Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Maringá (1980), licenciatura em Matemática
pela Universidade Estadual de Maringá (1988), mestrado e doutorado pelo programa de pós‑graduação da Faculdade
de Ciências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, concluídos respectivamente em 2003 e 2009,
e é vinculada ao Grupo de Pesquisa em História Oral e Educação Matemática (GHOEM). É professora da Universidade
Paulista – UNIP, campus Bauru, desde 2003, ocupando atualmente a condição de titular.
CDU 51
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Sueli Brianezi Carvalho
Sumário
Teoria dos Números
Apresentação.......................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO CONCEITO DE NÚMERO..........................................................................11
1.1 Introdução.................................................................................................................................................11
1.2 Panorama cultural inicial....................................................................................................................11
2 Sensação numérica e a faculdade abstrata de contar................................................. 17
2.1 O conceito de número em outras culturas................................................................................. 18
2.1.1 Introdução.................................................................................................................................................. 18
2.1.2 Alguns sistemas de numeração......................................................................................................... 21
3 Como se escrevem os números........................................................................................................ 26
3.1 O sistema grego..................................................................................................................................... 27
3.2 O sistema romano................................................................................................................................. 28
3.3 Numerais hindu‑árabes...................................................................................................................... 29
3.4 A evolução da teoria dos números................................................................................................ 30
3.4.1 Antecedentes............................................................................................................................................. 30
3.4.2 Escola pitagórica...................................................................................................................................... 30
3.4.3 Aritmética pitagórica............................................................................................................................. 34
3.4.4 Os números figurados............................................................................................................................ 35
3.4.5 Ternos pitagóricos................................................................................................................................... 38
3.4.6 A descoberta das grandezas irracionais.......................................................................................... 40
4 Introdução..................................................................................................................................................... 41
4.1 Descrição de um conjunto................................................................................................................ 41
4.2 Pertinência entre elemento e conjunto....................................................................................... 51
4.3 Partes de um conjunto........................................................................................................................ 52
4.4 Operações sobre conjuntos............................................................................................................... 52
4.5 União de conjuntos.............................................................................................................................. 52
4.6 Intersecção de conjuntos................................................................................................................... 53
4.7 Diferença de dois conjuntos............................................................................................................. 54
4.8 Complementação de conjuntos...................................................................................................... 55
4.9 Relações.................................................................................................................................................... 56
4.9.1 Introdução.................................................................................................................................................. 56
4.9.2 Relação sobre um conjunto A............................................................................................................ 59
4.9.3 Relações de equivalência...................................................................................................................... 59
4.9.4 Classes de equivalência......................................................................................................................... 63
4.9.5 Relações de ordem.................................................................................................................................. 63
4.10 Representação posicional dos inteiros....................................................................................... 67
4.10.1 Introdução................................................................................................................................................ 67
4.10.2 Representação posicional dos naturais e inteiros.................................................................... 68
4.11 Números inteiros: propriedades gerais e aplicações............................................................. 69
4.11.1 Operações de adição e multiplicação............................................................................................ 69
4.11.2 Princípio do menor número inteiro................................................................................................ 71
Unidade II
5 MÉTODO DA INDUÇÃO, CONCEITOS DE DIVISÃO E NÚMEROS PRIMOS.................................... 76
5.1 Introdução................................................................................................................................................ 76
5.2 Princípio da Indução (PI).................................................................................................................... 76
5.3 Princípio forte da indução (PFI)....................................................................................................... 80
5.4 Múltiplos e divisores............................................................................................................................ 83
5.5 Algoritmo da divisão de Euclides.................................................................................................... 85
5.5.1 Representação de inteiros em uma base....................................................................................... 88
5.6 Números primos.................................................................................................................................... 95
6 Teorema fundamental da aritmética........................................................................................... 96
7 MAIOR DIVISOR COMUM E MENOR MÚLTIPLO COMUM; CONGRUÊNCIAS
MÓDULO m EM Z; ARITMÉTICA MODULAR; EQUAÇÕES DIOFANTINAS........................................ 97
7.1 Introdução................................................................................................................................................ 97
7.2 Maior divisor comum (MDC)..........................................................................................................101
7.3 Mínimo múltiplo comum – MMC.................................................................................................104
7.4 Congruências módulo m em Z – aritmética modular..........................................................105
7.4.1 Introdução................................................................................................................................................105
7.4.2 Congruências...........................................................................................................................................105
7.4.3 Aritmética modular (aritmética módulo m)...............................................................................113
8 Equações diofantinas........................................................................................................................... 114
8.1 Introdução.............................................................................................................................................. 114
8.2 Equações diofantinas lineares (a duas incógnitas)................................................................ 114
8.3 Equações diofantinas lineares (a três incógnitas)................................................................. 117
Apresentação
Caro aluno, esta apresentação tem a função de expor de forma mais elaborada os objetivos da
disciplina Teoria dos Números e sua vinculação com o projeto pedagógico e político do curso. É uma
perspectiva que defende não ser concebível estudar qualquer disciplina de uma licenciatura como algo
estanque, sem vinculação pedagógica com disciplinas específicas e muito menos utilizá‑la como mero
atrativo inicial para conteúdos específicos. Esse texto tem, sobretudo na primeira unidade, a preocupação
de apresentar uma forma de orientação aos futuros profissionais docentes em uma perspectiva que
busca a construção de conceitos teóricos e uma discussão sobre a formação de conceitos empíricos a
que os métodos didáticos da moda têm induzido. Além disso, o objetivo aqui proposto é sistematizar
o conhecimento que a humanidade acumulou nesta área, mas sem perder de vista as análises dos
contextos social, histórico e cultural que proporcionam a possibilidade de compreensão da ciência de
modo mais abrangente e, em consequência, uma ação política mais efetiva na esfera da educação.
Outra perspectiva que este texto tem como premissa é o fato de ele ter sido elaborado para um
curso de educação a distância. Esse é um posicionamento importante, uma vez que estabelece um
ambiente de aprendizagem diferente daquele utilizado pelo ensino presencial e, portanto, tem exigências
diferenciadas.
Essa modalidade de educação caracteriza‑se por ser uma prática educativa que exige do estudante,
mais do que em outra modalidade, construir conhecimentos e participar efetivamente de seu próprio
crescimento. Esse modelo implica, obviamente, um processo de ensino próprio, uma vez que modifica,
ou mesmo suprime, o físico e a estrutura do ensino presencial. Assim, a função docente sofre um
deslocamento, seu papel é descentralizado e a forma de atenção ao aluno está mais próxima do que se
entende por pesquisa em meios acadêmicos. É um novo formato de ensino‑aprendizagem na graduação,
no qual os estudantes, assim como aqueles que se iniciam em pesquisas acadêmicas, devem aprender
a estudar sozinhos, buscar informações com base em indicações do docente responsável pelo curso
(orientador) e serem capazes de fazer inferências na produção do seu conhecimento.
Introdução
Em Eves (2004), foram introduzidos textos intitulados “Panoramas Culturais” com o objetivo de que
o leitor aprenda que a matemática se desenvolveu de acordo com condições e necessidades históricas.
Acredito que esta ressalva seja importante porque há na sociedade uma visão arraigada – e inúmeros
trabalhos acadêmicos comprovam isso – de que a abordagem defendida pela imensa maioria dos
professores de matemática (conscientemente ou não) é a abordagem internalista, que privilegia somente
o conhecimento (do ponto de vista interno) da própria matemática. No entanto, os professores, mesmo
defendendo à exaustão alguns pontos de vista (inclusive o internalista), têm uma vida que transcende a
defesa de seus pontos de vista sobre a matemática.
Suas vidas em família, a relação com seus companheiros e filhos, com colegas de profissão, com
amigos e parentes, acrescentam fatos novos ao que se sabe das relações individuais com a categoria
docente e com a sociedade. Todos esses aspectos permitem uma reflexão sobre os condicionantes de
práticas pedagógicas, o que coincide com a proposta do dispositivo estratégico de Foucault, segundo o
7
qual não se deve interrogar o discurso do outro segundo a ideologia no qual se inscreve: o discurso é
muito mais. O discurso é o que se deve apreender a partir de posições assumidas, da fala, das práticas
cotidianas e profissionais que denunciam os efeitos recíprocos do par saber‑poder e a sua integração
estratégica na conjuntura de correlação de forças nos diversos confrontos produzidos na reprodução
da vida (Bernardes, 2009). E, dentro dessa perspectiva, a matemática é uma forma de discurso e o
panorama cultural da humanidade avaliza essa perspectiva.
Como este texto foi produzido para a modalidade EaD, as leituras indicadas estão em sua maioria
disponíveis on‑line. Essa preocupação está relacionada ao fato de alguns alunos da Unip Interativa
serem de regiões onde o acesso a determinados materiais impressos é difícil. Porém, isso não os isenta
do compromisso de fazer pesquisas de materiais pertinentes à área de interesse das disciplinas em
bibliotecas locais.
