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GUAVIRA
LETRAS
Programa de Pós-Graduação em Letras
UFMS/Campus de Três Lagoas
Reitora
Célia Maria da Silva Oliveira
Vice-Reitor
João Ricardo Filgueiras Tognini
Pró-Reitor de Pós-graduação
Dercir Pedro de Oliveira
Editores
Rauer Ribeiro Rodrigues (Chefe)
Taísa Peres de Oliveira (Adjunta)
Vitória Regina Spanghero Ferreira (Secretária)
Claudionor Messias da Silva (Técnico)
Editoração e Diagramação
Rauer Ribeiro Rodrigues
Semestral.
Descrição baseada no: v. 11 (ago./dez/ 2010)
Tema especial: Literatura / Crise
Organizadores: Kelcilene Grácia Rodrigues e Roberto Acízelo de Souza
Editor: Rauer Ribeiro Rodrigues
ISSN 1980-1858
Conselho Editorial
Eneida Maria de Souza (UFMG)
João Luís Cardoso Tápias Ceccantini (UNESP/Assis)
José Luiz Fiorin (USP)
Paulo S. Nolasco dos Santos (UFGD)
Maria do Rosário Valencise Gregolin (UNESP/Araraquara)
Maria José Faria Coracini (UNICAMP)
Márcia Teixeira Nogueira (UFCE)
Maria Beatriz Nascimento Decat (UFMG)
Rita Maria Silva Marnoto (Universidade de Coimbra – Portugal)
Roberto Leiser Baronas (UNEMAT)
Sheila Dias Maciel (UFMT)
Silvia Inês Coneglian Carrilho de Vasconcelos (UEM)
Silvane Aparecida de Freitas Martins (UEMS)
Vera Lúcia de Oliveira (Lecce – Itália)
Vera Teixeira de Aguiar (PUC/Porto Alegre)
Conselho Consultivo
Orgs.:
Kelcilene Grácia Rodrigues (UFMS)
Roberto Acízelo de Souza (UERJ / CNPq)
APRESENTAÇÃO
As muitas faces da crise (?) da literatura 8
Rauer Ribeiro Rodrigues, Editor – UFMS
ENSAIOS
Manoel de Barros e a Crise Europeia 19
Britta Morisse Pimentel – Alemanha
O Lugar da Literatura 43
Miguel Sanches Neto – UEPG
ENTREVISTA
Sobre o Romantismo: Entrevista com Karin Volobuef 217
João A. Campato Jr. – UNIESP
ARTIGOS
A catástrofe em “Não passarás o Jordão”, de Luiz Fernando Emediato 225
Tânia Sarmento-Pantoja – UFPA
Tal pai, tal filho? Considerações sobre a constituição do sujeito masculino
no romance Limite branco, de Caio Fernando Abreu 240
Gracia Regina Gonçalves – UFV
Juan Filipe Stacul – UFV
O que tem de ser tem de ser: a força da prosa e da poesia como
transgressoras do destino no Ano da morte de Ricardo Reis
260
Augusto Rodrigues Silva Junior – UnB
Ana Clara Magalhães Medeiros – UnB
RESENHA
RESENDE, Viviane de Melo; RAMALHO, Viviane. Análise de
Discurso Crítica. São Paulo: Contexto, 2006. 365
Wellington Costa – IFCE
A passante solitária de Algum lugar 370
Aline Menezes – PG-UnB
MEMÓRIAS
Da criação do Mestrado em Letras em Três Lagoas à
criação da Guavira Letras 376
José Batista de Sales – UFMS
Notícia:
A poesia de Manoel de Barros já foi traduzida, entre outras línguas,
para o espanhol, o francês e recentemente para o inglês.
Problema:
Por que é preciso traduzi-la para a língua alemã?
Proposição:
A poesia de Manoel de Barros, poeta brasileiro, propicia condições
para o intelectual europeu superar sua crise de insegurança e
desorientação.
I.
A contribuição do intelectual na formação da união cultural europeia
II.
Uma crise complexa na Europa
III.
Espelho da crise nos trabalhos do intelectual mais rebelde e insurreto
III.1. Aernout Mik, artista de vídeo, Holanda
III.2. Kathrin Röggla, escritora, Áustria
III.3. Beatrice Götz, professora de ginástica e dança,
Universidade de Basel
III.4. Patrick Gusset, performer, música e teatro, Suíça/ Jamaica
III.5. Frank Castorf, diretor de teatro, Alemanha
IV.
Freedom Rebels, Jeunes de Balieus, Wutbürger e o Consultório
Filosófico de Viena
V.
O intelectual reconhecido revela sua resposta
V.1. Jean Luc Godard, cineasta francês
1
Tradutora do poeta Manoel de Barros para o alemão.
VI.
Bálsamo poético de Manoel de Barros
VI.1 Atenção pura e extensiva, às vezes de câmera lenta
VI.2 Percepção sonora ornitorrincósa e fitosociológica
VI.3 Olhadela descaroçadora com fantasias fanerozóicas
VI.4 Poesia numa linguagem minuciosa em altiloquência
corpórea
VI.5.Zombaria de potência perfeccionista, identidade pulha no
terreno poético dos Direitos Humanos
I.
A contribuição do intelectual na formação da união cultural europeia
II.
Uma crise complexa na Europa
“Eu sempre quis mais Europa”, diz o escritor e cientista político Alfred
Grosser (4). “Uma Europa unida não é uma utopia. É uma necessidade,
O problema é que ninguém quer reconhecer esta necessidade”. Com a
crise econômica que ocorre atualmente na Europa, deveria ficar claro
para todos, incluindo os políticos, que ela é devida à falta da coordenação
econômica adequada, a partir de um sistema de controle central do setor
financeiro dos estados membros por uma autoridade centralizada. Grosser
repete que é preciso uma Europa integrada com poderes centrais,
enviando uma mensagem otimista aos jovens de hoje com respeito à
solidariedade europeia: “Ela é menor do que desejamos, mas ela é maior
do que esperávamos.”
III.
Espelho da crise nos trabalhos do intelectual mais rebelde e insurreto
V.
Intelectuais consagrados na Europa tomam posição
Seu trabalho atual, que, como ele diz, vai ser seu último filme, dedica-se
a linguagem universal tendo o título Adieu au Langage. Enquanto no
Film Socialismo as pessoas não se entendam falando diversas línguas,
neste filme os protagonistas principais, marido e mulher, não se
comunicam: apesar de falarem o mesmo idioma, eles percebem que não
falam mais a mesma língua. Ajuda nesta situação vem do próprio
cachorro do Godard, que será a estrela do filme, resolvendo o problema
interferindo e falando na linguagem canina. Godard não quer revelar
detalhes do filme, mas admite que não sabe ainda como fazer o filme com
o cão falante, que ele não permite que seja adestrado. Sem dúvida, a
fantasia dele ou a do cachorro vai oferecer a resposta. Caso que não, e
resalvando que a poesia de Manoel de Barros ainda não lhe foi
apresentada, Godard poderia cogitar abrir a pagina 588 do livro La
coscienza di Zeno do escritor Italo Svevo (19), que, quando escreveu este
livro em 1925, já sabendo que o ser humano não seria capaz de respeitar a
natureza, advertiu: ”O ser humano colocou-se no lugar das árvores e dos
animais; poluindo o ar e obstruindo o espaço aberto. Isso poderia piorar
ainda. A besta triste e incansável poderia descobrir outros meios e utilizá-
los...” Aguardaremos ansiosamente a resposta do filme de Godard
querendo saber se o adeus à língua será ele também um Adieu ao foi 5 ou
talvez seja um meio indispensável na conversa com o cachorro.
Dürr chega a ponto de dizer, que não há empatia nem altruísmo, quer
dizer, sentimentos de pena em relação ao outro que sofre, porque, sendo
todos ligados um ao outro, sua dor é minha dor. Não há sentimentalidade
mas uma sensação ontológica de unidade, que dá força na vida. Quem
abandona este ajuste inicial, se sente perdido, enfraquecido, entregue às
crises, sendo destituído do equilíbrio natural.
