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DIREITO PENAL III

Aula 9

CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

1 – CONSTRANGIMENTO ILEGAL

Constrangimento ilegal é o fato de obrigar alguém, mediante violência ou


grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite ou a fazer o que
ela não manda – art. 146 do CP.

O bem jurídico tutelado é a liberdade de autodeterminação.

1.1 – Sujeitos do delito

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo de constrangimento ilegal. Porém,


tratando-se de funcionário público, sendo o fato cometido no exercício da
função, o delito será o de exercício arbitrário ou abuso de poder (art. 350 do
CP) ou abuso de autoridade (Lei 4.898/65).

Quanto ao sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde que possua

capacidade de autodeterminação, isto é, liberdade de vontade.

Se o sujeito passivo for Presidente da República, do Senado Federal, da


Câmara dos Deputados ou do STF, poderá configurar-se o delito previsto no
art. 28, da Lei 7.170/83 e não art. 146 do CP.

1.2 – Natureza subsidiária

O crime de constrangimento ilegal somente será considerado subsidiário


quando constituir meio para a realização de outro delito ou quando for
elemento integrante deste, como acontece no roubo, extorsão, estupro etc.,
ficando o constrangimento ilegal absorvido. Assim, pode-se admitir que se
trata de um crime eventualmente subsidiário. Corroborando este
entendimento, vem o § 2º, do referido art. 146 do CP, informar que,além das
penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.

1.3 – Consumação e tentativa

Consuma-se o constrangimento ilegal no momento em que a vítima faz ou


deixa de fazer alguma coisa.

Tratando-se de delito material, em que pode haver fracionamento das fases


de realização, o constrangimento ilegal admite a figura da tentativa.

1.4 – Concurso com crimes praticados com violência

Boa parte da doutrina vê no § 2º do art. 146 do CP uma forma de concurso

material.

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Porém, não é esse o entendimento de Cezar Roberto Bitencourt, pois, para
este autor o que caracteriza o concurso material não é simplesmente a
soma ou cumulação das penas como prevê o dispositivo em exame, mas a
pluralidade de condutas, já que, no concurso formal impróprio também há
cumulação de penas.

Assim, o § 2º, do art. 146 do CP não criou uma espécie sui generis de
concurso material, mas adotou tão somente o sistema do cúmulo material
de aplicação de pena. Portanto, quando a violência empregada na prática
do crime de constrangimento ilegal constituir em si mesma outro crime,
havendo unidade de ação e pluralidade de crimes, estaremos diante de
concurso formal simples, porém, a aplicação das penas seguirá o sistema do
cúmulo material, independentemente de tratar-se de concurso formal
próprio ou impróprio.

Contudo, nada impede que possa ocorrer, também, um concurso material,


desde que, é claro, haja pluralidade de condutas e de crimes.

1.5 – Formas majoradas

As penas do constrangimento ilegal são, segundo previsão do art. 146, § 1º


do CP, aplicadas cumulativamente e em dobro se houver qualquer das duas
causas de aumento de pena: reunirem-se mais de três pessoas para a
execução do crime ou utilização de armas.

Para a configuração da primeira majorante (reunião mais de três pessoas),


será necessário que, no mínimo, quatro pessoas tenham participado da fase
executória do crime, incluindo-se nesse número o próprio autor principal, se
houver, menores e incapazes. Segundo Cezar Roberto Bitencourt, é
necessário que as pessoas participem da execução do crime não podendo
incidir a causa de aumento se as pessoas participaram somente da
preparação do crime ou limitaram-se à simples atividade de partícipes,
instigando ou induzindo (lembrar da teoria do domínio do fato). Além disso,
para o referido autor, é necessário, também, o vínculo subjetivo (comunhão
de desígnios) entre os participantes que, no entanto, não precisa ser prévio.

O fundamento dessa majorante é o aumento do temor infundido à vítima,


diminuindo ou, muitas vezes, eliminando a possibilidade de defesa (desvalor
da ação).

A segunda majorante diz respeito ao emprego de armas que, segundo a


maioria da doutrina e jurisprudência, refere-se a gênero e não ao número de
armas, incidindo a causa de aumento ainda que seja utilizada apenas uma
arma.

Somente haverá incidência da majorante se a arma for efetivamente


empregada na execução do crime (não basta o simples porte, salvo se for
ostensivo).