A divisão desse livro‑texto em duas unidades (e seus subtópicos), conforme o leitor poderá aferir
no sumário, foi uma arbitrariedade da autora, já que o conteúdo aqui apresentado se desenvolveu
de acordo com condições e necessidades históricas, ou seja, sua produção não foi linear e nem suas
descobertas estiveram sempre relacionadas. Isso se deve ao fato de a história da matemática ser caótica,
muitas vezes completamente anônima. Essa ressalva é importante porque nunca é demais lembrar que
o desenvolvimento das diversas áreas da matemática nem sempre esteve pautado pela racionalidade e
pelo modo defendido pelo positivismo, como assim defendem Bicudo & Garnica (2001):
Outro aspecto que deve ser mencionado com clareza nesta introdução é a identificação da perspectiva
a partir da qual foi desenvolvido este texto: ele está atrelado ao projeto pedagógico do curso, formador
de professores em matemática. Porém, entrelaçada a essa diretriz fornecida pela instituição está a
perspectiva atual da comunidade de educadores matemáticos. Na introdução do livro de Bicudo &
Garnica (2001), há uma observação que nos mostra a complexidade atual do fazer docente, daqueles
profissionais que trabalham tanto com pesquisas quanto com o ensino da matemática:
Essa forma de pensar caracteriza‑se por ser analítica, crítica, reflexiva e abrangente e, segundo a
perspectiva aqui defendida, o caro leitor precisa desenvolver ferramentas para a gestação do futuro
8
professor e, com essa iniciativa, obter a liberdade de propor ações, intervenções e decisões em seu
ambiente formativo e, posteriormente, profissional. É dessa forma que é possível contribuir efetivamente
para o conhecimento do mundo cultural, científico, tecnológico, religioso, artístico, enfim, do mundo
humano. Deverá analisar também a função do mecanismo que normalmente liga os estudantes e
professores às crenças fortemente arraigadas ao pensamento dos dois grupos de que a matemática é
independente do humano, portanto, independente dos âmbitos cultural e social. É uma pesquisa que
sugere analisar e refletir propostas e ações educacionais nos diferentes contextos em que ocorrem. O
futuro professor, ao educar o olhar sob essa perspectiva, não só terá condições de observar a escola, mas
buscar a finalidade e a intenção dos procedimentos na área de educação.
9
Teoria dos números
Unidade I
1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO CONCEITO DE NÚMERO
1.1 Introdução
O estudante que já cursou a disciplina História da Matemática foi alertado para a tendência das novas
gerações a negligenciar as manipulações conscientes ou inconscientes que o interesse, a afetividade,
o desejo, a inibição e a censura exercem sobre a memória individual e, consequentemente, refletem
na memória coletiva. Daí a necessidade de sempre se renovar o alerta para a importância do contexto
histórico, mas não como mero atrativo inicial para conteúdos específicos.
Quando o interesse é pela história da matemática, normalmente se arbitra seu início em função
de outra arbitragem que é a divisão da história da humanidade em intervalos (Idade da Pedra, Idade
Média, etc.). Para tanto, a opção é o início da narrativa a partir da Idade da Pedra e do movimento dos
primeiros povos. Segundo Eves (2004) não é possível precisar ao certo tanto o início quanto o final da
Idade da Pedra. Algumas culturas persistiram na Idade da Pedra em algumas partes do mundo até o
século XIX ou XX. Apenas por uma convenção histórica, situa‑se o fim dessa fase aproximadamente
em 3000 a.C., quando no Oriente Médio, na Índia e na China apareceram cidades com culturas capazes
de fundir metais. Desse período o que se pode apreender de importante é a mudança de estilo de vida
dos primeiros povos, face aos problemas climáticos e à escassez do tipo de alimento ao qual estavam
acostumados.
Eves (2004) faz uma observação curiosa que, no contexto de um curso de licenciatura, vale a pena
ser comentada:
[...] Ou se deve recuar ainda mais no tempo e iniciar com os primeiros esforços Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
11
Unidade I
O comentário do autor é interessante porque ele reitera uma perspectiva que não pode passar
despercebida ao futuro professor e deve ser explorada em contextos de ensino e aprendizagem
fundamentais: a matemática é uma criação humana e a forma como ela é apropriada difere conforme o
contexto em que é utilizada. A ideia é mostrar aos estudantes imagens como as apresentadas a seguir e
incentivar uma problematização a respeito delas. Ou seja, as relações de diferentes áreas da matemática,
perceptíveis aos alunos, já existiam ou os seres humanos as criaram para descrever a natureza? A
matemática tem origem divina? Nas condições atuais, a escola perpetua a condição de disseminadora
da forma de apropriação de conhecimentos organizados segundo a lógica formal. Uma reelaboração
possível de métodos em relação à escola usual é propiciar oportunidades de análise dos conteúdos como
proposta aos estudantes, levando‑os à formação de pensamento teórico.
Figura 1
Amor
Earth 2
1
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
0
–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 6
Aten
–1 Apollo
–2
–3
–4
12
Teoria dos números
Por isso, é desejável que todo material didático de uma licenciatura considere as conclusões de
Davýdov & Márkova (1987), ao analisarem o trabalho desenvolvido pela psicologia pedagógica soviética.
Esses autores acreditam ter base para afirmar que a atividade de estudo, em relação às capacidades e
hábitos de estudo, necessita de uma sistematização que não se encerre quando os estudantes finalizam
um ciclo escolar. Ou seja, que os conteúdos de cada disciplina sejam articulados para formar estudantes
que buscam ampliar as perspectivas limitadas – em decorrência do tempo disponível, do número de
alunos e do próprio conteúdo programático – de salas de aulas.
El criterio cualitativo para juzgar los resultados del estudio son la generación
Os povos da Idade da Pedra eram nômades e viviam da caça de pequenos animais selvagens, das
frutas, castanhas e raízes, segundo Eves (2004). Habitavam, em geral, porções menos inóspitas da África,
sul da Europa, sul da Ásia e América Central. A sociedade e a cultura dessa época, como em todas as
outras épocas históricas, adaptaram‑se a um mundo em transição. Inicialmente, em decorrência do
estilo de luta pela sobrevivência ser muito difícil, as pessoas viviam demasiadamente ocupadas para se
aterem aos problemas científicos e intelectuais. No entanto, no decorrer do período, afastaram‑se de um
tipo de economia centrada no caçar e colher para outra que envolvia modos primitivos de agricultura
e domesticação de animais. As mudanças climáticas obrigaram os homens e mulheres a se adaptarem
a um ambiente progressivamente hostil e seguir os animais em fuga para lugares com condições para
todas as formas de vida. No entanto, nesses lugares, a densidade populacional tornara‑se alta demais
para que as pessoas sobrevivessem como caçadores ou colhedores. Emergem, assim, após 3000 a.C.,
comunidades agrícolas densamente povoadas ao longo do rio Nilo na África, dos rios Tigre e Eufrates
no Oriente Médio e ao longo do rio Amarelo na China, nas quais a ciência e a matemática começam a
se desenvolver.
Observação
Essa espécie de “revolução agrícola”, observa Eves (2004b), criou novas necessidades, tais como
o desenvolvimento da engenharia em construções de sistemas de barragens e irrigações e também
registros das estações das chuvas e das enchentes e traçados de mapas que especificavam as valas de
irrigação. Segundo o autor, “os agricultores rezavam aos deuses para que as cheias e as chuvas pudessem
vir conforme as tabelas e, no processo, observavam o movimento das estrelas. Todas essas atividades
deram origem a novas classes de homens educados: sacerdotes, escribas e astrólogos” (Ibidem, p. 53). No
interior desses agrupamentos, fixados em cidades sem precisar se deslocar atrás de alimento, surgiram
pessoas – reis, sacerdotes, mercadores e escribas – que tinham tempo para ponderar sobre os mistérios
da natureza e da ciência.
14
Teoria dos números
Para Le Goff (1998) uma das funções essenciais de uma cidade é a informação...
Assim, afirma Eves (2004, p. 57), a ênfase da matemática primitiva ocorreu na aritmética e na
mensuração, como uma ciência prática para assistir a atividades ligadas à agricultura e à engenharia.
Essas atividades necessitavam de uma forma de cálculo para um calendário utilizável, o desenvolvimento
de um sistema de pesos e medidas para ser empregado na colheita, no armazenamento e na distribuição
de alimentos, a criação de métodos de agrimensura para a construção de canais, reservatórios e para
dividir a terra, e a instituição de práticas financeiras e comerciais para o lançamento e a arrecadação
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
de taxas para propósitos mercantis. No entanto, foi nesse contexto, todavia, que se desenvolveram
tendências no sentido da abstração e, até certo ponto, passou‑se então a estudar a ciência por si mesma.
Assim, a álgebra evolveu‑se no fim da aritmética e a geometria teórica originou‑se da mensuração,
conclui o autor.
com a história das necessidades e preocupações de grupos sociais, Ifrah (1996) considera sua história
completamente anônima, apesar da sua importância. Feita por e para as coletividades, ela não concedeu
certificados, apenas alguns nomes são conhecidos, mas mesmo assim de pessoas que transmitiram,
exploraram, comentaram algarismos e sistemas de numeração. Mas sobre os próprios autores, observa
o autor, as informações estão certamente perdidas para sempre. Talvez porque algumas invenções
remontem a uma antiguidade muito mais remota do que se supõe ou porque foram feitas por homens
relativamente humildes a quem a história não deu direito a registro, conclui.
Mas estas descobertas nunca estão para sempre asseguradas: uma civilização
se apaga, a dos babilônios ou a dos maias, e, junto com sua casta de
sacerdotes rigorosamente recrutados, é um pouco da técnica dos números
que desaparece, toda uma invenção a refazer. Trata‑se, pois, de uma história
caótica e tumultuada, cheia de avanços fulgurantes e de recaídas, em que
o passo incerto, errático, feito de tentativas e de erros, de impasses, de
esquecimentos e de renúncias da espécie humana, parece (para nós, que
conhecemos seu coroamento, pelo menos em relação a esse ponto) com o
de um bêbado (IFRAH, 1996, p. 11).
