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IAHR AIIH

XXVII CONGRESO LATINOAMERICANO DE HIDRÁULICA


LIMA, PERÚ, 28 AL 30 DE SETIEMBRE DE 2016

INFLUÊNCIA DA SUBMERGÊNCIA NAS PRESSÕES MÉDIAS EM


RESSALTO HIDRÁULICO A JUSANTE DE VERTEDOURO EM DEGRAUS

Carolina Kuhn Novakoski1, Guilherme Abud Lima1, Marcelo Giulian Marques1, Eder Daniel
Teixeira1, Eliane Conterato1, Alba Valéria BrandãoCanellas2
(1) Instituto de Pesquisas Hidráulicas – UFRGS (IPH – UFRGS, Brasil (2) Eletrobras FURNAS.
carolkn04@gmail.com, guilherme.abud@ufrgs.br, mmarques@iph.ufrgs.br, Eder.teixeira@ufrgs.br,
eliconterato@gmail.com, alba@furnas.com.br

RESUMO:

Os vertedouros em degraus têm por objetivo dissipar grande parte da energia de montante
ainda na calha, durante a queda d’água. A bacia de dissipação por ressalto hidráulico, implantada a
jusante do vertedouro fica com o objetivo de dissipar a energia restante. O presente trabalho tem por
objetivo a análise da influência do nível de jusante nas pressões médias observadas junto ao fundo
de uma bacia de dissipação por ressalto hidráulico, instalada a jusante de um vertedouro em
degraus. O modelo físico onde foram medidos os dados de pressão está instalado no Laboratório de
Obras Hidráulicas (IPH/UFRGS). Para o presente estudo, foram analisadas as distribuições de
pressão média junto ao fundo do canal, obtidas através de ensaios realizados com dois níveis de
jusante distintos. Esses níveis foram selecionados de forma que um correspondesse a um ressalto
hidráulico livre e o outro a um ressalto afogado.

ABSTRACT:

Stepped spillways have as its aim to dissipate the most part of the upstream energy still in
the chute, during the waterfall. The stilling basin by hydraulic jump installed downstream of the
spillway has to dissipate the remaining energy. This article presents an analysis concerning the
influence the downstream level has at mean pressures at a bottom of a stilling basin by hydraulic
jump installed downstream a stepped spillway. The physical model where the pressure data were
obtained is installed in the Hydraulics Laboratory (Laboratório de Obras Hidráulicas -
IPH/UFRGS). In order to develop the present study, the mean pressure distribution at the channel
bottom was analyzed through data obtained by tests made with two different downstream levels.
One of the levels selected corresponds to a free hydraulic jump and the other corresponds to a
submerged hydraulic jump.

PALAVRAS CHAVES: vertedouro em degraus; bacia de dissipação; pressões médias.


INTRODUÇÃO

Ao permitirem a passagem do excesso de vazão, os sistemas extravasores das barragens,


