SOCIOLOGIA
Prof. Robson
CAPÍTULO 1
DESIGUALDADE SOCIAL
A desigualdade social é um problema que vem afetando a maioria dos países do globo na atualidade. A
pobreza existe em todas as nações, pobres ou ricas, mas se dá em maiores proporções nos países menos
desenvolvidos e pelo fato da distribuição de renda ser desigual entre uma população. Cada sociedade gera formas
de desigualdade específicas.
Não existe uma definição de desigualdade social. Ela é um fato que abrange vários tipos de desigualdade, desde
desigualdade de renda, como de escolaridade, saúde, racial, cultural e várias outras. Contudo, num aspecto mais
genérico, o conceito de desigualdade social refere-se à privação de direitos ou de acesso para um grupo ou uma
pessoa, o que cria distinções entre os indivíduos. Há várias formas de desigualdade: econômica, de gênero, racial,
digital etc., por isso, nas Ciências Sociais, falamos em desigualdades sociais, no plural. Essas diferentes possibilidades
de privação de direitos não se apresentam sempre separadas. Ao contrário, em muitos casos estão relacionadas e se
reforçam. Portanto, para combater uma forma de desigualdade, é preciso combater também as outras.
As desigualdades que ocorrem em nossa sociedade estão longe de ser acidentais. Elas são a consequência
de um conjunto de relações da vida social no nível político e econômico. Diferentes sociedades, em momentos
diversos da história da humanidade, produziram diferentes formas de desigualdades.
A desigualdade social ocorre quando existem diferenças de vantagens entre grupos que compõem uma
sociedade. Essas diferenças são marcadas pelas discrepâncias de oportunidades e de recursos entre os indivíduos.
Para estudar a desigualdade social, é importante estar atento a três elementos centrais: a estrutura, a
estratificação e a mobilidade social.
● Na estrutura social é determinado como se organizam os aspectos econômico, cultural, social, político e
histórico de uma sociedade. É por meio da análise dessa estrutura que as Ciências Sociais buscam
explicação para os fenômenos da sociedade.
● A estratificação diz respeito ao modo com a sociedade está dividida. São as camadas que superpõem.
Essa divisão ocorre de acordo com diferentes critérios sociais e históricos, estabelecem uma hierarquia. De
acordo com a posição que um indivíduo ocupa na hierarquia, vai ter mais ou menos acesso a direitos e a
recursos.
● A mobilidade social é determinada pela possibilidade de um indivíduo mudar de posição na
hierarquia social.
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ESTRATIFICAÇÃO ECONÔMICA: É definida pela posse de bens materiais, isso faz com quer
haja pessoas ricas, pobres e em situações intermediárias.
ESTRATIFICAÇÃO POLÍTICA: É estabelecida pela posição de mando na sociedade (grupos
que têm poder e grupos que não têm).
ESTRATIFICAÇÃO PROFISSIONAL: É baseada nos diferentes graus de importância atribuídos
a cada profissional pela sociedade. Ex.: Uma profissão de um médico é muito mais valorizada
que a de um pedreiro.
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6. A partir do texto “Desigualdade social e Exclusão social”, explique por que esse tema é importante para a
análise sociológica.
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7. Identifique uma das “múltiplas variantes” que podem determinar a reprodução das desigualdades sociais.
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8. A partir dos textos deste capítulo lidos até aqui, responda de forma sensata a seguinte indagação:
“Desigualdade: como ela acontece?”.
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O conceito de dominação
Entre tantas formas de desigualdade ocorre o fenômeno da dominação social. Em sociologia, a dominação é
uma situação que gera relações assimétricas de comando entre os indivíduos. Existem múltiplas dominações inscritas
nas relações de poder. Quando falamos de “dominação” podemos pensar nas palavras de poder, autoridade, classes
sociais, colonização, racismo, sexo e gênero, etc. Diferentes famosos sociólogos falam desse conceito, como Karl
Marx, Max Weber ou Pierre Bourdieu. Os três sociólogos têm visões muito diferentes relativas ao conceito de
“dominação”. Karl Marx fala de dominação da burguesia sobre o proletariado. Max Weber apresenta três formas que
explicam porque um indivíduo pode ser dominado. E, Pierre Bourdieu é o autor do conceito de dominação simbólica,
explicaremos o que é, e o papel das mulheres como indivíduos dominados a seguir.
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A dominação carismática se explica pelas virtudes de um indivíduo. Se um indivíduo nos parece como
um “herói”, vamos ter mais confiança nele, e ser mais facilmente dominados. Nela, a relação se sustenta
pela crença dos subordinados nas qualidades superiores do líder. Essas qualidades podem ser encaradas
tanto como dons sobrenaturais, quanto pela coragem e a inteligência inigualável. Os homens políticos
utilizam este carisma para ter um poder de convicção. Podemos tomar como exemplo qualquer grupo
religioso centrado na figura do profeta, que apenas por meio de suas habilidades e conhecimentos
pessoais, sem o uso da força, consegue arregimentar um grande número de seguidores.
A dominação legal racional depende da crença nas legalidades das regras, ou seja, por meio das leis.
Nessa situação, um grupo de indivíduos submete-se a um conjunto de regras formalmente definidas e
aceitas por todos os integrantes. Essas regras determinam ao mesmo tempo a quem e em que medida as
pessoas devem obedecer. Nesse sentido, os indivíduos pensam respeitar as leis, mas, na verdade,
respeitam também o indivíduo que gera as leis. Um exemplo ilustrativo é o do empregado que acata as
ordens de um superior, de acordo com as cláusulas (regras, leis) do contrato assinado.
A dominação tradicional se explica pelo caráter sagrado da tradição. Em outras palavras, situação em que a
obediência se dá por motivos de hábito porque tal comportamento já faz parte dos costumes. É a relação de
dominação enraizada na cultura da sociedade. Por exemplo, a dominação do chefe de família na sociedade
patriarcal é um exemplo de tipo de dominação tradicional. Os filhos obedecem aos pais por uma relação de
fidelidade há muito estabelecida e respeitada.
