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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ

A educação é um tema que preocupa o homem desde a mais remota data. É através dela que o indivíduo
se descobre, se constitui enquanto indivíduo social na cultura em que está inserido. Segundo Molochenco:
Ela é um processo amplo e contínuo que envolve não só a formação do aspecto cognitivo, mas de
todo o ser, e compreende o desenvolvimento da personalidade, sentimentos, percepções e
relacionamentos. Não visa só o crescimento individual, mas também do coletivo, a fim de que o
indivíduo, possa interagir, relacionar-se e participar socialmente, em benefício da comunidade a
que pertence.1
A educação está a serviço da cultura e segundo Jaeger (1996):
A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na
sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social
depende da consciência dos valores que regem a vida humana, a história da educação está
essencialmente condicionada pela transformação dos valores válidos para cada sociedade.2
Também no contexto das igrejas evangélicas, a educação permeia todas as atividades e tem aspectos
constitutivos importantes na vida dos participantes destas comunidades. Para compreender a educação
cristã que acontece nas igrejas evangélicas é necessário primeiramente tecer um cenário apontando alguns
aspectos conceituais da filosofia da educação e de determinados pensadores que influenciaram
significativamente a educação cristã como um todo, ligando-o ao cenário educacional das igrejas. É
importante iniciar uma reflexão sobre o espaço educacional nestas igrejas, como a educação é vista neste
contexto, a formação dos seus educadores, bem como uma análise das atividades desenvolvidas.

A filosofia da educação como base para reflexão da educação cristã.


A filosofia da educação tem a intenção de auxiliar o educador cristão a pensar de modo crítico a sua
práxis e a partir de seus conceitos e reflexões implementar algumas de suas idéias na prática educacional.
Ela se torna significativa quando este educador reconhece a necessidade de pensar claramente sobre o que
está fazendo e olhar suas ações num contexto maior de desenvolvimento individual, espiritual e social.
A filosofia é uma ferramenta com a qual pode-se examinar criticamente os caminhos acadêmicos e
intelectuais. Ela ajuda a adquirir uma perspectiva mais ampla e profunda da existência humana e do
mundo que o cerca. Em essência, a filosofia da educação é a aplicação de princípios fundamentais da
filosofia à teoria e ao trabalho em educação. Ela examina quais os compromissos primários que se firma
em relação às crenças e como os entendimentos passam a ser compreendidos como conhecimento,
conceitos que formam a visão de mundo.
A filosofia pode contribuir na educação cristã com o exercício do pensar, da análise e reflexão que ela
proporciona. Pode-se ainda afirma que a filosofia é um modo de trabalho, um exercício do pensar. Ela
serve para entendermos a nós mesmos e o mundo no qual moramos, junto com os outros e as coisas. Ela

1
MOLOCHENCO, Madalena de Oliveira, Curso Vida Nova de Teologia Básica: Educação Cristã, Vida Nova, São Paulo, 2007. Em, Lea Rocha Lima e Marcondes;
Rosane Andrade Torquato. A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA REFLEXÃO DO CONTEXTO EDUCACIONAL DAS IGREJAS EVANGÉLICAS
BRASILEIRAS. RELEGENS THRÉSKEIA estudos e pesquisa em religião V. 01 – n. 02 – 2012.
2 JAEGER, Werner, Paidéia – a formação do homem grego, Editora Martins Fontes, São Paulo, 1986. Em, Lea Rocha Lima e Marcondes; Rosane Andrade

Torquato. A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA REFLEXÃO DO CONTEXTO EDUCACIONAL DAS IGREJAS EVANGÉLICAS BRASILEIRAS.
RELEGENS THRÉSKEIA estudos e pesquisa em religião V. 01 – n. 02 – 2012.
1
traz uma compreensão fundamental que permite conhecer, traçar estratégias de ação ou julgar. Pode-se
dizer que pensar filosoficamente é refletir sobre quem somos, o que estamos fazendo, porque estamos
fazendo e como justificamos nossos esforços.
A filosofia oferece caminhos para examinar estas questões, os valores envolvidos e os pressupostos por
traz dos argumentos. Ela pode trazer ao educador cristão um novo olhar aos seus fundamentos
educacionais e ao seu modus operandi. A educação cristã contemporânea necessita de uma revisão
conceitual do ponto de vista pedagógico e metodológico buscando-se a identificação da referência
filosófica do modelo utilizado.
A filosofia é um campo legítimo e necessário às pesquisas na área da educação cristã. Ela pensa sobre as
questões básicas da vida. Ignorar os filósofos e celebridades sociais é ignorar as influências que eles
causam às pessoas e suas idéias, à sociedade e modo de vida, e, consequentemente, no pensamento
educacional da igreja.
Para que o educador cristão possa desenvolver construções filosóficas, é necessário que ele entenda
algumas categorias que tem sido utilizadas historicamente pela filosofia. Elas respondem perguntas
básicas e fornecem uma estrutura que esclarece conceitos sobre valores e realidade. As principais
categorias da filosofia, a metafísica, a epistemologia, a lógica e a axiologia podem auxiliar e orientar as
reflexões e questionamentos do educador cristão em relação à sua práxis:
A metafísica se ocupa dos assuntos acerca da natureza do homem, da essência das coisas, da realidade,
das causas e efeitos, dos fatos. Para uma investigação metafísica é possível estabelecer algumas diretrizes
básicas. A investigação deve começar pelas coisas que já se sabe, ou acredita-se serem verdadeiras e que
devem ser levadas em conta. A metafísica trata daquilo que é conhecido pelo uso crítico do senso comum.
Ser “crítico” às crenças do senso comum é refletir sobre elas, examiná-las de modo mais atento para ver
se resistem ou fazem sentido.
Na educação cristã ela pode auxiliar nas reflexões acerca da visão da realidade da igreja, quem são as
pessoas que a frequentam em que contexto e sociedade estão inseridos e para a elaboração das atividades
e de currículos, por exemplo. A visão da metafísica vem colaborar com a análise da realidade dentro da
igreja em questão: qual a história da igreja; que movimentos aconteceram ao longo do tempo que a
levaram onde está hoje; como as pessoas estão inseridas neste contexto e como colaboram para o seu
crescimento; de que forma a igreja vê a sua participação na sociedade através de si mesma e dos seus
membros nos diversos espaços que ocupam na sociedade; como avaliam a sua responsabilidade histórica;
qual a cultura e modelo que a igreja tem adotado. A partir das análises de todos estes aspectos e quem são
as pessoas que frequentam a igreja, é possível avaliar como precisam ser feitas as decisões e escolha dos
seus caminhos educacionais.
A epistemologia se ocupa do estudo da aquisição do conhecimento, da razão, das crenças justificadas e
injustificadas, de métodos, estruturas e da validade do conhecimento. É de grande auxílio ao educador
cristão, pois lida diretamente com os processos de aprendizagem e apreensão do conhecimento. Pode
auxiliar a análise do conhecimento bíblico oferecido pela igreja e das estruturas organizacionais para que
este conhecimento aconteça de forma significativa; na avaliação de como o conhecimento bíblico está
sendo construído, se os caminhos pedagógicos e metodológicos estão sendo eficazes para que as
aprendizagens propostas aconteçam de forma significativa. Também pode colaborar com a avaliação do
tipo de conhecimento que a igreja prioriza; das atividades das equipes ministeriais para verificar se
compreendem o seu papel educacional e interações dentro do grupo; se os métodos utilizados pelas
equipes ministeriais são compatíveis com a visão da igreja e onde ela quer chegar; avalia se os processos
de aprendizagem propostos atingem de forma plena a efetivação da visão da igreja. A partir destas
análises, é possível avaliar como a igreja orienta as equipes ministeriais e seleciona as ações necessárias
para desenvolver as aprendizagens que necessita.
A lógica investiga os princípios do raciocínio, estuda regras de argumentação e técnicas do raciocínio.
A lógica constrói idéias de tal forma que é possível comunicar certos conceitos, por dedução de uma série
de premissas. A lógica vem contribuir com a avaliação da metodologia, recursos e técnicas utilizados no
aprendizado bíblico para que não fique apenas no conhecimento, mas que ele traga um conhecimento
2
significativo e possibilite uma reorganização interna do participante de acordo com a visão proposta pela
igreja. Auxilia o educador cristão a acompanhar os processos mentais na aprendizagem, as argumentações
e verificar como as aprendizagens bíblicas estão de fato promovendo transformações e mudanças. A partir
destas análises, a igreja tem melhores recursos para construir e selecionar melhor os materiais e recursos a
serem utilizados de forma que favoreçam uma aprendizagem significativa do viver cristão.
A axiologia estuda os julgamentos, a certeza ou o erro, princípios de conduta. Auxilia o educador
cristão a criar conjuntos de valores consistentes dentro do processo de aprendizagem bíblica e a se
preocupar com o ambiente educacional da igreja. A axiologia vem favorecer o educador cristão a pensar
sobre os erros e acertos das ações observadas: se os valores propostos estão acontecendo adequadamente;
se os ambientes (físicos e relacionais) onde se desenvolvem as atividades da igreja são propícios para que
elas aconteçam plenamente. A partir destas análises, é possível avaliar como a igreja lida com as
aprendizagens e revê os seus erros e busca novos caminhos, como ela se submete as aprendizagens pelos
desacertos.
As definições acima incitam a refletir em como estes ramos da filosofia podem auxiliar de forma prática
aquele que atua na educação no contexto das igrejas evangélicas. Com certeza, as articulações tecidas tem
possibilidades de ampliação e aprofundamento a medida que este exercício se torne parte constante do
pensar educacional da igreja. Estas reflexões trarão fundamentos para a construção do Projeto Político
Bíblico Pedagógico (PPBP) da igreja.
A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência,
sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo o ser humano deve ser
preparado, especialmente graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos
autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si
mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.
A educação cristã leva em conta todas as prerrogativas e amplia ainda mais o conceito do aprender a ser.
Ela coopera para o desenvolvimento do ser como um todo desde a infância. A educação deve contribuir
para a auto formação da pessoa, ensinando-a a assumir a sua condição humana e histórica, ensinando-a
como se tornar cidadão no sentido integral de responsabilidade sócio espiritual.
A educação cristã atual deveria participar de um modo mais efetivo e assertivo da vida das pessoas para
levá-las a desenvolverem sua ética pessoal e organizarem os conhecimentos adquiridos na igreja de forma
poder aplicá-los em qualquer área da vida e em qualquer situação. A vida no presente século exige do
sujeito uma visão gestáltica dos acontecimentos, transcendência dos conhecimentos e posicionamentos
éticos definidos diante da sociedade globalizada. A arte (teatro, pintura, dança, etc) e a literatura deveriam
ser mais utilizadas no campo educacional das igrejas para ampliar a noção e vivência da espiritualidade
das pessoas, da mesma forma que a música é utilizada para ensinar as verdades bíblicas.
A análise crítica da práxis individual e da igreja à luz da filosofia da educação proporcionaria ao educador
cristão maior visibilidade do seu dia a dia educativo e também das consequências das suas ações
pedagógicas na igreja. Cabe ao educador cristão a responsabilidade de avaliar a sua prática e modelo
pedagógico, buscar a corrente filosófica que melhor fundamente suas ações para que estas se tornem mais
consistentes e eficazes.
Abordagem cristã da educação
No estudo dos termos latinos educare e educere3 traduzidos por “educação”, observamos que eles trazem
consigo a ideia fundamental de que educar é “nutrir” e “conduzir para fora”; isto é, não se está interessado
apenas em educar de “fora para dentro”, mas também em propiciar os meios para que se possa “tirar” da