Segundo Ifrah (1996, p. 12), a invenção dos algarismos é anterior à escrita e estes estiveram
relacionados no decorrer da história com o pensamento místico e religioso do homem. A lógica não foi,
assim, o fio condutor da história da matemática. Foram as preocupações de contadores, mas também
de sacerdotes, de astrônomos‑astrólogos e somente em último lugar de matemáticos, que presidiram à
invenção e à revolução dos sistemas de numeração.
Muitos nomes de números, notações e símbolos distintos existiram ao longo da história da humanidade,
mas apenas alguns acabaram por ter influência na civilização ocidental, daí serem denominados de
“berços da civilização” as regiões agrícolas do Oriente Médio, China e Egito. À revolução agrícola
precederam formas de governo mais complexas, que necessitaram de novas realizações intelectuais.
16
Teoria dos números
Apesar de, segundo Conway & Guy (1999), a mais antiga ocorrência conhecida de numerais é talvez
a que aparece nas tábuas de argila dos sumérios, que datam da primeira metade do 3º milênio a.C. – o
sistema sumério foi posteriormente adotado pelos babilônios –, foram os problemas políticos e sociais
que fizeram aparecer nos séculos de 600 a 600 a.C. o emprego do raciocínio dedutivo em matemática
com Tales de Mileto (640?‑564? a.C.) e Pitágoras (586?‑500? a.C.) e a lógica foi sistematizada num
tratamento de Aristóteles (EVES, 2004b).
Saiba mais
Segundo Ifrah (1996), é importante diferenciar a forma como o número é concebido por diferentes
grupos humanos. Nem sempre se é capaz de conceber qualquer número abstrato. Inúmeras hordas
“primitivas”, observa o autor, como os zulus e os pigmeus da África, os aranda e os kamilarai da
Austrália, os aborígenes das ilhas Murray e os botocudos do Brasil percebem o número de modo um
tanto qualitativo. O número se reduz para esses grupos a uma “pluralidade material” e assume o aspecto
de uma realidade concreta indissociável da natureza dos seres e objetos em questão. O traço comum
de diferentes agrupamentos de possuírem a mesma quantidade de objetos, tais como cinco carneiros,
cinco árvores, reduz‑se a uma espécie de capacidade natural chamada de “percepção direta do
número” ou “sensação numérica”. Expressões tais como “muito”, “vários” são utilizadas para caracterizar
agrupamentos, em verdade, avaliá‑los. Essa aptidão natural não pode ser confundida com a “faculdade
abstrata de contar” que diz respeito a um fenômeno mental mais complicado e constitui uma aquisição
relativamente recente da inteligência humana. Essa capacidade humana está relacionada às funções
psíquicas superiores que possibilitam o interno estar em unidade com os meios externos de pensamento
(linguagem conceitual, esquemas simbólicos, gráficos, algoritmos, entre outros).
Determinadas espécies animais também são dotadas de um tipo de percepção direta dos números.
Em alguns casos, são capazes de reconhecer as modificações de conjuntos numericamente reduzidos. No
entanto, é curioso notar que as faculdades humanas de percepção direta dos números não ultrapassa a
de certos animais, pois não vão além do número quatro. Para que o ser humano pudesse progredir no
universo dos números, observa Ifrah (1996), foi necessário que certos procedimentos mentais fossem
agregados à sensação numérica inata.
Saiba mais
2.1.1 Introdução
Domingues (1998) inicia sua preleção sobre alguns sistemas de numeração existentes a partir da
necessidade das sociedades em desenvolvimento.
1
El concepto de “desarrollo de las funciones psíuquicas superiores” y el objeto de nuestro estudio abarcan
dos grupos de fenómenos que a primera vista parecen completamente heterogéneos pero que de hecho son dos ramas
fundamentales, dos cauces de desarrollo de las formas superiores de conducta que jamás se funden entre sí aun que están
indisolublemente unidas. Se trata, em primer lugar, de processos de dominio de los medios externos del desarrollo cultural y
del pensamiento: el lenguaje, la escritura, el cálculo, el dibujo; y, en segundo, de los procesos de desarrollo de las funciones
psíquicas superiores especiales, no limitadas ni determinadas con exactitud, que en la psicología tradicional se denominam
atención voluntária, memoria lógica, formación de conceptos, etc. Tanto unos como otros, tomados en conjunto, forman
lo que calificamos convencionalmente como procesos de desarrollo de las formas superiores de conducta del niño.
18
Teoria dos números
A escolha de uma base, segundo o autor, esteve sempre relacionada, de algum modo, ao conjunto
tomado como referência em relação ao qual todos os demais são relacionados. O sistema de base 10,
segundo Aristóteles, é decorrente da relação com os dez dedos das mãos. Inclusive, afirma Domingues
(1998), o vocábulo dígito (usado para indicar qualquer dos algarismos de 0 a 9) é originário do termo
latino dígitos, que significa dedo.
A história dos números propicia um instrumento interessante para que o futuro professor questione
qual o tipo de generalização a escola atual tem possibilitado aos estudantes. Em uma pesquisa que
busca justamente um encaminhamento para essa questão Magagnato (2011) faz uso de Sforni (2004)
para apresentar o quadro atual da escola, a partir da análise do tipo de pensamento que o conteúdo
escolar permite ao aluno desenvolver. A autora baseia‑se então na possibilidade de que a forma do
19
Unidade I
exemplo disso está, inclusive, explícito nos objetivos propostos por muitos
planejamentos: identificar, reconhecer, nomear, classificar, citar... Ao aluno
resta a tarefa de “fixar” ou reconhecer atributos dentro de um âmbito
previamente definido (PALANGANA, GALUCH & SFORNI, apud SFORNI,
2004, p. 50).
Magagnato (2011) utiliza Davýdov (1982) para caracterizar o conceito de generalização que
correntemente é utilizado na psicologia e didática tradicionais. Ou seja, a generalização consiste,
num primeiro momento, em um processo e, em outro, em um resultado. É caracterizada pela busca
do comum e a nomeação de certos invariantes num determinado conjunto de objetos. Depois,
com os invariantes destacados, identificam‑se os objetos como pertencentes ou não à classe
dada. A generalização leva a separar traços comuns e, portanto, gerais. No entanto, a abstração só
ocorre quando se destaca um traço geral invariante de outros variáveis. “O conhecimento do geral,
sendo resultado do ato comparativo e de sua fixação no signo constitui algo sempre abstrato, não
concreto, imaginável” (DAVÝDOV, 1982, p. 17 apud MAGAGNATO, 2011, p. 40). Logo, o processo
da generalização depende inicialmente da realização do ato de comparação dos elementos de
um determinado conjunto de objetos diversos e variados, desconsiderando outras qualidades e
tomando apenas o que é invariável e fixando‑o com um signo (palavra, desenho gráfico etc.).
A partir dessa etapa, o estudante poderá identificar certo objeto com uma determinada classe
devido a algum atributo comum. No entanto, observa a autora, pode ocorrer nesse processo uma
imprecisão na aquisição do conceito se tomado como traço substancial aquele que é secundário.
O geral é algo invariante que se repete na diversidade de um grupo de objetos, mas nem sempre
é substancial, pois o traço substancial é aquele que representa algo necessário, inseparável de um
objeto, indispensável para seu estudo. Mas essa observação, por hora, não faz parte do que está
sendo tratado. O que é proposto no momento ao futuro professor é a tarefa de idealizar atividades
com objetos diversos, adequados para seus futuros alunos utilizarem no processo da comparação
e separação dos traços comuns entre eles para o entendimento da ideia de base proposta por
Domingues (1998):
[...]certo número natural b>1 é escolhido como base; isso significa que
um agrupamento de b unidades simples (de primeira ordem) forma uma
unidade de segunda ordem, um agrupamento de b unidades de segunda
ordem forma uma unidade de terceira ordem, e assim por diante (no nosso
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
sistema, por exemplo, dez unidades formam uma dezena, dez dezenas uma
centena, dez centenas um milhar, etc.); são atribuídos nomes e símbolos
especiais para 1, 2, ..., b (ou 0, 1, 2, ..., b‑1, se o zero é conhecido) e, às
vezes, para b2, b3, ...; os nomes e os símbolos para os demais números são
construídos a partir daqueles já introduzidos, mediante regras convenientes
(DOMINGUES, 1998, p. 3).
Para que o leitor se situe melhor nessa observação de Domingues (1998), vamos citar como exemplo
duas representações possíveis do número 446. Segundo a base decimal, ele pode ser representado por
seis unidades, quatro dezenas e quatro centenas, ou seja, 4.102 + 4.10 + 6. Segundo a base 8, seria 6.82
+ 7.8 + 6. Dessa forma, pode‑se afirmar que (446)10 = (676)8..
20
Teoria dos números
O leitor percebeu que (446)10 = (676)8 correspondem aos coeficientes das bases utilizadas?
4.102 + 4.10 + 6
(4 4 6)10
Da mesma forma:
6.82 + 7.8 + 6
(6 7 6)8
Nesta unidade, está se tratando mais dos aspectos históricos da construção do conhecimento
matemático sistematizado atual. Em unidade posterior será retomado o assunto bases de numeração
na representação dos números inteiros.