Segundo Pierre Bourdieu, na sociedade, os indivíduos ocupam diferentes posições sociais no espaço
social: existem dominantes e dominados. Pode ser que em um momento você seja dominante, e depois
dominado. Assim você muda de “lado”. Essas posições sociais são definidas em função do capital econômico
(dinheiro, salário), cultural (conhecimento, saber fazer) e social (relações). Para o pensador, os indivíduos têm
estes três “capitais”, mas em proporções diferentes. Em função dessas diferenças, é criada a estratificação social.
Pierre Bourdieu fala de “dominação simbólica”. A dominação simbólica é, por exemplo, o controle da língua.
Um indivíduo que tem um capital cultural alto faz um comentário legítimo (um “bom” comentário) sobre uma
exposição de pintura, por exemplo. É um meio para mostrar a sua dominação simbólica.
Também, Pierre Bourdieu fala das mulheres como indivíduos dominados. Este sociólogo escreveu um livro
que se intitula “A dominação masculina”. Nesta obra, ele tenta explicar porque as mulheres são tão dominadas.
Neste caso, Bourdieu explica que esta dominação é uma violência simbólica, tendo em vista que esta dominação
é invisível. Segundo ele, a mulher incorporou as normas sociais relativas ao seu gênero desde a sua infância.
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10. Apresente a ideia central do conceito de dominação presente na teoria de cada uma dos pensadores abaixo.
a) Karl Marx:
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b) Max Weber:
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c) Pierre Bourdieu:
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11. Aponte e caracterize os três tipos puros de dominação legal de Max Weber.
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ARRASE NO ENEM
1. Observe os quadrinhos:
Os quadrinhos ilustram uma forma comum de explicar a pobreza e as desigualdades sociais. Assinale a
alternativa que apresenta pressupostos utilizados pela teoria liberal clássica para compreender a existência da
pobreza e que foram também assumidos pela personagem Susanita em suas falas.
a) As desigualdades sociais podem ser compreendidas através da análise das relações de dominação entre
classes, que determinam o sucesso ou o fracasso dos indivíduos.
b) A existência da pobreza pode ser compreendida a partir do estudo das relações de produção resultantes da
exploração de uma classe sobre a outra.
c) A divisão em classes sociais no capitalismo está baseada na liberdade de concorrência; assim, a pobreza
decorre das qualidades e das escolhas individuais.
d) O empobrecimento de alguns setores sociais no capitalismo decorre da apropriação privada dos meios de
produção, que dificulta a ascensão social da maioria da população.
e) O empobrecimento de grande parte da população mundial decorre da definição pelo imperialismo de políticas
econômicas discriminatórias.
2. Contardo Calligaris publicou um artigo em que aborda a prática social brasileira de denominar como doutores
os indivíduos pertencentes a algumas profissões, dentre eles médicos, engenheiros e advogados, mesmo na
ausência da titulação acadêmica. Segundo o autor, estes mesmos profissionais não se apresentam como
doutores no encontro com seus pares, mas apenas diante de indivíduos de segmentos sociais considerados
subalternos, o que indica uma tentativa de intimidação social, servindo para estabelecer uma distância social,
lembrando a sociedade de castas. A questão levantada por Contardo Calligaris aborda aspectos relacionados
à estratificação social, estudada, entre outros, pelo sociólogo alemão Max Weber.
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4. A sociedade brasileira obteve várias conquistas durante o período da redemocratização e, ao longo desses
anos, implantou mudanças positivas em relação à cidadania e aos direitos civis dos brasileiros, porém [...]
ainda há muito a ser melhorado. Apesar do crescimento econômico e da diminuição do número de pessoas
que vivem abaixo da linha da pobreza nos últimos anos, as desigualdades sociais ainda são profundas e estão
entre os principais problemas enfrentados pela sociedade.
(PELLEGRINI, M. C. Novo olhar história. São Paulo: FTD, 2010, p. 263, v. 3. – Texto adaptado.)
5. O texto que segue é do poeta cearense Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, cantador do drama
dos caboclos nordestinos e dos pobres do Brasil.
Meu compadre Zé Fulô, Eu pude vê neste crima, Reina o mais soave crima
Meu amigo e companhêro, Que tem o Brasi de Baxo De riqueza e de opulença;
Faz quage um ano que eu tou E tem o Brasi de Cima. Só se fala de progresso,
Neste Rio de Janêro; Brasi de Baxo, coitado! Riqueza e novo processo
Eu saí do Cariri Maginando que isto aqui É um pobre abandonado; O de De grandeza e produção.
Era uma terra de sorte, Cima tem cartaz, Porém, no Brasi de Baxo
Mas fique sabendo tu Um do ôtro é bem deferente: Sofre a feme e sofre o macho
Que a miséria aqui do Su Brasi de Cima é pra frente, A mais dura privação.
É esta mesma do Norte. Brasi de Baxo é pra trás. (PATATIVA DO ASSARÉ. Cante lá que eu
canto cá. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1978. p.
Tudo o que procuro acho. Aqui no Brasi de Cima,
271-272.)
Não há dô nem indigença,
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6. “A pobreza e a desigualdade são construções sociais que se desenvolvem e consolidam a partir de estruturas,
agentes e processos que lhes dão forma histórica concreta. Os países e regiões da América Latina moldaram,
desde os tempos coloniais até nossos dias, expressões desses fenômenos sociais que, embora apresentem as
peculiaridades próprias de cada contexto histórico e geográfico, compartilham um traço em comum: altíssimos
níveis de pobreza e desigualdade que condicionam a vida política, econômica, social e cultural. O conceito de
construção é praticamente similar ao de produção, sendo utilizado aqui para enfatizar que a pobreza é o resultado
da ação concreta de agentes e processos que atuam em contextos estruturais históricos de longo prazo.”
(Produção de pobreza e desigualdade na América Latina. Antonio David Cattani, Alberto D. Cimadamore (orgs.) ; tradução: Ernani Ssó. —
Porto Alegre : Tomo Editorial/Clacso, 2007, p. 07.)
