal e social marcado pela
autenticidade. Ganham assim relevância, num universo semântico, o empowerment,
competência, contratualização, a nível profissional, o acompanhamento, protocolos, ativação,
motivação e avaliação, ao nível moral a confiança e o reconhecimento, totalmente fixados em
vias inovadas de experimentação social e política, nas quais a incitação à autonomia tende a
ocupar o espaço da retórica da proteção. Verificamos desta forma que a presente investigação,
enquadramse no sentido das políticas e práticas atuais pois, também se constrói com base na
autenticidade, dando relevo ao empowerment e capacitação das famílias/cuidadores no
sentido de fomentar a responsabilidade parental, usando a investigadora o acompanhando
social individualizado.
Torna-se claro que a nova geração de políticas sociais criou novos hábitos e
requisitos na intervenção social, acompanhando novas configurações e agentes para o
panorama da organização da proteção social (Guadalupe, 2009). “Introduz uma filosofia e
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
cidadania ativa, enfatizando a sua relação com o utente enquanto cidadão e não meramente
como assistido” (Guadalupe, 2009: 112). Os modelos de intervenção são mais próativos
comprometendo um superior envolvimento e co-responsabilidade.
As novas metodologias de abordagem implicam uma intervenção em parceria, uma
ação descentralizada, a distribuição de encargos e de ação com as organizações da sociedade
civil. As parcerias ou redes sociais de parceiros (atores coletivos com competências
individualizas, quer públicos quer privados) são estruturas de ação integrada que procuram
identificar necessidades e conceber estratégias ou criar projetos conjuntos, partilhando
responsabilidades. Colocam em comum recursos com informação, produzir ajudas, mobilizar
capital social, ligar os agentes económicos ou controlar as políticas públicas.
“O mundo da intervenção social é um mundo complexo feito de decisões políticas
tomadas na base de valores e de ponderação de interesse, de administração de programas
por intermédio de estruturas muito burocratizadas, de delegação da execução das medidas
em níveis descendentes de cadeia hierárquica e de padrões de discricionariedade
relativamente amplos e partilhados por profissionais situados na periferia do sistema”
(Sousa et al. 2007: 114). Enquadrando com a investigação, o acompanhamento social é um
processo de responsabilidade partilhada entre parceiros institucionais autónomos dotados de
diferentes competências e poderes, competindo muitas vezes si e movidos por interesses nem
sempre convergentes.
Não basta ter boas políticas, é preciso que elas sejam levadas à prática sem distorções
que alterem por completo a sua missão. É importante analisar a forma como os programas
sociais são desenvolvidos e o papel desempenhado pelos diferentes atores para entender como
pode ser diferente e equivoca a imagem das políticas que chega aos destinatários e como pode
ser contingente ou desajustado o seu resultado. “A falta de credibilidade ou a desconfiança na
ajuda dos profissionais, a apatia ou mesmo desinteresse perante as propostas de inserção, a
falta de consciência das obrigações assumidas nos acordos, a recusa da ajuda benévola
proveniente de certas instituições, são frequentemente manifestações de resistência à
intervenção social que radicam naquela imagem das políticas ou em resultados negativos de
intervenções anteriores” (Sousa et al. 2007: 114). As resistências das famílias às propostas
dos Técnico Superior de Serviço Social devem ser entendidas positivamente, funcionar como
sinais de alerta para detetar e prevenir efeitos negativos para as famílias de que se não teve
consciência.
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
10
Dados do Relatório da Comissão Interministerial para articulação entre o Ministério da Justiça e o Ministério da Solidariedade e
Segurança Social, de 1996
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
contradição, Pedroso e Fonseca (1999) referem a hipótese de que a maioria destas crianças
possa ter sido recebida pelas instituições sem a intervenção do Tribunal.
Acresce que a aplicação do Direito de Menores quanto ao tipo de medidas escolhidas e
a intervenção efetuada parece estar estreitamente vinculada ao empenhamento dos
profissionais envolvidos no processo, nomeadamente os magistrados e os técnicos superiores
de serviço social. Em resultado enxerga-se uma notável instabilidade no desempenho das
entidades judiciárias e não judiciárias, em parte imputável a problemas funcionais
identificados ao nível da ação social, das CPCJ e dos tribunais (Pedroso, 1998), que vieram a
ser contemplados pela nova legislação de menores de 1999.
Da análise da eficácia da intervenção judicial junto das crianças e jovens constituídos
como sujeitos/objetos de processos tutelares, os atores concluem que, se na maior parte das
situações a intervenção do Tribunal de Menores parece ter um papel reeducador e de
reinserção social, pelo contrário revela-se absolutamente inoperante numa parcela
significativa dos casos tutelados, especialmente naqueles que envolvem crianças e jovens em
situação de forte desvantagem social e com comportamentos desviantes.
A tabela que se segue representa alguns aspetos do quadro jurídico-legal português
relevantes ao longo do século XX.
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
Conforme os textos legais mais significativos, do ponto de vista das modificações daí
subsequentes para o estatuto das crianças e jovens, bem como para a compreensão dos
consensos sociais sobre o risco na infância e na sociedade portuguesa, e ainda das medidas e
procedimentos que visam a intervenção nestas situações, parecem poder afirmar-se no
decurso do século XX:
A Constituição da República Portuguesa;
Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro) e
Lei Tutelar Educativa (Lei n.º 166/99, de 14 de Setembro);
Lei de Bases da Segurança Social (Lei nº4/2007, de 16 de Janeiro).
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
cidadãos não podem invocar a norma constitucional para obrigar o Estado a produzir essas
políticas (Sousa et al, 2007). Por outro lado a execução de muitos direitos sociais está
dependente da disponibilidade de recursos económicos e financeiros do país, tendo sido
transferida muita desta responsabilidade estatal para o setor privado.
No quadro da Lei de Proteção da Infância, são definidas diferentes categorias
jurídicas de crianças suscetíveis à atenção dos tribunais, a saber:
1. "Menores sem domicílio certo, nem meios de subsistência, abandonados, pobres,
maltratados", que Pedroso & Fonseca (1999: 138) incluem na categoria de menores em
perigo moral da Organização Tutelar de Menores (1978);
2. "Menores ociosos, vadios, mendigos ou libertinos", que, segundo os mesmos autores,
corresponde à classificação da OTM (1978) de menores indisciplinados e desamparados;
3. "Menores autores de contravenções ou crime”, cuja designação se mantém no texto revisto
da OTM.
Estes três grupos de crianças e jovens, com idade inferior a dezasseis anos, são
merecedores da intervenção tutelar do Estado, tendo em vista a sua proteção atual e a
prevenção da delinquência. Assim entendida a ação dos Tribunais, eram postos em prática
procedimentos informais e medidas cujos conteúdo ou duração não estavam comparados com
os factos eventualmente praticados pelos menores, na prática destituídos de relevância
jurídica11.
Todas as situações de proteção infantil passam a ter acolhimento no âmbito da
Tutelar Educativa, que privilegia as medidas de proteção, assistência e educação, face às
medidas corretivas e penais (Vilaverde, 2000). Em consequência, as finalidades dos Tribunais
de Menores são redefinidas, em peculiar no domínio da prevenção criminal (Ferreira, 1998),
uma vertente particularmente salientada (Pedroso & Fonseca, 1999), constituindo-se como
instâncias competentes para decretar medidas a aplicar (Epifânio, 2001):
a) A crianças entre os doze e os dezasseis anos que pratiquem atos delinquentes;
b) As crianças em situação de perigo para a sua segurança, a saúde, formação moral e a
educação.
Contudo, não atende ainda medidas especificas com propósito para a resolução do
maltrato infantil (Alberto, 2004). Podendo ser distintas as providências tutelares a dedicar às
crianças e jovens em risco, bem como, àquelas com comportamentos delinquentes, as regras
11
Proposta de Lei n.º 265/VII, Diário da Assembleia da República, II série A, n.º 54, de 17 de Abril de 1999
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
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Capítulo 3 - Papel do Estado na intervenção em contexto de risco
A Lei de Bases da Segurança Social faz ainda referência, no Artigo 13.º, ao princípio da
coesão intergeracional que implica um ajustado equilíbrio e equidade geracionais na assunção
das responsabilidades do sistema.
É precisamente na função de proteção da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em
Perigo (LPCJP)12 que a presente investigação se posiciona, sendo que na mesma se enfatizam
os princípios orientadores que fundamentam e deverão regular as medidas de proteção e
promoção em processos em que estão em causa os direitos da criança. E se o princípio da
responsabilidade parental - Artigo 4.º, alínea f - reforça a regra constitucional que confere aos
pais a tarefa de educar e ter um comportamento ajustado às necessidades dos filhos, o
princípio da prevalência familiar, consagrado no mesmo artigo - alínea g - determina que seja
dada prioridade às medidas de apoio que fortaleçam a capacidade da família e as
competências dos pais para preservarem o ambiente familiar e as condições suficientes e
adequadas para se manter a criança sob a sua responsabilidade. Deste modo, dá-se privilégio a
integração da criança ou do jovem na família de origem – não discriminando as diversas
formas de família, o que inclui as adotivas e a colocação em família de acolhimento, e, ainda
mais recentemente, o apadrinhamento civil – acompanhada, se necessário, de apoios que
possibilitam a sua concretização. Quanto ao apoio a prestar aos pais a LPCJP refere, no artigo
41.º, os programas de educação parental, enquanto instrumento usado no âmbito do Projeto
“O Trilho”. Definindo-os como um apoio de natureza psicopedagógica e social, a lei
distingue-os do apoio económico, recomendando a sua aplicação aos pais quando tenham sido
propostas medidas de apoio em meio natural de vida - artigo 39.º - ou em situações em que a
criança possa estar sob a responsabilidade de um familiar - artigo 40.º.
No que respeita à educação parental, só atualmente a União Europeia lhe dedicou
uma atenção específica no quadro das políticas de apoio à família que emergem de projetos,
investigação e estudos que possibilitam a fundamentação dos benefícios que estas medidas
podem ter ao nível das práticas e cuidados parentais e, por via direta e indireta, no bemestar e
desenvolvimento saudável da criança.
12
Aprovada pela Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, alterada pela Lei nº 31/2003, de 22 de Agosto
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Capítulo 4
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
os objetivos dos serviços, como por exemplo a a autonomia do grupo familiar na resolução
das suas dificuldades e o autenticação dos recursos existentes na rede de apoio social e na
própria família. Nesta perspetiva, conforme Mioto (2000), baseia-se em duas linhas de
intervenção:
1. ‘Em situações familiares especiais’, o cuidado dirige-se àquelas famílias que
vivenciam dificuldades impostas pelo contexto social (desemprego, migrações), pelos
acontecimentos próprios do curso de vida das famílias (nascimento, morte, envelhecimento,
separações, doenças) ou pelas demandas individuais dos seus membros. “O trabalho nessas
situações tem um caráter prioritariamente preventivo, à medida que o seu objetivo é dar
sustentabilidade ao processo de reorganização das famílias” (Mioto, 2000: 223).
2. ‘Em situações sintomáticas’, nas quais o cuidado volta-se para as famílias que
expressam sinais de sofrimento frente aos desafios do quotidiano. Estes sinais manifestam-se
através dos seus membros (quando apresentam dependências psicoativas, alcoolismo, doenças
mentais e físicas, depressão, entre outras), através das relações destrutivas que se estabelecem
nas famílias, ou através de relacionamentos dos seus elementos com a sociedade (Mioto,
2000: 223).
No acompanhamento individualizado o interveniente deve valorizar as famílias em
sua diversidade, valores, cultura, história, demandas e potencialidades. Elaborar uma
construção metodológica que responda à diversidade sociocultural de cada território.
Favorecer a participação da família em propostas para o seu processo de inclusão social e de
modificações e melhoramentos esperados, na modificação das relações intrafamiliares e
sociais. Edificar, em conjunto com as famílias, o entendimento da realidade na qual estão
inseridas e planos de ação que concretizem os projetos de vida. Fortalecer a família na sua
função de proteção e socialização. Valorizar e estimular a participação no trabalho social, das
figuras materna e paterna, respeitando a igualdade constitucional de direitos e
responsabilidades, valorizar e fortificar os vínculos familiares e sociais, adotar o grupo
familiar como referência, valorizar a relação entre gerações, a sua convivência e trocas
afetivas e simbólicas, valorizar e consolidar a cultura do diálogo e dos direitos, combatendo as
formas de violência, discriminação e estigmatização social (Amorim, Koshima & Xavier,
2007).
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
Estilo Descrição
Os formais Sabem manter a distância entre as gerações como forma de respeito para
com os mais velhos, diferenciando-se do papel parental
Os divertidos A componente lúdica e recreativa é a principal neste tipo de
relacionamento que se pauta pelo companheirismo e pela troca de
experiências positivas
Substitutivos Tendem a tomar atitudes que substituem os pais na sua ausência, zelando
como um pai ou mãe e educando
Autoritários Sobrepõe-se aos pais e colocam-nos perante os filhos numa posição de
subordinados
Distantes São aqueles que se encontram apenas por ocasião das festas familiares
ou nas férias
Fonte: Adaptado de Neugarten e Weinstein (citado por Sousa, 2004)
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
As crianças estão cada vez mais afastadas das gerações mais velhas, o que faz com
que a representação seja aquela que é culturalmente veiculada, correspondendo a uma
perspetiva negativa e baseada na funcionalidade. Os jovens, que também já cresceram neste
distanciamento intergeracional, e que por características das próprias etapas do
desenvolvimento, procuram apenas os seus pares, tornam a falha relacional ainda maior.
Quando o técnico de serviço social tentar promover a intergeracionalidade é
importante não desprezar mitos e estereótipos enraizados. Eles condicionam a forma como se
pensa e sente o envelhecimento e enviesam as relações. O fluxo de valores entre as gerações é
comprometido por ideias ou crenças falsas. Dentro das famílias modernas a passagem de
valores entre avós e netos nem sempre é possível devido a fatores como a distância
geográfica. Também o diferente papel que ele pode desempenhar no imaginário dos netos
influencia a troca entre os dois grupos.