21
Unidade I
Com o passar do tempo, foram desenvolvidas mais duas formas para a escrita: a hierática e a demótica.
A hierática foi usada pelos sacerdotes em textos sagrados e era uma escrita cursiva, geralmente gravada
em papiro, madeira ou couro. A demótica era uma forma simplificada de escrita, usada para as situações
de comércio e situações gerais do dia a dia.
22
Teoria dos números
23
Unidade I
Desta forma, Boyer (2003) comenta que a numeração hieroglífica egípcia foi facilmente
decifrada. Pelo menos tão antigo quanto as pirâmides e datando de cerca de 5000 anos atrás, o
sistema baseava‑se na escala de dez. Para a representação numérica, tinham símbolos em hieróglifos
e em hierático:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 11 – Hieróglifos
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 12 – Hierático
O sistema de numeração dos egípcios baseava‑se em sete números‑chave: 1, 10, 100, 1.000,
10.000, 100.000 e 1.000.000. Todos os outros números eram escritos combinando os números
chave.
24
Teoria dos números
Esses símbolos eram colocados lado a lado e repetidos até nove vezes. Por exemplo, o número 1.242
seria escrito da seguinte forma:
Figura 14
Como já foi dito, o sistema usado era o decimal, ou seja, cada dez símbolos eram trocados por um
símbolo de ordem superior, mas não era posicional: cada símbolo não tinha um valor relativo, ou seja,
um valor que dependia da sua posição dentro do número. Não havia um símbolo para o zero. Os sistemas
de numeração tinham por objetivo prover símbolos e convenções de agrupamento desses símbolos de
forma a registrar a informação quantitativa e poder processá‑la.
Ainda segundo Boyer (2003) as inscrições egípcias revelam familiaridade com grandes números
desde tempos remotos. Os egípcios eram precisos no contar e no medir e, em razão disso, as pirâmides
foram construídas com alto grau de exatidão e orientação.
Já os babilônios, segundo Boyer (2003), usavam um sistema numérico sexagesimal, isto é, com
base no número 60. Os assuntos matemáticos que se apresentam nos tabletes vindos da Mesopotâmia
são: o sistema de numeração sexagesimal e as tábuas trigonométricas Ainda, o sistema de numeração
usado variava entre o posicional, o decimal e o sexagesimal e a base 60 era apropriada principalmente
para o cálculo com frações, por conta dos divisores naturais de 60: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20, 30, 60.
Segundo o autor, especula‑se que o sistema sexagesimal teve origem provavelmente na astronomia,
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
especificamente na contagem do tempo, isto é, na divisão do tempo em horas, minutos e segundos.
O sistema seria originário da junção de dois sistemas mais antigos: o decimal e outro de base seis.
No entanto, considera mais provável que a base de 60 unidades tenha sido adotada e legalizada
no interesse da metrologia, uma vez que uma grandeza de 60 unidades pode ser mais facilmente
subdividida em metades, terços, quartos, quintos, sextos, décimos, dozeavos, quinzeavos, vigésimos
e trigésimos, fornecendo assim dez subdivisões. Eves (2004) informa que, mesmo nas tábuas mais
antigas, o sistema sexagesimal posicional já estava estabelecido. Muitos dos textos dos primeiros
tempos mostram a distribuição de produtos agrícolas e de cálculos aritméticos baseados neste sistema.
Apesar da forma fundamentalmente decimal das sociedades atuais, esse sistema ainda permanece
nas unidades de tempo e angulares.
25
Unidade I
Nascimento & Feitosa (2009) observam que sistemas de representação dos números por uma base são
denominados de sistemas posicionais. Os autores chamam a atenção para que em decorrência da utilização
do sistema posicional sexagesimal (com 60 unidades) pelos astrônomos babilônios, ainda utilizamos, por
exemplo, a divisão da hora em 60 minutos, minutos em 60 segundos e a medida da circunferência em 3600.
Saiba mais
<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/algarismos/
introducao.htm>. Acesso em: 8 dez 2011.
Como já foi comentado e é reintegrado por Conway & Guy (1999), os babilônios utilizavam um
sistema de escrita cuneiforme (do latim cuneus, cunha), que utilizava símbolos que variavam de
26
Teoria dos números
significado conforme sua posição, constituindo‑se, assim, no primeiro exemplo de escrita posicional.
No entanto, eles não dispunham de zero, o que tornava a escrita confusa. A notação posicional não foi
utilizada nos sistemas grego e romano, só reaparecendo mais tarde em nosso próprio sistema com a
notação hindu‑árabe.
Segundo Conway & Guy (1999), desde o século V a.C., aproximadamente, os gregos usavam a
notação da figura abaixo.
1 10 100
α ι ρ
2 20 200
β k σ
3 30 300
γ λ t
4 40 400
δ µ υ
5 50 500
e ν φ
6 60 600
ς ξ χ
7 70 700
ζ Ο Ψ
8 80 800
η π ω
9 90 900
θ ϙ Ϡ
Saiba mais
<http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/hm/page03.htm>. Acesso
em 08 dez. 2011.
27
Unidade I
Os numerais romanos, segundo Conway & Guy (1999), foram os únicos utilizados em toda a Europa
durante mais de um milhar de anos. O sistema derivou do sistema etrusco.
I V X L C D M
1 5 10 50 100 500 1000
Figura 17 – Ainda hoje se utilizam os numerais romanos em mostradores de relógios, datas de monumentos, documentos etc.
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
Os mercadores europeus sentiram dificuldade na transição deste sistema para o sistema árabe na
época medieval. No início da transição, observam Conway & Guy (1999), eram comuns erros, resultado
da mescla dos dois sistemas, tais como:
28
Teoria dos números
M5Oiv = 1504
Segundo esses autores, os numerais escritos com letras minúsculas apareceram também na época
medieval, e atualmente ainda são utilizados na enumeração das subseções de uma lista de itens ou na
numeração das páginas preliminares de um livro.
O sistema de numeração atual, no qual se formam os números por justaposição dos dez dígitos,
0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, é quase sempre denominado de notação árabe, porque aos árabes se atribui
sua divulgação pelo mundo no século VII. No entanto, observa Conway & Guy (1999), sua origem é
hindu. O valor de um dígito nesse sistema depende da sua posição nele, o que torna indispensável a
existência de um símbolo para o zero. Como foi dito acima, os babilônios debateram‑se com a falta
desse símbolo. Com os hindus, o zero ganhou o status de número, uma vez que, até então, mesmo entre
os gregos do período alexandrino, ele era usado apenas para indicar “ausência”, observa Domingues
(1998). Aliás, a respeito da importância desse símbolo, Ifrah (1996, p. 11) faz uma observação curiosa, Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
que remete à história do desenvolvimento da matemática estar repleta de criadores anônimos: “O
inventor do zero, escriba meticuloso e preocupado em delimitar um lugar numa série de algarismos
submetidos ao princípio de posição, provavelmente nunca teve consciência da revolução que tornava
possível”.
Coube também aos hindus, observa Domingues (1998), a introdução na matemática dos números
negativos. Mas o objetivo ainda era de indicar débitos. O primeiro registro do uso de números negativos
de que se tem notícia remete ao matemático e astrônomo hindu Brahmagupta (598?), que já conhecia
as regras para as quatro operações com esses números.
29
Unidade I
Bhaskara (século XII), outro matemático e astrônomo hindu, teve importante participação na
construção do conhecimento sobre os números negativos, com suas observações de que um número
positivo tem duas raízes quadradas, uma negativa e outra positiva, e sobre a impossibilidade de se extrair
raiz quadrada de um número negativo.
Apesar da importância da participação dos hindus na introdução do uso dos números negativos, eles
não tinham nenhuma preocupação teórica. Na verdade, ressalva Domingues (1998), os progressos iniciais
matemáticos verificados na Índia ocorreram quase por acaso e em boa parte devido ao descompromisso
com o rigor e a formalidade. Ainda, segundo o autor, o processo de aceitação e entendimento dos
números negativos foi longo:
3.4.1 Antecedentes
Com os gregos, mais ou menos a partir do século VI a.C., a matemática perdeu muito do seu caráter
empírico, baseado somente na observação e experimentação, e a produção de seu conteúdo passou a
ser pautada na análise da realidade a partir da razão, como instrumento na busca da verdade. Segundo
Domingues (1998), no que tange à matemática, essa postura se consubstanciou na ênfase dada ao
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
método dedutivo a partir de axiomas anunciados a priori. Novas diretrizes, como a organização lógica e
o caráter abstrato que a matemática grega adquiriu em sua primeira fase (mais ou menos do século VI
a.C. à morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C.), deram‑se pela proximidade com as escolas filosóficas.
Tales de Mileto (século VI a.C.), filósofo, talvez, conclui o autor, tenha sido o primeiro a formular
propriedades gerais sobre figuras geométricas, desvinculadas do real.
Segundo Domingues (1998), na juventude, Pitágoras esteve por muito tempo no Egito, na Índia e
na Mesopotâmia, onde, a par da matemática, absorveu muito do misticismo existente. Aos 40 anos,
fundou um misto de escola e comunidade religiosa, em que coexistiam os estudos referentes à filosofia,
30
Teoria dos números
Proporções
De acordo com Boyer (2003), é possível que Pitágoras tenha conhecido na Mesopotâmia as três
médias: a aritmética, a geométrica e a subcontrária (posteriormente denominada harmônica) e, ainda,
a proporção áurea, que relaciona duas delas: “o primeiro de dois números está para a sua média
aritmética como a média harmônica está para o segundo” (Ibidem, p. 38). Acredita‑se que os pitagóricos
expandiram esse conhecimento posteriormente, mas não é possível precisar a data de listagem das dez
possibilidades de médias, como apresentada a seguir.