Com a literatura, ele se preocupou bem mais tarde. Nos primeiros anos da
sua vida, ele viveu uma infância meramente amplificando suas
perceptibilidades. Ganhar a habilidade de dirigir sua atenção, devotando-
se à sua inclinação predileta — seu olho poético —, significa adquirir
uma estrutura básica da cognição humana, que consiste num controle da
capacidade ativa de selecionar da abundância de dados, por um lado e,
por outro, de diminuir a atenção passiva, protegendo-se contra uma
ocupação não desejada. Como a vocação de Barros foi muito forte, este
processo de purificar sua atenção aconteceu naturalmente. O ponto
importante era que a distância e o abandono da sua vida lhe ensinaram
instrumentos especiais para seu diálogo interno. Os elementos da
natureza usam métodos diferentes, ensinam numa maneira leve e
convincente: no amanhecer o sol põe glórias no meu olho. Pensando na
pluralidade dos assuntos de aulas disponíveis à natureza virginal,
lembrando a variedade do seu ritmo, do repertório da sua diversidade e da
sabedoria dos seus inúmeros habitantes, o menino do mato logo aprendeu
uma lição para toda a vida: não há de ser com a razão, mas com a
inocência animal que se enfrenta um poema. A escola da natureza em que
ele se formou, sem dúvida com a nota suma com laude, lhe deu uma base
invejável para sua poesia; diz ele: o rio encosta as margens na minha voz.
Sabendo que o Brasil é aclamado o país mais verde do planeta com sua
floresta Amazônica, sua Mata Atlântica, seu Cerrado, sua planície vasta
de inundação do Pantanal, sua diversidade incalculável de espécies de
animais e de vegetais, parece lógico que a poesia verde sai desta
exuberância. O que surpreende, todavia, é que é um poeta, chegando na
Barros incorpora as etapas do seu caminho na sua poesia, que pode ser
vista como documento da sua experiência personalíssima. Toda sua
Pelo fato que Barros escreve sua poesia pelo corpo, ele se sente muito
perto dela, sequer tendo distância suficiente para julgá-la. Se for avaliada,
sua poesia não vai ser submetida à razão, porque ela tem suas fontes nos
sentido. Ela não é para compreender. Ele anota que sua poesia é para
incorporar, ela se absorve através de percepção da sensibilidade. Sem
dúvida, é na aprendizagem que ele absorveu na escola das águas, das
pedras e dos sapos que achou o caminho da intuição: melhor ser as coisas
do que entendê-las. A linguagem faz o papel preferido na sua vida e com
ela faz sua poesia intuitiva, desfazendo os costumes das palavras e das
cabeças humanas: eu estou no mundo como um ser de linguagem.
Muitos anos atrás houve a suspeita que a poesia de Barros seria um golpe
anti-materialista, por causa de certa falta de apreciação de bens e riquezas
desejadas, sendo injustificadamente diminuindo seu valor ou até negado
sua importância. Idealizando uma vida no abandono era considerado tão
grave, que poderia ser caracterizado como uma infração penal dolosa, ou
pelo menos culposa, da ordem econômica, relativamente ao
descumprimento de obrigações dos direitos reais de propriedade do
Código Civil Brasileiro. Verificou-se, todavia, neste caso concreto, uma
imputabilidade relativa da poesia, levando em consideração a capacidade
da acusada, as circunstâncias atenuantes ou agravantes, as peculiaridades
do caso e as provas existentes, que finalmente levou à sentença
absolutória. Foi provado, que o autor da poesia, formado pela Faculdade
Fauniana Piratininga de Campo Grande, nunca usando o traço
acustomado, sempre tinha tido um instinto pacífico de criar, às vezes com
o intuito sensual de causar uma excitação nas palavras, mas sem sonhar
na derrubada da gestão de materiais. Estudando com os pássaros ele falou
que entre eles a propriedade de imóvel é muito mal vista e a acumulação
de vários ninhos ou outros bens nunca poderiam servir como prova de
riqueza, mas somente de deficiência ou senilidade. Confirmando que: os
heróis de nosso tempo não são ilustríssimos nem os príncipes nem os
poderosos, ele testemunhou sob palavra de honra: eu queria crescer pra
pássaro e ganhou a causa.
Notas:
1. Dois leitores
É notória a perda da centralidade do texto literário nos cursos de
Letras. Não se trata de algo recente, e está na gênese desta modalidade de
formação universitária. O texto literário tem ficado sujeito a um processo
de utilitarização, sofrendo usos diferentes, mas sempre em uma posição
secundária. Campo para estudos gramaticais, estilísticos, históricos,
linguísticos, filosóficos, psicanalíticos etc., o texto literário padece de
uma falta de autonomia dentro do que se convencionou chamar Ciências
Humanas. Nega-se a ele um poder formador independente, devendo o seu
estudo estar atrelado a outras questões, que lhe dariam o sentido
profundo, sem o qual ele não passaria de uma peça de entretenimento.
A leitura literária desarmada é, portanto, uma heresia nos meios
universitários, pois geraria um amortecimento analítico, uma
incapacidade de reflexões críticas, entendendo-se por reflexão crítica a
filiação a alguma tendência interpretativa, das muitas que se sucedem na
história do pensamento contemporâneo, do estruturalismo às questões
pós-coloniais. A literatura é matéria-prima que dará origem a um produto
sofisticado, a crítica, equivalente intelectual do progresso tecnológico.
Não é difícil perceber que este conceito de estudo literário está enraizado
numa visão científica, ou no mínimo racionalista, e tenta arrastar para
este campo o texto literário, cujo domínio original se encontra no tumulto
das emoções. O jogo razão versus emoção, no âmbito da crítica, tende a
anular o segundo elemento.
Temos, portanto, uma grande quantidade de pessoas que discorre
sobre literatura nos cursos de Letras, mas poucos dispostos a reconhecer a
função formadora da leitura literária em si. Aliás, ler um livro apenas
como literatura, como um texto capaz de nos colocar em situações de
deslocamentos de identidade, sem buscar outras coisas nele, é cada vez
mais raro tanto fora quanto dentro da universidade.
Num livro primoroso, de 1961, o escritor e crítico C. S. Lewis,
faz uma distinção de dois tipos de leitores: os literariamente letrados e os
literariamente iletrados.
1
Ficcionista, poeta, cronista, memorialista, professor, crítico literário.
4. Leitor eclético
O contrário do especialista é o leitor eclético.
O argentino Alberto Manguel confessa corajosamente na abertura
de Os livros e os dias: “não sou senão um leitor eclético” (p.10), fazendo
com isso mais uma declaração de princípios do que denunciando uma
fraqueza. A capacidade de se encantar com os mais variados tipos de
texto, a recusa de uma religião literária excludente, a curiosidade
permanente de ir em busca de tudo que se escreveu (pois o leitor eclético
padece da loucura de tentar ler a biblioteca universal), o interesse erótico
pelos livros e uma renúncia à alta seletividade apontam para uma
saudável abertura para o outro, e é esta abertura que faz o grande leitor,
base para a ação pedagógica do professor de literatura.
Em um livro que é o elogio da figura do educador que vai além
do domínio de uma disciplina, Lições dos mestres, George Steiner
também contrapõe o perfil do professor ao perfil do especialista,
alertando para a sua excentricidade no meio escolar e para a sua
vulnerabilidade: “Nossa cultura embarcou em um processo de
especialização do qual jamais sairá. Quem ficar fora desse processo, o
eclético, fica absolutamente vulnerável” (p.214). Mas não há outra forma
de lidar com a literatura como instância de formação humana senão para
além do cercado das especializações. Steiner busca nos grandes mestres
uma força para conter as correntes fragmentadoras, por ele identificadas
como “cientificismo; feminismo, democracia de massa e sua mídia”
(p.222), embora elas sejam em número muito maior.
