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(Produção de Matérias-Primas de Origem Animal)

“O coelho”

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1. Caracterização da Produção Cunícola

1.1. Evolução Histórica

As primeiras referências históricas ao coelho são feitas pelos Fenícios que cerca de
1000 anos antes de Cristo o encontram em expedições que realizam ao norte de África e
à Península Ibérica.
A Península Ibérica parece ter sido o principal local de difusão do coelho para as
restantes partes da Europa. Esta difusão ter-se-á dado de modo natural para o Sul de
França mas em muitos casos terá sido realizado pelo homem, nomeadamente pelos
Romanos. Os Romanos levaram o coelho para diversas regiões do seu Império onde o
criava em cativeiro para depois o soltarem e caçarem. Provavelmente, alguns animais
ter-se-ão escapado do cativeiro e contribuído para a disseminação da espécie com a
criação de populações selvagens em diferentes locais da Europa. Todavia, a plena
domesticação do coelho só terá sido realizada no século V ou VI por acção de algumas
ordens religiosas Francesas, pelo que foi uma das últimas espécies animais a ser
domesticada.
Desde a idade medieval até ao século XVIII a criação do coelho foi difundida pelo
homem em toda a Europa. Explorações mantidas na maior parte dos casos por pessoas
de classes mais abastadas, eram então relativamente frequentes. A tradição Romana de
criar e utilizar o coelho como animal de caça foi mantida, o que contribuiu para a sua
introdução em novos territórios. Por exemplo, foi deste modo que os Normandos
introduziram o coelho em Inglaterra no século XII e que os Ingleses o introduziram na
Austrália e na Nova Zelândia no século XIX.
Em diversas ocasiões ao longo dos tempos animais domesticados que, de um modo
ou outro, escaparam do cativeiro deram origem a populações de coelhos selvagem. No
século XIV em França estas populações multiplicaram-se rapidamente e provocaram
grandes estragos na agricultura e desequilíbrios ecológicos. Estes problemas foram
particularmente graves em regiões onde não havia predadores naturais do coelho. Por
exemplo, a população de coelho selvagem na Ilha de Porto Santo do arquipélago da
Madeira, com origem em animais domésticos introduzidos pelos Portugueses,
multiplicou-se de tal maneira que os seus habitantes tiveram que abandonar a ilha em
1420. Também na Austrália coelhos introduzidos pelos Ingleses deram origem a uma
população selvagem que se tornou uma verdadeira praga nos princípios do século XIX,
provocando grandes prejuízos na agricultura. Esta praga só foi parcialmente controlada
nos anos 50 com a introdução deliberada da doença mixomatose, com o fim de eliminar
coelhos.
Até ao início de século XX a maior parte dos criadores de coelho dispunha apenas
de algumas fêmeas reprodutoras e de animais em crescimento que iam abatendo e
consumindo em função das necessidades do seu agregado familiar. A alimentação
destes animais consistia principalmente em forragens verdes, e em feno, beterraba e
cereais no Inverno e no Verão quando a alimentação era mais escassa. A criação era
extensiva obtendo-se duas ou três ninhadas por ano. A pele era utilizada com
frequência. Havia também alguns criadores que criavam coelhos para a sua exibição.
No século XX, inicia-se a racionalização da produção cunícola com o
aparecimento de jaulas individuais para os reprodutores adultos e a criação dos animais
em crescimento em grupos onde os machos eram castrados.

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Nos anos 50 do século XX é introduzida a jaula metálica e dá-se a difusão das
raças Neozelandesa e Californiana originárias dos Estados Unidos da América. Coelhos
adultos destas raças apresentavam a vantagem de se adaptarem bem às jaulas com rede
metálica enquanto animais de outras raças tradicionais europeias tinham com frequência
problemas de patas. Nesta década inicia-se também a utilização de alimentos
compostos. É também a partir desta altura que aparecem as doenças relacionadas com a
produção intensiva (enterite mucóide, problemas respiratórios, etc.) e a redução da
frequência de doenças relacionadas com idade do animal, etc.).
Após os anos 50 do século XX foram feitos melhoramentos sucessivos na
produção com jaulas. Estas foram colocadas no interior de pavilhões, estudou-se e
melhorou-se a concepção das jaulas, generalizou-se a utilização de sistemas de
ventilação e a iluminação dos pavilhões, etc. A intensificação da produção então
verificada teve como consequência a redução da idade do desmame das 8 semanas de
idade (desmame natural) para 4 a 5 semanas. Provocou-se também a intensificação da
reprodução com cobrição após parto.

Na década de 60 do século passado as raças Neozelandesa e Californiana


continuaram a ser difundidas, pelo que o número de animais das raças tradicionais, com
maior dificuldade em se adaptarem ás novas condições de exploração e com menor
produtividade, regrediu. O coelho colorido é assim progressivamente substituído pelo
branco, o que teve consequências no mercado de peles. Depois de 1970 assiste-se ao
desenvolvimento e divulgação de animais híbridos especializados com base nas raças
Neozelandesas e Californiana, embora, por vezes, fossem também utilizadas algumas
raças europeias na sua formação.
Em resultado da evolução das condições de cria e do melhoramento genético do
coelho verificam-se aumentos significativos da produtividade da produção cunícola,
com aumentos do número de láparos vivos nascidos por parto por fêmea e por ano, dos
números de coelhos desmamados e abatidos por fêmea e por ano e com reduções da
idade a que se obtém o peso de abate e da ingestão de alimento por quilograma de
coelho produzido, o que permitiu reduzir os seus custos de produção. Presentemente a
idade de bate é próxima de 10 semanas mostrando variações entre mercados.

O actual sector intensivo da produção de coelho na Europa Ocidental


caracteriza-se por possuir unidades de produção com 200 a 1000 coelhas reprodutoras,
ou mesmo mais. Utiliza pavilhões construídos com sistemas de ventilação isolamento
térmico nas paredes e cobertura e com controlo ambiental (luz, temperatura) adequados.
O coelho é alojado em jaulas com rede metálica (individuais nos reprodutores e
colectivas nos animais em engorda), não se pratica a castração (dado que o coelho de
carne é abatido antes de atingir a puberdade) são utilizados, de modo generalizado,
alimentos compostos e a água é distribuída automaticamente. Este tipo de cunicultura
intensiva exige disponibilidade financeira elevada, 200 a 300 € por reprodutora
instalada, e uma técnica apurada. Por vezes são também utilizados sistemas menos
dispendiosos como alojamento do tipo semi ar livre ou ar livre, sobretudo com os
animais em crescimento. A generalização da cunicultura intensiva levou também ao
desenvolvimento de outros sectores de apoio à produção, como os centros de selecção e
melhoramento, os centros de abate e comercialização, fabricantes de jaulas e
equipamentos, etc.

Ainda que o sector da produção intensiva seja o sector da produção cunícola que
apresentou maior dinamismo, paralelamente continuou a haver um sector tradicional de

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pequena dimensão que em alguns casos utiliza meios idênticos aos utilizados pela
cunicultura do início do século XX mas que em outros casos beneficiou dos avanços
introduzidos na produção intensiva (jaulas em rede, animais seleccionados, alimentos
compostos, etc.)

Embora nos dias de hoje, a cunicultura seja realizada na maior parte dos casos com
objectivo de produzir carne, existem um número crescente de explorações em que o
objectivo é a produção de peles ou a produção de pêlo. Nestes casos as técnicas de
maneio são especificamente e as raças do coelho utilizadas são especializadas nestas
produções (Adaptado de SANDFORD, J.C. 1992, 1994).

1.2. Caracterização da Produção de Coelho

1.2.1. Produção Mundial e Europeia

A produção mundial de coelho, difícil de quantificar porque se trata de uma


produção realizada por um elevado número de pequenas explorações, cifrou-se em 1999
entre 1e 1,84 milhões de toneladas de carcaças (Quadro 1), tendo mostrado nos últimos
anos tendência para crescer. Tendo em conta a população mundial isto representa um
consumo de 200 e 300 gramas de carne de coelho per capita, valor pequeno quando
comparados com o consumo de carne de outras espécies animais.
Cerca de 44% da produção mundial de carne de coelho é realizada em explorações do
tipo rural (explorações que fazem criação de coelho para o consumo doméstico com
técnicas extensivas de produção, produzindo cada reprodutora, anualmente, menos de
15 coelhos e alimentação baseada em forragens ou subprodutos doméstico) e 56% é
produzida em explorações racionais (explorações que comercializam pelo menos parte
da sua produção e utilizam técnicas intensivas ou semi-intensivas de produção e usam
alimentos concentrados de modo exclusivo ou como complemento de forragens),
(Adaptado de COLIN e LEBAS, 1996).
.

Quadro 1
Produção de carne de coelhos nas diversas regiões do mundo (Adaptado de COLIN e
LEBAS, 1996).

Produção Importações Consumo anual


Região
Toneladas Toneladas Kg/ habitante
Norte de Africa 81000 0 0,55
África Central e Sul 78500 1820 0,15
América do Norte 38000 600 0,15
América Central 20630 1700 0,15
América do Sul 38550 20 0,13
Europa Oriental 325750 700 1,04
Europa Ocidental 647450 72530 1,96
Ásia – Médio Oriente 20320 800 0,1
Ásia Central e do Sul 27570 1000 0,02
Ásia- Extremo Oriente 520120 6500 0,20
Oceânia 800 700 0,03
Total 1798690

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Três quartos da produção mundial da carne de coelho são assegurados pela
China, Itália, França e Espanha. A China com uma produção entre 300 e 400 mil
toneladas é o maior produtor mundial. Esta produção, realizada sobretudo em pequenas
explorações, tem mostrado nos últimos anos forte crescimento.
Com uma produção de 300 mil toneladas de carne de coelho em 2001, das quais
221 mil toneladas são provenientes do sector intensivo da Itália é o primeiro produtor de
europeu e segundo mundial. A produção é garantida sobretudo por explorações
intensivas de grande dimensão (400 a 1000 fêmeas). No total há cerca de 8000
cuniculturas em Itália que representam 10 000 postos de trabalho. O coelho é abatido
por volta dos 84 dias de idade (abate tardio) com 2,6 kg de peso vivo (1,6 kg de
carcaça), embora haja variações regionais nestes parâmetros. As exportações
representam apenas 1% da produção.
A Espanha com 135 mil toneladas de carne de coelho em 2001 é segundo
produtor europeu, tendo a sua produção mostrado um forte crescimento nos últimos 20
anos. A região da Catalunha representa cerca de um terço desta produção. A Espanha
exporta cerca de 5% da sua produção, sobretudo para Portugal e França (Adaptado de
COLIN M., 2000).

Quadro 2
Produção e consumo de carne de coelho em diversos países.

Consumo Produção
Produção Produção
País Ano kg / racional
103 ton rural (%)
habitante (%)
Argentina 1999 7 0,2
Alemanha 1996 30 0,44 50 50
Bélgica 1996 22 2,2 75 25
Brasil 1999 3 0,02
China 1996 409 0,3 58 42
Dinamarca 1999 0,7
Espanha 1999 135 2,75 66 34
França 1996 120 2,1 67 33
Grécia 1999 0,3
Holanda 1999 0,9
Hungria 1996 10 0,13 25 75
Itália 1999 300 5,3 83 17
Malta 1999 8,3
Portugal 1999 22 2 20 80
Republica
1999 38 3,8
Checa
Rússia 1996 90 0,65 33 67
USA 1996 17 0,07 58 42

Com 83 mil toneladas em 2001 a França é o quarto produtor mundial de coelhos.


As suas exportações representam cerca de 5% da produção, mas as suas importações são
superiores a estas. A produção francesa tem mostrado nos últimos anos uma tendência
para a diminuição reduzindo-se de 150 mil toneladas em 1980 para as actuais 83 mil
toneladas, ou seja cerca de 45%. O peso médio das carcaças foi de 1,38 kg em 2001.

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No conjunto os países da Comunidade Europeia (CE) são responsáveis por cerca
de 50% da produção mundial da carne de coelho, produzido a Itália, a França, a
Espanha e Portugal cerca de 85% da produção comunitária. A produção cunícola na CE
é assim uma actividade essencialmente da zona mediterrânea (Quadro 2). A comunidade
Europeia é praticamente auto-suficiente na carne de coelho, importando apenas 5% das
suas necessidades. Estas importações representam cerca de 80% das importações
mundiais de carne de coelho, sendo os seus principais fornecedores a China, a Hungria e
a Polónia.
O consumo de carne de coelho tem importância diferente nas diversas regiões do
mundo, o que reflecte a sua produção, atingindo cerca de 2 kg per capita na Europa
Ocidental e apenas 30 gramas per capita na Oceânia. Para além da Europa Ocidental,
distinguem-se no consumo de carne de coelho a Europa Oriental (1,04 kg per capita) e
o Norte de África (0,55 kg per capita).
O consumo per capita de carne de coelho na Comunidade Europeia é próximo
de 1,6 kg, verificando-se os maiores valores em Itália (5,3 kg), Espanha (2,8 kg), França
(2,1 kg), e Portugal (2 kg), e os menores valores nos países do Norte da Europa. O
consumo médio europeu tem mostrado nos últimos anos tendência para a estabilização.
Todavia, existe propensão para crescimento em Itália, Espanha e Portugal e para a
diminuição em França (Adaptado de BRAINE, e MAGDELEINE, 2001).

1.2.2. Produção de Coelhos em Portugal

Até ao ano de 1975 praticamente toda a cunicultura portuguesa era do tipo


tradicional, constituída por pequenas unidades, com métodos de produção artesanais e
destinada sobretudo a produzir carne para auto-consumo.

1975 a 1980

Entre 1975 e 1980 iniciou-se o desenvolvimento da cunicultura intensiva, no


qual teve grande importância a participação de antigos habitantes das ex-colónias
portuguesas regressados a Portugal depois do 25 de Abril. Nestes anos implantaram-se
em Portugal cerca de 200 explorações intensivas de produção de carne e assistiu-se à
instalação de empresas multiplicadoras indispensáveis para a produção do coelho
híbrido. Contudo, verificou-se com frequência que as explorações cunícolas eram mal
concebidas e que os criadores não possuíam os conhecimentos técnicos adequados, pelo
que as suas produtividades e rentabilidade eram baixas.

1981 a 1985

Grande parte das explorações intensivas instaladas nos anos anteriores faliu
neste período. Das explorações existentes ficaram apenas cerca de uma dezena. Para isto
contribuíram as causas já apontadas e a falta de infra-estruturas de apoio à produção
(comercialização, abate, etc.). Em 1985 apenas cerca de 5% da carne de coelho
produzida em Portugal era proveniente de explorações do tipo intensivo.

