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CIVILIZAÇÃO E CULTURA EM NIETZSCHE: DOMESTICAÇÃO E

ELEVAÇÃO

CIVILIZATION AND CULTURE IN NIETZSCHE: DOMESTICATION AND LIFTING

José André de Azevedo1

AZEVEDO, J. A. Civilização e cultura em nietzsche: domesticação


e elevação. Akrópolis Umuarama, v. 17, n. 4, p. 179-186, out./dez.
2009.

Resumo: A radicalidade filosófica de Friedrich Nietzsche (1844-1900) descreve


a situação do homem moderno, busca a causa do niilismo europeu e aponta
perspectivas para a superação desse quadro. Opondo os conceitos de Civili-
sation e Cultur – Civilisation como domesticação e Cultur como elevação e
fortalecimento –, o pensador alemão nos oferece uma importante e preciosa
interpretação da modernidade, onde somente um “homem elevado” é capaz de
atravessar o abismo aberto diante do homem moderno e constituir uma nova
“raça” de humanos (übermensch).
Palavras-chaves: Nietzsche; Niilismo; Civilização; Cultura; Modernidade.

Abstract: The radical philosophy of Friedrich Nietzsche (1844-1900) descri-


bes the situation of modern man, seeking the cause of European nihilism and
outlines perspectives for the resolution of this situation. Opposing the concepts
of Civilisation and Cultur - Civilisation as domestication and Cultur raising and
strengthening - the german thinker offers us an important and valuable inter-
pretation of modernity, where only a “higher man” is capable of crossing the
1
Mestrando em Filosofia Moderna e Con- chasm opened before the modern man and constitute a new “breed” of humans
temporânea da Universidade Estadual do (übermensch).
Oeste do Paraná – UNIOESTE Keywords: Nietzsche; Nihilism; Civilization; Culture; Modernity.
Professor da Faculdade Global de Umuara-
ma – FGU
Avenida Rio Branco, 4145. Centro. CEP:
87.501-130. Umuarama/PR
E-mail: azevedosac@hotmail.com

Recebido em Outubro/2009
Aceito em Dezembro/2009

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AZEVEDO, J. A.

INTRODUÇÃO A época e os coetâneos.


Da sétima solidão.
Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo da Por que a verdade?
radicalidade e da polêmica, da análise da realidade A vontade de verdade.
Psicologia dos filósofos
de seu tempo e de prognósticos trágicos, possui,
da vontade de verdade.
como bandeira filosófica, a “transmutação dos valo- Civilização e cultura: um antagonismo (16 [73] da
res”. primavera/verão de 1888).
Transvalorizando os valores, pretende fazer
estremecer a cultura moderna, pôr em evidência sua Para que a leitura do texto se torne frutuosa,
hipocrisia e suas contradições e, para alcançar tal necessário se faz ter em mente o binômio civiliza-
escopo filosófico, “dinamitará” os fundamentos e as ção/cultura: de modo geral, mais especificamente na
bases da civilização ocidental, a saber: os valores da maturidade filosófica de Nietzsche, civilização é tudo
razão, da moral, da ciência, da política, da religião e aquilo que declina, que domestica e inibe a vontade
da cultura. de potência; por outro lado, a cultura é vista como
A partir disso, esta pesquisa intenciona ana- elevação, como compreensão da vida a partir do vir-
lisar o binômio civilização/cultura à maneira proposta a-ser, é a valorização da luta, são os impulsos alta-
por Nietzsche. Percebemos em quatro fragmentos de mente hierarquizados e as condições que permitem o
Nietzsche, num período inferior a um ano (do outono crescimento desses mesmos impulsos.
de 1887 ao verão de 1888), o pensador alemão expli-