5. Duas posturas
Voltemos à questão da utilitarização da leitura. C.S. Lewis
demonstra que tanto os muitos (leitores literariamente iletrados) quanto
os poucos (os literariamente letrados) se colocam diante de uma obra com
a intenção de tirar algo dela – respectivamente, informações ou questões
teóricas. Neste processo, o leitor/fruidor (ele trata também das artes
plásticas) domina o movimento de abordagem da obra. Ele quer fazer
algo com ela. Lewis diz que esse tipo de postura é de quem usa a obra de
arte. Para ele, reside aí todo o equívoco do relacionamento entre leitor e
livro literário. O leitor universitário, principalmente aquele que ainda não
teve uma imersão prolongada na biblioteca de obras criativas, tende a
chegar com segundas intenções, poderíamos dizer, aos livros. Essas
intenções, por mais nobres que sejam, viciam a leitura, produzindo ou
uma negação do livro ou a valorização de um aspecto pré-definido. A
obra vale na medida em que ela serve para algo, em que ela esteja
adequada a um pressuposto, na medida em que ela não desestabilize o
leitor, confirmando pequenas certezas que colheu aqui e ali, em suas
leituras críticas.
Assim, os dois grupos, aparentemente tão distantes, se
aproximam pelo fato de ambos usarem a arte. A afirmação de Lewis é
categórica: só há crítica quando estamos dispostos a receber aquilo que os
livros contêm. Para receber isso, faz-se necessária uma mudança do
trânsito – é a arte, com aquilo que a potencializa, que vem a nós e nos
modifica, desequilibrando-nos: “Sentamo-nos em frente ao quadro no
intuito de que ele nos faça algo, e não para que façamos algo com ele”
(p.23). Deve haver uma entrega; o fruidor aceita receber. Este controle –
a força de conceitos prévios que nos conduzem a certos livros – é o maior
atrapalho para a subjetivação pela leitura literária. E é esta a leitura
BIBLIOGRAFIA
1
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Letras –
Departamento CULT. Rio de Janeiro, RJ. 200559-900. julfranca@gmail.com.
2
As referências às opiniões dos autores citados são todas relativas ao artigo da
New Literary History “Literary theory in the University: a survey”
(Charlottesville: The John Hopkins University Press, XIV, (2):409-451,
winter/1983).
3
“O trabalho teórico deveria mostrar como e porquê nenhum grupo de
acadêmicos e nenhuma disciplina (inclusive a teoria) é autojustificável, auto-
explicativa e auto-sustentável” [tradução minha].
4
Abstraio aqui a posição de George Steiner, mas sua negativa da possibilidade
de existir uma Teoria Literária permanecerá como uma hipótese a ser
considerada ao longo deste artigo.
Sistematizando o problema
Uma análise preliminar das respostas à enquete da New Literary
History pode conduzir a uma primeira hipótese: “Teoria da Literatura”
não é uma noção auto-evidente e muitas das discussões em torno do tema
são prejudicadas pela ausência de um acordo conceitual prévio. As
compreensões muito diversificadas a respeito da natureza, dos objetivos e
das funções do trabalho teórico produzem diferenciados procedimentos
de produção, de divulgação e de ensino da Teoria Literária. Se, por um
lado, a multiplicidade de caminhos de abordagem da Literatura aponta,
supostamente, para a pujança e complexidade da obra literária, por outro
lado, essa pletora de possibilidades aparentemente equivalentes em suas
irredutíveis especificidades conduz os Estudos Literários a uma situação
incômoda para uma disciplina institucionalizada. Seria efetivamente uma
qualidade poder se responder a uma pergunta como o que é ser um
estudioso de Literatura? de infinita maneiras, ou isso apenas revelaria o
quão pouco especializada vem se tornando essa área de estudos?
Em que um estudioso da Literatura se diferenciaria do leitor
comum? Nossa condição de especialistas – legitimados que somos por
nossa posição institucional – deve implicar, suponho, o domínio de um
discurso sobre a obra literária qualitativamente diverso daquele dos
demais leitores não-especializados. Em outras palavras, nossa prática
profissional pressupõe, implicitamente, que é possível um discurso e um
saber sobre a Literatura diferenciados, em qualidade, da infinidade de
discursos e de saberes – digamos de modo bastante simples – não-
teóricos.
Onde estaria o cerne desta diferença? Entre as respostas
possíveis, creio que poderia situar-se no esforço de observar a obra:
(i) não apenas naquilo que significa para mim, leitor, mas
naquilo que significa e pode significar para o conjunto
dos homens;
(ii) como um documento histórico, um retrato privilegiado de
uma época;
REFERÊNCIAS
LITERARY theory in the University: a survey. New Literary History.
Charlottesville: The John Hopkins University Press, XIV, (2):409-451,
winter/1983.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Formação da teoria da literatura. Rio de Janeiro:
Ao Livro Técnico; Niterói: EdUFF, 1987.
WELLEK, René, WARREN, Austin. Teoria da literatura e metodologia dos
estudos literários. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
1
Professora Doutora do Departamento de Letras Vernáculas, da Universidade
Federal de Santa Maria-RS.
Todorov (2010), por sua vez, lembra que a literatura nos ensina a
melhor sentir, e como nossos sentidos não têm limites, ela jamais conclui,
mas fica aberta. Visa menos enunciar verdades que a introduzir em
nossas certezas a dúvida, a ambiguidade e a interrogação.
Enquanto a informação é perecível e momentânea, o discurso
ficcional pode “criar tempo” sobre os acontecimentos a partir da projeção
de imagens sobre eles, alargando os seus sentidos e intensificando os seus
efeitos. O mundo literário é, por excelência, o mundo da imaginação,
fundamentado, principalmente, num discurso oblíquo, que fala por
metonímias e metáforas, e ativa o complexo intelectual e emocional do
leitor. Desse modo, o estabelecimento dos sentidos do texto literário
exige uma participação ativa do leitor, que não a simples decodificação,
um envolvimento mais profundo e prolongado com o processo de leitura.
Como a filosofia e as ciências humanas, a literatura é pensamento
e conhecimento do mundo psíquico e social em que vivemos. A realidade
que a literatura aspira compreender é simplesmente a experiência
humana. No entanto, enquanto a filosofia maneja conceitos, a literatura se
alimenta de experiências singulares. A primeira favorece a abstração, o
que lhe permite formular leis gerais; a segunda preserva a riqueza e a
variedade do vivido. Os propósitos dos filósofos têm a vantagem de
apresentar proposições inequívocas, ao passo que as metáforas do poeta e
as peripécias vividas pelas personagens do romance ensejam múltiplas
interpretações. Quer dizer, a literatura é uma forma de conhecimento que
privilegia em seu exercício a liberdade, o lúdico, o múltiplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1
UNESP - Universidade Estadual Paulista – Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas, Depto de Estudos Linguísticos e Literários, São José do Rio
Preto/SP, Brasil.
2
Nunca é demais lembrarmos o clássico alerta de Chkolvski: “O objetivo da arte
é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento (...) o
procedimento da arte é o da singularização dos objetos e consiste em
obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção.” (1973,
p. 45).
3
É imprescindível considerarmos a etimologia de texto, recuperando, assim, o
que tantos já fizeram em seus estudos sobre literatura: tecido, entrelaçamento
de fios, textura, enfim, uma trama a exigir atenção de quem dela se aproxima a
fim de desentrançar essa rede (e também não ter medo de ser enredado por ela).
Coágulos de perda
(o débito na conta;
no trânsito, a demora;
um ácido no estômago;
frente ao correio, a fila;
o mofo no tecido;
nos músculos, a inércia;
cupins na biblioteca;
sob o tapete, o lixo;
um óxido no ferro;
nas pálpebras, o sono)
e, como que aderindo,
à guisa de entropia,
Corte e Dobra
Referências Bibliográficas:
4
“Texto quer dizer Tecido; mas enquanto até aqui esse tecido foi sempre tomado
por um produto, por um véu todo acabado, por trás do qual se mantém, mais ou
menos oculto, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no tecido, a idéia
gerativa de que o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento
perpétuo (...)”. In: O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1977, p.82-83.
1
UFPA – Universidade Federal do Pará. Faculdade de Letras/Instituto de Letras e
comunicação. Belém – Pará – Brasil. 66816-830 – germanasales@uol.com.br;
gmaa.sales@gmail.com.