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Depois de 1985

Depois de 1985 houve um desenvolvimento acentuado da produção cunícola


intensiva, para o que contribuíram ajudas do estado e ajudas comunitárias à
intensificação da importação de tecnologia do estrangeiro. Em 1990 já havia cerca de
40.000 lugares para reprodutoras em explorações com mais de 20 lugares (produção
intensiva). Neste ano a cunicultura tradicional, que representava cerca de 99% das
explorações, produzia cerca de 80% carne de coelho e a cunicultura intensiva
representava 1% do total das explorações cunícolas e produzia cerca de 20% da
produção total de carne de coelho, que correspondiam a 2000 toneladas de carcaças.
Todavia, as explorações intensivas eram na sua maior parte empresas de pequena
dimensão, possuindo apenas 12% destas explorações mais de 100 lugares para coelhas
reprodutoras.
Após 1990 a importância da produção intensiva aumentou, bem como a
dimensão média das explorações. O número de lugares para reprodutoras em
explorações intensivas passou para 50.000 em 1992 e para 200.000 em 1999, o que
poderá representar cerca de 12000 toneladas de carcaça, ou seja 60% da produção
nacional. Quase todas as explorações intensivas com menos de 100 fêmeas
desapareceram, registando-se o aumento gradual do número de explorações com mais
de 500 fêmeas (média dimensão), que em 1999 representavam de 30% de um universo
de cerca de 650 explorações. Em 1999 a maior exploração portuguesa de cunicultura,
possuía mais de 8 mil fêmeas reprodutoras e vendia 4 a 5 mil coelhos por semana.
Para o aumento da dimensão das explorações cunícolas verificado na década de
90 contribuíram diversos factores, entre os quais se destaca a existência de fundos
comunitários disponíveis apenas para explorações com mais de 250 fêmeas, a mais fácil
racionalização do maneio e as economias de escala obtidas nas explorações de maior
dimensão. Para este aumento da dimensão também contribuiu a pressão dos matadouros
ao preferirem comprar coelhos a explorações maiores, pois têm menores custos e menor
mortalidade dos animais na recolha (na recolha dos coelhos de explorações pequenas,
um camião terá que ir a diversas explorações até perfazer a sua carga e os primeiros
coelhos recolhidos andarão um dia inteiro dentro do camião, sofrendo mais stress e
originando maior mortalidade; os coelhos provenientes de diversas explorações
pequenas também serão menos uniformes que os provenientes de uma grande
exploração). Um grande impulso na produção em Portugal registou-se depois de 1998,
com a generalização da inseminação artificial, o que permitiu planificar com mais rigor
o número de coelhos para abate a produzir, obter coelhos com maior qualidade genética
e mais uniformes (menor oscilações nos pesos dos animais abatidos a uma dada idade).
O aumento da dimensão das empresas do sector reflectiu-se positivamente na
sua produtividade. Calcula-se que em Portugal as explorações intensivas de maior
dimensão produzem, em média, 51 coelhos carne por coelha reprodutora e por ano, o
que representa cerca de 61 kg de carne, o que representa um valor aceitável. Nas
explorações tradicionais em Portugal são apenas produzidos em média 28 coelhos de
carne por coelha reprodutora existente e por ano o que representa cerca de 34 kg de
carne por ano.

Inicialmente as explorações cunícolas intensivas espalharam-se um pouco por


todo o país, embora com maior incidência nas zonas de Viseu, Leiria e Oliveira de
Frades. Posteriormente, a cunicultura intensiva desenvolveu-se também noutras regiões

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como Trás-os-Montes e Alto Douro, onde as explorações de coelhos de carne passaram
de três em 1990 para 34 em 2002 com um total de 21 mil fêmeas.

Actualmente a produção total de carne coelho em Portugal situa-se em valores


próximos de 20 mil toneladas, valor idêntico ao consumo total, sendo as exportações e
as importações de pequena monta. A esta produção de carne corresponde um consumo
anual de cerca de 120 mil toneladas de alimentos e à existência de um empregado por
cada 250 coelhas reprodutoras, que serão cerca de 400.000. Só a parte da produção ( até
ao momento da saída dos coelhos para matadouros e sem incluir os negócios destes)
regista um movimento anual de 150 milhões de euros. A fileira cunícola nacional é
deste modo uma actividade económica importante e em expansão que, todavia,
apresenta alguns problemas. Estes problemas são semelhantes aos já apontados para o
sector cunícola na Europa, estando em alguns casos agravados.
As explorações têm uma rentabilidade da produção baixa devido aos baixos
preços da carne e a sistemas de exploração deficientes. As margens de lucro são, em
geral, reduzidas, os riscos sanitários são elevados e os apoios estatais escassos.
As actividades que estão mais próximas do sector cunícola nem sempre têm tido um
desenvolvimento no grau necessário. Assiste-se ao aparecimento de algum
associativismo, como Associação Portuguesa de Cunicultores e a Cooperativa de
Produtores de Carne de Coelho do Nordeste Transmontano que reúne cerca de 50
cunicultores, embora ainda pouco significativo. A montante a cunicultura está,
razoavelmente servida por cinco centros de multiplicação de coelhos reprodutores
(Cadaval, Boucel, Mortágua, Chão de Parada e Aveiro) e dois centros de multiplicação
de fêmeas (Viseu e Região do Oeste). Registando-se também um crescimento dos
negócios laterais, como o de fabrico de jaulas e outros equipamentos. As fábricas de
alimentos compostos procuram produzir alimentos adequados ao coelho, de modo a
permitirem bons crescimentos associados a baixas mortalidade. Todavia, este objectivo
nem sempre tem sido conseguido. A jusante da produção cunícola os problemas são
maiores dado que os cinco matadouros existentes (três no Oeste, um em Estarreja e
outro em Oliveira de Frades) são insuficientes em número e de pequena dimensão. Os
matadouros não possuem uma estrutura de recolha bem organizada sendo o escoamento
da produção das zonas mais distantes muitas vezes problemático. Perante a ausência de
matadouros portugueses próximos das explorações, como acontece em Trás-os-Montes,
muitas vezes os cunicultores vendem os seus coelhos a matadouros espanhóis,
sobretudo da Galiza, onde o sector está mais organizado e concentrado. Aqui encontram
na empresa que lhes adquire os animais para abate tudo o que é necessário à
cunicultura: centro de selecção de fêmeas, centro de inseminação artificial,
aconselhamento técnico, vacinas e matadouros.
O processo da evolução da cunicultura em Portugal, traduziu-se no aumento da
dimensão média das explorações, introdução de novas técnicas como a inseminação
artificial ou o maneio por bandas, melhoramento genético dos animais, aumento do
associativismo dos produtores, etc. Contudo, este processo ainda está incompleto, o que
é reflectido pela importância do sector tradicional (35% da produção total). Entre os
principais problemas que a cunicultura Portuguesa apresenta destacam-se:
Saturação dos mercados tradicionais de consumo de coelho em carcaça. O
consumo anual desta carne em Portugal (2kg/habitante) evidencia valores baixos
quando comparados com os de Itália ou mesmo Espanha. Para aumentar este
consumo seria necessário realizar um forte investimento em campanhas
publicitárias e criar novos produtos. Apenas situações como a crise das vacas

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loucas (BSE) ou a diminuição muito acentuada do preço da carne de coelho tem
actuado como incentivos ao consumo desta carne.
Baixa produtividade devida à existência de um grande número de produtores que
utilizam animais de baixo valor genético e a problemas sanitários.
Sazonalidade da produção. A produção do coelho de carne ainda está muito
dependente das condições ambientais, o que provoca quedas bruscas nos preços
ao produtor nas épocas de maior oferta.
Rentabilidade baixa da produção intensiva devido a baixos preços da carne, à
exigência de mão-de-obra muito qualificada e a sistemas de exploração onde a
mecanização é difícil.
Problemas estruturais no abate e distribuição devidos à existência de pequenas
industrias com dificuldade na transformação e levam à incapacidade do sector se
adaptar a novas exigências do consumidor (carne mal desossada, coelho em
partes, pratos pré-cozinhados, etc.) e à falta de normalização do produto final. A
venda do coelho em partes representa menos de 10% do total.
Problemas na comercialização. O comércio tradicional (talhos, charcutarias)
ainda representa a mais importante forma de venda ao público de coelho, sendo
esta sobretudo na forma de carcaça de coelho. Os circuitos mais modernos de
distribuição, como supermercados que estimulam mais o desenvolvimento de
novas formas de apresentação e transformação do coelho, embora tenham uma
representação crescente, ainda são minoritários.
Os nichos de mercado que fazem a promoção da proveniência do coelho e da sua
qualidade (“Coelho do campo”) são praticamente inexistentes.
O sector da produção cunícola encontra-se desunido com poucas e pequenas
associações que não se coordenam entre si (Adaptado de PINHO, J. M. M. S.
1992).

1.2.2.1. A Cunicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro

A cunicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro era representada, em 2002, por


34 explorações com cerca de 21 000 fêmeas e 16 000 ninhos (Quadro 3) que produziam
perto de 2000 toneladas de coelho vivo por ano (1200 toneladas de carcaça), vendidos
sobretudo a matadouros industriais. Esta produção representa cerca de 20% da produção
nacional. Aproximadamente um terço das explorações iniciou a actividade entre 1998 e
2002 e apenas 8% a iniciou antes de 1992. Uma maioria significativa (94%) iniciou a
sua actividade devido à concessão de apoios financeiros por instituições públicas.
Cerca de dois terços das explorações de Trás-os-Montes e Alto Douro estão
instaladas no distrito de Vila Real, possuindo o concelho de Montalegre o maior número
de explorações (6) e o concelho de Vila Pouca de Aguiar o maior número de lugares
para reprodutoras (4220 fêmeas). O número de explorações é reduzido no Douro
Superior (Quadro 3).
Nas explorações cunícolas de Trás-os-Montes e Alto Douro trabalhavam
directamente 62 pessoas e 50% dos empresários dedicam-se em exclusivo à cunicultura.
97% dos responsáveis pelas cuniculturas tinham 20 a 55 anos, sendo a sua idade média
de 36.59% dos cunicultores eram homens, um terço tinha apenas o ensino preparatório e
21% formação superior (licenciatura ou bacharelato), (Adaptado de PINHEIRO, 2002).

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Quadro 3
Distribuição das explorações por área geográfica de Trás-os-Montes (Adaptado de
PINHEIRO, 2002)

Nº de % das Fêmeas % de
Distrito Concelho
explorações explorações instaladas fêmeas
Bragança 3 8,8 2190 10,4
C. Ansiães 1 2,9 400 1,9
Mirandela 2 5,9 2360 11,2
Bragança
Mogadouro 2 5,9 670 3,2
T. Moncorvo 2 5,9 920 4,4
Vinhais 1 2,9 330 1,6
Boticas 3 8,8 1470 7,0
Chaves 3 8,8 1600 7,6
Montalegre 6 17,6 3380 16,1
Vila Real Sabrosa 1 2,9 750 3,6
Valpaços 2 5,9 750 3,3
V.P. Aguiar 4 11,8 4220 20,0
Vila Real 4 11,8 2065 9,8
TOTAL 34 21105

A maioria (42%) das explorações de Trás-os-Montes e Alto Douro é de


dimensão média (300 e 500 ninhos que correspondem a 400 a 650 fêmeas. Abaixo
destes valores encontram-se 34% das explorações e acima 24%, havendo duas
explorações com mais de 1000 ninhos (a maior exploração tem cerca de 2000 ninhos).
55% das explorações usam jaulas do tipo multiuso ou polivalente, seguindo assim as
tendências mais recentes no alojamento, 50% das explorações têm apenas um pavilhão e
igual percentagem possui sistemas automáticos ou semi-automáticos de distribuição dos
alimentos.
Cerca de 50% dos coelhos são criados em pavilhões de tipo semi ar livre e 30%
em pavilhões fechados. Em algumas das explorações com mais de dois pavilhões a
maternidade funciona em pavilhão fechado e a engorda é efectuada em pavilhões semi
ar livre. A remoção dos dejectos é efectuada de forma automática em cerca de 75% das
explorações, predominando o sistema de arrasto, mas em poucas é efectuado o seu
tratamento integral. Cerca de 70% das cuniculturas possuem sistemas de refrigeração
que permite controlar parcialmente a temperatura ambiente no verão, mas apenas 1/5
tem aquecimento.
85% Das explorações utiliza 3 ou 4 alimentos diferentes, o que indica um
maneio elaborado, e as restantes utilizam 1 ou 2 alimentos. Os alimentos são fornecidos
essencialmente por 4 fábricas de alimentos compostos, mas há uma que domina cerca de
55% do mercado.
A inseminação artificial é utilizada regularmente em 88% das explorações,
sendo o sémen adquirido exterior na maioria destas explorações. Todas as explorações
trabalham com um ciclo reprodutivo de 42 dias, 52% com banda única, 33% com duas
bandas, e as restantes 15% com três, quatro ou mais bandas. O desmame é efectuado aos
30 dias (30% explorações) ou aos 5 dias (70%) (Adaptado de PINHEIRO, V., 2002).

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Quadro 4
Parâmetros de produtividade das explorações de Trás-os-Montes e Alto Douro
em 2002 (adaptado de PINHEIRO, 2002)

Taxa de fertilidade 82%


Taxa de partos 78%
Índice de consumo global 3,8%
Nados vivos/coelha parida/parto 9
Coelhos desmamados/fêmea parida/parto 7,9
Peso médio da venda dos coelhos 2,28 Kg
Coelhos produzido anualmente por jaula fêmea 131 Kg
Taxa de mortalidade média na maternidade 8%
Taxa de mortalidade na engorda 8%

A taxa de substituição das fêmeas do núcleo reprodutor é na maioria (55%) das


explorações superior a 100%, sendo a substituição em 53% das explorações garantida
adquirindo animais híbridos de primeiro grau (F1) no exterior e nas restantes realizada
com animais reprodutores F1 produzidos na própria exploração utilizando fêmeas de
linhas avós (GP). Cerca de 15%s explorações recorrem pontualmente a animais de carne
para a substituição das reprodutoras. Os animais de substituição adquiridos entram na
exploração na maioria dos casos com 7 a 10 semanas de idade mas em terço dos casos
são láparos do dia.
Em resultado da utilização de técnicas de maneio adequadas e de animais com
elevado potencial genético as explorações de Trás-os-Montes e Alto Douro no seu
conjunto apresentam parâmetros de produtividade aceitáveis (Quadro 4), que se
enquadram nos valores médios obtidos em Portugal.

2. Caracterização do Coelho

O coelho é um animal homeotérmico cuja temperatura corporal no animal adulto


se situa entre 38,5 e 40ºC. O peso corporal médio do coelho doméstico quando é de 5 a
6 kg. Este peso mostra fortes variações entre raças. Alguns dados fisiológicos do coelho
adulto constam no Quadro 5.

