AO02
ISSN 1981-416X
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo apresentar alguns resultados referente a
investigação desenvolvida no mestrado em Educação no período 2015-2017. Buscamos
compreender quais foram as concepções de professores sobre as mídias cinemáticas e
que papéis atribuem no ensino de História na cidade do Rio Grande/RS. Para tanto,
utilizamos como empiria questionários semiestruturados e respondidos por 26
professores da rede básica de ensino público e entrevistas, sendo cinco desse grupo de
pesquisados. A metodologia utilizada para desenvolver a investigação foi de cunho
quanti-qualitativo, cujos dados obtidos são descritos como significativos, densos e de
uma riqueza de informações. Para realizar o desenvolvimento da investigação, optamos
pelo método de análise de conteúdo proposto por Laurence Bardin (2012). A análise de
a
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brasil. Mestre em Educação,
e-mail: luizsoaresrs@gmail.com
b
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brasil. Doutora em Educação, e-
mail: vchaigar@gmail.com
conteúdo foi utilizada nos dois instrumentos utilizados para coletar os dados empíricos:
os questionários semiestruturados e as entrevistas orais. E os resultados encontrados
durante o percurso investigativo revelaram a compreensão de uma mídia cinemática que
se configura como uma fonte histórica e, como tal, capaz de desenvolver os conteúdos
de História, bem como o seu caráter educativo e gerador de habilidades cognitivas como
análise, interpretação, reflexão, além de proporcionar a ampliação dos sentidos estéticos
dos estudantes. Ratificamos, portanto, que a mídia cinemática na sala de aula é mais do
que uma ferramenta didática, pois envolve questões subjetivas, históricas, políticas e
estéticas que exigem que o professor a conheça bem para explorar suas
potencialidades educativas.
Abstract
The present work aims to present some research results developed in the Masters in
Education, in the period 2015-2017. We seek to understand which teachers' conceptions
about kinematic media and what roles they assign in the teaching of History in the city of
Rio Grande/RS. To do so, we used semistructured questionnaires and answered by 26
teachers from the public basic education network and interviews with five from this group
of respondents.The methodology used to develop the research was quantitative-qualitative,
whose data are described as significant, dense and a wealth of information. To carry out
the research development we opted for the method of content analysis proposed by
Laurence Bardin (2012). Content analysis was used in the two instruments used to collect
empirical data: semi-structured questionnaires and oral interviews. And the results found
during the investigative course revealed the understanding of a kinematic media that is
configured as a historical source and, as such, able to develop the contents of History, as
well as its educational character and generator of cognitive abilities such as analysis,
interpretation , reflection, in addition to providing the widening of the students' aesthetic
senses. Therefore, we reaffirm that kinematic media in the classroom is more than a
didactic tool because it involves subjective, historical, political, aesthetic issues that require
the teacher to know it well to explore its educational potential.
Resumen
El presente trabajo tiene por objetivo presentar algunos resultados de investigación
desarrollada en el Máster en Educación, en el período 2015-2017. Buscamos
comprender cuáles son las concepciones de profesores sobre los medios cinemáticos
y qué papeles atribuyen en la enseñanza de Historia en la ciudad de Rio Grande/RS.
Para ello, utilizamos como empiria cuestionarios semiestructurados y respondidos
por 26 profesores de la red básica de enseñanza pública y entrevistas con cinco de
ese grupo de pesquisados. La metodología utilizada para desarrollar la
investigación fue de cuño cuantitativo, cuyos datos obtenidos se describen como
significativos, densos y de una riqueza de información. Para realizar el desarrollo
No final do século XIX, mais precisamente em 1895, foi apresentada ao mundo uma
arte singular, sensível e que décadas mais tarde viria a se tornar uma das mais importantes
expressões culturais da humanidade – o cinema. Criado pelos irmãos Louis e Auguste
Lumière, o cinema foi uma das grandes invenções que cativou o público desde essa época e
conglomera, atualmente, um elevado número de pessoas nas salas de cinema do mundo inteiro.
Levando em consideração as primeiras palavras deste artigo sobre o filme “e seu
poder de sedução”, o presente manuscrito tem por intuito apresentar alguns dados de caráter
reflexivo sobre a investigação de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em
Educação em uma universidade pública ao Sul do país. Nela pretendíamos compreender: que
ou quais concepções sobre mídias educativas e seu papel no ensino são percebidos por
professores de História, quando utilizam as mídias cinemáticas em suas aulas? Para tanto,
utilizamos como empiria questionários semiestruturados propostos a 26 professores de
História da rede básica de ensino público da cidade do Rio Grande/RS no ano de 20141.