No âmbito da investigação enquadra-se de forma pertinente os Princípios de
Intervenção com crianças, jovens e famílias referidos por Gonçalves (2012), conforme
constam na seguinte tabela:
Princípio Descrição
Superior interesse Interesses e direitos da criança e do jovem, sem prejuízo de outros interesses
que possam estar presentes no caso concreto
Privacidade Respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada
Intervenção precoce Intervenção logo que a situação de perigo seja conhecida
Intervenção mínima Intervenção exercida exclusivamente pelas entidades e instituições cuja ação
seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e proteção
Proporcionalidade e Intervenção adequada à situação de perigo em que a criança se encontra
atualidade
Prevalência da Proteção da criança e do jovem com prevalência para as medidas que
família integrem na família ou que promovam a sua adoção
Obrigatoriedade na Direito à informação dos direitos, a criança e jovem, os pais, o representante
informação legal ou a pessoa que tenha a sua guarda
Audição obrigatória A criança e o jovem têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na
e participação definição da medida de promoção e proteção
Subsidiariedade A intervenção deve ser efetuada sucessivamente pelas entidades com
competênca, pelas CPCJ e, em última instância, pelos tribunais
Fonte: In Gonçalves, H. (2012). A intergeracionalidade no contexto de famílias multiproblemáticas. Documento
policopiado, Seminário “Construir para Crescer”: Vila Real
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
através de reforços imediatos, como elogios, notas, prémios, e reforços remotos, como
diploma, vantagens na futura profissão e possibilidade de ascensão social.
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
obrigação de incidir a avaliação e o esforço terapêutico. Esta verdade também é válida para a
criança maior e para o jovem.
Com base na hipótese enunciada por Bowlby (1969) e mais tarde revista por
Ainsworth, Bell, & Sayton (1971), que assinala que as diferenças individuais observáveis na
qualidade da vinculação da criança são resultado da interação e dos cuidados providenciados
pelos pais, sendo verdade esta hipótese, podemos observar, por exemplo, nas crianças vítimas
de maus-tratos, segundo Cicchetti & Toth (1992), consequências trágicas e específicas no
comportamento de vinculação da criança, pois existe uma alteração extrema suscetível de ser
observada na qualidade dos cuidados prestados pelos pais.
A teoria da vinculação de Bowlby (1969), defende que no decorrer da interação com
a mãe, a criança constrói determinados modelos internos dinâmicos, que se constituem em
figurações de si próprio e dos outros, e estabelecem o modo como subsequentemente vai
organizar a sua ação com as pessoas e com os objetos em seu redor.
Em função da apropriação ou não da interação determinada pela mãe, a criança
amplia um modelo interno – caracterizado ou não por um auto-conceito positivo e pela
firmeza ou não na disponibilidade dos pais e do contexto social em geral, que permite ou não
uma ação adaptada na realidade física e social.
O mesmo autor, diz-nos que os modelos internos que cada um elabora a respeito de
si próprio e dos outros derivam em grande parte do modo como representa a relação de
vinculação que criou com a mãe, formando expetativas acerca de como os outros irão agir e
reagir e como terá de ser bem-sucedido para que os outros gostem de si.
Se a representação que a criança tem dos pais, é de que são pessoas disponíveis e
providenciam experiências agradáveis, então tende a esperar que os outros também estarão
livres e a sua ação será sólida, mantendo uma relação efectiva e competente. Na criança
seguramente vinculada, a confiança que tem em si e nos outros facilita uma relação
interpessoal calorosa e de confiança com os outros.
Contrariamente as crianças que têm uma vinculação insegura, apresentam
expetativas negativas quer relativamente a si próprias quer na confiança que depositam nos
outros. As crianças pequenas que engrandecem em ambientes inconstantes e com tratamento
indiferente ou dessintonizado com as suas necessidades, quer por hiper-estimulação quer por
infraestimulação, fracassam com mais frequência na realização de tarefas evolutivas
importantes como o desenvolvimento de um apego seguro.
67
Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
O medo que essas crianças sentem, pode ativar conflitos entre a sua tendência em
procurar uma propinquidade com a sua mãe e a sua tendência em evitá-la ou afastar-se, tendo
em causa práticas anteriores que a criança vivenciou e introduziu um resultado não
securizante.
No caso das crianças maltratadas, estas correm o risco de desenvolver modelos
globais negativos. As expetativas negativas sobre si próprio e ao outro têm também
influências negativas na capacidade da criança para interagir adequadamente com os outros.
As crianças vítimas de maus-tratos não estão pois, preparadas para desenvolver relações
positivas e bem sucedidas com os outros (Mueller & Silverman, 1989).
68
Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
e da ação sobre ela, criando uma disposição do conjunto social, dos seus grupos dominantes e
sistemas produtores de conhecimento, para o desenvolvimento de atitudes de favorecimento
face a estabelecidas respostas e de repulsa de outras, sempre entendíveis no contexto
sociocultural e histórico em que emergem.
Casas (1998) faz referência a cinco grupos de atores sociais aos quais atribui um
papel particularmente necessário nos processos de mudança operados no domínio das crianças
e jovens com problemas sócio familiares: os investigadores, os políticos, os profissionais da
intervenção social, os profissionais da informação e os cidadãos em geral.
Consciente que qualquer projeto de intervenção precoce junto das famílias e crianças
de populações em risco prevê um entendimento coerente e integrada das necessidades
individuais e colectivas, torna-se pois necessário compreender a dinâmica desta relação
complexa para nela poder intervir. Torna-se, assim, importante delinear alguns objetivos
gerais:
- Mentalizar para o crescente interesse de concetualizar o risco como noção cada vez mais
abrangente, mas também necessitada de maior objetividade;
- Analisar o atual processo de avaliação das crianças e jovens em perigo, realizado pelas
CPCJ. Equiparar divergentes metodologias e estratégias usadas para avaliação da noção de
risco e ou perigo, de acordo com a formação específica de quem o faz (social, psicológica,
judicial);
- Proceder a um levantamento de dados e subsequente estudo comparativo da avaliação de
situações e casos de risco e/ou perigo, pretendendo determinar diferenças e possíveis
contributos para uma maior clarificação, objetividade, e rigor;
- Procurar a partir dos resultados encontrados, identificar um conjunto de elementos de
perceção do que é o risco e/ou perigo, que nos permitam repensar a intervenção e ação junto
das crianças e jovens, perspetivando novas estratégias de intervenção que visem um
aperfeiçoamento significante da qualidade de vida dessas crianças e jovens, particularmente
das suas famílias;
- Conscientes da importância de uma definição clara e coerente de qualquer conceito, para
adequação e posterior avaliação de cada sujeito ou caso, espera-se que na medida em que
subsista um agregado de elementos consensualmente aceites e que tracem um perfil mais
claro, particular para o caso das crianças ou jovens em risco e/ou perigo, que se possa avaliar
e intervir nos casos de risco, na justa medida da sua real dimensão;
69
Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
converter numa forma de fiscalização, vincula-se ao ato infrator, e exerce-se num domínio
alheio às garantias fundamentais; se a ação judicial é entendida como agente de proteção e
ajuda, os direitos e garantias indispensáveis perdem o seu sentido e o delito associa-se à
desvantagem social. Todavia, é a Lei que alicerça e legitima o trabalho social. Parton (1998:
65) extremam esta ideia, considerando que ela constitui a essência do mesmo, assim definido
como o funcionamento da lei na prática. Mais do que o quadro legal da ação, a Lei
funcionaria como a sua razão de ser. Esta interpenetração teria implicações de diferente
sentido:
a) Investindo os técnicos do poder e da autoridade conferidos pela Lei, empresta-lhes a
confiança precisa para confrontarem os pais e certificarem que a criança é vista como sujeito
de direitos e necessidades independentes das deles;
b) Não obstante a averiguação da importância da Lei na negociação dos limites dos direitos e
responsabilidades do Estado e da família, a sua sobre ênfase, pode conduzir, no limite, ao
risco de o trabalho social não ter identidade própria, separada da Lei, o que transformaria os
TSSS em agentes do Estado.
Parton (1998) analisam a evolução das prioridades do trabalho social,
circunscrevendo-as atualmente à proteção dos menores em situação de perigo decomposta em
duas fases: a identificação e avaliação do risco e a proteção da criança/jovem propriamente
dita. A adoção de uma atitude consistente de prevenção do perigo e de medidas eficazes de
proteção constituem, assim, os dois alicerces que devem basear a prática destes profissionais.
Lei, proteção de menores e avaliação do risco configuram-se como dimensões imbricadas no
cerne da atividade do trabalho social.
A definição das estratégias de intervenção específicas para cada situação, não
obstante a sua variabilidade, deve compreender dois grupos distintos: os pais e o contexto
familiar e a criança/jovem vítima do mau trato. Há uma diversidade de medidas a ponderar
conforme as características próprias do caso em questão. Alberto (2004) lista algumas que
visam a promoção do sistema familiar e a transformação das condições que favorecem o mau
trato infantil, a saber:
a) Formação em desenvolvimento infantil e práticas educativas;
b) Adequação das expetativas sobre os filhos;
c) Formação e treino em técnicas de gestão de comportamentos;
d) Formação e treino em redução do stress;
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
Sousa, 2005 & Rojano, 2004 (cit. in Sousa et al. 2007: 81) enumeram algumas das
competências que os profissionais devem possuir para intervir com as famílias
multiproblemáticas (tabela 9).
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Capítulo 4 - A intervenção do profissional de Serviço Social em contexto de risco
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Capítulo 5
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
palavras das ações, mas sim, interessa obter as duas num conjunto nunca retirando o
significado das descrições, como transmitiu uma progenitora quando de uma visita
domiciliária, alegando descontentamento “ (…) por o filho não visitar a irmã há muito tempo,
facto não verídico, pois o T visitou a irmã a 27 de novembro de 2012, e a visita foi a 6 de
dezembro. Referiu ainda, que ligou ao T no sábado passado (1/12/2012), facto que também
não se realizou, pois a mesma não contactou o filho como confirmou o técnico de serviço e o
próprio T” (Relatório de visita domiciliária nº3: 174).
Embora o princípio básico do método etnográfico não seja partir de dados
quantitativos, isso pode acontecer. Este método não tem objetivos quantitativos, ou seja, dar
explicações a partir da quantidade. O princípio da explicação deste método está na associação
da qualidade relatada nas circunstância descritos, não interessando aprofundar muito. Se o
entrevistador tem uma pergunta de partida e é confirmada com a aplicação deste método, não
interessa aprofundar, pois já temos resposta á nossa pergunta de partida. A objetividade é,
considerada um princípio básico da etnografia e, o que torna as coisas objetivas é poder isolar
factos do objeto ou algo em questão. Como foi o caso da Análise do Perfil-Tipo, a abordar
posteriormente, pois, embora a metodologia primordial fosse a qualitativa, este objetivo era
fundamental para o enquadramento dos seguintes objetivos.
Fernandes (2003) considera a etnografia mais que um método porque a prática
etnografia transforma o investigador, configura-se como um estilo e modo de estar nas
ciências sociais que exige longa aprendizagem, atividade profundamente especializada. Exige
arte e treino para olhar o social com particularidade, convoca a capacidade narrativa e o
domínio do texto sem dispensar o rigor e o saber próprio da comunidade científica.
A capacidade narrativa foi explorada pela investigadora, nomeadamente através do
registo no Diário de Campo, na elaboração de relatórios das visitas domiciliárias, entre outros
relatórios, das entrevistas, bem como na análise de conteúdo dos instrumentos mencionados.
A etnografia é nem mais do que uma descrição da cultura, pois a cultura associa
ações a significados. Então, se temos ações associadas a um povo, estamos a falar da cultura
de um povo. Então, como o propósito fundamental da investigação de tipo etnográfico é a
descrição cultural, é possibilitada primordialmente pela observação participante de atividades
amplificadas pelos elementos de um determinado grupo durante um período de tempo
relativamente longo. Pretende, portanto, aceder ao sentido e significado que os atores dão às
suas práticas sociais e, tem como finalidade captar esses significados.
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
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Nome fictício
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
um discurso indireto, pois, a criação de um discurso direto não é exatamente uma cotação
porque o etnógrafo não gravou o que foi dito; permite ao etnógrafo escrever sobre o modo
como é interpretado pelas outras pessoas (inseguranças, dificuldades, etc); permite segmentar
o tempo por fases com descrição dos problemas; quando estamos no terreno não estamos só a
descrever, acabamos por dar tempo as pessoas para responder às nossas perguntas, o que nos
possibilita estar sempre a analisar.
A investigação enquadra-se na linha de Caria (2000), onde o etnógrafo, nas ciências
sociais, ao ambicionar entender, tem para isso que ‘viver dentro’ do contexto em análise,
apesar de não se transformar num autóctone. O investigador não chega a tornar-se membro do
grupo, há portas que nunca são abertas ou, totalmente abertas. O ser aceite não é o mesmo que
«ser de» ou «pertencer a». O trabalho de campo é um processo quase místico e, na sua
essência, praticamente impossível de ser ensinado. A investigação é permanentemente
dinâmica, vê-se obrigada a reformular-se a si própria, e tem de organizar-se em função da
realidade, cuja complexidade não se mostra de uma vez.
No caso concreto da presente investigação, o enquadramento da investigadora
ocorreu de forma positiva, onde a postura transmitida passou por alguém pronto para ajudar,
sem falsos muralismos, admitindo os hábitos e costumes da família ou cuidadores, a
integração foi plena e aceitação foi satisfatória.
Conclui-se portanto que a etnografia tem como principais características:
1. O principal instrumento de investigação: a própria investigadora, pois os
investigadores de terreno aprendem a utilizar-se a si próprios como o principal e o mais fiel
instrumento de observação, seleção, coordenação e interpretação, estando esta reflexão
presente na linha de Sandays (1979).
2. Pequenas unidades de estudo: incide normalmente sobre pequenas unidades de
estudo, como por exemplo, um bairro, uma rua, uma esplanada ou um grupo, de forma a ser
intensiva e relevante, circundando o espaço a estudar. Na presente investigação cingiu-se as
famílias/cuidadores a serem intervencionadas pela equipa do Projeto “O Trilho”.