2
Paulo Coelho se tornou o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Vendeu
mais de 140 milhões livros até outubro de 2011, foi lançado em 160 países, é
considerado o autor mais traduzido, contabilizando um total de 73 línguas, e o
mais celebrado nas redes sociais, com 10,5 milhões de seguidores no Facebook
e no Twitter. In: http://www1.folha.uol.com.br. Consultado em 24 de junho de
2012, às 22:32h. Paulo Coelho também foi agraciado com variados prêmios,
contabilizando 26 condecorações entre nacionais e internacionais. In:
http://www.livrospaulocoelho.com.br/. Consultado em 24 de junho de 2012, às
22:34h.
3
Dados desta pesquisa foram publicados no capítulo: SALES, Germana. ;
MENDONÇA, Simone Cristina. “Antonio Candido, Mario Vargas Llosa e
Carlos Fuentes: considerações teóricas sobre o gênero romance”. In: Carmem
Lúcia Negreiros de Figueiredo, Silvio Holanda e Valéria Augusti. (Org.).
Crítica e Literatura. 1. ed. Rio de Janeiro: De Letras, 2011, v. 1, p. 167-183.
4
Este acesso foi em 20 julho de 2010 na Livraria Cultura, na página: <
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/maisv/maisv.asp?nassunto=1&
nveiculomv=4&sid=98214522812720656023864832&k5=186D9E67&uid= >.
5
A Livraria Cultura indica alguns dos tradutores das obras, como: Patrícia de Cia,
tradutora de Querido John; Ryta Vinagre, tradutora de Diários do Vampiro, V.
4 – Reunião Sombria e Amanhecer; Flávia Souto Maior, tradutora de Lua azul;
Paulo Neves, tradutor de Os Homens que não amavam as mulheres; Maria
Luiza Borges, tradutora de Alice – Aventuras de Alice no país das maravilhas;
Fernando Lopes, tradutor de Kick ass – Quebrando tudo.
6
Site: <http://www.livrariasaraiva.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2010.
7
Site: < http://www.esextante.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?
infoid=4212&sid=2 >. Acesso em: 20 jul. 2010.
8
Este livro faz parte da saga crepúsculo também, formada pelos livros:
Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer.
9
Entre os brasileiros mais comercializados, está Luís Fernando Veríssimo, que
contabiliza mais de 50 livros publicados e já vendeu cinco milhões de
exemplares, o que constitui um verdadeiro fenômeno de vendas. Ao lado de
Veríssimo, figura seu conterrâneo Moacyr Scliar, com 63 obras editadas – entre
romances, contos, novelas e coletâneas (REBINSKI, 2010). O próprio Scliar,
em entrevista, afirmou que vendeu dez milhões de livros (REVISTA PRESS,
2010). Outro brasileiro que faz frente aos dois gaúchos é o baiano João Ubaldo
Ribeiro, cuja venda anual emplaca a média de 100 mil livros. (ROSALEM,
1999).
10
A reprodução da íntegra desse texto consta no site:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_17_p021-026_c.pdf. Consultado
em 17 de maio de 2006, às 18:49h.
11
Dados obtidos na livraria Submarino:
http://www.submarino.com.br/produto/6719447/livros/literaturaestrangeira/gera
l/livro-cabana-a. Consultado em 25 de junho de 2012, às 21:35h
12
http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u655672.shtml.
Consultado em 25 de junho de 2012, às 21:51h
13
http://www.livrariasaraiva.com.br/. Consultado em 25 de junho de 2012, às
22:22h
14
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/index.asp?&caminho=1. Consultado
em 25 de junho de 2012, às 22:31h
15
Site http://www.travessa.com.br/wpgMaisVendidos.aspx?TipoArtigo=1&Cod
MacroSegmento=3808A616-20B5-48C2-B6F6-CE8E937F3280, Consultado
em 25 de junho de 2012, às 22:46h.
16
No site oficial do autor, http://www.carlosruizzafon.com/, constam as
premiaçãos, na Espanha, o Prêmio da Fundação José Manuel Lara ao livro mais
vendido. Nos Estados Unidos, a premiação Borders Original Voices Award e
New York Public Library Book to Remember. Na França, o Prêmio de melhor
livro estrangeiro. Na Holanda, o Prêmio dos Leitores. No Canadá, o Prêmio dos
livreiros de Canadá/Quebec. Na Bélgica, o Prêmio de melhor livro do ano
(2006) e em Portugal, o Prêmio Varzim de Povoa. Consultado em 25 de junho
de 2012, às 23:00h.
O que triunfou?
Diante do quadro exibido até aqui, o que podemos rastrear a partir das
listagens, para compor o raciocínio sobre uma possível crise na/da
literatura? Uma primeira observação consiste na comprovação do
significativo número de traduções, como já observado anteriormente, mas
também é possível contabilizar um grande interesse despertado por textos
em prosa, uma vez que não há, em nenhuma das três livrarias, evidências
de poemas, entre os gêneros mais vendidos.
Do ponto de vista do conceito de literatura admitido por João
Alexandre Barbosa, são aceitáveis as obras de James Joyce, Ian Mcewan e
do brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza17. As demais obras versam acerca
17
Conforme sentencia Márcia Abreu, o conceito de literatura está ajustado em
fatores externos à obra literária e não baliza a literatura apenas aos elementos
componentes do sistema literário postulado por Antonio Candido. A autora
afirma que uma obra não surge literária. Para chegar à consagração, ela
necessita passar por um processo: “Para que uma obra seja considerada Grande
Literatura ela precisa ser declarada literária pelas chamadas ‘instâncias de
legitimação’. Essas instâncias são várias: a universidade, os suplementos
culturais dos grandes jornais, as revistas especializadas, os livros didáticos, as
histórias literárias etc. Uma obra fará parte do grupo seleto da Literatura quando
for declarada literária por uma (ou, de preferência, várias) dessas instâncias de
legitimação. Assim, o que torna um texto literário não são suas características
internas, e sim o espaço que lhe é destinado pela crítica e, sobretudo, pela
escola no conjunto dos bens culturais”. (ABREU, 2006, p. 40)
Abstract: In this essay I intend to discuss a controversial issue about the crisis in
and of Literature, from the reflections of Mario Vargas Llosa and Antonio
Candido, and revisit the concept of what Literature is, to be guided by the points
of view of João Alexandre Barbosa, who based their arguments on postulates of
Northrop Frye, Fernando Pessoa and T. S. Eliot. From this theoretical reference, I
intend to debate about the tension between the literary and book trade today in
Brazil, based on research carried out in three bookstores that offer their catalogs
online - Saraiva, Culture and Library Bookstore Lane and, based on data obtained
through the bestseller lists, or more popular books, to conjecture about the
question first proposed: Is there a crisis in Literature? This quest will cover the
whole discussion, based also on the squabble of the end of the book, the
hypothesis thought in the nineteenth century, by Machado de Assis, before the
advent of the newspaper and now by Bill Gattes, owner of Microsoft, who
intends, before his death, to see the end of the book.
REFERÊNCIAS
ABREU, Márcia. Cultura letrada: literatura e leitura. São Paulo: UNESP, 2006.
1
UFV – Universidade Federal de Viçosa. Centro de Ciências Humanas Letras e
Artes. Departamento de Letras. Viçosa – Minas Gerais – Brasil – 36.570-000;
e-mail: juanpablochiappara@ufv.br.
2
Publicado pela primeira vez na revista “Sur”, em Buenos Aires, em maio de
1939 (RODRÍGUEZ MONEGAL, 1997).
3
A influência de Borges na França se deu através da leitura feita, primeiro, por
Maurice Blanchot, depois por Michel Foucault e Gérard Genette. A partir de
1964, quando foi dedicado à sua obra um n mero da revista de “L´Herne”,
Borges passou a influenciar o pensamento francês e europeu e conseguiu sair
do âmbito do Rio da Prata, onde era conhecido e respeitado desde o início de
sua carreira, nos anos 1920, mas não necessariamente aceito como uma
unanimidade. Aliás, a revista de “L´Herne’ era dedicada a autores marginais
que causavam controvérsia na sua época. É interessante ressaltar que a
“chegada” da obra de Borges à França é contemporânea à chegada da obra de
Mikhail Bakhtin, que seria traduzido por Julia Kristeva e divulgado por
Tzvetan Todorov, dentre outros.