Se b é a média de a e c, sendo a menor do que c, então as três quantidades estão relacionadas por
uma das equações:
31
Unidade I
Segundo Eves (2004) admite‑se geralmente que os primeiros passos no sentido de desenvolvimento
da teoria dos números e, ao mesmo tempo, do lançamento das bases do futuro misticismo numérico,
foram dados por Pitágoras e seus seguidores movidos pela filosofia da fraternidade. O distintivo da
irmandade pitagórica era o pentagrama estrelado, formado pelas cinco diagonais de um pentágono
regular. Cada um dos cinco lados do pentagrama estrelado divide em secção áurea cada um dos dois
lados do pentagrama que ele intercepta.
A secção áurea é denominada também de número de ouro, razão áurea ou segmento áureo. Esse
número é simbolizado pela letra f, inicial de Fídias, escultor grego que o utilizou em suas obras, ou por τ
(tau). O número de ouro é obtido da seguinte maneira: quando uma linha de um segmento é dividida em
duas partes, de tal modo que a razão entre o segmento inteiro e a parte maior seja igual à razão entre
a parte maior e a parte menor, essa relação é chamada relação áurea e o número obtido é o número de
ouro.
Utilizando a definição dada para razão áurea, ou seja, quando uma linha de um segmento é dividida
em duas partes, de tal modo que a razão entre o segmento inteiro e a parte maior seja igual à razão
entre a parte maior e a parte menor, essa relação é chamada relação áurea e o número obtido é o
número de ouro. Portanto, vamos considerar o seguinte segmento:
m+n
n
m
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
temos:
m+n m
=
m n
Ao desmembrar a primeira parte da equação, temos:
m n m
+ =
m m n
n m
1+ =
m n (1)
32
Teoria dos números
Denominando, assim:
m
=f (2)
n
Obtém‑se, reciprocamente:
n 1
= (3)
m f
Ao substituir as duas últimas relações (2) e (3) em (1), tem‑se:
1
1+ = f
f
f +1
=f
f
f + 1 = f2
f2 – f – 1 = 0
1± 5
f=
2
1 + 2.23607
f=
2
f = 1,618034
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
1
Ainda, quando se quer obter o segmento áureo de outro segmento dado, basta multiplicá‑lo por
f
e, quando se quer obter um segmento qualquer onde é conhecido o segmento áureo, basta multiplicá‑lo
por f=1,618034 (número de ouro).
33
Unidade I
de “aritmética”, dos cálculos práticos, que denominavam “logística”. Muito dos conhecimentos da
matemática pitagórica foi reunido, informa Domingues (1998), nos Elementos, de Euclides (c. 300
a.C.): uma obra em 13 livros, abarcando a matemática elementar da época. Nessa obra, é atribuída aos
pitagóricos a distinção entre números pares e ímpares, a divisão de números em primos e secundários
(compostos) e, provavelmente, também era descoberta deles, o número perfeito (“números que é
igual à soma de suas partes).
Observação
Os números classificados como triangulares são os que formam triângulos equiláteros. Seja Tn o
n‑ésimo número triangular. Então:
T1 = 1
T3 = 3 + (2 + 1) = 6
T4 = 4 + (3 + 2 + 1) = 10
n(n + 1)
Tn = Tn−1 + n = (1 + 2 + 3 + ... + n) + n =
2
n(n + 1)
Tn =
2
35
Unidade I
Assim, esquematicamente:
T1 = 1 T2 = 3 T3 = 6
T4 = 10 T5 = 15 T6 = 21
n (n + 1)
Tn =
2
Os números classificados como quadrados são os que formam quadrados perfeitos. Seja Qn o n‑ésimo
número quadrado. Então:
36
Teoria dos números
Q1 = 1
Q2 = 4
Q3 = 9
Q4 = 16
Qn = n2
Tn–1 + Tn = n2 2Tn = n (n + 1)
Assim, podemos determinar uma relação entre os números triangulares e os números quadrados. A
soma de dois números triangulares consecutivos forma um número quadrado:
T2 + T1 = Q2
T3 + T2 = Q3
T4 + T3 = Q4
Tn + Tn–1 = Qn
Qn = n + 2Tn–1
Os números perfeitos são aqueles cuja soma dos divisores (excetuando‑se ele próprio) é o próprio
número. Exemplos: O numero 6 é um número perfeito pois seus divisores são: 1, 2, 3 e 6. Então,
excetuando‑se o 6 temos a soma dos divisores é 1 + 2 + 3 = 6.
37
Unidade I
a2 + b2 = c2 (terno pitagórico)
Esse estudo foi retomado posteriormente por Diofanto de Alexandria (séc. III, d.C.).
Como foi comentado antes, a escola pitagórica era um misto de escola e comunidade religiosa, em
que coexistiam os estudos referentes à filosofia, à ciência e à matemática. O que é peculiar nisso não é o
fato de muitas civilizações primitivas ou antigas partilharem de várias crenças sobre numerologia, mas,
atualmente, tais preceitos ainda se encontrarem em certas comunidades místicas. No entanto, por mais
que a numerologia não seja uma criação dos pitagóricos, sua adoração aos números mostra aspectos de
abstração como a veneração ao número dez não estar ligada à anatomia de mãos e pés humanos. Boyer
(2003) faz um relato sobre o pensamento místico que direcionava a escola pitagórica:
O número um, diziam eles, é o gerador dos números e o número da razão; o dois
é o primeiro número par, ou feminino, o número da opinião; três é o primeiro
número masculino verdadeiro, o da harmonia, sendo composto da unidade e
da diversidade; quatro é o número da justiça ou retribuição indicando o ajuste
de contas; cinco é o número do casamento, união dos primeiros números
verdadeiros feminino e masculino; e seis é o número da criação. Cada número
por sua vez tinha atributos peculiares. O mais sagrado era o dez ou o tetractys,
pois representava o número do universo, inclusive a soma de todas as possíveis
dimensões geométricas. Um ponto gera as dimensões, dois pontos determinam
uma reta de dimensão um, três pontos não alinhados determinam um triângulo
com área de dimensão dois e quatro pontos não coplanares determinam um
tetraedro com volume de dimensão três; a soma dos números que representam
todas as dimensões é, portanto, o adorado número dez (BOYER, 2003, p. 36).
O leitor mais atento pode ter estranhado a afirmação anterior: “No entanto, por mais que a
numerologia não seja uma criação dos pitagóricos, sua adoração aos números mostra aspectos de
abstração como a veneração ao número dez não estar ligada à anatomia de mãos e pés humanos”. O
convite para uma reflexão decorre exatamente por conta da possibilidade de existência de abstração
em um raciocínio que envolvia aspectos místicos. Para entender‑se o que Boyer (2003) destacou como
sendo abstração, é preciso retomar os aspectos teóricos que foram encaminhados no momento de
reflexão anterior, em que a sugestão foi idealizar um conjunto de objetos diversos para que alunos
buscassem os traços comuns a eles e, se possível, os traços substanciais. O que está sendo proposto
nesses exercícios é a possibilidade do futuro professor de matemática ser capaz de modelar o processo
de ensino de forma que surja o conceito do assunto em questão.
38
Teoria dos números
Para a tarefa proposta é necessário configurar a ideia de modelo científico defendido neste trabalho:
a saber, o modelo científico dialético como uma possibilidade de escapar das armadilhas de rigor que a
lógica formal impõe ao processo ensino‑aprendizagem em ambientes que não são de bacharelado em
Matemática. Segundo Magagnato (2011):
Segundo a análise de Magagnato (2011) a partir das colocações de Davýdov (1982) os trânsitos de
pensamento do particular ao geral e do geral ao particular (com a identificação de objetos particulares
a certa classe) junto com as generalizações e abstrações formais constituem os conceitos empíricos. A
lógica formal tradicional, a psicologia e didática tradicionais “descrevem só o pensamento empírico,
que resolve os problemas de classificação dos objetos por seus traços externos e o concernente à
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
identificação dos mesmos2” (DAVÝDOV, 1982, p. 76 apud MAGAGNATO, 2011, p. 49).
É interessante observar que a partir dessas colocações, o problema proposto para esse momento de
reflexão começa a ser delineado. O que a humanidade tinha obtido de avanço, em direção aos conceitos
que a matemática iria requerer em nossa era, consistia apenas em pensamentos empíricos, quando
apenas relacionava os números à anatomia de mãos e pés humanos. Quando os pitagóricos, em seu
misticismo, atribuíram “qualidades” aos números, eles utilizaram nexos não evidentes, não palpáveis.
2
[…]describen sólo el pensamiento empírico, que resuelve los problemas de clasificación de los objetos por sus
rasgos externos y lo concerniente a la identificación de los mismos.