3
M. Debesse; G. Mialaret, Tratado das ciências pedagógicas, p. 2. Napoleão Mendes de Almeida pontua que esses verbos podem ser traduzidos por
“conduzir”, “comandar”, “traçar”, “descrever”, “amamentar”, “nutrir”, “criar”, “sustentar”, “ensinar", “gerar”. Para maior aprofundamento, cf. M. N. Almeida,
Gramática latina, p. 141; Houaiss traduz educare como: “fazer sair”, “lançar” e “tirar para fora”, e um dos seus derivados é educationis, cuja tradução é
“educação”, “criação de filhos”, “instrução” e “tirar para fora”. Ele ainda indica que educationis e educatoris equivalem ao termo “pedagogo” ou “educador”.
Leia Houaiss, A.; Villar, M., Dicionário da língua portuguesa. 1999.
3
criança todas as possibilidades relativas ao conhecimento.4 A educação, assim considerada, significa mais
do que a transmissão de um conteúdo pro- gramático, por mais atualizado e construtivo que ele seja,
porque inclui experiências significativas, valores e interpretações, os quais ocorrerão ao longo de toda a
vida, e cuja finalidade é a tentativa de humanizar o homem, a começar dele mesmo, nas suas relações com
a natureza e seus semelhantes.
Está claro, na proposta de educação em seu conceito geral, que o centro educacional é o ser humano,
conforme afirma Saviani: “... o sentido da educação, a sua finalidade, é o próprio homem, quer dizer, a
sua promoção”.5 Disso resulta a exclusão de Deus de tudo que envolve a existência humana. Por causa
desse foco, muitos cristãos sustentam a distinção entre educação secular e educação cristã. Entretanto,
com base no pensamento de que toda verdade procede de Deus e, consequentemente, se homens maus
afirmam algo que seja verdadeiro e justo, não devemos rejeitar a afirmação deles, pois certamente ela tem
sua origem em Deus, notamos que, em sua concepção, não há educação secular, distinta da cristã; o que
há é o conhecimento corrompido pelo pecado que centra sua atenção no homem, em vez de ressaltar a
glória de Deus e a redenção dos que lhe pertencem. Segundo Ferreira,6 Calvino ponderava que, da mesma
sala de aula, vinham o ministro, o servidor civil e o leigo.
Diante do exposto, é salutar entender que a educação cristã não está restrita ao conhecimento bíblico
dominical de determinada comunidade, mas ela possui a importante tarefa de mostrar que o conhecimento
real ou verdadeiro procede de Deus e tem sua causa última nele; com isso, explicita que essa é a educação
que permite ao homem de fato conhecer Deus, a si mesmo e ao mundo, o que resulta na glorificação a
Deus. É óbvio que somente a abordagem cristã da educação terá condições de cumprir essa finalidade.
Educação cristã abrange a pessoa em sua totalidade: cognitiva, afetiva, espiritual e comportamental, cuja
finalidade não só consiste em desenvolver habilidades ou prover conhecimento intelectual do texto
bíblico ou dos princípios religiosos de determinada denominação, mas, sobretudo, prover comunhão com
Deus; desenvolvimento da fé; conformação da pessoa, do caráter e da personalidade com a mente de
Cristo. Portanto, a educação cristã centraliza-se em Deus, e não no homem.7
Conceituação:
1. Processo capaz de mudar o comportamento das pessoas;
2. Educação não escolarização. Por educação, entende-se um processo de compreensão do mundo, de
aquisição de confiança para explorar seu funcionamento e mecanismo.(Peter Buckman)
3. Educação é um processo de tornarmo-nos criticamente cônscios da nossa própria realidade, de um
modo que conduza à ação efetiva sobre aquela. (Paulo Freire)
4. Educação é o processo de reconstrução e reorganização da experiência, pelo qual lhe percebemos
mais agudamente o sentido, e com isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso de nossas experiências
futuras. (Dewey)
5. É o processo de equipar um indivíduo para desempenhar funções indefinidas em situações
imprevisíveis.

Educação Cristã – É promover o desenvolvimento do caráter, disciplina, conduta e um relacionamento


profundo com Deus. (Dr.Augustus Nicodemus Lopes)
Conceituação:

4
M. Debesse; G. Mialaret, Tratado das ciências pedagógicas. Em, Lopes, Edson Pereira. Fundamentos da teologia da
educação cristã. São Paulo : Mundo Cristão, 2010.
5
Lopes, Edson Pereira. Fundamentos da teologia da educação cristã. São Paulo : Mundo Cristão, 2010.
6
Idem.
7
Idem
4
1. Educação Cristã é a transformação e o desenvolvimento da experiência do aluno, de acordo com o
sentimento vivo da realidade de Deus e de sua relação com Ele.”
2. Educação Cristã é o processo pelo qual a experiência, isto é, a própria vida da pessoa, se
transforma, desenvolve e aperfeiçoa mediante sua relação com Deus em Jesus Cristo.
3. Educação cristã é a reconstrução da experiência, com uma consciência crescente dos valores
sociais, morais e espirituais, cuja vivência plena se verificou na pessoa real e histórica de Jesus Cristo.
4. Educação Cristã é a interpretação e aplicação dos imperativos e princípios divinos em termos
práticos e aplicáveis à vida cotidiana.
5. Educação Cristã é o contínuo processo de comunicação da verdade, o crescimento no saber, no
querer e no fazer e no agir de acordo com a vontade de Jesus.

UMA VISÃO CRISTÃ DOS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO:

1. APRENDER A CONHECER – O aluno aprende a conhecer quando adquire as competências


necessárias à compreensão. A aprendizagem acontece por meio da conduta ativa do aluno, que aprende
quando faz alguma coisa e não simplesmente por ver o professor fazendo.
Este aspecto intelectual (notitia) ou cognitivo, se refere a como as pessoas reconhecem as coisas e pensam sobre
elas. Jesus disse: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento...”. (Mt 22:37) A Bíblia deixa bem explícito que há uma relação direta entre como pensamos e
como agimos. Paulo descreve os inimigos da cruz de Cristo como aqueles que “só se preocupam com as coisas
terrenas” (Fl 3:19), em oposição aos crentes, os quais devem pensar nas coisas lá do alto”, e não nas que são
daqui da terra”. (Cl 3:2) Podemos ver também esta relação feita pelo apóstolo, em Rm 12:2: “E não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual
seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Observe bem a relação feita por Paulo. Escreveu ele: Renove a
mente, pois ela moldará o comportamento, fazendo-o experimentar a vontade de Deus. Portanto, se a
maturidade cristã é moldada pela maneira como pensamos, deve ser um de nossos objetivos educacionais levar
nossos ouvintes a conhecerem corretamente a Deus e a maneira como ele quer que nos comportemos.
Precisamos trabalhar para o crescimento intelectual (cognitivo) de nossos alunos. Precisamos ensiná-los a pensar
teologicamente, conhecer as verdades bíblicas e refletir nos conceitos (categorias) bíblicos e teológicos. Conhecer
a verdade é conhecer o alicerce sobre o qual se erguerá o edifício da fé cristã. Sem um bom alicerce, o edifício
será frágil. Sem um bom conhecimento bíblico, teremos um crente frágil. Se é verdade que a mente molda o
coração e a vontade, então é imperativo que os cristãos aprendam a pensar sobre a verdade. Uma educação
cristã eficaz molda os alunos a conhecerem a verdade e a pensarem com a verdade, para que seus
comportamentos sejam moldados pela verdade.37 Em Cristo, o homem antes rebelde, encontra sua plena
satisfação em Deus.38 A educação cristã deve ser cristocêntrica procurando capacitar as pessoas a conhecer
através da Palavra, a pessoa de Cristo e crescer nele. Por isto, o educador cristão tem a responsabilidade de
ajudar as pessoas a lidar pessoal e corporativamente, com as implicações do Senhorio de Jesus.

2. APRENDER A FAZER – Embora quem aprenda a conhecer já esteja aprendendo a fazer, esta
segunda competência enfatiza a questão do preparo para as coisas práticas da vida. Os alunos precisam
ser estimulados à criatividade a fim de descobrirem o valor construtivo do trabalho realizado em sala de
aula.

5
É tarefa da Educação Cristã ajudar as pessoas a pensarem corretamente sobre Deus, contudo, não
queremos que nossos ouvintes, alunos ou nossas ovelhas tenham uma fé meramente intelectual. Fazendo
menção de Lucas 6:46 onde Jesus disse: “Por que me chamais Senhor, Senhor, se não fazeis o que vos
mando?” Observe, que Jesus critica uma fé que se limita ao aspecto cognitivo. A teologia, ou seja, aquilo
que conhecemos a respeito de Deus não pode estar divorciado das nossas experiências de vida. Não é
suficiente conhecer o conteúdo da verdade, precisamos aplicar este conteúdo em nosso dia a dia. Jesus em
João 13:17 afirmou: “Se sabeis (conhecer) estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes (fazer)”.
Saber e fazer, um binômio inseparável. Esta é uma excelência educacional que devemos almejar alcançar.
Devemos ter como objetivo promover uma educação que leve ao aprendizado prático da verdade
conhecida. Maturidade cristã significa viver a verdade nas diversas situações da vida. Tiago nos exorta
dizendo que a fé (conhecer) sem obras (fazer) é morta. Não resta dúvida, de que a Educação cristã é um
processo em aprender a viver. Sem prática não há aprendizagem. E se não há aprendizagem, não há
educação. “Detesto qualquer informação que é dada, que aumenta minha instrução, mas não muda minha
atividade”.39 A relação entre Saber e Fazer: Se fosse verdade que saber é fazer, tudo que precisaríamos
fazer seria ensinar as pessoas a verdade e elas então as fariam. Mas tanto a experiência quanto a Escritura
ensinam que o conhecimento não conduz automaticamente à ação. Nós todos temos momentos quando
sabemos o que deveríamos fazer, mas por uma variedade de razões escolhemos não faze-lo. Nós pecamos
ao falhar em viver de acordo com o conhecimento que nós temos. As pessoas não devem somente
conhecer o que fazer; mas também estar desejosos em faze-lo.
Às vezes nós não temos uma idéia real do que é a coisa certa a fazer. Nós precisamos de conhecimento
moral naquele assunto, dizendo-nos o que é bom e certo para se fazer. Mas em outros momentos nós
sabemos o que nós devemos fazer, mas sem medo ou por pura pecaminosidade nós simplesmente não
queremos faze-lo. A Escritura nos avisa desta possibilidade e conclui, “Portanto, aquele que sabe que
deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4.17). Mas o problema é mais complicado ainda
quando nós tanto sabemos o que deveríamos fazer e queremos faze-lo, mas não temos a habilidade para
faze-lo. Paulo falou desta condição quando escreveu, “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne,
não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo” (Rm 7.18). Seu
problema não era no nível do desejo, mas no nível da habilidade. Para que as pessoas façam a coisa certa,
elas devem ter (1) conhecimento moral do que é certo, (2) estar desejosas em fazer o que é certo, e (3) ter
força moral para de fato levar adiante seu desejo. A linha do conhecimento moral para a ação moral não é
direta; está também incluído o desejo e a força para fazer a coisa certa. Educacionalmente, não é
suficiente ensinar valores morais. Certamente a igreja tem um conteúdo para comunicar, mas ela deve
também falar à vontade e o poder de fazer o que é certo. Uma estratégia educacional que capacita as
pessoas a crescerem em uma ação moral é necessária.
3. APRENDER A CONVIVER – Faz parte da educação aprender a lidar com pessoas diferentes,
tratar de assuntos relevantes, não falar mal dos outros, não usar a força para resolver conflitos, demonstrar
gentileza e sinceridade no tratamento com os colegas e professores. O que cada professor precisa fazer é
abrir espaço a fim de que eles aprendam a conviver, se conheçam e se respeitem.
4. APRENDER A SER – A educação secular ensina que todo ser humano deve ser preparado
inteiramente – espírito, alma, corpo, inteligência, sensibilidade, responsabilidade moral, ética e espiritual.
Os alunos precisam elaborar pensamentos autônomos, críticos e formular os próprios juízos de valores,
para decidirem por si mesmos, como agir em diferentes circunstâncias da vida.
Afirmamos que o conhecer não pode estar divorciado do fazer, senão, o saber se transforma numa
ortodoxia morta. Mas é verdade também que o fazer sem o conhecer pode se transformar numa mera
religiosidade vazia, pois sabemos ser possível fazer a coisa certa sem ter qualquer relacionamento com
Deus. Daí a necessidade de uma terceira excelência a ser buscada. Para uma educação cristã eficaz é
imprescindível educar o aluno a ser. Nosso desejo e desafio é conduzir as pessoas à maturidade cristã, e
esta é produto de uma experiência prática que tem como conteúdo a Palavra de Deus. Contudo, o fazer
não deve ser uma mera repetição do conhecimento adquirido, mas sim, fruto de uma transformação do
coração. Faço (fazer), não apenas porque sei (conhecer), mas porque sou (ser) assim. Mais uma vez o
6
texto de Mt 22:37 nos é útil: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração (ser), de toda a tua
alma/força (fazer) e de todo a tua mente (conhecimento)”. Quando falamos em educar o aluno para ele
SER, estamos fazendo referência ao conceito bíblico de coração. Conforme o ensino das Escrituras, o
coração é o órgão central da personalidade humana (Pv 27:19), de onde emanam todas as coisas (Mt
15:19). O profeta Jeremias disse que o coração é desesperadamente corrupto (17:9). O coração do homem
entregue a si mesmo sempre estará produzindo afeições, emoções e ações desordenadas. As nossas ações
são resultado daquilo que somos – Pv 4:23. Em razão disso que em nossa teologia e filosofia educacional,
primamos pela educação do ser, ou melhor, do coração. Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus...prega a
Palavra, insta, quer seja oportuno quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina.
Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário cercar-se-ão de mestres segundo
suas próprias cobiças...e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fabulas. (II Tm 4:1-4)