***
4
Pensamos na oposição do expressionismo alemão e do impressionismo francês.
5
Experiências dessa ordem, como a que fez Paul Auster com seu último livro –
Diario de Invierno – (por sinal, uma obra talvez classificável como de
testimonio), lançado primeiro na internet, depois em espanhol na Espanha e
ainda não lançado em inglês nos Estados Unidos de América, são interessantes,
mas não mexem com a estrutura do regime atual do literário, por enquanto
ainda ligado fortemente ao salto tecnológico que significou, há alguns séculos,
a invenção da imprensa e a reprodução em série do livro.
***
6
LISCANO, Carlos. Le lecteur inconstant suivi de Vie du corbeau blanc.
Tradução de Martine Breuer e Jean-Marie Saint-Lu. Paris: Belfond, 2011.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Vivemos em uma época em que filmes como Blade Runner, o
caçador de andróides (1982), de Ridley Scott; O exterminador do
futuro (1984), de James Cameron, e A.I. – Inteligência artificial (2001),
de Steven Spielberg, parecem proféticos, pois a cada instante nos
aproximamos mais de seus contextos. Filmes como Matrix (1999), dos
irmãos Wachowski; Dogville (2003), de Lars von Trier, e Babel (2006),
de Alejandro González Iñárritu, nos colocam diante de nossa própria
condição humana hoje, século XXI, e ficamos impressionados,
estarrecidos ou horrorizados com a desagradável semelhança dessas obras
1
UNESP – FCL-Ar – Departamento de Letras Modernas. Araraquara/SP, Brasil,
CEP: 14800-901. E-mail: adrossi@fclar.unesp.br
2
Costuma-se fazer uma distinção entre Pós-modernidade (histórica/ideológica) e
Pós-modernismo (estético). Contudo, tal distinção é reconhecidamente
arbitrária e sua discussão em termos teóricos não é objeto deste ensaio. Por
essa razão, as palavras “Pós-modernidade” e sua correlata “pós-moderno(a)”
serão aqui empregadas com uma sobreposição de sentidos: significarão ao
mesmo tempo o tempo histórico atual, marcadamente pós 1950, e o desvio que
a teoria, a crítica, a literatura e as artes dessa mesma época apresenta ante as
3
Em uma convenção mundial de mulheres militantes socialistas ocorrida na
Dinamarca em 1910, a ativista alemã Clara Zetkin propôs a criação de uma
data internacional de comemoração dedicada à mulher (8 de março, em
homenagem às operárias mortas em New York), que se tornaria então o Dia
Internacional da Mulher.
não deixa de ser razoável para pessoas que foram definidas como
incapazes de auto-emancipação [as mulheres] insistir que conceitos
CONCLUSÃO
Abstract: This essay intends to think critically and theoretically on the inter-
relations among subject, identity, and Feminism in the context of Postmodernity,
a context which will be herein denominated “Age of Crises”. These three aspects
will be approached under a Historical perspective and put into question in a
philosophical sight guided by Post-structuralistic theories, especially Derridian
Deconstruction. In general, the main objective is to reach into a discussion about
the undecidable inter-relation between Feminist thinking and Postmodernity,
which is one of the configurations of the many contemporary crises. In order to
do so, it will be necessary a previous discussion on the postmodern subject and
its identity. This discussion will open up the possibility of contextualizing and
discussing Feminism inside the intended objective. This discussion will be
structured around the word “crises” which, in a compositional relation to the
word “age”, will be taken as a synonym for “Postmodernity” and
“contemporary”. “Age of Crises”, “Postmodernity”, “contemporary”, and
“Feminism” will be words haunted by the phármakon phenomenon, a key aspect
for Derridian Deconstruction, which will be the gravitational force that
approximates and separates, in an undecidable relation, those signs.
REFERÊNCIAS
Introdução
1
UNIANDRADE – Centro Universitário Campos de Andrade. Departamento de
Letras, Curso de Mestrado em Teoria Literária. Curitiba, Paraná, Brasil, CEP:
81220-090. E-mail: <anfib@ibest.com.br>.
2
No caso específico da obra de Nelson Rodrigues, cabe destacar que também o
futebol tem esse propósito, embora desencadeie efeitos diversos.
A desmistificação da família
A mulher é a chave
Outro ponto fundamental, na obra de Nelson Rodrigues, é a
função da mulher frente à “moralidade” e à “tradição patriarcal”.
Exatamente pelo patriarcalismo, o desejo feminino rompe padrões.
Conclusão
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Algumas questões passaram, de algum tempo para cá, a nos
inquietar e, por isso, orientaram a construção deste texto: por que a teoria
da literatura faz falta? Por que a situação atual e as perspectivas presentes
e futuras para os estudos literários não nos parecem benfazejas? É
preciso mudar conceitos ou adequá-los às necessidades da(s) hora(s)? A
literatura basta a si mesma ou compõe um sistema maior? Planejar é
preciso? Sabemos que não basta denunciar um estado de coisas; é preciso
atuar para que ocorram mudanças. Neste caso, nossa atuação se dá,
timidamente, por via deste ensaio. Em tempo: não respondemos às
perguntas como a um questionário; elas são o norte para o encadeamento
de um processo crítico-compreensivo.
1
UFMS/CCHS/PPGEL. PQ/CNPq. Campo Grande – MS – Brasil – 79.022-911.
rzanel@terra.com.br.
2
Neste ponto, fazemos uma alusão-homenagem ao ensaio Experiência e pobreza,
de Walter Benjamin (1986b), uma chamada ao homem de como
empobrecemos a cada dia quando abandonamos os bens do patrimônio cultural
da humanidade em prol do esquecimento e, aqui, acrescentamos, do uso e da
crença exacerbada na tecnologia.
POEMA DIDÁCTICO
Já tive um país pequeno,
tão pequeno
que andava descalço dentro de mim.
Um país tão magro
que no seu firmamento
não cabia senão uma estrela menina,
tão tímida e delicada
que só por dentro brilhava.
Eu tive um país
escrito sem maiúscula.
Não tinha fundos
para pagar a um herói.
Não tinha panos
para costurar bandeira.
Nem solenidade
para entoar um hino.
Mas tinha pão e esperança
para os viventes
e sonhos para os nascentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que sob o risco de sermos chamados de antiquados, tendo
em vista especialmente nossas opções teóricas para a análise do texto
literário, há disciplinas que não podem ser destratadas ou maltratadas no
ensino das Letras. Entre elas, está a teoria da literatura. Cremos que há
em torno dela insegurança, desorientação e desconhecimento por parte
tanto de professores quanto de alunos. Sabemos que esta é uma
observação perigosa no sentido usado por Benjamin em sua tese 6 sobre
o conceito de história e já referido neste ensaio. Porém, é também um
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? In: _______. O que é o
contemporâneo? e outros ensaios. Tradução Vinícius Nicastro Honesko.
Chapecó, SC: Argos, 2009.
BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: _______. Magia e técnica, arte
e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sergio Paulo
Rouanet. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986a. p. 114-119. (V. 1).
_______. Sobre o conceito de história. In: _______. Magia e técnica, arte e
política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sergio Paulo
Rouanet. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986b. p. 222-232. (V. 1).
COHEN, Jean. Estrutura da linguagem poética. Tradução Álvaro Lorencini e
Anne Arnichand. São Paulo: Cultrix; Editora da USP, 1974.
COUTO, Mia. Tradutor de chuvas. Alfragide: Editorial Caminho, 2011.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa.
2. ed. revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Tradução José Octávio de Aguiar
Abreu. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1997.
KAYSER, Wolfgang. Análise e interpretação da obra literária (introdução à
ciência da literatura). 7. ed. portuguesa traduzida e revista por Paulo Quintela.
Coimbra: Arménio Amado, 1985.
LAUSBERG, Heinrich. Elementos de retórica literária. Tradução R. M. Rosado
Fernandes. 4. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993.
SÁ, Antonio Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 8. ed. revista e ampliada.
São Paulo: Atlas, 1994.
TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Tradução Caio Meira. Rio de
Janeiro: DIFEL, 2009.
1
Professora adjunta da Universida Federal da Grande Dourados.
alexandrasantospinheiro@yahoo.com.br.
2
In.: BENJAMIN, 1984, p. 11.
3
Adotaremos a definição de Jacqueline Held: “O termo fantástico [...] significa
aquilo que só existe na imaginação ou na fantasia; e, não, a acepção que
costumamos lhe dar de extraordinário, extravagante, prodigioso, incrível”.
4
Regina Zilberman propõe uma identificação entre Literatura Infantil e Contos
de Fadas. Para a autora, a Literatura Infantil só pode ser considerada como tal,
quando incorpora os auxiliares fantásticos dos contos de fadas (ZILBERMAN,
1987, p. 48).
5
Quando usamos a terminologia Infantojuvenil fazemos referência a dois tipos
de livros: aos destinados às crianças até a terceira série, e aos livros utilizados a
partir da quarta série.
Nossos pais não tiveram que nos enterrar. Por sorte, escapamos da
morte. Mas, em nosso nordeste, em Pernambuco, onde moro, a fome
e a miséria têm obrigado os pais a enterrarem os filhos ainda
pequenos. Aí, sim, dá para ver que a guerra não é feita apenas com
armas de fogo. É mais perversa quando feita com armas da
concentração da riqueza, que gera a violência e a morte (BOGO,
2003, p. 22).
6
Não identificamos os acadêmicos e mantivemos o texto conforme original.
Não basta duas vezes, mas sim sempre de novo, centenas e milhares
de vezes. Não se trata apenas de um caminho para tornar-se senhor
de terríveis experiências primordiais, mediante o embotamento,
juramentos maliciosos ou paródia, mas também de saborear, sempre
com renovada intensidade, os triunfos e vitórias. O adulto, ao narrar
uma experiência, alivia o seu coração dos horrores, goza novamente
uma felicidade. A criança volta a criar para si o fato vivido, começa
mais uma vez do início (BENJAMIN, 1984, p. 75).
Referências:
1
João A. Campato Jr. é professor universitário, com pós-doutorado pela
UNICAMP e pela UERJ. Atualmente, é Pesquisador Associado da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
2
Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 43.ed. São Paulo:
Cultrix, 2006.
3
Entrevista concedida a João Adalberto Campato Jr., publicada na Revista
Tema, número 55, janeiro/junho de 2010.
I
Não passarás o Jordão
O livro Verdes Anos de Luiz Fernando Emediato é uma obra que
quebra regras no que concerne às formas literárias, uma vez que enquanto
narrativa se funda no intervalo entre o romance e a antologia de contos.
Trata-se de uma produção constituída em duas partes: Parte I - O LADO
DE DENTRO, consiste em ser formado pelos seguintes contos – que
também podem ser tranquilamente entendidos como capítulos de um
romance: O outro lado do paraíso, Cândida, Also Sprach Zarathustro, O
Deserto da Primavera e Verdes Anos. E compondo a parte II, O LADO
DE FORA, estão respectivamente A data Magna do Nosso Calendário
Cívico e Não Passarás o Jordão. Cada uma dessas sequências pode ser
lida individualmente, sem provocar nenhuma perturbação ao todo
romanesco, mas também se lermos o conjunto delas como romance,
podemos vislumbrar as correlações entre as duas partes. Assim, em
primeiro contato com o livro, o leitor irá se deparar com uma sensação de
1
UFPA – Universidade Federal do Pará. Programa de Pós-Graduação em
Letras/Instituto de Letras e Comunicação. Belém, Pará, Brasil, CEP 66075-
110. nicama@ufpa.br
III
A narrativa da catástrofe no intervalo entre testemunho e ficção
Narrativas de testemunho ou com teor testemunhal pautadas no
relato da dor e do sofrimento, ao fazerem isso, constituem a cena
dolorosa como esse território em que a ferida traumática tenta se mostrar
em toda sua reverberação, em toda sua náusea, ainda que mesmo
alcançada pelas reverberações do sublime – prementes na ferida exposta,
nos dejetos mostrados, no sangue derramado, na laceração da carne em
ato na palavra escrita – mas a exatidão das palavras é sempre alcançada
pela falta, por uma espécie de censura, pois por mais objetivo que seja o
relato há sempre algo que escapa à nominação, há sempre uma dor para a
qual nenhuma apalavração é suficiente ou são palavras envergonhadas,
prenhes de gagueira, de curto-circuitos, de desarticulações. É nisso que
reside o inominável do trauma, a sua irrepresentabilidade. Agamben
(2008, p. 43) realça essa falta que há no testemunho, pois avalia ser a
falta a sua marca mais essencial.
Há ainda nessas narrativas a presença de um assombro diante do
horror, do ato inaceitável, da violência desmedida, da dor imensurável, da
sobrevivência julgada injusta. Enfim, de uma série de tabus rompidos.
Assombro que se identifica como uma paralisia – e temos aqui o signo da
suspensão que, palpitante, se faz notar.
Elaborar a cena traumática, inscrita no testemunho, implica trazer
para a narrativa, metarreflexivamente, as indecibilidades sobre como
dizer o trauma. Ginzburg (2001, p.140) assevera que a representação da
cena traumática se faz marcada por processos históricos, na medida em
que recusa a “possibilidade de volta, a resistência ao reencontro com a
cena traumática”. Tem-se aí a recusa ao reencontro com o momento de
instauração da ferida, mas não a negação das consequências do trauma.
Porém, ainda que essa característica seja premente no testemunho,
quando se trata da ficção ela pode ser configurada no interior de um
intenso jogo de rememoração-reelaboração. Nesse processo, envolto pelo
2
Em tradução livre: “A reivindicação de uma linguagem própria por parte do
testemunho corresponde a sua dupla missão: reafirmar um eu e a defesa da
memória”.
3
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
4
Ver aqui todo o capítulo que Bataille dedica a Emily Brontë.
1
Doutora em Literatura. Professora Associada do Departamento de Letras (DLA) da
Universidade Federal de Viçosa (UFV), Av. PH Rolfs, Campus Universitário,
Viçosa – Minas Gerais, Brasil. CEP.: 35670-000. E-mail: graciag@hotmail.com.
2
Mestre em Literatura. Professor Substituto do Departamento de Letras (DLA) da
Universidade Federal de Viçosa (UFV), Av. PH Rolfs, Campus Universitário,
Viçosa – Minas Gerais, Brasil. CEP.: 35670-000. E-mail: filipestacul@gmail.com.
3
ABREU, Caio Fernando. Pedras de Calcutá. Rio de Janeiro: Agir, 2007.
4
LISPECTOR, Clarice. Mineirinho. In:____. Para não esquecer. São Paulo: Ática,
1979. p. 101-102. A crônica Mineirinho retrata uma incursão sensorial no episódio
da morte do bandido Mineirinho, assassinado com treze tiros pela polícia, na
década de 1970. No texto, o cronista/narrador se insere de tal forma no fato narrado
que se transfigura aos poucos na personagem protagonista, sendo atingido pelo
ultimo tiro.
5
By the early to mid-1990s, the staging of plays by Caio Fernando Abreu (1948-
1996) and others facilitated the presentation of unorthodox lifestyles and sexual
liaisons in more matter-of-fact ways. (ALBUQUERQUE, 2004, p. 35).