39
Unidade I
Esse exercício de reflexão tinha como objetivo levar o autor a considerar com espírito crítico
as propostas da moda em psicologia e didática. Conhecimentos científicos não são uma mera
continuação ou um aprofundamento da experiência cotidiana. A produção do conhecimento
científico
Os números inteiros são abstrações que surgiram em função da necessidade de contar coleções,
observa Eves (2004). Mas as necessidades da vida cotidiana requerem, além da contagem de objetos
individuais, a medição de quantidades, como comprimento, peso e tempo. Para tanto, descobriu‑se a
necessidade de números fracionários. Definiu‑se assim, comenta o autor, um número racional como
o quociente p/q, sendo diferente de zero, de dois números inteiros. Imaginava‑se que o sistema de
números racionais fosse suficiente para todos os propósitos práticos, uma vez que contêm todos os
números inteiros e fracionários. A interpretação geométrica desses números era simples e os matemáticos
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
acharam que estavam assim representados todos os números. No entanto, os pitagóricos descobriram
que havia pontos na reta que não correspondiam a nenhum número racional. Em particular, eles
provaram que não há nenhum número racional ao qual corresponda o ponto P da reta em que OP é a
diagonal de um quadrado cujos lados medem uma unidade. Novos números então foram inventados
para serem associados a esses pontos e foram denominados de números irracionais (o que significa
não racionais), conclui o autor. Por algum tempo 2 foi o único número irracional conhecido. Mais
3
Requiere que se elaboren medios especiales de abstracción, de singular análisis y generalización que permita fijar
los nexos internos de las cosas, sus esencias; requiere vías peculiares de “idealización” de los objetos del conocimiento. Mas
la psicología pedagógica y la didáctica, que marchan en pos de la teoría empírica, al estructurar las disciplinas desconoce
de hecho estas peculiaridades del conocimiento científico.
40
Teoria dos números
tarde, segundo Platão, Teodoro de Cirene (c. 424 a.C.) mostrou uma sequência de números irracionais:
3, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 17 . Por volta de 370 a.C., Eudoxo deu
um tratamento para os incomensuráveis, que essencialmente coincide com a exposição moderna dos
números irracionais dada por Dedekind em 1872.
4 Introdução
Neste tópico, serão apresentados os números inteiros e algumas propriedades elementares que
caracterizam sua estrutura algébrica. Para desenvolver esse assunto, é necessária uma revisão de alguns
fundamentos teóricos sobre conjuntos e relações de equivalência e ordem. As noções elementares sobre
noção de conjunto, relação de pertinência e determinação de um conjunto, tipos de conjuntos, inclusão
e igualdade de conjuntos, conjunto das partes de um conjunto, operações com conjuntos, o estudante
poderá rever em livros de álgebra.
Saiba mais
Conjuntos
Como a introdução para uma teoria, segundo a lógica formal, são os conceitos primitivos, ou
conceitos não definidos, a ideia intuitiva de conjunto é a de coleção, classe de objetos, agrupamentos
Alencar Filho (1968) apresenta o entendimento do Grupo Bourbaki: “Um conjunto é formado de
elementos suscetíveis de possuírem certas propriedades e terem entre si, ou com elementos de outros
conjuntos, certas relações” (Idem, p. 5).
Notações
2) Os objetos que constituem um conjunto são representados pelas letras latinas minúsculas; a, b, c...
41
Unidade I
A ideia de conceitos primitivos não é fácil de ser apreendida pelo estudante das séries iniciais.
Daí a sugestão a seguir de leitura do texto produzido por Vianna & Cury (2001), a partir de uma
pesquisa bibliográfica sobre o conceito de ângulo. Esse artigo apresenta uma abordagem do tema
sob uma perspectiva histórica. Os autores partiram da percepção de que a definição de um conceito,
o de ângulo, está condicionada pelos interesses daquele que fornece a definição. Os propósitos da
indicação da leitura desse artigo são dois. Primeiro, que o professor em formação internalize o fato de
a matemática ter se desenvolvido por necessidades históricas de grupos sociais. Segundo, que a partir
dessa compreensão, idealizem situações em que trabalhar com história da matemática tenha como
intenção os alunos apreenderem um conceito e não como uma possibilidade lúdica de se “contar uma
historinha”. Para tanto, os autores do artigo citado alertam para as infinitas possibilidades de trabalhos
a serem desenvolvidos pelos estudantes, a cada tópico de matemática, ao recorrer a certo aspecto da
história, tal como o fizeram neste texto.
Outro aspecto que deve ser considerado é o professor, em face de produção massiva de novos
conhecimentos, ser um orientador. Não há como ensinar aos estudantes tudo que a humanidade tem
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
produzido, até mesmo porque é impossível a todos deter todos os aspectos de um determinado tema.
Portanto, a ideia de alguém ser detector de um determinado saber é algo que só existe na esfera
do poder. Alguém se coloca como tal, com objetivos específicos. Alguns professores, que trabalhavam
no passado com turmas pequenas, talvez sintam nostalgia do relacionamento mais íntimo com os
estudantes. Era possível conhecer um pouco de cada um. Isso podia resultar em um sentimento positivo
ou negativo. Atualmente, os professores trabalham com turmas numerosas ou com ensino a distância.
Mesmo no presencial, o contato com os alunos quase não existe. Visualmente, existe o contato com
alguns, mas é impossível guardar‑se a fisionomia de 500, 600 alunos. Assim, o professor já está no
papel de orientador de estudos e não mais na figura de detector do saber. Em regime presencial, alguns
tópicos são explorados e o aprofundamento sobre os mais diversos temas cabe aos estudantes. No
ensino a distância o procedimento é o mesmo, apenas se diferencia pela utilização de novas mídias.
42
Teoria dos números
Saiba mais
Diagrama de Euler‑Venn
É a representação de um conjunto por um recinto plano limitado por uma curva fechada.
U
A
Observação
Na pausa para reflexão que foi proposta acima, discutiu‑se o problema do conceito primitivo. Nesse
momento, em que os elementos da teoria dos conjuntos começam a ser relembrados é interessante
diferenciar percepção de representação. Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
Segundo Magagnato (2011) nos materiais de estudo de diversas disciplinas, analisados por Davýdov
(1982), encontram‑se objetos classificados por características comuns e cabe aos alunos “descobrirem”
as correspondentes generalizações:
43
Unidade I
Ou seja, a autora, por meio de estudos de Davýdov (1982) faz um alerta para a insuficiência dos
procedimentos nos manuais tradicionais de didática. Neles é enfatizado que o processo de percepção
é o ponto de partida indispensável para a formação de conceitos, ou seja, para todos os níveis de
generalização, recomenda‑se que os materiais de ensino devam fornecer aos alunos objetos particulares,
sensorialmente perceptíveis. Após a percepção ter‑se‑ía a representação, na qual já há certo nível de
generalização e abstração, pois não se trabalha mais diretamente com o objeto concreto, mas com uma
imagem esquemática e com o uso da linguagem: quando se descreve com uma imagem ou verbaliza‑se
essa imagem, já se abstrai nela uns traços que seriam mais importantes que outros, porém, ainda os
traços substanciais podem se confundir com os não substanciais.
Essa prática tão recorrente nas escolas, observa Magagnato (2011) aposta no movimento que leva da
percepção ao conceito. Segundo essa concepção, é o trânsito lógico do particular ao geral, mas este não
é o único movimento em tal organização do ensino: o processo de generalização conceitual é uma parte
do processo de assimilação dos conceitos pelos alunos. Para dominar um conceito, é necessário também
saber aplicá‑lo às situações particulares, saber operar com os conceitos, ou seja, realizar o modo inverso
das etapas descritas acima. Estes dois trânsitos frequentemente aparecem, no processo de ensino e
aprendizagem tradicionais, de forma independente um do outro e, portanto, a realização de um não
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
garante a capacidade de realização do outro. O aluno, ao se deparar com situações concretas, pode não
conseguir identificar o traço substancial nelas e pode encontrar dificuldades na hora de sua aplicação.
Via de regra, os livros didáticos apresentam, para cada conceito, uma bateria de exercícios típicos para
o aluno fazer, numa tentativa de superar essa dificuldade (DAVÝDOV, 1982).
Essas observações feitas por Magagnato (2011) constituem em um passo a mais na constituição de
uma perspectiva de que a educação é uma tarefa a ser conduzida por profissionais, que buscam além do
que o senso comum preconiza. Não é novidade para ninguém da área da educação o discurso recorrente
de que o ensino deve ser pautado na realidade. A questão dessa afirmação é que “realidade” é algo vago.
Vamos analisar o exemplo citado por Davýdov (1982), a formação do conceito de retângulo. Nas práticas
recorrentes no ensino atual, o procedimento citado pode ser considerado normal. Considere a tarefa de
44
Teoria dos números
apresentar aos alunos diversos retângulos e a partir deles uma classificação segundo o conceito de
conjunto. Os estudantes por certo apresentarão uma quantidade de variações, desde o conjunto vazio
até o universo (todos os retângulos disponibilizados na lousa). O passo seguinte é solicitar aos estudantes
o mesmo tipo de atividade a partir do real. É certo que aparecerão conjuntos cujos elementos sejam
portas, janelas, lousa... O aluno olhará em seu entorno e “facilmente” identificará vários exemplos.
Ou seja, quando os alunos reproduzem em seus cadernos os desenhos postos em lousa e os separam
segundo certos atributos, há um processo mental de abstração – mas não suficiente para a apreensão do
conceito de retângulos. Isso fica evidente quando, no passo seguinte, solicita‑se conjuntos constituídos
por retângulos a partir do real, e o que surge são coleções de sólidos e não de retângulos.