Principais termos aplicados pelos escritores bíblicos à educação:


EDUCAÇÃO HEBRAICA
Há que se reconhecer algumas peculiaridades da educação hebraica, em comparação com os demais
pressupostos educacionais orientais; enquanto estes focavam o aspecto místico da religião, da mitologia
ou especulações filosóficas, os hebreus ressaltavam as evidências históricas ou os atos presenciais de
Deus na História.8
Essa foi a principal razão pela qual a cultura hebraica deu pouca ênfase às questões filosóficas e às
investigações científicas e ressaltou a literatura como um método para ensinar os preceitos divinos.
A educação hebraica estava focada na família,9 pois, num primeiro momento, não havia escolas, e as
crianças recebiam dos pais a instru- ção moral e religiosa. Durante os primeiros anos, a mãe era a única a
cuidar da criança, mas, aos quatro anos, a situação mudava conforme o sexo: a menina continuava com a
mãe, e o menino passava para os cuidados do pai.10
Ambos começavam a aprender suas profissões; a menina aprendia as prendas domésticas, e o filho
aprendia a profissão do pai. Em alguns casos, o filho poderia ser enviado à casa de um parente a fim de
aprender algum ofício, mas, para tal procedimento, era necessário esperar até os seis anos, idade em que o
pai já não era mais juridicamente responsável por sustentar o filho, e este precisava aprender a se arranjar.
Ressalte-se, todavia, que o cuidado dos pais não visava apenas ao aprendizado de um ofício; antes, a
ênfase recaía sobre o ensino das leis do Senhor aos filhos e sobre a conduta moral.
Após a libertação de Israel, do Egito, além da educação familiar, os ensinamentos passaram a ser
ministrados pelos sacerdotes; a educação passou a ter dois centros basilares: a família e o sacerdote.
No período do Exílio, que se iniciou com a tomada de Jerusalém por Babilônia, e por causa dos diferentes
povos que se digladiavam na conquista do mundo até então conhecido, as terras de Israel ficaram
completamente destruídas, conforme a leitura do texto bíblico de Neemias 1.
Nesse período, também denominado de Diáspora, houve a necessidade da instrução gramatical no idioma
hebraico, a fim de conservar o espírito nacional israelita livre da contaminação estrangeira e porque
muitos já não conheciam o idioma, por estarem longe de sua terra natal. Estimulou-se o espírito
nacionalista dos hebreus, que sentiram a necessidade de manter a pureza dos seus ideais religiosos, uma
vez que para eles “a religião era fonte da lei, do Estado e a grande esperança de todos”.11
Isso foi feito primeiramente por meio da disseminação da educação escolar a todos os filhos de Israel, o
que resultou no surgimento da sinagoga, que substituiu e preencheu a lacuna deixada pelo templo de
8
T. M. Santos, Noções de história da educação.
9
Para Platão é uma obrigação da Polis ( ESTADO).
10
D. Fürst, Paideun. In: Colin Brown, Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, p. 61. Para saber mais sobre o
assunto, cf. Educação. In: J. VI. Bentes; R. N. Champun, Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia.
11
D. A. Rausch, Enciclopédia histórico-teológica da Igreja cristã.
7
Jerusalém, destruído nessas situações de conflito; em segundo lugar, o espírito nacionalista foi estimulado
por meio dos estudos aprofundados da lei, que se tornou padrão de santidade e símbolo do nacionalismo.
Há alguns textos bíblicos, tais como Salmos 74:8; Ezequiel 8:1; 11:16; 14:1; 20, que parecem identificar a
existência da sinagoga antes do Exílio; mas, de maneira geral, acredita-se que ela teve origem no Exílio e
se fortaleceu com Esdras, a quem “o Talmude atribui, e aos seus sucessores, [serem] os homens da
Grande Sinagoga”. Como importante instituição israelita de ensino, nos dias de Jesus contavam-se 408
sinagogas espalhadas por diversas regiões, sendo a mais antiga a de “Shedia, perto de Alexandria, que
data do século II a.C.”.12
Relevância da sinagoga para a educação religiosa judaica
Baxter afirma que o judaísmo nasceu junto com a sinagoga; no aspecto positivo, inicialmente resgatou a
centralidade da lei;13 entretanto, no aspecto negativo, o resultado foi uma religiosidade rígida e um
cerimonial preocupado com o exterior, tendendo à aplicação de um literalismo legalista. Foi nesse
período que, a título de objeção à helenização da cultura judaica, surgiram alguns dos principais partidos
de Israel: saduceus, essênios e fariseus.
Percebe-se assim que os judeus tinham motivos políticos, religiosos e culturais para se oporem à
helenização, uma vez que a intenção da helenização, segundo González, era “combinar elementos gregos
com outros tomados das diversas civilizações conquistadas”.14 Ao se oporem ao sincretismo religioso
proposto, os judeus inspiraram ódio aos mais diferentes impérios; daí chegou-se à conclusão de que Israel
e sua religião deveriam ser exterminados.
No contexto de conflitos e perseguições contra a manutenção de sua religião, os judeus buscaram
fortalecimento interior, o que resultou nos partidos já mencionados anteriormente. Cada um à sua maneira
procurava vivenciar os ensinos da Torá e ser considerado o “verdadeiro” Israel de Deus.
Os saduceus aceitavam as seguintes crenças: 1) que as almas desapareciam juntamente com os corpos; 2)
que não deveriam se preocupar em observar absolutamente nada mais, senão as leis; 3) que não deveriam
ser homens de iniciativa: “quando chegam aos cargos, apesar do que são e por necessidade, concordam
com tudo o que diz o fariseu, para não se tornarem insuportáveis à multidão”.
Ao tratar das concepções religiosas e do modo de vida dos essê- nios, que em sua época contavam mais
de quatro mil homens, Josefo afirma que seus ensinos consistiam nos seguintes princípios: 1) a pessoa
deveria se entregar a Deus em todas as coisas; 2) criam que as almas eram imortais; 3) entendiam ser
preciso lutar para obter justiça;
4) enviavam oferendas ao templo, mas não para sacrifício, pois preferiam eles mesmos sacrificar; 5) não
se casavam e não adquiriam escravos; 6) viviam em sua própria comunidade e desempenhavam o papel
de servos uns dos outros.
O fariseu, cujo significado é “separado", teve origem pouco depois da revolta dos macabeus. Segundo
Gundry, “um fariseu não podia comer na casa de um ‘pecador’ (alguém que não praticasse o farisaísmo),
embora pudesse acolher um pecador em sua própria casa”, dando-lhe roupas limpas.
Os fariseus: 1) professavam vida simples; 2) aceitavam a autoridade dos avançados em idade; 3)
consideravam tudo como fruto do destino, ainda que não se isentassem da responsabilidade humana; 4)
criam que a alma é imortal e que há castigos e recompensas; 5) faziam suas orações e oblações dos
sacrifícios.
Quanto aos herodianos ou zelotes, que seguiam Judas, o Galileu, seus adeptos estavam amplamente de
acordo com o pensamento farisaico; todavia, entendiam ser Deus o único chefe e mestre. Portanto, jamais
chamariam de “senhor” qualquer ser humano.

