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REFERENCIAL DA ATIVIDADE INSPETIVA

versão 2 – 27.10.2016

1
Índice
1. Introdução.......................................................................................... 3
2. Compromisso com o referencial ............................................................. 6
3. Missão, visão, valores e cultura .............................................................. 7
4. Princípios éticos e deontológicos............................................................. 9
5. Autonomia ........................................................................................ 12
6. Independência .................................................................................. 14
7. Sigilo profissional............................................................................... 16
8. Funções do inspetor do trabalho ........................................................... 18
8.1. No âmbito das relações de trabalho (RL) ............................................. 19
8.2. No âmbito da segurança e saúde no trabalho (SST) .............................. 21
8.3. Outras funções ............................................................................... 24
9. Atividade inspetiva da ACT .................................................................. 27
9.1. Origem e principais destinatários da atividade inspetiva ........................ 27
9.2. Desenvolvimento da ação inspetiva .................................................... 28
9.2.1. Conceitos e definições ................................................................... 28
9.2.2. Impulso da intervenção inspetiva .................................................... 31
9.2.3. Prioridades de intervenção inspetiva ................................................ 32
9.2.4. Momentos da intervenção inspetiva ................................................. 33
9.2.4.1. Planeamento ............................................................................. 35
9.2.4.2. Preparação da ação inspetiva ...................................................... 36
9.2.4.3. Visita inspetiva .......................................................................... 37
9.2.4.4. Análise e elaboração de informação .............................................. 42
9.2.4.5. Decisão do dirigente .................................................................. 46
9.2.4.6. Vicissitudes da intervenção inspetiva ............................................ 49
10. Procedimentos inspetivos .................................................................. 50
10.1. Outros apoios à atividade inspetiva .................................................. 66
11. Gestão por processos – Fluxogramas .................................................. 68
ANEXOS............................................................................................... 70

2
1. Introdução

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), enquanto serviço central da


administração direta do Estado dotado de autonomia administrativa, assume
compromissos estratégicos assentes num conjunto de pressupostos (missão,
visão, valores, objetivos estratégicos, conhecimento das envolventes interna e
externa, partes interessadas na atuação da ACT, entre outros), que visam a sua
consolidação como entidade pública de referência na promoção da segurança,
saúde e bem-estar no trabalho e da garantia de elevados padrões de
cumprimento dos normativos em matéria laboral.

Constitui propósito do presente documento a melhoria contínua dos padrões de


qualidade, eficácia e eficiência, que devem presidir à gestão pública, com
respeito integral pelos referenciais nacionais e internacionais, nomeadamente as
Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De resto, o próprio ponto 8 da Recomendação n.º 133 da OIT atribui à


autoridade central da inspeção do trabalho o papel de dar instruções aos
inspetores do trabalho na agricultura, a fim de poderem desempenhar as suas
tarefas uniformemente, em todo o país.

Os novos desafios colocados à inspeção do trabalho a nível nacional e


internacional, decorrentes da globalização, das novas formas de organização do
trabalho, do desemprego, do trabalho não declarado, dos novos riscos
emergentes e da crescente precarização das relações de trabalho, impõem uma
atitude proativa à administração do trabalho.

Considerando a relevância da atuação dos inspetores do trabalho para a


prossecução da missão da ACT e dos objetivos estratégicos que são definidos,
entendeu-se criar um referencial que possa prefigurar as principais linhas de
orientação para o exercício da sua atividade.

Neste contexto, pretende-se que este referencial promova a atividade inspetiva


através do reforço da sua credibilização, da harmonização, consistência e
coerência do gesto inspetivo, alicerçado naturalmente na independência e

3
autonomia técnica do inspetor do trabalho - prerrogativas do exercício da sua
atividade - e na definição de um conjunto de opções decorrentes do leque de
competências e de funções, balizadas pelo respeito e limites do princípio da
legalidade e demais princípios da administração pública, nomeadamente os da
justiça, da imparcialidade e o da proporcionalidade.

Objetiva-se que as linhas de orientação constantes deste referencial


simplifiquem, facilitem, harmonizem e sistematizem critérios, saberes, práticas e
procedimentos relativos à atividade inspetiva, questionando rotinas e condutas,
focando a atenção nos destinatários e partes interessadas na ação inspetiva e no
valor percebido pelos cidadãos-destinatários, num serviço público que
legitimamente representa uma mais-valia social:

- Facilitar, sistematizando um quadro conciso e atualizado de orientações


técnicas, úteis para o desempenho da atividade inspetiva;

- Harmonizar, reforçando a segurança jurídica e a previsibilidade da ação


inspetiva.

O presente referencial tem como pressupostos:

O enquadramento da atividade inspetiva no leque geral de competências


da ACT, fundamentadas em normas de direito internacional1 e nacional2,
das quais se destacam:
 Assegurar a aplicação das disposições legais relativas às condições
do trabalho e à proteção dos trabalhadores no exercício da sua
profissão em matéria de relações de trabalho e de segurança e
saúde no trabalho;
 Realizar inquéritos de acidente de trabalho e doença profissional;
 Fornecer informações e conselhos técnicos aos empregadores e
trabalhadores sobre a maneira mais eficaz de observar as
disposições legais;
 Dar a conhecer à autoridade competente as deficiências ou abusos
que não estejam especialmente previstos nas disposições legais

1
Convenções n.os 81, 129 e 155 da OIT.
2
Decreto-Lei n.º 102/2000, de 2 de junho (Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho).

4
em vigor, apresentando-lhe propostas sobre o aperfeiçoamento da
legislação.
A necessidade de interligação de processos entre os inspetores do
trabalho e demais profissionais da rede nacional de prevenção de riscos
profissionais, da administração do trabalho, da justiça e outras, com a
certeza que o nível de adesão de todos determinará melhorias
significativas na prossecução do interesse público.

Este referencial e os seus conteúdos têm naturalmente por principais


destinatários os inspetores do trabalho.

5
2. Compromisso com o referencial

Com este referencial a ACT assume o empenho de mobilizar os seus dirigentes e


inspetores do trabalho na prossecução e difusão dos seus princípios e
fundamentos, os quais se baseiam em:

Agir em consonância com os princípios e regras que regulam internacional


e nacionalmente os sistemas de inspeção do trabalho;

Implementar melhorias contínuas nos processos, eliminando os custos de


contexto que se revelem desnecessários e inúteis, adequando as
metodologias de intervenção às novas realidades;

Adequar a forma de intervenção aos interlocutores, situações e fins


visados;

Obter os melhores resultados adequados à missão e fins que prossegue;

Valorizar os recursos humanos da ACT, garantindo que detêm as


competências necessárias ao desempenho da sua atividade;

Ser persistente na realização da missão da ACT.

6
3. Missão, visão, valores e cultura

Como serviço central da administração direta do Estado dotado de autonomia


administrativa, a ACT tem as suas orientações estratégicas em plena
consonância com a sua missão de promoção da melhoria das condições do
trabalho, tendo presente um conjunto de referenciais estratégicos nacionais e
internacionais3.

•Promoção da melhoria das condições de trabalho através da fiscalização do cumprimento das


normas em matéria laboral e do controlo do cumprimento da legislação relativa à segurança e
saúde no trabalho, bem como a promoção de políticas de prevenção dos riscos profissionais
MISSÃO quer no âmbito das relações laborais privadas quer no âmbito da Administração Pública.

•Consolidação da ACT como uma entidade pública de referência na promoção da segurança,


saúde e bem-estar no trabalho e da garantia de elevados padrões de cumprimento dos
normativos em matéria laboral, no quadro de uma globalização justa e de desenvolvimento
VISÃO sustentável e de igualdade de oportunidades.

•Quer a missão quer a visão estão suportadas nos valores organizacionais que são a base da
identidade coletiva da ACT (de partilha comum a todos os trabalhadores, independentemente
da carreira em que se integrem), de entre os quais sobressaem referenciais de progresso e de
CULTURA e boa governação pública, nomeadamente:
VALORES

A promoção do diálogo
O reconhecimento do
social e da participação
direito das mulheres e
como essência e
dos homens a um
metodologia para o
trabalho digno e
respeito, promoção e
produtivo, em
aplicação dos princípios
condições de liberdade,
e dos direitos
equidade, segurança e
fundamentais do
dignidade humana.
trabalho.

O empenho constante,
Os princípios éticos
com base na perspetiva
consignados na “Carta
estratégica da
Ética da Administração
organização, em
Pública”, mormente a
encontrar um
imparcialidade, a
compromisso entre a
igualdade, a lealdade e a
pertinência, eficiência e
integridade.
eficácia.

3
Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Referencial sobre Políticas e Estratégias para
2010-2015, Agenda do Trabalho Digno da OIT, Diretiva Quadro 89/391/CE (e diretivas especiais dela
decorrentes), Estratégias Comunitária e Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho, Estratégia Europa
2020 e Plano Nacional de Reformas – crescimento inteligente, verde e sustentável, Compromisso para o
Crescimento, Competitividade e Emprego de janeiro de 2012, Plano Nacional para a Igualdade de Género,
Cidadania e Não Discriminação, Plano Nacional contra o Tráfico de Seres Humanos, Plano Nacional para a
Integração de Imigrantes.

7
A identidade e a cultura de uma organização constituem um conjunto de
caraterísticas diferenciadoras que a tornam única perante outras. Essa
identidade e cultura são expressas, interna e externamente, pela adoção de um
modo de ser, estar e fazer idênticos, assegurando a utilização de suportes
documentais cujo conteúdo e grafismo potenciam a afirmação institucional junto
dos seus interlocutores e destinatários (serviço informativo, requerimentos e
autorização administrativas, comunicações, solicitações, entre outros) e se
projetam na qualidade dos serviços prestados aos destinatários da atividade
inspetiva da ACT.

A ACT, por força da missão e atribuições que lhe estão legalmente cometidas,
cultiva um conjunto de valores associados ao bem-estar no trabalho e ao facto
de ser o único organismo responsável por ativamente contribuir - por si só ou
congregando as parcerias necessárias para o efeito -, para a melhoria das
condições do trabalho.

8
4. Princípios éticos e deontológicos

A legitimação da ACT enquanto entidade pública detentora de um conjunto de


poderes e atribuições, determina a vinculação dos seus profissionais a uma
responsabilidade relacionada com o interesse público e o bem comum,
assumindo as questões éticas e deontológicas uma relevância acrescida.

A atuação da inspeção do trabalho deve ser suportada por um conjunto de


referenciais e de comportamentos congruentes com o interesse público,
impondo-se aos inspetores do trabalho, enquanto funcionários públicos, uma
pluralidade de deveres que encontram expressão na Carta Ética da
Administração Pública e um conjunto de valores assumidos no Código Global de
Integridade para a Inspeção do Trabalho da Associação Internacional da
Inspeção do Trabalho (AIIT), editado pela ACT4.

Serviço público

•Os funcionários encontram-se ao serviço da comunidade e dos


cidadãos, prevalecendo sempre o interesse público sobre os
interesses particulares ou de grupo.

Princípio da legalidade

•Os funcionários atuam em conformidade com os princípios


constitucionais e de acordo com a lei e o direito.

Princípio da justiça e da imparcialidade

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, devem tratar de


forma justa e imparcial todos os cidadãos, atuando segundo
rigorosos princípios de neutralidade.

4
http://www.act.gov.pt/(pt-
PT)/crc/PublicacoesElectronicas/Documents/Codigo_global_de_integridade_para_a_inspeccao_do_trabalho.pdf

9
Princípio da Igualdade

•Os funcionários não podem beneficiar ou prejudicar qualquer


cidadão em função da sua ascendência, sexo, raça, língua,
convicções políticas, ideológicas ou religiosas, situação
económica ou condição social.

Princípio da proporcionalidade

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, só podem


exigir aos cidadãos o indispensável à realização da atividade
administrativa.

Princípio da colaboração e da boa fé

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, devem


colaborar com os cidadãos, segundo o princípio da boa fé,
tendo em vista a realização do interesse da comunidade e
fomentar a sua participação na realização da atividade
administrativa.

Princípio da informação e da qualidade

•Os funcionários devem prestar informações e/ou


esclarecimentos de forma clara, simples, cortês e rápida.

Princípio da lealdade

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, devem agir de


forma leal, solidária e cooperante.

Princípio da integridade

•Os funcionários regem-se segundo critérios de honestidade


pessoal e de integridade de caráter.

Princípio da competência e responsabilidade

•Os funcionários agem de forma responsável e competente,


dedicada e crítica, empenhando-se na valorização profissional.

10
A AIIT elaborou o Código de Integridade, de aplicação mundial, no sentido de
sustentar o profissionalismo das atividades desenvolvidas pela inspeção do
trabalho. Simultaneamente, o compromisso com os valores consagrados no
Código assegurará o funcionamento das inspeções do trabalho segundo os
princípios da transparência e da responsabilidade, constituindo-se como uma
salvaguarda para todos os funcionários da inspeção do trabalho no exercício das
suas funções.