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Segundo parte da doutrina, arma de brinquedo não configura esta causa de
aumento, porque, falta-lhe idoneidade lesiva.

Por fim, cabe mencionar que, quando o § 1º, do art. 146 do CP menciona
que as penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, significa que o juiz
deve aplicar cumulativamente as penas de detenção e de multa, fixadas em
dobro.

2– AMEAÇA

Ameaça é o fato de o sujeito, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer


outro meio simbólico, prenunciar a outro a prática de mal contra ele ou
contra terceiro – art. 147 do CP.

A objetividade jurídica é a paz de espírito, a tranqüilidade espiritual.

Diferencia-se do constrangimento ilegal, pois, neste o agente visa uma


conduta positiva ou negativa da vítima e, na ameaça, pretende somente
atemorizar o sujeito passivo.

2.1 – Bem jurídico tutelado

O bem jurídico tutelado é a liberdade pessoal e individual de


autodeterminação, isto é, a liberdade psíquica do indivíduo.

2.2 – Sujeitos do delito

A ameaça não é delito próprio. Assim, qualquer pessoa pode ser sujeito
ativo.

Quanto ao sujeito passivo, também pode ser qualquer pessoa, desde que
tenha capacidade de entendimento.

A ameaça contra o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara


dos Deputados e do STF constitui crime contra a Segurança Nacional (art.
28, Lei 7.170/83).

2.3 – Consumação e tentativa

Consuma-se a ameaça no instante em que o sujeito passivo toma


conhecimento do mal prenunciado, independente de sentir-se ameaçado ou
não, tratando-se, pois, de crime formal. Porém, é preciso que a ameaça
tenha idoneidade para infundar temor.

A tentativa, embora de difícil configuração, é admissível, por exemplo, na


forma escrita. Entretanto, conforme afirma Damásio de Jesus, por se tratar
de crime de ação penal pública condicionada à representação, se o sujeito
passivo represente é porque tomou conhecimento da ameaça e, assim
sendo, já se terá consumado o delito.

2.4 – Natureza subsidiária

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Segundo Cezar Roberto Bitencourt, ameaça é um crime tipicamente
subsidiário: se a ameaça deixa de ser um fim em si mesmo, já não se
configura um crime autônomo, passando a constituir elemento, essencial ou
acidental de outro crime. Nesse caso a ameaça é absorvida por esse outro
crime, ou seja, quando for elemento ou meio de outro delito.

A finalidade de incutir medo na vítima caracteriza o crime de ameaça,


mesmo que não se produza esta intimidação. Mas a existência de
determinado fim específico do agente pode, com a mesma ação, configurar
outro crime.

3– SEQÜESTRO E CÁRCERE PRIVADO

O seqüestro e o cárcere privado vêm previstos no art. 148 do CP, sendo


meios de que se vale o sujeito ativo para privar alguém, total ou
parcialmente, de sua liberdade de locomoção.

Seqüestro e cárcere privado distinguem-se, pois, no primeiro, embora a


vítima seja submetida à privação da faculdade de locomoção, tem maior
liberdade de ir e vir. O sujeito pode prender a vítima numa fazenda ou numa
chácara. No cárcere privado, a vítima vê-se submetida à privação de
liberdade num recinto fechado, como por exemplo, um quarto.

3.1 – Bem jurídico tutelado

O bem jurídico protegido, neste tipo penal, é a liberdade individual,


especialmente a liberdade de locomoção, isto é, a liberdade de movimento,
do direito de ir, vir e ficar. Segundo Cezar Roberto Bitencourt, não deixa de
ser uma espécie de constrangimento ilegal, apenas diferenciado pela
especialidade.

O consentimento do ofendido, desde que válido, funciona como causa


supralegal de exclusão da ilicitude, pois, trata-se de bem jurídico disponível,
salvo quando a privação da liberdade ofender a dignidade da pessoa
humana.

3.2 – Sujeitos do delito

Seqüestro e cárcere privado não são crimes próprios. Assim podem ser
praticados por qualquer pessoa. Tratando-se de funcionário público no
exercício de suas funções, pode haver outro crime como, por exemplo,
abuso de autoridade.

Quando ao sujeito passivo, também pode ser qualquer pessoa, porém,


segundo

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