7. De acordo com o caput do artigo 5º da Constituição Federal/1988 “Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade"... Contudo, quando
confrontamos com a realidade concreta, podemos enxergar que esses direitos e garantias fundamentais não
se materializam na vida cotidiana de vários brasileiros. Assim, fazendo uma relação com o estudo das
desigualdades sociais, podemos afirmar que
a) a desigualdade social por ser um fenômeno natural de toda sociedade, na prática, o Estado não tem o dever
de acabá-las.
b) a norma jurídica em questão entra em confronto diretamente com a realidade efetiva, demonstrando assim
que, mesmo assegurada por lei, a igualdade social não é efetivada de forma tão simples.
c) as sociedades são naturalmente desiguais, os dispositivos jurídicos são os únicos mecanismos capazes de
diminuir as desigualdades sociais.
d) a desigualdade social não tem relações com as injustiças, já que os mecanismos jurídicos a condenam,
retirando a possibilidade de haver uma relação entre as relações desiguais e as injustiças sociais.
9. As sociedades modernas são complexas e multifacetadas. Mas é com o capitalismo que as divisões sociais se
tornam mais desiguais e excludentes. Marx já observara que só o conflito entre as classes pode mover a história.
Assim sendo, para o referido autor, em qual das opções se evidencia uma característica de classe social?
a) O status social e cultural dos indivíduos.
b) A função social exercida pelos indivíduos na sociedade.
c) A ação política dos indivíduos nas sociedades hierarquizadas.
d) A identidade social, cultural e coletiva.
e) A posição que os indivíduos ocupam nas relações de produção.
10. Assinale a alternativa que corresponde ao conceito de “Dominação Legítima”, formulada pelo sociólogo alemão
Max Weber.
a) Capacidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social.
b) Capacidade de liderar numa determinada situação social.
c) Probabilidade de impor a sua vontade numa determinada situação social.
d) Probabilidade de operar através de atos ou uso da violência.
e) Probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato.
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11. Alguns autores recentes afirmam que se deve avaliar a posição de classe do indivíduo também em relação a
fatores culturais, como estilo de vida e padrões de consumo. Em relação a esse assunto, assinale
a opção correta.
a) De acordo com as abordagens recentes sobre a posição de classe, as identidades individuais estruturam-se,
em maior escala, em torno do modo de se vestir, do que comer, de como cuidar do corpo e de onde relaxar e
menos em torno de indicadores de classe mais tradicionais, como o emprego.
b) O sociólogo francês Pierre Bourdieu entende que os grupos de classe são identificáveis, cada vez mais, com
base em fatores econômicos ou ocupacionais.
c) Para Savage e colaboradores, os profissionais do serviço público buscam um estilo de vida baseado em
padrões de consumo que implicam médios ou baixos níveis de exercício, pouco empenho em atividades
culturais e uma preferência por estilos tradicionais nos móveis da casa e na moda.
d) A estratificação dentro das classes e entre as classes depende unicamente de diferenças ocupacionais.
e) Segundo Bourdieu, em uma sociedade consumista, as diferenças de classe são completamente ignoradas.
12. Um dos principais conceitos elaborados por Max Weber para analisar as relações de mando e obediência na
sociedade é o de "dominação". Quais os três tipos de dominação de uma ordem legítima definidos pelo autor?
a) Moderna, patrimonialista e demagoga.
b) Racional legal, tradicional e carismática.
c) Capitalista, socialista científica e socialista utópica.
d) Moderna, tradicional e demagoga.
e) Burocrática, patrimonialista e gerencial.
CAPÍTULO 2
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Formas de estratificação
Há inúmeros modelos de estratificação no mundo, mas analisaremos três: castas (Exemplos: Índia; Egito Antigo;
Grécia Antiga), estamentos (Exemplo: Europa Ocidental durante o feudalismo) e classes sociais (Exemplo:
sociedades capitalistas). Essa tríade apresenta nuances, subdivisões e, por vezes, “camadas” constitutivas que
representam elementos políticos, econômicos e culturais determinantes para o curso da vida cotidiana.
Castas
Apesar de ser identificado em outras sociedades, aqui, destacaremos o sistema de castas da Índia.
O sistema de castas (e de subcastas) da Índia é uma divisão social importante na sociedade Hindu, não
apenas na Índia, mas no Nepal e outros países e populações de religião Hindu. Embora geralmente identificado
com o hinduísmo, o sistema de castas também foi observado entre seguidores de outras religiões no
subcontinente indiano, incluindo alguns grupos de muçulmanos e cristãos. A Constituição Indiana de 1950 (devido
à pressão de políticos ocidentalizados) rejeita a discriminação com base na casta, em consonância com os
princípios democráticos e seculares que fundaram a nação. Barreiras de casta deixaram de existir nas grandes
cidades, mas persistem principalmente na zona rural do país.
Em geral, as castas constituem comunidades fechadas e de compartilhamento de características sociais
hereditárias e endogâmicas, apesar de não serem delimitadas territorialmente. A hereditariedade é a base para a
divisão da sociedade, sem qualquer possibilidade de ascensão social: aqueles que pertencem às castas inferiores
não podem manter contatos sociais com os grupos superiores. Normalmente, a estratificação é reconhecida pelo
sobrenome, mas, em algumas regiões, pode-se perceber a casta de um indivíduo por meio do dialeto falado,
ocupação profissional, pelos alimentos que consomem ou por suas vestimentas.
Todo modelo de estratificação social apresenta características próprias de controle social. No sistema de
castas indiano, o hinduísmo institui a regulação social pelo comportamento do indivíduo em uma vida anterior: se
sua conduta foi considerada boa, será recompensado nascendo em uma casta mais elevada na próxima vida; se
não, será punido nascendo em casta mais baixa.
Define-se casta como grupo social hereditário, no qual a condição do indivíduo passa de pai para filho. O
grupo endógamo, isto é, cada integrante só pode casar-se com pessoas do seu próprio grupo.
Sendo que os grupos são:
A cabeça (Brâmanes) representa os sacerdotes, filósofos e professores;
Os braços (Xátrias) são os militares e os governantes;
As pernas (Vaixás) são os comerciantes e os agricultores;
Os pés (Sudras) são os artesãos, os operários e os camponeses [ex-servos].