Considerando que os funcionários das inspeções do trabalho devem prestar


serviços que promovam os mais elevados níveis de integridade, correspondam
às expetativas da comunidade e reforcem a sua confiança na organização e na
sua autoridade, o Código propõe um quadro ético que compreende seis valores
gerais.

•CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS
Aquirido através da aprendizagem contínua e do empenho no reforço
Valor 1 das capacidades.

•HONESTIDADE E INTEGRIDADE
Uma conduta que inspire respeito e confiança.
Valor 2

•CORTESIA E RESPEITO
Demonstração de empatia, compaixão e compreensão, reconhecimento
Valor 3 da diversidade da comunidade.

•OBJETIVIDADE, NEUTRALIDADE E JUSTIÇA


Conduta imparcial, objetiva e sem preconceitos.
Valor 4

•COMPROMISSO E CAPACIDADE DE RESPOSTA


Compromisso para com os objetivos e valores da inspeção do trabalho.
Valor 5 Eficácia no planeamento e calendarização das atividades.

•COERÊNCIA ENTRE O COMPORTAMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL


Aplicação destes princípios tanto no trabalho como na vida privada.
Valor 6

11
5. Autonomia

Os referenciais internacionais que tutelam a autonomia orgânica da inspeção do


trabalho, devem ser interpretados num sentido integrador com as demais
disposições legais que enquadram a atividade dos inspetores do trabalho na
prossecução do interesse público e das políticas nacionais relativas à melhoria
das condições do trabalho, de acordo com o plano de ação inspetiva definido
pela Direção da ACT.

Os princípios éticos da administração pública e os valores consignados no Código


Global de Integridade para a Inspeção do Trabalho, consagram a conformação
da autonomia técnica do inspetor do trabalho com o princípio da legalidade e
demais obrigações, assumindo-se como limitadores ao livre arbítrio.

De facto, o princípio da legalidade da administração consignado no artigo 266.º,


n.º 2 da Constituição da República Portuguesa estabelece a matriz fundamental
da atuação de todos os serviços públicos, daí decorrendo a obediência aos
princípios da igualdade, proporcionalidade, objetividade, imparcialidade,
colocando, desta forma, claras orientações quanto a juízos ou critérios de mera
oportunidade.

O funcionamento da administração pública concretiza-se através do


cumprimento de um conjunto de regras e formalidades, decorrentes da
especificidade resultante de um quadro próprio de competências, poderes e
atribuições, padronizando o relacionamento com os cidadãos e defendendo-os de
eventuais arbitrariedades.

Dessa forma, a atuação do inspetor do trabalho surge balizada pela obrigação


inerente à salvaguarda do interesse público, bem como pela delimitação e
restrição dos poderes de autoridade que lhe assistem.

É neste contexto que deve ser enquadrada a autonomia técnica dos inspetores
do trabalho (artigos 13.º e 17.º da Convenção n.º 81 e artigos 18.º e 22.º da
Convenção n.º 1295, ambas da OIT).

5
Ratificada pelo Decreto n.º 91/81, de 17/07.

12
Este conceito encontra expressão, por exemplo, na capacidade de iniciativa do
inspetor do trabalho para identificar e selecionar os alvos da intervenção
inspetiva, bem como para delimitar os respetivos âmbitos e matérias a apreciar,
sem prejuízo do contexto de planeamento a que está obrigado.

Para além disso e de harmonia com as convenções da OIT, o inspetor do


trabalho, uma vez verificada a infração, pode sempre optar pelo aconselhamento
e supervisão, em alternativa à ação sancionatória.

De qualquer forma, estamos no exercício de um ato de natureza discricionária


(mas não arbitrária), limitado por um critério enquadrador que deve respeitar o
princípio da legalidade e da igualdade de tratamento das situações.

De acordo com a doutrina e jurisprudência dominantes, ao inspetor do trabalho


é atribuído um poder de cariz discricionário, que lhe permite a opção entre
instrumentos legais mobilizáveis, fundamentando e justificando a seleção do
procedimento que legalmente respeite os pressupostos da sua utilização, mas
que, em simultâneo, o vincula à adoção daquele que melhor responda aos
interesses protegidos pela norma. Estamos, portanto, perante uma autonomia
legalmente vinculada.

Na realidade, após a tomada de decisão do inspetor do trabalho no âmbito da


sua autonomia técnica- e salvaguardando as naturais especificidades de cada
local de trabalho -, importa que o gesto adotado seja crescentemente
harmonizado em todo o território continental.

O efetivo exercício da autonomia profissional implica assegurar níveis de


qualificação, responsabilidade, coerência e consistência na harmonização do
gesto profissional, enquanto vertente que contribui para garantir um
entendimento lógico e previsível da intervenção, assegurando que os
procedimentos adotados (atos praticados no processo) são, naquele caso, os que
melhor contribuem para a melhoria das condições do trabalho.

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6. Independência

As Convenções da OIT sobre a Inspeção do Trabalho (artigo 6.º da Convenção


n.º 81 e artigo 8.º n.º 1 da Convenção n.º 129)6 estabelecem que o pessoal da
inspeção do trabalho será composto por funcionários públicos, cujo estatuto e
condições de serviço lhes assegurem a estabilidade no seu emprego, os tornem
independentes de qualquer mudança de governo e de qualquer influência
exterior.

Por outro lado, compete exclusivamente à autoridade central o controlo direto e


exclusivo da atividade de inspeção do trabalho, a qual não deverá estar sujeita
ao controlo das autoridades locais, nem depender destas para o exercício de
nenhuma das suas funções (ponto 10 da Recomendação n.º 20 da OIT, de 1923,
sobre os Princípios Gerais de Organização dos Sistemas de Inspeção).

Estes instrumentos consagram o princípio de que a inspeção do trabalho é uma


função de natureza pública e, por conseguinte, o inspetor do trabalho goza do
estatuto e independência de funcionário público, exercendo os seus poderes e
funções de uma forma imparcial, compatível com o seu cargo público e livre de
pressões e limitações indevidas.

Enquanto representante do poder público no mundo laboral, o inspetor do


trabalho está investido de direitos, mas também obrigado a observar um
conjunto de deveres relativamente ao modo como exerce as suas funções. O
exercício adequado de tais direitos e deveres é fundamental para garantir a
autoridade do inspetor, a sua equidistância face aos interesses presentes no
mundo do trabalho e, afinal, da confiança pública no próprio sistema de inspeção
do trabalho no seu todo.

A sua independência é assegurada, desde logo, pelos princípios da legalidade, da


igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa-fé, que
devem enformar a sua atuação e que têm tutela constitucional (artigo 266.º da

6
Ratificadas, respetivamente, pelo Decreto-Lei n.º 44148, de 06/01/1962 e pelo Decreto n.º 91/81, de
17 de julho.

14
Constituição da República Portuguesa) e legal (artigos 3.º a 10.º do Código do
Procedimento Administrativo).

Tais imperativos de independência justificam os especiais deveres, quanto a


incompatibilidades e impedimentos, a que os inspetores do trabalho se
encontram sujeitos no exercício das suas funções (artigo 22.º do Estatuto da
Inspeção-Geral do Trabalho).

15
7. Sigilo profissional

Importa clarificar e delimitar o sigilo profissional dos inspetores do trabalho e


suas implicações.

Este dever de sigilo está também consagrado no artigo 15.º da Convenção n.º
81 e no artigo 20.º da Convenção n.º 129, ambas da OIT, que estabelecem, sob
reserva das exceções que a legislação nacional possa prever, que o inspetor do
trabalho:

Está vinculado, sob pena de sanções penais ou de medidas disciplinares


adequadas, a não revelar, mesmo depois de ter deixado o serviço, os
segredos de fabrico ou de comércio, ou os processos de exploração de que
possa ter tido conhecimento no exercício das suas funções;

Deve considerar como confidenciais todas as fontes de denúncia que lhe


assinalem um defeito na instalação, um perigo nos processos de trabalho
ou uma infração às disposições legais e deve abster-se de revelar à
entidade patronal, ou ao seu representante, que a visita de inspeção foi
consequência de uma denúncia.

De facto, nos termos do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho7 os inspetores


do trabalho (…) estão sujeitos às disposições legais relativamente ao segredo de
justiça e devem guardar sigilo profissional, mesmo depois de deixarem o
serviço.

A observância do sigilo profissional é uma condição indispensável à garantia da


confiança pública e ao sucesso da prossecução dos valores sociais subjacentes à
função de inspeção do trabalho, na promoção da melhoria das condições do
trabalho.

O sigilo profissional impede o inspetor, mesmo depois de deixar a profissão, de


revelar a origem de denúncias, processos de fabrico e outros dados confidenciais
de que teve conhecimento em virtude do desempenho das suas funções.

7
Decreto-Lei n.º 102/2000, artigo 21.º.

16
O cumprimento do dever de sigilo concorre significativamente para a eficácia da
ação inspetiva na medida em que constitui garantia das partes da relação laboral
e responsabilização do inspetor e da própria ACT.

O sigilo profissional está salvaguardado nos termos dos artigos 135.º, 136.º e
182.º do Código de Processo Penal8, por força do artigo 1.º, n.º 2 alínea a) do
Código de Processo do Trabalho9. Nos termos destas normas, o inspetor ou os
demais funcionários a quem a lei impõe que guardem sigilo, podem escusar-se a
depor sobre os factos por ele abrangidos e não fornecer documentos ou
informações sigilosas.

De acordo com o artigo 135.º do Código de Processo Penal:

Havendo dúvidas fundadas sobre a legitimidade da escusa, a autoridade


judiciária perante a qual o incidente se tiver suscitado procede às
averiguações necessárias. Se, após estas, concluir pela ilegitimidade da
escusa, ordena, ou requer ao tribunal que ordene, a prestação do
depoimento.

Se o incidente da escusa for suscitado em tribunal, será o tribunal


superior àquele onde o incidente tiver sido suscitado, ou, no caso de o
incidente ter sido suscitado perante o Supremo Tribunal de Justiça, o
pleno das secções criminais, que poderá decidir da prestação de
testemunho com quebra do segredo profissional sempre que esta se
mostre justificada, segundo o princípio da prevalência do interesse
preponderante, nomeadamente tendo em conta a imprescindibilidade do
depoimento para a descoberta da verdade, a gravidade do crime e a
necessidade de proteção de bens jurídicos. A intervenção é suscitada pelo
juiz, oficiosamente ou a requerimento.

Nos casos supra referidos a decisão da autoridade judiciária ou do


Tribunal é tomada ouvido o organismo representativo da profissão
relacionada com o segredo profissional em causa.

8
Decreto-Lei n.º 78/87, de 17/02 com última alteração pela Lei n.º 1/2016, de 25/02.
9
Decreto-Lei n.º 480/99, de 09/11, com última alteração pela Lei n.º 63/2013, de 27/08.

17
8. Funções do inspetor do trabalho

Constituem principais atribuições do inspetor do trabalho, as seguintes10:

Promover, controlar e fiscalizar o cumprimento das normas legais,


regulamentares e convencionais respeitantes às relações e condições do
trabalho;

Prestar informações e conselhos técnicos com vista ao esclarecimento dos


sujeitos das relações laborais e das respetivas associações;

Sugerir as medidas adequadas em caso de falta ou inadequação de


normas legais ou regulamentares;

Cooperar com os parceiros sociais e institucionais e com as instituições


públicas e privadas que exerçam atividades análogas.

Estas atribuições pressupõem o exercício de um conjunto de competências que


se consubstanciam na realização de uma série de atividades que permitam a sua
consecução.

A atividade inspetiva consiste, assim, na realização de procedimentos tendentes


a examinar uma determinada situação à luz do quadro legislativo a que está, ou
poderá estar sujeita, de forma a avaliar da conformidade ou não dessa situação,
determinando, sendo o caso, as medidas a adotar para efetivar o cumprimento
das normas legais, convencionais e regulamentares aplicáveis.

Nesse sentido, tendo como referência a missão da ACT e o seu plano de


atividades, o inspetor deve, relativamente a cada situação com que se depara,
refletir sobre a mais-valia das opções e procedimentos que assume e dos
instrumentos e meios que utiliza, agindo no quadro legal, com racionalidade
(distinguindo o essencial do acessório), zelo, disponibilidade e espírito de
cooperação.

10
Artigos 3.º e 5.º da Convenção n.º 81 da OIT, artigos 6.º e 12.º da Convenção n.º 129, ambas da OIT e
artigos 10.º e 11.º do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho.