citando justamente o antagonismo civilização como DESENVOLVIMENTO
domesticação e cultura como elevação.
Entretanto, para entendermos os conceitos
Os pontos culminantes da cultura e da civilização
nietzschianos de civilização e cultura e suas even-
estão separados, não se pode deixar confundir
sobre o antagonismo destes dois conceitos. Os tuais decorrências, necessário se faz entender em
grandes momentos da cultura são os tempos de que contexto se inserem suas críticas à civilização e
corrupção, expressados moralmente; as épocas a preconização de uma cultura elevada.
de domesticação querida e forçada do homem Nietzsche é um pensador que possui um in-
(“civilização”) são tempos de intolerância com teressante modus operandi para filosofar: define-se a
as naturezas mais espirituais e ousadas e seus si mesmo como dinamite e pretende desestabilizar os
mais profundos adversários (9 [142] do outono de valores presentes, os quais, segundo a perspectiva
1887). nietzschiana, encontram-se em um contexto crucial
(niilismo, crise de valores e suicídio dos fundamen-
AQUILO CONTRA O QUE EU TENHO ADVER-
TÊNCIAS: não confundir os instintos de decaden- tos); analisa, então, o passado e aponta perspectivas
ce com a humanidade [Humanität]; não confundir embasado no que acontece hic et nunc.
os meios dissolventes da civilização, que levam Ao analisar o presente, o pensador alemão,
necessariamente à decadence, com a cultura: não como que tirando uma radiografia dos tempos mo-
confundir a libertinagem [libertinaje], o princípio do dernos, percebe uma situação de imensa catástrofe.
“lasser aller” [deixar que as coisas caminhem à Entretanto, tal termo – catástrofe – não deve ser en-
sua ira] com a vontade de poder (que é o prin- tendido simplesmente como aquilo que é sem saída
cípio contrário do anterior) (15 [67] da primavera ou uma grande desgraça ou uma hecatombe; de-
de 1888).
vemos entender o termo catástrofe aqui no sentido
Os topos da cultura e da civilização se acham se- que o mesmo toma na tragédia grega: um momento
parados um do outro; não devemos enganar-nos decisivo em que se torna visível aquilo que, até en-
sobre o abismal antagonismo entre cultura e civi- tão, estava invisível; uma situação que se torna clara
lização. Os grandes momentos da cultura sempre e, até este momento, não era nítida. E esse revelar-
foram, falando moralmente, tempos de corrupção; se e dar-se a conhecer é, de fato, o que determina
e, por sua parte, as épocas de querida e forçada o sentido dos acontecimentos. De maneira geral, a
domesticação (“civilização”) do ser humano foram catástrofe é um movimento em que – à semelhança
tempos de intolerância com as naturezas mais es- do círculo – o ponto inicial e o ponto final coincidem,
pirituais e mais ousadas. A civilização quer uma
revelando noções norteadoras.
coisa diferente do que a cultura quer: talvez até
mesmo uma coisa contrária... (16 [10] da primave- Assim sendo, por que a Alemanha e a Europa
ra/verão de 1888). vivem, para Nietzsche, uma situação de catástrofe?
Porque a modernidade está imersa em um suicídio
Para a fisiologia da arte de fundamentos. O que Nietzsche quer afirmar é: o
O problema de Sócrates fundamentalismo, a busca por fundamentos – que
Moral: domestica ou cria – As realidades depois desde o início esteve presente na cultura ocidental –,
da moral. A luta contra as paixões e sua espiritua- é, na sua própria origem, o suicídio do fundamento.
lização. Naturalismo da moral e desnaturalização. Somente quando se completa esse movimento de to-