A "poeira sob os pés" não foram originados do corpo de Brahma, por isso não pertencem às castas, mas
tem um nome: são os Dalit ou párias, chamados de intocáveis (a quem Mahatma Gandhi deu o nome de
Harijan, "filhos de Deus"). Os Dalit são constituídos por aqueles (e seus descendentes) que violaram os
códigos das castas a que inicialmente pertenciam. São considerados impuros e, por isso, ninguém ousa
tocar-lhes. Fazem os trabalhos considerados mais desprezíveis: recolha de resíduos, coveiros, talhantes, etc.
Na sequência das invasões mongóis da Índia (século XIII), milhões de párias converter-se-iam ao islamismo,
uma religião que não os marginalizava. Com o passar do tempo, ocorreram centenas de subdivisões, que não
param de se multiplicar. Atualmente, no hinduísmo, existem mais de 3.000 subcastas não-oficiais.
A origem do sistema de castas é incerta. Segundo o hinduísmo, vem de Brahma, a divindade criadora do
universo, mas parece ser proveniente da divisão entre os migrantes arianos — subgrupo dos indo-europeus que
povoou a Península da Índia por volta de 2000 a.C - 1600 a.C., vindo do norte, pelo Punjabe - e os nativos
(dasya), que se tornaram escravos. As primeiras referências históricas sobre a existência de castas se encontram
em um livro sagrado dos indianos, o Manu, possivelmente escrito entre 800 a.C. e 250 a.C.
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Estamentos
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Classes sociais
Classe social significa um grupo de indivíduos com características em comum do ponto de vista econômico,
comportamental e de representação ideológica do mundo que o rodeia. Ao longo da história das ciências sociais
existiram diversas reflexões e definições sobre uma classe social e das implicâncias de pertencer a uma ou outra.
Encontrar uma definição de classe social não é tarefa nada fácil, ainda mais quando o tema não gera uma
definição consensual entre estudiosos das mais diferentes tradições políticas e intelectuais. Porém, uma coisa é
certa! Todos estão de acordo com o fato de as classes sociais serem grupos amplos, em que a exploração
econômica, opressão política e dominação cultural resultam da desigualdade econômica, do privilégio político e da
discriminação cultural, respectivamente. Assim, as divisões em classes se da na forma que o indivíduo esta
situado economicamente e sociopoliticamente em sua sociedade.
Considerando que a estrutura social da sociedade capitalista está dividida em classes, a apropriação
econômica é o principal definidor da estratificação social. As outras distinções oriundas de diferenciações (religião,
hereditariedade, ocupação profissional/intelectual, entre outras) são secundárias se comparadas à distinção
econômica. Portanto, a hierarquia na sociedade capitalista é determinada pela posição que o indivíduo ou grupo
ocupa na produção e no mercado, ou ainda a capacidade individual de consumo de cada sujeito. Se um indivíduo
ocupar posição importante no mercado, automaticamente ocupará posição importante na sociedade. Por isso,
normalmente se divide os indivíduos em classes de acordo com a capacidade de consumo: ex: classe alta, média
e baixa; classe A, B, C, D e E.
A sociedade capitalista é a mais desigual se comparada a outros tipos. Uma minoria de pessoas se apropria
de quase toda a riqueza produzida, expressa na renda, nas propriedades e também nos bens simbólicos
expressos no acesso à educação e aos bens culturais como museus, livros, teatro, etc. A desigualdade pode ser
observada na miséria de uns e na riqueza de outros.
Perspectiva Marxista
Os marxistas explicam a desigualdade social a partir do pensamento de Marx. A desigualdade advém da
divisão do trabalho. A teoria marxista das classes sociais diz que: a organização social depende da econômica; o
grupo dominante socialmente é o que controla as forças de produção e detém o capital; o grupo dominado detém
apenas força de trabalho; esta desigualdade gera descontentamento social e gera conflitos (estes conflitos,
chamado de luta de classes por Marx, são o motor que faz mudar a sociedade); a posição de classe é
independente da consciência de pertença a essa mesma classe; as principais classes sociais são os capitalistas e
os proletários, mas um grande número de posições intermédias é responsável por um sistema complexo e de
grande conflitualidade.
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Perspectiva Weberiana
A teoria de Max Weber parte da de Max, mas introduz alguma complexidade: as classes resultam da
distribuição desigual do poder; o poder é variável quer a nível econômico, quer a nível social e político; a posição
de classe é determinada na esfera econômica (existe uma enorme variedade de posições de classe que refletem
as diversas capacidades econômicas e de acesso a bens materiais); a localização dos indivíduos numa classe é
determinada pela sua posição face ao mercado, a sua capacidade econômica para aceder a saberes, títulos,
qualificações, prestígio, honra, bens, empregos e propriedades; a combinação destes critérios resulta numa
grande variedade de estatutos sociais (status); exemplos de classes podem ser os proprietários, intelectuais, etc.;
a posição de classe não é herdada e deriva dos recursos que o indivíduo desenvolve ao longo da sua vida, o
processo é fluido e flexível; as classes não são permanentes, os indivíduos entram e saem delas; o conflito de
classes surge do desejo de equidade social.
Atualmente, as diferenças de classes têm vindo a esbater-se, no entanto, a desigualdade social permanece.
O gênero é uma das grandes dimensões da desigualdade. Não existem sociedades modernas em que as
mulheres tenham mais riqueza e status que os homens.
6. Quais são os principais modelos de estratificação? E em qual modelo o Brasil melhor se encaixa? Justifique.
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8. Diferencie a teoria de Marx da teoria de Weber referente à estratificação de classes. Aponte qual delas explica
melhor a realidade social que vivenciamos hoje. Por quê?
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9. De forma bem sucinta, e considerando a teoria de Karl Marx, defina com suas palavras o que é Luta de classes.