18
8.1. No âmbito das relações de trabalho (RL)

Disposições  Verificar da regularidade do exercício da atividade das


gerais relativas agências privadas de colocação de candidatos a
ao contrato de emprego
trabalho
 Avaliar a política de recrutamento da empresa;

 Identificar e caracterizar situações de discriminação no


acesso a emprego e na execução do contrato de
trabalho;

 Assegurar o controlo da igualdade de direitos e


oportunidades;

 Prevenir e combater situações de assédio no local de


trabalho;

 Verificar e assegurar o cumprimento das regras de


proteção da parentalidade, do cumprimento do
estatuto do trabalhador-estudante e da conformidade
da admissão e condições de execução do contrato de
trabalho com trabalhador estrangeiro;

 Verificar e assegurar o cumprimento das regras


aplicáveis ao destacamento de trabalhadores;

 Verificar os requisitos de admissão e condições de


execução do contrato de trabalho de menores;

 Avaliar das condições do trabalho de regimes de


contrato de trabalho especiais - trabalho doméstico,
trabalho no domicílio, teletrabalho - e verificar os
requisitos de contratação de trabalhadores nas
diversas modalidades de contrato de trabalho por
tempo determinado - trabalho a termo, trabalho
temporário, cedência ocasional, comissão de serviço;

19
 Avaliar do cumprimento do dever de informação e
consulta aos trabalhadores;

 Verificar da existência de prestação de trabalho


dissimulado, da regularidade da contratação e de
trabalho total ou parcialmente não declarado;

 Avaliar a política de formação profissional da empresa.

Prestação do  Assegurar o cumprimento dos requisitos inerentes à


trabalho transferência de local de trabalho e à mobilidade
funcional;

 Verificar a duração e a organização dos tempos de


trabalho nos locais de trabalho;

 Verificar o cumprimento das normas respeitantes aos


limites à duração do período normal de trabalho,
intervalo de descanso, descanso diário e descanso
semanal.

 Aferir do cumprimento das normas relativas à


prestação de trabalho suplementar;

 Verificar o gozo do direito a férias remuneradas.

Retribuição e  Verificar da regularidade da retribuição e da


outras pontualidade do seu pagamento;
prestações
 Controlar a conformidade dos componentes da
patrimoniais
retribuição por reporte aos recibos de vencimento e
registos ou outros elementos recolhidos;

 Verificar a regularidade da declaração de


remunerações à segurança social;

 Determinar o pagamento das quantias em dívida aos


trabalhadores e das contribuições à segurança social;

20
 Participar das eventuais infrações à segurança social e
à administração tributária

Vicissitudes  Avaliar do cumprimento dos requisitos legais em caso


contratuais de transmissão de empresa ou estabelecimento,
cedência ocasional de trabalhadores, redução da
atividade e suspensão do contrato de trabalho
(nomeadamente do recurso a medidas previstas em
situação de crise empresarial).

Incumprimento  Verificar os requisitos da suspensão de contrato de


do contrato de trabalho por não pagamento pontual da retribuição e os
trabalho limites da aplicação de sanções disciplinares.

Cessação do  Verificar a regularidade dos requisitos e formalidades


contrato de inerentes às várias modalidades de cessação do contrato
trabalho de trabalho.

Direito coletivo  Avaliar do cumprimento dos deveres legais relativos às


condições de informação, consulta e participação dos
trabalhadores e seus representantes;

 Avaliar das condições de exercício do direito à greve.

8.2. No âmbito da segurança e saúde no trabalho (SST)

Obrigações Verificar se o empregador:


gerais do  Identifica e avalia os fatores de risco de acidente ou
empregador e doença profissional associados ao local de trabalho;
do trabalhador
 Hierarquiza os riscos pela sua gravidade/frequência;

 Avalia as medidas técnicas e organizativas adequadas


à prevenção dos riscos identificados;

 Determina as medidas de prevenção e de proteção

21
adequadas aos riscos verificados;

 Transfere a responsabilidade civil pela reparação de


danos emergentes de acidentes de trabalho e de
doenças profissionais para entidade legalmente
autorizada a realizar este seguro;

 Declara à seguradora todos os trabalhadores e


respetivas retribuições.

Consulta,  Verificar as condições de acesso à informação e do


informação e cumprimento da obrigação de consulta;
formação dos
 Verificar a existência de formação adequada, tendo em
trabalhadores
atenção o posto de trabalho e o exercício de atividades
de risco;

 Verificar a existência de formação permanente pelos


trabalhadores designados para se ocuparem de todas
ou algumas atividades de segurança e saúde no
trabalho

Representantes  Verificar as garantias da constituição da estrutura de


dos representação coletiva dos trabalhadores para a
trabalhadores segurança e saúde no trabalho;
para a
 Verificar o cumprimento das regras de funcionamento
segurança e
das atividades dos representantes dos trabalhadores
saúde no
para a segurança e saúde no trabalho.
trabalho
Serviços de  Verificar da existência de serviços de segurança e
segurança e saúde no trabalho;
saúde no
 Avaliar da adequabilidade da modalidade de serviços
trabalho
de segurança e saúde no trabalho adotada;

 Avaliar dos requisitos formais relativos ao exercício da


atividade de segurança e saúde no trabalho;

22
 Avaliar do exercício das atividades dos serviços de
segurança e saúde no trabalho da empresa;

 Avaliar da adequabilidade dos recursos humanos afetos


às atividades de segurança e saúde no trabalho:

 Avaliar da adequabilidade dos equipamentos de


prevenção e/ou proteção utilizados;

 Verificar a realização de exames de vigilância da


saúde;

 Verificar a realização de atividades proibidas ou


condicionadas por trabalhadoras grávidas, puérperas
ou lactantes e por menores;

 Verificar a realização de atividades proibidas ou


condicionadas a menores;

 Avaliar a operacionalidade da coordenação de


segurança em caso de desenvolvimento de atividade
por diferentes entidades no mesmo espaço físico;

 Verificar a comunicação de acidentes de trabalho


mortais ou que evidenciem uma lesão física grave.

Inquéritos de  Elaborar inquéritos de acidente de trabalho nos termos


acidentes de da lei;
trabalho e
 Elaborar inquéritos de doenças profissionais nos
doenças
termos da lei.
profissionais

23
8.3. Outras funções

Pode ainda ser solicitado ao inspetor do trabalho, entre outros, o


desenvolvimento de funções nos seguintes domínios:

Programação e coordenação de ações inspetivas;

Elaboração e acompanhamento da execução do plano anual da ação


inspetiva e do relatório de atividades;

Instrução de processos de contraordenação laboral;

Desenvolvimento de procedimentos de acompanhamento, avaliação


e harmonização do sistema de contraordenações laborais, bem
como do registo individual dos sujeitos responsáveis pelas mesmas;

Definição de metodologias, procedimentos e orientações sobre


exercício do gesto profissional e harmonização e avaliação da
atividade inspetiva;

Emissão de pareceres e elaboração de estudos de natureza técnica


no âmbito das competências da ACT;

Elaboração e preparação de documentos e suportes de informação,


com vista à sensibilização e esclarecimento dos destinatários da
ação da ACT;

Recolha e tratamento da informação relativa à atividade inspetiva,


nomeadamente para efeitos estatísticos e para resposta a
solicitações de outras entidades;

Identificação de lacunas ou de normas legais desadequadas e


propostas de adequação do quadro jus laboral;

Cooperação com os serviços de fiscalização das condições do


trabalho de outros Estados-membros do espaço económico
europeu;

24
Elaboração de estudos sobre sinistralidade laboral e doenças
profissionais e monitorização da evolução da taxa de acidentes de
trabalho e das doenças profissionais;

Avaliação das reclamações apresentadas pelos destinatários da ação


inspetiva, tendo em vista melhorar a qualidade do serviço prestado;

Elaboração de documentos de suporte a comunicações públicas;

Representação da ACT em fóruns de discussão pública –


congressos, seminários, jornadas, workshops – garantindo o
discurso institucional;

Avaliação de necessidades de formação inicial e contínua do pessoal


da área inspetiva;

Programação de ações de formação e elaboração de conteúdos


formativos;

Avaliação da qualidade e dos resultados dos cursos de formação;

Desenvolvimento de projetos inovadores, que promovam:

- A melhoria da eficiência e da eficácia da intervenção da ACT por


via da simplificação e desburocratização dos procedimentos
administrativos e contraordenacionais,

- A melhoria dos sistemas de informação da ACT,


designadamente em matéria de gestão e acompanhamento da
atividade inspetiva e da atividade de promoção da segurança e
saúde no trabalho, bem como no domínio da gestão dos
processos de contraordenação laboral.

- A simplificação do acesso aos serviços da ACT - nomeadamente


através da intensificação do recurso às novas tecnologias -,

- Campanhas setoriais e parcerias estratégicas e de cooperação


com parceiros sociais, dinamizando a autorregulação;

25
- O conhecimento das leis laborais por parte dos empregadores e
trabalhadores,

- A partilha de experiência e de informação com congéneres


internacionais da ACT,

- A promoção e divulgação de boas práticas;

Desenvolvimento de ações de monitorização no âmbito de


auditorias;

Elaboração de instrumentos de autoavaliação que permitam aos


interlocutores da ACT verificar o cumprimento da legislação laboral.

26
9. Atividade inspetiva da ACT

9.1. Origem e principais destinatários da atividade inspetiva

O desenvolvimento e implementação do plano de ação inspetiva enquadra as


solicitações e pedidos de intervenção dirigidos à ACT, através de diversas vias
disponibilizadas para o efeito (sítio na internet, via postal, correio eletrónico,
serviço informativo).

Para além dos pedidos que provêm dos principais destinatários da intervenção
inspetiva (trabalhadores, empregadores e seus representantes), existe um
conjunto de solicitações que decorre do cumprimento de obrigações legais 11
(tribunais - realização de inquéritos sumários e urgentes de acidentes de
trabalho; entidades coordenadoras – licenciamento; outros serviços inspetivos –
no quadro da colaboração entre serviços da administração pública).

A atividade inspetiva pode ainda ter origem na identificação de necessidades de


intervenção por iniciativa do dirigente ou do inspetor do trabalho, considerando
o conhecimento da realidade e fenómenos locais, desde que devidamente
fundamentada nos princípios éticos e deontológicos da Administração Pública e
enquadrada na estratégia definida pela Direção da ACT.

Conhecer o universo dos destinatários da sua ação torna-se fundamental para


selecionar e priorizar necessidades de intervenção, adequar metodologias que
potenciem a eficácia da ação e reforçar a credibilidade da instituição.

Podemos sistematizar os principais destinatários da intervenção inspetiva da


seguinte forma:

Os trabalhadores individualmente considerados e/ou coletivamente


organizados ou representados;

Os empregadores (setores privado e público, este último quanto à matéria


de segurança e saúde no trabalho), individualmente considerados, mas
também representados em associações de empregadores, na exata

11
Artigo 104.º n.º 2 do Código de Processo do Trabalho, artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 209/2008, de 29 de
outubro, artigos 14.º, 44.º e 57.º do Sistema de Indústria Responsável, aprovado pelo Decreto-Lei n.º
169/2012, de 1 de agosto.

27
medida dos pedidos de intervenção ou, estrategicamente enquadrados
pelo plano de ação inspetiva, agrupados por setores de atividade, ou
através de outros critérios considerados pertinentes e adequados aos fins
propostos (p. ex., dimensão da empresa, localização geográfica,…);

Outros destinatários (tribunais, entidades coordenadoras, outros serviços


inspetivos nacionais e internacionais).

9.2. Desenvolvimento da ação inspetiva

9.2.1. Conceitos e definições

A atuação do inspetor do trabalho nos locais de trabalho pressupõe o domínio e


a utilização de um conjunto de conceitos transversais que, de forma
harmonizada, permitem o exercício e a concretização de uma linguagem comum
aos referenciais nacionais e internacionais.

Processo
inspetivo

Visita
Doença inspetiva
profissional (1.ª, 2.ª e
outras)

Acidente de
trajeto ou Empregador
in itinere

Conceitos

Acidentes de Local de
trabalho trabalho

Estabeleci- Posto de
mento trabalho

Estaleiro

28
Tais conceitos permitem representar a atividade inspetiva em resultados
passíveis de tratamento estatístico, designadamente para efeitos de
cumprimento dos compromissos de informação e comunicação internacionais,
bem como da realização do relatório anual sobre o trabalho dos serviços de
inspeção12.

Nestas circunstâncias, devem ser considerados e utilizados nas atividades de


controlo inspetivo e no sistema de recolha e tratamento de dados dos sistemas
de informação da ACT os conceitos a seguir identificados.

