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03/11/2019 Os marqueteiros nas campanhas eleitorais: no passado e agora - Nexo Jornal

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Os marqueteiros nas campanhas


eleitorais: no passado e agora
Ricardo Chapola 30 Jun 2018 (atualizado 13/Jul 17h52)

Sem doação de empresas e com teto de gastos estipulado pela


Justiça, partidos terão menos dinheiro, pelo menos em teoria,
para investir em propaganda em meio à crise de
representatividade

FOTO: ROBERTO STUCKERT/DIVULGAÇÃO

 MARQUETEIRO JOÃO SANTANA, ENTRE DILMA E LULA

Um estudo feito pelo INTC (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) mostrou que
a maioria dos brasileiros não acredita mais nos partidos. O índice de sua aprovação,
segundo a pesquisa realizada nos primeiros meses de 2018, é um dos menores da
história: quase 80% dos entrevistados afirmaram não ter “nenhuma confiança”

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/30/Os-marqueteiros-nas-campanhas-eleitorais-no-passado-e-agora?fbclid=IwAR1U6rnt537QIYt… 1/7
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(https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,descredito-nos-partidos-atinge-8-em-
10-brasileiros,70002362978)nessas instituições que são centrais na representatidade
política.

Fragilizados pelas denúncias de corrupção e diante de uma crise generalizada no país,


os partidos nunca precisaram tanto voltar a ficar atraentes aos olhos dos eleitor, seja
com um discurso convincente, seja pelo marketing. No dia 7 de outubro, os brasileiros
vão às urnas para escolher deputados, senadores, governadores e o próximo
Presidente da República.

O início oficial da campanha eleitoral está marcado para 16 de agosto. E alguns fatores
indicam que, pelo menos na teoria, a propaganda política nas eleições de 2018 tende a
ser mais modesta em relação ao passado
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/02/24/A-origem-do-marketing-
pol%C3%ADtico.-E-como-os-candidatos-est%C3%A3o-cada-vez-mais-atrelados-a-
ele).

O início nos EUA


A estratégia de unir políticos a publicitários famosos começou em 1952, nos Estados
Unidos. Por meio de abordagens antiquadas, candidatos veiculavam reprises de seus
comícios durante a programação da madrugada das televisões, ainda em preto e
branco. Naquele ano, porém, o candidato republicano Dwight D. Eisenhower
revolucionou o modelo. Contratou o publicitário Rosser Reever para assessorá-lo na
campanha.

Eles então criaram uma novidade: inserções curtas na TV, de 20 segundos a um


minuto, veiculadas durante o dia. Nelas, usavam desenhos animados para resumir
propostas ou mostrar o candidato respondendo a perguntas feitas por cidadãos. A
estratégia foi um sucesso: Eisenhower venceu a eleição, após vinte anos de domínio
dos democratas na Casa Branca.

Também foi nos Estados Unidos que surgiu a prática de marqueteiros participarem
ativamente da preparação dos políticos antes dos debates. Isso aconteceu em 1960.
Naquele ano, John Kennedy contou com a ajuda de seu publicitário para vencer o
oponente Richard Nixon no primeiro debate transmitido ao vivo pela TV. Meses
depois, Kennedy assumiu a Casa Branca.

A ascensão do marketing no Brasil


O marketing político foi adotado pela primeira vez no país durante a ditadura militar.
Em 1974, o Movimento Democrático Brasileiro, único grupo autorizado por lei a fazer
oposição à Arena, que dava sustentação ao regime militar
(https://www.nexojornal.com.br/podcast/2018/05/13/Feridas-abertas-do-Brasil-o-

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/30/Os-marqueteiros-nas-campanhas-eleitorais-no-passado-e-agora?fbclid=IwAR1U6rnt537QIYt… 2/7
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que-foi-o-DOI-Codi), produziu peças publicitárias que denunciavam problemas


políticos e econômicos que o Brasil enfrentava naquela época. O resultado foi positivo:
elegeu 511 parlamentares em 22 estados.

Insatisfeitos com os efeitos da propaganda nas eleições daquele ano, os militares


então resolveram elaborar uma lei que limitava a publicidade política. Chamava-se Lei
Falcão (https://www.youtube.com/watch?v=Xr0oDVJGLT8). Ela proibia discursos,
jingles ou imagens externas com cenas montadas. Só era permitida a propaganda feita
com fotos do candidato, imagem do partido e um locutor narrando o currículo do
político.

Com os anos, a Lei Falcão caiu e marqueteiros famosos


(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1107200411.htm) começaram a
despontar na política brasileira. Um dos primeiros a ganhar protagonismo foi Duda
Mendonça. O publicitário coordenou campanhas milionárias dos anos 90 até as
eleições de 2014.

Duda Mendonça despontou em 1992, quando chefiou a campanha vitoriosa de Paulo


Maluf à prefeitura de São Paulo, com o slogan “Amo São Paulo, voto Maluf”
(https://www.youtube.com/watch?v=Q8GeJnjR0gQ). O trabalho do publicitário
ajudou também a eleger Celso Pitta, sucessor de Maluf na prefeitura. Morto em
novembro de 2009, Pitta foi eleito graças, principalmente, ao Fura-Fila (https://tudo-
sobre.estadao.com.br/fura-fila), proposta de construção de um transporte sobre
trilhos que virou o mote de sua campanha. Os recursos gráficos com os quais o projeto
foi apresentado diferem bastante do que de fato virou o Fura-Fila.