Quadro 5
Constantes fisiológicas do coelho adulto

Temperatura corporal, (Cº) 38,5 – 40


Respiração
(ciclos/minuto) 30-60
Volume de ar (litros/minuto) 0,37-1,14
Consumo oxigeno, ml/g y hora 0,47-0,85
Pulsações/minuto 130-325
Volume de sangue, ml/kg 57-65
Pressão sanguínea, mm Hg 90-130/60-90

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A domesticação do coelho selvagem provocou algumas alterações no animal. O coelho
doméstico é cerca de 4 vezes mais pesado que o selvagem, o seu cérebro diminuiu de
peso, os olhos são menores, o peso do esqueleto em relação ao peso vivo é cerca de
20% superior e o coração é proporcionalmente menor. As orelhas são menores e a
forma do corpo e as cores e textura da pelagem alteram-se. Constata-se também um
aumento da fecundidade e da fertilidade. O coelho tornou-se menos medroso e tímido.
A sua domesticação recente é evidente no facto de ser dotado de uma glândula supra-
renal bastante desenvolvida, possuir um carácter extremamente ansioso e ser muito
sensível aos factores de stress, exigindo condições especiais do meio ambiente e da
alimentação.
O coelho adulto tem, aproximadamente, entre 40 e 45 cm de comprimento entre
as extremidades do focinho e da cauda. A cabeça é redonda mas a cara é ligeiramente
alargada. O focinho ou nariz é pequeno e está inserido numa pequena zona da pele sem
pelos e húmida, chamada rhinarium. A boca, relativamente larga, é limitada pelos
lábios. O lábio superior está fendido na sua parte frontal. A zona da cara situada à volta
da boca possui pêlos finos e compridos, que também se encontram em torno dos olhos.
Os olhos do coelho são grandes e estão colocados lateralmente. As pupilas,
muito proeminentes, têm um campo de visão de 360º. O coelho tem três pálpebras: uma
superior, uma inferior, e uma terceira que pode ser fechada para proteger o córnea
durante uma luta ou frente a uma nuvem de poeira. Só as pálpebras superiores e inferior
têm pestanas.
A característica mais evidente da cabeça do coelho é ter longas orelhas, que
possuem um forte suporte cartilaginoso. Os vasos sanguíneos situados na periferia das
orelhas são visíveis e são um lugar privilegiado para as injecções ou para recolher
sangue. Em condições normais as orelhas permanecem duras e erectas. Quando o coelho
corre, luta ou tem medo, as orelhas baixam-se e o seu eixo principal alinha-se com as
linhas do corpo, oferecendo um alvo menor ao perigo. A cabeça está separada do corpo
por um pescoço curto, visível apenas quando está distendido.
O tórax ou peito está separado do abdómen pelo diafragma. Dentro da cavidade
torácica, protegidos pelas costelas estão o coração e os pulmões. O abdómen tem uma
parede muscular, que protege os órgãos que contem no seu interior, como os do
aparelho digestivo.
A coluna vertebral é constituída por sete vértebras cervicais (pescoço) sendo a
primeira o atlas que suporta a cabeça, doze vértebras torácicas que suportam as 12
costelas (só as 9 primeiras costelas estão unidas ao externo para formar a caixa
torácica), sete vértebras lombares (lombo) que são seguidas pelo sacro. Este último
resulta da fusão de quatro vértebras sacras e suporta a pélvis. Depois há 15 vértebras
coccígeas, formando as últimas 10 as cauda. A coluna vertebral está unida ao restante
esqueleto do coelho nos ombros pelas omoplatas e na cintura pela pélvis.
Os membros dianteiros do coelho são de estrutura fina. Quando o coelho está
encolhido os membros dianteiros mantêm-se ligeiramente dobrados pelo cotovelo
colocados por baixo do peito. As patas dianteiras têm cinco dedos, sendo usadas como
auxiliares na locomoção, a esgravatar o chão ou como arma secundárias na luta.
Os membros posteriores do coelho são grandes e fortes. Têm um papel
importante especialmente durante a corrida. Os membros posteriores também são
usados pelo coelho selvagem quando escava a sua toca, para atirar para trás a terra que
ao escavar acumulou atrás do seu corpo. As suas patas posteriores estão equipadas com
os quatro dedos longos e poderosos, armados com garras fortes e agudas. Durante a luta,
o coelho prende o adversário e utiliza as patas traseiras para o agredir.

12
A cauda do coelho é muito curta e permanece recolhida junto dos seus membros
posteriores. A cauda é coberta por uma pele lisa e densa é usada como de meio de
sinalização, especialmente pela fêmea.
As massas musculares mais importantes do coelho encontram-se na parte
traseira, no lombo e coxas. Estas massas são formadas por músculos esqueléticos que
asseguram o movimento do animal. O músculo longissimus dorsi é o que tem maior
massa cárnica. A carne de coelho tem elevado valor dietético para o consumo humano,
devido ao elevado teor em proteína e ferro e baixos teores em gordura, em colesterol e
em valor energético quando comparada com carne de outros animais (Quadro 6).

Quadro 6
Composição da carne de coelho e de outras espécies de animais.
Peso da Composição da carne
carcaça Proteína Gordura Colesterol Energia Ferro
(kg) % % mg/100g Kcal/100g mg/100g
Novilho 200 a 300 15 a 21 12 a 19 14 250 2,8
Porco 70 a 80 12 a 16 30 a 38 10 290 1,7
Coelho 1 a 1,3 19 a 25 3a6 4a5 160 a 200 3,5
Frango 1,3 a 1,5 12 a 18 9 a 10 9 150 a 195 1,8

O início da actividade reprodutiva da coelha depende de diversos factores, como


a raça, o sexo e as condições ambientais. As raças pequenas ou médias são precoces,
alcançando as fêmeas a maturidade sexual aos 4,5 a 5 meses e os machos aos 5 a 6
meses. Nas raças gigantes as fêmeas atingem-na aos 8 meses e os machos ao ano de
idade.
A coelha adulta produz óvulos maduros de modo contínuo, sempre que as
circunstâncias ambientais são favoráveis. Para que ocorra a ovulação é necessário a
estimulação do acto sexual, dando-se 10 a 12 horas após este. Deste modo, a fertilização
pode dar-se me qualquer altura, com excepção do período de gestação.
A receptividade da fêmea à cobrição está relacionada com a presença de
folículos maduros no ovário, sendo as manifestações de cio discretas; algumas fêmeas
montam outras, roçam o queixo na gaiola e arqueiam o lombo. A vulva pode mudar de
aspecto, ficando húmida, violácea e inchada. Nas explorações intensivas com
reprodução natural é suficiente ter um macho por cada 10 fêmeas, e este pode realizar 2
a 3 cobrições num dia.
A taxa de ovulação varia com a idade, factores genéticos e estado fisiológico do
animal, bem como a estação do ano. O número médio de óvulos é maior no Inverno e na
Primavera. A fertilização ocorre 10 a 19 horas após a cobrição. O número de láparos
num parto dependerá do número de óvulos fertilizados. A duração da gestação é de 29 a
31 dias.

Uma coelha pode parir ninhadas de 1 a 17 láparos, variando este número de


acordo com a raça, a idade, etc., mas a média é de 7 a 9. Com ninhadas muito superiores
a 8 a mortalidade dos láparos tende a aumentar, dado que a fêmea geralmente só tem 8
mamilos. A lactação natural da coelha dura 45 a 60 dias. A partir dos 15 a 20 dias após
o nascimento os láparos saem do ninho e começam a comer alimentos sólidos. Dado
que o leite da coelha tem elevados teores em matéria seca, proteína e gordura, os láparos

13
desenvolvem-se rapidamente, duplicando o peso de nascimento ao fim de 6 a 7 dias e
quadruplicando-o em 12 dias.
A coelha pode ter diversos partos por ano. Dependendo do ritmo de reprodução
utilizado e das taxas de fertilidade das cobrições, o número de partos por coelho e por
ano pode variar entre 2 ou 3 nos sistemas mais tradicionais até 7 nos sistemas mais
intensivos.

Quadro 7
Quantidade de carcaça produzida por reprodutora de diversas espécies animais.
Peso
Peso
vivo
Peso vivo
total Peso
vivo das Rendimento kg carcaça
Nº de crias das total de
Espécie da crias em carcaça produzido/k
abatidas/ano crias carcaça/
fêmea ao (%) g fêmea
ao fêmea
(kg) abate
abate
(kg)
(kg)
Vaca 600 1 500 500 55 275 0,5
Porca 200 15 110 1650 78 1287 6,4
Coelha 4,5 40 2,3 92 63 58 12,9
Galinha 3 100 2 200 65 130 43,3

O coelho é assim uma espécie que apresenta uma grande prolificidade em


resultado dos elevados números de láparos nascidos por ninhada e de partos por ano.
Estas características, associadas a um elevado crescimento da sua descendência,
permitem que um efectivo reprodutor relativamente pequeno produza uma grande
quantidade de quilogramas de peso vivo de coelho para abate (Quadro 7) (Adaptado de
MOURÃO, J. L., 2003).

2.1. Classificação Zoológica e Raças do Coelho

Reino – Animal
Sub-reino – Metazoários
Filo – Vertebrados
Classe – Mamíferos
Sub-classe – Placentários
Ordem – Roedores
Sub-ordem – Duplicidentada
Família – Leporídeos
Género – Cryptolagus (Lepus cuniculus)
Espécie – Coelho

Podemos encontrar três tipos diferentes de raças de coelho. As raças obtidas por
selecção artificial a partir de animais que descendiam directamente do coelho selvagem,
como é o caso das raças Fulvo da Borgonha, Prateado de Champanhe, Neozelandês
Branco, as raças sintéticas obtidas por cruzamento ordenado de animais de diversas
raças como é o caso da Californiana e as raças mendelianas obtidas por fixação de

14
carácter novo, com determinação genética simples e resultante de uma mutação, como é
o caso das raças Angorá, Castorex, Satin, etc. As raças do coelho também podem ser
divididas em função da sua aptidão produtiva em raças para produção de carne, raças
para produção de peles e raças para produção de pêlo.

2.1.1. Produção de Carne

Em função do peso corporal dos animais adultos as raças de coelhos para a


produção de carne podem ser agrupadas em raças pesadas (peso adulto superior a 5 kg),
raças médias (peso entre 3,5 e 5 kg) e raças ligeiras (peso entre 2,5 e 3,5 kg).

2.1.1.1. Raças Pesadas

O coelho de raças pesadas tem peso adulto superior a 5 kg e tem, em geral,


pequena fecundidade e rusticidade. Neste grupo existem diversas raças como a Belier
Francês, a Gigante Mariposa, a Gigante Espanhola e a Gigante da Flandres, que é a
maior de todas. Estas raças, quando são utilizadas na cunicultura intensiva, entram mais
frequentemente na formação da linha paterna, como acontece com a raça Gigante da
Flandres, com o objectivo de transmitir à sua descendência crescimentos elevados
(Adaptado de MOURÃO, J. L., 2003).

Gigante da Flandres

O coelho da raça Gigante da Flandres (Figura 2), originário da Bélgica, tem pêlo
cinzento lebre, embora possam existir outras tonalidades. A pele é lisa e densa. É um
animal relativamente precoce e rústico, pesando o macho 5 a 7 kg e a fêmea entre 6 e 9
kg. O seu corpo é grande e longo, constituído por uma forte ossatura e massas
musculares possantes. O seu tronco é uniformemente largo e profundo. Quando visto de
trás tem uma forma rectangular, com cantos arredondados. O peito é largo e o dorso e as
coxas pouco salientes.

Figura 2
Coelho Gigante da Flandres
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

15
2.1.1.2. Raças Médias

O coelho de raça média tem peso adulto que se situa entre 3,5 e 5 kg. A maior
parte das populações ou estirpes de coelhos utilizados na produção intensiva derivam de
raças médias.

Raça Californiana

A raça Californiana (Figura 3) é uma raça americana criada na Califórnia em


1923, inicialmente com objectivo de obter uma raça de carne com pele de boa
qualidade. O coelho da raça Californiana tem pelagem totalmente branca com excepção
das extremidades. O macho pesa entre 3,5 e 4,5 kg e a fêmea entre 4 e 5 kg. Possui o
corpo arredondado, maciço e de comprimento médio. A musculatura é bem
desenvolvida e firme. A garupa é arredondada, larga e cheia. É um animal de
crescimento rápido que produz carne de qualidade. A carcaça tem um bom rendimento
em carne. Apresentam boa rusticidade e prolificidade.

Figura 3
Coelho da raça Californiana
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

Raça Neozelandesa branca

A raça Neozelandesa branca (Figura 4) é originária dos Estados Unidos. Esta


raça possui duas variedades, a branca e a vermelha, sendo a branca a mais utilizada. Os
animais desta variedade são albinos, tendo pelo branco e olhos cor-de-rosa. As fêmeas
pesam cerca de 5 kg e os machos cerca de 4,5 kg. A raça Neozelandesa é uma das
melhores raças para a produção de carne, pelo que com frequência, é utilizada na
produção dos híbridos para este fim.

Figura 4
Coelho da raça Neozelandesa
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

16
Os coelhos da raça Neozelandesa são precoces, pesando 1,8 a 2 kg com 8 a 10
semanas de idade e produzem carne de qualidade. Possuem o corpo bem desenvolvido,
compacto comprimento médio, largo e profundo. As costelas são bem arqueadas, o
dorso, a cauda e a garupa estão bem cheios de músculos. A carcaça tem um bom
rendimento em carne. As fêmeas são mansas, prolíficas e boas mães.

Fulvo da Borgonha

As primeiras referências aos coelhos Fulvo da Borgonha (Figura 5) ou Leonado


da Borgonha foram realizadas no século XIX. Os animais Fulvo da Borgonha possuem
pêlo com cor de fulva com ventre branco ou ruivo. O crescimento destes coelhos é
satisfatório, atingindo os animais adultos dos dois sexos o peso médio de 4,5 a 5kg.

Figura 5
Coelho da raça Fulvo da Borgonha
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

São animais compridos com boa conformação corporal, ossatura forte, caixa
torácica ampla, espáduas bem desenvolvidas, musculatura possante e firme, dorso,
cauda e garupa bem cheios de músculos e que produzem carcaças com um bom
rendimento em carne e com carne de boa qualidade. O coelho Fulvo da Borgonha é
rústico, precoce e fácil de criar. As fêmeas apresentam boa prolificidade.

Prateada de Champanhe

O padrão dos raça Prateada de champanhe (Figura 6) foi fixada em 1912, sendo
referida desde os meados do século XVII. Os animais Prateada de Champanhe possuem
pelagem densa e longa com uma cor azulada. Os dois sexos atingem pesos de 4,5 a 5
kg. Têm boa conformação corporal com um corpo redondo e maciço, com a
musculatura compacta, possante e bem desenvolvida. Permitem obter um bom
rendimento em carcaça. A aparência é vivaz. A velocidade de crescimento é média.

Figura 6
Coelho da raça Prateada de Champanhe
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

17
2.1.1.3. Raças Ligeiras

O coelho adulto de raças ligeiras tem peso corporal entre 2,5 e 3,5 kg. Tem um
desenvolvimento corporal precoce, boas aptidões maternas mas as suas características
reprodutivas, particularmente a prolificidade, são variáveis. A raça mais utilizada é a
Pequeno Russo.