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ARRASE NO ENEM
1. Em termos sociológicos, assinale o que não for correto sobre o conceito de classes sociais.
a) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas sociedades.
b) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes sociais transformam-se ao longo da história conforme
a dinâmica dos modos de produção.
c) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo, pelas relações de cooperação que se desenvolvem
entre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo.
d) A formação de uma classe social, como os proletários, só se realiza na sua relação com a classe opositora, no
caso do exemplo, a burguesia.
e) A afirmação “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa a ideia de que as
transformações sociais estão profundamente associadas às contradições existentes entre as classes.
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2019 – APOSTILA DE FILOSOFIA/SOCIOLOGIA – 2ª SÉRIE – 1º TRIMESTRE
4. A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer camada. Por estratificação social entendemos, exceto:
a) A distribuição de indivíduos em grupos e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de
uma sociedade.
b) O processo de aquisição é assimilação dos valores, das normas, regras, leis, costumes e as tradições do
grupo humano do qual fazemos parte.
c) Que essa distribuição dos indivíduos se dá pela posição social, a partir das atividades que eles exercem e dos
papéis que desempenham na estrutura social.
d) Que em determinadas sociedades podemos dizer que as pessoas estão distribuídas pelas camadas alta (classe A),
média (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, riqueza e prestígio.
e) Por exemplo, que na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são determinadas
basicamente pela situação dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas.
5. Acerca das ideias desenvolvidas por Karl Marx e Max Weber, que formam a base da maioria das análises
sociológicas de classe e estratificação, assinale a opção correta.
a) Para Marx, uma classe é um grupo de pessoas que se encontra em uma relação comum com os meios de
produção, isto é, os meios pelos quais elas extraem seu sustento.
b) Para Karl Marx, nas sociedades pré-industriais, as duas classes principais eram a burguesia e o proletariado.
c) De acordo com Marx, existe, entre as classes sociais, uma relação de perfeita harmonia.
d) Para Max Weber, a estratificação social é simplesmente uma questão de classe.
e) Max Weber acreditava que a posição de mercado do indivíduo não tinha influência sobre suas opções de vida
6. Os fatores da estrutura social que devem ser levados em consideração para analisar uma sociedade estão na
alternativa:
a) Somente o fator cultural, pois este elemento é que definirá a estrutura de uma sociedade.
b) Econômico, político, histórico, social, religioso e cultural.
c) Esportivo, político, alimentar e econômico.
d) Cultural, filosófico, religioso e esportivo.
e) A felicidade e a união da população.
10. Em 2009, uma emissora de TV brasileira exibiu, no horário nobre, uma telenovela chamada “Caminho das
Índias”, que mostrava um pouco dos costumes e hábitos dos indianos. A sociedade indiana está
estratificada em
a) classe social
b) castas sociais
c) estamentos sociais
d) estados sociais
11. Para Karl Marx, os dois grupos contraditórios na sociedade capitalista são
a) patrícios e plebeus
b) burgueses e proletários
c) senhores e servos
d) livres e escravos
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CAPÍTULO 3
MOBILIDADE SOCIAL
Mobilidade social é um termo da sociologia que descreve a transição e a possibilidade de transição de
indivíduos e grupos sociais de uma classe social para outra, como também descreve as transições sociais que
acontecem dentro de uma mesma classe social. Serve para medir a igualdade de oportunidades em uma
determinada sociedade. Portanto, é uma ferramenta que procura interpretar essa conjugação de mobilidade
com desigualdade.
Mobilidade social se refere ao fato de que, em uma sociedade, os pobres ficam ou podem ficar mais pobres
ou mais ricos, assim como os mais abastados podem empobrecer ou ficarem ainda mais ricos. Contudo, a
mobilidade social não se refere somente à ascensão e ao declínio entre classes sociais, a mobilidade social pode
se referir também a uma mudança de status ou prestígio social sem, contudo, significar uma mudança de classe.
E, nesse sentido, os sociólogos apontam dois tipos de mobilidade social: mobilidade social vertical e
mobilidade social horizontal.
Na mobilidade social vertical o indivíduo não só tem melhoras nas suas condições de vida, prestígio e status
social, como também o aumento da sua renda é tal que este passa a entregar uma outra classe social. Da mesma
forma que o inverso acontece, a pessoa sofre um declínio e pode vir a integrar uma classe social inferior àquela
que antes ocupava. Nesse sentido, dizemos que existe a mobilidade social ascendente e a mobilidade
social descendente.
a) Mobilidade social vertical ascendente (ascensão social): o indivíduo passa a integrar um grupo
economicamente superior ao seu grupo anterior. Ou seja, quando a pessoa melhora sua posição no sistema
de estratificação social.
b) Mobilidade social vertical descendente (queda social): o indivíduo passa a integrar um grupo
economicamente inferior ao seu grupo anterior. Ou seja, quando a pessoa piora de posição no sistema de
estratificação social.
É o caso do indivíduo que abre um mercadinho na periferia, seu negócio prospera, e se transforma em um
mercado e ele passa a ter um padrão de vida de classe média; do rapaz que se forma na faculdade e passa a
ganhar um salário quatro vezes maior do que ganhava; ou do rico empresário que num momento de crise faz más
escolhas e leva o seu empreendimento à falência, descendendo, assim, socialmente, e etc.
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De acordo com José Pastore, em seu livro Mobilidade Social no Brasil, o Brasil, ao longo de várias décadas
mostrou que a maioria dos brasileiros sobe pouco na escala social, e a minoria sobe muito. Daí a coexistência de
mobilidade e desigualdade.
No passado, a maioria da mobilidade era do tipo estrutural – ou seja, as pessoas subiam na estrutura social
porque se abriam novos postos de trabalho com melhores oportunidades para as pessoas que os preenchiam –
estivessem elas preparadas ou não para as funções. Hoje, já desponta a mobilidade circular – aquela em que, para
uma pessoa ocupar uma posição mais alta, outra tem de desocupá-la (por troca, aposentadoria ou morte). Em outras
palavras, a mobilidade social começa a ser determinada por elementos de competição no mercado de trabalho, o que é
comum nos países mais avançados, onde é grande o papel da educação.
4. Qual critica pode ser feita ao discurso da meritocracia, a partir do texto “Igualdade de oportunidades x
desigualdade de condições”?
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2019 - APOSTILA FILOSOFIA/SOCIOLOGIA – 2ª SÉRIE – 1º TRIMESTRE
ARRASE NO ENEM
1. Existem sociedades em que os indivíduos nascem numa camada social mais baixa e podem alcançar, com o
decorrer do tempo, uma posição social mais elevada. Esse fenômeno é conhecido como
a) estamentação c) estratificação social
b) mobilidade social d) castação
2. Entre os fenômenos sociais estudados pela Sociologia, a mobilidade social é um indicador do nível de
desigualdade e de mudança social. Sabendo disso, ao falarmos em mobilidade social, estamos nos referindo
a) à frequência com a qual as famílias de uma sociedade deslocam-se ou mudam suas residências em um
determinado período de tempo.
b) ao número de migrantes e imigrantes que passam pelo território de um país em determinado tempo. Assim,
quanto maior for o número de migrantes e imigrantes, mais “movimentada” uma sociedade será.
c) ao índice de pessoas que conseguem ascender ou que caem na escala socioeconômica de uma sociedade,
observando os meios e os mecanismos que os indivíduos dispõem para tanto.
d) ao desenvolvimento dos meios de transporte públicos responsáveis pela movimentação das pessoas em uma
sociedade justa e desenvolvida.
e) à quantidade de carros ou veículos que circulam em uma cidade, tendo em mente que, quanto maior for a
quantidade de veículos em uma cidade, mais móvel ela se tornará.
5. “A maioria dos que se encontram abaixo da linha de pobreza, nos países não-desenvolvidos, é constituída
por famílias que subsistem em microunidades agrícolas, em atividades artesanais, no comércio ambulante,
através de trabalho sazonal ou uma combinação de atividades desta natureza. Estas famílias não se
beneficiam do salário-mínimo nem de outras medidas de proteção do trabalhador formal. Para ajudá-las,
torna-se necessário capitalizá-las e dar aos seus membros treinamento básico em tecnologia produtiva e em
procedimentos contábeis e financeiros” Paul Singer.
Perspectivas de Desenvolvimento da América Latina. In: Novos Estudos CEBRAP, n. 44, mar. 1996, p. 163.
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CAPÍTULO 4
Sociedade Industrial
Historicamente, um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento do mundo moderno foi a ascensão de
uma economia industrial que tem seu período marcante entre 1760 e 1850. Ainda vivendo um modelo feudal de
Idade Média, mas com um crescente movimento de urbanização, a Inglaterra inicia a moderna industrialização, e
as fábricas se instalaram principalmente nos aglomerados urbanos. O trabalho artesanal, onde o homem era
detentor de todo o processo, dá lugar a um processo industrial com profundas modificações sociais. Entre elas:
êxodo rural, problemas de moradia, problemas de saneamento e saúde, novas relações e condições de trabalho,
entre outros.
As cidades do século XIX, como Londres ou Paris, cresceram em torno das fábricas sem planejamento. Os
trabalhadores moravam junto às fábricas, enquanto os patrões moravam nos subúrbios mais distantes e
arborizados. As ruas eram estreitas e formavam labirintos; as casas dos operários eram pequenas e miseráveis,
grudadas umas às outras. Os cômodos não tinham janelas. O ar sufocava com os gases das chaminés e não
havia serviços públicos básicos, como água limpa ou rede de esgotos. Essas cidades industriais eram feias, sujas
e “tristes”; seus rios, imundos. Essa situação favorecia a disseminação de epidemias e doenças; cólera, varíola,
escarlatina e tifo eram frequentes entre os trabalhadores.
Outra situação provocada pela Revolução Industrial era a condição do trabalhador em ambientes fechados,
às vezes confinados, a que se chamou de fábricas. A literatura dessa época fala de personagens pálidos, quase
sem vida. As péssimas condições de trabalho (e do ambiente de trabalho) provocava adoecimento dos operários,
que passaram a sofrer acidentes e desenvolver doenças nas áreas fabris, como por exemplo, o tifo europeu (na
época chamado febre das fábricas); as jornadas nas fábricas consumia cerca de 15 horas por dia de homens,
mulheres e crianças – algumas com apenas cinco anos; os salários eram muito baixos, e o trabalho de mulheres e
crianças, em média, era a metade do que se pagava a um homem adulto; o trabalho infantil era útil, pois os dedos
finos das crianças eram adequados para a manutenção das máquinas, assim como seu porte físico para o espaço
apertado entre as instalações. Algumas crianças trabalhavam sobre pernas de pau, para alcançarem os teares. Se
adormecessem, podiam ter seus dedos estraçalhados nas engrenagens.
1. Aponte as principais mudanças sociais provocadas pela Revolução Industrial, entre o final do século XVIII e
início do século XIX.
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A Organização Sindical
Movimento operário no século XIX: à esquerda, o anarquista Bakunin; e à direita, o comunista Marx
Nos primeiros anos do século XIX, os trabalhadores começaram a se organizar em sindicatos, apesar de não
serem admitidos pela legislação. Consequentemente, surgiram as relações sociais entre donos das fábricas
(exploradores) e trabalhadores das fábricas (explorados) que permearam o dia a dia das indústrias.
Dessas relações nem um pouco amistosas entre capitalistas e trabalhadores surgiram na Inglaterra dois
movimentos, os ludistas e os cartistas, que tinham um objetivo em comum: encontrar soluções para os problemas
enfrentados pelos operários, principalmente o desemprego (decorrente da introdução nas fábricas de máquinas
que substituíram diversas forças de trabalho humana). Tanto ludistas quanto cartistas reivindicavam, através de
ações (como a quebra de maquinarias das indústrias), o retorno ao emprego dos trabalhadores desempregados.
Outra forma de reivindicação operária que não surtiu tanto efeito foi a tentativa de alcançar melhores
condições de trabalho solicitando-as ao governo. Geralmente, o poder público não atendia a essas reivindicações,
pois o próprio governo era dono de indústrias.