compostos por vertedouros e bacias de dissipação, visam garantir a segurança das estruturas. A fim
de dissipar a energia cinética adquirida pelo escoamento durante a queda d’água, bacias de
dissipação por ressalto hidráulico podem ser instaladas a jusante dos vertedouros. Essas estruturas,
além de promoverem a dissipação da energia adquirida, protegem o solo da erosão que poderia ser
causada pelo escoamento.
Para otimizar a extensão e, consequentemente, os custos de implantação das bacias de
dissipação, podem ser utilizados vertedouros com calha em degraus. Esse tipo de estrutura
apresenta como vantagem principal uma significativa dissipação da energia de montante ainda
durante a queda d’água. De acordo com Simões (2008), a dissipação da energia em vertedouros
com calha lisa pode atingir, aproximadamente, 5% da energia total de montante, enquanto que,
estudos de autores como Tozzi (1992), Sanagiotto (2003), Dai Prá (2004), entre outros, indicam que
a dissipação da energia em vertedouros com calha em degraus varia entre 60% e 80% da energia
total.
O ressalto hidráulico, observado no interior da bacia de dissipação, é um fenômeno que
resulta da passagem do escoamento subcrítico para o escoamento supercrítico, gerando uma zona
turbulenta com movimentos circulares. Mees (2008) ressalta que o ressalto hidráulico deve ter seu
início junto ao pé do vertedouro ou mais a montante. Segundo o autor, o ressalto nunca deve se
deslocar para jusante, pois pode provocar sérios danos à estrutura do próprio dissipador, bem como,
de outras estruturas do barramento. Por gerar uma forte turbulência, o ressalto é responsável por
intensas flutuações de pressão e de velocidade produzidas junto ao fundo da bacia de dissipação, o
fenômeno também ocasiona a aeração do escoamento e uma forte instabilidade na superfície. É
devido à essa turbulência, que o ressalto hidráulico tem capacidade de dissipar a energia do
escoamento.
Por ser de extrema importância para um correto dimensionamento estrutural, as pressões
médias junto ao fundo de bacias de dissipação a jusante de vertedouros foram estudadas por
diversos autores. Como exemplos, podemos citar Marques et al. (1997), que utilizaram um modelo
de bacia de dissipação a jusante de vertedouro com calha convencional e raio de concordância entre
calha e bacia de dissipação, e Souza (2012), que estudou bacias de dissipação por ressalto
hidráulico com baixos números de Froude, também a jusante de calha lisa. Porém, os estudos em
estruturas de dissipação a jusante de vertedouros em degraus são mais escassos, podendo citar,
Meirelles (2004) e Conteratto (2014). Nos estudos efetuados por Conterato (2014) havia a presença
de soleira terminal na bacia de dissipação. Mees et. al (2011) também apresentou resultados de
pressões médias obtidos em uma bacia de dissipação, neste caso sem elementos, a jusante de um
vertedouro em degraus. O autor analisou as pressões médias geradas pelo ressalto hidráulico através
da adimensionalização apresentada na equação 1 em função da posição também adimensionalizada
(equação 2), para três níveis distintos de submergência (equação 3). Os níveis de submergência
estudados pelo autor fora de 1.0, 1.1 e 1.2. Nas equações é a pressão média adimensionalizada,
é a pressão média no ponto x, é a altura conjugada lenta do ressalto, S é a submergência adotada
e x é a posição real medida a partir do pé do vertedouro. A figura 1 mostra as pressões médias em
função da posição adimensionalizadas pelas equações 1 e 2 comparados com os dados obtidos por
Meireles (2004). No gráfico, os pontos indicam as pressões médias adimensionais, a linha espessa o
ajuste realizado por Mees et al. (2011) e as linhas finas mostram os limites de variação em torno do
ajuste. O presente trabalho tem por objetivo apresentar a análise da distribuição longitudinal das
pressões médias utilizando os mesmos dados brutos apresentados por Mees et al. (2011) para as
submergências extremas ( =1.0 e 1.2) porém, utilizando uma proposta diferente para a
adimensionalização dos mesmos.
[1]

[2]

[3]
Onde
é a pressão média adimensionalizada;
é a pressão média na posição x;
é a altura conjugada lenta;
S é a submergência;
é a posição adimensionalizada e x é a posição real a partir do início da bacia de dissipação;
é o nível de jusante.

Figura 1.- Pressões médias adimensionalizadas obtidas por Mees et al (2011) comparadas com as pressões
obtidas por Meirelles (2004) (fonte:Mees, 2008)

MATERIAIS E MÉTODOS

Metodologia experimental

Para o presente trabalho foram realizados diversos ensaios em um modelo físico de um


vertedouro em degraus seguido de bacia de dissipação instalado no Laboratório de Obras
Hidráulicas (LOH), localizado no Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS). O modelo contém uma calha com declividade de 1V:0,75H
(aproximadamente 53°), 2,45m de altura e 0,40m de largura, com 33 degraus de 6 cm de altura e 4,5
cm de comprimento. O canal onde a bacia de dissipação foi implantada possui 1m de altura e
aproximadamente 8m de comprimento, sendo que, desses, 5m possuem paredes de acrílico que
permitem a visualização do escoamento. A jusante do canal foi instalada uma comporta tipo
veneziana vertical juntamente com um tubo piezométrico com escala graduada para o controle e
verificação dos níveis de jusante. A tranquilização do escoamento é permitida pela instalação de um
trecho de 5m instalado entre o reservatório de abastecimento e a calha em degraus. A figura 2
apresenta um esquema do modelo utilizado com a identificação de todas as suas partes e a figura 3
apresenta uma foto do mesmo modelo.
Figura 2.- Esquema do modelo experimental utilizado com identificação de suas partes

Figura 3.- Fotografia do modelo experimental utilizado

As pressões médias foram medidas em 20 pontos distintos ao longo da bacia de dissipação. Para
as medições foram utilizados transdutores da marca Sitron (SP96), 10 dos mesmos com faixa de
trabalho entre -1,5 a 3 m.c.a. e o restante com faixa de trabalho de -1,5 a 1,5 m.c.a. Para evitar erros
associados a efeitos de distorção do sinal devido à instalação de mangueiras que conectam o
transdutor com o fundo do canal, a ligação dos mesmos foi feita através de um suporte roscável que
permite a colocação do transdutor diretamente sob o fundo do canal como indica a figura 4.

