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Resumo: A Matemática é uma ciência que faz parte da vida das pessoas e uma ferramenta que nos auxilia a
compreender os fatos, a interpretar resultados e a resolver muitos problemas do dia-a-dia. As questões sobre o
meio ambiente tornam-se cada vez mais importantes e por isso a escola e a sociedade devem refletir e encontrar
alternativas de soluções, para que possamos viver numa sociedade mais justa e em equilíbrio com o meio
ambiente. A metodologia de projetos de trabalho conduz os alunos na busca e construção do seu próprio
conhecimento além de possibilitar profundas reflexões sobre este tema. E diante dos novos desafios da educação
e do importante papel do professor de inserir o seu saber técnico para a realidade do mundo, formando cidadãos
mais críticos e participativos, este trabalho buscou analisar: o processo do projeto de trabalho, interligando o
tema transversal “Meio Ambiente” às aulas de Matemática, o comportamento e envolvimento dos alunos, da
escola e da comunidade escolar. O projeto foi desenvolvido com uma turma de oitava série, da Escola Estadual
de Ensino Fundamental Otávio Rosa, localizada no município de Novo Hamburgo, RS. Esta pesquisa foi
realizada como monografia do curso de Especialização em educação Matemática da Universidade Luterana do
Brasil. A metodologia da pesquisa desse trabalho foi qualitativa, mais especificamente um estudo de caso, e os
dados coletados e analisados permitiram afirmar que os objetivos, tanto o geral como os específicos, foram
alcançados satisfatoriamente.
Introdução
De acordo com Martins (2001), a pedagogia moderna direciona-se cada vez mais para
a preparação do aluno como cidadão consciente de si mesmo e útil à sociedade, e para tanto
procura implantar atividades didáticas, voltadas para o aluno no seu meio ambiente.
Projetos de trabalho
A Pedagogia de Projetos, segundo Martins (2001), surgiu no início do século XX, nos
Estados Unidos, concebida pelo filósofo e educador John Dewey e desenvolvida por seu
discípulo Kilpatrick. Aos poucos foi difundido na Europa com muita aceitação. Chegou ao
Brasil através dos trabalhos de Miguel Arroyo, aplicados à organização de conteúdos
programáticos das disciplinas, em escolas de Minas Gerais. A proposta consistia em
desenvolver trabalhos capazes de vincular a sala de aula à realidade social na qual o aluno
vive, para que ele pudesse entendê-la melhor. Assim a aprendizagem torna-se um processo
global que integra o saber com o fazer, a prática com a teoria, ou seja, a pedagogia da palavra
com a pedagogia da ação.
Trabalhos X EGEM X Encontro Gaúcho de Educação Matemática
Comunicação Científica 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS
Antunes (2001) define projeto como uma pesquisa ou uma investigação desenvolvida
com profundidade sobre um tema ou um tópico que se acredita importante conhecer. O
objetivo de um projeto é o esforço investigativo voltado a encontrar respostas corretas,
abrangentes e a aprender de forma significativa o tópico estudado.
Martins (2001) afirma que a implementação da “Pedagogia de Projetos” contribui para
que o aluno participe e se envolva no seu próprio processo de aprendizagem e o
compartilhando com os colegas, exigindo que o professor enfrente desafios de mudanças para
diversificar e reestruturar de forma mais aberta e flexível os conteúdos escolares.
Porém, o professor terá de colaborar e adaptar as novas sistemáticas educacionais
deixando de ser o “senhor sabe tudo”, o centro das atenções, para tornar-se o guia, o
facilitador da aprendizagem.
A curiosidade despertada e motivada pelo professor conduzirá o aluno ao desejo de
saber e conhecer melhor o assunto a ser investigado. A investigação devidamente
orientada pelo professor pela aplicação de procedimentos sistematizados destina-se a
levar o aluno a explorar o assunto pela leitura, pelas entrevistas, pela observação da
realidade. A descoberta, como alvo, é a realização maior do prazer cultural e da
satisfação do aluno em, por ele mesmo, atingir o conhecimento desejado.
(MARTINS, 2001, p.39)
Assim, o ensino tornar-se mais dinâmico, desenvolvendo nos alunos novas atitudes e
no professor novas estratégias. Segundo Martins (2001), o professor também conseguirá ser
aquele que supera antigos esquemas como o de ensinar apenas transmitindo conhecimentos,
repetindo, copiando, passando a ser aquele que acredita na capacidade criativa do aluno
fundada na pesquisa, na sua elaboração própria de saberes que o preparem para as
oportunidades práticas da vida.
A Matemática pode contribuir consideravelmente à formação do cidadão,
desenvolvendo metodologias que enfatizem a construção de estratégias, a comprovação e
justificativa de resultados, criatividade, iniciativa pessoal, trabalho coletivo e autonomia para
enfrentar desafios. (BRASIL, 1998)
Para Martins (2001), a pesquisa tem como finalidade o equilíbrio entre o pensamento
científico e o desenvolvimento humano. Assim a aprendizagem se dá pela teoria, originando-
se na prática e retornando a ela para ser aplicada na vida por novos caminhos.
Os conteúdos em torno de projetos, como forma de desenvolver atividades de ensino
e aprendizagem, favorecem a compreensão da multiplicidade de aspectos que compõem a
realidade, uma vez que permite a articulação de contribuições de diversos campos de
conhecimento. Esse tipo de organização permite que se dê relevância às questões dos Temas
Transversais, pois os projetos podem se desenvolver em torno deles e serem direcionados para
Trabalhos X EGEM X Encontro Gaúcho de Educação Matemática
Comunicação Científica 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS
metas objetivas, com a produção de algo que sirva como instrumento de intervenção nas
situações reais.(BRASIL, 1998)
Segundo Martins (2001), as vantagens de incrementar o ensino por meio de projetos
de trabalho serão logo sentidas após as primeiras experiências, quando o professor e mesmo
as famílias perceberão: a motivação dos alunos na busca de informações e dados; a interação e
a troca de experiências entre eles, assim como compartilhar responsabilidades entre os grupos;
as transformações sentidas nas salas de aula; o despertar das questões sobre os fatos ou
problemas que estão sendo estudados querendo saber mais sobre o assunto e a vontade dos
alunos de querer mostrar aos demais colegas da escola os resultados alcançados por meio de
seminários, pôsteres, murais, e outras formas de comunicação.
Metodologia da pesquisa
Baseado nos novos papéis da educação e na importância de trabalhar pelo método de
projetos, esta pesquisa buscou responder a seguinte questão: Como trabalhar a Matemática,
integrando o tema transversal “Meio Ambiente” através de projeto de trabalho? e teve
como objetivos contextualizar o ensino da Matemática e investigar os conteúdos conceituais
de Matemática e de outras áreas do conhecimento e procedimentais envolvidos no decorrer do
projeto. A pesquisa foi aplicada na Escola Estadual de Ensino Fundamental Otávio Rosa, com
alunos de uma turma de 8ª série.
Os dados foram coletados durante o desenvolvimento das diferentes etapas do projeto,
onde houve a descrição das pessoas envolvidas e também da instituição cuja pesquisa foi
aplicada, incluindo questionários, fotografias, anotações da professora/pesquisadora e
depoimento dos alunos. Tais procedimentos utilizados segundo Lüdke e André (1986),
caracterizam uma pesquisa qualitativa que ocorreu no seu ambiente natural, sendo esta a fonte
direta de dados. A participação do pesquisador é de suma importância na investigação.
Esta pesquisa, além de ser qualitativa, assume a forma de estudo de caso. Segundo
Lüdke e André (1986), o estudo de caso caracteriza-se por ser uma busca profunda do
entendimento de uma situação, de um caso.
apresentado na feira multicultural da escola, que estava programada para acontecer no mês de
outubro.
A população inicial desta pesquisa foi de 32 alunos, 14 do sexo masculino e 18 do
sexo feminino, com idades entre 13 e 18 anos, de uma turma de 8ª série do Ensino
Fundamental, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Otávio Rosa, localizada no
município de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil.
A turma foi dividida em oito grupos de 4 (quatro) alunos. Cada grupo teve que
escolher um subtema de seu interesse relacionado ao tema transversal “Meio Ambiente”. Os
subtemas levantados pelos alunos que foram desenvolvidos por cada grupo são: Água no
Planeta, Água no Brasil, Água na Escola, Rio dos Sinos, Energia, Aquecimento Global, Sol -
Protetor Solar, Mata Atlântica.
Após a escolha dos subtemas, por manifestação de interesse, os alunos formularam e
aplicaram um questionário com perguntas referentes ao tema “Meio Ambiente”, que serviu
para orientá-los na investigação, para pesquisa bibliográfica, coleta de dados e cujas respostas
serão as suas possíveis hipóteses. Esse instrumento foi explorado pela
professora/pesquisadora para trabalhar com eles na construção de tabelas de freqüência,
levantamento de dados, amostras, porcentagens e gráficos, pois estes são conceitos básicos de
uma investigação. Além disso, perceberam a dificuldade de tabular as questões abertas
aplicadas no questionário.