Pequeno Russo

Os coelhos Pequeno Russo (Figura 7) possuem pêlo branco com extremidades


pretas, aspecto semelhante ao da raça Californiana, à qual serviu de base para a
formação. As fêmeas pesam cerca de 2,5 kg e os machos cerca de 2kg. As fêmeas têm
boa prolificidade. O coelho Pequeno Russo tem corpo curto e arredondado e carcaça
com bom rendimento em carne, sendo esta de boa qualidade. O crescimento destes
coelhos é aceitável, contudo o peso de abate normalmente utilizado na produção
intensiva (2,1 kg) só é atingido muito tarde, dado que é próximo do peso adulto destes
animais.

Figura 7
Coelho da raça Pequeno Russo
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

2.1.2. Raças para Produção de Pêlo

Os coelhos Angorá (figura 8) são criados em França desde o século XIII, sendo a
região de Bordéus o berço do seu desenvolvimento (Figura 7). A raça Angorá é única
raça de coelhos criada para a produção de pêlo, tendo o seu nome sido atribuído por o
seu pêlo ter uma textura próxima do pelo da cabra Angorá, utilizada para confeccionar
mohair. Actualmente existem numerosas variedades de coelhos da raça Angorá
espalhadas por todo o mundo, sendo as mais importantes a francesa e a alemã.
A raça Angorá resultou de uma mutação monogénica autossómica recessiva que
permite um crescimento anormal do pêlo. Em geral, os animais são albinos e o pêlo
branco pode atingir 12 a 15 cm de comprimento. Os animais adultos pesam entre 5 a 5,5
kg.

18
Figura 8
Coelho Angorá
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

2.1.3. Raças para a Produção de Peles

O coelho pode ser criado com a finalidade principal de produzir peles. Com este
fim foram seleccionadas diversas raças, sendo as com maior interesse as que possuem
pelagem do tipo rex, chinchila e satin.
O coelho da raça Chinchila (Figura 9), é o melhor representante dos animais
com pelagem de tipo chinchila, embora esta pelagem possa estar presente noutras raças.
A pelagem destes coelhos tem uma tonalidade cinza luminosa com um reflexo azulado
sobre um fundo mais escuro. O coelho Chinchila adulto pesa 2,5 a 2,75 kg.

Existem numerosas raças com pelagens rex, como raça Rex (3 kg de peso vivo
nos animais adultos), a Rex Fulva, a Castorex, etc., que têm pelagens de diferentes
cores. A pelagem rex resulta de uma mutação monogénica autossómica recessiva que
actua de modo inverso à mutação do coelho Angorá. Os pêlos dos coelhos com esta
mutação atingem apenas 1,2 cm de comprimento e dão um aspecto lustroso à pele.

A pelagem satin resulta da diminuição do diâmetro dos pêlos, originando pelos com
toque mais suave. A pelagem fica com aspecto acetinado acentuado pela relativa
transparência do invólucro dos pêlos, dando um brilho excepcional ao velo.

Figura 9
Coelho Chinchila
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

19
2.1.4. Aplicação industrial

Lãs do Bunny Angorá

Cobertor da pele do coelho

Carne de coelho embalada para consumo

20
2.1.5. Algumas raças exóticas

País de origem: Rússia – raça média para carne.


Peso mínimo: 3,8 kg
Peso ideal: 4,5 kg
Peso máximo: 5 kg
CONFORMAÇÃO:
Cabeça: Larga e forte, mais delgada na fêmea.
Olhos: Médios de cor pretos claro.
Pernas: Curtas e grossas.
Orelhas: 11 cm mínimo. Ideal 13 cm, fortes direitas em
forma de V.
Cauda: Média direita e colocada aos flancos, papadas
admissíveis nas fêmeas, intoleráveis nos machos.
Cor: Muito uniforme, preto intenso e puro. De uma
tonalidade realmente quente.

Figura 10
Alaska – Raça de Coelho
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

País de origem: Suíça


Idade adulto: 5 meses
Peso mínimo: 3,5 kg
Peso ideal: 4 kg
Peso máximo: 4,5 kg
CONFORMAÇÃO:
Cabeça: De tamanho proporcional ao corpo, sendo mais
forte no macho, e na fêmea mais afilada.
Olhos: Escuros
Orelhas: Tamanho regular em proporção ao corpo,
ligeiramente pontiagudas bem inseridas e não separadas.
Comprimento 13 cm.
Tronco: Cilíndrico.
Quarto posterior: Forma arredondada, musculatura bem
desenvolvida, e com boa cobertura.
Cauda: Inserção vertical.
Unhas: Escuras.
Coloração da pele: No Castor Rex é castanha
amarronzada, sendo mais escura na parte superior, indo
para o laranja, ao redor dos olhos e branco no ventre.
Figura 11
Castor Rex – Raça de Coelho
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

21
País de origem: Inglaterra – raça pequena.
Idade adulto: 4 meses
Peso mínimo: 2,3 kg
Peso ideal: 3 kg
Peso máximo: 3,3 kg
CONFORMAÇÃO:
Cabeça: De tamanho regular em proporção ao corpo,
arredondada no macho e mais afilada na fêmea.
Olhos: escuros.
Orelhas: Tamanho médio, em proporção ao corpo,
arredondada no macho e mais afilada na fêmea
Tronco: Curto e cilíndrico.
Quarto posterior: Forma arredondada.
Cauda: Inserção vertical, colocada ao quarto posterior.
Membros: Bem aprumados e proporcionais.
Coloração da pele: Corpo e dorso de cor preta, com
reflexos brilhantes. Também a cabeça, orelhas e parte
superior do rabo, são pretas. Borda inferior do maxilar, ao
redor dos olhos, parte interna das orelhas (entre elas),
pescoço, peito ventre, parte inferior da cauda e patas são de
coloração amarelo avermelhado intenso. Na nuca, existe
uma cunha pequena, bem desenhada, de coloração amarela
avermelhada intensa, não devendo ultrapassar as espátulas.

Figura 12
Negro e Fogo – Raça de Coelho
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

País de origem: França


Idade adulto: 5 meses
Peso mínimo: 5 kg
Peso ideal:
Peso máximo: 7 kg
CONFORMAÇÃO:
Cabeça: Nos machos bem desenvolvidas sempre em
harmonia com a proporção do corpo do animal, nas fêmeas,
mais afiladas, com a delicadeza dos traços (características
das fêmeas).
Olhos: Completamente despigmentados (mais brilhantes),
próprios dos albinos, apresentam a íris cor-de-rosa.
Orelhas: São robustas, aveludas, bem plantadas e em forma de
V. Na parte mediana, larga em forma colher, a ponta
arredondada, mínimo de 15 cm, proporcional a um animal de
7 kg de bom comprimento, deverão ter de 18 a 19 cm.
Tronco: Robusto, elegante, musculoso, comprido e firme.
Quarto posterior: Com ossatura leve para um gigante,
envolvido por camada de pele e músculos.

22
Cauda: Inserção vertical.
Papada: Nula nos machos e desenvolvida nas fêmeas.
Membros: Bem desenvolvidos, com aprumo e robustos.
Unhas: Brancas de tamanho proporcional.
Cor do pêlo: Branco-neve.
Pelagem: Densa, pelo fino, delicado e lustroso, deve voltar
rapidamente a posição normal quando tocado ao contrário.

Figura 13
Gigante de Bouscat – Raça de Coelho
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

País de origem: Áustria - raça média para carne


Idade adulto: 5 meses
Peso mínimo: 3,5 kg
Peso ideal: 4,5 kg
Peso máximo: 5 kg
CONFORMAÇÃO:
Cabeça: De tamanho regular em proporção ao corpo.
Forte, testa e focinho largos, pescoço curto.
Olhos: Azuis-escuros, grandes e brilhantes.
Orelhas: Em proporção ao corpo, de pontas
arredondadas, carnudas, em forma de colher, 14 cm de
comprimento.
Tronco: Cilíndrico.
Quarto posterior: Forma arredondada, musculatura bem
desenvolvida.
Cauda: Inserção vertical, colocada ao quarto posterior.
Unhas: Escuras.
Coloração da pele: Azul-escuro, pelagem densa.

Figura 14
Azul de Viena – Raça de Coelho
(Adaptado de WWW.GOOGLE.PT)

23
2.1.6. Raça portuguesa

Coelho-bravo
Oryctolagus cuniculus

O coelho é uma das espécies


cinegéticas portuguesas de maior
importância, devido à facilidade
com que se reproduz e aos números
elevados que as suas populações
atingem. É um pequeno herbívoro
que mede entre 35 e 50 cm e pesa
entre 1,2 e 2,5 kg. Tem uma
pelagem de cor acinzentada com
laivos amarelo-acastanhados na
nuca e nas patas, e a face anterior
esbranquiçada; as orelhas são
relativamente curtas (menores que o
comprimento da cabeça). Quando
em movimento, identifica-se
facilmente pelo seu estilo de corrida
em apertados ziguezagues.

Vive em zonas onde o mato é Figura 15


abundante, preferindo os terrenos Coelho-bravo
secos e arenosos, mais fáceis para a
construção de tocas. A alimentação é constituída essencialmente por plantas herbáceas,
raízes, grãos e mesmo cascas suculentas de algumas árvores.

É um animal de hábitos nocturnos e crepusculares, embora possa ser visto durante o dia
quando não há interferência humana. Vive em colónias, que, em caso de densidades
elevadas, podem atingir os 20 indivíduos. O coelho reproduz-se quase todo ano, embora
seja mais activo entre Março e Maio. Com um período de gestação de apenas 28/33
dias, cada fêmea tem três a sete ninhadas por ano, produzindo cada ninhada entre duas a
sete crias, cegas, surdas e sem pêlo, que, ao fim de 3,5 meses no caso das fêmeas e 4
meses no caso dos machos, já estão aptas a reproduzir. Tem uma longevidade máxima
de nove anos (Adaptado de WWW.GOOGLE.PT).

24
3. Características Reprodutivas do Coelho

3.1. Macho

3.1.1. Aparelho Genital

O aparelho genital do coelho é semelhante ao dos restantes mamíferos, sendo


formado pelos testículos, epidídimio, canais deferentes, órgão copulador e glândulas
anexas (glândulas bulbo uretrais, próstata e vesículas seminais). Os dois testículos estão
contidos na bolsa escrotal que comunica com a cavidade abdominal. O epidídimio tem
como funções principais a maturação dos espermatozóides, a concentração do esperma
por absorção de liquido e o armazenamento dos espermatozóides, equivalente a 8 a 10
dias de produção espermática. O conduto deferente desemboca na uretra e possui
contracções peristálticas nas suas paredes musculares no sentido do epidídimio para a
uretra. Na porção terminal possui diversas glândulas.
O pénis, órgão copulador, é desprovido de glande e está coberto pelo prepúcio.
Em repouso está dirigido obliquamente para trás e na erecção toma uma posição
horizontal dirigida para a frente. Duas glândulas prepuciais situadas junto a base do
pénis segregam uma substância com odor intenso que tem como papel importante no
comportamento reprodutivo e no desencadear do estímulo necessário para a ovulação na
fêmea (Adaptado de LEBAS et al., 1991).

3.1.2. Desenvolvimento Sexual

O desenvolvimento sexual do coelho pode ser dividido em diferentes etapas em


função do momento da vida do coelho em que ocorre e dos fenómenos fisiológicos que
neles ocorrem. O período pré-natal, que ocorre durante a gestação, e o período pós-natal
com as suas três fases, a infantil, a pré-pubere e a adulta são, em geral, consideradas as
etapas principais.

3.1.2.1. Período Pré-Natal

O desenvolvimento sexual do coelho durante a gestação é limitado, caracteriza-


se sobretudo pela diferenciação das gónadas com a formação dos testículos por volta do
16º dia de gestação e pelo começo da produção dos primeiros androgénios por volta do
19º dia. Estes androgénios estimulam o desenvolvimento dos tubos seminíferos e das
células germinais no terço final da gestação. No 21º dia inicia-se a formação da próstata.

3.1.2.2. Período Pós-Natal

Fase infantil

A fase infantil do desenvolvimento sexual do coelho decorre entre o nascimento


e os 40 dias de idade, caracterizando-se por um crescimento lento dos testículos e das
vesículas seminais. Até as 5 semanas de idade os testículos desenvolvem-se mais
lentamente que o corpo, acelerando o seu desenvolvimento depois desta idade. As
concentrações sanguíneas de testosterona e FSH são baixas e nos testículos as células
intersticiais ainda não estão diferenciadas e a espermatogénese ainda não se iniciou. A

25
concentração de LH é alta no nascimento mas logo após desce rapidamente, mantendo-
se baixa até ao fim da fase infantil

Fase pré-pubere

A fase pré-pubere do coelho ocorre, aproximadamente entre os 40 e os 140 dias


de idade. Dos 40 aos 60 dias de idade dão-se aumentos significativos dos níveis de FSH
e testosterona o que acelera o crescimento dos testículos, com desenvolvimento das
células de Leydig (responsáveis pelo controlo da espermatogénese) que começam a
funcionar provocando o início da espermatogénese entre os 40 e os 50 dias de idade.
Por volta dos 70 dias de idade, quando os níveis sanguíneos de androgénios são
máximos, aceleram-se o crescimento das vesículas seminais e aparecem as primeiras
espermatogónicas. É ainda durante a fase pré-pubere, por volta dos 110 dias de idade,
que aparecem os primeiros espermatozóides.
Devido ao aumento da produção de testosterona dão-se as primeiras
manifestações do comportamento sexual, com tentativas de cobrição, por volta dos 60 a
70 dias de idade. Os primeiros coitos podem ocorrer por volta dos 100 dias de idade,
não sendo contudo fecundado porque a viabilidade dos espermatozóides nos primeiros
ejaculados é baixa ou nula. Durante a maior parte desta fase os testículos encontram-se
numa posição enorquidea, dentro da cavidade abdominal.

Fase adulta

A fase adulta do coelho inicia-se com a puberdade. A puberdade do coelho pode


ser definida como o momento em que os testículos são capazes de produzir
espermatozóides fecundantes de modo contínuo, o que ocorre pouco depois da descida
dos testículos para o escroto.
A puberdade pode ocorrer a partir das 20 semanas de idade sendo, contudo, esta
idade variável com a raça e com a linha do coelho. Pode haver diferenças de 7 a 8
semanas de idade do aparecimento dos primeiros espermatozóides entre os coelhos de
diferentes raças ou linhas. A puberdade é também afectada por numerosos factores
ambientais, como alimentação e a duração/variação do fotoperíodo que o coelho
recebeu durante o período de crescimento. Por estes motivos, a entrada em reprodução
dos machos deve ser objecto de uma atenção particular por parte do cunicultor para
evitar o aparecimento de problemas de fertilidade. Em termos práticos recomenda-se
que quando as condições ambientais de cria dos coelhos são correctas e os coelhos de
raça Neozelandesa só devem ser postos na reprodução às 22 a 24 semanas de idade.
Durante a fase adulta a concentração sanguínea de LH e FSH encontra-se nos
níveis do animal adulto e a produção de androgénios influencia os caracteres sexuais
secundários. O tamanho dos testículos continua a aumentar ate aos 8 meses de idade,
aumentando o seu relativo ao peso corporal. O desenvolvimento das vesículas seminais
e outras glândulas anexas tem um padrão semelhante.