Continuando a revisão proposta, em Iezzi & Murakami (1991, p. 23) há três exemplos interessantes
para se entender a descrição de um conjunto a partir do conjunto Universo considerado.
4
[…]describen sólo el pensamiento empírico, que resuelve los problemas de clasificación de los objetos por sus
rasgos externos y lo concerniente a la identificación de los mismos.
45
Unidade I
Questão 1: Qual é o conjunto dos pontos P que ficam a igual distância de dois pontos A e B, sendo
A e B pontos distintos?
Considerando que o conjunto Universo é a reta dos Reais o conjunto procurado é o próprio P.
Observe a representação:
A B
Figura 27
Questão 2: Qual é o conjunto dos pontos P que ficam a igual distância de dois pontos A e B, sendo
A e B pontos distintos e U um plano contendo esses pontos?
3
P
1
A B
x
–3 –2 –1 1 2 3 4 5 6
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
–1
Reta mediatriz
–2
Figura 28
Questão 3: Qual é o conjunto dos pontos P que ficam a igual distância de dois pontos A e B, sendo
A e B pontos distintos e U é o espaço?
46
Teoria dos números
z
A
y Plano mediador
x
B
Figura 29
Exemplos de aplicação
a) A = {x : x é vogal}
A = {a, e, i, o, u}
B = {janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro,
dezembro}
d) D = {x : x foi o primeiro presidente eleito que cumpriu o mandato, após a ditadura militar no Brasil}
D = {José Sarney}
E = {Dilma Rousseff}
47
Unidade I
f) F = {x : x ∈ N : x > 8}
Como não houve eleição para presidente no Brasil em 2009, o conjunto pode ser representado por:
G = { } ou G = φ
Observações:
• O conjunto F é denominado conjunto infinito por não ser possível representar a quantidade de
seus elementos por um número natural.
Ex.: A = {a, b, c, o, u}
Ex.: A = {x ∈ N : x > 8}
a) A = {x ∈ U : x2 –4 > 0}
Observe que é necessário analisar a função do segundo grau que define o conjunto A. Como se trata
de uma função do segundo grau incompleta, as raízes são:
x1 = –2 e x1 - 2
48
Teoria dos números
Analisando o gráfico abaixo, observa‑se que os intervalos que satisfazem a inequação x2 –4 > 0,
correspondem a ] –∞, –2[ e ]2, + ∞[. Confrontando esses intervalos com o conjunto U dado, temos como
elementos do conjunto A:
A = {–4, 3, 4, 5, 7}
A = {–4, 4}
a) B = {x ∈ U : x2 + 2x + 1> 0}
y
4
x
–6 –5 –4 –3 –2 –1 1 2 3 4 5 6
–1
–2
–3
–4
Figura 30
∆ = 22 − 4.1.1
∆ = 4 −4
∆= 0
∆=0
49
Unidade I
−b ± ∆
x=
2a
−2 ± 0
x=
2. 1
−2
x=
2
x = – 1 (raízes dupas)
y
4
x
–6 –5 –4 –3 –2 –1 1 2 3 4 5 6
–1
–2
–3
–4
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
Figura 31
Analisando o gráfico acima, observa‑se que os valores que satisfazem a inequação x2 + 2x + 1 > 0,
correspondem aos reais. Portanto, confrontando esse resultado com o conjunto U dado, temos como
elementos do conjunto A os elementos do próprio conjunto U.
Analisando o gráfico já obtido acima, observa‑se que os valores que satisfazem a inequação
x2 + 2x + 1 > 0 correspondem aos reais. Portanto, confrontando esse resultado com o conjunto U
dado, temos como elementos do conjunto B os elementos do próprio conjunto U.
50
Teoria dos números
Observação
Subconjunto
A ⊂ B (∀ x)(x ∈ A → x ∈ B)
U
A
Figura 32 – Inclusão
A ⊆ B (∀ x)(x ∈ A → x ∈ B)
51
Unidade I
Exemplo de aplicação
a) A = A b) { } ⊂ B c) 2 ∈ B d) 0 ∉ C
Dado um conjunto A, chama‑se conjunto das partes de A, o conjunto P (A) formado por todos os
subconjuntos X de A:
P (A) = {X : X ⊂ A}
Exemplos
1) Dado o conjunto A = {3, 4, 7}, o conjunto das partes de A é o conjunto P (A) = {φ, {3}, {4}, {7},
{3, 4}, {3, 7}, {4, 7}, {3, 4, 7}}.
2) Dado o conjunto B = {3}, o conjunto das partes de B é o conjunto P (B) = {φ, {3}}.
A ∪ B = {x : x ∈ A ou x ∈ B}
52
Teoria dos números
Representação:
U
A B
Exemplos
(A ∪ B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C) (Propriedade associativa).
A ∩ B = {x : x A ∈ A e x ∈ B}
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
U
A B
53
Unidade I
Exemplos
v) (A ∩ B) ∩ C = { } ∩ {8} = { }
A ∩ (B ∩ C) = {3, 4, 7} ∩ { } = { }. Pois,
(A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C) (Propriedade associativa).
A – B = {x : x ∈ A e x ∉ B}
U
A B
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
Exemplo
i) A – B = {3, 4, 7}
ii) A – C = φ
54
Teoria dos números
CBA = A − B = {x : x ∈ A e x ∉B)
Observação
A
i) CB só é definido para B ⊆ A.
A −
ii) CB também é representado por B ou por B’.
U
A
Figura 36 – Complementar de B em A
U
B
Figura 37 – Complementar de A em B
i) CBA = A − B = { 3}
ii) C A = A
D
iii) CCA = φ
55
Unidade I
4.9 Relações
4.9.1 Introdução
Dados dois conjuntos A e B, não vazios. O produto cartesiano do conjunto A pelo conjunto B é o conjunto
formado por todos os pares ordenados (x, y) tais que x ∈ A e y ∈ B. Assim, A x B = {(x, y) : x ∈ A e y ∈ B}.
Observação
Exemplos
a) A x B = {(3, 4), (3, 7), (3, 8), (4, 4), (4, 7), (4, 8), (7, 4), (7, 7), (7, 8), (8, 4), (8, 7), (8, 8)}
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
Observação
5
Este exemplo é citado por Milies e Coelho (2001, p. 26‑27) e por Nascimento e Feitosa (2009, p. 40‑41).
56
Teoria dos números
E 6
i
x 5
o
4
y
3
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Eixo x
Figura 38
b) B x A = {(4, 3), (4, 4), (4, 7), (4, 8), (7, 3), (7, 4), (7, 7), (7, 8), (8, 3), (8, 4), (8, 7), (8, 8)}
1) Dados os conjuntos A = {x ∈ R : 1 < x < 4} e B = {x ∈ R : 1 < x < 5}.
Como os conjuntos estão representados por intervalos, o produto cartesiano desses dois conjuntos
está contido em R2, ou seja, é representado graficamente por um retângulo.
E 6
i
x 5
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Eixo x
Figura 39
57
Unidade I
Como os conjuntos estão representados por intervalos, o produto cartesiano desses dois conjuntos
está contido em R2, ou seja, é representado graficamente por um retângulo.
E 4
i
x
o 3
y
2
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
Eixo x
Figura 40
3,5
E 3
i
x 2,5
o
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
2
y
1,5
1
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
Eixo x
Figura 41
58
Teoria dos números
ii) Se A ou B for um conjunto infinito, ambos não vazios, então A x B é um conjunto infinito.
Confira!
O quadro acima é importante porque é a partir do que foi colocado que se define relação de
equivalência, uma importante ferramenta nas generalizações de igualdade feitas em matemática. Ou
seja, quando objetos distintos desempenham o mesmo papel dependendo da situação.
Uma relação de equivalência sobre um conjunto A não vazio é uma relação reflexiva, simétrica e
transitiva. Ou seja, se acontece:
i) (∀ x)(x ∈ A ⇒ xRx)
Em Domingues e Iezzi (1982, p. 19‑20), os autores idealizaram um esquema de flechas que auxilia a
verificação das propriedades de uma relação, quando o conjunto considerado é finito.
59
Unidade I
Exemplo
b
.a
c.
Figura 42
Contraexemplo
b
.a
c.
Figura 43
Exemplo
E
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
b
.a
c. d.
Figura 44
60
Teoria dos números
Contraexemplo
b
.a
c. d.
Figura 45
c) Transitiva: para todo par de flechas consecutivas existe uma flecha cuja origem é a da primeira e
a extremidade, a da segunda.
Exemplo
b
.a
c. d.
Figura 46
Contraexemplo
b
.a
c. d.
Figura 47
61
Unidade I
Exemplo
b
.a
c. d.
Figura 48
Contraexemplo
E
b
.a
c. d.
Figura 49
Exemplo
1) Seja A = {a, b, c} e a relação R = {(a, a), (b, b), (c, c), (a, c), (c, a)}.
b.
.a
c.
Figura 50
62
Teoria dos números
Seja R uma relação de equivalência sobre um conjunto A, não vazio. Dado a ∈ A, chama‑se classe
de equivalência determinada por a, módulo R, o subconjunto [a] de A constituído pelos elementos x tais
que xRa.
