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A União Europeia é frequentemente criticada por ser um “gigante económico e um anão

político”. Como se manifesta este paradoxo e o que tem sido feito para o ultrapassar?

Bom dia a todos, hoje irei aqui apresentar o texto da autora Fabienne Bossuyt, “An
economic giant, political dwarf and militar worm? Introducing the concept of
“transnational power over” in studies of the EU’s power in IR, como resposta ao
facto da UE ser frequentemente criticada por ser um gigante económico e um anão
político. Contextualizando, esta referência da EU surgiu a partir de um discurso
feito pelo à data Ministro dos Negócios Estrangeiros da Bélgica em 1991 no âmbito
da resposta da EU à Guerra do Golfo e posteriormente reiterada sobre outros
assuntos.
A autora começa por desmistificar o facto da europa ser vista como um ator fraco,
em comparação com a predominância global dos EUA. Esta subestimação do poder
global da europa pode-se dever a 2 fatores: a predominância das teorias
neorrealista e neoliberal e das transformações estruturais do sistema global.
Primeiramente, estas 2 teorias são descartadas na leitura do poder europeu pois
excluem estruturas subjacentes que escondem a verdadeira natureza do sistema
internacional, tendo a teoria crítica um papel mais preponderante no estudo das
RI, permitindo aos investigadores descobrir dimensões escondidas da política
externa e também dar ênfase à sua diversidade e complexidade. Quanto às
transformações estruturais do sistema global, é algo que é levado ainda pouco em
conta na avaliação da política externa, sendo que a crescente complexidade e a
diversidade do SI face à globalização e interdependência, trouxe com ela um novo
leque de atores internacionais não estatais, que estabelecem relações de
cooperação uns com os outros tornando o exercício do poder cada vez mais difuso
e transnacional. Esta alteração estrutural do poder tornou também difícil a
distinção entre poder económico e poder político, o que atenta à inicial avaliação
da EU como um gigante económico e um anão político. As relações de poder entre
os países e regiões são cada vez mais determinadas pela sua força económica e
pela facilidade de penetração nos mercados. Até agora a globalização revelou-se
benéfica para a EU em grande parte graças à sua posição na economia mundial,
conseguida através da adaptação ao mercado mundial, mas também através do
próprio poder da EU em moldar este processo. Esta influência da EU a nível
económico representa um fator chave na persecução dos seus objetivos políticos e
na reconciliação dos interesses políticos e económicos. O poder estrutural atua
muito em função de influências, ou seja, a capacidade de um estado de influenciar
outro, seja através de relações entre pessoas, empresas ou outros atores. Ao longo
dos anos, a EU tem tentado estabelecer relações de cooperação com vários atores,
muitos deles fora de áreas económicas, incluindo organizações ligadas à migração,
direitos humanos, assistência ao desenvolvimento, demonstrando que a EU não
tenta apenas aplicar a sua influência no espectro económico, reforçando também a
sua consideração como ator de política externa difusor de valores.
No entanto, esta pretensão da união de querer projetar o seu modelo para outras
partes do mundo, tem gerado um certo ceticismo entre os observadores que
apontam para as potenciais imperial ou neocolonial implicações deste processo.
Este poder normativo pode ser interpretado e operado de diferentes formas,
apesar desta influência da EU poder limitar as escolhas dos outros, pode também
criar oportunidades que certos atores provavelmente não conseguiriam obter de
outra forma. Atualmente, a EU pode ser vista como uma hegemonia
principalmente a nível regional, tendo o poder de definir estes parâmetros
normativos e tendo alguns meios de projetar as suas visões internacionalmente. No
entanto, para determinarmos o verdadeiro raio de ação dos atores dominantes no
sistema internacional contemporâneo, temos de avaliar o poder pela forma que
toma estruturalmente. A política externa estrutural da EU almeja a transferência a
vários níveis de vários princípios ideológicos e governamentais que caracterizam o
seu sistema político, económico e social.
Este conceito de política estrutural é útil para a concetualização de TNPO, pois foca
nas várias estruturas que se relacionam entre si a nível securitário, social-
económico, e político-social. O TNPO capta o grau em que os atores no domínio
internacional são estruturalmente subordinados ou dependentes de um poder
dominante, sendo difícil para estes atores resistirem a iniciativas ou rejeitar ofertas
propostas pelo ator dominante. Esta framework (mostrar imagem) serve para
demonstrar como atores dominantes como a EU podem apoiar-se no seu TNPO na
negociação de acordos favoráveis. Este modelo estabelece uma relação de
complementaridade ou de dependência mútua entre poder relacional e poder
estrutural. Em termos de poder relacional, o TNPO da UE sobre um país ou região
em particular pode facilitar a sua capacidade de negociar e concluir um acordo
favorável. Nos termos estruturais, esses acordos determinam o contexto no qual
cada país opera e altera os parâmetros das suas ações. Este modelo pode ser usado
para examinar que extensão do modelo interno de integração a EU exporta através
de acordos internacionais ou determinar os termos de cooperação da união com
outros países nos campos da economia, educação, transportes ou energia, bem
como criar uma mais ampla fundação de valores comuns baseados no estado de
direito e direitos humanos.
Concluindo, esta visão da europa ser um gigante económico mas num anão político
ainda é adotada por muitos, devido ao raio de ação limitado que a união tem
enquanto ator internacional e pelo facto de ser feita muito em comparação com os
EUA. No entanto, como puderam notar, o texto vai precisamente contra a ideia
inicial, e o grande problema referido no texto é o facto de esta visão falhar
principalmente em contabilizar o forte poder estrutural da união. Este texto
também nos apresenta um novo conceito de poder, o TNPO (transnational power
over) adaptada às novas realidades da globalização e interdependência. O poder,
no âmbito internacional, envolve agora novos atores não estatais, difíceis de
observar e reconhecer, com dimensões pouco visíveis comparativamente às noções
tradicionais de poder, cabendo aos investigadores e cientistas das RI desapegarem-
se, como foi referido, de visões muito objetivas como o caso das teorias neoliberal
e neorrealista e procurarem alargar o seu campo de estudos para uma avaliação
mais correta e fidedigna do poder.

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