A partir das possíveis hipóteses dos alunos sobre o tema escolhido, os grupos
iniciaram suas pesquisas. Ficou estabelecido que cada grupo deveria contribuir na pesquisa
dos demais com informações de revistas, jornais, sites e outras informações. Para isto, foi
anexado, na sala de aula, envelopes com a identificação de cada subtema, para que eles
pudessem trocar informações. As etapas do projeto seguiram a seguinte ordem: pesquisa
bibliográfica, elaboração de um questionário, tabulação dos questionários, cálculo da
freqüência relativa, construção de gráficos, produção textual, elaboração de um pôster e
apresentação para a comunidade escolar, trabalho escrito com todas as etapas do projeto.
Para auxiliar na pesquisa e contextualizar os temas de pesquisa foram realizadas
visitas de campo, como a visitação na COMUSA (Companhia Municipal de Saneamento de
Novo Hamburgo) e passeio no barco Martim Pescador (Rio dos Sinos).
Os conteúdos Matemáticos necessários para compreensão de cada tema de pesquisa
foram trabalhados de acordo com as descobertas e problemas surgidos. O projeto começou a
se encaminhar no retorno das férias. Sempre que necessário um período de matemática era
Trabalhos X EGEM X Encontro Gaúcho de Educação Matemática
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Avaliação
A avaliação do projeto ocorreu durante a execução de todas as etapas, sendo estas
observadas pela professora/pesquisadora. Os alunos fizeram uma auto-avaliação individual,
uma avaliação dos colegas do seu grupo e do projeto em si, podendo expressar a sua opinião
sobre a validade deste.
Para dinamizar o processo de avaliação foi criado um quadro de avaliação (figura 1),
onde foram registradas todas as etapas do projeto.
TABULAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
CONTRIBUIÇÃO DE PESQUISAS
PREENCHIMENTO DA FICHA DE
APRESENTAÇÃO DO PROJETO
PARTICIPAÇÃO DE PALESTRA
CALCULO DE PORCENTAGEM
ELABORAÇÃO DE QUESTÕES
CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS
ELABORAÇÃO DE GRÁFICOS
ELABORAÇÃO DO PÔSTER
PARA OUTROS GRUPOS
RECICLAGEM DO LIXO
TEXTO DISSERTATIVO
ATIVIDADE SOBRE A
NOME DOS ALUNOS
PARTICIPAÇÃO DA
AUTO-AVALIAÇÃO
ELABORAÇÃO DO
QUESTIONÁRIO
MATEMÁTICAS
SONDAGEM
Gabriela (Sol-Protetor Solar): Gostei do trabalho no sentido de ser uma coisa mais
séria, me senti “chique” fazendo esse trabalho. Neste projeto vi que a matemática se encaixa
em tudo e ai de nós se não entendermos ela! Só achei meio ruim, porque perdemos muita aula
de conteúdo! O tema eu achei mais ou menos, pois é um assunto que o pessoal está enjoado
de ouvir.
Entre as opiniões externadas pelos alunos, foi possível perceber que para alguns não
ficou evidente a relação entre o projeto e a matemática. Porém, grande parte considerou o
trabalho como válido, pois puderam perceber o quanto é importante compreender a
Matemática, pois essa está presente em outras áreas do conhecimento.
limpeza diária dos vasos sanitários, enquanto a média ideal de água que devemos beber é de
2 litros diários.” (Grupo: “Água na escola”)
Nos trechos citados, dos textos dos alunos, é possível identificar as relações entre as
diferentes disciplinas. Além da produção textual (Língua Portuguesa), os alunos utilizaram
conceitos das disciplinas de Geografia, Ciências e Matemática em seus trabalhos. Porém,
destaca-se, como de suma importância, a preocupação expressada nos trabalhos com as
questões ambientais e suas conseqüências.
Um dos objetivos dos projetos de trabalho, segundo Martins (2005), é estabelecer
relações interdisciplinares destinadas a globalizar os saberes de outras áreas do conhecimento
em torno de um determinado tema ou problema, fato alcançado neste projeto.
b) Conteúdos conceituais estatísticos
No projeto, os alunos criaram um questionário com questões de sondagem, sobre o
tema escolhido, e o aplicaram em outra turma de 8ª série.
Cada grupo escolheu cinco perguntas do questionário, e mostrou os resultados obtidos
através de tabelas e gráficos. Esses resultados foram apresentados na feira. A seguir recortes
de alguns trabalhos, em suas diferentes etapas.
b.1) Questionário: “Rio dos Sinos”
1) O Rio dos Sinos nasce e desemboca, respectivamente, nas cidades:
a) Caraá e Dois Irmãos. b) Caraá e Gravataí. c) Caraá e Canoas.
2) ) Na sua opinião, o que mais polui o Sinos é:
a) Produto químico b) Lixo doméstico c) Outros.
3) Motivo do Rio dos Sinos estar tão sujo (situação Grave)
a) Falta de consciência das pessoas b) Falta de investimento do governo
c) Há descaso d) Nulo
4) Quantidade de peixes mortos na crise ambiental de 2006:
a) 40 t b) 85 t c) 110 t d) Nulo
5) Número de pessoas que o Sinos abastece:
a) 1,2 milhões b) 2,5 milhões c) 1,9 milhões d) Nulo
Considerações Finais
A Matemática foi contextualizada em todos os temas. Os conteúdos conceituais
(Matemática, Língua Portuguesa, Ciências e Geografia) e procedimentais tiveram destaques
em todos os trabalhos. Nos questionários elaborados pelos alunos e textos produzidos por eles
mostraram uma preocupação com as questões ambientais e mesmo que alguns alunos não
tenham conseguido perceber a relação do projeto com a Matemática, a maioria pôde
compreender a importância de estudá-la, pois ela está presente em outras áreas do
conhecimento. Esse fato se fez presente em relatos de alguns alunos.
Outro fato muito positivo foi que este projeto semeou uma pequena semente no
ambiente escolar, pois o meio ambiente é um tema discutido mundialmente e fala-se sobre a
tomada de consciência, há necessidade de mudar hábitos e de tomar atitudes para que possam
ser sanados os problemas ambientais. Nada melhor do que através da educação para
conseguirmos o conhecimento para essas mudanças. Portanto, este projeto proporcionou uma
reflexão sobre estes problemas, pois os alunos pesquisaram muito, percebendo através da
Matemática a situação do nosso planeta.
A professora/pesquisadora não poderia deixar de salientar que este projeto, além de
ampliar nos alunos os conhecimentos sobre a Matemática e os problemas ambientais,
despertou também nos alunos o interesse pela pesquisa, pois atualmente, a informação tem
acesso fácil, mas nem sempre é processada por falta de conhecimento e educar pela pesquisa é
vital, segundo Demo (2002). Como vivemos na era da globalização, a autonomia é uma
habilidade necessária para o sucesso do aluno.
O projeto de trabalho realizado nesta escola possibilitou tanto para a professora quanto
para os alunos experiências que não serão esquecidas por eles. E mais importante ainda, é o
fato de ser possível desenvolver um trabalho interdisciplinar nas aulas de Matemática,
ultrapassando os limites do professor, de ser um mero transmissor de conteúdos e passando a
ser, segundo Martins (2001), aquele que acredita na capacidade criativa do aluno fundada na
pesquisa, na sua elaboração própria de saberes preparando-os para as oportunidades práticas
da vida.
A implementação de Projetos de Trabalho exige que o professor esteja aberto a
adquirir novos conhecimentos e que estes, na grande maioria, devem ser buscados por ele
mesmo, pois o sucesso desta metodologia de ensino depende, em grande parte, da atuação do
professor, destacando que para organizar sua aula, de forma que esta seja interdisciplinar,
exige constante atualização, muita pesquisa, estudo e planejamento para colocar sua prática
em ação.
Trabalhos X EGEM X Encontro Gaúcho de Educação Matemática
Comunicação Científica 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS
Referências
ANTUNES, Celso. Um método para o ensino fundamental: o projeto. 4.ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2003.
DEMO, Pedro Demo. Educar pela pesquisa. 5.ed. Campinas, São Paulo: Autores
Associados, 2002.
SANT’ANNA, Ilsa Martins. Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e instrumentos.
4.ed. Petrópolis, RJ: Vozes,1999.
SEIBERT, Tania Elisa. Matemática e Educação Ambiental: uma proposta com projetos
de trabalho no Ensino Fundamental. Canoas, ULBRA, 2005. Dissertação (Mestrado em
Ensino de Ciências e Matemática), Universidade Luterana do Brasil, 2005.