Figura 4.- Instalação dos transdutores junto ao fundo do canal

Foram realizados ensaios com dois níveis de jusante distintos. Para cada nível foram ensaiadas
cinco vazões. As vazões escolhidas foram de 40, 60, 80, 100 e 110 l/s. Dos níveis de jusante
selecionados, um corresponde a um ressalto livre e o outro à um ressalto submerso. Para que o
ressalto hidráulico seja considerado livre é necessário que o nível de jusante (Tw) seja igual à sua
altura conjugada lenta, dessa forma, o início do ressalto ocorre junto ao pé do vertedouro, no
começo do trecho reto da bacia de dissipação. Para que o ressalto possa ser considerado submerso, o
nível de jusante deve ser maior do que a altura conjugada lenta, o que faz com que o ressalto tenha
seu início no paramento inclinado em degraus. Nesse segundo caso, o nível de jusante foi escolhido
de forma que a submergência (equação 3) fosse igual a 1,2. A tabela 1 apresenta as características
do ressalto hidráulico para cada vazão ensaiada e a tabela 2 apresenta os níveis de jusante
associados, também, à cada vazão ensaiada. As figuras 5 e 6 apresentam a formação do ressalto
hidráulico livre e afogado, respectivamente, para a vazão de 80 l/s.

Tabela 1.- Características do ressalto hidráulico associadas à cada vazão ensaiada


Q
[l/s] [mm] [mm] [m/s]
40 26,4 3,78 265 7,44 100
60 36,11 4,15 339 6,98 150
80 44,05 4,54 409 6,91 200
100 54,15 4,62 459 6,34 250
110 60,01 4,58 478 5,98 275

Tabela 2.- Niveis de jusante asociados à cada vazão ensaiada


Q
[l/s] [mm]
1,00 265
40
1,20 317
1,00 339
60
1,20 408
1,00 409
80
1,20 490
1,00 459
100
1,20 553
1,00 522
110
1,20 574

Figura 5.- Ressalto hidráulico livre formado para a vazão de 80 l/s

Figura 6.- Ressalto hidráulico submerso formado para a vazão de 80 l/s


Metodologia analítica

Para a análise da distribuição longitudinal das pressões ao longo da bacia de dissipação a partir
dos dados coletados no modelo físico, foram utilizadas as adimensionalizações propostas por
Teixeira (2003). As equações 4 e 5 apresentam as equações propostas pelo autor para a
representação da pressão média e da posição adimensional em relação ao ponto de encontro da
calha do vertedouro com o trecho reto da bacia, respectivamente

[4]

[5]
Onde
é a pressão média adimensionalizada
é a pressão média na posição x
é a altura conjugada lenta
é a altura conjugada lenta
S é a submergência
é a posição adimensionalizada e x é a posição real a partir do início da bacia de dissipação

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A figura 7 apresenta os dados brutos de pressão obtidos para todas as vazões e


submergências ensaiadas, em função da distância a partir do pé do vertedouro.

Figura 7.- Valores brutos de pressão média para todos os ensaios realizados

Observando a figura 7 pode-se perceber que as pressões médias aumentam de forma


inversamente proporcional ao número de Froude, ou seja, quanto maiores as vazões ensaiadas
maiores as pressões médias observadas. Pode-se notar, também, que o aumento da submergência,
considerando o mesmo número de Froude, faz com que a pressão média no ponto observado
também aumente. Esse fato fica evidenciado na figura 8, que mostra os mesmos dados, de forma
mais detalhada, para a vazão de 80 l/s.
Figura 8.- Valores brutos de pressão média para vazão de 80 l/s

A Figura 9 apresenta as pressões médias em função das distâncias, ambas


adimensionalizadas de acordo com as equações 4 e 5, para todos os ensaios realizados. Como pode-
se observar na figura, a adimensionalização permite um agrupamento das curvas geradas para cada
situação ensaiada facilitando a análise dos dados.