12
Idem.
13
J. S. Baxter, Examinai as Escrituras: período interbíblico e os evangelhos.
14
J. González, A era do cristianismo
8
Em meio aos partidos citados, compreendia-se haver duas categorias de judeus: 1) os hebraístas, que
retinham não só a fé judaica, mas também seu idioma e seus costumes, o que resultava em ódio por parte
dos considerados por eles como “gentios”; 2) os helenistas, que haviam adotado o idioma, o estilo de
vestir e os costumes gregos, ao mesmo tempo que se apegavam à fé judaica. Filo, filósofo judeu do
Primeiro século cristão, residente em Alexandria, é um exemplo. Para os judeus de Jerusalém, esses
últimos não eram considerados judeus na concepção pura da palavra.
A educação com centralidade na Torá
O que havia de comum entre esses partidos era a centralidade da lei; dessa maneira, procuraram escrever
vários comentários, interpretações e complementos, que foram denominados de lei oral, conhecida como
Mishná. A Mishná compreendia as leis civis, comerciais e penais, extraídas do material legislativo do
Pentateuco.
Ela surgia na vida estudantil aos dez anos de idade; antes disso, as crianças de seis a dez anos recebiam
noções de leitura e ensino hebraicos, conhecidos como Mikrah. A Mishná foi transmitida durante
gerações; aos poucos, foi tomando a forma escrita, até que, finalmente, o rabi Jehuda compilou esses
documentos, e surgiu o Talmude. Este, é semelhante a uma enciclopédia, reverenciada e em grande parte
autorizada entre os judeus de hoje, por ser a coleção de escritos que abrange e determina as leis religiosas
e civis do povo judeu, dividida em duas partes principais: 1) Mishná, a lei oral; 2) Guemará, o comentário
da Mishná.
A Guemará era reservada aos alunos dos quinze aos dezoito anos; estes faziam um estudo profundo das
leis orais da Mishná' e adquiriam conhecimentos de história natural, anatomia e medicina. Uma das
diferenças entre a Mishnú e a Guemará é que a primeira foi compilada em hebraico, enquanto a segunda
empregou dialetos aramaicos.
Em todos os graus de ensino, exigiam-se dos alunos prolongados exercícios, que deveriam continuar à
noite, no lar, o que não os tornava brandos. Havia o Tamulde judaico, edição palestina produzida no
século IV d.C., e o Talmude babilônico, com caráter enciclopédico, datado do século V d.C.
Não obstante, os hebreus usavam métodos que estimulavam o raciocínio e o gosto pelo ensino. Dentre
esses métodos, constavam os jogos para o ensino do alfabeto, o método expositivo, a repetição e a
revisão; esses métodos constituíam os processos pedagógicos mais importantes. A tarefa dos alunos,
enquanto ficavam sentados no chão à volta do mestre, era repetir de memória, em voz alta, e todos juntos,
as sentenças ditas por ele.
A mnemônica era uma técnica largamente utilizada para transmissão do pensamento, e seu ensino
pontuava: paralelismo, repetição e aliteração. As crianças a empregavam mesmo em suas brincadeiras,
como se pode verificar no texto de Lucas 7:31-32: “São semelhantes a meninos que, sentados na praça,
gritam uns para os outros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não
chorastes”.
Por conseguinte, no judaísmo, as crianças eram educadas observando e escutando os pais, os sacerdotes,
os rabinos e, posteriormente, o professor, sendo-lhes obedientes como pessoas que falavam em nome de
Deus. Talvez por essa razão é que, no estudo da educação hebraica, alguns a considerem com o
pressuposto do idealismo, pois o ideal educativo dos judeus foi a formação do homem virtuoso, piedoso,
capaz de realizar os desígnios espirituais conferidos por Deus ao povo eleito.15
Educação no Novo Testamento.
Os principais termos a serem destacados são didasko (didásko — ensinar) e seus derivativos: didaktós
(didáktos — ensinado); didaktikos (didáticos — perito no ensino); didáskalos (didáskalos — professor,
mestre); didaskaha (didascalia — ensino, instrução) com seu derivativo didachê (didaquê — ensino);
katecheo (Katecheuo — informar, instruir) e seu derivativo katechou (Katnchon — professor); par adido -
mi (paradidomi — legar, passar adiante, transmitir) e seu derivativo paradosis (paradoxis — tradição);
15
D. Fürst, Paideuo. In: Colin Brown, Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento.
9
paideuo (paidéo — criar, instruir, treinar, educar) e seus designativos: paideia (paideia — criação,
treinamento, instrução, disciplina), paideutes (paideutes — instrutor, professor); paidagogos (paidagogos
— curador, guia).16
Didasko
O grego didasko, traduzido por “ensinar”, provém da raiz grega dek, cuja tradução é “aceitar”, “estender a
mão para”. A palavra sugere a ideia de fazer alguém aceitar alguma coisa. Na cultura grega, o uso da
palavra didasko, denotava a atividade de um professor, cuja preocupação era desenvolver as capacidades
do seu aluno, quando lhe eram transmitidos conhecimentos e habilidades.
Entretanto, a Septuaginta, ao traduzir as palavras hebraicas limmad (ensinar), yada' (fazer, saber e
ensinar) e yarah (ensinar e instruir) como didasko, o qual ocorre cerca de cem vezes nessa versão bíblica,
ressaltou que didasko não denota primariamente a comunicação do conhecimento e de habilidades; pelo
contrário, significa principalmente instrução quanto ao viver (Dt 11:19; 2Sm 22:35) segundo a vontade de
Deus (Dt 11:19; 2Sm 22:35). Assim, as ordenanças e os juízos de Deus deveriam ser ensinados pelo
próprio Senhor (Dt 4.1,10-14), por meio de pessoas piedosas que conhecessem a vontade de Deus, mas
sendo principalmente de responsabilidade dos pais (Dt 11:19; Êx 10:1-2).
Um dos textos que atestam essa responsabilidade é Deuteronô- mio 6:1-9, pelo qual percebemos a ordem
expressa de Deus aos pais, no sentido de que eles deveriam “inculcar”, na mente dos filhos, a lei do
Senhor. No estudo do texto de Deteuronômio 31:10-13, Downs assinala que essa passagem sugere uma
progressão do ensino relativo à lei do Senhor. O povo deveria ouvir os mandamentos de Deus porque a
compreensão era a de que Deus havia falado ao seu povo por meio da lei, e esta deveria ser ouvida. Na
leitura dessa lei, deveria haver um ritual público como um lembrete de que eles faziam parte do pacto de
Deus. Após isso, o povo deveria aprender a temer ao Senhor, e esse temor deveria ser manifesto na
mudança do coração e do comportamento, e na obediência aos mandamentos de Deus, pois só assim
poderiam dizer que alguém havia aprendido a lei de Deus. Por conseguinte, aprender a lei de Deus não
podia ser algo divorciado da vida; pelo contrário, com base nela todas as demais questões da vida
deveriam ser analisadas.
Observamos dois núcleos importantes quando a Septuaginta traduz os verbos hebraicos citados
anteriormente como “ensinar” (didasko):17
Primeiro: Ensinar não só acentua a atividade de um professor com a preocupação de transmissão de
conhecimento e de desenvolver as capacidades e habilidades dos seus alunos, mas, principalmente,
significa ensinar a criança a temer a Deus, cujo sentido prático é viver de acordo com a vontade de Deus.
Segundo: Ensinar era da responsabilidade de todo o povo de Israel. Os sacerdotes, profetas, líderes
deveriam ensinar em Israel; todavia, a maior parcela de responsabilidade era da família. Nela é que se
concretiza a ordenança de Provérbios 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda
quando for velho não se desviará dele”.
De modo semelhante, o Novo Testamento utiliza a palavra di- dasko várias vezes, das quais a maioria se
acha nos evangelhos, com a tradução de “ensinar” e “instruir”. Nos evangelhos, o verbo didasko (eu
ensino) é apresentado como um termo central no ministério de Jesus, pois são inúmeras as passagens em
que se pode ler que Jesus ensinava em diferentes lugares (sinagogas e montanhas, por exemplo) (Mt 9:35;
13:54; Mc 6:2; Mc 1:21; Mc 12:35; Lc 21:37; Mt 26:55; Mc 14:49; Jo 18:20).
Em Mateus 5:1-2, lemos: “Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assentasse,
aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los dizendo...”. Esse texto é o início do Sermão
do Monte, e a tônica de Jesus ao proferi-lo é a preocupação com o ensino. Por essa razão é que Mateus
registra o verbo edidasken, cujo radical é didasko: “e ele passou a ensiná-los”. E interessante notar que o

16
K. Wegenast, Ensinar, instruir, tradição, educação, disciplina. In: Colin Brown. Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento.
17
Champlin, O Novo Testamento interpretado.
10
método de ensino utilizado por Cristo, ao ensinar os seus discípulos e as multidões que o seguiam, era o
de parábolas (Mt 13:34-35; Mc 4:33,34); ao mesmo tempo, não se pode esquecer o conteúdo das aulas,
que era a temática acerca de Deus, de seu reino e de sua vontade (Mt 4:23; 5:1-12; 13:24-52; Mc 4:10-20;
Lc 4:42-43).
Percebemos, portanto, que o ensino era uma das tônicas de Jesus, e foi o próprio Cristo que, antes de sua
ascensão aos céus, deixou a ordem aos seus discípulos de ensinar todas as nações: “Ide [...] fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os
a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século” (Mt 28:19-20) .
Observa-se que há, nas palavras de Cristo, os termos “discípulos” e “ensinar”, enfatizando assim que uma
forma de fazer discípulos é por meio do ensino. Os discípulos compreenderam a ênfase de Jesus quanto
ao ensino; é o que se pode verificar nos registros de Lucas, em Atos 2:42: “E perseveravam na doutrina
dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. O termo “doutrina” nesse texto é didachê,
isto é, “ensino”, que é derivativo de didaskalía (ensino, instrução), cuja raiz é dek (“aceitar”, “estender a
mão para” ou a “ideia de fazer alguém aceitar alguma coisa”) e o verbo didasko (ensino).
A ênfase no ensino pode ser vista na preocupação de Lucas em ensinar e instruir Teófilo nos ensinos de
Cristo Lc 1:1-4; At 1:1.18
Observamos que após terem ensinado (didakai) numerosa multidão é que os discípulos foram chamados
de cristãos pela primeira vez. Lucas dá ênfase à cidade de Antioquia porque essa igreja se tornou uma das
mais importantes patrocinadoras de suas viagens missionárias (At 13:1-3; 15:22-29) e ele faz questão de
enfatizar que tal comportamento foi resultado do ensino de Paulo e Bamabé àqueles irmãos, ensino esse
que teve como conteúdo o evangelho do Senhor (At 11:20).
Está claro que em Romanos 12:3-8, para Paulo, o ensino é de suma importância na vida da igreja; do
contrário, não seria elencado entre os dons concedidos por Deus “com vistas ao aperfeiçoamento dos
santos para o desempenho do seu serviço e para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12). É com esse
princípio que ele exortava os irmãos de Roma: “... o que ensina, esmere-se no fazê-lo” (Rm 12:7). E
importante lembrar que, no texto de Romanos, Paulo utiliza didáskari e didaskalki, isto é, com a mesma
raiz dek, e o verbo diàasko.
Com os mesmos princípios o apóstolo Paulo escreve a primeira epístola a Timóteo, exortando-o, no
capítulo 4, versículo 13, a se aplicar “à leitura, à exortação, ao ensino (didaskalía) Para Paulo, o ensino
deveria fazer parte do trabalho pastoral do jovem Timóteo, principalmente porque, para o apóstolo dos
gentios, Timóteo deveria pregar a palavra em toda e qualquer ocasião, corrigir e repreender, o que nada
mais seria que ensinar os conteúdos da fé e da “boa doutrina” (lTm 4:6).
Vale ressaltar o ensino como uma das qualidades essenciais aos oficiais da igreja, principalmente aos que
desejassem o Presbiterato; é o que se pode extrair de suas palavras em ITimóteo 3:2, em que afirma: “E
necessário, portanto, que o bispo seja [...] apto para ensinar didaktikon".
Em síntese, na Bíblia há inúmeras passagens em que é utilizado o verbo didásko, o que permite assinalar
que a Igreja cristã é uma comunidade ensinadora com base em sua missão, de maneira que o ensino da
Palavra de Deus deve ser uma das suas preocupações centrais. É correto, então, compreender que o ensino
é um dos temas mais relevantes para a Igreja cristã, pois possui fundamento bíblico e não deve ser
esquecido pela Igreja atual, se esta tiver como finalidade “fazer discípulos de todas as nações”.

18
Ressalta-se que o evangelho de Lucas, em 1:4, utiliza o termo katechetes, e não didasko, pois ao que parece o referido
termo era empregado no sentido restrito de “instruir alguém no conteúdo da fé”. E o que se pode verificar na afirmação de
Wegenast : “O emprego de katecheo [...] se refere à obra redentora de Deus mediante Cristo e através da História [...].
Quando veio a ser escrito 2Clemente 17:1, a palavra já veio a ser o termo normal para a instrução batismal administrada aos
catecúmenos. Katecheo, portanto, deu aos cristãos primitivos uma palavra específica para um aspecto essencial tanto da
obra evangelística deles como da sua vida eclesiástica: ensinar os atos salvíficos de Deus”.
11
Outro termo que pode ser visto na Bíblia, e que revela o conceito bíblico de educação, é didáskalos
(professor, mestre).
Didàskalos (professor, mestre)
Esse substantivo pode apresentar os seguintes derivativos:19 nomo- didúskalos (mestre da lei);
kalodidáskalos (ensinando o que é bom); pseudodidáskalos (falso mestre); heterodidaskaleo (ensinar uma
doutrina diferente, isto é, herética).
No grego antigo, didáskalos abrangia os que se dedicavam com certa regularidade à transmissão
sistemática de conhecimento ou perícias técnicas. Não se referia diretamente ao professor, que cumpria a
função específica da leitura e da escrita, mas poderia se tratar do tutor, do filósofo, do dirigente do coro
musical que precisava dirigir ensaios para uma apresentação. Todavia, nos dias de Filo de Alexandria, o
didáskalos já era interpretado como “professor”,20 sobretudo enquanto o que transmite conhecimento, e
não como o que faz exigências de valores morais e éticos diante dos seus alunos. A tônica, portanto, era a
da “transmissão do conhecimento” por parte do professor.
No Antigo Testamento, esse termo de certa forma é evitado, porque os doutores da lei não consideravam
adequado aplicar o termo didáskalos aos ensinadores da lei. Os israelitas preferiam empregar os termos
môreh (professor), maskil (instrutor) e rabbí (mestre). O rabbi, no judaísmo do tempo de Jesus, tinha a
tarefa de expor a Torá e de dar diretrizes acerca dos assuntos da lei. Eles tinham os talmidím (alunos) que
estudavam sua exposição e suas regras e se obrigavam ao respeito e à obediência ao seu mestre.21
O aluno normalmente tratava seu mestre por rabbí (meu mestre), e foi essa forma com sufixo que, no
século I d.C., veio a ser o termo exclusivo para um mestre da lei, oficialmente nomeado. Deve-se
observar que a atividade do rabbi, nos dias de Jesus, não exigia obrigatoriamente o estudo e ordenação,
pois, para ser considerado um rabbi, a pessoa deveria ter alunos e ser versada nas questões doutrinárias
judaicas; por isso é que Cristo foi chamado rabbi (Mc 10:17,20).
No Novo Testamento, didáskalos ocorre 59 vezes, das quais a vasta maioria se acha nos evangelhos, mas
não se refere apenas aos ensinos de Cristo, pois João Batista é também denominado de di- dáskale, mestre
(Lc 3:12). Todavia, deve ser observado que, desde a apresentação de Jesus como Mestre (didáskalos), em
Marcos 14:14, os cristãos daqueles dias passaram a compreender que esse termo continha em si uma
referência cristológica e que, a partir de então, não teriam mais muitos mestres, mas apenas um Mestre, o
Cristo, que é mestre por excelência e cuja autoridade educativa continua por toda a eternidade.
Apesar das implicações cristológicas e de a igreja primitiva compreender que o único mestre é Jesus,
didáskalos também era aplicado a homens que cumpriam o ofício ou a tarefa de explicar aos outros a fé
cristã e que por isso eram chamados de mestres (ICo 12:28). Quando não cumpriam a função
anteriormente citada, eram chamados de pseudodidáskabs (2Pe 2:1), ou de heterodidaskaleo, quando
ensinavam uma doutrina diferente da fé cristã (lTm 1:3), pois eram vistos como “falsos mestres”,
equivalentes aos “falsos profetas” da Antiguidade.
Há três questões a serem aprendidas com base nesse termo: a) no Antigo Testamento, para que alguém
fosse considerado mestre, precisava ser versado nas questões doutrinárias judaicas; b) no Novo
Testamento, Cristo é visto como o único Mestre; c) esperava-se do cristão, que cumpria o ofício de
mestre, que fosse fiel aos ensinos dos apóstolos acerca de Cristo.
Infere-se daí que o conceito de educação, enquanto didáskabs, é apresentado no texto bíblico com a
finalidade de demonstrar quão grande é o privilégio e a responsabilidade dos que ensinam a Palavra de
Deus; diretamente ligado ao termo didáskabs, está didaskalía (ensino, instrução) com o derivativo didachê
(ensino), que nos ajuda a compreender ainda mais o conceito bíblico de educação.

19
K. Wegenast, Ensinar, instruir, tradição, educação, disciplina. In: Colin Brown. Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento.
20
Idem.
21
W. C. Kaiser, Aprender; ensinar. In: Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento.
12
Didaskalía e didachê
Didaskalía é um derivado de didáskalos e, assim como didáskalos, quase não é utilizado no Antigo
Testamento. Também didaskalía é pouco utilizado porque para o grego, esse termo compreendia o ensino
intelectual que visava apenas ao conhecimento das questões humanas, enquanto Israel concebia o ensino
como sendo a lei de Deus, à qual a única resposta cabível era a obediência.
Didaskalía deu origem ao termo didachê (ensino), que aparece com alguma frequência no Novo
Testamento. Didachê22 ocorre cerca de trinta vezes, com ênfase maior nas epístolas, o que comprova o
princípio de que didachê só recebeu destaque nos escritos mais tardios do Novo Testamento, sobretudo
nos dias dos pais da Igreja. Didachê, nos evangelhos, aparece como sendo a pregação ou os ensinos de
Jesus, ainda que não seja um termo exclusivo ao ensino de Jesus, visto que também foi empregado em
Mateus 16:12 com referência ao ensino dos fariseus e saduceus.
Didachê, como ensino de Jesus, foi mantido no livro de Atos, pois Lucas emprega em diferentes ocasiões
o termo para se referir à “doutrina dos apóstolos” (At 2:42) e à “doutrina do Senhor” (At 13:12). Todas
essas expressões denotam o testemunho que os apóstolos davam de Jesus e dos seus ensinamentos. Com o
mesmo princípio é que João e Paulo utilizaram o termo didachê (Jo 7:16-17; 18:19; Rm 6:17; 16:17), isto
é, com o foco da totalidade dos ensinos apostólicos acerca de Cristo, ensinos esses que deveriam ser
considerados como um corpo de doutrina a ser transmitido por Timóteo eTito (2Tm 4:2; Tt 1:9).
Observamos que didaskalía e didachê têm sua tônica voltada para a pregação de Cristo, ou seja, a
mensagem dos apóstolos acerca de Cristo e que mais tarde passou a ser compreendida como o conteúdo a
ser ensinado nas igrejas, denominado de “boa doutrina” (lTm 4:6). Vale ressaltar, ainda, que didaskalía e,
mais especificamente, didachê estão diretamente relacionados ao conceito de didãskalos, isto é, mestres
que deveriam estar conscientes de que eram grandes o privilégio e a responsabilidade de ensinar aos seus
alunos o que era correto doutrinariamente, isto é, o ensino apostólico acerca de Cristo.
O objetivo do mestre (didáskalos) que se utilizava da didachê (ensino) era denominar um corpo de
doutrina que deveria ser ensinado a todos os cristãos para que não fossem “levados ao redor por todo
vento de doutrina” (Ef 4:14). Como resultado disso, os apóstolos, mais especificamente os pais da Igreja,
buscaram sistematizar esses ensinos por meio de metodologias apropriadas para aqueles dias, e é assim
que aparece outro conceito bíblico aplicado à educação: katecheo.
Katecheo
Os derivativos de katecheo (informar, instruir, transmitir, legar) são katechesis (instrução),
katechoumenos (aluno) e katechon (professor). Essa palavra no grego significava, em seu sentido literal,
“soar de cima”70 e denota a ação dos poetas ou atores que falavam de um palco para baixo. Mais tarde
essa palavra passou a significar “dar informação acerca de alguma coisa”, “relatar algo”. Este último
sentido é utilizado por Lucas (Lc 1:4; At 18:25; 21:21).71
No Antigo Testamento, a palavra foi utilizada pela Septuaginta72 como equivalente hebraico de yarâh,
com o significado de “mostrar”, “instruir” (Is 28:9; ISm 12:23). O apóstolo Paulo foi quem empregou
katechesis com o sentido sistemático de “instruir alguém no conteúdo da fé” (ICo 14:19; G1 6:6; Rm
2:18), de tal modo que katecheo passou a ser um termo técnico utilizado para instruir novos cristãos na fé.
Com esse pressuposto é que mais tarde a igreja primitiva empregou o termo katêchêo como instrução para
o batismo; daí o termo, até hoje utilizado, "classe de catecúmenos”, em que se ensinam os princípios
fundamentais da fé cristã com a finalidade do batismo.
Os ensinos fundamentais da fé cristã, portanto, passaram a ser considerados conteúdos que deveriam ser
transmitidos aos fiéis e fixados de modo definitivo; disso resultou o termo paradídomi, que também é
aplicado à educação e aparece em algumas partes do Novo Testamento.
Paradídomi

22
K. Wegenast, Ensinar, instruir, tradição, educação, disciplina. In: Colin Brown. Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento.
13
O derivativo de paradídomi (legar, passar adiante) é paradosis (tradição). Nos dias de Platão, o termo foi
utilizado como a instrução (legado) do professor ao aluno. E possível que o substantivo paradosis tenha
adquirido seu sentido de “tradição” quando o judaísmo se viu confrontado pelo helenismo e também a
partir do cristianismo no século I. Desde então, foi necessário não só ter a tradição oral, mas também um
conjunto de documentos que salvaguardassem o texto bíblico do Antigo Testamento hebraico,
denominados de “a tradição dos pais”.
No Novo Testamento, Lucas emprega paradídomi em conexão com as dogmatas, isto é, decisões do
concilio apostólico que Paulo entregou às igrejas para serem observadas (At 16:4). Percebe-se, portanto, o
acréscimo de dogmatas ao termo paradídomi, cujo significado corresponde às “decisões tomadas pelos
apóstolos e presbíteros de Jerusalém”. O escritor de Judas, no versículo 3, contribuiu para a compreensão
do termo paradídomi, uma vez que o emprega com a seguinte tradução: “a fé que foi entregue aos
santos”.
Por fim, após a reflexão acerca dos termos anteriores, é necessário comentar a palavra paidagogos, que
também aparece no texto bíblico e que, além de ser o mais conhecido, é também o mais utilizado nos dias
atuais.
Paidagogos
O substantivo paidagogos procede do substantivo paidós e do verbo paideuo (criar, instruir, treinar,
educar) e seus derivativos: paideia (criação, treinamento, instrução, disciplina); paideutes (instrutor,
professor); paidagogos (curador, guia). Este último se refere ao homem, usualmente um escravo, cuja
tarefa era conduzir meninos e jovens para a escola e trazê-los de volta, bem como supervisionar sua
conduta de modo geral.23
No Antigo Testamento, o verbo paideuo é traduzido 84 vezes pela Septuaginta, das quais 41 vezes para
traduzir o verbo hebraico yasar (castigar, disciplinar e corrigir).24 O substantivo paideia ocorre 103 vezes
na Septuaginta, das quais 37 vezes traduz o substantivo müsar (castigo, disciplina); exemplo disso é o
texto bíblico de Deuteronô- mio 11.2, que afirma: “Considerai hoje (não falo com os vossos filhos que
não conheceram, nem viram a disciplina do Senhor, vosso Deus), considerai a grandeza do Senhor, a sua
poderosa mão e o seu braço estendido”.25
Ressaltamos que a Septuaginta traduziu a expressão hebraica: “müsar lehovah” (disciplina de Jeová) por
“paideia kyriou", preconizando que müsar, quando utilizado para traduzir paideia, tem o significado de
“disciplina”. É necessário compreender que a “disciplina do Senhor” é um sinal do seu amor, não sendo,
portanto, motivo para desencorajamento; além disso, Deus é apresentado como o Pai que educa seu povo.
Em algumas situações, o substantivo paideia pode, ainda, assumir um sentido mais intelectualizado e
representar “cultura”, no sentido de posse de sabedoria, conhecimento e discernimento. Dentre os textos
em que aparecem paideuo e paideia traduzindo o hebraico müsar, destacam-se: Dt 4:36; 8:5; Os 7:12;
10:10; Pv 3:11; 15:33; Dt 21:18,21; Pv 13:24; 19:18; 23:13; 29:17; Is 53:5; Lv 26:18,28.
Nota-se que a tônica do Antigo Testamento, ao traduzir o verbo hebraico müsar por paidéo e paideia,
corresponde ao princípio hebraico de que tais palavras devam ser traduzidas principalmente por “castigo",
“disciplina” e “açoite”;26 é o que pode ser visto nos textos de ICoríntios 11:32 e Tito 2:12, em que Paulo
utiliza o termo paidéo para indicar o aprendizado produzido pela ação de Deus, mediante sofrimentos e
disciplinas que objetivam corrigir e salvar os seus filhos.
No texto bíblico grego a palavra paidagogos ocorre, no Novo Testamento no texto de ICoríntios 4:15, em
que Paulo diz: “Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo,
muitos pais; pois pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus” e em Gálatas 3:24-25: “De maneira que a lei
nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo

23
Idem.
24
W. C. Kaiser, Aprender, ensinar. In: Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento.
25
Idem
26
Idem
14
a fé, já não permanecemos subordinados ao aio”. Desejando-se maior fidelidade ao texto grego, podem-se
traduzir as referidas expressões da seguinte forma: “... ainda que tivésseis milhares de pedagogos ...” (ICo
4:15) e “... a lei nos serviu de pedagogo..." (G1 3:24), haja vista que os termos “preceptores” e “aio”, em
grego aparecem como paidagogos.27
Em síntese, nos textos anteriores podemos entender que Paulo ao utilizar o termo paidagogos, emprega-o
com a mesma perspectiva dos gregos, isto é, de que os pedagogos tinham como objetivo tornar seus
pupilos independentes dos seus cuidados, cessando sua tarefa quando a criança crescesse. Percebe-se
disso que, até nos dias do apóstolo Paulo, os paidagogos tinham a incumbência de cuidar da criança
apenas na mais tenra faixa etária. Por outro lado, quando Paulo utiliza paidéo, indica o aprendizado
produzido pela ação de Deus mediante sofrimentos e disciplinas que objetivam corrigir e salvar por
misericórdia os seus filhos.
Portanto, é dessa perspectiva que os termos didasko (ensinar); didáskalos (professor, mestre); didaskalía
(ensino, instrução) e dida- chê (ensino); katêchêo (informar, instruir); paradídomi (legar, passar adiante,
transmitir) e seu derivativo paradosis (tradição) apareceram na Bíblia, e fica claro que o objetivo do
escritor bíblico ao utilizá-los não é o de discutir princípios teóricos educacionais; antes, tem a finalidade
de ensinar ao povo, desde a mais tenra idade, como agradar a Deus e, ao agradar-lhe, receber suas ricas
bênçãos.
Ressaltamos ainda que o conceito bíblico de educação se fundamenta nos seguintes princípios: 1) A
Bíblia é o livro didático que deve nortear todo o conteúdo educacional, de maneira que o mestre cristão
deve estar consciente de que sua tarefa é ensinar a doutrina bíblica. 2) Deus é apresentado na Bíblia como
educador, do qual deriva toda a autoridade dos demais educadores. 3) Jesus é apresentado como o Mestre,
do qual todos os demais só podem ser discípulos. 4) A educação tem como finalidade conduzir o homem
ao temor, ao amor e a ensiná-lo a guardar as ordenanças de Deus. 5) A educação prioriza a
responsabilidade dos pais. Notamos, por fim, que há pouca preocupação com a formação de instituições
escolares, no texto bíblico, justamente porque a família deveria ser o centro da educação bíblica.28

Educação cristã voltada PARA A SOCIEDADE


Com a preocupação de pontuar que a abordagem da educação cristã deve servir como instrumento na
propagação e exaltação da glória de Cristo, pelo que ele fez e tem feito por seu povo, convém ressaltar
que Schipani e Wachs concebem que “a educação cristã tem a tarefa formativa que a igreja realiza com
seus membros no sentido de habilitá-los a participar da vida e dos compromissos de sua respectiva
comunidade”. Percebemos nessa afirmação que o objetivo da educação cristã, para eles, é habilitar o
cristão a participar da vida e dos compromissos da comunidade.
Num aspecto mais geral, concebemos que, de fato, a educação cristã tem compromisso com a sociedade;
entretanto, sua finalidade não é só habilitar o cristão a exercer seus direitos e deveres em sua comunidade;
pelo contrário, já que é a abordagem que permite ao homem conhecer de fato Deus, a si mesmo e o
mundo, ela deve objetivar influenciar a sociedade na busca pela finalidade última da educação, que é
Deus.
Na prática, isso significa que a educação cristã não apregoa o isolacionismo da comunidade cristã; pelo
contrário, ensina que a igreja deve estar “engajada” no mundo, conforme João 17:15, em que Jesus faz
sua Oração Sacerdotal: “... não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal”. Na
hermenêutica de Bruce, a tônica dessa oração intercessora recai no princípio da obrigatoriedade da
consciência, do cristão, de que ele não deve se isolar do mundo, mas, pelo contrário, agir no mundo, e que
só assim cumprirá as palavras de Jesus de que somos sal e luz do mundo (Mt 5:13-14).

27
Paideuo. In: Colin Brown, Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento,
28
Lopes, Edson Pereira. Fundamentos da teologia da educação cristã. São Paulo : Mundo Cristão, 2010.
15
AS SETE LEIS DO ENSINO
1. A LEI DO PROFESSOR
O professor precisa conhecer aquilo que vai ensinar A lei que limita e descreve o professor é: O professor precisa
conhecer aquilo que vai ensinar. A lei do professor é uma verdade fundamental, pois, como uma coisa não pode
provir do que não existe, ou como pode a treva trazer luz? Nenhuma outra qualificação é tão essencial ou seja: o
que o professor ensinar, deve saber. Saber ou conhecer é o material com que trabalha o professor, o que os
homens chamam de conhecimento apresenta graus, desde o primeiro vislumbre da verdade até a inteira
compreensão. Em diferentes estágios, a experiência da raça, como adquirimos, caracteriza-se em 4 fases, (1) por
débil reconhecimento; (2) pela habilidade de relembrar, ou descrever de modo geral, para os outros, aquilo que
aprendemos; (3) pelo poder de prontamente explicar, provar ilustrar e aplicar o que aprendemos; e (4) por esse
conhecimento e apreciação da verdade em sua mais profunda significação e mais largas relações, por cuja força e
importância atuamos, sendo por ela modificada a nossa conduta. A História é história somente para quem assim a
lê e a conhece. Não se afirma que ninguém possa ensinar sem essa inteireza de conhecimento, e nem e verdade
também que qualquer que conheça inteiramente o seu assunto ou matéria necessariamente ensine com êxito.

Um conhecimento claro e pronto da parte do professor ajuda o aluno a confiar no seu mestre. Na verdade
seguimos com prazer e expectação o guia que conhece bem o campo que desejamos explorar, e sempre seguimos
sem interesses e com relutância o líder incompetente e ignorante. Os grandes mestre – Newton, Humboldt e
Huxley – despertaram o interesse público pelas ciências em que eles próprios trabalharam. De modo semelhante,
o professor bem preparado aviva em seus alunos o ativo desejo de estudar mais e mais. Algumas regras surgem
ou derivam da Lei do Professor, destaco aqui as que considerei mais importantes. a) Preparar cada lição com
estudo renovado. O conhecimento adquirido no ano que se foi, necessariamente, já se diluiu um tanto. Somente
novos conceitos nos inspiram para melhores esforços. b) Estudar a lição até que ela tome a forma da linguagem
familiar. O que resulta do pensamento claro é o discurso claro, o falar claramente. c) Consagrar tempo certo ao
estudo de cada lição, antes de lecionar. Todas as coisas ajudam o dever feito a tempo. Persistir em aprender a
lição antes da aula, e obter novo interesse e ilustrações. d) Fazer um plano de estudo, e não hesitar, quando
necessário, em estudar além do plano. e) Não deixar de buscar a ajuda de bons livros que tratem do assunto de
suas lições. Além dessas regras também precisamos falar sobre a violação desta lei. O melhor professor corre o
risco de prejudicar o seu trabalho mui sincero e cuidadoso com erros impensados. O verdadeiro professor comete
poucos erros, e aprende muito com os que comete. a) A própria ignorância dos alunos pode tentar o professor a
negligenciar um cuidadoso preparo e estudo. Ele pode pensar que a qualquer tempo conhece mais a lição do que
os alunos, e imaginar que sempre achará o que dizer, ou que sua ignorância passara despercebida. b) Algo mais
sério ainda na violação desta lei é a dos professores que, não encontrando estímulo na lição, ou no magistério,
fazem disso mero cabide em que dependuram seus caprichos e extravagâncias.

2. A LEI DO DISCÍPULO

O aluno deve dedicar-se com interesse à matéria a ser aprendida Atenção e interesse caracterizam o estado
mental do verdadeiro aprendiz, e constituem a base essencial sobre que descansa o processo de aprendizagem.
Então, podemos definir da seguinte maneira a lei do discípulo: O aluno deve dedicar-se com interesse à matéria a
ser aprendida. Atenção significa a direção ou a concentração da mente num objeto. O objeto pode ser externo,
assim como quando alguém observa cuidadosamente o funcionamento duma máquina ou escuta elevadamente

16
uma peça musical; e pode ser mental, assim como alguém rememora uma experiência passada, ou "medita" no
significado de uma idéia. A psicologia diz que essa direção da mente consiste em localizar conscientemente um
objeto. Existem três diferentes qualidades de atenção. Cada uma delas mui importantes do ponto de vista do
ensino e do aprendizado. a) A atenção adejante muitas vezes é chamada de atenção passiva, pelo fato de não
envolver esforço algum da vontade. Então obedece-se simplesmente ao mando dos estímulos mais fortes. Diz-se
passivo o individuo que deixa sua vida mental ser levada ou controlada por forças maiores. Esta é a atenção de
tipo primitivo, instintivo e básico. É a atenção que surge em algumas horas do dia, especialmente quando
estamos cansados. É notadamente a atenção da criança. b) A atenção ativa é a característica essencial da mente
humana, através dela a pessoa pode controlar as forças que a rodeiam, mais do que ser controlada por elas. Esse
tipo de atenção é chamado ativo porque a sua primeira condição é o esforço da vontade, uma determinação de
fazer aquilo que deve ser feito, a despeito dos convites ou atrações para fazer algo talvez mais agradável e mais
atrativo. c) Mas a atenção dessa qualidade esforçada e ativa nem sempre é a mais econômica e eficaz para a do
ensino. Falando-se de um modo geral, aprendemos mais facilmente e mais economicamente quando ficamos
absorvidos em nossa tarefa, a atenção desta espécie freqüentemente provém dum esforço persistente - (atenção
ativa). Essa atenção assemelha-se a atenção passiva pelo fato de o seu objeto ser sempre atrativo em si, e exigir
pouco ou nenhum esforço para ser levado ao foco da consciência; mas também surge da atenção ativa, provindo
do esforço e da persistência. Esse terceiro tipo de atenção por isso é chamado de atenção passiva secundária.
Embora muitos professores negligenciem isto na prática, estão prontos a admitir que sem atenção o aluno não
pode aprender. Tentar ensinar uma criança inteiramente desatenta é o mesmo que conversar com um surdo ou
com um defunto.