26
3.1.3. Actividade Reprodutiva do Coelho

Além da idade do coelho, que como já referimos afecta a sua capacidade


reprodutiva, existem numerosos factores que também a afectam. Contudo existem
numerosos factores que podem afectar esta produção.

Ritmo de cobrição

A produção de esperma é muito variável entre os coelhos, bem como entre


sucessivos ejaculados do mesmo macho. Embora o coelho activo seja capaz de cobrir
com grande frequência, isto é de evitar. Quando são realizadas mais de duas cobrições
por dia o volume do esperma e a sua concentração diminuem com o aumento deste
número. Ritmos de cobrição superiores têm um efeito negativo na qualidade do sémen,
dado que provocam alterações da espermatogénese com aparecimento de elevada
proporção de espermatozóides imaturos o que origina baixa fertilidade. Se o coelho
realizar uma cobrição por dia, ao fim de oito a dez dias sucessivos poderá haver uma
diminuição da qualidade e da quantidade do sémen produzido, necessitando depois de 2
a 3 dias de descanso para refazer as reservas de espermatozóides do epidídimio e no
canal deferente. Quando o macho é utilizado com o ritmo mis intenso podem ser
necessárias cerca de três semanas de repouso para o volume e a concentração do
esperma voltarem ao normal.
Os melhores resultados em termos de qualidade do esperma e de fertilidade são
obtidos com três cobrições por semana, com cobrição dupla em cada dia e um dia de
repouso entre cobrições. Obtêm-se também bons resultados quando o coelho realiza 2
cobrições sucessivas, com um mínimo de 15 minutos de intervalo de 2 em 2 dias. Se se
agruparem as cobrições num dia da semana, o coelho pode realizar 3 a 4 cobrições com
produção de ejaculado em quantidade e concentração suficientes para obter a
fecundação.

Preparação do macho

A preparação do macho antes da cobrição pode também afectar a sua capacidade


reprodutiva. O agrupamento dos machos nas três horas anteriores à cobrição, estimula o
comportamento sexual e aumenta o volume do ejaculado e a motilidade dos
espermatozóides, podendo mesmo aumentar o seu número. O aumento do volume do
ejaculado deve-se provavelmente ao estimula a secreção das glândulas anexas e a maior
motilidade dos espermatozóides deve-se a uma alteração do fluido seminal. A
preparação sexual do macho realizando uma falsa monta antes da cobrição tem também
efeitos positivos na concentração do ejaculado.

Estação do ano

A produção espermática e a capacidade reprodutiva do coelho são também muito


dependentes da estação do ano, sobretudo quando está alojado em pavilhões sem
condicionamento ambiental. A actividade sexual, o volume e a concentração dos
ejaculados são máximos de Março a Junho, quando o fotoperíodo é crescente e a
temperatura se encontra em valores próximos da zona de neutralidade térmica e são

27
mínimos no fim do verão e no início do Outono quando o fotoperíodo é decrescente e a
temperatura elevadas. Variações no comprimento total dos testículos na bolsa escrotal,
são um bom indicador do estado reprodutivo do coelho.
A sazonalidade da actividade reprodutiva do coelho deve-se sobretudo aos
efeitos do fotoperíodo na libertação da hormona de libertação das gonadotropinas. No
coelho selvagem há variações sazonais muito marcadas na secreção desta hormona,
ocorrendo os valores mais baixos do antes do solstício de inverno. Depois deste
solstício, a libertação da gonadotropina aumenta até cerca de um mês depois do solstício
de verão. O peso dos testículos sofre uma variação que acompanha as alterações da
libertação da GnRH. No coelho doméstico a variação sazonal da libertação da GnRH
não é tão acentuada, observando-se as maiores concentrações de Março a Junho e as
menores no Outono. Estas variações são também afectadas pelo clima local. Mesmo
quando os coelhos são mantidos com fotoperíodos constantes através de iluminação
artificial há alterações sazonais da libertação da GnRH, embora menos intensas.
Em explorações com luz totalmente artificial os melhores resultados são obtidos
com fotoperíodo constante de 8 a 10 horas. A exposição dos coelhos adultos a períodos
prolongados com fotoperíodo longos (16 horas ou mais) provoca uma regressão mais
intensa das gónadas e uma inibição da actividade reprodutiva.
Temperaturas elevadas (superiores) a 27ºC podem afectar a fertilidade do coelho
devido ao aumento do pH do sémen, alterações morfológicas e diminuição da
motilidade do esperma e da libido. Por este motivo no verão as cobrições devem ser
realizadas nas primeiras horas da manhã (das 6h às 9h). Quando as temperaturas
elevadas se fazem sentir durante períodos prolongados podem alterar a espermatogénese
e os seus efeitos negativos permanecerem até cerca de 60 dias após as condições de
stress (duração da espermatogénese). Os golpes de calor são também muito nocivos.

Alimentação

A alimentação é também de grande importância na fertilidade no macho.


Machos alimentados ad libitum ejaculados com maiores volumes, mais espermatozóides
e maior libido. Todavia a concentração de espermatozóides por ml de sémen é
semelhante à de animais restringidos moderadamente. Deste modo os coelhos devem
ser alimentados ad libitum, embora pontualmente se possa fazer restrições moderadas
para evitar pesos corporais excessivos. Nos jovens reprodutores nunca devem ser
aplicadas restrições da alimentação. Quando os coelhos são alimentados ad libitum o
teor em proteína da dieta não parece ter efeitos significativos na qualidade dos
espermatozóides.
Deficiências em vitaminas A, C e E podem diminuir a fertilidade do macho.
Existem também alguns factores alimentares prejudiciais à fertilidade do macho como,
por exemplo o gossipol do bagaço de algodão (Adaptado de MOURÃO, J. L., 2003).

4. Fêmea

4.1. Aparelho reprodutor

O aparelho reprodutor da coelha é constituído por dois ovários, onde se dá a


formação dos oócitos, pelos ovidutos (formados pelo pavilhão ou infundíbulo, a ampola
e o istmo) pelo útero, pela vagina e pela vulva. O infundíbulo tem uma forma de funil

28
com uma borda fimbriada e recebe os oócitos logo depois da ovulação. A ampola,
porção tubular do oviduto que termina no istmo, é o loca de união do óvulo com os
espermatozóides. O útero é formado por dois cornos uterinos grandes e um colo uterino
curto, sendo do tipo duplex ou bicórneo. A vagina é o órgão copulador da fêmea.

4.2. Desenvolvimento sexual

De forma semelhante ao que ocorre no macho, o desenvolvimento sexual da fêmea


inicia-se durante a fase fetal, ocorrendo a diferenciação sexual por volta do 16º dia de
gestação e as primeiras divisões das oogónias aos 21 dias de vida fetal. Até ao
nascimento, dá-se uma multiplicação intensa das células germinais, originando um
conjunto de oogónias (2n cromossomas) folículos num estado primordial.
Depois do nascimento as oogónias sofrem de divisão meiótica dando origem aos
ooócitos primários (n cromossomas). Seguidamente, os oócitos primários crescem,
aumentam de volume e cercam-se de células foliculares, originando os folículos
primários na 2ªsemana de vida. Estes sofrem seguidamente um processo de
desenvolvimento dando origem a folículos cavitáros ás 9 a 10 semanas de idade que
continuam o seu desenvolvimento até atingirem o estado pré-ovulatório por volta das 14
a 17 semanas de idade (100 a 120 dias). Ás 10 a 12 semanas de idade as fêmeas já
podem aceitar pela primeira vez o macho mas, em geral, a cobrição não provoca a
ovulação.
Quando a fêmea é coberta pela primeira vez, depois dos 100 a 120 dias de idade, os
folículos pré-ovulatório evoluem para folículos maduros ou de GRAAF. Nesta evolução
o oócito primário contido no folículo termina a sua divisão meiótica originando o oócito
secundário e glóbulo polar. A ovulação dá-se 10 a 12 horas após a estimulação do coito
originando o corpo hemorrágico e, posteriormente, o corpo amarelo. No caso de se dar a
fecundação haverá uma segunda divisão meiótica do oócito secundário para dar o óvulo
maduro.
O crescimento dos ovários até às 8 a 10 semanas de idade é mais lento que o do
restante organismo da coelha, acelerando-se a partir desta idade. O desenvolvimento do
restante aparelho reprodutivo acompanha o do ovário.
Na coelha é difícil definir a idade da puberdade como idade em que ocorre o
primeiro estro, de modo semelhante ao realizado em outras fêmeas, porque tem
ovulação provocada. Por este motivo a idade da puberdade na coelha é definida como o
momento no qual se dá pela primeira vez a ovulação após a cópula.
A idade da puberdade é variável com a raça e com a época de nascimento. As
coelhas de raças pequenas e médias atingem a puberdade por volta dos 4,5 a 6 meses de
idade e as de raças gigantes por volta dos 5,5 a 8 meses. As fêmeas nascidas no Outono
são mais precoces que as nascidas na Primavera. O desenvolvimento corporal é também
importante. Quanto mais rápido é o crescimento mais precoces são as fêmeas. Em geral,
a puberdade é atingida quando as fêmeas atingem 2/3 do peso adulto, embora só seja
aconselhável cobri-las quando atingem 4/5 do peso adulto.

A actividade sexual da coelha atinge o seu apogeu à 2ª ou 3ª ninhada, podendo durar


até aos 5 ou 6 anos de idade. Á medida que as fêmeas envelhecem a taxa de fertilidade
diminui e a mortalidade embrionária aumenta devido ao envelhecimento do útero. Por
estes motivos na cunicultura intensiva a carreira produtiva da coelha é no máximo de 2
anos, sendo frequentemente inferior a um ano.

29
4.3. Ciclo Sexual

Nas fêmeas dos bovinos, ovinos, suínos e outros mamíferos a ovulação ocorre
espontaneamente com intervalos regulares durante o período de cio ou estro. Pelo
contrário, a coelha não tem ciclo éstrico, com aparecimento regular de cio quando se dá
a ovulação espontânea.
Nesta fêmea a ovulação e consequente formação do corpo lúteo só se dão após o
estímulo da cópula. Na ausência desta a fêmea não ovula a mantém-se em estro durante
períodos mais ou menos longos.
Todavia, numerosas observações mostram a existência na coelha de alternância
entre períodos de estro, durante os quais aceita a cobrição, e de períodos de recusa. A
duração destes períodos é variável entre coelhas, podendo haver fêmeas com um
período receptivo de 28 dias seguido de um ou dois dias de recusa enquanto que outras
têm 2 dias receptivos seguidos de 4 semanas de recusa. Esta receptividade está
relacionada com o ciclo da maturação folicular e com o número de folículos pré-
ovulatório existentes nos ovários da coelha. (Adaptado de FUSI, A 1994).

5. Núcleo reprodutor

Os reprodutores da exploração cunícola intensiva são, na maioria dos casos, animais


híbridos (F1) ou de estirpe pura. As explorações os seus reprodutores a empresas de
selecção, ou representantes, procurando que eles se enquadrem nos seus objectivos
produtivos. Para que os reprodutores tenham uma elevada produtividade e a mantenham
durante períodos longos, os animais devem ser sujeitos a um maneio adequado durante
o período de crescimento e o estado adulto. Todavia, acabará por haver degradação da
sua capacidade reprodutiva com a idade, problemas sanitários e mortes pelo que é
necessário prever a renovação dos reprodutores, para o que a exploração deve possuir
um núcleo de animais em recria.

5.1. Escolha do núcleo reprodutor

A escolha adequada dos coelhos do núcleo de reprodutores é essencial tanto nas


explorações tradicionais como nas explorações intensivas, para obter os melhores
resultados na produtividade global da exploração. Em qualquer caso a escolha dos
animais deverá ter em consideração os seguintes factores:

Selecção e melhoramento – quando se pretende obter a melhor produtividade


da exploração devem ser escolhidos reprodutores resultantes de programas de
selecção.

Estado sanitário – os animais escolhidos para reprodutores devem apresentar


pêlo fino, brilhante e conduta vivaz. Devem ser excluídos da reprodução todos
os animais que tenham padecido de doenças graves mesmo que já não
apresentem sintomas.

30
Temperamento – existem diferenças no temperamento dos animais de
diferentes raças e entre os diversos indivíduos. Por exemplo o coelho
neozelandês branco é mais tranquilo e manuseável do que o californiano. Deve-
se evitar para a produção de carne animais com temperamento muito nervoso e
de difícil maneio. Contudo, deve-se ter em atenção que um animal muito apático
engorda com facilidade, sendo pouco recomendável para a reprodução. O macho
deve possuir temperamento vivaz e libido bem vincada. A fêmea deve ter um
carácter tranquilo, sem timidez e nervosismo excessivos, dado que são
desfavoráveis no parto (abortos) e no cuidado da ninhada (abandono das crias,
canibalismo).

Conformação corporal – o coelho reprodutor deve possuir elevada proporção


de carne de alta qualidade, para que é essencial possuir boa conformação
corporal. Animais com malformações devem ser rejeitados. O macho deve ter o
aparelho sexual externo bem desenvolvido, com 2 testículos sólidos e elásticos e
caracteres sexuais secundários bem vincados (cabeça larga, constituição robusta,
ossos fortes). A reprodutora deve ter 8 a 10 mamilos e boa capacidade de
produção de leite e ser bem constituída, com pélvis larga e profunda para
facilitar o parto. Também é conveniente que as fêmeas não estejam demasiado
gordas, dado que terão maiores dificuldades reprodutivas e menor fertilidade.

Utilização de registos – a escolha dos reprodutores deve ser realizada utilizando


os registos das características produtivas e reprodutivas dos colaterais, da
descendência, etc. Este critério é especialmente importante quando o cunicultor
faz a renovação do núcleo reprodutor a partir de animais produzidos na sua
exploração.

Nota: a escolha dos machos deve ser mais exigente que a das fêmeas, dado que se
encontram em menor número na exploração e que cada macho condiciona o rendimento
de uma descendência mais numerosa.

5.1.1. Proporção entre machos e fêmeas

A proporção entre machos e fêmeas no núcleo reprodutor depende da dimensão da


exploração, ritmo de reprodução utilizado e método de reprodução (natural ou
artificial).