8
the continuing process of the “separation of spheres” of male and female, public
and private, was on the whole reinforced and maintained by cultural ideologies,
practices, and institutions. (WOLFF, 1990, p.12)
9
Indeed this separation was constantly and multiply produced (and counteracted) in a
variety of sites, including culture and the arts. (WOLFF, 1990, p. 13)
10
Leonore Davidoff and Catherine Hall have documented the “separation of spheres”
into the public world of work and politics and the private world of the home, as
well as the concomitant development of the domestic ideology that relegated
middle-class women to the private sphere. The material separation of work and
home, wich was the result of both the Industrial Revolution and the growth of
suburbs, was clearly the precondition of the general process , though, as Catherine
Hall has pointed out, for many families and many occupations this separation did
not always occur (for example, in the case of doctors’ practices). (WOLFF, 1990,
p. 13)
11
a process of materialization that stabilizes over time to produce the effect of
boundary, fixity, and surface we call matter. That matter is always materialized
has, I think, to be thought in relation to the productive and, indeed, materializing
effects of regulatory power in the Foucaultian sense. (BUTLER, 1993, p. 9-10,
grifo da autora)
12
That this reiteration is necessary is a sign that materialization is never quite
complete, that bodies never quite comply with the norms by which their
materialization is impelled. Indeed, it is the instabilities, the possibilities for
rematerialization, opened up by this process that mark one domain in which the
force of the regulatory law can be turned against itself to spawn rearticulations that
call into question the hegemonic force of that very regulatory law. (BUTLER,
1993, p.2)
REFERÊNCIAS
ABREU, Caio Fernando. Limite Branco. Rio de Janeiro: Agir, 2007.
ALBUQUERQUE, Severino João Medeiros. Tentative transgressions:
homosexuality, AIDS, and the theater in Brazil. Londres: University of
Wisconsin Press, 2004.
ARENAS, Fernando. Utopias of otherness: Nationhood and subjectivity in
Portugal and Brazil. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2003.
BADINTER, Elisabeth. XY: Sobre a identidade masculina. 2ª. Ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
Resumo: O ano da morte de Ricardo Reis (1984) é romance de José Saramago que
efetiva a polifonia narrativa mesmo passando-se no ano de 1936 – período de
destacado autoritarismo. Objetiva-se mostrar como o hibridismo de gêneros, que
congrega prosa e poesia, aponta para uma saída, a um só tempo, literária e histórica.
Discute-se como a condição humana, que vive a ameaça da crise, é transposta para
esse romance labirinto. Mikhail Bakhtin é o principal referencial teórico a respeito do
equacionamento plural de tantas vozes. Gyorgy Lukács, Erich Auerbach e
Hermenegildo Bastos norteiam o pensamento sobre a intrincada rede de casualidade
que esconde a causalidade profunda alcançada pelos grandes romances. Dessa
rigorosa pesquisa a respeito do romance enquanto gênero e da poesia pessoana
multifacetada, resulta a elevação desta obra ao conjunto de romances que conseguem,
com muita fluidez e zelo artístico, discutir, desde seu cerne, graves questões
humanas. Finalmente, busca-se mostrar que a poesia da vida teima em resistir à crise
instaurada e representada pela prosa.
PALAVRAS-CHAVE: Romance. Polifonia. Poesia. Pessoa. Crise
1
UnB – Universidade de Brasília –Instituto de Letras – Departamento de Teoria
Literárias e Literaturas. Brasília – DF – Brasil. CEP: 70910-900 –
augustorodriguesdr@gmail.com e a.claramagalhaes@gmail.com.
2
Este é um princípio muito bem utilizado por Machado de Assis a partir de
narradores, tais como os defuntos Brás Cubas e o Conselheiro Aires. Princípio
ainda mais complexo quando pensamos em uma escrita da morte: narradores
que convivem com o tempo do narrado, co-participam deste tempo, mas sempre
com o domínio suficiente da história para recontá-la romanceadamente.
3
Pode-se delinear, dentro da obra de Saramago, uma tendência de construção de
personagens centrais que esboçam uma humildade frágil que de certa forma
embota a sua grandeza. São exemplos disso, o auxiliar de escrita José, de
Todos os nomes (1997) e o músico solitário de Intermitências da morte (2006).
Ambos personagens de variantes tanatográficas romanceadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ocidental. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
BASTOS, Hermenegildo. O que tem de ser tem muita força – determinismo e
gratuidade em Angústia. In: As artes da ameaça: ensaios sobre literatura e crise.
São Paulo: Editora Outras Expressões, 2012. p. 85-110.
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo
Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
ESTEVES, Antônio R. O romance histórico brasileiro contemporâneo. São
Paulo: UNESP, 2010.
LUKÁCS, Georg. Ensaios sobre literatura. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1965.
______. “Narra ou descrever”. In: Marxismo e teoria da literatura. São Paulo:
Editora Expressão Popular, 2010.
MENESES, Filipe Ribeiro de. Salazar: biografia definitiva. Tradução de Teresa
Casal. São Paulo: Leya, 2011.
MENTON, Seymour. La nueva novela histórica de la América Latina 1979-
1992. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
PESSOA, Fernando. REIS, Ricardo. Ficções do Interlúdio. Obra Poética. Rio de
Janeiro: José Aguilar, 1960.
______. Obra Poética. (Org. de Maria Aliete Galhoz). 9. ed. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1986.
______. Poesia completa de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia das Letras,
2007.
______. Poesia 1931-1935. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
SARAMAGO, José. O ano da morte de Ricardo Reis. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
SILVA JUNIOR, Augusto Rodrigues da. Tanatografias em José Saramago: As
Intermitências da Morte. Glauks (UFV), v. 9, p. 29-53, 2009.
Introdução
Em 13 de abril de 1967, Hans Robert Jauss proferiu em
conferência ministrada da Universidade de Constança, sob o título O que
é e com que fim se estuda história da literatura?, posteriormente
modificado para A história da literatura como provocação à teoria
literária, alguns dos pressupostos fundadores da teoria da recepção, a
qual se coloca contra a tradição da história da literatura. O local para a
conferência não fora escolhido por coincidência, uma vez que da
Universidade de Constança sobreveio o principal fruto da reforma
educacional na Alemanha durante a segunda metade da década. De forte
caráter provocativo, o discurso de Jauss busca romper com a natureza dos
estudos literários vigentes que, segundo ele, atuavam em serviço da
1
UFPel/CLC. Pelotas-RS-Brasil. 96010-610. jlourique@yahoo.com.br.
2
UFPel/CLC. Pelotas-RS-Brasil. 96010-610. paty_hoff@hotmail.com.
No meio do caminho
Conclusão
No âmbito do ensino da literatura, a posição do leitor, já
destacada pelas teorias literárias modernas, assume a dimensão do
sujeito-leitor. Com efeito, o presente trabalho vê o sujeito-leitor como
aquele que exerce a leitura com “liberdade consciente”, para citar Eco.
Tal liberdade associa-se diretamente com a autonomia adorniana, o que
consiste basicamente em considerar esse sujeito em formação um
portador de habilidades e capacidade crítica para preocupar-se com a
potencialidade da linguagem, com a coerência dos sentidos produzidos e
ainda com as dimensões sócio-histórico-filosóficas trazidas pelos textos
literários, entendidos também como construtos culturais.
3
Tradução de Ítalo Eugênio Mauro (em A Divina Comédia. São Paulo: Editora
34, 1998. 3 volumes).
REFERÊNCIAS
1
Fundação Helena Antipoff. Faculdade de Letras. Ibirité. Minas Gerais. Brasil.
CEP: 32400-000. E-mail: rodriguescosta@hotmail.com.
A primeira vez que publiquei este livro quinze anos atrás, dei-lhe um
título obscuro: Ódio da poesia. Pareceu-me que a verdadeira poesia
só poderia ser alcançada pelo ódio. A poesia não possui nenhum
significado poderoso a não ser pela violência da revolta. Mas a
poesia apenas alcança essa violência pela evocação do impossível.
Quase ninguém entendeu o significado do primeiro título, é por isso
que eu preferi finalmente chamá-lo de O Impossível. (BATAILLE,
1971, p. 101)
Talvez, por isso, não seja estranho que Bataille aborde a questão
da identidade em um texto ao qual dá o título de “Sacrifícios”. Ao longo
da leitura desse texto, não encontramos qualquer referência explícita aos
rituais de sacrifício. O tema do texto perpassa pela noção de identidade,
de um eu que se debruça sobre o vazio ante a iminência da morte. Na
verdade, o que Bataille faz, ao abordar a experiência do eu e de sua
improbabilidade, é discutir de que forma a morte não se opõe à
existência, já que “a aproximação da podridão liga o eu-que-morre à
nudez da ausência” (BATAILLE, 1973, p. 87). Se o eu se projeta para
fora de si, criando, assim, o objeto de sua paixão, em oposição a esse
objeto está a catástrofe, pois “o pensamento vive a aniquilação que o
constitui como uma vertiginosa e infinita queda, e assim não tem somente
a catástrofe como seu objeto, sua estrutura é a catástrofe, ela se absorve
no nada que a suporta e ao mesmo tempo deixa escapar” (BATAILE,
1970, p. 94). O sacrifício seria, portanto, o momento em que, para o eu-
que-morre, é revelada a existência ilusória do eu, a inutilidade dos objetos
que o rodeiam, como se tivesse diante dele “os preparativos de uma
execução, já que a existência das coisas não pode fechar a morte que ela
traz, mas que ela mesma se projetou nessa morte que a encerra”
(BATAILE, 1970, p. 96). A destruição do eu é o sacrifício que o liberta.