Figura 9.- Pressões médias adimensionalizada para todos os ensaios realizados

Através da figura 9, pode-se verificar que o ponto mais próximo ao pé do vertedouro


apresenta elevada pressão média devido ao impacto da queda d’água. Na sequência a pressão é
reduzida bruscamente até a posição, aproximada de 1.( - ), depois disso, as pressões sofrem um
aumento até a posição aproximada de 8 .( - ). A partir desse ponto, as pressões tendem a
alcançar um equilíbrio. Como a adimensionalização aplicada permite que os pontos fiquem mais
concentrados, o aumento das pressões médias proporcionalmente ao aumento da submergência só
pode ser percebido nos pontos mais próximos à calha em degraus até a posição em que as curvas
que representam as pressões médias de cada submergência, para um mesmo número de Froude, se
encontram. Como mostra a figura 10, essa posição ocorre em torno da posição de 4 (yl-yr), onde
pode-se visualizar, com maior detalhamento, o encontro das curvas representantes de cada
submergência para os números de froude ensaiados.

Figura 10.- Pressões médias adimensionalizadas para cada ensaio realizado

CONCLUSÕES

Com a análise da distribuição longitudinal das pressões médias, foi possível chegar à
algumas conclusões. A pressão média apresenta valores altos no ponto mais próximo ao final da
calha do vertedouro em degraus, independentemente da vazão ou da submergência analisada.
Depois disso é observada uma brusca redução nos valores de pressão média de cerca de 1.( - ),
seguida de um novo aumento com o acréscimo da distância em relação ao início da bacia de
dissipação. Nota-se que esse aumento é observado até a posição aproximada de 8(yl-yr) onde há
estabilização das pressões na bacia
Através das análises realizadas também foi possível fazer algumas relações entre as
variáveis envolvidas:
 os valores de pressão média são mais elevados para submergências maiores;
 para números de Froude maiores as pressões médias observadas são menores;
 para um mesmo número de Froude, as curvas representantes das pressões médias
relativas à cada submergência se agrupam aproximadamente na posição de 4 (yl-yr).

REFERÊNCIAS

Dai Prá, M. (2004). Características do Escoamento Sobre Vertedouros em Degraus de Declividade


1V:1H. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 172 p.

Marques, M. G.; Drapeau, J. and Verrette, J. L. (1997). Flutuação de Pressão em um Ressalto


Hidráulico. In.: XVII Congresso Latino americano de Hidráulica, Guayaquil, Equador.

Mees, A. A.; Marques, M. G.; Conterato, E. C. (2011). Análise das Pressões Médias em um
Ressalto Hidráulico a Jusante de Vertedouro em Degraus. In.: XIX Simpósio Brasileiro de Recursos
hídricos, Maceió, Brasil.

Mees, A. A. (2008). Caracterização das Solicitações Hidrodinâmicas em Bacias de Dissipação por


Ressalto Hidráulico com Baixo Número de Froude. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós
Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre.

Meirelles, I. O. C. (2004). Caracterização do escoamento deslizante sobre turbilhões e energia


específica residual em descarregadores de cheias em degraus. Dissertação (Mestrado) – Instituto
Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.

Sanagiotto, D. (2003). Características do Escoamento sobre Vertedouros em Degraus de


Declividade 1V:0,75H. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós Graduação em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental, Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Simões, A. (2008). Considerações Sobre a Hidráulica de Vertedores em Degraus: metodologias


adimensionais para pré – dimensionamento. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Hidráulica
e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, São
Carlos

Souza, P. E. de A. (2012). Bacias de Dissipação Por Ressalto Hidráulico Com Baixo Número de
Froude – Análise das Pressões Junto ao Fundo da Estrutura. Dissertação (Mestrado) - De
Partamento de Hidráulica e Sanemaneto Ambiental, Universidade Federal do Rio Granade do Sul,
Porto Alegre.

Tozzi, M, J. (1992). Caracterização/Comportamento de Escoamentos em Vertedouro com


Paramento em Degraus. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo.

Conterato, E. (2014). Determinação de Critérios de Dimensionamento de Soleira Terminal em


Bacia de Dissipação a Jusante de Vertedouro em Degraus. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós
Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Universidade do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre.

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