O esforço do professor a todo tempo deve ser no sentido de tornar a apresentação tão interessante que a
atenção dos alunos a acompanhe. Ensinando os alunos a se concentrarem, logo passarão pelo estágio da atenção
ativa e alcançarão o estágio efetivo da atenção passiva secundária. O poder de atenção aumenta com o
desenvolvimento mental, e é proporcional á idade da criança. A atenção prolongada pertence já a mentes mais
amadurecidas. Empecilhos à Atenção Os dois maiores inimigos da atenção são a apatia e a distração. O primeiro
pode ser devido à falta de gosto para com o assunto estudado, ou à fraqueza, ou a condição física A distração é a
atenção dividida e voltada para vários objetos. É terrível inimigo de todo aprendizado: Se a apatia ou a distração
provém de fadiga e de enfermidade, o professor sábio não tentará forçar a lição.

3. A LEI DA LINGUAGEM A linguagem usada no ensino deve ser comum ao professor e ao aluno Essa lei, como as
outras já estudadas, é simples como são os fatos de cada dia. Podemos expressá-la como segue: A linguagem
usada no ensino deve ser comum ao professor e ao aluno. Noutras palavras deve ser entendida por ambos, tendo
o mesmo significado para professor e aluno. Tem-se dito que a linguagem é o veículo do pensamento. Mas a
verdade é que a linguagem não transporta pensamentos como os autos carregam mercadoria para encher
armazéns. É melhor pensar que a linguagem transmite pensamentos assim como os fios ou as ondas hertzianas
transmitem e carregam mensagens, como sinais aos operadores receptores, que devem retransmiti-las dos ruídos
que ouvem.

O que mede o poder comunicativo é aquilo que o ouvinte ou receptor entende e reproduz em sua mente e não
aquilo que o locutor expressa de sua mente. A linguagem é também o instrumento de pensamento, como é o seu
veículo. As palavras são as ferramentas com que a mente fabrica da massa crua de suas impressões os conceitos
claros e válidos. A linguagem tem ainda outro uso: é ela o celeiro do nosso conhecimento. Tudo quanto sabemos
pode vir expresso nas palavras que lhe dizem respeito. As palavras não são o único meio pelo qual falamos. Há
muitas maneiras de expressar o pensamento. Os olhos, a cabeça, as mãos, os pés, os ombros são, muitas vezes,
usados para expressar bem inteligivelmente o que pensamos.
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4. A LEI DA LIÇÃO A verdade a ser ensinada deve ser aprendida através de alguma verdade já conhecida A lição é
o processo pelo qual o professor passa ao aluno a conhecida experiência da raça. É o método de transmissão
dessa cristalizada experiência da raça deve ser tal que inspire nesses alunos princípios que serão forças atuantes
em suas vidas, e que, ao mesmo tempo, lhes faculte um instrumento de pesquisa e de estudo posterior – que
constituem o verdadeiro cerne da obra do professor, a condição e o instrumento, bem como a culminação e o
fruto de todo o resto. A verdade a ser ensinada deve ser aprendida através de alguma verdade já conhecida. Todo
ensino deve começar nalgum ponto do assunto da 1ição. Se o assunto é inteiramente novo com algo conhecido
ou já familiar. Mesmo entre as pessoas amadurecidas, o hábil narrador luta por achar um termo de comparação
com experiências conhecidas, buscando descobrir alguma semelhança do desconhecido com algo já conhecido,
isto antes de começar a contar sua história. Todo ensino deve avançar numa direção, o aprendizado deve
processar-se por passos gradativos. Através desta regra os professores devem obedecer algumas regras: 1.
Descobrir o que seus alunos sabem do assunto que vai lhes ensinar. Este será o seu ponto de partida. 2. Começar
com idéias ou fatos que estejam bem relacionados com os alunos, com coisas que possam ser alcançadas por
meio dum simples passo ou degrau além daquilo que já conhecem.

3. Os passos da lição devem estar em proporção com as idades e avanços dos alunos. 4. Tomar familiar a seus
alunos cada novo fato ou principio; procurar firmá-lo de tal forma que possa utilizá-lo na explicação do novo
material da lição seguinte. 5. Fazer com que os alunos usem o seu próprio conhecimento e aquisições em todos
os casos possíveis, para assim aclharem e explicarem outros conhecimentos. Ensinar a eles que o conhecimento é
poder, mostrando-lhes como o conhecimento realmente ajuda a resolver os problemas. 6. Lembrar que os seus
alunos estão aprendendo a pensar, e de que, para pensarem apropriadamente, precisam aprender a enfrentar
inteligente e refletidamente os problemas que surgem em conexão com suas tarefas escolares e com sua vida
extra-escolar.

5. A LEI DO PROCESSO DE ENSINO

Estimular e dirigir as atividades do aluno e, se possível, nada lhe dizer do que ele possa aprender por si Estimular
e dirigir as atividades do aluno, e, se possível, nada lhe dizer do que ele possa aprender por si. Esta lei deve fazer
do seu aluno um descobridor da verdade, deixando que ele a encontre por si. O grande valor dessa lei tem sido
tantas e tantas vezes afirmado de modo que dispensa qualquer prova. Nenhum grande escritor de assuntos
educacionais deixa de considerá-la duma forma ou de outra. Esta lei deve despertar a mente do aluno, estimular
os discípulos a raciocinar, despertar o espírito da inquirição, fazer os seus alunos trabalharem. Todas estas são
diferentes modos de expressar a mesma lei. Podemos aprender sem professor, sendo assim segue-se que a
verdadeira função do professor é criar as condições mais favoráveis ao autodidatismo. O aluno precisa conhecer
por si, pois do contrário o conhecimento dele será só conhecimento de nome. Comenius disse, faz mais de
duzentos anos: “Muitos professores semeiam plantas em vez de partirem dos princípios mais simples, introduzem
os alunos de cofre num caos de livros de estudos miscelâneas.”1 A figura da semente é muito boa, e bem mais
velha do que Comenius. Jesus Cristo, o maior dos mestres, disse: “A semente é a palavra”.O verdadeiro mestre
revolve a terra e 1ança a semente. É obra do solo, por suas próprias forças, desenvolver o crescimento e
amadurecer o fruto. A diferença entre um aluno que trabalha por si e aquele que opera só quando guiado é tão
clara que dispensa explanação. Um é agente livre e o outro é uma máquina. Esta lei é uma lei de função enquanto
que a lei do professor é essencialmente uma lei de qualificação. Aprendemos a andar não por vermos outros
andar, e, sim andando. O mesmo é verdade quanto as habilidades mentais.

6. A LEI DO PROCESSO DA APRENDIZAGEM O aluno deve reproduzir, em sua própria mente, a verdade a ser
aprendida. Há várias fases do processo de aprender que precisamos abordar para se ver e entender todo o
significado da lei. 1. Algumas vezes se diz que o aluno aprendeu, já que decorou e é capaz de repetir a lição
palavra por palavra, isso é tudo que desejam muitos alunos, ou tudo quanto certos mestres exigem, achando
18
assim que já realizaram sua tarefa de ensinar. A educação seria coisa fácil e barata, caso isso fosse ensino real e
permanente. 2. É bem melhor quando os professores buscam cuidar só do pensamento e informar assim os
alunos. Não obstante, há isso um perigo, porque, em muitos casos, como se dá no ensino de lições bíblicas, é
coisa bem importante conhecer e lembrar as palavras. 3. Melhor ainda é quando o aluno pode traduzir
acuradamente o pensamento usando suas próprias palavras ou palavras de outrem, sem prejuízo do significado.
4. O aluno revelará ainda progresso maior quando começar a buscar as provas das afirmações que está
estudando. Aquele que pode dar a razão por que acredita nestas e naquelas coisas é melhor estudante, bem
como o crente mais forte do que aquele que crê mas não sabe por quê. O verdadeiro estudante busca as provas.
5. Um estágio ainda mais frutífero e mais elevado do aprendizado está no estudo do uso e aplicações do saber O
estudante que encontra a ap1icação daquilo que aprendeu na lição toma-se duplamente interessado e vitorioso
nas suas tarefas escolares. Aquilo que dantes era saber inútil toma-se agora sabedoria prática. Essa lei possui duas
limitações a primeira tem a ver com a idade dos alunos e a segunda diz respeito aos diferentes campos do saber.

7. A LEI DA RECAPITULAÇÃO E DA APLICAÇÃO O acabamento, a prova e a confirmação da obra do ensino devem


processar-se através da recapitulação e da aplicação Após o ensino ter sido administrado, ou seja, o professor e
os alunos se reuniram e juntos fizeram seu trabalho, a linguagem foi ouvida e entendida, o conhecimento
adquirido foi avaliado pela mente dos alunos, e ali reside em maior ou menor completação, a alimentar o
pensamento, a orientar e a modificar a conduta, e a formar o caráter. Agora resta ainda um trabalho que é
justamente a última lei a tratar. Essa lei da confirmação e completamento dos resultados pode ser assim
expressa: O acabamento, a prova e a confirmação da obra do ensino devem processar-se através da
recapitu1ação e da aplicação. É de extrema necessidade fazer sempre a recapitulação, separando tempo para
isso, fazer recapitulação em blocos de lições voltando sempre do inicio.

ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ


EM BUSCA DE UMA PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO
O EDUCADOR CRISTÃO PRECISA DE UMA BOA pedagogia como instrumental teórico de seu ministério. A
análise das atividades educacionais na igreja, em geral, demonstra que utilizamos uma pedagogia
antiquada, incapaz de atingir os objetivos da educação cristã, basicamente uma cópia do tradicional
modelo pedagógico escolar brasileiro que privilegia o intelecto e o teórico em detrimento do existencial e
do concreto. É, ainda, uma pedagogia individualista e alienante, pois não capacita o aluno a viver
comunitariamente nem a entender plenamente sua realidade para poder transformá-la. Nessa pedagogia,
ensino e aprendizado são instâncias em separado – como se só o professor ensinasse e só o aluno
aprendesse. A fim de superarmos essa tendência, é necessária uma nova concepção pedagógica. Neste
capítulo, apresento a proposta de Paulo Freire para estimular nossa reflexão e renovar nossa prática
educacional.
A escolha dessa proposta se baseou em três critérios: sua qualidade pedagógica, reconhecida por
educadores “seculares”; sua abertura para o diálogo com a religião e a teologia, uma vez que valores e
conceitos teológicos desempenham papel fundamental na educação cristã; e sua aplicação prática em
programas de educação cristã criativos e inovadores na década de 1990.
A ação pedagógica possui uma dimensão antropológica (referente ao ser humano, sua existência, seus
sonhos, seu cotidiano, suas lutas). Vivemos em uma época marcada pela falta de esperança. O que
esperar, se a sociedade não vai mudar mesmo? Por que esperar, se podemos comprar tudo o que
desejamos? A quem esperar, se a cada dia são produzidos novos heróis e heroínas pela TV? Como
esperar, se temos de nos ocupar com o trabalho, as compras, o lazer...? Entretanto, sem esperança, o ser
humano diminui, torna-se menos que humano, animaliza-se.
19
A esperança é um dos temas fundamentais da teologia cristã. Cremos no Deus da esperança que nos
faz viver em esperança: “E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que
sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Rm 15.13). A esperança é uma necessidade, mas
também é um dom, uma dádiva de Deus para seus filhos. Como cristãos, vivemos em esperança. No
entanto, há cristãos que vivem uma esperança alienada, ingênua. Acham que basta esperar “sentado” a
volta de Cristo e tudo se resolverá por si. Outros, porém, são ativistas em excesso e perderam de vista a
esperança, crendo que só o presente interessa para o cristão. Releia o texto de Paulo Freire e, à luz das
novas metáforas para a educação cristã, reflita sobre as seguintes questões:
1. Como é a esperança ingênua e quais suas consequências?
2. Como se relacionam esperança e prática para a construção da identidade? Qual é o papel da ação
pedagógica na prática da vitalidade?
3. A comunidade cristã tem como uma de suas tarefas levar esperança a um mundo sem esperança. Como
seu ministério e a escola dominical podem ajudar a sua igreja local a ser mais ativa e comprometida no
serviço à humanidade e à natureza?
4. O professor só ensina se aprender, ou seja, se, curiosamente, reflete e medita sobre o conteúdo do que
vai ensinar, experimentando-o na vida concreta. Nesse sentido, como a revista da escola dominical deve
ser utilizada? Será que é suficiente repassar a lição antes da aula? Não seria preciso gastar tempo com as
lições, ocupar-se delas no dia a dia, começar a preparar a aula já na segunda-feira?
5. Conhecendo o conteúdo do que ensinará, o professor motiva e ajuda os alunos a conhecerem
criticamente esse mesmo conteúdo. Quais são as diferenças entre um conhecer crítico e um conhecer
tradicionalista? Como a sua ação pedagógica pode ajudar sua classe a desenvolver um conhecimento
crítico da realidade e da teologia?
6. Ensinar é um ato criador. Teologicamente, ensinar é participar da atividade criadora de Deus. Através
do ensino na igreja, Deus dá vida a novas criaturas, muda as pessoas, edifica a igreja, vocaciona homens e
mulheres para a missão. Você ensina com criatividade ou segue uma rotina tradicional, já estabelecida?
Quais são as características do trabalho pedagógico quando marcado pela criatividade?
MÉTODOS DE ENSINO
A didática é a reflexão sobre a atividade de ensinar. Embora lide também com questões relativas ao
aprendizado (ação do aluno), seu foco principal é a ação do professor. Uma das áreas abordadas pela
didática engloba as questões de método, metodologia, técnicas e procedimentos de ensino. Segundo
Preiswerk, o método e a metodologia devem ser entendidos da seguinte maneira: espaço das inter-
relações dentro dos diferentes componentes da educação, e entre eles: estrutura social, atores, finalidades,
conteúdos. O método é um conjunto de relações e de interações que define, em última instância, o caráter
e a natureza de uma determinada educação. [...] Por metodologia, seguindo o uso mais comum,
entendemos o conjunto das técnicas utilizadas durante o processo educacional.”
Pelas definições acima, percebemos que o método se relaciona com o modo pelo qual conduzimos todo
o nosso trabalho educacional. Podemos considerar o método, por exemplo, a partir das atividades que o
aluno realiza para o aprendizado. Nesse sentido, podemos citar quatro tipos diferentes e complementares
de método que podem ser usados nas aulas e demais encontros educacionais cristãos:
1. “Um método dedutivo parte de uma lei ou de um conjunto de conhecimentos estabelecidos pela cultura
ou pela ciência e os aplica a casos determinados. Começa com o geral ou universal e chega ao particular.”
Talvez esse seja o método mais comum usado nas escolas dominicais. O ponto de partida é a
compreensão de um princípio bíblico, um conceito teológico ou uma doutrina. Depois de apreender o
conteúdo, passa-se a discutir sua aplicação.
2. “Um método indutivo procede exatamente ao contrário: parte de casos e situações particulares;
compara-os, tenta ordená-los e trata de encontrar uma lei que permita relacioná-los. Vai do particular para
o geral.”

20
Esse método é pouco usado em classes de escola dominical. Em parte porque o uso de materiais
curriculares previamente preparados dificulta a sua utilização. Contudo, a razão principal para seu pouco
uso, segundo me parece, está no fato de que em nossa tradição protestante temos dificuldade em construir
o saber teológico a partir das experiências cotidianas. Quase sempre ficamos na troca de experiências sem
reflexão crítica.
3. “Um método interativo (dialético) aproveita os conhecimentos já adquiridos e os reinterpreta a partir
de situações novas que se apresentam. Confronta constantemente o particular com o geral.”
Esse método aproveita os aspectos positivos dos dois anteriores. Seria interessante usá-lo com alguma
frequência em nossas aulas. Afinal de contas, a maior parte de nossos alunos já conhece parcialmente os
temas que estudamos. Assim, é importante que os temas a serem estudados sejam analisados a partir de
novas perspectivas e situações.
4. “Um método divergente inventa e cria novos conhecimentos, colocando em relação elementos que
pertencem a diferentes campos do saber e cujo encontro pode provocar uma novidade.”
Esse é, talvez, o mais rico e mais difícil método a ser usado. Ele se utiliza de conceitos, saberes,
experiências e situações a partir de diferentes campos do saber – sociologia, psicologia, teologia etc. – a
fim de construir novos conceitos e possibilidades de compreender e transformar a realidade. Pode ser
usado na escola dominical, sobretudo, porque nossos alunos têm formação escolar e experiências de vida
diferentes e podem contribuir para a produção de novos conhecimentos bíblico-teológicos.

TÉCNICAS DE ENSINO
Até aqui, estudamos especialmente aspectos mais teóricos da didática. Agora enfocaremos algumas
técnicas de ensino que podem ser aplicadas para que a nossa pedagogia se concretize. Em vez do termo
técnica, os manuais de didática preferem o termo método – em sentido claramente diferente do adotado
por Preiswerk. Aqui, utilizaremos o termo técnica de acordo com a definição desse autor.
Ao tratar de técnicas, nós as consideramos caminhos para alcançarmos nossos objetivos. Portanto, não
há técnicas infalíveis, universais ou receitas prontas para a aula. Por isso, precisamos preparar bem nossas
atividades de ensino – não só os conteúdos a serem discutidos, mas também as técnicas que usaremos.
Precisamos caminhar em busca da excelência didática, ou seja, da perfeição no ensino, para que haja
aprendizado e edificação na igreja. Não abordaremos todas as técnicas possíveis. Apenas destacaremos
alguns procedimentos básicos para o trabalho em sala de aula:29
1. Preleção. Exposição do tema, pelo preletor, diante de um auditório. É um método bom para quando a
classe estiver motivada e o conteúdo for novo. Se, por um lado, a exposição poupa tempo, por outro,
dificulta a participação da classe, exigindo muita habilidade do professor para manter o nível de atenção.
Ao usá-la, procure sempre preparar perguntas para a classe responder, ou alterne a preleção com
pequenos trabalhos em grupo ou outros métodos participativos.
2. Dinâmica de grupo. Há múltiplas formas de trabalho em grupo a serem adotadas em sala de aula. Por
exemplo: a discussão do tema por toda a classe em conjunto; a divisão em grupos menores, para estudo,
discussão ou reflexão; os grupos compartilhados etc. Seja qual for a dinâmica usada, porém, precisa ser
previamente preparada e selecionada, senão pode se tornar meramente um bate-papo nada educacional.
Os métodos de grupo possuem a grande vantagem de ampliar a participação da classe e, no contexto da
igreja, ajudam a aumentar a comunhão. Possuem, entretanto, também os seus limites. Se a classe não
estiver acostumada a trabalhar, o grupo pode ser “grupo”, ou seja, apenas tempo perdido.
Caso você goste de usar métodos de grupo, mantenha-se bem informado sobre eles, sempre buscando
adquirir novas experiências e materiais sobre o assunto. Em minha experiência pessoal, os métodos de
grupo são úteis quando estão inseridos em uma exposição, ou quando os alunos estão bem motivados para
trabalhar por conta própria. São importantes, ainda, no estudo de textos bíblicos – pois ajudam a
vislumbrar os diferentes ângulos de um texto, especialmente se for um texto difícil.

29
NÉRICI, I.G. Metodologia do ensino: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1999.
21
3. Dramatização. É a “representação teatralizada de situações reais da vida com o propósito de dar e
receber informações, alcançar melhor compreensão das situações e favorecer maior integração do grupo”.
Entre outras vantagens, a dramatização nos ajuda a “entrar” no mundo pessoal do tema a ser estudado e a
nos envolvermos concretamente com o tema. Exige, porém, disposição e preparo prévio do grupo – o que
também apresenta a vantagem de aumentar a comunhão e a integração da classe. É bem apropriada para
lidar com temas existenciais e pessoais, pois ajuda-nos a expressar nossas emoções.
Aprecio bastante as dramatizações. Entretanto, é muito difícil usá-las com adultos, pois costumamos
nos sentir mais inibidos. A situação dos jovens é, em geral, diferente, pois eles ainda não se deixaram
dominar pela “sisudez” das responsabilidades da vida adulta na sociedade capitalista. Para que a
dramatização funcione, precisamos nos abrir para Deus, para o próximo e, especialmente, para nós
mesmos. Devemos, ainda, levar em conta que uma dramatização “didática” não deveria tomar mais do
que metade do tempo da aula (para preparação e execução).
4. Recursos audiovisuais. Vivemos na era da imagem, e não da palavra. Sem o acompanhamento visual,
a palavra falada perde muito de sua eficácia. É fundamental, portanto, que saibamos utilizar os diversos
recursos audiovisuais disponíveis a fim de melhorarmos nossa comunicação e nosso ensino. Esses
recursos incluem o simples e velho quadro-negro, cartazes, retroprojetor e os mais modernos datashows e
outros recursos informático-televisivos.
Sua utilização deverá variar de acordo com as possibilidades da igreja e em conformidade com os
objetivos educacionais estabelecidos. Não devemos usar os audiovisuais apenas para deixar a aula mais
interessante. Eles devem estar em sintonia com os objetivos da aula e com os momentos da prática
educacional cristã.
5. Leitura dirigida. “O método da leitura dirigida consiste em o professor orientar a aprendizagem do
aluno por meio da leitura de adequada seleção de textos.” O hábito da leitura não é muito desenvolvido
em nosso país, e esse é um dos grandes motivos do baixo nível educacional de nossa população. Na
igreja, a leitura é fundamental, pois nossa fé se alimenta da palavra de Deus – texto que deve ser
constantemente lido e estudado. Os encontros educacionais podem ser um bom instrumento para o
aperfeiçoamento da arte da leitura, não só com o uso da Bíblia, mas também de revistas didáticas e livros
diversos.
A leitura transcende a simples identificação de palavras e frases, incluindo a compreensão do texto
escrito em sua totalidade: ideias, pressupostos, implicações práticas, defeitos etc. A leitura crítica nos
ajuda a superar os limites intelectuais, a falta de consciência político-social e a ingenuidade teológica.
Crescer na arte de ler é importante para o desenvolvimento espiritual. O apóstolo Paulo jamais deixou o
estudo e a leitura, mesmo na prisão (2Tm 4.13), pois sabia da necessidade de continuar crescendo na fé.
Encerrando esta breve discussão sobre métodos de ensino, precisamos lembrar que educadores não são
infalíveis. Também somos discípulos de Jesus Cristo, temos nossas angústias e limites, nossos saberes e
dúvidas. Existe uma ideia velada, mas difundida, de que professores são infalíveis e sabem tudo. Não
podemos passar essa imagem para nossos alunos. A autenticidade e a transparência são fundamentais no
trabalho educacional, especialmente no ensino cristão. Sempre que você experimentar alguma dúvida,
angústia ou sensação de limite, saiba compartilhar esses sentimentos com sua classe, para que você
também seja edificado por seus alunos. Além disso, não há chance de sermos bons professores se não
formos bons aprendizes. Valorize a dúvida e a curiosidade: são o ponto de partida para o conhecimento.

22

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