Com o decorrer das décadas, o capitalismo foi agregando novas feições, a sociedade passou por crescentes
transformações e, assim, os operários necessitavam articular novas formas de lutar por suas causas. Dessa
maneira, surgiram os movimentos socialistas, a partir da organização dos trabalhadores. Os principais movimentos
socialistas que surgiram no século XIX foram o anarquismo e o comunismo. Embora antagônicos, tanto o
anarquismo quanto o comunismo pautavam suas metas em transformações sociais profundas.
A luta trabalhadora havia apenas começado. O movimento sindical reunia grupos de diversas tendências,
desde os que lutavam a favor das reivindicações da classe trabalhadora, até aqueles que usavam o movimento
como uma atividade política, que poderia desencadear para uma revolução social. Muitos acreditavam que a luta
dos trabalhadores estava inserida num contexto social e político mais amplo. Na segunda metade do século XIX,
vários direitos trabalhistas já haviam sido conquistados graças à força dos movimentos sindicais e a adesão de
alguns segmentos da sociedade.
3. Apresente pelo menos dois fatores essenciais que fortaleceram a ideia de articulação da formação dos
sindicatos no século XIX.
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Solidariedade mecânica
Para ele a solidariedade mecânica é característica das sociedades ditas "primitivas" ou "arcaicas", ou seja,
em agrupamentos humanos de tipo tribal formado por clãs. Nestas sociedades, os indivíduos que a integram
compartilham das mesmas noções e valores sociais tanto no que se refere às crenças religiosas como em relação
aos interesses materiais necessários a subsistência do grupo. São justamente essa correspondência de valores
que irão assegurar a coesão social.
Solidariedade orgânica
De modo distinto, existe a solidariedade orgânica que é a do tipo que predomina nas sociedades ditas
"modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação individual e social (o conceito deve ser
aplicado às sociedades capitalistas). Além de não compartilharem dos mesmos valores e crenças sociais, os
interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada indivíduo é mais acentuada.
A divisão econômica do trabalho social é mais desenvolvida e complexa e se expressa nas diferentes
profissões e variedade das atividades industriais. Durkheim emprega alguns conceitos das ciências naturais, em
particular da biologia (muito em uso na época em que ele começou seus estudos sociológicos) com objetivo de
fazer uma comparação entre a diferenciação crescente sobre a qual se assenta a solidariedade orgânica.
Durkheim concebe as sociedades complexas como grandes organismos vivos, onde os órgãos são
diferentes entre si (que neste caso corresponde à divisão do trabalho), mas todos dependem um do outro para o
bom funcionamento do ser vivo. A crescente divisão social do trabalho faz aumentar também o grau de
interdependência entre os indivíduos.
Para garantir a coesão social, portanto, onde predomina a solidariedade orgânica, a coesão social não está
assentada em crenças e valores sociais, religiosos, na tradição ou nos costumes compartilhados, mas nos códigos
e regras de conduta que estabelecem direitos e deveres e se expressam em normas jurídicas: isto é, o Direito.
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5. Caracterize:
a) Solidariedade mecânica.
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b) Solidariedade orgânica.
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Esta mudança no comportamento social, além do choque de culturas exposto nos parágrafos acima, suscita
uma abrupta mudança no cenário econômico. Isso decorre do seguinte ciclo: O católico trabalha para viver, o
protestante vive para trabalhar. O protestante gera excedente, e o acumula, investindo-o em cadernetas de
poupança, gerando lucro. A finalidade protestante é salvar-se, e se o trabalho é salvador, empregar outros auxilia
na salvação alheia. Logo, o protestante é dono dos meios de produção, detém os funcionários e acumula cada dia
mais excedentes, gerando mais capital. E assim, a gênese do capitalismo moderno é concebida.
De modo geral, esse aspecto do pensamento de Weber, trata-se do gradual processo que o pensador
chamou de "desencantamento do mundo", a forma pela qual o pensamento científico (fortemente influenciado
pelo capitalismo e pela Revolução Industrial) fez desaparecer as forças “sobrenaturais-mágico-sacramental”
(religião, pensamento mágico e crenças diversas) do passado. As interpretações míticas da realidade foram
gradualmente sendo substituídas por uma visão racional. Ele queria mostrar que o protestantismo também tinha
contribuído para eliminar a magia como meio de salvação. Diferente do catolicismo e do luteranismo que
valorizavam os sacramentos, o puritanismo das seitas valorizava apenas o trabalho ascético (consagração a
exercícios espirituais de autodisciplina) e a disciplina moral como formas de assegurar a certeza interior da
salvação. Dessa forma elas tinham esvaziado completamente o papel da magia sacramental. O que importava era
comprovar, do ponto de vista prático, a fé religiosa. Isso levou a uma forma prática de conduta chamada de
racionalismo da dominação do mundo. Com esta leitura Weber desenvolve uma ampla leitura do processo de
racionalização ocidental e moderno, apontando, portanto, a geração de novos costumes, de um comportamento
inusitado e moral, que passa a sustentar a essência do sistema capitalista.
6. Apresente a ideia central de Max Weber presente na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.
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Socialismo científico
Socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu no final do século XVIII e se caracteriza pela
ideia de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada de riquezas e propriedades, diminuindo a
distância entre ricos e pobres. De acordo com o marxismo, uma sociedade baseada no capitalismo era dividida
em duas classes sociais: os exploradores (donos dos meios de produção, das fábricas, das terras), pertencentes
à burguesia, ou seja, os burgueses; e os explorados (aqueles que não tinham posses e tinha que se sujeitar aos
outros), ou seja, os proletários. Esse duelo entre as classes, que Marx chamou de luta de classes, é aquilo que
transforma e impulsiona a história.
O socialismo científico, criado por Karl Marx e Friedrich Engels, era um sistema ou teoria que tinha como
base a análise crítica e científica do capitalismo. A origem do socialismo tem raízes intelectuais e surgiu como
resposta aos movimentos políticos da classe trabalhadora e às críticas aos efeitos da Revolução Industrial
(capitalismo industrial). Na teoria marxista, o socialismo representava a fase intermediária entre o fim do
capitalismo e a implantação do comunismo.
O socialismo científico, também conhecido como marxismo ou socialismo marxista, se opunha ao
socialismo utópico, e ao capitalismo.
O socialismo utópico tinha o propósito de entender o capitalismo e suas origens, o acumular prévio de
capital, a consolidação da produção capitalista e as contradições existentes no capitalismo. Contudo,
possuía uma visão pouco transformadora e muito pacífica, porque não tinha a intenção de criar uma
sociedade ideal.
O capitalismo é um sistema que se baseia na propriedade privada dos meios de produção e no
mercado liberal, concentrando a riqueza em poucos.
O socialismo científico defendido por Marx e Engels afirmava que o socialismo seria alcançado a partir
de uma reforma social, com luta de classes e revolução do proletariado, pois no sistema socialista não
deveria haver classes sociais nem propriedade privada. Todos os bens e propriedades particulares
seriam de todas as pessoas e haveria repartição do trabalho comum e dos objetos de consumo,
eliminando as diferenças econômicas entre os indivíduos.
Em suma, a intenção do socialismo marxista tinha como fundamento teórico a luta de classes, a revolução
proletária, o materialismo dialético e histórico, a teoria da evolução socialista e a doutrina da mais-valia. O
socialismo científico previa melhores condições de trabalho e de vida para os trabalhadores através de uma
revolução proletária e da luta armada.
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Socialismo real
Socialismo real é uma expressão que designa os países socialistas que preconizam a titularidade pública
dos meios de produção.
No século XX, as ideias socialistas foram adotadas por alguns países, como por exemplo: União Soviética
(atual Rússia), China, Cuba, Coreia do Norte e Alemanha Oriental. Porém, em alguns casos, revelou-se um
sistema constituído por regimes autoritários e extremamente violentos. Esse socialismo é também conhecido
como socialismo real - um socialismo colocado em prática, que causou uma deturpação semântica do
"socialismo", levando a esses regimes que demonstraram desrespeito pela vida humana.
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ARRASE NO ENEM
1. O estabelecimento do Socialismo correspondia, em Marx,
a) a uma etapa para a instalação do Comunismo;
b) à superação do capitalismo pelo Socialismo Utópico;
c) à transformação de um regime econômico por um regime social;
d) a uma forma de eliminar a luta de classes pela aceitação da exploração social;
e) à imediata instalação do comunismo, sinônimo de Socialismo.
4. “Socialista” surgiu como descrição filosófica em princípios do século XIX. Sua raiz linguística era o sentido
desenvolvido de social. A distinção decisiva entre socialista e comunista, como em certo sentido esses termos
são hoje comumente utilizados, veio com a mudança de nome, em 1918, do Partido Operário Socialdemocrata
Russo para Partido Comunista Panrusso. Dessa época em diante, uma distinção entre socialista e comunista
tornou-se amplamente vigente.
RAYMOND WILLIAMS Adaptado de “Socialista”. In: Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 2007
Na história europeia, durante o século XX, estabeleceu-se uma diferença entre socialismo e comunismo
relacionada ao seguinte aspecto:
a) crítica dos valores liberais
b) controle da indústria pelo Estado
c) defesa da ditadura do proletariado
d) importância do sentimento patriótico
5. (…) a luta contra o capitalismo e a burguesia é inseparável da luta contra o Estado. Acabar com a classe que
detém os meios de produção sem liquidar ao mesmo tempo com o Estado é deixar aberto o caminho para a
reconstrução da sociedade de classes e para um novo tipo de exploração social.
(Angel J. Capelletti, apud Adhemar Marques et alli, História contemporânea através de textos)
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6. O “Socialismo Utópico” pode ser definido como um conjunto de ideias que se caracterizaram pela crítica ao
capitalismo, muitas vezes ingênua e inconsistente, buscando, ao mesmo tempo, a igualdade entre os indivíduos.
Em linhas gerais, combate-se a propriedade privada dos meios de produção como única alternativa para se atingir
tal fim. A ausência de fundamentação científica é o traço determinante dessas ideias. Pode-se dizer que seus
autores, preocupados com os problemas de justiça social e igualdade, deixavam-se levar por ideais românticos.
Assinale a alternativa que apresenta o único autor que não pertenceu a este ramo do socialismo.
a) Robert Owen
b) Karl Marx
c) Charles Fourier
d) Prodhoun
e) Claude Saint-Simon
7. No final do século XIX, nos países europeus mais industrializados, a crítica e a oposição operárias à
sociedade burguesa poderiam ser detectadas na
a) quebra das máquinas e nos atentados contra os proprietários e principais acionistas dos grandes
conglomerados fabris.
b) postura da 1ª Internacional de trabalhadores, que se posicionou favoravelmente à guerra imperialista.
c) ascensão do movimento sindical e na expansão das ideias socialistas entre os operários.
d) propaganda anticolonialista feita pelos sindicatos católicos e marxistas.
e) propaganda contrária à implantação dos comitês de fábricas e à participação nos lucros.
8. Na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, o sociólogo Max Weber analisa a influência de um
tipo de comportamento religioso no desenvolvimento do capitalismo moderno. O autor destaca a relação
particular entre a “ética protestante” e a questão do “trabalho” para mostrar, por exemplo, que: I) o trabalho
deve ser encarado como “um dever” (vocação) e não como “uma obrigação”; e II) “o aumento de salário não
significa aumento da produção”.
Com base no enunciado e afirmações acima é correto afirmar que
a) o surgimento do capitalismo moderno é o produto autêntico de uma mentalidade protestante.
b) o surgimento do moderno capitalismo do ocidente surgiu de modo acidental.
c) a suposta correlação entre aumento de salário e maior produtividade do trabalho nunca pode ser comprovada.
d) a maneira protestante de encarar o trabalho contribuiu para o maior desenvolvimento do capitalismo em
países como a Inglaterra e os EUA.
e) o modo protestante de encarar o trabalho debilitou a expansão da produção econômica nos países de
maioria protestante.
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