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Civilização e cultura em Nietzsche...

tal esgotamento e de total perda de valor por parte de Como todos sabemos, Nietzsche esboçou
supremas referências de valor é que tomamos cons- (ou diagnosticou?) uma imagem pavorosa do mundo
ciência daquilo que desde sempre estava na origem. moderno: a humanidade declina; não há cultura, so-
Em outras palavras: o fato de o ser humano basear- mente recolhimento de informações; buscamos de-
se inteiramente no princípio de um fundamento não senfreadamente sensações, o que nos oferece um
pode fundamentar o princípio do próprio fundamen- simulacro do viver; ele mostra a insanidade de uma
to. vida que almeja exclusivamente o lucro, apregoa o
Quando se chega a esse ponto, aí se instau- maquinismo e a mecanização das relações.
ra a catástrofe, aí se instaura a possibilidade de se Porém, tudo isso somente constitui, para
tomar consciência daquilo que desde sempre foi a Nietzsche, um plano superficial, são consequências
possibilidade de origem ou, então, o ultrapassar des- de algo mais profundo, é apenas a ponta do iceberg.
sa origem. Nietzsche diagnostica o momento catas- Quando tudo se desestabiliza e caminha para o abis-
trófico da modernidade: o niilismo. mo, sucede, na realidade, para Nietzsche, um fenô-
meno mais profundo: Gott ist tot (Deus está morto).
O niilismo como estado psicológico terá de ocor- Trata-se de uma espantosa novidade. Niet-
rer, primeiramente, quando tivermos procurado zsche não diz Não há Deus e nem tampouco afirma
em todo acontecer por um “sentido” que não está
Não creio em Deus, mas constata um fato: Deus está
nele: de modo que, afinal, aquele que procura per-
de o ânimo. Niilismo é então o tomar-consciência
morto. Dessa maneira, oferece o resultado da reali-
do longo desperdício de força, o tormento do “em dade contemporânea: o niilismo europeu tem origem
vão”, a insegurança, a falta de ocasião para se num declínio mais profundo, ou seja, o niilismo nasce
recrear de algum modo, de ainda repousar sobre mediante o erro de ter-se pretendido valer, de modo
algo – a vergonha de si mesmo, como quem se absoluto, de categorias tais como a do sentido e da
tivesse enganado por demasiado tempo... Aquele totalidade. Claro exemplo disso é a conhecida passa-
sentido poderia ter sido: o “cumprimento” de um gem do louco desvairado na praça central, parágrafo
cânone ético supremo em todo acontecer, a or- 125 de A Gaia Ciência:
denação ética do mundo; ou o aumento do amor
e harmonia no trato dos seres; ou a aproximação Vós não ouvistes falar daquele homem desvaira-
de um estado de felicidade universal; ou mesmo do que em plena manhã luminosa acendeu um
o livrar-se um estado universal de nada – um alvo candeeiro, correu até a praça e gritou ininterrup-
é sempre um sentido ainda. O que há de comum tamente: “Estou procurando por Deus! Estou pro-
em todos esses modos de representação é que curando por Deus! – à medida que lá se encontra-
algo deve, através do processo, mesmo, ser al- vam muitos dos que não acreditavam em Deus,
cançado: - e agora se concebe que com o vir-a- ele provocou uma grande gargalhada. Será que
ser nada é alvejado, nada é alcançado... Portan- ele se perdeu? – dizia um. Ou será que ele está
to, a desilusão sobre uma pretensa finalidade do se escondendo? Será que ele tem medo de nós?
vir-a-ser como causa do niilismo: seja em vista de Ele foi de navio passear? – assim eles gritavam
um fim bem determinado, seja, universalizando, a e riam em confusão. O homem desvairado saltou
compreensão da insuficiência de todas as hipóte- para o meio deles e atravessou-os com seu olhar.
ses finalistas até agora, no tocante ao “desenvol-
“Para onde foi Deus? –, ele falou –, gostaria de
vimento” inteiro (o homem não mais colaborador,
vos dizer! Nós o matamos – vós e eu! Nós todos
quanto mais centro do vir-a-ser) (NIETZSCHE,
somos os seus assassinos! Mas como fizemos
1996, p. 430).
isso? Como conseguimos esvaziar o mar? Quem
nos deu a esponja para apagar todo o horizonte?
Niilismo é, segundo o pensador, o devotar a O que fizemos ao arrebentarmos as correntes que
vida à procura de um sentido quando este mesmo prendiam esta terra ao seu sol? Para onde ela se
sentido não está nele, é a tomada de consciência do move agora? Para onde nos movemos? Afasta-
desperdício de força em vista de uma teleologia que dos de todo sol? Não caímos continuamente? E
não se basta a si mesma, é a vergonha do engano para trás, para os lados, para frente, para todos
da entrega e da adesão a algo que, no fundo, é “sem os lados? Há ainda um alto e um baixo? Não erra-
fundo”. Quando o ser humano assim se percebe, mos como que através de um nada infinito? Não
nos envolve o sopro do espaço vazio? Não está
mergulha no nada que, neste momento, se epifaniza.
mais frio? Não advém sempre novamente a noite
Em outras palavras: o homem percebe que construiu e mais noite? Não precisamos acender os cande-
sua casa sobre a areia... e as chuvas deram contra eiros pela manhã? Ainda não escutamos nada do
ela e grande foi sua ruína. barulho dos coveiros que estão enterrando Deus?
Mas como a maneira de Nietzsche refletir Ainda não sentimos o cheiro da putrefação de
é a partir do dado presente – no caso o niilismo e Deus? – também os deuses apodrecem! Deus
o suicídio de fundamentos –, analisando o passado está morto! Deus permanece morto! E nós o mata-
e prognosticando o futuro, podemos nos perguntar: mos! Como nos consolamos, os assassinos dentre
o que ocorreu para que caíssemos nessa situação todos os assassinos? O mais sagrado e poderoso
que o mundo até aqui possuía sangrou sob nos-
abismal?
sas facas – quem é capaz de limpar este sangue

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AZEVEDO, J. A.

de nós? Com que água poderíamos nos purificar? causa do vazio colossal é a morte de Deus, a própria
Que festejos de expiação, que jogos sagrados morte de Deus tem uma origem e um culpado, a sa-
não precisaremos inventar? A grandeza deste ato ber: o próprio cristianismo.
não é grande demais para nós? Nós mesmos não Se Deus está morto, a responsabilidade é do
precisamos nos tornar deuses para que venha-
cristianismo, o qual destruiu toda pulsão da vida e
mos a aparecer como apenas dignos deste ato?
Nunca houve um ato mais grandioso – e quem gestou, grosso modo, as ideias do Esclarecimento.
quer que nasça depois de nós pertence por causa Assim, diante do abismo da morte de Deus, o cris-
deste ato a uma história mais elevada do que toda tianismo não propõe mais do que ficções e fábulas.
história até aqui” O homem desvairado silenciou Como o cristianismo, com todas as suas forças, so-
neste momento e olhou novamente para os seus mente se apoiava em ilusões, o homem esclarecido
ouvintes: também eles se encontravam em silên- deve afogar-se, forçosamente, em um nada sem pre-
cio e olhavam com estranhamento para ele. “Eu cedentes.
venho cedo demais”, disse então, “não é ainda Sendo o cristianismo – em coluio com a filo-
meu tempo. Esse acontecimento enorme está a
sofia grega – que moldou a civilização européia – e
caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ou-
vidos dos homens. O corisco e o trovão precisam aqui está inclusa a mentalidade alemã –, Nietzsche
de tempo, a luz das estrelas precisa de tempo, os criticará a cultura e apresentará um projeto de nova
atos, mesmo depois de feitos, precisam de tempo cultura, uma cultura que responda a essa vontade de
para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes potência de transpor o abismo apresentado à frente
é mais distante que a mais longínqua constelação do homem moderno.
– e no entanto eles o cometeram!” - Conta-se tam- Diante do que foi apresentado, podemos nos
bém que no mesmo dia o homem louco irrompeu questionar: como entender um pensamento tão ra-
em várias igrejas e em cada uma entoou o seu dical e intenso? Como analisar a obra de um pen-
Requiem aeternam Deo. Levado para fora e inter-
sador que se apresenta de maneira tão convicta e
rogado, limitava-se a responder: “O que são ainda
essas igrejas, se não os mausoléus e túmulos de crítica? Como interpretar globalmente a filosofia de
Deus?” (NIETZSCHE, 2008, pp. 149-151). Nietzsche? Eis uma polêmica estabelecida há mais
de um século. Por seu estilo e pelo gênero literário
Uma vez que tem tomado clara consciência de seus escritos, avesso à exposição sistemática e
desse feito, Nietzsche descobre que todos os traços e lógica – o que não quer dizer que seu pensamento
acontecimentos de nossa época – a catástrofe – deri- seja irracional –, Nietzsche resiste às simplificações
vam desse feito capital; é o fato de que a humanidade e às diversas tentativas de traduzi-lo em proposições
esvaziou o mar, com a esponja apagou o horizonte, definidas.
arrebentou as correntes que prendiam a terra ao sol Temos, com certeza, algumas portas de en-
que traz à tona o vazio total e abismal; é a morte de trada para uma leitura sistematizada de Nietzsche.
Deus que gera o niilismo moderno. Entretanto, gostaríamos de enfatizar que os concei-
O que Nietzsche faz, na realidade, é mostrar tos civilização e cultura estão diretamente relacio-
para o homem moderno que Deus está morto e que nados à crítica à cultura moderna e, dessa maneira,
nós todos somos os seus assassinos, ou seja, é tra- são aspectos fundamentais da filosofia nietzschiana,
zer à luz uma realidade que é inextirpável ao próprio oferecendo-nos, com certeza, um viés claro de com-
movimento do Esclarecimento, isto é, o homem mo- preensão de seu pensamento.
derno é aquele que colocou o mundo e a história sob O filósofo alemão, ao tratar do tema cultura,
o signo da razão esclarecida. A razão esclarecida é propõe, em suas obras, várias palavras para discu-
aquela que abjura toda e qualquer forma de escravi- tir essa problemática. Entretanto, dois sentidos são
dão e ato subjugado, a razão esclarecida é a razão constituídos a partir do conjunto de suas reflexões:
absoluta, portanto, necessariamente sem Deus. Civilisation, entendido como domesticação e aman-
Logo, para Nietzsche, a ciência moderna é, samento (Zähmung) e Cultur, entendido como uma
pela sua própria vocação e constituição, ateísta. De cultura elevada (Höheren cultur), uma cultura, como
maneira geral, não há problemas em apoiar-se num já sublinhamos, que compreenda a vida como vir-a-
conhecimento da realidade fundamentalmente ateu; ser, como valorização da luta, como hierarquização
a dificuldade é a hipocrisia apresentada pelo homem dos impulsos e possibilitação do crescimento dos
moderno: quer uma coisa e seu contrário ao mesmo mesmos.
tempo, ou seja, ele quer emancipar-se inteiramente Esse dois conceitos, esse binômio antagô-
e, ainda assim, colocar-se sob a proteção e abrigo de nico, estão relacionados diretamente a sua crítica à
um absoluto qualquer. cultura de seu tempo e à proposta de uma nova pos-
O homem moderno volta-se, após constatar sibilidade cultural.
com surpresa a morte de Deus como geradora do nii- A noção de Civilisation, para Nietzsche, é um
lismo, com um olhar esclarecido para aquilo que é profundo processo de Zähmung/amansamento. O
mais próprio e típico de sua história: o cristianismo. homem civilizado – que Nietzsche caracteriza como
Assim fazendo, depara-se com outro abismo: se a o homem bom e virtuoso, ou seja, o cristão – é visto

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Civilização e cultura em Nietzsche...

por todos como um homem em um processo de me- se todas as tendências mais diversas. Tanto a do-
lhoramento (Verbesserung), processo que estabele- mesticação da besta humana quanto a criação de
ce uma imutabilidade antropológica e um protótipo de um determinado gênero de homem foi chamada
ser humano. Ora, esse melhoramento, no fundo, para “melhoramento”: somente estes termos zoológi-
cos expressam realidades. Realidades das quais
Nietzsche, é uma mentira educativa (a pia fraus a que
com certeza o sacerdote, o típico “melhorador”,
Platão se refere em sua obra A República) com o ob- nada sabe - nada quer saber... Chamar a domesti-
jetivo de castrar a vocação humana para aquilo que cação de um animal de “melhoramento” soa, para
Nietzsche chama de fortalecimento (Verstärkung), ou nós, quase como uma piada. Quem sabe o que
seja, o fruir de um humano prenhe de impulsos orga- acontece nos amestramentos em geral duvida de
nizados hierarquicamente. que a besta seja aí mesmo “melhorada”. Ela é en-
Percebe-se, então, em Nietzsche, uma revi- fraquecida, tornam-na menos nociva, ela se trans-
ravolta de perspectivas: o melhoramento (Verbesse- forma em uma besta doentia através do afeto de-
rung) não passa de um enfraquecimento do homem pressivo do medo, através do sofrimento, através
das chagas, através da fome. – Com os homens
forte (Verstärkung) e, assim, a Civilisation é um Zäh-
domesticados que os sacerdotes “melhoram” não
mung, um amansamento, e essa não eleva o homem, se passa nada de diferente. Na baixa Idade Mé-
mas o enfraquece e diminui o impulso de viver forte- dia, quando de fato a igreja era antes de tudo um
mente. adestramento, caçava-se por toda parte os mais
Por conseguinte, entender o processo ci- belos exemplares das “bestas louras”. “Melhora-
vilizatório como um progresso (e esse progresso é vam-se”, por exemplo, os nobres alemães. Mas
compreendido pela modernidade como: igualdade de com o que se parecia em seguida um tal alemão
direitos, senso de humanidade, compaixão, demo- “melhorado”, seduzido para o interior do claustro?
cracia, tolerância, ou seja, liberté, egalité et fraternité) Com uma caricatura do homem, com um aborto.
Ele tinha se tornado um “pecador”, ele estava em
é, para o pensador alemão, uma falácia. O processo
uma jaula, tinham-no encarcerado entre puros
civilizatório enfraquece a natureza, os impulsos e ins- conceitos apavorantes... Aí jazia ele, doente, mi-
tintos humanos, minando, assim, a vontade de po- serável, malévolo para consigo mesmo; cheio de
tência e reprimindo a natureza terrível e de animal de ódio contra os impulsos à vida, cheio de suspeita
rapina do homem. contra tudo que ainda era forte e venturoso. Resu-
mindo, um “Cristão”... Fisiologicamente falando: o
É a horrível barbárie dos costumes que, espe- único meio de enfraquecer a besta em meio à luta
cialmente na Idade Média, obrigou a formação contra ela pode ser adoecê-la. A igreja compre-
de uma verdadeira “liga da virtude” – ao lado dos endeu isso: ela perverteu o homem, ela o tornou
não menos horríveis exageros sobre o que cons- fraco, mas pretendeu tê-lo “melhorado”... (NIET-
tituiu o valor de um homem. A “civilização” (do- ZSCHE, 2006, p. 62).
mesticação) [“Civilisation” (Zähmung)] em sua luta
tem necessidade de todas as espécies de ferros Dessa maneira, como se dá, segundo Niet-
e torturas para se manter contra a natureza ter- zsche, esse mecanismo humano responsável pelo
rível e de animal de rapina (Fragmento póstumo melhoramento (processo civilizatório)? Ele aponta
XIII 11[153] de novembro de 1887/março de 1888
dois momentos:
apud FREZZATTI, 2006, p. 91).
Num primeiro momento, dirá que é uma ten-
Nietzsche ainda afirma que esse homem dência da natureza humana o mascaramento dos
des-animado, ou melhor, amansado/domesticado instintos; a isso chamará de sublimação (Sublimie-
(Zähmung) vangloria-se de ser superior e superior rung). Deve ficar claro que o termo sublimação em
aqui quer dizer bom, o que nos remete a apontar as Nietzsche não possui a conotação freudiana, mas
relações existentes entre o processo civilizatório, a se trata de uma apropriação/resignificação do termo
moral e a religião. como se efetua no campo físico-químico: passagem
Para o processo civilizatório, o conceito de de uma substância do estado sólido para o estado
melhoramento (Verbesserung) do animal homem gasoso. Isso aponta que o processo de moralização
consiste em melhorá-lo incutindo-lhe uma moral; tal – que se confunde com o processo civilizatório – é
moral é sagrada ou para além das atividades huma- uma evaporação ou espiritualização (estado gasoso)
nas. Nietzsche, ao abordar esse aspecto, o fará des- dos instintos (estado sólido).
velando os mecanismos humanos responsáveis por Num segundo momento, o momento da filo-
sua constituição, como nos aponta o capítulo “Aque- sofia madura de Nietzsche, o filósofo dirá que o mas-
les que querem tornar a humanidade melhor” de O caramento dos instintos faz parte de um processo de
Crepúsculo dos Ídolos: declínio das forças humanas, ou seja, de um proces-
so de domesticação (Zähmung) do animal homem.
De maneira totalmente provisória, eis um primeiro A partir da constatação dos dados acima, ou
exemplo! Em todos os tempos quis-se “melhorar” seja, da inclinação aos mascaramentos dos impulsos
os homens: este anseio, antes de tudo, chamava- (sublimação) e do declínio das forças humanas (Zäh-
se moral. Mas sob a mesma palavra escondem- mung), Nietzsche apontará o processo de moraliza-

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AZEVEDO, J. A.

ção – leia-se aqui Civilisation – por meio de termos volvimento da civilização – do ressentimento das
zoológicos: Zähmung (o amansamento ou domestica- massas forjou sua principal arma contra nós, con-
ção do animal homem) e Züchtung (o aprimoramento tra tudo que é nobre, alegre, magnânimo sobre a
ou seleção de um determinado gênero de homens). terra, contra nossa felicidade na Terra... Conceder
a “imortalidade” a qualquer Pedro e Paulo foi a
Esse processo civilizatório é transmitido e
maior e mais viciosa afronta à humanidade nobre
ganha terreno por meio de uma pia fraus (piedosa já perpetrada. – E não subestimemos a funesta in-
mentira): o homem bom (civilizado) é melhor do que fluência que o cristianismo exerceu mesmo na po-
o homem mau (bárbaro). lítica! Atualmente ninguém mais possui coragem
para os privilégios, para o direito de dominar, para
A pia fraus, juntamente com a sublimação, são os sentimentos de veneração por si e seus iguais
inversões provocadas pelos legisladores morais: – para o pathos da distância... Nossa política está
o melhor é aquele que possui os instintos enfra- debilitada por essa falta de coragem! – Os sen-
quecidos; o pior, aquele com instintos intactos; o timentos aristocráticos foram subterraneamente
espiritual, aquilo que mascara o fisiológico (FRE- carcomidos pela mentira da igualdade das almas;
ZZATTI, 2006, p. 97). e se a crença nos “privilégios da maioria” faz e
continuará a fazer revoluções – é o cristianismo,
Dito isso, podemos nos questionar: como o não duvidemos disso, são as valorações cristãs
civilizado prevalece sobre o bárbaro? Nietzsche dirá que convertem toda revolução em um carnaval
que a Civilisation caracteriza-se pelo enfraquecimen- de sangue e crime! O cristianismo é uma revolta
to em massa, o que somente foi possível pelo ódio de todas as criaturas rastejantes contra tudo que
é elevado: o Evangelho dos “baixos” rebaixa...
contra a cultura aristocrática e contra a expansão dos
(NIETZSCHE, 2008, pp. 89-90).
próprios instintos, ou seja, foi o cristianismo o terreno
fértil para o nascimento da Civilisation. Temos consci- Quando o cristianismo abandonou sua terra na-
ência que dois longos parágrafos da obra O Anticristo tal, aqueles das classes mais baixas, o submundo
nos apresentarão tal perspectiva: da Antiguidade, e começou a buscar poder entre
os povos bárbaros, não tinha mais de se relacio-
Quando o centro de gravidade da vida é colocado nar com homens exauridos, mas homens ainda
não nela mesma, mas no “além” – no nada –, en- intimamente selvagens e capazes de sacrifícios
tão se retirou da vida o seu centro de gravidade. – em suma, homens fortes, mas atrofiados. Aqui,
A grande mentira da imortalidade pessoal destrói distintamente do caso dos budistas, a causa do
toda razão, todo instinto natural – tudo que há nos descontentamento consigo, do sofrimento por si,
instintos que seja benéfico, vivificante, que asse- não é meramente uma sensibilidade extremada e
gure o futuro, agora é causa de desconfiança. Vi- uma suscetibilidade à dor, mas, ao contrário, uma
ver de modo que a vida não tenha sentido: agora excessiva ânsia por infligir sofrimento aos outros,
esse é o “sentido” da vida... Para que o espírito uma tendência a obter uma satisfação subjetiva
público? Para que se orgulhar pela origem e ante- em feitos e idéias hostis. O cristianismo tinha de
passados? Para que cooperar, confiar, preocupar- adotar conceitos e valorações bárbaras para ob-
se com o bem-estar geral e servir a ele?... Outras ter domínio sobre os bárbaros: assim como, por
tantas “tentações”, outros tantos desvios do “bom exemplo, o sacrifício do primogênito, a ingestão
caminho”. – “Somente uma coisa é necessária”... de sangue como um sacramento, o desprezo pelo
Que todo homem, por possuir uma “alma imortal”, intelecto e pela cultura; a tortura sob todas as
tenha tanto valor quanto qualquer outro homem; suas formas, corporal e espiritual; toda a pompa
que na totalidade dos seres a “salvação” de todo do culto. O budismo é uma religião para pessoas
indivíduo possa reivindicar uma importância eter- em um estágio mais adiantado de desenvolvimen-
na; que beatos insignificantes e desequilibrados to, para raças que se tornaram gentis, amenas e
possam imaginar que as leis da natureza são demasiado espiritualizadas (– a Europa ainda não
constantemente transgredidas em seu favor – não está madura para ele –): é um convite de retorno à
há como expressar desprezo suficiente por tama- paz e à felicidade, a um cuidadoso racionamento
nha intensificação de toda espécie de egoísmos do espírito, a um certo enrijecimento do corpo. O
ad infinitum, até a insolência. E, contudo, o cris- cristianismo visa dominar animais de rapina; sua
tianismo deve o seu triunfo precisamente a essa estratégia consiste em torná-los doentes – enfra-
deplorável bajulação de vaidade pessoal – foi as- quecer é a receita cristã para domesticar, para
sim que seduziu ao seu lado todos os malogra- “civilizar”. O budismo é uma religião para o final,
dos, os insatisfeitos, os vencidos, todo o refugo e para os derradeiros estágios de cansaço da civi-
vômito da humanidade. A “salvação da alma” – em lização. O cristianismo surge antes da civilização
outras palavras: “o mundo gira ao meu redor”... A mal ter começado – sob certas circunstâncias cria
venenosa doutrina dos “direitos iguais para todos” as próprias fundações desta (NIETZSCHE, 2008,
foi propagada como um princípio cristão: a partir pp. 51-52).
dos recônditos mais secretos dos maus instintos
o cristianismo travou uma guerra de morte con- Em síntese: um estado civilizatório é um es-
tra todos os sentimentos de reverência e distân- tado doentio da natureza humana, cujo vírus letal é
cia entre os homens, ou seja, contra o primeiro o cristianismo. Mas qual seria, então, o restabeleci-
pré-requisito de toda evolução, de todo desen-

184 Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 4, p. 179-186, out./dez. 2009


Civilização e cultura em Nietzsche...

mento, a cura? da natureza! Não pisoteado até a morte por teu-


A cura da doença chamada Civilisation/Zäh- tônicos e outros búfalos! Mas vencido por vampi-
mung estaria na Cultur/Höheren cultur, ou seja, uma ros velhacos, furtivos, invisíveis e anêmicos! Não
cura construída pelo respeito e pelo aproveitamento conquistado – apenas consumido!... A vingança
oculta, a inveja mesquinha, agora dominam! Tudo
dos instintos humano, pelo fato de deixarmos de lado
que é miserável, intrinsecamente doente, tomado
a noção de melhoramento (Verbesserung) e abraçar- por maus sentimentos, todo o mundo de gueto
mos o conceito de fortalecimento (Verstärkung). da alma estava subitamente no topo! – Leia-se
Como se daria essa passagem, então, da qualquer agitador cristão, por exemplo, Santo
Civilisation para a Cultur? Através do cultivo de qua- Agostinho, para entender, para sentir o cheiro da-
lidades associadas a uma classe aristocrática, espe- quela gente imunda que subiu ao poder. – Seria
cialmente aquelas ligadas ao mundo artístico: bom um erro, entretanto, presumir que havia falta de
gosto, tato refinado, regras da grande arte, educação compreensão por parte dos líderes do movimento
corporal, a arte de bem ler e de bem fazer ciência. cristão: – ah, eles eram espertos, espertos até à
santidade, esses pais da Igreja! O que lhes fal-
Esses homens cultos seriam encontrados na Grécia
tava era algo bastante diferente. A natureza dei-
e Roma, os quais foram destruídos pelo movimento xou – talvez esqueceu-se – de dotá-los, ao menos
cristão, como nos aponta o parágrafo 59 de O Anti- modestamente, de instintos respeitáveis, íntegros,
cristo: limpos... Dito entre nós, eles não são sequer ho-
Todo o esforço do mundo antigo em vão: não te- mens... Se o islamismo despreza o cristianismo,
nho palavras para descrever meu sentimento ante tem mil razões para fazê-lo: o islamismo pressu-
tal monstruosidade. – E, considerando o fato de põe homens... (NIETZSCHE, 2008, pp. 128-129).
que esse era um trabalho meramente prepara-
tório, que com granítica autoconsciência lançou A Cultur, segundo o pensamento nietzschia-
os fundamentos para um trabalho de milhares de no, seria o deixar fruir o dionisíaco e extrapolar ou-
anos, todo o significado da antiguidade desapa-
tro conceito interessante de Nietzsche: o conceito de
rece!... Para que serviram os gregos? Para que
serviram os romanos? – Todos os pré-requisitos bárbaro, isto é, do homem que não se deixou aman-
para uma cultura sábia, todos os métodos cientí- sar e, assim, está repleto de impulsos intocáveis pela
ficos já existiam; o homem já havia aperfeiçoado vida e existência.
a grande e incomparável arte de ler bem – essa é
a primeira necessidade para a tradição da cultura, Quanto mais um homem aceita seus impulsos,
para a unidade das ciências; as ciências naturais, em sua rudeza e crueza, menos é domesticado e
aliadas às matemáticas e à mecânica, palmilha- mais elevada é a cultura [Cultur] da qual faz par-
vam o caminho certo – o sentido dos fatos, o úl- te. No sentido inverso, quando mais um homem é
timo e mais precioso de todos os sentidos, tinha medíocre, fraco, servil e covarde, mais necessita-
suas escolas, e suas tradições possuíam séculos! rá da civilização, da moral inclusive, pois verá em
Compreende-se isso? Tudo que era essencial ao todo lugar – na vida, no mundo, no próprio corpo
começo do trabalho estava pronto; – e o mais es- – o “Reino do Mal”. Por ser mais fraco, será mais
sencial, nunca será demais repeti-lo, são os méto- virtuoso: considerará tudo proibido e hostil – inclu-
dos, que também são o mais difícil de desenvolver sive os próprios impulsos – porque tudo lhe amea-
e o que há mais tempo têm contra si os costumes ça. Em consequência, devemos entender o aristo-
e a indolência. O que hoje reconquistamos com crático ou o nobre nietzschiano como uma postura
uma inexprimível vitória sobre nós mesmos – pois de aceitação do vir-a-ser e não como uma classe,
certos maus instintos, certos instintos cristãos estamento ou grupo social. Entender a vida como
ainda habitam nossos corpos –, ou seja, o olhar um processo de luta por mais potência e não parti-
afiado ante a realidade, a mão prudente, a paci- cipar da dicotomia metafísica corpo e alma: é essa
ência e a seriedade nas menores coisas, toda a a verdadeira postura aristocrática ou nobre para
integridade no conhecimento – tudo isso já existia Nietzsche (FREZZATTI, 2006, p. 112).
há mais de dois mil anos! E mais, havia também
bom gosto, um excelente e refinado tato! Não Após Nietzsche ter pintado esse painel opo-
como um adestramento de cérebros! Não como sitor entre a civilização européia (Civilisation) e a
a cultura “alemã”, com seus modos grosseiros! barbárie/Cultur (presente em certos comportamentos
Mas como corpo, como gesto, como instinto – em da Grécia e Roma antigas, na cultura moura, nos re-
suma, como realidade... Tudo em vão! Do dia para nascentistas, nos aristocratas franceses da corte de
a noite tornou-se memória! – Os gregos! Os roma-
Luís XIV e nos sofistas), ele oporá Cultur à Bildung (a
nos! A nobreza do instinto, o gosto, a investigação
metódica, o gênio para a organização e adminis- formação típica dos alemães: livresca e sem contato
tração, a fé e a vontade para assegurar futuro do com a realidade e instintos humanos).
homem, um grandioso sim a todas as coisas, visí- Um fato interessante é que Nietzsche prevê,
vel sob a forma de imperium romanum e palpável para a manutenção da Cultur (seguindo os passos
a todos os sentidos, um grande estilo que não era de Platão em A República), uma pia fraus (mentira
simplesmente arte, mas que havia se transforma- piedosa) e sua função seria transformar uma condi-
do em realidade, verdade, vida... – Tudo destruído ção de cultura elevada em algo automático, inserido
de um dia para outro, e não por uma convulsão e disseminado no comportamento de um povo.

Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 4, p. 179-186, out./dez. 2009 185


AZEVEDO, J. A.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De tudo o que afirmamos, conclui-se que


será o bárbaro e não o civilizado quem construirá
uma cultura elevada, que será o homem forte, aquele
que não está amansado e possui os impulsos de vida
altamente hierarquizados, quem se transformará em
ponte de travessia entre a Civilisation e a Cultur.
Porém, qual o caminho para o surgimento/
ressurgimento do bárbaro? Qual a estratégia para
que o ser humano reorganize seus impulsos, abrace
a vida como fortalecimento e deixe sua condição fi-
siológica adoecida para transformar-se em saudável
e forte?
Nietzsche aponta o caminho: uma educação
que reestruture ou re-hierarquize os impulsos huma-
nos.

REFERÊNCIAS

COPLESTON, F. Nietzsche: filósofo da cultura. Porto:


Tavares Martins, 1979. 298 p.

FREZZATTI, W. A fisiologia de Nietzsche: superação


da dualidade cultura/biologia. Ijuí: Unijuí, 2006. 310
p.

JASPERS, K. Nietzsche. Buenos Aires: Sudamerica-


na, 1963. 525 p.

NIETZSCHE, F. A gaia ciência. 2. ed. São Paulo: Es-


cala, 2008. 331 p.

______. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Civi-


lização Brasileira, 1977. 381 p.

______. O crepúsculo dos ídolos ou como se filosofa


com o martelo. São Paulo: Companhia das Letras,
2006. 160 p.

______. Fragmentos póstumos: (1885-1889). 2. ed.


Madrid: Tecnos, 2008. 784 p.

______. O anticristo. 2. ed. São Paulo: Escala, 2008.


137 p.

______. Coleção os pensadores. São Paulo: Nova


Cultural, 1996. 464 p.

186 Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 4, p. 179-186, out./dez. 2009

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