Desse grupo, dois anos depois, foi realizada nova aproximação que gerou cinco entrevistas
com alguns dos professores que concordaram em participar da segunda etapa da pesquisa.
1
A referida pesquisa foi realizada originalmente como Trabalho de Conclusão de Curso, na
licenciatura em História. Posteriormente esses dados compuseram a empiria inicial que
consubstanciaram a pesquisa de mestrado.
por sua vez, foi utilizado com apenas cinco professores dos 26 pesquisados
anteriormente, visto as grandes dificuldades por parte de maioria desses docentes em
encontrar horário para tal fim em suas agendas de trabalho. As entrevistas foram
gravadas em áudio e cabe destacar que esse processo ocorreu em locais e horários
pré-estabelecidos pelos próprios professores participantes da pesquisa. Após realizar
a heurística – processo de levantamento das fontes em função da problemática de
pesquisa – iniciamos o tratamento delas, ou seja, a separação e organização do material
empírico em categorias e subcategorias.
A metodologia utilizada para desenvolver a análise da investigação foi de
cunho quali-quantitativo, cujos dados obtidos são descritos como significativos,
densos e ricos de informações (BARDIN, 2012), levando em conta também a empiria
obtida por meio de questionários semiestruturados. Nesse sentido, para realizar o
desenvolvimento da investigação, optou-se pelo método de análise de conteúdo
proposto pela pesquisadora Laurence Bardin (2012). Esse método de análise têm por
objetivo descrever, inferir e interpretar os materiais empíricos coletados e cataloga-
los através de técnicas e instrumentos metodológicos capazes de efetuar a exploração
objetiva de dados, informações e/ou discursos, fazendo-os aparecer no conteúdo das
diversas categorias de documentos. A análise de conteúdo foi utilizada para realizar
as apreciações de ambos os instrumentos utilizados para coletar os dados empíricos,
gerando gráficos, tabelas, quadros e narrativa escrita interpretativa.
O tratamento dos questionários ocorreu através da divisão inicial inferidas do
material empírico contendo cinco categorias base: rede de instituição de ensino;
professor(a); formação acadêmica; gênero fílmico e abordagem metodológica
empregada. Essas categorias compreenderam a base da segunda fase de análise da
investigação. Lembramos que essa categorização foi realizada levando em
consideração a quantidade de professores pesquisados que estavam vinculados às
diversas instituições de ensino de caráter público.
[...] os personagens que se apresentam nos filmes e nos programas de televisão tornam-
se referências comuns para milhões de indivíduos [...] que partilham, em função de sua
participação numa cultura mediada, de uma experiência comum e de uma memória
coletiva [...]. (THOMPSON, 2009, p. 219).
[...] distrai, fascina, inquieta, seduz, comove, inspira, provoca diversas sensações: medo,
alegria, tristeza; alimenta a imaginação, os sonhos; amplia o modo de ver, sentir e
compreender as pessoas e o mundo. Com o avanço das novas tecnologias, desenvolveu-
se de forma rápida e sofisticada, tornando-se uma poderosa indústria, capaz de mobilizar
milhões de espectadores, consumidores culturais, em diferentes lugares do planeta. Logo,
o cinema detém um enorme poder de produção, de difusão de valores, ideias, padrões
de comportamento e consumo, modos de leitura e compreensão do mundo (FONSECA,
2012, p. 260).
Finalidade/Objetivo Citações
Figura 01 - Conjunto de aspectos apontados pelos professores sobre o caráter atribuído à mídia
cinemática
roteiro etc., incluindo sua produção. De acordo com uma das professoras
pesquisadas, o cinema nessa perspectiva é:
Sem dúvida alguma [...] uma ótima abordagem, não só pelo conteúdo do filme, mas
também por despertar nos alunos um olhar mais profundo, analisando todos os aspectos
que envolvem o contexto de pré-produção, produção e pós-produção de um filme, como
a direção, a luz, a fotografia, os diálogos, os cenários, o contexto em que a obra fílmica
foi produzida, a recepção do público e tantos outros significados e informações que a
mídia cinematográfica carrega. (Professora, Escola Municipal A, setembro de 2014, In:
SOARES, 2017, p. 85-86).