Nesse sentido, a irrealidade do mundo deve ser corroída, para que a
natureza da existência esteja em concordância com a natureza extática do
eu-que-morre.
A forma como Bataille articula esse tipo de sacrifício em sua obra
se faz a partir da unificação entre aquele que sacrifica, o sacrificador, e o
que é sacrificado, a vítima. A aspiração de Bataille por “inventar uma
nova forma de crucificar a si mesmo” (BATAILLE, 1973, p. 257) se dá
como resposta a duas opções frente ao sacrifício: “a tragédia propõe ao
homem identificar-se com o criminoso que mata o rei; o cristianismo
propõe identificar-se com a vítima, com o rei destinado a morrer”
(BATAILLE, 1995, p. 196). A saída para essa antinomia, Bataille a
pé de whisky
pé de vinho
pé louco para esmagar
ó sede
insaciável sede
deserto sem saída (BATAILLE, 2008, p. 34)
comigo tu rasgarás
teu coração amado de pavor
teu ser estrangulado de tédio
tu és amiga do sol
não há nenhum repouso para ti
teu cansaço é minha loucura (BATAILLE, 2008, p. 49)
INSIGNIFICÂNCIA
Adormeço
a agulha
de meu coração
choro
uma palavra
Abstract: The poems of the french thinker Georges Bataille affirm a place of
indistinction, where words are dispersed, when they obliterate the sense, to become
parodies of themselves. Think the poetry in these terms is not articulate it more as a
dialogue between man and the world, but as the work in the service of despair, in the
sense that the word can only be used according his own loss. Thus, the subject who
writes the poem not only destroys the functional sense of the words, but also it
suicides at the instant that its action leads to exclusion, a non-place in the
community. The writing of Bataille thus forms a kind of cancerous text, which words
are multiplied, when they disperse themselves in their wounds, in the cuts which are
opened on the page. Therefore, this paper aims to examine how Georges Bataille's
poems create a disorder that points to an unnamed place where the senses are lost,
since the poem is brought to a condition of sacred object, at the instant who sacrifices
it leads us to the unknown, the anguish of a naked, from which death opens itself
sovereign, immune to any project or moral scheme.
BIBLIOGRAFIA
BILLES, Jeremy. Ecce monstrum: Georges Bataille and sacrifice of form. New
York: Fordhan University Press, 2007.
FRAZER, Sir James George. O Ramo de ouro. Prefácio: Professor Darcy Ribeiro.
Tradução: Waltensir Dutra. Zahar Editores, 1982.
IRWIN, Alexandre. Saints of the impossible: Bataille, Weil, and the politics of the
sacred. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2002.
Resumo: O presente artigo analisa, com base nas ideias filosóficas de Walter
Benjamin acerca da linguagem, alguns poemas de Manoel de Barros que trazem
a reflexão sobre a poesia enquanto possibilidade de restabelecimento da
linguagem do homem que ocupa o tempo mítico que precede a história,
linguagem caracterizada pela capacidade mágica de nomeação.
Palavras-Chave: Manoel de Barros. Linguagem Adâmica. Metalinguagem.
1
UNESP – Universidade Estadual Paulista “J lio de Mesquita Filho”. Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas. Mestranda em Teoria da Literatura. São
José do Rio Preto – SP – Brasil – 15054-000 – su.domini@yahoo.com.br.
2
UNESP – Universidade Estadual Paulista “J lio de Mesquita Filho”. Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas. Departamento de Estudos Linguísticos
e Literários. São José do Rio Preto – SP – Brasil – 15054-000 –
susanna@ibilce.unesp.br.
3
“La creación poética se inicia como violencia sobre el lenguaje. El primer acto
de esta operación consiste en el desarraigo de las palabras. El poeta las arranca
de sus conexiones y menesteres habituales: separados del mundo informe del
habla, los vocablos se vuelven nicos, como si acabasen de nacer.”
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1
José Fernandes é professor aposentado da UFG e membro da Academia Goiana
de Letras.
2
Veja como eu ergo um altar consagrado ao deus Pítio, polido pelo ofício da arte
musical do poeta. Tão honrado sou, realizando a mais sagrada oferenda, que
convém a Febo e amolda-se àquele templo em que os coros dos poetas
produzem suas aceitáveis dádivas, adornadas com tantas mulheres floridas de
musas, de cada espécie como devem ser colocados nos bosques sonoros do
Helicon. Não artifício polido com afiada ferramenta; eu não era talhado fora
de uma branca rocha da montanha da Luna, nem desde o brilhante pico de
Paros. Não era porque eu era talhado ou forjado com duro cinzel que eu seja
trabalhosamente confinado e carregue às costas minhas armas como eles
tentavam cultivar naquele tempo, em sucessiva porção, deixe-o expandir-se em
sentido mais amplo. Cautelosamente eu forço cada borda para se traçar, linha
por linha, por minúsculos degraus, em linhas viradas para dentro, desta forma
contínua, regulado por toda parte pela medida, de maneira que minha borda,
dentro do limite que lhe determina, o de um quadrado. Nesse tempo de novo,
continuando para a base, minha linha, estendendo mais cheia, é
engenhosamente desenvolvida de acordo com o plano. Sou feito pelo metro de
dez pés. Estipulado que o número de pés nunca é trocado, e a douta medida,
obedece a seus modelos, as linhas de tais poemas acrescidos e decrescidos.
Febo, pode o suplicante que oferece esta pintura, faz o metro, toma seu lugar
alegremente em seus templos e seus sagrados coros.
3
É sob esta perspectiva que se explica a androgenia adâmica, porquanto ele
figura simultaneamente como pai e como mãe, porque Adão, estando inserto na
palavra Eloim, Deus e Mãe, também carrega em si a imagem do duplo: pai e
mãe.
4
Cerimônia de casamento.
5
Câmaras superiores do coração encontradas abaixo dos ventrículos direito e
esquerdo.
6
As chamadas ondas revelam as voltagens elétricas geradas pelo coração,
registradas pelo eletrocardiógrafo na superfície do corpo.
2 – O cibernético
7
Versão animaverbivisual no link
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/poesia_visual.html.
8
Ver o vídeo-poema no link
http://www.antoniomiranda.com.br/livros/poesia_e_ciberpoesia_imagens_em_
movimento.html
9
Veja o poema animado no site
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/poedigital/poedig001.htm
Bibliografia
HEIDEGGER, Martin. Chemin que ne mene a nule part. Paris: Gallimard, 1962.
MIRANDA,
Antonio.http://www.antoniomiranda.com.br/livros/poesia_e_ciberpoesia_imagen
s_em_movimento.html
PADIN, Clemente.
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/poedigital/poedig001.htm
Wellington Costa1
1
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE) e Mestre em Educação. Email: ms.wellington@gmail.com
REFERÊNCIAS
1
Mestre em Literatura e Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB).
Referências
O MESTRADO EM LETRAS
Capítulo de livros:
Artigo em periódico:
Dissertações e teses:
BITENCOURT, C. M. F. Pátria, civilização e trabalho: o ensino
nas escolas paulista (1917-1939). 1988. 256 f. Dissertação
(Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
Artigo em jornal:
BURKE, Peter. Misturando os idiomas. Folha de S. Paulo, São
Paulo, 13 abr. 2003. Mais!, p.3.
Documento eletrônico:
CD-ROM: