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Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB

Centro de Ciências Exatas e Tecnologias – CCET


Laboratório de Física Moderna – CET0182
Radiação Térmica: Lei de Stefan-Boltzmann

Thales de Barros

INTRODUÇÃO
O movimento e o “fluxo” de energia térmica é um processo termodinâmico de
importância fundamental, com propriedades que podem ser usadas em várias
aplicações tecnológicas e na indústria. O Sol, por exemplo, fornece a superfície da
terra o calor necessário para a vida prosperar. A questão importante é, como o
processo de transferência de calor ocorre?

Basicamente existem três mecanismos pelos quais a energia térmica é transferida


entre objetos: Condução; Convecção e radiação térmica [1]. Esse ultimo é o de
interesse nessa prática.

A radiação térmica tem sido um campo de grande interesse para muitos cientistas
ao longo dos anos. É sabido que um corpo que absorve radiação térmica também
emite. Um corpo ideal, que absorve toda energia térmica é chamado de “Corpo
Negro”.

Max Planck (1858 – 1947), foi quem explicou pela primeira vez o problema de
emissão de radiação devido a um corpo negro. Sendo a densidade de fluxo de energia
𝑃(𝜆, 𝑇) de um corpo negro, energia emitida, por unidade de área por unidade de
tempo, a uma temperatura T e comprimento de onda 𝜆 em um intervalo 𝑑𝜆, a formula
de Planck nos diz que:

𝑑𝑃(𝜆, 𝑇) 2𝑐 2 ℎ𝜆−5
= ℎ𝑐 (1)
𝑑𝜆
𝑒 𝜆𝑘𝑏 𝑇 − 1
Integrando a equação acima com 0 < 𝜆 < ∞, encontramos a densidade de fluxo
de energia 𝑃. Temos então:

𝑃(𝑇) = 𝜎𝑇 4 (2)
Sendo 𝜎 = 5.67 ∙ 10−8 [𝑊 ∙ 𝑚2 ∙ 𝐾 −4 . A equação 2 (acima) é a lei de Stefan-
Boltzmann.

A proporcionalidade 𝑃(𝑇) ~ 𝑇 4 da lei de Stefan-Boltzmann também é validada


para corpos chamados de “corpos cinzas”, mas com uma constante 𝜀 multiplicativa,
assim a equação 2. fica:

𝑃(𝑇) = 𝜀𝜎𝑇 4 (3)


Ou seja, a radiância de um corpo cinza é proporcional a de um corpo negro. Sendo
𝜀 definida como a emissividade do corpo, que é uma constante, para uma certa gama
de temperatura, por que estamos considerando um corpo cinza. Para um corpo cinza
geral emissividade depende da temperatura.

Esse experimento tentou comprovar a validade da lei de Stefan-Boltzmann


medindo a radiação emitida por um filamento de tungstênio de uma lâmpada
incandescente em diferentes temperaturas, que representa com boa aproximação um
corpo cinza.

Com uma distância fixa entre a lâmpada e uma termopilha, o fluxo de energia que
atinge a termopilha é proporcional a P(T):

𝜙 ~ 𝑃(𝑇) (4)
Sabendo da proporcionalidade entre 𝜙 e a diferença de potencial 𝑈𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚 medida
pela termopilha devido a 𝜙 podemos escrever então que:

𝑈𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚 ~ 𝑇 4 (5)
A temperatura T em Kelvins, pode ser calculada por 𝑇 = 𝑡 − 273,15, sendo t dada
pela equação que da a resistência do filamento a essa temperatura:

𝑅 (𝑡) = 𝑅0 (1 + 𝛼𝑡 + 𝛽𝑡 2 ) (6)
Sendo 𝑅0 a resistência do filamento a temperatura 0𝑜 𝐶, isolando t na equação 6.
acima e substituindo em 𝑇 = 𝑡 − 273,15, teremos:

1 𝑅 (𝑡 )
𝑇 = 273,15 + [√𝛼 2 + 4𝛽 ( − 1) − 𝛼] (7)
2𝛽 𝑅0

Em que a resistência 𝑅(𝑡) pode ser calculada usando a lei de Ohm. E a resistência
a temperatura 0𝑜 𝐶 pode ser calculada usando a equação 6. para a temperatura
ambiente 𝑇𝑙 , (Temperatura do Laboratório)
PROCEDIMENTO

Durante a realização do experimento foram utilizados os equipamentos e


montagem constados no roteiro [2].

Para o cálculo da resistência do filamento a temperatura ambiente, no caso a


temperatura do laboratório, a lâmpada foi conectada em série a um resistor de 100Ω
e a fonte, variando a corrente entre 50mA e 150mA, e medindo a voltagem. Para a
medição da resistência à temperatura de 0𝑜 𝐶 usando a equação 6, a temperatura do
laboratório foi aferida com um termômetro.

Em seguida a lâmpada foi conectado a fonte de tensão, um multímetro para


medição do potencial aplicado e um multímetro para a medição da corrente
correspondente. A termopilha foi ligada a um amplificador para tornar a medição mais
precisa, já que o potencial devido a lâmpada é muito pequeno, ao amplificador foi
ligado um multímetro para medição do potencial 𝑈𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚 . A lâmpada ficou cerca de
20cm da termopilha e bem alinhada.

A voltagem da lâmpada foi aumentada de 1V a 6V, em intervalos de


aproximadamente 1V. Foram medidas as correntes e potencial da termopilha
correspondentes. Os resultados foram registrados e a resistência do filamento a cada
temperatura (A cada variação do potencial) pode ser calculada.

DADOS COLETADOS E RESULTADOS

Para a etapa da medição da resistência do filamento a temperatura ambiente


(temperatura do laboratório) descrita no item anterior foram coletados os dados:

TABELA 1
Corrente I (mA) Potencial (mV)
50 8.8
75 13.3
100.1 17.9
125.4 22.6
149.7 27

Temperatura do Laboratório 21°C

Com os dados da TABELA 1, podemos calcular a resistência do filamento de


tungstênio a temperatura do laboratório, 21°C. Sabemos da dependência de V e I a
partir da lei de Ohm, V=IR. Construindo um gráfico com os dados de V e I da TABELA
1 teremos:

A resistência do filamento a 21°C, considerando que o filamento esteja na mesma


temperatura do laboratório, será então o coenficiente linear da reta (Grafico 1), que
nesse caso será 𝑎 = 0.18294 ± 0.00053, logo teremos 𝑅 (𝑡𝑙 ) = 0.18294 ± 0.00053.

Para o calculo da resistência do filamento a uma temperatura 0°C 𝑅0 , usamos a


equação 6, substituindo 𝑅(𝑡𝑙 ) encontrado no paragrafo anterior e a temperatura t do
laboratório (21°C), e isolamos 𝑅0 . O que resulta; 𝑅(𝑡) = 0.166087783.
A segunda parte experimental constituia a medição do potencial da termopilha
𝑈𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚 , devido a radiação emitida pelo filamento da lampada quando submetida a um
potencial 𝑉. E a medição da corrente devido a esse potencial para o cálculo da
resistência da lâmpada a cada temperatura (A lampada aquece ao ser submetida ao
potencial, obviamente). Os dados coletados estão listados na tabela a seguir:

TABELA 2
Potencial U (V) Corrente I(A) U_th (mV)
1.04 2.1 0.15
2.05 2.67 0.66
3.06 3.26 1.46
4.01 3.75 2.19
5.02 4.22 2.79
5.95 4.62 3.6
Com os dados da TABELA 2 (acima) podemos calcular a resistência do filamento
para cada diferença de potencial usando a lei de Ohm (V=IR) e usando a equação 7
calculamos sua temperatura de corresponde (sendo 𝑅 (𝑡) = 0.166087783.). E
reescrevendo a equação 5, tirando o logaritmo dos dois lados teremos
𝑙𝑜𝑔𝑈𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚 ~ 4𝑙𝑜𝑔𝑇 + 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡, montando uma tabela com os valores calculados de T,
das resistências R(t) e dos logaritmos de T e 𝑈𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚 (dados da tabela 3) teremos:
TABELA 3
U(V) T(K) R(t) logT logU_therm
1.04 662.99 0.50 2.82 -0.82
2.05 958.83 0.77 2.98 -0.18
3.06 1134.21 0.94 3.05 0.16
4.01 1263.80 1.07 3.10 0.34
5.02 1379.86 1.19 3.14 0.45
5.95 1472.65 1.29 3.17 0.56

A tabela acima é de fácil interpretação; para cada tensão aplicada o filamento terá
uma temperatura, e consequentemente, sua resistência também mudará. Usando os
dados da tabela 3 (acima) e a relação já encontrada 𝑙𝑜𝑔𝑈𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚 ~ 4𝑙𝑜𝑔𝑇 + 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡,
sabemos que o logaritmo do potencial da termopilha será proporcional ao logaritmo
da temperatura T. Montando um gráfico com os dados da tabela teremos:

Calculando o coeficiente angular da reta do gráfico acima encontramos, 𝑎 =


4.0218 ± 0.1052, com o valor esperado igual a 4, sendo a precisão do experimento
muito boa.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Quando aplicada a tensão a lâmpada começou brilhando em um vermelho muito


fraco, com a tensão aumentando, logo a corrente, a resistência do filamento também
aumentam e logo também sua temperatura. A cor do filamento ficou
progressivamente mais brilhante passando do amaereloo até o branco, como previsto
pela teoria (deslocamento de Wein).
O aumento progressivo do potencial da termopilha indica, que a medida que a
temperatura do filamento aumentava ele irradiava mais radiação. A plotagem dos
dados coletados (gráfico 2), mostra que o calor irradiado do filamento está relacionado
com a quarta potência da temperatura, assim quanto mais quente o filamento se
tornava mais energia ele irradiava.
A inclinação real da reta do gráfico 2 é de 𝑎 = 4.0218 ± 0.1052 muito próximo do
valor teórico que é 4.
Os resultados do experimento mostraram ser a lei de Stefan-Boltzmann um ótimo
modelo para descrever a emissão e absorção de radiação de um corpo negro.

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