Proporção entre machos e fêmeas com cobrição natural em função da dimensão da


exploração:
Dimensão da
Proporção
exploração n.º de
macho/fêmeas
fêmeas
> 50 1:8 a 1:10
25 a 50 1:5 a 1:8
< 25 1:4 a 1:5

31
A relação macho/fêmea depende também do ritmo de reprodução utilizado na
exploração. A um maior ritmo deve sempre corresponder um menor número de fêmeas
para cada macho. Este número também deve ser diminuído nas épocas do ano em que a
fertilidade dos reprodutores é mais afectada, como acontece no Verão.

5.1.2. Maneio dos machos reprodutores

5.1.2.1.Recria

Aos 70 dias de idade os machos iniciam o comportamento de monta e por volta


dos 100 dias são capazes de realizar a primeira cobrição. Por este motivo, depois das 10
semanas de idade, momento em que são escolhidos para o núcleo de recria, não é
conveniente criar os coelhos dos dois sexos em conjunto e os machos devem ser
alojados individualmente.
A actividade reprodutiva do macho deve ser iniciada depois dos 5 a 6 meses de
idade se o coelho for de raças médias ou 7 meses se for de raças pesadas. Só assim se
garante que o macho tenha um desenvolvimento corporal correcto no início da vida
reprodutiva, o que evita a fadiga da reprodução, facilita o processo da cópula e
maximiza a sua fertilidade. A fêmea utilizada na primeira cobrição deve ser dócil, para
ser coberta com facilidade.

5.1.2.2.Actividade reprodutiva do coelho

Os melhores resultados em termos de fertilidade e capacidade reprodutiva do coelho


adulto são obtidos quando realiza de 2 em 2 dias cobrições sucessivas com um intervalo
mínimo de 15 minutos. Se agruparem as cobrições num só dia da semana, o coelho pode
realizar 3 cobrições com produção de ejaculado em quantidade e concentração
suficientes para obter a fecundação. Todavia, enquanto os machos forem jovens nos
primeiros 3 meses de reprodução, o ritmo de utilização deve ser inferior (1 ou 2
cobrições por semana).
Um ritmo possível de utilização do macho em cobrição natural ou em inseminação é
começar com um salto (ou recolha de sémen) por semana nos machos de 5 a 6 meses,
dois saltos repartidos por 2 vezes na semana aos 7 meses e dois saltos cada 2 dias depois
dos 8 meses.

5.1.2.3.Factores

Sazonalidade da espermatogénese e do comportamento reprodutivo

O coelho criado em condições naturais tem variações sazonais na produção


espermática e no comportamento reprodutivo, com o pico da actividade em Abril a
Junho e a actividade mais baixa no fim do Outono. Estas variações sazonais estão
principalmente relacionadas com o fotoperíodo e com a temperatura, mas ocorrem
mesmo quando o macho é mantido sob fotoperíodo constante. A actividade espermática
reflecte-se no peso dos testículos que atingem o peso mais elevado no início do Verão e
o mais baixo no fim do Outono. Durante o Verão, especialmente com temperatura
superior a 27º C, há também modificações do sémen, nomeadamente aumento das

32
alterações morfológicas e do pH e diminuição da motilidade dos espermatozóides e da
libido dos machos.

Alimentação

A partir dos 5 a 6 meses de idade, início da actividade reprodutiva, a ingestão de


alimento pelo coelho diminui naturalmente e este tem pouca tendência para engordar,
sobretudo se for utilizado regularmente. Por este motivo, o coelho adulto deve ser
alimentado ad libitum, especialmente se é jovem, dado que este nível de alimentação é o
que geralmente permite obter melhores resultados na libido e na produção de esperma
por ejaculado, embora não melhore a qualidade do sémen. A restrição da quantidade de
alimento distribuído ao macho adulto degrada a libido e a produção de esperma por
ejaculado, e quando é muito severa afecta negativamente a qualidade do sémen.
Todavia, durante o período de reprodução devem ser feitos controlos periódicos do peso
do macho. Sobretudo se provem de linhas de elevado crescimento, o macho mais velho
pode ser submetido a restrições moderadas para evitar o peso corporal excessivo. Esta
restrição tem como objectivo principal evitar que o coelho adquira problemas de patas
em resultado de peso corporal muito elevado. O macho adulto que não apresentar libido
deve ser eliminado. Regularmente deve ser feita uma inspecção regular dos dentes e
unhas do macho.

5.1.3. Maneio das fêmeas reprodutoras

5.1.3.1.Recria

O maneio das fêmeas destinadas à reprodução até aos 70 dias de idade é idêntico ao
dos animais de carne. Os animais são alojados em jaulas colectivas e alimentados ad
libitum. A esta idade, as fêmeas são separadas dos machos e até aos 3,5 meses de idade
deverão ser alojadas, de preferência, individualmente ou em grupos de 2 ou 3 coelhas.
Neste caso, 3 semanas antes da primeira cobrição, as fêmeas deverão ser alojadas
individualmente para evitar casos de pseudogestação. As reprodutoras escolhidas devem
ser inspeccionadas de novo às 16 semanas de idade e no momento da primeira cobrição.

Idade à primeira cobrição

A actividade sexual da coelha pode manifestar-se já às 9 a 12 semanas de idade,


embora a gestação precoce afecte negativamente o seu desenvolvimento corporal, as
suas fertilidade e prolificidade nas cobrições seguintes e a sua longevidade. Há assim
que determinar o ponto de equilíbrio entre as perdas de fertilidade e prolificidade que
acarreta a antecipação das cobrições e os custos acrescidos que tem o prolongamento da
recria. Em geral recomenda-se que a primeira cobrição da coelha só seja realizada
quando esta atinge 80% do seu peso adulto, dado que é nesta condição que a coelha
atinge o desenvolvimento fisiológico que permite os melhores resultados durante a sua
vida reprodutiva. A idade mais recomendável para o início da vida reprodutiva
dependerá do momento em que a coelha atinge este peso, sendo variável com o
indivíduo e com a raça (mais tardia nas raças mais pesadas). De uma forma geral, as
coelhas utilizadas na cunicultura intensiva que têm um maneio correcto no período de

33
crescimento e recria podem ser submetidas á primeira cobrição às 16 a 17 semanas de
idade.

Efeito da idade da primeira cobrição das fêmeas nulíparas nas causas da reforma
no primeiro ano de reprodução (Adaptado de LEBAS, 1974).
Causas de reforma das Idade ao 1º salto
fêmeas ao fim do 1º ano de (semanas)
produção (%) 16,5 19,5 22,5
5 Saltos infecundos 22 18 28
Mau estado físico 16 12 19
Malformações nas patas 16 12 3
Morte súbita da coelha 19 9 19
Outras causas 27 49 31

Alimentação das coelhas reprodutoras em crescimento

O regime de alimentação das coelhas reprodutoras em crescimento procura que


estas atinjam o peso corporal adequado (80% do peso adulto) na idade desejada para a
primeira cobrição (17 a 18 semanas para as coelhas de raça médias) e influenciar de
modo positivo as suas performances reprodutivas durante a vida adulta.

A alimentação ad libitum da coelha em recria, antecipa a idade a que atinge 80%


do peso adulto, e por consequência o início da actividade reprodutiva, permitindo obter
bons resultados na fertilidade da primeira cobrição e no tamanho da primeira ninhada.
Na prática é recomendado alimentar ad libitum até aos 3 meses de idade e
restringir a alimentação das coelhas a cerca de 75% do nível ad libitum
(aproximadamente 150g/dia de alimento) até 4 a 5 dias antes da primeira cobrição (17 a
18 semanas de idade). Nos 4 a 5 dias antes desta cobrição realiza-se um flushing, que
consiste em distribuir o alimento sem restrição. A distribuição de alimentos com níveis
nutritivos elevados durante o período de crescimento das coelhas tem efeitos positivos
nas suas performances reprodutivas quando adultas (Adaptado de MOURÃO, J. L.,
2003).

5.2. Ritmos de reprodução em cunicultura

As características fisiológicas das coelhas (ovulação provocada e aceitação do


macho no período de lactação) permitem ter uma grande amplitude na escolha do ritmo
de reprodução a que irão ser submetidas. Genericamente, é possível através da variação
do intervalo entre o parto e a cobrição obter 3 ritmos de reprodução diferentes, o ritmo
intensivo, o semi-intensivo e o intensivo.
A intensificação do ritmo de reprodução, reduzindo o intervalo entre parto e a
cobrição, procura aumentar o número de coelhos produzidos anualmente por fêmea
reprodutora e assim reduzir os custos de produção do coelho de carne. Todavia,
geralmente a relação entre o intervalo entre o parto e a cobrição e o número e coelhos
produzidos anualmente por fêmea não é linear, dado que este número depende da
fertilidade das cobrições, do efectivo médio das ninhadas á nascença e da taxa de
sobrevivência dos láparos no período de crescimento. Por outro lado, a intensificação do
ritmo de reprodução implica um maior desgaste fisiológico da coelha que leva à

34
antecipação da sua reforma e à redução da idade do desmame (necessária para a
intensificação do ritmo de reprodução), aumenta a mortalidade dos coelhos em
crescimento e a incidência dos casos de mamites nas coelhas reprodutoras.

Resultados teóricos dos diferentes ritmos de reprodução zootécnicos.


Intervalo Intervalo
entre o teórico
Láparos Nados
Sistema parto e a entre Partos/ano
vivos/parto vivos/ano
cobrição partos
(dias) (dias)
Extensivo 60-90 100 3,7 9 33
Semi-
10-20 50 7,3 8,5 62
intensivo
Intensivo 1-4 35 10,5 7,5 78

A intensificação do ritmo de reprodução só será possível se for acompanhada


por outra medidas, tais como utilização de programas de luz adequados, controlo das
condições ambientais, distribuição de alimentos equilibrados, etc. Só a alimentação
racional da coelha reprodutora permite a lactação e a gestação em simultâneo, pelo que
é essencial quando se realizam ritmos de reprodução intensivos ou semi-intensivos.

5.2.1. Ritmo extensivo

O ritmo de reprodução extensivo está associado a explorações tradicionais. As


coelhas são cobertas cerca de 15 a 30 dias após o desmame dos láparos e este dá-se de
modo natural, entre a 6ª e a 9ª semana de lactação. Em termos médios, o intervalo entre
os partos é de 100 a 120 dias (cerca de 50 a 60 dias de lactação, 15 a 30 dias entre o
desmame e a cobrição e 31 dias de gestação. Com uma taxa de fertilidade próxima dos
80%, o ritmo de reprodução extensivo permite obter cerca de 3 partos por ano a que
corresponderão 24 láparos nascidos e 20 láparos desmamados.
A coelha submetida a um ritmo de reprodução extensivo com desmame natural é em
geral alimentada com alimentos de baixa concentração energética e proteica (forragens,
fenos, etc.), pelo que podem sofrer uma diminuição do peso corporal no início do
período de lactação, dada a importante exportação de nutrientes que então realiza. No
fim da lactação e o período de repouso que se segue a coelha ganha de novo peso
corporal. Para que a fertilidade e prolificidade não sejam afectadas negativamente, a
coelha só deve ser coberta após ter recuperado o peso inicial.

Parto 1 Parto 2
Cobrição 1 Cobrição 2

Gestação 1 Lactação 1 Repouso Gestação 2 Lactação 2 Repouso

0 30 90 120 150 200 210 Dia

Figura 16
Ritmo de reprodução extensivo.

35
5.2.2. Reprodução semi-intensiva

O ritmo de reprodução semi-intensivo prevê a cobrição da coelha 10 a 12 dias


após o parto, procurando aproveitar o aumento da receptividade da fêmea que se
verifica neste período. As taxas de fertilidade obtidas com este ritmo situando-se entre
os 70 e 80%. Com o ritmo de reprodução semi-intensivo é possível, em teoria, obter um
intervalo médio entre cobrições de 40 a 50 dias. Todavia, com uma taxa de fertilidade
de 80% este intervalo será transformado num intervalo entre partos próximos de 50
dias, ou seja 7 partos por ano. O tamanho médio da ninhada à nascença é de 8 a 9
láparos. Em condições ideais este ritmo de reprodução permitirá que cada fêmea
produza cerca de 60 láparos nascidos e 51 láparos desmamados por ano. A utilização do
ritmo de reprodução semi-intensivo obriga à realização do desmame precoce.
Inicialmente este foi realizado aos 28 dias de idade dos láparos, mas hoje é mais comum
realizá-lo por volta dos 31 a 35 dias de idade. Estas idades de desmame permitem que a
coelha não esteja em lactação na fase final da gestação, quando as necessidades para
esta são maiores. Dado que as coelhas submetidas ao ritmo de reprodução semi-
intensivo estão com frequência em lactação e em gestação, devem ser alimentadas ad
libitum. Se esta pratica for seguida o crescimento dos fetos e o crescimento dos láparos
em lactação não serão muito afectados. Como inconvenientes deste programa de
reprodução, quando comparado com a reprodução extensiva, podemos apontar a
necessidade de realizar o desmame precoce, a diminuição do tamanho médio da ninhada
e o desgaste fisiológico das coelhas por se encontrarem com frequência em gestação ou
lactação ou gestação e lactação.

5.2.3. Reprodução intensiva

O ritmo de reprodução intensivo foi desenvolvido nos anos 70 com a justificação


da vantagem teórica que ele apresenta. Este ritmo prevê a cobrição da coelha 1 a 4 dias
após o parto, altura em que a receptividade da fêmea é elevada. Com frequência, quando
é aplicado o ritmo intensivo as cobrições realizam-se a um dia da semana fixo com
intervalos de 35 dias (4 dias após parto) com a finalidade de permitir o planeamento das
operações de maneio na exploração cunícola. As coelhas submetidas ao ritmo de
reprodução intensivo são assim levadas ao macho no início do período de lactação.
Pelos motivos já anteriormente referidos, há um elevado número destas fêmeas
que aceitam o macho mas não ovulam ou não são fertilizadas. Daqui resulta que as taxas
de fertilidade obtidas com este ritmo são inferiores às obtidas com ritmo semi-intensivo,
situando se perto dos 70%.
Com o ritmo de reprodução intensivo será possível obter um intervalo médio
entre cobrições de 35 dias o que, atendendo à taxa de fertilidade, corresponderá a
máximo de 7 a 8 partos por ano. O tamanho médio da ninhada à nascença é 7 a 8
láparos, inferior em cerca de 1 láparo ao obtido com a reprodução semi-intensiva. Em
condições ideais, com este ritmo de reprodução cada reprodutora produzirá por ano de
cerca 65 láparos nascidos e 55 láparos desmamados, valores que na realidade
dificilmente se verificam devido ao elevado número de cobrições infecundadas.
A utilização do ritmo de reprodução intensivo obriga à realização do desmame
precoce. Inicialmente este foi realizado aos 21 dias de idade dos láparos mas, devido aos
grandes inconvenientes que esta idade de desmame tem para a sua viabilidade e
crescimento, actualmente é mais comum realizá-lo depois dos 25 dias de idade. Com

36
esta idade de desmame a coelha tem cerca de uma semana de repouso no fim do período
de gestação, em que não está simultaneamente em gestação e em lactação.
Como inconvenientes do ritmo de reprodução intensivo, quando comparado com
a reprodução semi-intensiva, podemos apontar a necessidade de realizar um desmame
muito precoce, a diminuição do tamanho médio da ninhada e desgaste fisiológico das
coelhas por se encontrarem com frequência em gestação, em lactação ou em gestação e
lactação.

37
Parto 1 Parto 2 Parto 3 Parto 4 Parto 5
Cobrição 1 Cobrição 2 Cobrição 3 Cobrição 4 Cobrição 5

Gestação 2 Lactação 2 Gestação 4 Lactação 4


Gestação 1 Lactação 1 Gestação 3 Lactação 3 Gestaçao5

0 30 42 62 72 84 104 114 126 146 156 168 188 198 Dia

Figura 17
Ritmo de reprodução semi-intensivo com cobrição 12 dias após o parto e desmame aos 32 dias.

Parto 1 Parto 2 Parto 3 Parto 4 Parto 5 Parto 6


Cobrição 1 Cobrição 2 Cobrição 3 Cobrição 4 Cobrição 5 Cobrição 6

Gestação 2 Lactação 2 Gestação 4 Lactação 4 Gestação 6


Gestação 1 Lactação 1 Gestação 3 Lactação 3 Gestação 5 Lactação 5

0 30 35 55 65 70 90 100 105 125 130 140 155 170 175 195 205 Dia

Figura 18
Ritmo de reprodução intensivo com desmame aos 25 dias.

38
5.2.4. Ritmo de reprodução e produtividade da coelha reprodutora

A escolha do ritmo de reprodução a aplicar no núcleo reprodutor de uma exploração


cunícola deverá ter em conta os seguintes aspectos:

O ritmo intensivo tem piores resultados por parto, mas na produtividade ao


longo de um ano isto pode ser compensado pelo maior número de partos por
ano.
O ritmo intensivo obriga a uma maior taxa de substituição das fêmeas
reprodutoras por improdutividade destas.
A utilização mais intensa dos machos reprodutores nas explorações com ritmo
intensivo obriga a que estas tenham mais machos para um mesmo número de
fêmeas do que as explorações que adoptam o ritmo semi-intensivo ou extensivo.
A utilização mais intensa dos machos reprodutores nas explorações com ritmo
intensivo obriga a que estas tenham mais machos para um mesmo número de
fêmeas do que as explorações que adoptam o ritmo semi-intensivo ou extensivo.
A utilização de idades de desmame muito precoces e baixas taxas de fertilidade
observadas no ritmo intensivo levam a que na prática haja uma grande
heterogeneidade na idade do desmame e consequentemente na duração do
período de engorda. Também tem como consequência uma tendência para o
aumento da mortalidade dos láparos até ao desmame.
O regime intensivo utiliza a coelha em situações mais próximas dos seus limites
fisiológicos pelo que é essencial que o cunicultor não cometa erros de maneio
que poderiam ter consequências muito negativas. É assim essencial que quando
o cunicultor opta pelo regime intensivo já possua pratica anterior (Adaptado de
SURDEAU, PH E HENAFT, R 1986).

6. Produtividade da coelha

A produtividade da coelha, determinada pela quantidade de coelhos nascidos por


coelha e por ano, depende da sua receptividade, fertilidade e prolificidade.

6.1. Receptividade

A receptividade pode ser expressa pela relação entre o número de coelhas que
aceitam acasalamento e o número de coelhas apresentadas ao macho. As características
da vulva (cor e turgescência) dão um bom início do estado de receptividade, embora não
sejam um sinal certo. Fêmeas com vulva vermelha ou violeta com turgescência elevada
têm geralmente maior receptividade, mas fêmeas com sinais menos evidentes, ou
mesmo sem sinais, também podem estar receptivas. Por este motivo, na cobrição das
fêmeas deve-se ter em conta estes indicadores, mas não fazer depender deles de um
modo absoluto a realização da cobrição.

39
6.2. Fertilidade

A fertilidade é determinada pela relação entre o número de coelhas cobertas e o


número de fêmeas paridas num determinado período de tempo. Para que após a cobrição
ocorra o parto é necessário que o aparelho genital da coelha esteja numa condição
fisiológica adequada, permitindo que após a cobrição se dê a progressão dos
espermatozóides, a ovulação, a fecundação e a implantação embrionária. Esta condição
depende de diversos factores, como a informação genética da coelha, o maneio durante
a recria, condições ambientais, condição fisiológica da coelha, o ritmo de reprodução,
entre outros.

6.3. Prolificidade

A prolificidade da coelha pode ser expressa pelo número médio de láparos


nascidos vivos por ninhada (não se consideram em geral os nados mortos). As coelhas
híbridas utilizadas na produção intensiva têm uma prolificidade que se situa entre 7,8 e
10,5 láparos por parto, mas com a maioria dos casos entre 8,7 e 9,4. Todavia, a
prolificidade é uma característica dependente da taxa de ovulação e da viabilidade dos
fetos e de diversos factores de maneio e ambientais. Com frequência, os casos de não
gestação após a cobrição e de baixa prolificidade são devidos a condições desfavoráveis
para a implantação do embrião e para o seu desenvolvimento posterior.

6.4. Ovulação

Como é de esperar quanto maior for o número de óvulos que se libertam após a
cobrição, maior poderá ser a ninhada no parto. Este número tende a ser menor nas
fêmeas consanguíneas e também nas épocas do ano em que o fotoperíodo é decrescente.

6.5. Viabilidade dos fetos

Qualquer factor genético ou ambiental que reduza a viabilidade dos embriões


reduz a prolificidade. Em geral, a maior parte da mortalidade dos embriões, dá-se nos
primeiros 15 dias de gestação e sobretudo antes da implantação dos embriões no útero.
A mortalidade embrionária tende também a ser maior nos meses com fotoperíodo
decrescente. A prolificidade tende a diminuir com a idade da coelha, sobretudo devido
ao aumento da mortalidade embrionária provocada pelo envelhecimento do útero.

6.6. Local de implantação dos embriões

Os óvulos devem implantar-se de modo equilibrado nos dois cornos uterino. A


situação mais comum numa gestação com 10 embriões é de 4 localizarem-se no corno
uterino esquerdo e seis no direito. Quando existe um desequilíbrio muito acentuado
nesta distribuição, a sobrevivência dos embriões é comprometida. A mortalidade dos
embriões também aumenta, quando estes se implantam muito próximo do oviduto ou
quando dois ou mais embriões têm locais de implantação próximos.

40
6.7. Lactação

A lactação tem um efeito negativo sobre a percentagem de fêmeas que ovulam. Este
efeito acentua-se quando o número de láparos aleitantes aumenta. O momento (dia) da
lactação influencia igualmente a taxa de ovulação e número de óvulos libertados.
Assim, no 3º ou 4º dia de lactação há um efeito particularmente depressivo sobre estes
parâmetros. Para isto concorrem os efeitos inibitórios do desenvolvimento folicular dos
níveis elevados de prolactina durante a lactação, que já foram referidos, e uma menor
sensibilidade da hipófise das fêmeas aleitantes à GnRH, o que não permite que se dê o
reflexo neuro-endócrino da ovulação.
A mortalidade fetal é mais elevada nas fêmeas que estão simultaneamente em
lactação e gestação do que nas fêmeas que estão só em gestação, sendo este aumento
mais significativo no primeiro terço de gestação. A taxa de mortalidade fetal aumenta
com o aumento do tamanho da ninhada aleitante. Para este aumento da mortalidade fetal
contribui a modificação das secreções endometriais (factores de crescimento, proteínas
uterinas) provocada pelo aumento dos níveis sanguíneos de prolactina, consecutiva à
manada nas coelhas gestantes e aleitantes. A diminuição do nível de progesterona
observado as coelhas gestantes e aleitantes, relativamente às coelhas apenas gestantes,
será também parcialmente responsável pelo aumento da mortalidade fetal naquelas. O
efeito negativo da lactação na viabilidade embrionária é agravado por uma ingestão
insuficiente de alimento.
Nas coelhas gestantes (aleitantes ou não aleitantes), o défice nutricional tende a
diminuir a viabilidade embrionária precoce, mas não afecta de modo significativo a taxa
de sobrevivência fetal tardia.

6.8. Uso de PMSG

O uso de PSMG para induzir a receptividade na inseminação artificial permite aumentar


o tamanho da ninhada entre 0,5 a 1 láparos. Este efeito não se verifica se é utilizada em
reprodução natural.

6.9. Número de láparos da fêmea

Em geral as fêmeas primíparas têm ninhadas mais pequenas que as multíparas. Há um


aumento médio de 10 a 20% no tamanho da ninhada entre a primeira e a segunda
ninhada, continuando a verificar-se aumentos até à quarta ninhada. Depois verifica-se
uma redução do número de láparos nascidos.

6.10. Ritmo de reprodução

O ritmo de reprodução e a prolificidade estão inter-relacionados. Por exemplo, quando


se reduz o intervalo entre o parto e a cobrição fecundante de 10 para 1 dia, o número de
láparos nascidos vivos por ninhada diminui cerca de 0,5 a 1,5, devido ao aumento da
mortalidade fetal.

41
6.11. Factores ambientais

Nos períodos com muito calor, com temperaturas superior a 25º C, há uma diminuição
da prolificidade da coelha. Nos meses do ano com fotoperíodo crescente a prolificidade
é em geral superior ao restante ano em cerca de 0,3 láparos por ninhada, devido a um
maior número de óvulos libertados por ovulação e uma menor mortalidade embrionária.
Isto observa-se quaisquer que sejam as condições da exploração (pavilhão fechado ou
não, iluminação artificial ou não, etc.)

6.12. Técnicas de reprodução

A cobrição das coelhas pode ser natural, quando é coelho que a realiza, ou
artificial quando o sémen é colocado na vagina da coelha através de técnicas artificiais.
A cobrição natural das coelhas pode ser realizada de modo individual ou em grupo
enquanto que a artificial é sempre individual (Adaptado de MOURÃO, J. L., 2003).

7. Cobrição Natural

7.1. Cobrição Individual

A cobrição individual é, praticamente, o único método de reprodução natural


utilizado em cunicultura intensiva. Este tipo de cobrição deve ser realizado na jaula do
macho, situação mais comum, ou na jaula de cobrição (em geral circular para evitar que
a fêmea se refugie nos cantos). Em qualquer caso, a jaula deve possuir altura suficiente
para permitir a cobrição se execute sem dificuldade. Deve ser sempre a fêmea a
deslocar-se até à jaula onde se encontra o macho. No caso de ser utilizada uma jaula de
cobrição o macho é o primeiro a ser colocado nela e só depois de estar ambientado é
introduzida a fêmea. A monta deve ser realizada sob vigilância do tratador que a
orientará se necessário e confirmará a sua realização. Todos os factores externos que
possam distrair os animais, como ruídos, devem ser evitados para que a cobrição se
realize rapidamente. Se a fêmea não se deixa montar, o tratador pode sujeitá-la e colocá-
la em posição favorável para a cobrição. Esta ajuda é especialmente útil com fêmeas
primíparas. Todavia, se a coelha mesmo após a intervenção do tratador recusa a
cobrição deve ser retirada para não se tornar agressiva com o macho. Uma vez realizada
a cobrição, a fêmea regressa de novo à sua jaula. Oito horas após a 1ª cobrição a fêmea
pode regressar à jaula do macho para ser coberta segunda vez, com o fim de melhorar a
fertilidade e reduzir a incidência da pseudogestação.
Como principais inconvenientes da cobrição individual podemos indicar os seus
elevados custos em mão-de-obra, a manutenção de elevado número de machos, a grande
dependência do comportamento sexual dos animais, a reduzida difusão do potencial
genético dos melhores machos e a dificuldade em agrupar cobrições num dia da semana
(ou em casos mais externos de 6 em 6 semanas como ocorre com o sistema de banda
única).

42
7.2. Cobrição em grupo

A cobrição em grupo é mais utilizada na cunicultura extensiva. O método mais


tradicional consiste em colocar várias coelhas, geralmente seis, numa colónia para
serem cobertas por um macho que convive com elas. O macho é posto no parque da
colónia para serem cobertas por um macho que convive com elas. O macho é posto no
parque da colónia 1 dia antes das fêmeas, para se habituar ao meio, e é removido ao fim
da 1 semana. A maior parte das vezes a cobrição dá-se no 1º ou 2º dia após a formação
da colónia, pelo que a palpação das fêmeas deve ser realizada decorridos 10 a 14 dias.
Todavia, a palpação é pouco eficaz porque não se conhece com exactidão o momento da
cobrição. Ao 25º dia de gestação as fêmeas devem ser colocadas em jaulas individuais
com ninho, permanecendo ai até ao desmame da ninhada. As fêmeas devem ser
mudadas ao fim da tarde.
Uma modalidade melhorada da cobrição em grupo consiste em manter um
macho com três fêmeas durante 3 dias, depois o macho repousa um dia e é novamente
agrupado com outras 3 fêmeas durante mais 3 dias (nova colónia). O macho vai
circulando por varias colónias de fêmeas. Ao 25º dia de gestação as fêmeas devem ser
colocadas em jaulas individuais com ninho, permanecendo aí até ao desmame.
A cobrição em grupo reduz os custos de mão-de-obra, dado que a coelha só é
manuseada para a constituição da colónia e 25 dias depois, quando vai parir, é mudada
para a jaula individual. Todavia, tem alguns inconvenientes como a impossibilidade de
conhecer com exactidão o momento da cobrição e o elevado número de
pseudogestações provocadas pelo contacto com outras coelhas (mais comuns nas
fêmeas não cobertas no 1º ou 2º dia de formação da colónia). Este fenómeno é agravado
pela falta de comedouros, de bebedouro e de espaço de alojamento. O desconhecimento
da data da cobrição dificulta o planeamento das restantes operações de maneio da
exploração.
Com a finalidade de reduzir os custos de mão-de-obra na reprodução, na
cunicultura intensiva, têm sido estudados sistemas de cobrição colectiva com salto livre.
Neste sistema de reprodução, um grupo de 6 fêmeas estão em 6 jaulas individuais que
comunicam com a jaula do macho por um corredor onde este se pode deslocar. Quando
a porta de comunicação entre o corredor e cada jaula é aberta o macho pode entrar
livremente nas jaulas das fêmeas. As fêmeas possuem uma coleira própria que as
impede de saírem das jaulas individuais. A seguir ao parto as jaulas das fêmeas são
abertas, tendo o macho livre acesso a este durante alguns dias. A repetição dos coitos
que então se verifica permite aumentar a taxa de fertilidade das fêmeas. O intervalo
médio entre partos das coelhas submetidas a este sistema é de 31 a 33 dias.
Este sistema está contudo pouco expandido porque é difícil de aplicar em
explorações de grande dimensão, necessita de jaulas especificas, não permite conhecer
com exactidão a data da cobrição, pelo que se perde o controlo das fêmeas e provoca
aumentos da mortalidade dos láparos, devido a acidentes nas perseguições do macho às
fêmeas e ao maior número de casos de abandono da ninhada.