Conceito Definição

Processo inspetivo Conjunto sequencial de atos que visam promover a melhoria das
condições do trabalho através do controlo do cumprimento das
normas em matéria laboral e da legislação relativa à segurança e
saúde no trabalho, quer no âmbito das relações laborais privadas
quer no âmbito da Administração Pública.
Visita inspetiva Deslocação a um estabelecimento, estaleiro temporário ou móvel
ou local de trabalho, efetuada por inspetor do trabalho no
exercício das suas funções, tendo em vista inspecionar os locais
de trabalho verificando, avaliando e controlando o cumprimento
de normas legais, convencionais e regulamentares integradas no
âmbito de competências da inspeção do trabalho.
Primeira visita Visita inspetiva efetuada pela primeira vez a um dado
estabelecimento, estaleiro temporário ou móvel ou local de
trabalho, no âmbito de um processo inspetivo.
Segunda e outras Deslocação ou deslocações necessárias à verificação do
visitas cumprimento/incumprimento de procedimentos determinados,
acompanhamento de situações laborais, consolidação da recolha
de dados necessários e concretização da intervenção inspetiva
que não foi possível realizar na primeira visita, realizada no
âmbito do processo inspetivo.
Empregador Entidade jurídica (pessoa singular ou coletiva), com pessoas ao
seu serviço, que se dedica à produção de bens e/ou serviços,
através de um processo organizacional de transformação de
inputs em outputs.

12
Artigos 20.º e 21.º da Convenção n.º 81 e os artigos 26.º e 27.º da Convenção n.º 129, ambas da OIT.

29
Conceito Definição

Estabelecimento Unidade organizacional que goza de certa autonomia de decisão,


designadamente quanto à afetação dos seus recursos, e que
compreende uma estrutura organizativa com todos os elementos
do ativo, materiais ou imateriais, imobilizados necessários ao
desenvolvimento da atividade económica, principal ou acessória.
O estabelecimento compreende um ou vários locais de trabalho.
Local de trabalho Espaço onde o trabalhador desenvolve a sua atividade, incluindo
os lugares por onde se desloca no desempenho da(s) sua(s)
tarefa(s).

Posto de trabalho Local onde o trabalhador desenvolve a sua atividade, bem como o
veículo utilizado por causa e no decurso do exercício de qualquer
tarefa inerente às suas funções.
Estaleiro Local onde se efetuam trabalhos de construção de edifícios ou
outros no domínio da engenharia civil, nomeadamente trabalhos
de escavação, terraplenagem, montagem e desmontagem de
elementos pré-fabricados, demolição, bem como os locais onde se
desenvolvem atividades de apoio direto aos mesmos.
Acidente de Aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza
trabalho direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou
doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de
ganho ou a morte13.
São também considerados acidentes de trabalho os acidentes de
viagem, de transporte ou de circulação, nos quais os
trabalhadores ficam lesionados e que ocorrem por causa ou no
decurso do trabalho, isto é, quando exercem uma atividade
económica, ou estão a trabalhar, ou realizam tarefas para o
empregador.
Para a OIT, entende-se por acidente de trabalho todo o
acontecimento inesperado e imprevisto, incluindo os atos de
violência, derivado do trabalho ou com ele relacionado, do qual
resulta uma lesão corporal, uma doença ou a morte, de um ou
vários trabalhadores14.

13
Artigo 8.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro.
14
Resolução da OIT sobre as estatísticas das lesões profissionais devidas a acidentes de trabalho, adotada na
16.ª Conferência Internacional de Estaticistas do Trabalho em 1998.

30
Conceito Definição

Acidente de Acidente que ocorre no trajeto normalmente utilizado pelo


trajeto ou in trabalhador, qualquer que seja a direção na qual se desloca, entre
itinere qualquer dos seus locais de trabalho no caso de ter mais de um
emprego, entre o seu local de trabalho ou de formação ligado à
sua atividade profissional e a sua residência principal ou
secundária, o local onde toma normalmente as suas refeições, o
local onde recebe normalmente o seu salário, o local onde ao
trabalhador deva ser prestada qualquer forma de assistência ou
tratamento por virtude de anterior acidente ou o local onde por
determinação do empregador presta qualquer serviço relacionado
com o seu trabalho, do qual resulte redução na capacidade de
trabalho ou de ganho ou a morte15.
Doença Perturbação da saúde contraída em consequência de uma
profissional exposição, durante um dado período de tempo, a fatores de risco
decorrentes de uma atividade profissional. De acordo com a
legislação nacional são doenças profissionais as constantes de
lista codificada, bem como as lesões, perturbações funcionais ou
doenças não incluídas na lista (…) desde que se prove serem
consequência necessária e direta da atividade exercida e não
representem normal desgaste do organismo16.

9.2.2. Impulso da intervenção inspetiva

A intervenção inspetiva desenvolve-se no âmbito dos planos estratégico e de


atividades aprovados, resultando também de pedidos de intervenção.

Esse enquadramento deverá privilegiar, sempre que possível, a planificação


prevista nas respetivas fichas de projeto, nomeadamente quanto aos períodos aí
definidos ou que venham a ser estipulados pela direção da ACT e/ou pelos
serviços desconcentrados.

15
Artigo 9.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro.
16
Artigos 93.º e seguintes da Lei n.º 98/2009 e 283.º, n.º 2 do Código do Trabalho aprovado pela Lei n.º
7/2009 de 12 de fevereiro; ver também o Portal da Saúde em
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/saude+no+trabalho/doencasprofissionais.ht
m.

31
O tratamento dos pedidos de intervenção deve considerar a legitimidade do
requerente, a credibilidade da fonte e a relevância do objeto da reclamação:

Quanto à legitimidade do requerente, esta decorre do facto de este ser,


ou representar, o principal destinatário da atividade inspetiva
(trabalhador, entidade empregadora, estrutura representativa de
trabalhadores, associação de empregadores, ou advogado em
representação do seu cliente), ou consistir em outro organismo ou
entidade da Administração Pública com legitimidade para tal;

No que concerne ao objeto da reclamação ou do pedido de intervenção, a


priorização das eventuais intervenções inspetivas a realizar deve
obedecer aos critérios de prioridade que, a propósito, são definidos no
ponto seguinte.

Relativamente à fonte da reclamação, a mesma deve estar identificada;


podem excecionar-se as reclamações que evidenciem claros indícios
factuais de infrações laborais e não apenas meras considerações,
suspeitas e conjeturas17.

9.2.3. Prioridades de intervenção inspetiva

A priorização dos pedidos de intervenção e da consequente programação das


visitas inspetivas deverá obedecer a critérios objetivos, tendo em conta os
interesses em causa, designadamente:

Gravidade das situações;


Número de trabalhadores abrangidos;
Relevância dos valores sociais a promover; e
Possível efeito multiplicador gerado pela intervenção.

Devem ser objeto de prioridade as seguintes matérias:

17
A este propósito, o artigo 246.º n.º 5 do Código Processo Penal estipula que «A denúncia anónima só pode
determinar a abertura de inquérito se: a) Dela se retirarem indícios da prática de crime; ou b) Constituir crime.

32
Situação causadora de probabilidade séria de lesão da vida, ou da saúde
física ou mental dos trabalhadores;

Inquéritos de acidente de trabalho, nos termos da lei;

Trabalhadores vulneráveis (menores, trabalhadoras grávidas, puérperas e


lactantes, trabalhadores com filhos com deficiência ou doença crónica,
trabalhadores estudantes, trabalhadores com mais de 55 anos,
trabalhadores com deficiência ou incapacidade e trabalhadores
imigrantes);

Falta de pagamento pontual da retribuição;

Redução temporária do período normal de trabalho ou suspensão do


contrato de trabalho por facto respeitante ao empregador (crise
empresarial, encerramento e diminuição temporários de atividade);

Despedimento por iniciativa do empregador (despedimento coletivo,


extinção de posto de trabalho);

Violação do dever de ocupação efetiva;

Proteção de direitos coletivos (liberdade de filiação, crédito de horas,


faltas de representantes de trabalhadores, transferência, reunião,
informação e consulta, constituição de comissão de trabalhadores,
cobrança de quota sindical e greve);

Outras matérias que venham a ser consideradas prioritárias em sede de


plano estratégico ou de plano de atividades.

9.2.4. Momentos da intervenção inspetiva

Identificam-se cinco momentos essenciais da ação inspetiva, apresentando-se


cada um deles com etapas próprias, cuja sucessão e desenvolvimento favorecem
o resultado final da intervenção do inspetor do trabalho.

33
2.ª visita

Planeamento Preparação Realização da Análise e


elaboração Decisão do
da ação da ação visita
de dirigente
inspetiva inspetiva inspetiva
informação

Enquadramento no Pesquisa; Início; Registo da Decisão;


Plano de Ação. Organização. Desenvolvimento; atividade Informação
Termo. inspetiva; final às partes
Segunda ou interessadas.
outras vistas;
Forma e conteúdo
do relatório/
informação.

Adoção de procedimentos inspetivos


Instrumental e transversal a todos os momentos da intervenção inspetiva

Recursos disponibilizados no referencial (Fluxogramas; procedimentos


e outros documentos de apoio – intranet/SI)

34
Este referencial permite o acesso a hiperligações que foram desenvolvidas no
sentido de agilizar o acesso aos recursos criados, em sede de preparação da
visita inspetiva, na recolha de elementos na entidade visitada, ou na
concretização de procedimentos, cujos modelos são disponibilizados na intranet
ou no Sistema de Informação (SI) da ACT.

O recurso ao mapeamento de processos, permite a identificação de um tronco


comum e transversal à maioria das ações inspetivas, constituindo, desta forma,
uma orientação de atuação para os diversos momentos ou fases de intervenção
do inspetor do trabalho.

9.2.4.1. Planeamento

O planeamento traduz a articulação entre a estratégia de intervenção definida,


os recursos disponíveis e os diferentes pedidos dirigidos aos serviços,
considerando os fenómenos emergentes que careçam de resposta por parte da
ACT.

A realização de visita inspetiva, sendo a regra, pode, contudo, ser ponderada e


avaliada após juízo de adequabilidade e oportunidade, tendo em conta os meios
disponíveis e os resultados que se visam alcançar.

35
Numa perspetiva macro, este será o momento onde são equacionadas eventuais
situações de articulação com outros serviços desconcentrados ou com outras
entidades, com programação de visitas conjuntas, as quais podem ocorrer por
iniciativa ou solicitação de qualquer das partes.

O conhecimento de diversas situações de desregulação no mesmo setor de


atividade, na mesma entidade ou na mesma área de intervenção, pode
determinar o planeamento de ações específicas que garantam resultados com
efeito multiplicador.

9.2.4.2. Preparação da ação inspetiva

Na preparação da visita inspetiva, identificam-se duas etapas essenciais:


pesquisa e organização.

Arquivo/processo da empresa Realização da visita sem ou


Organização
Pesquisa

Registo no SI (antecedentes, registos de com aviso prévio, a definir


procedimentos, registo acidentes de de acordo com o impulso e
trabalho) matérias objeto de
intervenção
Existência de representantes sindicais e para
a SST, comissão de trabalhadores) Articulação com outras
entidades sempre que
Relatório único adequado ou quando
Base dados Instituto Segurança Social, IP (ISS, estejam previstas ações
IP) conjuntas
Portal da justiça N.º de inspetores do
trabalho a envolver,
Legislação de enquadramento devendo as equipas ser
Instrumento de Regulamentação Coletiva de constituídas, por regra, com
Trabalho (IRCT) aplicável dois elementos (as vistorias
N.º de trabalhadores de licenciamento podem ser
realizadas por apenas um)
Código de Atividade Económica (CAE)
Seleção dos recursos a
Fluxogramas disponíveis utilizar (fluxogramas, fichas
Localização da empresa e identificação do de identificação, listas de
interlocutor privilegiado, se possível verificação, policopiativos,
etc.)
Matérias-primas e processo produtivo
Seleção dos equipamentos
Partilha de informação com inspetores que
de proteção individual
tenham desenvolvido (ou estejam a
(EPI´s) a utilizar
desenvolver) ação inspetiva na mesma
entidade Ponderar o alargamento das
matérias
Outras consultas

36
O planeamento e a preparação adequados da visita inspetiva são cruciais para o
seu sucesso.

Por regra, a visita inspetiva realiza-se sem aviso prévio, ou seja, não é
anunciada, de forma a garantir ao inspetor a observação e verificação das
condições que efetivamente existem no local de trabalho, facilitando a evidência
da prova.

Sempre que exista justificação para o efeito, a visita pode ser anunciada, no
sentido de garantir a presença de interlocutores específicos, ou no quadro de
intervenções com metodologias específicas que aconselhem esse tipo de
procedimento.

9.2.4.3. Visita inspetiva

A visita inspetiva, efetuada em regra por uma equipa de dois inspetores, é um


momento importante para verificação e recolha dos elementos necessários à
ação.

Antes de iniciar a visita o inspetor do trabalho decide (dependendo da natureza e


objetivos da intervenção) quais os interlocutores essenciais ao desenvolvimento
da sua intervenção, podendo fazer-se acompanhar, se estrategicamente
adequado, pelo empregador, representante dos trabalhadores e/ou trabalhador
afeto a determinado departamento/serviço, representante sindical, técnico de
segurança e saúde no trabalho e/ou médico do trabalho e perito indicado pela
ACT.

A visita deve ser feita sem acompanhamento se o inspetor do trabalho entender


que a presença de qualquer das pessoas referidas no parágrafo anterior pode
impedir a recolha de informação ou constranger a audição dos trabalhadores no
local de trabalho.