[...] percebi que os alunos ficam mais falantes, ficam mais à vontade para opinar sobre o
conteúdo, ficam mais atenciosos, porque, aí, eles se prendem aos detalhes. Observam de
uma forma mais atenta, mais clara e refletindo de forma crítica nos debates que são
realizados. Eles se prendem aos detalhes e se posicionam diante dos problemas
[...] dificilmente o filme é tratado como uma fonte, como resultado de um momento
específico e que precisa de reflexões, como por exemplo, refletir sobre o contexto de
produção, a infraestrutura que está por trás, o motivo de produzir essa obra fílmica. [...]
Geralmente, ele é utilizado como um adereço, uma “coisa bonitinha”. [...] O filme por si só
já é o conteúdo [...] Ele é interpretado em si na sua relação com o mundo, com o processo
histórico. O filme é um processo [...]. (Professor, Escola Estadual A, junho de 2016).
(SOARES, 2017, p. 96).
[...] partir da imagem, das imagens. Não buscar nelas somente ilustração, confirmação ou
desmentido do outro saber que é o da tradição escrita. Considerar imagens como tais,
com o risco de apelar para outros saberes para melhor compreendê-las. Os historiadores
já recolocaram em seu lugar legítimo as fontes de origem popular, primeiro as escritas,
depois as não-escritas: o folclore, as artes e as tradições populares. Resta agora estudar
o filme, associá-lo com o mundo que o produz. (FERRO, 2010, p. 86).
[...] se for para usar como ilustração ou adereço, não uso em aula. No máximo sugiro que
os alunos vejam em casa. Na minha opinião, há ainda uma longa caminhada para que os
professores compreendam que os filmes e curtas não são adereços ilustrativos, não são
apenas para o lazer e, sim fontes, para se debater o conhecimento histórico e o que está
posto como verdade. (Professor, Escola Estadual A, junho de 2016). (SOARES, 2017, p. 96).
Figura 2 - Aspectos apontados pelos professores sobre a relação estabelecida entre o filme, o
conteúdo e os estudantes
[...] Eu particularmente penso, que na questão do filme, muitos se preocupam que precisa
ser dublado e colorido. Não... Ele pode ser legendado ou mudo como eu tive algumas
experiências e que funcionaram muito bem! Claro eles acharam horrível, e no início alguns
me disseram: – Ai, professora preto e branco?! Pois é, por isso mesmo! É significativo e
ao mesmo tempo um desafio. [...] E foi um exercício de olhar [...] (Professora, Escola
Municipal D, setembro de 2016). (SOARES, 2017, p. 106).
Então quando eu trabalhei o filme, o filme foi assistido em casa. Essa foi a experiência. E
foi surpreendente. Então o que eu vi: os alunos viram com os pais, teve mães que viram
pela segunda vez, a mãe ou o pai que não conheciam e passaram a conhecer após assistir
com seus filhos, teve alunos que assistiram com a avó que já havia visto o filme antes. [...]
Um filme que parecia ser muito chato porque era mudo, passou a ser um exercício de
prestar atenção nos detalhes e os estudantes conseguiram compreender a ideia do filme.
Na realidade tu matas vários pontos que muitas vezes tu não irias trabalhar em 45
minutos. Então, os alunos conheceram um ícone do cinema mudo, que trabalhou um
conteúdo da II Guerra Mundial e que foi abordado [...] de uma maneira cômica. É outro
lado de ver uma Guerra. (Professora, Escola Municipal C, setembro de 2016). (SOARES,
2017, p. 107).
Quadro 02 – Tipos de aprendizagens gerados pelo cinema na ótica dos professores pesquisados
O filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas por um
aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana. Fazer do
gigantesco aparelho técnico do nosso tempo o objeto das inervações humanas – é essa
a tarefa histórica cuja realização dá ao cinema o seu verdadeiro sentido. (BENJAMIN, 1994,
p.174).
Referências
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. São
Paulo: Edições 70, 2012.
FERRO, M. Cinema e História. Tradução de Flávia Nascimento. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
METZ, C. Linguagem e Cinema. Tradução de Marilda Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1980.
MORIN, E. O cinema ou o homem imaginário. Lisboa: Relógio D’Água: Grande Plano, 1997.
THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 11. ed. Petrópolis:
Vozes, 2009.