O padrão técnico das campanhas publicitárias aumentou ao longo do tempo e passou


a encarecer os serviços prestados pelos marqueteiros. Em 2002, Mendonça foi
contratado pelo PT para coordenar o marketing da campanha que elegeu Luiz Inácio
Lula da Silva presidente pela primeira vez.

A sigla declarou à Justiça Eleitoral ter gasto mais de R$ 39 milhões com os trabalhos
do publicitário. O então candidato do PSDB José Serra, por sua vez, declarou ter gasto
cerca de R$ 34 milhões, com marqueteiros como Nelson Biondi e Nizan Guanaes.

Os altos investimentos em propaganda política atingiram o ápice na eleição


presidencial de 2014, disputada por Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
Naquele ano, Dilma foi reeleita em uma das disputas mais acirradas da história. O
marqueteiro de Dilma era o publicitário João Santana. Oficialmente, Santana recebeu
mais de R$ 70,4 milhões, segundo a prestação de contas do PT apresentada à Justiça
Eleitoral.

Santana foi decisivo para a vitória de Dilma em 2014. Com propagandas que
exploravam o medo do eleitor, o publicitário alvejou Marina Silva, então do PSB, que
chegou a ficar em empate técnico com a presidente nas pesquisas de intenção de voto.
Em uma das peças, Santana afirmava que Marina defendia propostas que tirariam
comida da mesa dos brasileiros. A estratégia deu certo: Marina começou a cair nas
pesquisas e Dilma foi para o segundo turno contra Aécio, reeditando a tradicional
polarização nacional entre PT e PSDB.

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As novas leis e as denúncias de corrupção


As restrições impostas pela Justiça forçaram os políticos a encontrar novos meios
para financiar a propaganda. Com a proibição de doações eleitorais
(http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Outubro/serie-reforma-eleitoral-
2015-conheca-os-principais-pontos-alterados-no-codigo-eleitoral) por parte das
empresas, em 2015, os partidos passaram a ter menos dinheiro disponível para
realizar suas campanhas.

Além da proibição de doações de pessoas jurídicas, medida tomada pelo Supremo


Tribunal Federal, uma nova legislação instituiu um teto de gastos. Em campanhas
presidenciais, o limite das despesas dos postulantes ao Planalto é de R$ 70 milhões.
Se a disputa for para o segundo turno, é possível gastar outros R$ 35 milhões.

Em 2016, a nova legislação foi posta à prova pela primeira vez nas eleições
municipais. Em São Paulo, o PSDB conseguiu eleger o prefeito João Doria logo no
primeiro turno.

Foi uma campanha eleitoral diferente das outras, incluindo seu tempo de duração,
que deixou de ser de 90 dias e caiu pela metade. Com os limites, Doria usou as redes
sociais para se promover (https://exame.abril.com.br/brasil/o-que-esta-por-tras-do-
sucesso-de-doria-nas-redes-sociais/). Popular na internet, o tucano aparecia em
vídeos muitas vezes gravados por ele mesmo e que acabavam viralizando entre os
eleitores. (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1883677-marqueteiro-
de-doria-receita-bom-humor-nas-redes-sociais.shtml)

Além disso, o empresário tinha a vantagem de gastar o próprio dinheiro na


campanha, por meio de autodoações, um sistema que beneficia os políticos mais ricos

“Quando se faz campanha, acaba-se prestigiando muito a


TV, o jornal, o rádio. Isso não faz sentido hoje, já que 98% da
população de São Paulo tem acesso diário, em tempo real,
das mídias digitais”
Daniel Braga
coordenador de comunicação da campanha de Doria em 2016, em entrevista
ao jornal Folha de São Paulo

O ocaso dos marqueteiros


Os escândalos atingiram os marqueiteiros, pagos com dinheiro de caixa dois e até de
corrupção. Em 2005, durante o esquema do mensalão, Duda Mendonça foi a uma CPI
no Congresso e confessou ter recebido ao menos R$ 10 milhões em caixa dois, por
meio de contas no exterior. Chorou e disse estar arrependido.

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/30/Os-marqueteiros-nas-campanhas-eleitorais-no-passado-e-agora?fbclid=IwAR1U6rnt537QIYt… 4/7
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Mas a Lava Jato (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/04/15/Quantas-


s%C3%A3o-as-%E2%80%98Lava-Jatos%E2%80%99.-E-o-que-elas-j%C3%A1-
produziram) mostrou a partir de 2014 que os esquemas não pararam. A operação que
investigou um megaesquema de desvio de dinheiro público na Petrobras, a maior
estatal brasileira, revelou que o marketing político continuava sendo um foco de
ilegalidades e malfeitos.

Marqueteiro de Dilma, João Santana chegou a ser preso. Condenado em fevereiro de


2017 a sete anos de prisão por lavagem de dinheiro
(http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2017/02/marqueteiro-joao-santana-mulher-
e-mais-3-sao-condenados-na-lava-jato.html), o publicitário hoje cumpre pena em
regime domiciliar, pois decidiu fechar um acordo de delação premiada. Em seu
depoimento, admitiu pagamentos via caixa dois
(https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/joao-santana-e-monica-
confirmam-a-pf-caixa-2-na-campanha-de-haddad/) nas campanhas do PT. Duda
Mendonça voltou a ser acusado e recorreu também à delação.

Para Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores


Políticos, as alterações promovidas na regra eleitoral e as revelações da Lava Jato
“fortaleceram o verdadeiro marketing político”.

“O que terminou não foi a fase dos grandes nomes do


marketing. O que terminou foi a fase dos grandes interesses
partidários, contratando pessoas para defender interesses
financeiros. A área de marketing se fortalece cada vez que
você tem uma crise tão grande como essa, porque o
marketing é criatividade. O marketing é encontrar soluções
para problemas”
Carlos Manhanelli
presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos

É tempo de vacas magras?


Com as doações de empresas proibidas pela Justiça, os partidos terão, pelo menos na
teoria, menos dinheiro para produzir a publicidade dos candidatos na campanha de
2018. À disposição, terão os recursos vindos do fundo partidário, do fundo de
campanhas, do que arrecadarem junto a pessoas físicas e a autodoação.

A criação de um teto de gastos também tenta impedir que as legendas gastem muito,
pelo menos oficialmente. Alguns marqueteiros conhecidos já se comprometeram a
trabalhar para alguns pré-candidatos à Presidência, mas dizem que os valores dos

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contratos serão inferiores (https://oglobo.globo.com/brasil/eleicoes-2018-


marqueteiro-barato-vira-regra-na-disputa-deste-ano-22816965) aos de campanhas
passadas.

É o caso, por exemplo, do nome contratado pelo pré-candidato do PSDB, Geraldo


Alckmin. Em 2014, Lula Guimarães coordenou o marketing da campanha de Marina
Silva na disputa presidencial. Naquele ano, o publicitário recebeu cerca de R$ 16
milhões pelo trabalho que fez na campanha.

“Nosso orçamento para a campanha do PSB foi modesto se


comparado ao do PT e PSDB. Nesta campanha seguiremos
os tetos previstos na lei. Teremos que usar mais criatividade”
Lula Guimarães
publicitário e marqueteiro de Alckmin

Embora o PT ainda não tenha garantias da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio


Lula da Silva - preso desde 7 de abril
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/04/05/Supremo-nega-habeas-
corpus-a-Lula-o-que-vem-agora) e líder em todas as pesquisas de intenção de voto -, o
partido já informou que vai recorrer a publicitários do próprio partido para a
campanha.

Marina, que é pré-candidata da Rede Sustentabilidade, contará com a ajuda do


cineasta Fernando Meirelles. Ele disse que não vai cobrar nada do partido.

O pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, optou até aqui por uma solução interna. Quem
vai coordenar o marketing da campanha é o jornalista Manoel Canabarro, consultor
do ex-governador do Ceará há mais de dez anos.

Deputado federal e pré-candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro , tem falado


publicamente que não pretende ter marqueteiro na campanha. Líder nas pesquisas
nos cenários sem Lula, o parlamentar grava vídeos pelo celular e envia para uma
equipe de quatro pessoas, responsáveis pela divulgação da gravação.

VEJA TAMBÉM

PODCAST

(HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/PODCAST/)

A campanha eleitoral agora é


menor. Isso é bom ou ruim?
(https://www.nexojornal.com.br/podcast/2018/04/15/A-
campanha-eleitoral-agora-
%C3%A9-menor.-Isso-%C3%A9-
bom-ou-ruim)

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/30/Os-marqueteiros-nas-campanhas-eleitorais-no-passado-e-agora?fbclid=IwAR1U6rnt537QIYt… 6/7
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TODOS OS CONTEÚDOS PUBLICADOS NO NEXO TÊM ASSINATURA DE SEUS AUTORES. PARA


SABER MAIS SOBRE ELES E O PROCESSO DE EDIÇÃO DOS CONTEÚDOS DO JORNAL,
CONSULTE AS PÁGINAS NOSSA EQUIPE
(HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/ABOUT/NOSSA-EQUIPE) E PADRÕES EDITORIAIS
(HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/ABOUT/PADR%C3%B5ES-EDITORIAIS-DO-NEXO).
PERCEBEU UM ERRO NO CONTEÚDO? ENTRE EM CONTATO
(HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/ABOUT/CONTATO). O NEXO FAZ PARTE DO TRUST
PROJECT. SAIBA MAIS (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/ENTREVISTA/2019/05/10/COMO-
JORNAIS-PODEM-RECUPERAR-A-CREDIBILIDADE-SEGUNDO-ESTA-PESQUISADORA).

(https://thetrustproject.org/)

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/30/Os-marqueteiros-nas-campanhas-eleitorais-no-passado-e-agora?fbclid=IwAR1U6rnt537QIYt… 7/7

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