37
i) Início da visita

Em regra, o inspetor deve informar da sua presença o empregador ou seu


representante e o(s) representante(s) dos trabalhadores na empresa18, desde
que tal não prejudique o propósito da investigação. Se não se identificar no
início da visita devido àquela estratégia de investigação, o inspetor deverá
sempre fazê-lo em momento posterior.

Sem prejuízo do rigoroso cumprimento do dever de sigilo19, o inspetor deve


identificar o objeto e o contexto que envolve a visita a efetuar.

Deve também, e desde que não se mostre contrário ao objetivo da visita,


clarificar o percurso inspetivo que vai ser realizado, o acompanhamento que é
requerido e a documentação a consultar.

Nos casos de recusa de acesso ou obstrução ao exercício da ação inspetiva, o


inspetor pode solicitar a colaboração das autoridades policiais, tomando as
medidas preventivas e as recomendações desenvolvidas no ponto relativo às
vicissitudes da intervenção inspetiva.

Durante a visita o inspetor do trabalho deve salvaguardar o direito a ouvir os


trabalhadores e qualquer outra pessoa que se encontre no local de trabalho, a
sós20.

ii) Desenvolvimento da visita

Dependendo da natureza e objetivos da intervenção, o inspetor do trabalho


desenvolve a visita pela deslocação a um ou mais postos de trabalho, verificando
situações, identificando trabalhadores, obtendo informação junto das
organizações representativas de trabalhadores e/ou solicitando/requisitando e
analisando a documentação considerada pertinente e proporcionada.

No decurso da visita, e sempre que seja relevante para o desenvolvimento da


ação inspetiva o inspetor efetua registos fotográficos, imagens vídeo e
18
Artigo 12.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 102/2000. A este propósito vejam-se as orientações constantes do
Ofício-circular n.º 10/DirACT/13.
19
Matéria desenvolvida no ponto 6.
20
Artigo 11.º, n.º 1, alínea c) do Decreto-Lei n.º 102/2000.

38
medições; pode também recolher e levar para análise amostras de produtos,
materiais e substâncias utilizados nos locais de trabalho, dando do facto
conhecimento ao empregador ou ao seu representante.

Visita no âmbito das relações laborais/ da segurança e saúde no


trabalho

Na visita, o inspetor deve obter o máximo de elementos possíveis relativamente


à situação objeto da intervenção, devendo também verificar a afixação dos
documentos obrigatórios.

O inspetor deve utilizar os métodos, instrumentos e procedimentos que, no caso


concreto, forem considerados adequados, nomeadamente os disponíveis na área
de recursos partilhados da ACT - fluxogramas, listas de verificação e outros.

Na visita de segurança e saúde no trabalho, o inspetor deve efetuar o percurso


pelo local de trabalho de forma sistemática, de preferência seguindo o processo
produtivo.

Visita no âmbito de um acidente de trabalho/doença profissional

As visitas no âmbito de inquérito de acidente de trabalho ou de doença


profissional21 visam o apuramento das situações e circunstâncias que estiveram
na origem do acidente de trabalho ou da doença profissional, desencadeando o
estudo das condições do trabalho na empresa/organização em causa e uma
análise global da situação de trabalho, devendo seguir as regras e
22
procedimentos em vigor , bem como as orientações de serviço relativas à sua
realização e registo no SI da ACT.

O inquérito destina-se a conhecer o conjunto de causas (próximas e distantes)


do acidente de trabalho ou da doença profissional, tendo em vista criar
condições para que estas não se repitam, designadamente através do estudo e
análise das medidas de prevenção e de proteção mais adequadas.
21
Fluxogramas sobre inquéritos de acidentes de trabalho e doenças profissionais.
22
Ofício-circular n.º 8/ACT/11.

39
Deste deve resultar a proposta de aplicação e acompanhamento da
implementação, pelo empregador, das medidas de controlo dos riscos
profissionais que se revelarem necessárias à sua eliminação ou minimização.

Visita no âmbito do licenciamento industrial

As vistorias e auditorias no contexto de licenciamento industrial decorrem de


acordo com a respetiva disciplina legal.

Com efeito, e no quadro das competências do inspetor do trabalho23, compete-


lhe emitir parecer (de acordo com os procedimentos previstos na plataforma da
Autoridade para a Modernização Administrativa - AMA) e realizar vistorias
conjuntas com outros organismos no âmbito de processos de licenciamento
relativos à instalação, alteração e laboração de estabelecimentos, tendo em vista
a prevenção de riscos profissionais.

As visitas efetuadas integram-se num processo de vistoria/auditoria em matéria


de segurança e saúde no trabalho; como tal, salvaguardando as situações de
perigo grave e iminente que exijam uma atuação imediata por parte do inspetor
do trabalho, todas as medidas de segurança determinadas pelo inspetor são
formalizadas no auto de vistoria.

Visita conjunta

Sempre que seja identificada a necessidade de intervenção conjunta com outras


entidades (Instituto da Segurança Social - ISS, Guarda Nacional Republicana -
GNR, Polícia de Segurança Pública - PSP, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras -
SEF, Autoridade Tributária - AT, …), deve ser seguido o planeamento e
preparação previamente efetuados, garantindo a articulação e respeitando o
gesto profissional de todas, bem como:

 Conhecer e respeitar as competências e formas de intervenção de cada


entidade;

23
Artigo 10.º, n.º 1, alínea g) do Decreto-Lei n.º 102/2000.

40
 Assegurar a articulação de valências, em função da estratégia do ato
inspetivo, por forma a garantir o efeito útil da intervenção.

Sempre que sejam envolvidos profissionais de outros serviços desconcentrados


da ACT, deve ter-se em atenção:

 As estratégias definidas para a intervenção e os procedimentos a adotar


perante as irregularidades detetadas;

 A harmonização do gesto inspetivo e dos instrumentos a adotar, por


forma a garantir um entendimento lógico e previsível da intervenção.

iii) Termo da visita

No termo da visita ao local de trabalho, o inspetor do trabalho, assegurando que


não coloca em causa o objetivo da ação, deve informar:

 O empregador, ou o seu representante, sobre os resultados obtidos, os


procedimentos aplicados ou a aplicar e/ou a perspetiva sobre a
atuação subsequente;

 O(s) representante(s) dos trabalhadores na empresa (elemento da


comissão de trabalhadores, delegado sindical, dirigente sindical,
representante para a segurança e saúde no trabalho) sobre os
resultados obtidos e/ou perspetiva sobre a atuação subsequente;24

 Outros intervenientes, designadamente o coordenador de segurança, o


técnico de segurança, o médico do trabalho, …

Para esse efeito pode, nomeadamente:

 Resumir o nível de cumprimento detetado, em matéria de relações de


trabalho e de segurança e saúde no trabalho;

24
Artigo 12.º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º 102/2000.

41
 Enunciar as irregularidades detetadas, o seu fundamento legal e as
respetivas consequências;

 Prestar informação sobre a forma mais adequada de


regularizar/corrigir as irregularidades identificadas;

 Enumerar as boas práticas relevantes verificadas, solicitando


autorização para divulgação das mesmas junto de outros
empregadores e das entidades integrantes da rede de prevenção de
riscos profissionais;

 Assegurar que o empregador tem consciência da importância do


cumprimento dos normativos em vigor;

 Fornecer informação sobre onde encontrar elementos com vista à


adoção de melhores soluções, sempre que tal seja possível.

Etapas da visita inspetiva


O inspetor deve Dependendo da natureza e O inspetor deve informar
Desenvolvimento

Termo
Início

identificar-se pela objetivos da intervenção o os interlocutores


apresentação do original inspetor desloca-se a um pertinentes (empregador,
do cartão profissional no ou mais postos de trabalho representantes dos
início da visita. verificando as condições trabalhadores e/ou outros)

Sempre que identifica do trabalho, identificando sobre os resultados

outro interlocutor deve trabalhadores e obtendo obtidos, os procedimentos

proceder da mesma forma. informação junto das aplicados ou a aplicar e/ou


organizações a perspetiva sobre a
representativas dos atuação subsequente, sem
trabalhdores (ORTs) prejuízo do objetivo da

Solicita/analisa a intervenção.

documentação considerada
pertinente e
proporcionada.

9.2.4.4. Análise e elaboração de informação

No seguimento da visita inspetiva, o inspetor do trabalho analisa,


sistematizando, os factos apurados e o respetivo enquadramento jurídico-legal.

42
Esta etapa permite determinar a eventual necessidade da realização de outros
procedimentos, de notificação para apresentação de documentos ou para
determinação de nova visita inspetiva para verificação do cumprimento de
medidas anteriormente determinadas.

i) Registo da atividade inspetiva

A atividade inspetiva é obrigatoriamente objeto de registo no sistema


informático existente para o efeito.

Considerando que é necessário, a todo o momento, informação atualizada sobre


a atividade inspetiva, a inserção de dados deve ser realizada o mais próximo
possível da data da ocorrência do evento que justifica o próprio registo25.

O registo dos dados respeitantes à atividade inspetiva levada a cabo pelo


inspetor do trabalho (designadamente sobre visitas, procedimentos adotados,
entidades empregadoras intervencionadas, número e natureza dos trabalhadores
identificados, apuramentos efetuados, etc.) assume especial relevância, na
medida em que a informação constante do sistema de informação é essencial
para, entre o mais:

Dar resposta às necessidades de produção de informações e estatísticas


decorrentes de imperativos legais ou de compromissos internacionais
assumidos pelo Estado português;
Avaliar os resultados das atividades desenvolvidas pela ACT no quadro
das estratégias nacionais de intervenção que as enquadram;
Avaliar o desempenho dos serviços e dos respetivos dirigentes e
funcionários;
Apoiar a tomada de decisões por parte da respetiva direção;
Fornecer informação relevante ao inspetor do trabalho sobre as entidades
empregadoras, no âmbito do processo de recolha de informação,
previamente à realização de visita inspetiva.

25
Ofício-circular n.º 7/DirACT/13 sobre alterações e orientações ao registo da atividade inspetiva.

43
Recolha de informação necessária à definição de estratégias de
intervenção por sector de atividade, região, tipologia de irregularidades,
etc.
Permitir a realização de análises e estudos diversos sobre o cumprimento
da lei.

ii) Realização de segunda ou outras visitas

Quando no âmbito do processo inspetivo o inspetor do trabalho determine a


adoção de medidas, quer em matéria de relações de trabalho, quer de
segurança e saúde no trabalho, deve, em regra, realizar uma segunda visita
inspetiva, para verificar o nível de acolhimento e regularização das medidas que
tenha determinado.

Se, após um juízo de adequabilidade e oportunidade, baseado na análise da


documentação, nos factos apurados e nos procedimentos desenvolvidos no
decurso do processo, o inspetor do trabalho entender que não é necessária a
realização de uma segunda visita, deve referi-lo expressamente na informação
(nomeadamente em processos cujo âmbito permite, pela verificação
documental, aferir do cumprimento da lei).26

iii) Formato e conteúdo do relatório da informação

O relatório/informação de intervenção inspetiva constitui uma importante fonte


de informação e deve conter todos os dados relevantes que sustentam a tomada
de decisão.

O relatório é o reporte escrito dos resultados obtidos na(s) visita(s) inspetiva(s)


efetuada(s) e na análise documental, no qual se relata a situação denunciada
(se for o caso), a situação encontrada, o que foi averiguado, os procedimentos
adotados (ou não) e sua fundamentação, bem como a avaliação final da
intervenção inspetiva, considerando os objetivos predefinidos e os resultados
alcançados, isto é, o grau de transformação do local de trabalho onde ocorreu a
26
Exemplo de situações que podem configurar a não realização de segunda visita : extinção de posto de
trabalho, emissão de modelo 5044, contrato de trabalho a termo (vg. sucessão, fundamentação), etc.

44
ação, salientando, também, as irregularidades voluntariamente corrigidas e a
consequente melhoria das condições do trabalho.

Salienta-se a importância da adoção de um formato padronizado para os


relatórios de intervenção inspetiva, na medida em que só assim é possível
assegurar a orientação do processo de apuramento dos factos e,
concomitantemente, agregar, interpretar e comparar as respetivas informações.

Estrutura da informação/relatório, constante no SI:

0. Gestão

1. Empregador

2. Impulso (da ação inspetiva - Plano de atividades/solicitação


externa/outra);

3. Objetivo (da ação - domínio das relações de trabalho e/ou de


segurança e saúde no trabalho, com identificação concreta das
matérias);

4. Caracterização (da ação - abrangência, metodologia e


interlocutores, descrição factual27 e análise28);

5. Procedimentos (inspetivos - explicação/justificação da adoção


ou não dos procedimentos inspetivos);

6. Conclusão (menção do resultado obtido, nomeadamente do grau


de transformação do local de trabalho).

A este propósito importa salientar que os procedimentos de ação inspetiva


adotados devem constar em anexo à respetiva informação.