[a] = {x ∈ A : xRa}
Exemplo
No exemplo acima, ou seja, dado A = {a, b, c} e a relação R = {(a, a), (b, b), (c, c), (a, c), (c, a)}, como
R é uma relação de equivalência, podemos acrescentar que:
a) [a] = {a, c}
b) [b] = {b}
c) [c] = {c, a}
Observação
i) (∀ x)(x ∈ A ⇒ xRx)
Nessas condições, o par (A, R) é uma estrutura de ordem e o conjunto A é ordenado por R.
63
Unidade I
Observação
Exemplo
Considere a estrutura de ordem representada pelo par (R, x < y). Esta é uma ordem em R.
Dada uma estrutura de ordem, ela é dita estrutura de ordem total (ou ordem linear) quando para
todo par de elementos x, y ∈ A, tem‑se x < y ou y < x. Ou seja, um par (A, x < y ) é uma ordem total
se, e somente se, vale a lei da tricotomia: para quaisquer x, y ∈ A, vale exatamente uma das condições
x < y, ou x = y ou y < x.
Exemplo
Considere a estrutura de ordem representada pelo par (R, x < y). Esta é uma ordem total em R.
Um elemento M de A é dito um máximo em A quando todo elemento deste conjunto for menor ou
igual a M. Simbolicamente:
∀x(x ∈ A → x < M)
Um elemento M de A é dito um mínimo em A quando todo elemento deste conjunto for maior ou
igual a M. Simbolicamente:
∀x(x ∈ A → m < x)
Dada a ordem (A, <) e todo subconjunto B de A, não vazio, tem elemento mínimo. Nesse caso, (A, <)
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
Exemplo
Considere a estrutura de ordem representada pelo par (N, x < y). Todo subconjunto dos números
naturais possui um elemento mínimo. Portanto, (N, x < y) é uma boa ordem.
64
Teoria dos números
No entanto, como foi dito na reflexão anterior, os conhecimentos científicos não são uma mera
continuação ou um aprofundamento de nossa experiência cotidiana:
O exemplo que a autora cita das tarefas organizadas por Davýdov em matemática é interessante
para o estudo da teoria dos números. Ele teve como referência formar nos alunos o conceito de número
real, por meio de organização de tarefas e as ações de estudos, para a formação da ideia de número
em geral cuja base é o conceito de grandeza matemática (Davýdov, 1988, apud MAGAGNATO, 2011).
A primeira tarefa de estudo consistiu na introdução dos alunos na esfera das relações das grandezas,
com a noção matemática de quantidade, por meio das relações entre as grandezas e suas propriedades:
“igual”, “menor do que”, “maior do que”.
65
Unidade I
A segunda ação de estudo é modelar a relação “múltiplo” e seu resultado, na qual pode se utilizar de
objetos, gráficos ou letras. A comparação diferencial das grandezas A e B, portanto, expressa‑se como a
seguir, considerando A > B e n > m:
A
= n (1)
C
B
=m (2)
C
O modelo de número fixado nas expressões acima generaliza a relação múltiplo para a comparação
de grandezas em relação a qualquer tipo de número, sejam os naturais, negativos, fracionários etc.
(Davýdov, 1988, apud MAGAGNATO, 2011,). Assim a contagem aparece como um caso particular de
medida e a álgebra conduz o aprendizado da aritmética.
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
A terceira ação de estudo está ligada à transformação do modelo para entendimento de suas
propriedades. Assim, por exemplo, “a modificação da unidade C, com a mesma grandeza inicial A leva à
A
mudança do número concreto que representa sua relação múltiplo. Se, por exemplo = k e b < c então
A C
< k etc.” (Davýdov, 1988 apud MAGAGNATO, 2011).
b
Durante a realização da atividade de estudo o professor deve propor situações nas quais se
utilizam diferentes unidades de medida, instigando os alunos a estabelecerem relações entre elas.
A partir das relações com distintas unidades de medida, trabalham‑se, inclusive, bases numéricas
distintas. Assim, o número é entendido como multissignificativo, isto é, depende da base numérica
a que se refere.
66
Teoria dos números
A quarta ação de estudo consiste na passagem do abstrato ao concreto, em que se liga o princípio
geral de número a situações particulares.
4.10.1 Introdução
Os algarismos utilizados atualmente surgiram na Índia, no século VII, e a sua difusão internacional
se deu, em grande parte, pelas atividades dos árabes, segundo Domingues (1991). A grafia atual mal se
assemelha à original, uma vez que o uso dos algarismos foi introduzindo modificações, no decorrer do
tempo. O Ocidente aceitou o sistema posicional decimal como padrão, importado de outros povos, porque
se encontrava em um período de estagnação na primeira fase do período medieval, conclui o autor.
O primeiro uso conhecido dos números negativos, segundo Milies e Coelho (2001), encontra‑se em
uma obra indiana, atribuída a Brahmagupta (628 d.C., aproximadamente), na qual são interpretados
como dívidas. Domingues (1991) observa que Brahmagupta já conhecia as regras das quatro operações
com números negativos. No entanto, salienta o autor, ao introduzirem os números negativos, os hindus
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
não tinham nenhuma preocupação de ordem teórica. Os progressos matemáticos aconteceram na Índia,
por essa época, quase que por acaso e em grande parte em decorrência do descompromisso com o rigor
e a formalidade.
N = {0, 1, 2, 3, 4...}
N* = {1, 2, 3, 4...}
• Um número inteiro positivo é um elemento do subconjunto dos números inteiros (que pode ser
identificado com o conjunto dos números naturais: Z+* = {0, 1, 2, 3, 4...}.
Observe que o significado do sinal negativo determina uma posição do número em relação ao
zero, ou seja, números negativos são números simétricos aos positivos em relação ao número 0. Nas
propriedades dos números inteiros, o leitor poderá perceber essa observação com mais precisão a partir
da propriedade do simétrico aditivo.
Vimos em tópico anterior que a estrutura de ordem representada pelo par (N, x < y) é uma boa
ordem. A partir dela, dados a, b ∈ N, define‑se que a < b em N se b = a + p, para algum p ∈ N. O número
p é então definido como diferença entre b e a e é indicado por p = b – a.
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
Seja um par (A, x < y). Dizemos que se trata de uma ordem restrita quando para todo par de
elementos x, y ∈ A, o elemento x é estritamente menor do que y, ou seja, define‑se x < y quando x < y
e x ≠ y. Nesse caso, < é uma ordem restrita.
Observação
Não basta, como no caso da estrutura de ordem (N, x < y), algum número
pertencente a N, uma vez que x ≠ y. Daí a exigência da existência de um q ≠ 0.
68
Teoria dos números
A partir dessas relações estendeu‑se ao conjunto dos números inteiros a possibilidade de se comparar
os seus elementos.
Definição
No conjunto dos números inteiros, estão definidas duas operações que são denominadas de adição
e multiplicação, que serão assumidas como válidas. Com base nas propriedades básicas das operações,
levando em consideração os elementos em Z, zero (0) e um (1) e os pares (Z, <), (Z, <) serão listadas as
seguintes propriedades:
1) Fechamento: a + b ∈ Z e a . b ∈ Z.
Adição
1) Comutatividade: a + b = b + a.
2) Associatividade: a + (b + c) = (a + b) + c.
Multiplicação
6) Integridade: se a . b = 0, então a = 0 ou b = 0.
• Regra do sinal:
i) –(–a) = a
iii) (–a)(–b) = ab
iv) (a)(b) = ab
• Desigualdades:
i) a < b ⇔ a + c < b + c.
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
• Cancelamento:
i) a + c = b + c ⇔ a = b.
ii) Se a ≠ 0, então ab = ac ⇔ b = c.
70
Teoria dos números
i) a < a, ∀ a ∈ Z (reflexiva).
ix) a2 > 0.
Um elemento M de A é dito um mínimo em A quando todo elemento desse conjunto for maior ou
igual a M. Simbolicamente:
∀x (x ∈ A → m < x)
71
Unidade I
Simbolicamente:
∀x (x ∈ A → a < x)
Exemplos
1) Seja A subconjunto de Z e definido como A = {‑1, 0, 1, 2, 3...}. Esse conjunto tem como limites
inferiores ‑1, ‑2, ‑3... Ou seja, elemento do conjunto Z, tal que se a ∈ Z, então a < x, ∀x ∈ A.
Porém, o mínimo do conjunto A é ‑1, uma vez que –1 ∈ A, tal que –1 < x, ∀x ∈ A.
2) Seja B subconjunto de Z e definido como B = {...‑1, 0, 1, 2, 3}. Esse conjunto não é limitado
inferiormente, uma vez que não é possível apresentar limites inferiores em Z, de tal forma que se
a ∈ Z, então a < x, ∀x ∈ A. Logo, ele não possui mínimo.
Observação
Resumo
Para que o ser humano pudesse progredir no universo dos números, foi necessário
que certos procedimentos mentais fossem agregados à sensação numérica inata.
Exercícios
m n
B C
D ,
73
Unidade I
Além de demonstrar o teorema de Pitágoras, o professor pode, ainda, com essa estratégia, demonstrar
que
I. é possível construir, com régua e compasso, a média geométrica entre dois números reais m e n.
II. é possível construir, com régua e compasso, um quadrado de mesma área que a de um retângulo
de lados m e n.
I – Afirmativa correta.
II – Afirmativa correta.
Revisão: Geraldo - Diagramação: Márcio - 14/12/2011
JUSTIFICATIVA. Podemos verificar que os triângulos BAD, ADB e ADC são semelhantes, pois têm os
seus ângulos congruentes.
74
Teoria dos números
75