7.3. Inseminação artificial

A aplicação da inseminação artificial (IA) no sector de reprodução de uma


exploração cunícola, quando comparada com a reprodução natural, permite planificar
melhorar as operações de maneio, já que um elevado número de fêmeas é inseminada
em simultâneo, e reduz os custos de mão-de-obra e a disseminação de doenças

43
associados à reprodução. A IA permite também reduzir o número de machos na
exploração e consequentemente, possibilita uma maior selecção destes.
A aplicação da inseminação artificial exige conhecimentos técnicos e prática e a
obtenção do equipamento apropriado. O equipamento reduzir-se-á a uma simples mala
térmica se o cunicultor optar por adquirir o serviço a uma empresa especializada mas
poderá incluir um laboratório completo para análise do sémen e preparação de doses,
equipamento para recolha de sémen e para inseminação, se optar por realizar a recolha
do sémen, preparação das doses de IA e inseminação. O primeiro caso também
dispensará o núcleo de machos na exploração enquanto que no segundo caso este é
obrigatório.
A realização da IA tem duas vertentes principais, a recolha e avaliação do sémen
e a inseminação propriamente dita (Adaptado de MOURÃO, J. L., 2003).

8. Engorda do coelho

Em geral, no período de engorda, que se inicia no desmame e acaba no abate, os


coelhos são alojados em jaulas colectivas (uma ninhada/jaula). Se o abate se realizar até
às 11 semanas de idade não é necessária a sua separação por sexos.
Os objectivos finais da engorda são produzir coelhos para abate com 2,2 a 2,4 kg
P.V. aos 70 dias de idade (10 semanas), com índice de conversão total (relação entre o
total de alimento ingerido na engorda e pelos reprodutores e peso dos coelhos abatidos),
inferior a 3,8 e o índice de conversão da engorda (kg alimento consumido pelos coelhos
em engorda/kg coelho abatidos) até aos 70 dias de idade menor do que 3. o atingir
destes objectivos irá depender de numerosos factores, entre os quais podemos distinguir
o maneio da exploração, as condições ambientais, o tipo de exploração, a origem
genética dos reprodutores e a alimentação.

8.1. Crescimento após o desmame

Os efeitos do peso do láparo ao nascimento e da capacidade leiteira da coelha no


seu crescimento são evidentes no ganho de peso dos coelhos e no seu peso corporal ao
desmame, mas, geralmente, depois desvanecem-se e deixam de ser significativos por
volta das 6 semanas de idade. Nos casos onde os efeitos são mais evidentes, as
diferenças de peso corporal podem ser notadas às 10 a 12 semanas de idade. Situação
semelhante à que foi referida sobre o efeito da idade do desmame.

8.2. A carcaça do coelho

Uma carcaça de coelho com qualidade deve apresentar um peso correcto, um


equilíbrio óptimo dos tecidos ósseo, adiposo e muscular, uma fracção comestível de
boas qualidades nutritivas, tecnológicas (pH, poder de retenção de água), organoléticas
(cor, tenrura, sucosidade e sabor) e higiénicas. O rendimento de abate e a composição
corporal do coelho são afectados por diferentes factores, como a raça do animal, idade e
peso, alimentação, jejum antes do abate e tratamentos tecnológicos sofridos pela
carcaça.

44
8.2.1. Qualidade da carne do coelho

A carne de coelho é apreciada pelas suas propriedades nutricionais e dietéticas e


pela sua composição química. É magra (1400 a 1600 kcal/kg), rica em lípidos
insaturados (60% dos ácidos gordos totais), em proteína (20-21%) e aminoácidos de
elevado valor biológico, em potássio, fósforo, magnésio e com baixo teor em sódio,
lípidos e colesterol (45 a 55 mg/100g carne fresca).
A transição do músculo para a carne nos processos de rigor mortis e maturação
que se seguem ao abate, que é acompanhada por mudanças na quantidade de diversos
metabolitos (glicogénio, ácido láctico, ATP) e propriedades físicas (pH final, carga
iónica, capacidade de retenção de água da carcaça, desenvolvimento de bactérias). Estas
alterações dependem da natureza e quantidade das fibras musculares e dos lípidos que
compõem a carne do coelho. Também as condições de abate e conservação, têm sido
importantes na qualidade da carne.

Natureza das fibras musculares

A composição e qualidade da carne de coelho dependem em grande parte dos


músculos que lhe deram origem, dado que estes representam cerca de 70% de fracção
edível da carcaça.
Os músculos do coelho são compostos por fibras musculares que estão
organizadas em feixes pelo tecido conjuntivo. Adipócitos localizados na trama do tecido
conjuntivo formam o tecido adiposo intramuscular. Estes músculos contêm cerca de
70% de água, 0,8 a 5% de lípidos e 20 a 23% de proteína, das quais 60% são proteínas
miofibrilares, 29% são proteínas sarcoplasmáticas e 11% proteínas do tecido conjuntivo
(principalmente colagénio).
Nos músculos do coelho pode-se encontrar fibras de metabolismo energético
glicolítico (anaeróbicas) com contracção rápida, que dão origem a músculos com cor
mais clara, e fibras de metabolismo energético oxidativo (aeróbicas) com contracção
lenta, que dão origem a músculos de cor mais escura. As proporções destas fibras
variam com a função (postura, propulsão, respiração, etc.) e localização anatómica do
músculo. Os músculos com maior proporção de fibras oxidativas estão situados na parte
anterior da carcaça e os com maior proporção de fibras glicolíticas na coxa e no lombo.

Lípidos da carne do coelho

Os lípidos da carne do coelho podem ser divididos em lípidos estruturais (fosfolípidos e


colesterol), que são constituintes das fibras musculares e de organitos celulares, e em
lípidos de reserva. O colesterol encontra-se num teor baixo (45 mg/kg) e os fosfolípidos
representam 0,5 a 0,8% da carne do coelho. Estes teores são relativamente
independentes do teor total em lípidos dos músculos. Os lípidos de reserva
(essencialmente triglicéridos), que servem de fonte de energia mobilizável pelo
músculo, estão localizados nos adipócitos ou em pequenas gotículas no citoplasma das
fibras musculares. O teor em lípidos de reserva da carne do coelho varia muito nas
diferentes fracções da carcaça e é muito influenciado pela alimentação.

45
Rigor mortis e maturação

A carne do coelho é o produto da evolução pós morten do músculo. Após o abate, na


fase de instalação de rigor mortis, o músculo privado de oxigénio e de nutrientes, tenta
manter a sua integridade dissipando as suas reservas energéticas (ATP, glicogénio,
fosfocreatina). Uma consequência deste fenómeno é a diminuição do pH que passa de
7,0 a 7,2 para 5,6 a 6,4. A diminuição do pH ao fim de 24 horas após a morte depende,
essencialmente, da quantidade de glicogénio presente no momento do abate, pelo que
nas fibras musculares de contracção rápida, com metabolismo glicolítico, o pH último
da carne é mais baixo. O pH da carne diminuirá tanto mais quanto for percentagem
destas fibras.

O pH final da carne do coelho é uma característica de grande importância, pois tem uma
influência importante nas suas capacidades de retenção de água e de conservação, bem
como na cor.

O pH da carne tem um papel essencial na conservação da sua qualidade durante o


armazenamento, dado que determina a actividade bacteriana. Um pH baixo tem um
efeito bacteriostático na carne. Carnes com pH superior a 6 são geralmente consideradas
incapazes de serem conservadas porque favorecem o desenvolvimento de
microrganismos proteolíticos.
Uma redução acentuada do pH do tecido muscular reduz o seu poder de retenção
de água, ocasionando perdas importantes durante a conservação (exsudação) e a
cozedura. A carne torna-se também mais pálida. A intensidade da cor da carne depende
também do seu conteúdo em ferro e do estado da superfície do músculo. Para uma dada
concentração de ferro, a carne fica mais pálida se a rede proteica de miofibrilhas está
fechada e mais reflectora, como ocorre quando o pH está baixo e é mais escura no caso
contrário.
Depois da fase de instalação do rigor mortis, segue-se a fase de maturação,
dominada pela actividade de proteases libertadas pelos lisozomas durante a acificação.
Estas enzimas afectam e fragilizam, progressivamente, o estado da organização e as
propriedades físicas do sistema contráctil das miofibrilhas e, em menor grau, do
colagénio, pelo que a tenrura da carne aumenta. A carne dos coelhos mais leves e mais
jovens mostra uma tendência para ser mais tenra. Em contrapartida apresenta uma
menor coesão, em resultado de uma reticulação insuficiente do colagénio.
Durante a fase de instalação do rigor mortis e de maturação da carne, os lípidos
(inter e intramusculares e de depósito) sofrem reacções de hidrólise, o que leva ao
aumento dos ácidos gordos livres, e eventualmente de oxidação. Esta lipolíse nos
músculos ocorre na primeira semana de armazenamento refrigerado, estando
relacionada com o tipo metabólico dos músculos. Os músculos oxidativos contem mais
ácidos gordos livres que os glicolíticos (Adaptado de MOURÃO, J. L., 2003).

46
9. Conclusão

A após a realização deste trabalho, podemos tirar algumas conclusões. A


classificação zoológica do coelho está apresentada da seguinte forma: é um mamífero de
ordem Lagomorfo, género Oryctolagus e espécie Oryctolagus cuniculus. O coelho é um
animal prolífero e de rápido crescimento, o que gera um rápido ciclo produtivo. A carne
apresenta um alto valor energético e também baixos teores de colesterol 20,8 % de
proteína e 10,2 % de gordura. Os coelhos podem produzir grandes quantidades de carne
rica em proteína em menos tempo que animais de outras espécies exploradas
zootecnicamente. A cunicultura oferece várias vantagens, entre elas o facto de se poder
explorar carne, peles, patas, esterco e filhotes. Embora existam muitas raças, separa-se
conforme o objectivo da criação: carne, pele, lã ou filhotes. Existem numerosas raças
entre elas destacam-se as mais importantes e algumas das suas características: Nova
Zelândia – Raça americana, pesando 4,5kg os machos e 5kg as fêmeas, embora possam
ultrapassar esses pesos. Existem as variedades brancas e vermelha; Califórnia – Peso
de 4kg para os machos e 4,5kg para as fêmeas. Tem um aspecto geral harmonioso e uma
óptima pele de pêlos branco-gelo, macios, sedosos e brilhantes. Possuem as
extremidades (focinho orelhas, patas e cauda) escuras (quanto mais escura, melhor,
sendo ideal a cor preta). É considerada uma das melhores raças, criada em todo o
mundo. Raça originária da França, de nível médio, pesando em média 4,0 Kg machos e
4,5 Kg fêmeas. O pelo é constituído de três cores: base cinzenta, médio branca e a ponta
preta, que dá a impressão de um conjunto cinzento mais claro ou mais escuro; Coelho
Azul de Viena – Originário da Áustria, o coelho Azul de Viena é uma das raças de
porte médio mais populares, provavelmente por preencher satisfatoriamente os
requisitos de dupla utilidade: carne e pele; Coelho Gigante de Flandres – Apesar das
opiniões discordantes, é provável que a sua origem tenha tido lugar na Bélgica, pela
selecção do coelho selvagem domesticado. Não se conhece a história da formação desta
raça, o que demonstra sua antiguidade. O nome de Gigante provém de sua
extraordinária corpulência, quando comparado ao tamanho de coelhos de outras raças,
chegando algumas fêmeas a pesar quase 10 Kg. Quando jovem, dá carne de qualidade
razoável e pele grande, apesar dos pelos não serem tão densos como noutras raças;
Coelho Angorá – É frequente referirem-se a esta raça como proveniente de Angorá,
Turquia asiática, onde se diz ser antiga sua criação. Não se sabe ao certo quando e onde
se deu a mutação que originou o coelho Angorá, entretanto seu nome deve ter-se
originado apenas na semelhança com a raça de cabras de Angorá. Distingue-se das
demais raças da espécie por ser a mais importante produtora de pelos. No entanto, é
considerada de tríplice utilidade: lã, carne e pele. Estão também abordados o
comportamento sexual dos coelhos. O desenvolvimento sexual do coelho pode ser
dividido em diferentes etapas em função do momento da vida do coelho em que ocorre
e dos fenómenos fisiológicos que neles ocorrem. Existem numerosos factores que
podem afectar actividade reprodutiva do coelho o ritmo de cobrição, preparação do
macho estação do ano e alimentação.
A escolha adequada dos coelhos do núcleo de reprodutores é essencial tanto nas
explorações tradicionais como nas explorações intensivas, para obter os melhores
resultados na produtividade global da exploração. Em qualquer caso a escolha dos
animais deverá ter em consideração os seguintes factores: Selecção e melhoramento,
Estado sanitário, Temperamento, Conformação corporal, Utilização de registos. As
características fisiológicas das coelhas (ovulação provocada e aceitação do macho no
período de lactação) permitem ter uma grande amplitude na escolha do ritmo de

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reprodução a que irão ser submetidas. Genericamente, é possível através da variação do
intervalo entre o parto e a cobrição obter 3 ritmos de reprodução diferentes, o ritmo
intensivo, o semi-intensivo e o intensivo. A intensificação do ritmo de reprodução só
será possível se for acompanhada por outra medidas, tais como utilização de programas
de luz adequados, controlo das condições ambientais, distribuição de alimentos
equilibrados, etc.
A produtividade da coelha, determinada pela quantidade de coelhos nascidos por coelha
e por ano, depende da sua receptividade, fertilidade e prolificidade. Existem vários tipos
de acasalamento: Acasalamento natural, é onde se pega a fêmea com todo o cuidado e
levamos à gaiola do macho. Este, a procura logo, montando-a. Basta uma só cobertura,
mas não há inconveniente que se realize uma logo após a primeira. Retiramos
imediatamente a fêmea e levamos para a sua gaiola. Cinco dias depois, devemos repetir
o acasalamento, procedendo da mesma forma que da primeira vez; Acasalamento
confinado, este método não deve ser utilizado em criações comerciais, uma vez que não
permite acompanhamento dos índices zootécnicos. Colocam-se várias fêmeas na gaiola
do macho por um dia, podendo-se identificar a prenhez após 15 dias através de
apalpação; Inseminação artificial, como a ovulação da coelha ocorre após 10 a 12 horas
após a cópula, fazendo uso desse sistema, deve-se usar rufiões para saltar sobre as
fêmeas, estimulando-as a ovular. Para colheita de esperma utiliza-se a vagina artificial.
Esse método, que é ideal para médias e grandes criações, facilita o manejo reprodutivo
desde a gestação até a lida com os láparos. Permite a identificação de reprodutores
especializados de alta linhagem para os fins a que se destina a criação. Praticamente
elimina as doenças transmitidas no coito.

10. Bibliografia

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