3. Holismo: os procederes para a recolha de informação são de tipo descritivo e
inclinam-se sobre todos os aspetos da unidade em estudo a que o investigador passa a ter
acesso com o decorrer do tempo tornar-se-ão nítidos os aspetos a fixar mais detalhadamente.
Que neste caso concreto abrangem a perceção do papel do TSSS no trabalho com estas
famílias/cuidadores e as respetivas crianças/jovens, quais as melhores abordagens na
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
eles próprios, na questão ‘quem é este que aqui anda’. Então, a questão do estatuto do
etnógrafo no terreno é elementar, estando-lhe ligadas questões de eficácia e moralidade.
A presente investigação revê-se na linha de Weppner (1977) e Polsky (1971),
considerando que o melhor método de entrada no terreno, e o mais óbvio, passa pela
identificação e apresentação. “No entanto, a passagem do estatuto covert a overt é
progressiva: a nossa identidade não é algo que se revele logo de partida e a todos ao mesmo
tempo. Nunca se dá toda a informação sobre nós próprios à primeira, nem se pede toda a
informação sobre os outros à primeira, tratando-se de uma regra de bom senso” (Neves, s.d.:
98).
7. Impacto mínimo: define-se um pouco por oposição à técnica como o questionário
e a entrevista formal. Inscreve-se num debate que percorre todos os métodos (o da
interferência do observador com o objeto). A interferência não deve ser tomada como
obstáculo epistemológico mas controlado e a etnografia, pelas características já enunciadas é
dos métodos menor interferente.
A investigadora, enquanto etnógrafo, assumiu-se como impulsionadora na medida
em que ativa e estimula a pessoa á falar. Com a rotina as pessoas perdem a capacidade de
descrever o dia-a-dia pois entraram no automatismo. Para este método, a rotina não interessa e
o etnógrafo acaba por estimular a pessoa e fazer com que ela pense nos seus hábitos/rotina.
Mas não é só o investigador que influência as pessoas, pois, as pessoas também tem
influência no trabalho etnográfico, bem como, muito poder sobre o que o etnográfico vê.
Enquanto profissional é necessário contornar as relações de poder, devemos ultrapassar os
obstáculos de poder, tais como, tratamentos mais formais.
O Modelo Colaborativo também incentiva um tratamento mais informal para a
obtenção de um relacionamento de maior proximidade, sendo a intervenção no Projeto “O
Trilho” centrada no mesmo. Para a realização da intervenção centrada na abordagem
colaborativa a investigadora optou por uma postura de curiosidade cultural e estimou o
conhecimento/saber da família, foi dada importância às possibilidades e potencialidades,
trabalhando em parceria e adequando os serviços às famílias, e ainda, deixar fluir o
envolvimento nos processos de empowerment e tomar o trabalho do profissional mais útil
para as famílias. Esta abordagem segue as ideias de Madsen (2009) (in Rodrigues, 2012).
Em suma, os cinco passos para construir uma abordagem colaborativa são:
1º - Construir uma relação de confiança;
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
90
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
novo para acrescentar á descrição. Enquanto técnica utilizada na investigação, há que realçar
que os seus objetivos vão muito além da particularizada descrição de uma situação,
possibilitando o reconhecimento do sentido, a orientação e a dinâmica de cada momento
(Spradley, 1980).
A observação participante, realizada em contacto direto e frequente da investigadora
com os atores sociais nos seus contextos culturais, sendo a própria investigadora instrumento
de pesquisa, requer a necessidade de eliminar alterações subjetivas para que possa haver a
entendimento de factos e de interações entre sujeitos em observação, no seu contexto. Tal
como Bogdan & Taylor (1975), na presente investigação, caracterizou-se a observação
participante como uma investigação centrada nas interações sociais intensas, entre
investigadora e sujeitos, no meio destes, sendo um procedimento durante o qual os dados são
recolhidos de forma sistematizada. A investigadora está desde o início a ser observada, daí
também a absoluta necessidade de construir uma base de confiança e empatia indispensável a
uma desejada flexibilidade nos momentos de observação. Os diversos autores recomendam
“no entanto disciplina durante a fase de desenvolvimento da observação, realização de
sínteses na medida em que o trabalho de campo se desenvolve” (Morse, 2007: 46).
Se estamos a estudar algo e observamos que não obtemos nada de novo, devemos
mudar o objeto de estudo. Por exemplo, se estudamos algo onde estamos inseridos, devemos
distanciarmo-nos do objeto de estudo para obtermos dados novos (estranhezas). Para criar
essa distância não basta procurar as estranhezas, pois no momento seguinte (da censura),
teríamos de nos censurar a nós mesmos. Ao estudar o nosso grupo é difícil obter informação
porque é tudo muito familiar e não obtemos estranhezas.
Nunca nos devemos tornar o centro da ação, não devemos ser o centro da interação,
mas também, não devemos passar despercebidos para não sermos banalizados, e o oposto
também não é suposto alcançar, para o algo em investigação não pensar nas respostas a dar
aquando da nossa presença.
Como já vimos, o etnógrafo, faz recolha de características demográficas – Veja-se
como consta num relatório (relatório de visita domiciliária nº 16: 175) junto em anexo “(…) A
mãe do JA, tem 37 anos (02/12/1976), é solteira, possui o 4º ano de escolaridade, doméstica e
neste momento encontra-se a receber o RSI no valor de 109 euros. Tem dois filhos, um rapaz
com 11 anos (11/08/2001), institucionalizado no Lar de Infância e Juventude Via Nova e uma
rapariga com 4 anos, institucionalizada na casa da C no PR. Vive com os pais em P, sendo o
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
pai L, com 75 anos (25/11/1938), analfabeto e a mãe, T com 74 anos (06/07/1939), possuí a
3ª classe. Ambos os progenitores estão reformados (…)”. No âmbito da investigação,
recorreu-se a estatísticas para dar um retrato sumário sobre as pessoas, através da análise do
Perfil-Tipo. Em entrevistas biográficas ou entrevistas informais que se desenvolveram á
posteriori da situação problema, por exemplo numa situação em que não podemos observar, e
a informação nos chega através do relato do investigador, veja-se no relatório de diligências
nº1 (pp. 199) em anexo “A D. D referiu que o Dr. PP lhe ligou há alguns meses, que se
identificou como alguém que trabalha com o apoio à vítima no Porto, não sabendo a
progenitora explicar concretamente qual a entidade para onde trabalhava. Mencionou que o
Sr. quando liga sabe o que ela falou com o Sr. C, por exemplo, houve um dia em que o Sr. C
ligou para a D. D quando os mesmos se encontravam a passar uma temporada com a mãe, e
não pode falar com os filhos pois encontravam-se a dormir, o Sr. C não acreditou e insultou-
a afirmando querer falar com os filhos. Passado alguns minutos ligou o Dr. PP a perguntar
porque que a D. D não deixava os filhos falarem com o pai, ao qual ela explicou a situação
(…)”.
É, ainda, importante referir que o etnógrafo não deve entrar em pormenores, mas
sim, informar o estritamente necessário para o estudo. Ou seja, o foco é organização.
Enquanto investigadores as pessoas interpretam-nos e tentam encontrar equivalentes
para aquilo que estamos a fazer. Pois acabamos por ser algo estranho, fora do comum. E para
que a investigação corra dentro da normalidade é atribuído um significado comum ao
etnógrafo (estagiário, jornalista, entre outros), no caso concreto da presente investigação foi o
significado de técnica.
Em súmula, a abordagem etnográfica pode aprofundar vivamente os fenómenos
sociais e acompanhar á luz materiais suscetíveis de escorar um modelo de ação distinto do que
está subjacente na intervenção social corrente. Deste modo, novos horizontes e caminhos
serão rasgados (Silva, Sacramento, & Portela, 2011).
Considerando que uma das formas de conhecer o que sucede e porque sucede
determinado acontecimento é perguntando aos que estão inseridos na própria situação, assim
surge a entrevista, outra técnica usada no âmbito da etnografia. É nada mais que um meio
adequado para realizar uma análise construtiva de uma determinada situação e é mais
democrática do que a observação e registo no diário de campo, pois permite a participação
dos sujeitos de uma forma aberta. (Santos, 1993).
92
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
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Consultar anexo B
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
pessoa que a vivenciou. Nesse caso, o investigador não confirma a veracidade dos factos, pois
o valorizado é o ponto de vista de quem está narrando. Quanto à life history (ou estudo de
caso clínico), compreende o estudo aprofundado da vida de um indivíduo ou grupos de
indivíduos.
A presente investigação posiciona-se no que Denzin chama de life story. Esta
metodologia trabalha com a história ou o relato de vida, ou seja, a história contada por quem a
vivenciou. No relato de vida o que interessa à investigadora é o ponto de vista do sujeito, o
objetivo desse tipo de estudo é precisamente capturar e compreender a vida conforme ela é
relatada e interpretada pelo próprio ator. Por meio do relato de Histórias de Vida individuais,
podemos caraterizar a prática social de um grupo. Assim, a entrevista individual traz à luz
direta ou indiretamente uma quantidade de valores, definições e atitudes do grupo ao qual o
indivíduo pertence.
As Histórias de Vida desejam, portanto, confiscar os elementos gerais contidos nas
entrevistas das pessoas, não esquecendo, contudo, de analisar as particularidades históricas ou
psicodinâmicas. Nesse sentido, histórias de vida, por mais particulares que sejam, são sempre
relatos de práticas sociais: das formas com que o indivíduo se insere e atua no mundo e no
grupo do qual ele faz parte. Tal como se descreve na história de vida anexada (pp. 133) “D. D
e o ex. companheiro conheceram-se em Espanha nas vindimas, posteriormente foram
trabalhar numa fábrica de telha permanecendo lá quatro anos. Nessa altura nasceu o JA. A
mãe refere que este foi um filho muito desejado “queria mesmo ter um filho”. O JA nasceu de
uma gravidez planeada e de parto normal. A figura materna menciona que o filho “era um
bebé perfeito”. A criança esteve aos cuidados da mãe até um ano de idade, altura em que é
colocado numa ama com várias crianças, permanecendo lá apenas dois meses. Sendo
transferido para outra ama. D. D evidencia que nessa altura a relação com o ex.
companheiro era pautada de conflitos e insegurança mencionando que este demonstrava uma
postura de desconfiança reagindo com comportamentos agressivos. Acrescentando ainda que
devido a esses comportamentos de violência existe uma queixa na polícia em Espanha (…)”.
Assim, a elaboração da história de vida das famílias multiproblemáticas dentro do
contexto do acompanhamento social individualizado ressaltam o momento histórico vivido
pelo sujeito, tornando este método necessariamente histórico (a temporalidade contida no
relato individual remete ao tempo histórico), dinâmico (apreende as estruturas de relações
sociais e os processos de mudança) e dialéctico (teoria e prática são constantemente colocados
96
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
em confronto durante a investigação) estando esta ideia subjacente por Spindola & Santos
(2003). É através da compreensão do tipo de risco pelo qual as crianças/jovens passaram, bem
como os familiares/cuidadores que poderá ser trabalhada a adaptação à experiência de risco.
Tal como se denota na história de vida anexada (pp. 134-135) “(…) através do
discurso dos progenitores, que a figura paterna utilizava um estilo educacional permissivo.
Por outro lado, a figura materna tentava impor os castigos sendo desautorizada pelo
companheiro. Deste modo, a falta de consistência e de regras claras contribui para que as
crianças desenvolvessem um sentimento de não pertença familiar (…) atualmente a
progenitora encontra-se separada por motivo de violência doméstica (…) foi auxiliada pela
APAV, sendo recolhida para uma casa abrigo em Lisboa, porém o não cumprimento do sigilo
da estadia em Lisboa associados a falta de competências parentais foram as causas da
retirada dos menores, que antes de serem institucionalizados estiveram numa família de
acolhimento”.
O recurso à construção de Histórias de Vida demarcou-se como essencial, num
primeiro momento para a interpretação das reais dificuldades e necessidades sentidas e não
dos problemas percecionados. Foram construídas as histórias de vida das três famílias
incluídas no acompanhamento social individualizado, sendo que nas três foi possível
consciencializar as famílias para as problemáticas vivenciadas, para o tipo de risco e perigos
aos quais submeteram as crianças/jovens, identificando estratégias para colmatar estas
problemáticas, e mais importante do que identificar as problemáticas enquanto técnicos foi
poder incluir as famílias na identificação das mesmas, passando desta forma a incluir as
dificuldades sentidas por estas famílias na intervenção, não nos cingindo só ao que
percecionamos como fundamental para o progresso das famílias.
Através da sensibilização das famílias/cuidadores para o risco, mostram-se outras
alternativas para colmatar o risco, nomeadamente a adaptação ao contexto visando o superar
através de tentativa erro, como se demonstra no relatório de visita domiciliária nº23 (pp. 182)
“(…) Inicialmente foi explorado a importância de ser mãe, as suas dificuldades e o processo
construtivo de aprendizagem. De seguida iniciamos um exercício de reflexão onde pedimos a
D. D que se colocasse no papel de uma técnica da segurança social e respondesse a três
questões, sendo elas: Enquanto técnica da Segurança Social que condições acha que são
importantes para o regresso do JA e da M a casa da mãe? Deixava que os meninos
regressassem a casa quando visse o quê? Acha que os seus filhos se vão sentir bem a
97
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
16
Anexo C
17
Anexo D
18
Como por exemplo trabalhar a comunicação familiar, o cumprimento dos hábitos de higiene, entre outros.
98
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
para as entidades competentes, por exemplo a CPCJ. Se a pessoa a intervir for beneficiário do
Rendimento Social de Inserção (RSI) deverá o técnico articular o seu trabalho com as equipas
de atribuição e acompanhamento do RSI, entre outras entidades parceiras.
As dinâmicas e etapas do acompanhamento individualizado podem sistematizar-se em
etapas que implicam o recurso a várias técnicas de recolha de informação e análise das
potencialidades com a família e estão aqui diferenciadas em razão dos seus objetivos
principais. Entretanto importa sublinhar que várias etapas podem ser cumpridas usando a
mesma técnica, nomeadamente a visita domiciliária. Este instrumento permite fazer, por
exemplo, a entrevista diagnóstica e o plano de ação numa mesma visita. No entanto, em
algumas situações, dada a sua especificidade ou falta de colaboração da família, a mesma
etapa poderá implicar mais do que uma visita domiciliaria e/ou entrevista. Esta dinâmica
depende muito da capacidade de mobilização da colaboração da família.
1ª Etapa – Identificação da família/cuidador a visitar:
Antes de se proceder ao agendamento das visitas domiciliárias, a investigadora fez
um levantamento de necessidades através da análise de processos e reuniões com os gestores
de caso de cada criança/cuidador. Esta recolha permitiu averiguar quais os
familiares/cuidadores a visitar, como ainda a execução de um estudo do Perfil-Tipo19 onde foi
identificado o perfil tipo da criança/jovem institucionalizada bem como dos pais/cuidadores a
visitar. Após esta identificação foram reunidos os dados das pessoas a visitar, reportando
nomes completos, morada e contactos.
2ª Etapa – Contacto com a família/Visita domiciliária:
Nesse contacto, o técnico procura construir com a família um vínculo de confiança e
empatia para conhecer o quotidiano de vida da família, oferecer apoio através do
acompanhamento individualizado e grupal, usando para o efeito uma Abordagem
colaborativa, sendo esta abordagem explorada nas metodologias.
Assim, o técnico informa a família sobre seus direitos e deveres, convidando-a e
motivando-a a pensar sobre como garantir os seus direitos e cumprir com seus deveres,
incluindo como primordiais os direitos da criança/jovem. O técnico deve abordar de maneira
aberta, mas delicada, a situação em que a família se encontra, falando sobre a advertência
recebida, mas sempre acolhendo e argumentando que a família pode precisar de apoio e
19
Anexo E
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Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
100
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
101
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
102
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
103
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
individualizado. Dos três casos acompanhados foi possível fazer esta análise em dois dos
deles, sendo que se denotaram resultados positivos em ambos, pois permitiu a investigadora
consciencializar a família, por um lado, e reforçando a importância da construção das histórias
de vida, para as problemáticas envolventes e por outro para as alternativas para as colmatar,
adotando outras estratégias e ferramentas no desempenho das responsabilidades parentais.
Refletindo agora sobre os limites e alcances do foco central da investigação, ou seja,
o acompanhamento social individualizado propriamente dito, esta reflexão é realizada ao
longo de todo o processo, sendo no entanto após o mesmo que surgem os maiores resultados,
tais como, o cumprimento na integra da 2ª etapa, ou seja, construção do vínculo/relação
técnico-família nos três casos revelou-se fundamental para as restantes etapas, pois foi através
do mesmo que foi possível criar a relação de empatia e confiança necessária ao trabalho com
as famílias, ou seja, trabalhar as competências que estas famílias têm, desbloqueando-as e
fazendo-as perceber que as têm, dotando-as, também, de mecanismos e competências que não
detêm para fazer face às situações de crise com que se deparam durante a vida, trabalhando do
mesmo modo o aumento da sua autoestima e consequentemente a independência e
interdependência familiar, promovendo desta forma a responsabilização parental destas
famílias.
Na 3ª etapa é necessário ressalvar a importância da entrevista diagnóstica, reforçando
mais uma vez a possibilidade de averiguar as reais necessidades sentidas e não as
percecionadas. Nos três casos acompanhados mais uma vez em dois deles, surgiram
diagnósticos de outras entidades parceiras que fugiam à realidade e ao averiguado á posteriori,
por exemplo, num dos casos acompanhados, há uma avó que foi referenciada como potencial
alcoólica, onde foi mesmo acusada de ir buscar a criança com evidente cheiro vinho, constou-
se após a visita de diagnóstico que esta avó se dedica aos trabalhos agrícolas, produção de
fumeiro e vinho, encontrando-se a investigadora, desta forma, perante uma diagnóstico mal
fundamentado e averiguado, reforçando a importância do acompanhamento social
individualizado conforme se encontra delineado na presente investigação.
Poderá ser referida como uma limitação do acompanhamento social individualizado
a perda da dinâmica e interação em grupo, como por exemplo em Workshops de Formação
Parental, que foram também dinamizadas no âmbito do Projeto “O Trilho” onde a partilha de
experiências se torna enriquecedora para a aquisição de competências parentais.
104
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
105
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
observada na qualidade dos cuidados prestados pelos pais. Esta ideia é fundamentada por
Cicchetti & Toth (1992).
No caso concreto do JA, em que a relação de vinculação era deficiente com ambos os
progenitores sendo o maior contacto estabelecido com a mãe, a intervenção realizada contou
com a mudança bastante significativa por parte do mesmo, pois, aquando da
institucionalização a sua relação com as mulheres era semelhante à relação entre os
progenitores, um ambiente familiar pautado por violência doméstica, com desrespeito e mau
trato para com as mulheres, atualmente, após intervenção técnica, a criança mantém uma
benéfica relação com a mãe sendo significativamente superior o vinculo observado. Hoje o JA
respeita as mulheres em geral, não usando palavrões e mau trato como usará antigamente.
Então, se a representação que a criança tem dos pais, é de que são pessoas
disponíveis e providenciam experiências agradáveis, então tende a esperar que os outros
também estarão disponíveis e a sua acção será consistente, mantendo uma relação efetiva e
competente com outros. Na criança seguramente vinculada, a confiança que tem em si e nos
outros facilita uma relação interpessoal calorosa e de confiança com os outros.
Quanto às crianças que têm uma “vinculação insegura, estas apresentam expetativas
negativas quer relativamente a si próprias quer na confiança que depositam nos outros. As
crianças pequenas que crescem em ambientes inconsistentes e com tratamento insensível ou
dessintonizado com as suas necessidades, quer por hiper-estimulação quer por infra-
estimulação, fracassam com mais frequência na realização de tarefas evolutivas importantes
como o desenvolvimento de um apego seguro” (Reis, 2009: 119-120).
20
Anexo E
106
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
63% 51 aos 60
mais de 60
107
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
Habilitações do Pais/Cuidadores
2º ciclo
3º ciclo
72%
Verifica-se que existe apenas uma pessoa com o 3º ciclo, abrangendo no 1º ciclo
71,42% dos pais/cuidadores, e novamente apenas uma pessoa sem habilitações. É, ainda,
relevante referir que este estudo contou apenas com sete dos pais/cuidadores, sendo que esta
informação só estava disponível em sete dos processos individuais.
20%
Reformado
6,5% Trabalhador
27% Independente
6,5%
Agricultura
108
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
Sim Não
Família
54% 46%
Monoparental
Beneficia de RSI 56% 44%
109
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
Problemáticas envolventes
Abandono 6%
Abuso Sexual 6%
Falta de competências e planeamento … 19%
Carências económicas 6%
Comportamento… 22%
Negligência 8%
Maus Tratos 14%
Reclusão 6%
Cuidados básicos… 3%
Absentismo escolar 11%
Após uma vasta análise de processos e estudo de variáveis conclui-se que o Perfil-
Tipo da criança/jovem é um jovem, do género masculino, de 18 anos, institucionalização no
dia 22 de Março de 2011, sendo o pedido dirigido pela CPCJ e pelos seguintes motivos:
indisponibilidade por parte da família de acolhimento (1), falta de orientação e suporte
familiar (5), negligência (6) e por maus tratos. O jovem é o mais novo dos irmãos.
Quanto ao Perfil-Tipo dos pais/cuidadores, o encontrando foi, uma mãe com faixa
etária compreendida entre os 41 aos 50 anos, mais precisamente com 49 anos, com o 1º ciclo
110
Capítulo 5 - Justificação da metodologia e apresentação de resultados
111
Reflexões Finais
Na presente investigação foram identificados objetivos, referidos na tabela 10 (pp.
85), aos quais nos propusemos a responder, nomeadamente no âmbito da educação parental,
acompanhamento individualizado, intergeracionalidade, análise do Perfil-Tipo e análise dos
planos de intervenção.
Quanto ao percurso da educação parental nunca, como hoje, as famílias terão estado
no centro das atenções da sociedade. A relevância da mesma no contexto de crianças e jovens
institucionalizados prevê-se com especial importância na promoção junto dos pais de empatia,
compreensão e aceitação incondicional, o que permite fortalecer as abordagens parentais não
punitivas da criança. Foi a partir do momento em que a Educação Parental passou a ser
influenciada pelas perspetivas sistémicas e socioculturais que a mesma passou a dar maior
relevo na intervenção às potencialidades das famílias. Então, a importância do uso da
educação parental neste contexto passará por uma lógica de os pais aprenderem melhores
estratégias para certificam o apoio aos filhos no seu crescimento equilibrado e saudável, tendo
em conta que a parentalidade complementa divergentes componentes (cognitiva, emocional e
comportamental) e é importante ir mais além e valorizar os elementos: emocional e vivencial,
que a experiência parental encerra em si.
O acompanhamento individualizado, no contexto desta investigação, com
intervenções no campo da parentalidade que passam pela educação parental, recorrendo a
instrumentos privilegiados de apoio aos pais no desempenho das funções educativas. Este
acompanhamento deve ultrapassar a desconfiança basear-se no respeito mútuo e ter cariz
prático e acrítico, dando voz essencialmente às famílias.
Em suma, e cumprindo com o objetivo proposto, a educação parental pode ser
definida como um conjunto de experiências que potenciam nos pais um maior conhecimento e
capacidade de compreensão. Segundo o enquadramento realizado na investigação acredita-se
que uma intervenção desta natureza pode afetar positivamente a satisfação e o funcionamento
das famílias através da partilha de conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança e das
relações que fomentam a sua compreensão, gerando modelos alternativos de parentalidade
que alargam as escolhas dos pais, promovendo novas competências e facilitando o acesso aos
serviços da comunidade, sendo esta a importância da educação parental, tendo em conta que
as intervenções na educação parental devem ter sempre em consideração o momento social,
cultural e político do contexto em que se desenvolvem, o nível social, cultural e económico
114
das famílias abrangidas, a sua religião, as suas precisões idiossincráticas, percecionadas como
discrepâncias entre o estado atual e o desejável.
No âmbito do acompanhamento individualizado foi trabalhada a adaptação ao risco
por parte da família, outro objetivo de investigação identificado na tabela nº10, recorrendo a
Histórias de Vida.
As Histórias de Vida procuram, portanto, apreender os elementos gerais contidos nas
entrevistas das pessoas, não esquecendo, contudo, de analisar as particularidades históricas ou
psicodinâmicas. Nesse sentido, histórias de vida, por mais particulares que sejam, são sempre
relatos de práticas sociais: das formas com que o indivíduo se insere e atua no mundo e no
grupo do qual ele faz parte.
Assim, a elaboração da história de vida das famílias multiproblemáticas dentro do
contexto do acompanhamento social individualizado ressaltam o momento histórico vivido
pelo sujeito, tornando este método necessariamente histórico, dinâmico e dialético estando
esta ideia subjacente por Spindola & Santos (2003). É através da compreensão do tipo de
risco pelo qual as crianças/jovens passaram, bem como os familiares/cuidadores que poderá
ser trabalhada a adaptação à experiência de risco. Através da sensibilização das
famílias/cuidadores para o risco, mostram-se outras alternativas para colmatar o risco,
nomeadamente a adaptação ao contexto visando o superar através de tentativa erro.
Reportando agora o conceito de acompanhamento social, no contexto da presente
investigação, o acompanhamento social individualizado destina-se, prioritariamente, a
famílias que não cumpriram com os cuidados básicos necessários ao desenvolvimento das
crianças/jovens, visando criar condições para que venham a cumpri-las e potencializar a
família para a autonomia. Como ainda, família que em outras instâncias de atendimento,
demonstraram a necessidade de apoio individualizado para o enfrentamento de
vulnerabilidades, visando a sua autonomia.
No acompanhamento individualizado o interveniente deve valorizar as famílias em
sua diversidade, valores, cultura, história, demandas e potencialidades. Elaborar uma
construção metodológica que responda à diversidade sociocultural de cada território.
Favorecer a participação da família em propostas para o seu processo de inclusão social e de
mudanças e melhorias esperadas, na transformação das relações intrafamiliares e sociais.
Construir, em conjunto com as famílias, a compreensão da realidade na qual estão inseridas e
planos de ação que concretizem os projetos de vida. Fortalecer a família na sua função de
115
proteção e socialização. Valorizar e estimular a participação no trabalho social, das figuras
materna e paterna, admitindo a igualdade constitucional de direitos e responsabilidades,
enaltecer e consolidar os vínculos familiares e sociais, tomar o grupo familiar como
referência, valorizar a relação entre gerações, a sua convivência e trocas afetivas e simbólicas,
valorizar e fortificar a cultura do diálogo e dos direitos, lutando contra as formas de violência,
discriminação e estigmatização social (Amorim, Koshima & Xavier, 2007), ou seja, trabalhar
o empowerment e a capacitação das famílias.
Quanto à valorização, responsabilização e a individualização das famílias no
desenvolvimento dos fatores de proteção, desenvolvendo competências parentais de
vinculação, é neste desenvolvimento de competências que a criança/jovem desenvolve fatores
de proteção. Os filhos e os progenitores formam um todo sobre o qual devem incidir a
avaliação e o esforço terapêutico, então a intervenção deve surgir no sentido de promover a
responsabilidade parental para a importância do vínculo e o efeito do mesmo nas
crianças/jovens.
Então, se a representação que a criança tem dos pais, é de que são pessoas
disponíveis e providenciam experiências agradáveis, então tende a esperar que os outros
também estarão disponíveis e a sua ação será consistente, mantendo uma relação efetiva e
competente com outros. Na criança seguramente vinculada, a confiança que tem em si e nos
outros facilita uma relação interpessoal calorosa e de confiança com os outros.
Quanto às crianças que têm uma vinculação insegura, estas apresentam expetativas
negativas quer relativamente a si próprias quer na confiança que depositam nos outros. As
crianças pequenas que crescem em ambientes inconsistentes e com tratamento insensível ou
dessintonizado com as suas necessidades, quer por hiper-estimulação quer por
infraestimulação, fracassam com mais frequência na realização de tarefas evolutivas
importantes como o desenvolvimento de um apego seguro.
Na análise do Perfil-Tipo das crianças e dos respetivos pais/cuidadores, este objetivo
foi o primeiro a ser cumprido tendo em conta que foi a partir do mesmo que se reuniram as
informações necessária para partir para o terreno.
Surgiu para uma melhor preparação da investigadora para o trabalho de campo,
obtendo o conhecimento necessário sobre quais as famílias que iria encontrar e quais as
estratégias a adotar de acordo com os mesmos, refletindo a diversidade destas famílias.
116
Após uma vasta análise de processos e estudo de variáveis conclui-se que o Perfil-
Tipo da criança/jovem é um jovem, do género masculino, de 18 anos, institucionalização no
dia 22 de Março de 2011, sendo o pedido dirigido pela CPCJ e pelos seguintes motivos:
indisponibilidade por parte da família de acolhimento (1), falta de orientação e suporte
familiar (5), negligência (6) e por maus tratos. O jovem é o mais novo dos irmãos.
Quanto ao Perfil-Tipo dos pais/cuidadores, o encontrando foi, a mãe com faixa etária
compreendida entre os 41 aos 50 anos, mais precisamente com 49 anos, com o 1º ciclo de
habilitações escolares, desempregada ou doméstica, com rendimentos entre os 401€ a 600€,
residente na freguesia de Alijó ou Vila Pouca de Aguiar, distrito de Vila Real. A mãe e o
jovem formam uma família monoparental sendo a progenitora beneficiadora do RSI.
As problemáticas a trabalhar na família-tipo são a falta de competências da
progenitora, nomeadamente no planeamento familiar, o comportamento aditivo (consumos de
álcool e/ou drogas), os maus tratos e o absentismo escolar.
A questão da intergeracionalidade surge num contexto de crise financeira
internacional e de redefinição do Estado Social, apontando para o envolvimento da família
através das várias gerações no projeto de vida dos descendentes. Surge, ainda, numa altura em
que o afastamento das várias gerações é cada vez maior devido a alterações da dinâmica
familiar. Muitos jovens e crianças não conhecem os seus avós, ou têm pouca convivência com
eles. De uma maneira geral o contacto entre os mais novos e os mais velhos é limitado, o que
leva a uma representação negativa e a um evitamento gradual dos aspectos relacionados com
o envelhecimento.
Os benefícios para ambos os grupos geracionais são grandes, sendo que para as
crianças e jovens, o acréscimo do interesse pela aprendizagem, saber e conhecimento, através
do convívio informal e a melhoria do relacionamento com os mais velhos, seus parentes ou
não, são exemplos de vantagens no contacto intergeracional.
O foco central da investigação foi a intervenção, mais propriamente o
acompanhamento social individualizado, onde se concluiu que o acréscimo da eficácia da
mesma em contexto institucional com as crianças/jovens e com as respetivas
famílias/cuidadores, passa, numa primeira etapa, por um afastamento do papel projetado por
ambas as partes na instituição, sendo esta a representante dos ‘maus’ que atuaram na
separação. Verificando-se essencial, tanto para com a criança/jovem, como com a
família/cuidadores, um novo posicionamento daqueles que deverão ajudar – os técnicos. Isto
117
só se verificará no caso de existir o desejo de ambas as partes para uma reintegração familiar,
e aí a instituição deverá posicionar-se como quem vai auxiliar e assumir o papel de “costura”,
ao invés de promover a clivagem. Esta atitude irá abrir espaço para uma maior
permeabilidade, tanto da criança/jovem como da família/cuidador, para uma intervenção
técnica. Este objetivo de eficácia para a intervenção foi cumprido com alguma facilidade no
âmbito do Projeto “O Trilho” sendo que a equipa que estrutura o projeto é diferente da equipa
enquadrada na instituição enquanto lar residencial, sendo o acesso a família exclusivo por
motivos revistos como positivos por parte dos mesmos, tais como, dota-los de ferramentas
para o regresso dos filhos a casa, o aumento do laço afetivo, entre outros.
Assumimos como relevante o dever das famílias no envolvimento no processo de
crescimento da criança/jovem, pois, não compete ao sistema de proteção acolher durante
período indeterminados de tempo, mas pelo contrário fomentar o regresso à família de origem
e, nos casos em que isso não se verifique possível, a integração em famílias de adoção.
No entanto, primeiramente, para que a família possa reintegrar os seus menores, e de
acordo com a perspetiva de Pacheco (2010) devem adquirir as ‘tão referidas’ aptidões e
capacidades, que a torne um padrão de referência comportamental e relacional para os
mesmos. Assim, a institucionalização pode ser convertida numa potencialidade, isto no caso
do Projeto “O Trilho”, onde existem técnicos, que a família dispõe, para lhes proporcionar
oportunidades de desenvolvimento. A institucionalização ou atualmente designada de
Acolhimento Residencial é uma Medida de Promoção e Proteção da criança/jovem, dentro das
diversas existentes21, sendo esta usada, teoricamente, em último recurso. Esta medida consiste
na colocação da criança/jovem aos cuidados de uma entidade que disponha de instalações e
apetrechamento de acolhimento contínuo e de uma equipa técnica que lhes garantam os
cuidados apropriados às suas necessidades e lhes facilitem condições que permitam a sua
educação, bem estar e desenvolvimento integral. E é imprescindível para a garantia dos
direitos das crianças e jovens, mas esta deve ser acompanhada em simultâneo por outras
medidas de promoção e valorização das competências pessoais, sociais, educativas e
psicológicas, quer do jovem quer da família, tendo sempre em linha de horizonte a
desinstitualização. Foi dentro desta lógica que surgiu o Projeto “O Trilho” e
consequentemente a presente investigação
21
Medidas de Promoção e Proteção da Criança/Jovem: Apoio junto dos pais; Apoio junto de outro familiar;
Confiança a pessoa idónea; Apoio para autonomia de vida; Acolhimento familiar; Acolhimento institucional.
118
As crianças/jovens institucionalizadas na Associação Via Nova, passaram por
processos complicados e mudanças drásticas ao longo da vida, uma delas é a
institucionalização. A entrada de uma criança/jovem no LIJ é, sem dúvida, uma mudança
drástica, muitas vezes torna-se mesmo uma aprendizagem total de hábitos, comportamentos,
atitudes e formas de pensar. A organização familiar a que estavam habituados ‘cai por terra’ e
a mudança organizacional é de imediato imposta. A vida da criança/jovem passa a fazer parte
da instituição e da sua organização enquanto tal. A perda da identidade é uma consequência
imediata da organização estrutural.
O acolhimento institucional deverá ser pensado em três momentos: 1º o antes da
institucionalização, o 2º o acolhimento institucional e o 3º a saída da instituição. A
investigação levada a cabo, tal como já foi refeirdo, inseriu-se no 2º e 3º momento.
Segundo Loureiro (2011) o motivo da retirada de uma criança/jovem à família sendo
que, é usada como medida extrema e única de recurso, tem o ónus desorganizador e
intoxicante para a criança, ao recair sobre ela a culpabilidade da problemática familiar. Pois,
ela é retirada do seu meio ambiente e, agravando a situação, a família continua na sua vida e
no seu meio, às vezes com outros filhos, que se mantém no seio familiar, tornando para a
criança/jovem institucionalizada a confirmação da crença que algo de errado se passa com ela,
pois ela vê os seus irmãos em casa que, teoricamente, também estariam em perigo, e isto
afetará a autoestima da criança/jovem. No âmbito da investigação passou pela mesma um
caso que relata a linha de Loureiro (2011), uma das crianças passou pelo processo de retirada
após sofrer abuso sexual por parte do irmão. O facto de ele sofrer a retirada e o irmão
continuar no contexto, sendo o irmão o abusador, trás repercussões muito negativas para a
criança, como ainda um entendimento errado da violência pelo qual passou, passando as
culpas do sucedido para o próprio.
No contexto da investigação, nomeadamente no acompanhamento social
individualizado, foi importante trabalhar as competências que estas famílias têm,
desbloqueando-as e fazendo-as perceber que as têm, dotando-as, também, de mecanismos e
competências que não detêm para fazer face às situações de crise com que se deparam durante
a vida, trabalhando do mesmo modo o aumento da sua autoestima e consequentemente a
independência e interdependência familiar, promovendo desta forma a responsabilização
parental destas famílias, que como já foi explorado designadas de família multiproblemáticas.
119
A designação negativa (multiproblemáticas) não se resume apenas a uma designação,
mas sim a famílias que de certa forma não têm formação parental suficiente devido à ausência
de modelos e de competências pessoais e sociais, que coloca as crianças/jovens expostas a
fatores de risco, que nestas famílias se sobressaem ao nível da negligência das práticas
parentais ou maus tratos.
Tornou-se, então, fundamental dotar estas famílias quer ao nível de conhecimentos
básicos, quer no domínio da gestão familiar para aplicação no seu quotidiano, para que
consigam utilizar estratégias para saírem do ciclo de pobreza/disfunção e equilibrar a vida
familiar nas suas diferentes vertentes. Tal como referido no capítulo 2, a intervenção no
acompanhamento social das famílias multiproblemáticas deverá centrar-se, ao nível do
funcionamento familiar, na comunicação, organização familiar, história e ciclo de vida,
economia, redes sociais e o funcionamento parental.
Constou-se, com a presente investigação que nos dias de hoje e apesar de tudo, existe
cada vez mais, uma maior consciência do valor das crianças. De facto esta é uma época onde
se verifica grande interesse, curiosidade e importância pelas crianças, sendo possível
identificar preocupações a nível psicológico, emocional e social procurando acompanhar
crianças vítimas de maus tratos, com necessidades especiais, portadoras de deficiência,
institucionalizadas, entre outras. Contudo, se existe a necessidade de acompanhamento é
porque ainda há quem trate as crianças de forma menos positiva. É, assim, possível perceber
que, por muito que as sociedades evoluam, existirá sempre quem julgue que de facto as
crianças são ‘o melhor do mundo’ e quem ache que esta afirmação é uma utopia.
A intervenção posta em prática baseou-se fundamentalmente no Modelo
Colaborativo, sendo que segundo Asay & Lambert (2000), no ‘Modelo dos 4 Fatores’, o
sucesso da intervenção passa em 40% por ‘fatores do cliente’, ou seja, tudo o que diz respeito
ao cliente, em 30% por ‘fatores da relação’, ou seja, o tipo de relação estabelecida entre o
profissional e as famílias/cuidadores, 15% pela ‘esperança e expetativas positivas’, sendo
estas o que necessitam de mais tempo por parte do profissional traduzindo-se na capacidade
de transmitir que a mudança é possível, e por último, 15% pelos ‘Modelos e técnicas’
aplicadas.
A prática do profissional com base no Modelo Tradicional atribuirá 17% aos ‘fatores
do cliente’, 11% ‘fatores da relação’, 4,5% a ‘esperança e expetativas positivas’ e 67,5% aos
120
‘modelos e técnicas’, que segundo os autores mencionados será meio caminho andado para o
insucesso da intervenção.
São apontadas como principais conclusões da presente investigação, o facto de ser
preciso trabalhar as famílias para potencializar as hipóteses de responsabilidade parental e a
intergeracionalidade, bem como as abordagens de intervenção próximas do formato reportado
são tendencialmente eficazes, em especial a intervenção com base na abordagem colaborativa.
De seguida e em suma a investigadora apresenta um resumo de algumas propostas
para o acompanhamento social individualizado com famílias multiproblemáticas que
proporcionem a responsabilidade parental e a intergeracionalidade:
Descrever objetivos claros e ‘com sentido’ para estas famílias, para que desta forma
nos façamos munir por um instrumento de apoio à clarificação dos objetivos;
No Plano de Intervenção Familiar deverá constar a informação principal sobre a
família, bem como, um histórico detalhado do tipo e quantidade de envolvimento com
os serviços: como surgiram, os problemas que advieram, quem interveio, o que está a
ser feito, outros profissionais envolvidos, etc;
Decidir quais os momentos de avaliação no procedimento de intervenção em conjunto
com as famílias, envolvendo-a na decisão e avaliação da intervenção;
Enquanto Técnicos de Serviço Social é necessário designar uma relação de ajuda e de
empatia com a família/cuidador, ser flexível e polivalente;
Devemos, ainda, estar desimpedidos e conversar com a família e com outros
profissionais;
Ter expetativas realistas sobre os progressos das famílias e transmitir uma mensagem
positiva e de esperança;
Os planos de intervenção devem respeitar o tempo e as caraterísticas das famílias;
As intervenções de maior proximidade, tais como as visitas domiciliárias, permitem
determinar uma relação mais empática, perceber melhor as pessoas e compreender
quais as suas necessidades. Neste âmbito, o trabalho do técnico é reconhecido pelas
próprias famílias;
Investir na prevenção e estar disponível para apoiar as famílias:
Exibir sempre que possível um discurso positivo e centralizado nas competências das
famílias;
Pontuar e reforçar as competências das famílias;
121
Promover a qualidade nos atendimentos;
Adotar uma postura colaborativa, dotada de maior clareza, negociação e tomada de
decisões partilhada;
Estabelecimento de um consentimento para a intervenção que vincula a família ao
sistema de intervenção, desenvolvendo o compromisso dos profissionais com a família
que possibilita maior transparência;
O investimento na formação contínua da equipa técnica;
A elaboração de reuniões conjuntas e regulares entre parceiros que fomente o trabalho
em rede e aumente o envolvimento;
Usufruir da comunidade, ativando-a, para se envolver no apoio às famílias
multiproblemáticas.
122
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131
Pedroso, J., & Fonseca, G. (1999). A justiça de menores entre o risco e o crime: uma
passagem...para que margem. Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 55, 131-165;
Quintãns, C. (2009). Era uma vez a Instituição onde eu cresci: Narrativas de adultos sobre
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Psicologia Clínica. ISPA;
132
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133
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Universidade Católica Portuguesa;
Wolcott, I. (1993). A Matter of Give and Take: Small Business Views of Work and Family.
Monografia nº15. Melbourne: Australian Institute of Family Studies;
Legislação:
134
Anexo A
138
X1 – Refira o nome das pessoas ou instituições significativas na sua vida. Use o tipo de identificação que desejar
X2 – Refira a idade (idade aproximada caso não saiba a idade correta), grau de escolaridade, profissão, ocupação ou situação face ao trabalho de
cada elemento
X4 – 1. Diariamente 2. Algumas vezes por semana 3. Semanalmente 4. Uma ou mais vezes por mês 5. Algumas vezes por ano
X5 – 1. Na mesma casa 2. No mesmo bairro 3. Na mesma terra ou localidade 4. Até 50 km (aproximadamente) 5. A mais de 50 km
(aproximadamente)
X14 – Assinale a frequência com que se zanga, chateia ou discute com cada elemento identificado: 1. Nunca 2. Raramente 3. Algumas vezes 4.
Muitas vezes 5. Sempre
X15 – Como caracteriza a sua relação com cada pessoa assinalada: 1. Nada intima 2. Pouco intima 3. Mais ou menos intima 4. Muito intima 5.
Muitíssimo intima
X16 – Refira o apoio que dá ou que não dá a cada uma das pessoas assinaladas: 1. Nenhum 2. Algum 3. Muito
O Técnico _______________________________________
Data: _____/_____/_____
139
Anexo B
História de Vida
D. D e o ex. companheiro conheceram-se em Espanha nas vindimas, posteriormente
foram trabalhar numa fábrica de telha permanecendo lá quatro anos. Nessa altura nasceu o JA.
A mãe refere que este foi um filho muito desejado “queria mesmo ter um filho”. O JA nasceu
de uma gravidez planeada e de parto normal. A figura materna menciona que o filho “era um
bebé perfeito”. A criança esteve aos cuidados da mãe até um ano de idade, altura em que é
colocado numa ama com várias crianças, permanecendo lá apenas dois meses. Sendo
transferido para outra ama. D. D evidencia que nessa altura a relação com o ex. companheiro
era pautada de conflitos e insegurança mencionando que este demonstrava uma postura de
desconfiança reagindo com comportamentos agressivos. Acrescentando ainda que devido a
esses comportamentos de violência existe uma queixa na polícia em Espanha.
Quando o JA perfez os três anos de idade alojaram-se em CJ ficando a viver numa
casa ao lado da avó paterna da criança, habitação pertencente à companhia mineira, cedida
pela Junta de Freguesia. Nessa altura, faleceu o sogro da D. D, sendo mencionado que este se
encontrava numa cadeira de rodas. Ainda durante os três anos de JÁ a progenitora foi
trabalhar para umas estufas em Q, ficando o menor aos cuidados do pai e de uma prima
paterna.
Quando o JA tinha aproximadamente seis anos a mãe ficou grávida da M. Aos três
meses de gestação a progenitora foi trabalhar na “apanha da folha” para a Suiça, na zona de L,
durante um mês. A figura materna evidenciou que tal como o irmão a filha foi desejada.
O relacionamento conjugal instável e pautado de agressividade foi enfatizado a partir de
Agosto de 2011. A salientar que após a separação com o pai dos seus filhos, D. D teve um
relacionamento afetivo com um parceiro que não correu de forma positiva, sendo que foi
roubada e abandona.
D. D tem 37 anos, nasceu a 02/12/1976, é solteira, possui o 4º ano de escolaridade e
é doméstica. Tem dois filhos, um rapaz com 11 anos, o JA (11/08/2001), institucionalizado no
Lar de Infância e Juventude (LIJ) Via Nova e uma rapariga com 4 anos, a M,
institucionalizada na Casa da C no PR. É a mais nova de uma fratria de 7 irmãos, sendo dois
rapazes e cinco raparigas. D apresenta uma atitude interessada e empenhada relativamente a
todo o processo de reintegração das crianças no seio familiar. Poderão, ainda, ser alvo de
intervenção os avós das crianças, sendo que a progenitora reside com os mesmos. A figura
materna mostrou interesse na reintegração das crianças à família, especificamente aos seus
142
cuidados. Embora em tempos tenham sido denotadas lacunas nas práticas educativas, esta
figura apresenta grande recetividade à mudança e à aprendizagem.
Denotou-se, através do discurso dos progenitores, que a figura paterna utilizava um
estilo educacional permissivo. Por outro lado, a figura materna tentava impor os castigos
sendo desautorizada pelo companheiro. Deste modo, a falta de consistência e de regras claras
contribui para que as crianças desenvolvessem um sentimento de não pertença familiar.
Atualmente a progenitora encontra-se separada por motivo de violência doméstica.
Neste momento é beneficiária do RSI, encontrando-se a receber o valor mensal de 178 euros,
em vez dos 109 que recebia anteriormente. Vive com os pais em P, sendo o pai L, com 75
anos (25/11/1938), analfabeto e a mãe, T, com 74 anos (06/07/1939) possui a 3ª classe.
Ambos os progenitores estão reformados. A habitação está localizada num bairro social,
sendo o custo do aluguer de 22 euros mensais. É constituída por uma cozinha, três quartos,
duas salas e uma casa de banho. Sendo munida com instalação sanitária, sistema de esgotos,
água canalizada e eletricidade, telefone fixo, televisão com TDT. A progenitora tem acesso à
internet, proporcionado com um dispositivo móvel (pen). Um dos quartos é constituído por
duas camas de ferro encontrando-se desocupado. O quarto do casal é constituído por uma
cama, duas mesinhas de cabeceiras e um roupeiro. O quarto da mãe do JA tem uma cama,
uma mesinha de cabeceira e um roupeiro. Uma sala é simples contendo um sofá, uma mesa de
centro, uma arca congeladora e um baú, na outra sala encontrava-se uma mesa com 4
cadeiras, um baú, um aparador, cristaleira. A cozinha é constituída por uma mesa e cadeiras,
lava louça, fogão a gás, microondas e frigorífico. Uma casa de banho constituída por, polibã,
sanita, lavatório e máquina de lavar roupa, denotando-se manchas de humidade.
A família tem como despesas mensais fixas a água, luz e duas botijas de gás, com o
montante aproximado de 100 euros. Para além da despesa do lar, a D. D referiu que a mãe
gasta em medicação cerca de 40 euros de quinze em quinze dias. Tomando Sinuastatinabas
(20mg) para o colesterol, Nebivolor atavis (5mg), Diamicrom LM (30mg), Velmetia (50mg),
Olsar Plus (20 mg). A mãe do JA acrescenta ainda, que o pai não toma a medicação prescrita
pelos médicos, porque quer beber à vontade, alegando que este é alcoólico.
D. D apresenta uma aparência limpa e cuidada, um discurso coerente e lógico,
contacto ocular frequente e facilidade em manter contacto interpessoal, no entanto denotam-se
algumas falhas de memória, em assuntos de maior emotividade. Fato associado à instabilidade
143
da dinâmica relacional. Relativamente à saúde física apresenta debilidade ao nível da
dentição.
A D. Domitília e o companheiro beneficiaram do RSI desde maio de 2010, sendo
acompanhados pela equipa do RSI de VPA. A salientar, que em Julho 2010 D. D participou
numa acção de sensibilização na área da saúde. Foi auxiliada pela APAV, sendo recolhida
para uma casa abrigo em Lisboa, porém o não cumprimento do sigilo da estadia em Lisboa
associados a falta de competências parentais foram as causas da retirada dos menores, que
antes de serem institucionalizados estiveram numa família de acolhimento.
144
Anexo C
Plano de Intervenção nº _
1. Identificação do Projeto:
1.1. Nome: Projeto “ O Trilho”
1.2. Objetivo
1.3. Sede: Casa da Música da Associação de Solidariedade Social Via Nova
1.4. A quem se destina
1.5. Período de Execução
2. Identificação da Criança/Jovem:
2.1. Nome e Idade
2.2. Data da entrada na instituição e motivo
2.3. Escolaridade
2.4. Problemáticas envolventes
4. História Familiar:
Fazer um breve resumo sobre a história familiar incluindo pontos como:
- Formação do casal;
- Falecimento e ruturas;
- Nascimento dos filhos;
- Situações de crise;
- Outras situações de perigo e risco;
- Outros aspetos mais significativos.
148
6. Caracterização da criança/jovem:
Fazer uma breve caracterização da criança, identificando pontos, tai como:
- Idade;
- Vulnerabilidade;
- Desenvolvimento evolutivo;
- Saúde física e mental;
- Características comportamentais;
- Adaptação;
- Tipo de vinculação (família/cuidador);
- Descrever o percurso escolar (absentismo, retenções, rendimento problemas de atraso e disciplina)
- Descrever percurso laboral ou pré-laboral, contratos, rendimentos, entre outros.
8. Competências parentais:
Identificar as competências mais fortes e menos fortes, para conhecer e satisfazer as necessidades da
criança, expectativas, práticas e disciplina.
9. Situação socioeconómica:
Identificar:
- Rendimentos;
- Situação laboral;
- Características da habitação;
- Tipo de bairro;
- Nível educativo/cultural;
- Apoios sociais;
- Relação com a vizinhança, família alargada e relação conjugal.
149
Intervenção e medidas de apoio já aplicadas à criança. Se existirem, identificar os objetivos da
intervenção e os resultados obtidos.
13. Intervenção:
Identificar o tipo de intervenção e acompanhamento a por em prática.
15. Responsabilidade:
15.1. Enunciar a responsabilidade da instituição;
15.2. Enunciar a responsabilidade da criança/jovem.
16. Atividade:
Identificar as atividades a desenvolver relacionando-as com a problemática e os objetivos pretendidos.
18. Orçamento:
Fazer um levantamento de necessidades, enunciando os recursos necessários e possíveis handicaps.
150
19. Avaliação do Plano de Intervenção:
Enunciar os instrumentos a aplicar para avaliar e qualificar o êxito da intervenção.
20. Cronograma:
Planificar a intervenção (mapa com datas)
21. Assinaturas:
O Técnico __________________________________________________
Data: _____/_____/_____
A criança/jovem_____________________________________________
Data: _____/_____/_____
151
Anexo D
Plano de Intervenção nº _
1. Identificação do Projeto:
1.1. Nome: Projeto “ O Trilho”;
1.2. Objetivo;
1.3. Sede: Casa da Música da Associação de Solidariedade Social Via Nova;
1.4. A quem se destina;
1.5. Período de Execução.
2. Identificação da família/cuidador:
2.1. Nome e Idade;
2.2. Escolaridade;
2.3. Morada;
2.4. Contactos.
Ou desenhar o genograma
4. História Familiar:
Fazer um breve resumo sobre a história familiar incluindo pontos como:
- Formação do casal e dos pais de cada elemento do agregado;
- Falecimento e ruturas;
- Nascimento dos filhos;
- Situações de crise;
- Outras situações de perigo e risco;
- Outros aspetos mais significativos.
5. Qualificação do risco:
Identificar o tipo de mau trato, abandono ou negligência, dando exemplos concretos. Analisar a
consciência da família/cuidador em relação às problemáticas envolventes e ao motivo da retirada do
menor.
154
identificando pontos, tais como:
- Idade;
- Vulnerabilidade;
- Desenvolvimento evolutivo;
- Saúde física e mental;
- Características comportamentais;
- Tipo de vinculação (família/cuidador);
- Descrever o percurso escolar (absentismo, retenções, rendimento problemas de atraso e disciplina)
- Descrever percurso laboral ou pré-laboral, contratos, rendimentos, entre outros;
- Identificar as capacidades de saúde mental e física;
- Capacidades intelectuais;
- Comportamentos aditivos, anti-sociais, violentos, entre outros;
- Modelos de Educação;
- História familiar.
7. Competências parentais:
Identificar as competências mais fortes e menos fortes, para conhecer e satisfazer as necessidades da
criança, expectativas, práticas e disciplina.
8. Situação socioeconómica:
Identificar:
- Rendimentos;
- Situação laboral;
- Características da habitação;
- Tipo de bairro;
- Nível educativo/cultural;
- Apoios sociais;
- Relação com a vizinhança, família alargada e relação conjugal.
9. Atuações/Intervenções Realizadas:
Intervenção e medidas de apoio já aplicadas à criança e aos respectivos pais. Se existirem, identificar
os objetivos da intervenção e os resultados obtidos.
155
Enunciar os testes e avaliações psicológicas realizadas, identificando as considerações finais.
12. Intervenção:
Identificar o tipo de intervenção e acompanhamento a por em prática.
14. Responsabilidade:
14.1. Enunciar a responsabilidade da instituição;
14.2. Enunciar a responsabilidade da família/cuidadores.
15. Atividade:
Identificar as atividades a desenvolver relacionando-as com a problemática e os objetivos pretendidos.
17. Orçamento:
Fazer um levantamento de necessidades, enunciando os recursos necessários e possíveis handicaps.
19. Cronograma:
Planificar a intervenção (mapa com datas).
20. Assinaturas:
O Técnico __________________________________________________
Data: _____/_____/_____
A família/cuidador______________________________________________
Data: _____/_____/_____
156
Anexo E
Análise do Perfil-Tipo
As variáveis identificadas no âmbito da intervenção com as crianças/jovens em risco e os
respetivos pais/cuidadores são:
160
Descodificando, neste momento, as variáveis identificadas:
161
Variável Identificação da variável (família/cuidadores) Descodificação da variável
F1 Número de pessoas a intervencionar Variável identificada
F2 Grau de parentesco em relação a criança/jovem em risco 1- Mãe; 2- Pai; 3- Família de Acolhimento; 4- Avó;
5- Padrinhos; 6- Tios
F3 Género dos pais/cuidadores F- feminino; M- masculino
F4 Faixa etária dos pais/cuidadores Cálculo da moda, média e %
F5 Habilitações escolares dos pais/cuidadores Cálculo da moda, média e %
F6 Ocupação dos pais/cuidadores Cálculo da moda, média e %
F7 Rendimentos dos pais/cuidadores 1- Sem rendimentos; 2- até 200€; 3- 201€ até 400€; 4- 401€ até 600€; 5- 601€
até 800€; 6- + 800€
F8 Despesas fixas dos pais/cuidadores 1- Até 200€; 2- 201€ até 400€; 3- + de 400€
F9 Freguesia de residência dos pais/cuidadores Cálculo da moda, média e %
F10 Distrito de residência dos pais/cuidadores 1- Vila Real; 2- Outros. Com cálculo da moda, média e %
F11 Contexto habitacional dos pais/cuidadores 1- Zona rural; 2- Zona urbana; Br. Social (Sim/Não)
F12 Número total de filhos dos pais/cuidadores Cálculo da moda, média e %
F13 Os pais/cuidadores constituem uma família monoparental 1- Sim; 2-Não. Cálculo da moda, média e %
F14 Os pais/cuidadores beneficiam de RSI 1- Sim; 2-Não. Cálculo da moda, média e %
F15 Problemáticas envolventes da criança/jovem e respetivos 1- Absentismo escolar; 2- Cuidados básicos/essenciais; 3- Reclusão; 4- Maus
pais/cuidadores tratos; 5- Negligência; 6- Consumos aditivos; 7- Carências económicas; 8-
Dificuldades no planeamento familiar.
Tabela 4: Descodificação das variáveis de intervenção com as famílias/cuidadores
162
1. Identificação das variáveis correspondentes às crianças/jovens em risco:
163
Ano: Total: Percentagem:
2004 1 5,50% A moda na data de institucionalização é o dia
2005 2 11% 22 de Março de 2011.
2008 2 11% Verificou-se, ainda, que a maioria das
2009 4 22% crianças/menores institucionalizados entraram
em 2011, seguindo-se o ano 2009. O seguinte
2010 1 5,50%
gráfico transcreve a informação obtida.
2011 5 28%
2012 3 17%
Tabela 7: Nº de crianças/jovens institucionalizado, por
ano
17% 11%
11%
28%
22%
5,5%
2004 2005 2008 2009 2010 2011 2012
164
1.4. Estudo da variável “Faixa etária da criança/jovem em risco” (C5)”:
Na análise da faixa etária verificou-se que a moda são os jovens com 18 anos,
atingindo 23% do total de crianças/jovens institucionalizados, sendo a média de idades
15,38889.
165
Habilitações das crianças/jovens
6% 3º ano
6% 11%
5º ano
6º ano
22% 7º ano
33% 8º ano
9º ano
11º ano
11% 5% 12º ano
6%
Nº de Posicionamento Codificação
menores
1 4º de 4 2
2 1º de 2 1
Legenda:
3 1º de 3 1
1- Irmão mais velho
4 2º de 3 3 2- Irmão mais novo
5 2º de 2 2 3- A meio da frota
6 1º de 2 1 4- Filho único
7 3º de 4 3
8 3º de 3 2
9 2º de 2 2
10 2º de 2 2
11 Filho único 4
- Moda: 2
Tabela 9: recolha de dados “posicionamento da
criança/jovem na frota”
166
Posicionamento na frota da criança/ menor
9%
27% irmão + velho
18%
irmão + novo
meio da frota
filho único
46%
Entidade: Nº de vezes %
Segurança Social 6 30%
Tribunal Judicial 4 20%
CPCJ 9 45%
Outras entidades 1 5%
Tabela 10: Recolha de dados “Entidade que dirigiu o pedido de entrada na instituição”
Segurança Social
30%
Tribunal Judicial
45% CPCJ
167
Na análise do “pedido de entrada na instituição dirigida por”, constatou-se que o maior
volume de pedidos dirige-se das CPCJ, com 45% no total dos pedidos, seguindo-se a
segurança social com 30%, os Tribunais com 20% e por fim, as outras entidades, que foi neste
caso concreto outra LIJ e foi apenas um pedido.
168
2.2. Estudo da variável “Grau de parentesco dos pais/cuidadores em relação á
criança/jovem” (F2):
Nº total Percentagem
1-Mãe 6 33%
2-Pai 2 11%
3-F.A - -
4-Avós 2 11%
5-Padrinhos 2 11%
6-Tios 1 6%
7-Ambos 5 28%
progenitores
18 100%
Tabela 12: Recolha de dados “Grau de parentesco dos pais/cuidadores”
1-Mãe
28% 2-Pai
33%
4- Avós
5- Padrinhos
6%
6- Tios
11% 11%
7- Ambos os progenitores
11%
169
2.4. Estudo da variável “Faixa etária dos pais/cuidadores” (F4):
12% 6%
20 aos 30
31 aos 40
19%
41 aos 50
51 aos 60
63% mais de 60
1º Ciclo 5 71,42%
2º Ciclo 0 0%
3º Ciclo 1 14,28%
Ensino Secundário 0 0%
170
O estudo das habilitações académicas dos pais/cuidadores permitiu averiguar que a
população a intervencionar possui no geral baixa escolaridade, existindo apenas 1 pessoa
com o 3º ciclo, abrangendo no 1º ciclo 71,42% dos pais/cuidadores, e novamente apenas
1 pessoa sem habilitações. É, ainda, relevante referir que este estudo contou apenas com
7 dos pais/cuidadores.
Habilitações do Pais/Cuidadores
0%
1º ciclo
2º ciclo
3º ciclo
72%
Reformado
20%
Trabalhador
Independente
6,5% Agricultura
27%
6,5%
Pedreiro
171
Quanto á ocupação dos pais/cuidadores, a maioria são desempregados e domésticas,
com o valor de 27% em cada uma das ocupações, seguindo-se a agricultura com 20%.
A desocupação dos pais/cuidadores transmite disponibilidade por parte dos mesmos,
para as visitas domiciliárias.
Ocupação Nº total Percentagem
Doméstico(a) 4 27%
Desempregado(a) 4 27%
Reformado(a) 1 6,5%
Trabalhador(a) 1 6,5%
Independente
Agricultor(a) 3 20%
Pedreiro(a) 1 6,5%
Copeiro(a) 1 6,5%
Total 15 100%
172
Dos 8 pais/cuidadores incluídos neste estudo, a maioria revela terem formas de
subsistência com rendimentos entre os 401€ e os 600€, atingindo este intervalo 62,50% dos
pais/cuidadores.
Não se prevê a análise desta variável por só existirem dados de dois pais/cuidadores.
Freguesia Nº total %
Alijó 3 17%
V. P. Aguiar 3 17%
P. Régua 1 6%
Stª M. Penaguião 1 6%
Chaves 2 12%
Lordelo 1 6%
Constantim 1 6%
Ramadas 1 6%
Abaças 1 6%
Mondim Basto 1 6%
Vila Meã 1 6%
São J. Pesqueira 1 6%
Total: 17 100%
Tabela 15: Recolha de dados “Freguesia da residência dos pais/cuidadores”
A moda desta variável é a freguesia de Alijó e Vila Pouca de Aguiar, ocupando ambas
um valor de 17% do valor total.
173
2.10. Estudo da variável “Distrito da residência dos pais/cuidadores” (F10):
100%
50%
0%
1- Vila Real 2- Outros
2.12. Estudo da variável “Número total dos filhos dos pais/cuidadores” (F12):
4 4
1 1 1
1 2 3 5 8
174
2.13. Estudo da variável “Pais/cuidadores – famílias monoparentais” (F13) e
“Pais/Cuidadores – beneficiadores do RSI” (F14):
100% 56%
44%
54%
50% 46%
0%
Sim
Não
Sim Não
Família Monoparental 54% 46%
Beneficia de RSI 56% 44%
Após estudo das duas variáveis, constou-se que, com uma percentagem mínima a
maioria dos pais/cuidadores formam uma família monoparental e são beneficiadoras de RSI.
175
envolvimento de todas as famílias nas diversas problemáticas a trabalhar, ou seja, mesmo os
pais/cuidadores que não demonstrem falta de competências parentais deverão participar em
dinâmicas que trabalhem o mesmo.
As dinâmicas a escolher variaram de acordo com as necessidades enunciadas após as
visitas domiciliárias. Porém, após análise documental (processos individuais) as principais
problemáticas a trabalhar são a “falta de competências e planeamento familiar”; o
comportamento aditivo (consumos de álcool e drogas); os maus tratos e o absentismo escolar.
Problemáticas envolventes
Abandono 6%
Abuso Sexual 6%
Falta de competências e planeamento familiar 19%
Carências económicas 6%
Comportamento… 22%
Negligência 8%
Maus Tratos 14%
Reclusão 6%
Cuidados básicos… 3%
Absentismo escolar 11%
176
Anexo F
Relatório nº 2
Identificação da criança/jovem:
Nome: E
Descrição da diligência:
A visita iniciou-se perto da hora do almoço, por volta das 12h00, encontrando-se o Sr. M em casa. O pai
do E recebe 335€ de RSI, e desloca-se á A quinzenalmente para apresentações por ser beneficiário do
RSI, a renda da habitação tem o valor de 108€, sendo que, vai sofrer uma subida em Janeiro de 2013
para 111€, esta despesa á assumida pelo filho mais velho (irmão do E) que se encontra locado na B.
O Sr. M não possui qualquer ocupação e paga a uma prima (casada com o primo) para lhe passar a
ferro. A habitação encontrava-se aparentemente arrumada, a exceção do quarto do E, referindo o pai
que foi naquele estado que o filho deixou o quarto, no fim de semana, antes de regressar a instituição, a
cama estava por fazer, havia roupa interior espalhada pelo chão e roupa em cima da cama. Existiam
três quartos, o do Sr. M, o do E e outro quarto com roupa para passar a ferro, ao qual identificou como
quarto onde recebe o filho que se encontra a residir no estrangeiro.
A habitação possuía ainda, um cheiro desconfortável a tabaco, tanto na sala como no quarto do Sr. M
sendo que o mesmo fuma em casa. Referiu, ainda, que procura trabalho, porém a idade que detém é
um obstáculo à sua inserção laboral, desta forma, só se encontra no P por causa do filho E, alegando
que se não fosse por ele já se tinha mudado para Lisboa para ao pé da filha ou para o estrangeiro, para
ao pé do filho. Após confrontado com a falta de procura laboral, referiu que encontrou alguns “biscates”,
porém, não pode aceitar com o receio de receber uma fiscalização na habitação dos técnicos do RSI.
Após questionado sobre a relação que mantém com o filho, revelou algumas fragilidades, sendo que a
relação entre pai e filho não se encontra em pleno, e aquando das idas a casa o E discute com o pai e o
ambiente não é favorável.
O Sr. M foi ainda abordado com a possibilidade de realização de visitas mais regulares, sendo que
mostrou disponibilidade para as mesmas.
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Relatório de Visitas Domiciliarias
Relatório nº 3
Identificação da criança/jovem:
Nome: T
Descrição da diligência:
Os pais do T não se encontravam na habitação, sendo que o pai trabalha no campo e só regressa ao
final do dia, por volta das 18h00, e a mãe trabalha no Lar e Centro de dia de C.S. até às 16h30. Fomos,
desta forma, visitar a mãe do T, Dona R ao local de trabalho, o Lar e Centro Dia de C.S., esta
informação foi recolhida por um senhor que se encontrava no café central da aldeia. Aquando da visita
ao local de trabalho da Dona R. a mesma apresentava-se de bata, mas o vestuário pessoal visível,
apresentava-se sujo e possuía um cheiro desagradável. Após conversa com a Sr.ª obtivemos a
informação de que estaria inserida laboralmente há 1 mês e 2 semanas, sendo o ordenado de 285€
recebendo, ainda, 85€ de RSI.
A mãe do T mostrou-se descontente por o filho não visitar a irmã há muito tempo, facto não ser verídico,
pois o T visitou a irmã a 27 de novembro de 2012, e a visita foi a 6 de dezembro. Referiu ainda, que
ligou ao T no sábado passado (1/12/2012), facto que também não se realizou, pois a mesma não
contactou o filho como confirmou o técnico de serviço e o próprio T Afirmou que vai fazer obras em casa
com a finalidade de construir um quarto para o T, tencionando levar o filho a residir novamente com os
pais, porém não falou na filha, C Prometeu, ainda, que iria visitar o T antes do Natal.
Perguntamos á Sr.ª R onde era a habitação dos padrinhos do T e a mesma deu-nos algumas
indicações certas quanto ao trajeto para a habitação, porém, o nome dos padrinhos fornecido estava
errado. Após algum tempo na procura da habitação, encontrava-se na mesma o padrinho do T, Sr. M
(939525699), de baixa por ter sofrido um AVC há algumas semanas, estando 1 mês hospitalizado.
A esposa do Sr. M, Dona A., encontrava-se a trabalhar. A mesma trabalha com o irmão, pai do T, Sr. A.,
só se encontrando na residência a partir dos 18h00 ou aos fins-de-semana.
Segundo o Sr. M. os pais do T possuem dificuldades de gestão económica desperdiçando todo o
dinheiro que ganham no consumo de álcool. Relatou, ainda, que o pai do T por vezes falta ao trabalho e
outras vezes vai trabalhar alcoolizado, estando por estes motivos em risco de perder o emprego. O
padrinho referiu, ainda, que quanto a receber o T, essa decisão terá de ser tomada juntamente com a
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companheira, mas referiu estar desiludido com o T por uma situação que envolveu o roubo de um
telemóvel. O padrinho do T revelou, desta forma, indisponibilidade em receber o T, por falta de
confiança no menor, por motivos de saúde e por conflitos familiares com os pais do T.
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Relatório de Visitas Domiciliarias
Relatório nº 16
Identificação da criança/jovem:
Nome: JA
Objectivo: Pré-diagnóstico
Descrição da diligência:
No dia 8 de Fevereiro de 2013 pelas 14 horas foi realizada uma visita domiciliária ao pai do Javier C em
VJ pelas técnicas do Trilho Helena Martins e RA. Este encontrava-se na casa da mãe que se situa
mesmo ao lado da sua habitação e onde realiza as principais refeições. Após o contacto inicial e ter
sido esclarecido o propósito da visita, o pai do JA convidou-nos a entrar na sua casa. A entrevista
decorreu na cozinha da habitação, tendo esta a função de sala e cozinha.
O senhor C apresentava uma aparência descuidada, denotando-se pela sujidade da roupa, o cabelo
sujo e despenteado. Neste momento encontra-se desempregado sem usufruir de qualquer subsídio.
Alegando que após o acidente da explosão nas minas de J foi acordado o despedimento por mútuo
acordo. Tendo como fonte de sustento os biscates que realiza, não especificando o tipo de trabalhos. A
fratria do pai do Javier era composta por 16 irmãos, sendo atualmente apenas de nove. Três irmãos
vivem em VJ, não mantendo qualquer contacto com eles.
A habitação é composta por seis divisões, sendo que a divisão da entrada tem dupla função
cozinha/sala, constituída por um fogão a lenha, uma mesa e cadeiras, um sofá e um lava loiça. O quarto
do casal tem uma cama, cómoda e roupeiro, tendo uma casa de banho no interior do mesmo
constituído com polibã, lavatório e sanita. Ainda na parte interior desse quarto encontrava-se uma
abertura para uma divisão tapada com uma cortina na qual o senhor C referiu que se tratava de um
quarto de arrumações. A outra divisão era o quarto das crianças, constituído por duas camas, uma das
quais tipo gaveta, onde dormia o JA e a M. Ainda uma cómoda e uma secretária e um quadro de uma
mulher com lingerie provocante. Na parte interior do quarto existia uma casa de banho com um polibã,
uma sanita e um lavatório. A destacar o fato da habitação não possuir portas interiores e se encontrar
relativamente suja, verificando-se pelas côdeas na toalha na mesa da cozinha e pelo pó acumulado em
toda a casa.
Quando explorada a questão do relacionamento com o JV, este refere que era boa. Que costumava
levar o filho a passear de mota e tinha por hábito levá-lo para o café quando chegava do trabalho. O
senhor Carlos mencionou que o JA frequentou a pré-escola de CJ a partir dos 4 anos, ficando até essa
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idade aos cuidados da figura materna. Revela que o filho sempre foi muito agressivo, sendo por essa
razão acompanhado no Hospital de VR pelo Dr. J, sendo diagnosticado com hiperatividade. De igual
modo, mencionou que o filho esteve internado duas vezes durante duas semanas no Hospital de C com
crises de ansiedade.
Na tentativa de explorar de forma aprofundada a dinâmica da família e o relacionamento entre eles, foi
solicitado ao senhor C fotografias do filho, sendo apresentado um álbum do tamanho A4 com fotografias
apenas dele quando este era mais novo. Mostrando apenas meia dúzia de fotografias do filho. O pai do
JA apresentava um discurso pautado de agressividade, denotando-se alguma instabilidade emocional.
O seu discurso era exclusivamente direccionado para a revolta que sente pela ex companheira
revelando uma postura pretensiosa, culpabilizando-a pela má conduta enquanto mãe. Acrescentou
ainda, o fato de ela fumar três maços de tabaco por dia, e ter fumado durante a gravidez. Expressou
ainda, desagrado pela atitude da ex mulher, pois referiu que lhe entregava mil euros por mês, sendo
esta quantia gasta no café, onde passava o dia, negligenciando desta forma as suas funções maternas.
Revelou ainda uma atitude agressiva ao abordar a problemática da separação, mencionando as custas
de tribunal que tinha para pagar, prometendo vingar-se da ex companheira. Acusando a mãe do JV de
se prostituir verificando essa situação quando foi ter com ela à casa abrigo a Lisboa.
No seguimento da entrevista a figura paterna do Javier mencionou que possuía um bar em Alcácer do
Sal juntamente com a D. D. Neste momento, o respetivo bar está a ser explorado pelos cunhados.
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Relatório de Visitas Domiciliarias
Relatório nº 23
Identificação da criança/jovem:
Nome: JA
Descrição da diligência:
As técnicas Helena e Clara realizaram a primeira sessão da atividade nº 2 do Plano de Intervenção
Familiar.
A sessão iniciou-se com a aplicação do Instrumento de Avaliação AAPI 2 - Inventário para pais adultos-
adolescentes, versão portuguesa traduzida e adaptada por Lopes & Brandão, 2005. Foi utilizada a
Forma A, sendo o pré-teste.
Após uma explicação sucinta relativamente ao preenchimento do inventário a D. D apresentou-se
colaborante e interessada. Ao longo do seu preenchimento demonstrou alguma dificuldade na
interpretação das questões enunciadas.
A aplicação do instrumento permitiu a avaliação de atitudes e comportamentos parentais de alto risco.
As respostas ao inventário permitem identificar um índice de risco para comportamentos e práticas
indicadoras de maus-tratos e negligência, sendo a cotação atribuída de 1 a 10, onde 1, 2 e 3 é alto
risco, 4 e 5 é em risco e 6, 7, 8, 9 e 10 está fora de risco. Esta avaliação divide-se em 5 subescalas:
- Expetativas inapropriadas: onde é avaliado em que medida os pais apresentam uma perceção realista
do desenvolvimento, capacidades e limitações das crianças, ao qual a D. D obteve um 2 (dois), ou seja,
alto risco.
- Falta de empatia: avalia em que medida os pais estão conscientes das necessidades, sentimentos e
estado do seu filho, de modo a adequarem as suas atitudes e comportamentos, neste parâmetro a D. D
obteve cotação 1 (um), novamente alto risco.
- Castigos físicos: é avaliado em que medida dos pais valorizam ou não o castigo físico, como modo de
disciplinar e educar os seus filhos, nesta subescala D. D está fora de risco com uma cotação de 4
(quatro).
- Inversão dos Papéis: avalia em que medida as perceções dos pais reflectem situações de inversão
dos papéis, nomeadamente ao considerarem que as crianças deverão ser sensíveis e responsáveis
pelo bem-estar dos pais e não o contrário, neste parâmetro a D. D encontra-se novamente em alto risco
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com a cotação de 1 (um).
- Capacidade de Autonomia: avalia em que medida os pais tendem a oprimir as necessidades
crescentes de autonomia, poder e independência que caracterizam o processo de desenvolvimento
normal das crianças, onde a D. D obteve a cotação de 3 (três), ou seja, o limite do alto risco.
Assim sendo, os resultados aportados permitem constatar que esta mãe apresenta quatro áreas
preocupantes no que concerne às atitudes e comportamentos de risco, nomeadamente nas expetativas
inapropriadas, falta de empatia, inversão de papéis e na capacidade de autonomia. Relativamente à
aplicação de castigos e à capacidade de autonomia esta mãe apresentou valores mais elevados, no
entanto ainda abaixo do limiar considerado ainda índice de risco.
Estes resultados tornam-se pertinentes para a compreensão de quais as áreas menos fortes da D. D no
seu exercício de educação parental para assim, podermos priorizar e intensificar a intervenção
delineada no âmbito do nosso projeto.
Concluído o preenchimento do questionário iniciamos a intervenção delineada no Plano de Intervenção
Familiar, tendo a sessão como designação “Centralização da Família no Processo Educativo”.
Inicialmente foi explorado a importância de ser mãe, as suas dificuldades e o processo construtivo de
aprendizagem. De seguida iniciamos um exercício de reflexão onde pedimos a D. D que se colocasse
no papel de uma técnica da segurança social e respondesse a três questões, sendo elas:
1ª – Enquanto técnica da Segurança Social que condições acha que são importantes para o regresso
do Ja e da M a casa da mãe?
2ª – Deixava que os meninos regressassem a casa quando visse o quê?
3ª – Acha que os seus filhos se vão sentir bem a regressar a casa? Porquê?
Questões às quais a progenitora respondeu com alguma dúvida e hesitação, apontando como
condições importantes para o regresso das crianças a higienização da habitação e dos filhos, o saber
educar “não deixar fazer o que querem e mantê-los limpinhos”(…) “ter um quarto para eles, uma casa
de banho e um trabalho”. Com uma resposta um pouco deficitária questionou-se a progenitora “Se os
miúdos regressassem neste momento o que tinha para eles”, ao qual respondeu “Tenho o quarto
pronto. Tenho pão, iogurtes, fruta, doce de abóbora, arroz, massa, feijão, fiambre e queijo”.
Questionada relativamente a higiene dos filhos a D. D referiu que lhes dava banho todos os dias, que
usava creme corporal, trocavam de roupa sempre que tomavam banho, e após estimulada para outras
formas de higienização para além dos banhos referiu a higiene oral, mencionando que o Javier
anteriormente tinha uma pasta de dentes do Shrek e lhes trocava as escovas de 6 em 6 meses.
De igual modo, foi abordada a importância da comunicação na família utilizando metáforas para a
ilustração. Ainda foram exploradas situações hipotéticas dos estilos educacionais com as crianças,
sendo realizada Psicoeducação. Na exploração do estilo educacional, a progenitora foi confrontada com
um exemplo prático: “Se o JA partisse um vidro de propósito o que faria? Qual era a sua reação?”
Mencionando a progenitora que em primeiro lugar diria ao filho que o que fez era perigoso e se poderia
ter aleijado e de seguida alertá-lo-ia para o facto de as “coisas serem caras e não as podemos
estragar”. Se a chamada de atenção não resultasse o filho ficaria de castigo, sendo um deles a
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proibição de ver televisão durante uma tarde.
No decorrer da sessão D. D apresentou uma postura muito apelativa, intervindo constantemente e
expondo as suas preocupações. No entanto a progenitora mostrou-se, ainda, marcada pelo passado,
relatando alguns episódios passados, sendo um deles uma queixa que existiu por parte da Família de
Acolhimento de Telões, onde estiveram o JA e a M. Nessa queixa a progenitora foi acusada de trocar a
medicação do JA, pois referiu os nomes trocados na toma nocturna e diurna. No entanto, no momento
da visita foi questionada sobre a medicação do Javier, referindo que o filho está receitado com Seroquel
para a noite e o Lagartil para de manhã.
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Relatório de Visitas Domiciliarias
Relatório nº 24
Identificação da criança/jovem:
Nome: JM
Descrição da diligência:
No dia 24 de maio pelas 18h00 o gestor de caso Carlos e a técnica do Projeto “O Trilho” Helena
deslocaram-se à residência da D. F e do Sr. C, tal como solicitado e combinado anteriormente com a
progenitora, onde foram abordadas algumas situações mencionadas pela D. F como desagradáveis,
tais como, “as mentiras do ZM”, a não abertura do mesmo perante a progenitora e o companheiro, a
inflexibilidade, o não cumprimento dos horários, o desentendimento com a irmã no visionamento da
televisão, entre outras situações.
Após a descrição das situações supracitadas foi realizada uma breve reflexão com os cuidadores,
relativamente as causas que poderão suscitar as situações mencionadas. Sendo referido aos
cuidadores que uma maior abertura do J poderá surgir se existir uma maior flexibilidade por parte dos
mesmos, uma penalização menos rígida e uma maior comunicação, tentando sempre saber o porque
das mentiras e fazendo chegar ao J as soluções para a não utilização das mentiras.
Ao longo da reflexão a D. F mostrou-se recetiva a informação dispensada, compreendo e comentando
as diversas situações, porém o Sr. C adotou uma postura mais rígida e inflexível, relatando situações
como “Eu neguei-lhe um banho (…)”, “Tive de o rebaixar para ele se sentir uma criança (…)”,
confirmando o corte de acesso à internet e à cozinha, afirmando que o único computador disponível na
residência é do próprio e que não o emprestará às crianças, ao qual o Técnico C referiu que o menor
possui telemóvel com internet e poderá usufruir do mesmo, ao qual o Sr. C respondeu que não lhe dará
as passwords da internet porque dessa forma ele andará na “internet a fazer o que lhe apetece e depois
não fala connosco”. Relativamente ao não poder ir à cozinha sempre que lhe apetece foi mencionado
pelo Sr. C que estão estipulados horários para as refeições e que comem todos nas mesmas horas e “lá
por ter um pacote de bolachas na cozinha não quer dizer que sejam para o ZM comer, podem ser para
eu comer”.
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Quanto ao corte de acesso à televisão o Sr. C referiu que monta todos os fins-de-semana a televisão na
sala para os filhos da D. F, e que à hora de almoço ele gosta de ver o telejornal e que o resto do tempo
a televisão é dividida entre o J e a irmã.
Ficou combinado no fim da visita que se iria marcar uma reunião na segurança social com a Dr.ª A, D.
F, o Sr. C, o JM, e os técnicos Carlos e Helena.
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Relatório de Visitas Domiciliarias
Relatório nº 28
Identificação da criança/jovem:
Nome: JA
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Relatório de Diligências
Relatório nº 1
Identificação da criança/jovem:
Nome: JA
Descrição da diligência:
No dia 26 de agosto a técnica Helena telefonou para a D. D para obter informação sobre o Dr. PP que,
segundo relato da N da casa da criança, andaria a telefonar a mãe do Javier para obter informações
sobre o ex. marido, Sr. C.
A D. D referiu que o Dr. PP lhe ligou há alguns meses, que se identificou como alguém que trabalha
com o apoio à vítima no Porto, não sabendo a progenitora explicar concretamente qual a entidade para
onde trabalhava. Mencionou que o Sr. quando liga sabe o que ela falou com o Sr. C, por exemplo,
houve um dia em que o Sr. C ligou para a D. D quando os mesmos se encontravam a passar uma
temporada com a mãe, e não pode falar com os filhos pois encontravam-se a dormir, o Sr. C não
acreditou e insultou-a afirmando querer falar com os filhos. Passado alguns minutos ligou o Dr. PP a
perguntar porque que a D. D não deixava os filhos falarem com o pai, ao qual ela explicou a situação.
Após ligar para o número fornecido pelo Dr. PP, constatei que o mesmo trabalha para a Direção Geral
de Reinserção Social dos Serviços Prisionais de Lamego e que como o Sr. C foi condenado a 3 anos e
9 meses de pena suspensa, será acompanhado pelo Dr. PP que é o único técnico a trabalhar a zona do
Douro os casos de violência doméstica, sendo por isso o acompanhamento via telefónica e muito
esporádico. Foi estabelecida uma parceria informal com esta entidade para um melhor trabalho em
rede.
Na chamada telefónica com a D. D houve ainda o desabafo da mudança de comportamento do JA no
dia de chegada à instituição após as temporadas com a mãe, pois o mesmo fica a chorar, fazendo birra,
afirmando que não quer ficar na instituição e proferindo frases menos positivas contra a mãe, tais como,
“Tu não me queres” (…) “Se me quisesses não me deixavas aqui”, entre outras.
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