27
Estruturada por domínios – relações de trabalho / segurança e saúde, descrição do que foi verificado,
eventual remissão para listas de verificação ou outros documentos, …
28
Estruturada por domínios – relações de trabalho / segurança e saúde, análise das situações sob o ponto de
vista técnico-jurídico mediante consulta de legislação, incluindo a contratação coletiva se aplicável, bem como
de fluxogramas se necessário; eventual análise sob o ponto de vista económico ou social e referência aos
documentos analisados.

45
9.2.4.5. Decisão do dirigente

Após a análise do relatório/informação do processo inspetivo, elaborado no SI da


ACT, este é objeto de decisão pelo dirigente, ao qual incumbe, designadamente:

Apreciar da suficiência e da adequação da investigação realizada;

Apreciar da legalidade dos procedimentos adotados;

Assegurar a comunicação institucional entre a ACT e as entidades


externas ao processo (tribunais, entidades e autoridades públicas, etc.) e,
em sede de conclusão do processo inspetivo, com as entidades que o
impulsionaram.

As decisões do dirigente, relativamente ao relatório/informação do processo


inspetivo, podem ser:

 Concordância com as propostas efetuadas;

 Correção ou esclarecimento;

 Regresso ao inspetor do trabalho para acompanhamento;

 Envio do resultado final aos destinatários propostos, ou outros;

 Encerramento do processo e subsequente arquivamento.

i) Disponibilização do relatório/informação

Enquanto não for proferida decisão final em sede de ACT - decisão


administrativa - o relatório de intervenção inspetiva não pode ser divulgado.

Trata-se de uma forma de assegurar, simultaneamente, a procura da verdade


material, a proteção relativamente a influências externas indevidas e a
preservação da confidencialidade de eventuais fontes de denúncia e de segredos
de comércio e fabrico.

46
Muita da informação contida no relatório diz respeito a condições/factos
particulares de determinado local de trabalho, que foram recolhidos pelo
inspetor, considerando a sua pertinência e utilidade para a boa resolução de
situações concretas – circunstância que tende a limitar a possibilidade de
utilização da informação por outros.

Após decisão final e arquivamento do processo, o acesso ao relatório de


intervenção inspetiva far-se-á ao abrigo da lei de acesso aos documentos
administrativos29. Assim, este documento é de acesso livre e generalizado,
desde que expurgado de informação legalmente reservada. A referida lei,
mesmo nos documentos administrativos de acesso restrito, permite a sua
comunicação parcial sempre que seja possível expurgar a informação relativa à
matéria reservada30.

O expurgo de todos os elementos e informações reservadas, nos termos dos


normativos mencionados, deve ser efetuado de forma a garantir a total
confidencialidade dos interlocutores e pessoas visadas com a ação inspetiva, os
segredos de fabrico ou de comércio ou de processos de exploração, bem como
das fontes de denúncia31.

No final do processo inspetivo (ou durante a sua execução se tal se justificar)


deve ser prestada informação escrita nos seguintes termos:

À entidade empregadora e/ou outras partes interessadas sobre a


conclusão e arquivamento do processo inspetivo, referindo a adoção de
procedimentos coercivos se existirem;
Ao denunciante/queixoso32 nos termos do Despacho n.º 45/IGT/2011.

A informação a pessoas ou entidades, que não o empregador ou o seu


representante, sobre os procedimentos inspetivos a aplicar, não pode:

29
LADA - Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto.
30
Artigo 6.º da Lei n.º 46/2007.
31
Para evitar que a publicitação destes atos implique a inibição do poder inspetivo e problemas de confiança
pública nesta instituição.
32
Incluindo sindicatos (ação por solicitação/denúncia do sindicato, nos termos do artigo 18.º, n.os 2 e 3 do
Decreto-Lei n.º 102/2000: “as associações sindicais têm o direito de ser informadas, sempre que o requeiram,
do resultado da ação inspetiva”, sendo que “a informação prestada (…) deverá salvaguardar o segredo de
justiça e os direitos dos arguidos) e associações empresariais do setor, no caso de ações nacionais, se isso
servir a estratégia subjacente à ação.

47
- Ser transmitida em momento anterior àquele em que o empregador ou o
seu representante dela possa ter conhecimento (por exemplo, só deve ser
dada informação sobre a adoção de procedimento coercivo depois de o
infrator ser informado do mesmo);

- Causar prejuízo à autoridade ou à imparcialidade dos inspetores do


trabalho que devem estar salvaguardados de influências externas
inconvenientes (artigos 3.º, n.º 2 e 6.º da Convenção n.º 81 da OIT).

Concluído o processo inspetivo, deve ser devolvida a documentação original que


haja sido solicitada; só deve ficar arquivada no processo a documentação que
for necessária para efeitos de prova (nomeadamente a que constitui anexo dos
autos de notícia).

48
9.2.4.6. Vicissitudes da intervenção inspetiva

Prevenção de incidentes durante a inspeção

• Estudo do processo documental da empresa, incluindo o registo de incidentes no SI.

• Identificação de potenciais empresas de risco e obrigação de registo imediato de qualquer incidente.


• Âmbito ou natureza das questões suscitadas: inspeções noturnas, empresas isoladas e trabalho
totalmente não declarado determinam cuidados acrescidos.
• Face aos indícios recolhidos na preparação da visita inspetiva deve equacionar-se:
• Equipas, em regra, com um mínimo de 2 inspetores do trabalho;
• Utilização de telemóvel com o contacto do superior hierárquico e da autoridade policial mais
próxima do local da intervenção;
• Recolha de infomações junto de outros serviços públicos;
• Contactos com autoridade policial para agendar intervenção conjunta.

Atitude a adotar durante a inspeção

• Estacionar a viatura de forma a assegurar uma partida rápida.

• Ao chegar ao local, identificar-se de forma clara, apresentando o cartão de identificação.


• Perante dificuldades injustificadas de entrada, esclarecer o interlocutor sobre o seu poder para visitar
e inspecionar qualquer local de trabalho, a qualquer hora do dia ou da noite e sem necessidade de
aviso prévio.
• Mantendo-se a oposição, a empresa deve ser informada sobre as consequências penais que tal
comportamento implica.
• Persistindo a recusa, deve solicitar-se o apoio das autoridades policiais e contactar o superior hierár-
quico.
• Durante a visita, em situações aparentemente suspeitas, ter em mente a configuração das instalações
e não se deixar conduzir para locais isolados.
• Identificar indivíduos problemáticos ou conflituosos, de modo a lidar com eles de forma apropriada.
• Interromper a visita inspetiva e abandonar o local, se considerar que as circunstâncias em que se
encontra a realizar a sua missão (agressividade, linguagem ofensiva, insultos, violência, ameaças, etc.)
não permitirem efetuar a inspeção em condições normais e poderem conduzir à violação da sua inte-
gridade fisica ou moral.

Diligências a adotar no seguimento de visita inspetiva não concretizada

• Se adequado, recorrer de imediato às autoridades policiais, dando conhecimento ao superior


hierárquico e realizar nova visita inspetiva.
• Não sendo adequado, regressar ao serviço, elaborar relatório detalhado dirigido ao superior
hierárquico, com vista a definir os procedimentos para uma nova inspeção, sem prejuízo de outras
ações que venham a ser consideradas oportunas.

49
10. Procedimentos inspetivos

A ação inspetiva, em qualquer das suas modalidades, tem sempre como objetivo
a promoção da melhoria das condições do trabalho, em todas as suas vertentes.

No decurso de uma ação inspetiva, o inspetor do trabalho promove a melhoria


das condições do trabalho, adotando o procedimento inspetivo mais adequado à
situação concreta, de acordo com os critérios legais enquadradores de cada
procedimento e tendo por base o princípio da legalidade, imparcialidade,
proporcionalidade e igualdade no tratamento das diversas situações.

Advertência

Auto de
Suspensão
advertência

Trabalho digno
Trabalho seguro
Legalidade
Igualdade
Coerência
Participação Auto notícia
Consistência
Equidade
Eficácia
Prevenção
Dissuasão

Notificação
Notificação
apuramento
para tomada
quantias em
medidas
dívida
Inquérito
acidentes
trabalho e
doenças
profissionais

50
Todos os procedimentos inspetivos devem ser formalizados e assinados pelo
inspetor que os assume.

Os procedimentos de ação inspetiva não constituem um fim em si mesmos -


antes, devem ser entendidos como meras ferramentas ou instrumentos cuja
adoção se destina exclusivamente a assegurar a consecução da função de
inspeção do trabalho em cada local de trabalho.

Devem, pois, ser entendidos como meios através dos quais o inspetor do
trabalho procura garantir a melhoria das condições do trabalho nos locais de
trabalho objeto da sua ação.

Os procedimentos de ação inspetiva suscetíveis de adoção por parte dos


inspetores do trabalho incluem:

 Recomendação;

 Advertência;

 Autos:

Auto de advertência;

Auto de notícia.

 Notificações:

Notificações com prazo:

Notificação para apresentação de documentos;

Notificação para apuramento de quantias em dívida aos


trabalhadores;

Notificação para apuramento de quantias em dívida à


segurança social;

Notificação para tomada de medidas de segurança e saúde


no trabalho.

Notificações imediatamente executórias

Notificação para fazer cessar de imediato a atividade de


menor;

51
Notificação para suspensão imediata de trabalhos;

Notificação de autorização para recomeço de trabalhos.

 Participações:

Participação;

Participação a entidade externa:

Participação ao Ministério Público;

Participação-crime;

Participação a outras entidades.

 Procedimentos específicos, respeitantes à utilização indevida do


contrato de prestação de serviços em relações de trabalho
subordinado:

Auto por utilização indevida do contrato de prestação de


serviços;

Notificação por utilização indevida do contrato de prestação de


serviços;

Participação por utilização indevida do contrato de prestação de


serviços.

 Inquéritos:

Inquérito de acidente de trabalho;

Inquérito de doença profissional.

o Recomendação

A recomendação é um procedimento de natureza não coerciva, utilizado


no âmbito da atividade de controlo inspetivo, suportado em referenciais
técnicos reconhecidos, relativamente a factualidades omissas - não
previstas especificamente na lei ou não tipificadas como contraordenação
-, traduzindo uma atividade de conselho sobre a melhor forma de lhes dar
cumprimento (artigos 3.º, n.º 1, alínea b) e 17.º, n.º 2 da Convenção n.º

52
81 da OIT, artigos 6.º, n.º 1, alínea b) e 22.º, n.º 2 da Convenção n.º 129
da OIT e artigo 5.º, n.º 1 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho).

o Advertência

A advertência encontra-se prevista no artigo 17.º, n.º 2 da Convenção n.º


81 da OIT e no artigo 22.º, n.º 2 da Convenção n.º 129 da OIT, nos quais
é consagrada a possibilidade do inspetor do trabalho fazer advertências ou
dar conselhos em lugar de intentar ou recomendar quaisquer
procedimentos.

A adoção deste procedimento deve ter em consideração o comportamento


do infrator e a eficácia esperada quanto aos resultados e prioridades da
ação inspetiva, podendo ser adotado sempre que:

- a contraordenação consista em irregularidade sanável da qual não


resulte já consolidado, de forma irrecuperável, um prejuízo sério
para os trabalhadores ou para terceiros, para a administração do
trabalho ou para a segurança social;

- não existam indícios que permitam inferir da existência de conduta


dolosa no incumprimento da lei;

- fundar-se num juízo de prognose sobre a adesão ao cumprimento


da lei por parte da entidade inspecionada33 .

Caso haja incumprimento das medidas advertidas devem ser adotados


procedimentos coercivos.

o Auto de Advertência

O auto de advertência é aplicável relativamente a infrações classificadas


como leves e das quais ainda não tenha resultado prejuízo grave para os
trabalhadores, para a administração do trabalho ou para a segurança

33
Ofício-circular n.º 20/DirACT/2013

53
social (artigo 10.º, n.º 1, alínea d) do regime processual das
contraordenações laborais e da segurança social34).

Deve conter a indicação da infração verificada, as medidas recomendadas


ao infrator e o prazo para o seu cumprimento.

Caso não sejam cumpridas as medidas recomendadas devem ser


adotados procedimentos coercivos.

No caso de levantamento de auto de notícia por desrespeito das medidas


recomendadas em auto de advertência, a coima pode ser elevada até ao
valor mínimo do grau que corresponda à infração praticada com dolo.

A medida do incumprimento das recomendações constantes de auto de


advertência é atendível na determinação da medida da coima.

o Notificação para apresentação de documentos

No exercício da sua atividade o inspetor pode requisitar com efeitos


imediatos ou notificar para apresentação nos serviços da ACT, para
examinar e copiar, documentos e outros registos que interessem para o
esclarecimento de factos relevantes no domínio das relações de trabalho e
da segurança e saúde no trabalho (cf. artigo 11.º, n.º 1, alínea e) do
Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho35).

A notificação para apresentação de documentos é um procedimento de


apoio à investigação, devendo o número de documentos solicitados
restringir-se ao estritamente necessário e que não é possível obter
através de outra forma, nomeadamente, mediante documentação já
entregue nos serviços da ACT no âmbito de outros processos inspetivos,
mediante informação prestada através de comunicações obrigatórias aos
serviços da administração pública e a que a ACT tenha possibilidade de
aceder36.

34
Lei n.º 107/2009, de 14 de setembro.
35
Decreto-Lei n.º 102/2000.
36
Ofício-circular n.º 26/DirACT/2013.

54
O incumprimento da notificação para apresentação de documentos, para
além de se constituir como uma contraordenação leve, prevista no artigo
552.º, n.º 2 do Código do Trabalho e no artigo 13.º, n.º 2 do Estatuto da
Inspeção-Geral do Trabalho, é também suscetível de configurar a prática
de um crime de desobediência qualificada, nos termos previstos,
designadamente, no artigo 547.º, alíneas a) e b) do Código do Trabalho e
no artigo 348.º, n.º 2 do Código Penal.

O incumprimento da notificação para apresentação de documentos traduz-


-se, em regra, no levantamento de um auto de notícia pela prática da
correspondente contraordenação leve e, concomitantemente, no envio de
participação ao Ministério Público, acompanhada do respetivo auto de
notícia37 e da notificação para apresentação de documentos em causa.

o Notificação para apuramento de quantias em dívida aos


trabalhadores e/ou à segurança social

Trata-se de um procedimento de ação inspetiva que visa assegurar o


pagamento de quantias devidas a trabalhadores ou à segurança social
(artigo 7.º, n.os 4, 5 e 6 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho38).

O apuramento de quantias em dívida é obrigatório quando estejam em


causa créditos dos trabalhadores, podendo também ser efetuado
relativamente a créditos da segurança social (artigo 7.º, n.º 5 do Estatuto
da Inspeção-Geral do Trabalho), devendo, neste caso, ser a situação
comunicada ao ISS.

No entanto, tratando-se de créditos à segurança social relativos a falso


trabalho independente, falta de comunicação obrigatória da admissão de
trabalhadores à segurança social ou trabalho não declarado, tal

37
Nos termos do disposto no artigo 38.º, n.º 1 do regime geral das contraordenações (ilícito de mera
ordenação social), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro, e com últimas alterações
introduzidas pela Lei n.º 109/2001, de 24 de Dezembro.
38
Decreto-Lei n.º 102/2000.

55
apuramento é obrigatório (artigo 7.º n.º 6 do Estatuto da Inspeção-Geral
do Trabalho).

O apuramento de quantias em dívida deve atender ao prazo de prescrição


da infração que estiver em causa, indicar as disposições legais ou
convencionais infringidas, o(s) trabalhador(es) concretamente afetado(s),
o período a que respeita, e sendo caso disso, as medidas recomendadas
ao infrator e o respetivo prazo (notificação para pagamento de quantias
em dívida).

Em caso de incumprimento pelo empregador da notificação referida, o


apuramento realizado pelo inspetor constitui título executivo (artigo 16.º,
n.os 4 e 5 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho).

o Notificação para tomada de medidas de segurança e saúde no


trabalho

Constitui o procedimento inspetivo adequado à determinação das


modificações necessárias a assegurar, nos postos de trabalho, o
cumprimento das disposições relativas à segurança e saúde dos
trabalhadores, dentro de um prazo fixado pelo inspetor (artigo 13.º, n.º 2,
alínea a) da Convenção n.º 81 da OIT e artigo 10.º, n.º 1, alínea c) do
Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho).

Na notificação para tomada de medidas devem constar, entre outras, as


seguintes indicações: número de trabalhadores afetados, descrição das
situações irregulares verificadas, medidas de prevenção e proteção da
segurança e saúde dos trabalhadores a implementar e o respetivo prazo
para cumprimento (artigo 10.º, n.º 4 da Lei n.º 107/2009).

O inspetor deve, sempre que possível, referir quais as situações que darão
origem ao levantamento de auto de notícia.

56
o Notificação para a suspensão imediata de trabalhos

A notificação para suspensão imediata de trabalhos, destina-se, no


essencial, a fazer cessar, de imediato, os trabalhos em curso que
representem um perigo grave ou probabilidade séria da verificação de
lesão da vida, integridade física ou saúde dos trabalhadores.

Tem sustentação jurídica no artigo 10.º, n.º 1, alínea d) do Estatuto da


Inspeção-Geral do Trabalho, no artigo 10.º, n.º 1, alínea c) da Lei n.º
107/2009, no artigo 13.º, n.º 2, alínea c) da Convenção n.º 81 da OIT e
no artigo 18.º, n.º 2, alínea b) da Convenção n.º 129 da OIT.

Da notificação para a suspensão imediata de trabalhos deve constar a


identificação:

o do empregador, do local de trabalho e da sede;

o do número de identificação fiscal do empregador;

o da data e hora da adoção do procedimento inspetivo;

o das situações verificadas causadoras da probabilidade séria de lesão


da vida, integridade física ou saúde dos trabalhadores;

o dos trabalhos imediatamente suspensos.

A notificação de suspensão imediata de trabalhos deve ser assinada pelo


notificado que deve também indicar a qualidade em que assina e o
número de identificação civil.

O infrator deve ser advertido que o incumprimento da notificação é


suscetível de configurar a prática de um crime de desobediência, nos
termos do artigo 348.º, n.º 1, do Código Penal.

Tendo em conta a gravidade dos riscos em termos de probabilidade de


ocorrência e severidade dos danos a que estiveram sujeitos os
trabalhadores, as infrações subjacentes a uma notificação para suspensão
imediata de trabalhos devem ser objeto de levantamento do competente
auto de notícia.

57
o Notificação de autorização para recomeço de trabalhos
Os trabalhos que tenham sido suspensos por via de uma notificação para
suspensão imediata de trabalhos só podem ser retomados com
autorização expressa do inspetor do trabalho, nos termos previstos no
artigo 10.º, n.º 2 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho.

Tal autorização é formalizada através da adoção, pelo inspetor do


trabalho, de uma notificação de autorização para recomeço de trabalhos,
após analisadas e avaliadas favoravelmente as medidas de prevenção e
proteção propostas pelo infrator - constantes do requerimento por este
apresentado à ACT a requerer a autorização para a retoma dos trabalhos -
e após nova visita inspetiva para comprovar essas medidas.

o Notificação para fazer cessar de imediato a atividade de menor

O inspetor do trabalho deve notificar o empregador para fazer cessar de


imediato a atividade de menor, quando verificar:

1. A prestação de trabalho por parte de menor que não tenha


completado a idade mínima de admissão (16 anos de idade), não
tenha concluído a escolaridade obrigatória e não disponha de
capacidades físicas e psíquicas adequadas ao posto de trabalho39.

2. A prestação de atividade por menor, em trabalhos que, pela sua


natureza ou pelas condições em que são prestados, sejam
prejudiciais ao seu desenvolvimento físico, psíquico e moral e, como
tal, sejam proibidos ou condicionados40, nomeadamente no que
concerne às atividades, agentes, processos e condições de trabalho
proibidos ou condicionados a menor, previstos nos artigos 61.º a

39
Artigo 68.º n.º 1 e artigo 83.º do Código do Trabalho.
40
Artigo 72.º n.º 2 e no artigo 83.º do Código do Trabalho.

58
72.º do regime jurídico da promoção da segurança e saúde no
trabalho41.

Importa notar que a prática dos factos acima descritos, para além de
constituir contraordenação muito grave (no caso do exercício, por menor,
de qualquer das atividades proibidas previstas nos artigos 61.º a 66.º do
referido regime jurídico, nos termos do artigo 67.º do mesmo regime), é
também suscetível de configurar a prática do crime de utilização indevida
de trabalho de menor (artigo 82.º do Código do Trabalho).

Neste contexto, quando verificados os factos acima referidos, e sem


prejuízo da elaboração e entrega ao empregador da notificação para fazer
cessar de imediato a atividade de menor, o inspetor do trabalho deverá
também levantar os competentes autos de notícia, elaborar e remeter ao
Ministério Público a competente participação-crime (juntamente com os
autos de notícia referentes às contraordenações cometidas42), ao mesmo
tempo que deverá também remeter competente participação à Comissão
de Proteção de Crianças e Jovens do município no qual ocorreu a referida
prática.

Da notificação para fazer cessar de imediato a atividade de menor deve


constar, designadamente, a identificação do empregador e do respetivo
representante legal, data, hora e local da verificação da infração,
identificação completa do menor e respetiva escolaridade, descrição da
atividade concreta que se encontrava a realizar o menor, quadro
normativo sustentador da notificação e cominação de que se o
empregador não fizer cessar de imediato a atividade do menor, incorre no
crime de desobediência qualificada (conforme disposto no artigo 83.º do
Código do Trabalho e no artigo 348.º n.º 2 do Código Penal).

41
Aprovado pela Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, e posteriormente alterado pela Lei n.º 42/2012, de 28
de agosto, e pela Lei n.º 3/2014, de 28 de janeiro.
42
Tendo sobretudo em conta o que a propósito do concurso de crime e contraordenação dispõe o artigo 38.º
n.º 1 do regime geral das contraordenações (ilícito de mera ordenação social), aprovado pelo Decreto-Lei n.º
433/82 na redação em vigor.

59
o Auto de notícia

O auto de notícia é um procedimento coercivo que, também ele, visa


assegurar o cumprimento da lei no sentido de promover a melhoria das
condições do trabalho.

Sustentado juridicamente no artigo 17.º, n.º 1 da Convenção n.º 81 da


OIT, no artigo 22.º, n.º 1 da Convenção n.º 129 da OIT, nos artigos 6.º,
n.º 1 e 7.º, n.º 1 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho e nos artigos
10.º, n.º 1, alínea d) e 13.º, n.os 1 e 3 da Lei n.º 107/2009, o auto de
notícia deve ser levantado pelo inspetor do trabalho quando, no exercício
das suas funções, verificar ou comprovar, pessoal e diretamente, ainda
que por forma não imediata, qualquer infração a normas integradas no
âmbito de competência da ACT punível com coima.

É essencial que o auto contenha todos os factos que permitam


caracterizar, como contraordenação, o comportamento praticado ou
omitido.

Do auto de notícia deve constar, designadamente:

o a data e hora do levantamento do auto;

o o nome e a categoria do autuante;

o a identificação e a residência do infrator;

o a sede da pessoa coletiva e a identificação e residência de todos os


respetivos gerentes, administradores ou diretores (quando o
responsável pela contraordenação for uma pessoa coletiva ou
equiparada);

o a identificação e a residência do subcontratante e do contratante


principal (no caso de subcontrato);

o as disposições legais infringidas;

o a moldura sancionatória aplicável;

60
o os factos que constituem a contraordenação e que foram verificados
pelo inspetor do trabalho, incluindo os referentes à imputação
subjetiva;

o a data, a hora, o local e circunstâncias em que foram praticados;

o os elementos de prova disponíveis.

O levantamento do auto de notícia deve ser efetuado, tanto quanto possível,


em período de tempo próximo da data da decisão de agir coercivamente.

o Participação

Procedimento adotado para a prática de infrações que constituem


contraordenações laborais mas que, não obstante se inscreverem no
âmbito das atribuições e competências do inspetor do trabalho, este não
verificou nem comprovou pessoalmente a sua prática (artigos 6.º, n.º 1 e
8.º, n.º 1 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho e artigos 10.º, n.º 1,
alínea d) e 13.º, n.os 1 e 4 do regime processual das contraordenações
laborais e da segurança social43).

Deve ser instruído com os seguintes elementos 44: provas de que


disponha; identificação e residência de, pelo menos, duas testemunhas e
o máximo de cinco, independentemente do número de contraordenações
em causa; nome e categoria do participante; disposições legais
infringidas; factos que constituem a contraordenação (incluindo os
respeitantes à imputação subjetiva); dia, hora, local e circunstâncias em
que foram cometidos; identificação e residência do arguido (se for uma
pessoa coletiva, sede, identificação e residência dos respetivos gerentes,
administradores ou diretores e, no caso de subcontratado, identificação e
residência do subcontratante e do contratante principal) e de eventuais
responsáveis solidários e em comparticipação.

43
Lei n.º 107/2009.
44
Artigo 8.º, n.º 1 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho e artigos 13.º, n.º 4 e 15.º, n.os 1 a 3 da Lei n.º
107/2009.

61
o Participação a outras entidades

Comunicação através da qual se dá informação a outras entidades de


situações irregulares relacionadas com as condições do trabalho que se
enquadrem no âmbito das suas competências (artigo 10.º n.º 1 alínea i)
do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho45).

Nesta participação devem constar, nomeadamente, os seguintes


elementos: norma legal ao abrigo da qual é efetuada; nome e categoria
do participante; factos que constituem a infração e normas legais
violadas; dia, hora, local e circunstâncias em que a infração foi praticada;
elemento subjetivo, suscetível de permitir aquilatar o grau de culpa ou
dolo do agente; a identificação dos agentes (nome/denominação social,
número de identificação fiscal (NIF), morada/sede social, representantes
legais, etc.); e, bem assim, as provas de que o participante disponha e a
identificação e residência de eventuais testemunhas.

o Participação-crime (Denúncia obrigatória)

Nos termos dos artigos 241.º e 242.º, n.º 1, alínea b) do Código de


Processo Penal, é obrigatória a denúncia ao Ministério Público dos factos
suscetíveis de configurar algum crime, previsto e punido no Código Penal
ou outra legislação, nomeadamente no Código do Trabalho46, quando o
inspetor deles tomar conhecimento no exercício das suas funções ou por
causa delas.

Desta participação devem constar, designadamente, as seguintes


indicações: norma legal ao abrigo da qual é efetuada; nome e categoria
do participante; factos que constituem o crime; normas legais violadas;
dia, hora, local e circunstâncias em que o crime foi cometido; elemento
subjetivo (suscetível de indiciar ou comprovar a consciência do agente
relativamente à ilicitude do ato e à censurabilidade da sua prática, bem
como a sua intenção de realizar o facto, a previsão do facto como

45
Decreto-Lei n.º 102/2000.
46
A título exemplificativo, a utilização indevida de trabalho de menor (artigo 82.º do Código do Trabalho).

62
consequência necessária da sua conduta, ou a conformação da realização
do facto como consequência possível da sua conduta); e tudo o mais que
tiver sido apurado acerca da identificação dos agentes
(nome/denominação social, NIF, morada/sede social, representantes
legais, etc.) e dos ofendidos, bem como os meios de prova conhecidos,
nomeadamente das testemunhas que puderem depor sobre os factos47.

Desta participação devem constar, entre outros, a identificação do


normativo legal ao abrigo do qual é efetuada a participação, do agente do
crime, sede e número de identificação fiscal (se possível), dos factos
passíveis de constituírem responsabilidade criminal e local, data e hora
onde foram verificados, dos elementos de prova conhecidos,
nomeadamente das testemunhas que puderem depor sobre os factos e
dos normativos legais infringidos.

o Participação-crime por desobediência

São comunicadas ao Ministério Público, para efeitos de instauração de


procedimento criminal, as seguintes situações:

Desobediência à notificação de suspensão imediata de trabalhos


(artigo 348.º do Código Penal conjugado com artigo 10.º, n.º 1,
alínea d) do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho48, e artigo
10.º, n.º 1, alínea c) do regime processual das contraordenações
laborais e da segurança social49);

Desobediência à notificação para cessação imediata do trabalho de


menor com idade, habilitação ou capacidade física e psíquica
inferior à legal ou que realize trabalhos proibidos (artigo 348.º do
Código Penal conjugado com o artigo 83.º do Código do Trabalho);

Falta de apresentação deliberada à ACT dos documentos e outros


registos por esta requisitados que sejam essenciais para o

47
Artigos 13.º e 14.º do Código Penal e artigo 243.º do Código de Processo Penal.
48
Decreto-Lei n.º 102/2000.
49
Lei n.º 107/2009.

63
esclarecimento de quaisquer situações laborais e/ou que sejam
ocultados, destruídos ou danificados (artigo 348.º do Código Penal
conjugado com artigo 547.º do Código do Trabalho).

Da participação-crime por desobediência devem constar os mesmos


elementos que em qualquer outra participação-crime.

o Procedimentos específicos no âmbito da utilização indevida do


contrato de prestação de serviços em relações de trabalho
subordinado

No quadro do combate à utilização indevida do contrato de prestação de


serviços em relações de trabalho subordinado50 foi criado um instrumento
que permite à ACT desencadear um processo com vista ao
reconhecimento pelo tribunal da situação do trabalhador e consequente
alteração da sua qualificação jurídica.

Para tal foi definido o conjunto de procedimentos e circuitos infra descritos


por forma a permitir a operacionalização deste novo regime e a
prossecução eficaz do objetivo pretendido.

Auto por utilização indevida do contrato de prestação de


serviços

Procedimento previsto no artigo 15.º-A do regime processual das


contraordenações laborais e da segurança social51 a utilizar
quando o inspetor considere estarem reunidas as condições para
adoção de procedimento coercivo relativamente a uma situação de
prestação de atividade, por forma aparentemente autónoma, em
condições caraterísticas de contrato de trabalho.

50
Lei n.º 63/2013, de 27 de agosto.
51
Aditado à Lei n.º 107/2009 pelo artigo 4.º da Lei n.º 63/2013, de 27 de agosto.

64
Do auto devem constar os factos verificados que indiciem a
existência de uma relação de trabalho, dando particular
relevo/ênfase ao elemento da subordinação jurídica 52.

Notificação para regularização da situação do trabalhador


identificado a prestar atividade por forma aparentemente
autónoma

Notificação da entidade beneficiária da atividade para, no prazo de


10 dias, demonstrar a regularização da situação do trabalhador,
apresentando documentos que provem o reconhecimento da
existência de contrato de trabalho por tempo indeterminado desde
a data do início da relação laboral ou, se pronunciar dizendo o que
tiver por conveniente.

Participação ao MP por utilização indevida do contrato de


prestação de serviços

Esta participação permite ao Ministério Público dar início ao


processo de natureza urgente, relativo à ação de reconhecimento
da existência de contrato de trabalho (artigo 26.º, n.º 6 do Código
de Processo do Trabalho.

A participação deve remeter para o auto elaborado pelo inspetor,


que assume o caráter de participação e deve ser enviada ao
Ministério Público se a situação do trabalhador em causa não for
devidamente regularizada pela entidade beneficiária da atividade
dentro do prazo concedido53.

Diferentemente de outros procedimentos inspetivos, os previstos


no artigo 15.º-A da Lei n.º 107/2009, têm um caráter de dupla
instrumentalidade uma vez que têm a função de desencadear uma
ação de reconhecimento do contrato de trabalho54.

52
Ofício-circular n.º 28/DirACT/2013.
53
Idem.
54
Ofício-circular n.º 28/DirACT/2013

65
o Inquérito de acidente de trabalho ou de doença profissional

O inquérito de acidente de trabalho ou de doença profissional é um


instrumento de prevenção por excelência.

O inquérito consubstancia a investigação levada a cabo sobre as


circunstâncias em que ocorrem acidentes de trabalho ou doenças
profissionais com vista ao desenvolvimento de medidas de prevenção
adequadas nos locais de trabalho.

Estes inquéritos são efetuados:

Nos casos determinados legalmente (artigo 10.º, n.º 1, alínea e) do


Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho55);
A pedido do Ministério Público junto dos Tribunais, caso em que têm
como característica serem urgentes e sumários.

As regras e metodologias a adotar na ação inspetiva, no domínio dos


acidentes de trabalho ou das doenças profissionais, constam de
orientações internas da ACT56.

10.1. Outros apoios à atividade inspetiva

O inspetor do trabalho, quando necessário, propõe ao dirigente o apoio de


outras entidades, existindo o dever recíproco de estas prestarem a colaboração
que lhes for solicitada, dentro dos limites legais (artigo 17.º do Estatuto da
Inspeção-Geral do Trabalho), designadamente no que concerne:

Ao apoio de peritos externos – p. ex., em caso de acidente, ou outras


ocorrências potenciadoras de acidente ou doença profissional;

À colaboração das autoridades policiais (PSP e GNR) no sentido de


assegurar a realização das ações inspetivas em condições de segurança
pessoal, nomeadamente quando existam circunstâncias indiciadoras de
ambiente hostil, bem como, sempre que a natureza das ações inspetivas
a levar a cabo assim o exijam;
55
Decreto-Lei n.º 102/2000.
56
Ofício-circular n.º 8/ACT/11.

66
À colaboração de outros serviços da administração pública com funções
inspetivas, para participação em ações inspetivas conjuntas, em razão da
transversalidade das matérias em análise (caso da Segurança Social e da
Inspeção Tributária, no caso do trabalho não declarado; do SEF, no caso
de estrangeiros extra comunitários; etc.);

Ao apoio de outros serviços da administração pública, no fornecimento de


informação essencial à análise e avaliação das relações de trabalho, com
os limites previstos na lei;

À colaboração das entidades policiais na disponibilização de relatórios de


ocorrências e registos fotográficos;

Ao apoio de outras entidades, públicas ou privadas, na elaboração e


disponibilização de relatórios de peritagem de máquinas e equipamentos
de trabalho;

Ao apoio do Instituto de Seguros de Portugal e das companhias de


seguros, no fornecimento de certidões, declarações e informações
relevantes, respeitantes a seguros de acidentes de trabalho, respetivos
beneficiários, segurados e coberturas;

Ao apoio do Instituto de Medicina Legal, médicos e hospitais, no


fornecimento dos relatórios das autópsias realizadas.

Relativamente ao apoio das autoridades policiais (PSP ou GNR), para garantir a


realização da intervenção inspetiva em condições de segurança pessoal, o
inspetor do trabalho pode solicitar essa colaboração diretamente àquelas
entidades, quando existam razões imediatas e imprevisíveis que assim o
justifiquem.

67
11. Gestão por processos – Fluxogramas

As exigências de qualidade, eficácia e eficiência que hoje são colocadas à


Administração Pública determinam o recurso a instrumentos de gestão que
possibilitem garantir a prossecução das funções de inspeção do trabalho.

A harmonização da atividade inspetiva é essencial para assegurar uma resposta


coerente, consistente e adequada, assente nos princípios de legalidade,
proporcionalidade e igualdade.

Neste contexto, foram mapeados, através do recurso a fluxogramas, alguns dos


processos-chave de aplicação transversal à multiplicidade de atividades
inerentes ao desenvolvimento das funções do inspetor do trabalho.

Identificou-se, relativamente a cada um, o respetivo enquadramento legal, os


procedimentos tipo e os recursos disponibilizados aos inspetores de trabalho, de
forma a promover o acesso à informação e a simplificar o trabalho dos
inspetores, confrontados diariamente com uma crescente multiplicidade e
complexidade de matérias.

Para o efeito, foram tidos em conta os objetivos estratégicos da ACT, a missão,


a visão, a cultura institucional, as práticas e rotinas habitualmente utilizadas, a
envolvente externa e o que é considerado crítico para o êxito da atividade, bem
como a diversidade de serviços a prestar pelo inspetor do trabalho.

Estes fluxogramas retratam, naturalmente, situações-padrão, constituindo


instrumentos de apoio à atividade dos inspetores do trabalho.

Neles encontram-se elencados procedimentos especificamente previstos na lei


para um conjunto alargado de situações, identificadas como as mais frequentes
na atividade inspetiva, não esgotando, naturalmente, todas as situações
possíveis.

Os fluxogramas referidos, que abaixo se enumeram, encontram-se


detalhadamente descritos em anexo, e são alterados sempre que tal se
justifique:

68
Anexo 1 Processo inspetivo tipo
Anexo 2 Trabalho totalmente não declarado
Anexo 3 Trabalho dissimulado - Falso estágio, falsa formação e falso
voluntariado
Anexo 4.1 Trabalho dissimulado – Utilização indevida do contrato de prestação de
serviços (fase investigação)
Anexo 4.2 Trabalho dissimulado – Utilização indevida do contrato de prestação de
serviços (fase de instrução)
Anexo 5 Falta de pagamento pontual da retribuição
Anexo 6 Redução/suspensão do contrato de trabalho por facto respeitante a
trabalhador / Situação de crise empresarial / Encerramento e
diminuição temporária de atividade
Anexo 7 Despedimento coletivo
Anexo 8 Extinção do posto de trabalho
Anexo 9 Greve
Anexo 10 Proteção dos direitos dos representantes dos trabalhadores
Anexo 11 Processo inspetivo tipo (SST)
Anexo 12 Segurança de máquinas e equipamentos de trabalho
Anexo 13 Segurança e saúde no trabalho em estaleiros temporários ou móveis
Anexo 14 Transportes rodoviários
Anexo 15 Inquérito de acidentes de trabalho
Anexo 16 Inquérito de doenças profissionais
Anexo 17 Amianto – notificação e pedido de autorização prévia57
Anexo 18 Licenciamento industrial
Anexo 19 Destacamento de trabalhadores
Anexo 20 Declaração de situação de desemprego - Modelo 5044
Anexo 21 Fundo de garantia salarial
Anexo 22 Fundo de compensação do trabalho
Anexo 23 Requisição/Notificação para apresentação de documentos
Anexo 24 Notificação para apuramento de quantias em dívida aos trabalhadores
e/ou à segurança social
Anexo 25 Notificação para suspensão imediata de trabalhos / Notificação de
autorização para o recomeço de trabalhos
Anexo 26 Utilização indevida de trabalho de menor

57
Contém uma parte de processo administrativo.

69
ANEXOS

70

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