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A percepção e o reconhecimento de expressões emocionais por

utilizadores de redes sociais

Luís Batista1, Elizabeth Alexandre2, Inês Costa3, Ana Paiva4, Luís Faísca5

Departamento de Psicologia (FCHS) Universidade do Algarve

1
a35262@ualg.pt; 2a35249@ualg.pt; 3a31586@ualg.pt; 4apaiva@ualg.pt;
5
lfaisca@ualg.pt

Resumo

Existe alguma controvérsia relativamente à expressão de emoções na comunicação


mediada por computador. Argumenta-se que a expressão de emoções numa
comunicação mediada por computador (CMC) é mais difícil do que numa comunicação
face a face (CFaF); contudo também é referido que não existem diferenças nas
possibilidades de expressão emocional entre estes dois contextos de comunicação.

Classicamente as emoções são definidas como um estado particular do organismo, que


resulta de condições bem definidas acompanhadas de uma experiência subjectiva e de
manifestações somáticas, viscerais e comportamentais. Na CMC as pessoas podem
exprimir as emoções por exemplo através de ícones emocionais, como forma de
contornar a ausência de pistas não verbais presentes na CFaF. No presente estudo a
recolha de dados foi feita através de um questionário elaborado com o objectivo central
de analisar as percepções das diferenças nas expressões emocionais em contextos de
CMC e CFaF. Os 128 participantes, portugueses, utilizadores de redes sociais,
responderam ao questionário disponibilizado on-line. Observamos que existem
diferenças na percepção de emoções nos dois contextos e que a maior facilidade em
exprimir emoções positivas está associada à CFaF.

Palavras-Chave: CFaF, CMC, Expressões Emocionais, Redes Sociais, Emoções


positivas/negativas
1 Introdução

O presente artigo pretende avaliar a percepção e o reconhecimento de emoções em duas


situações de comunicação: face a face e mediada por computador. Sendo relevante
analisar se existem diferenças quanto à percepção da expressão de emoções positivas e
negativas nos dois contextos de comunicação (CMC e CFaF).
Este estudo mostra-se importante, na medida em que a comunicação mediada por
computador é cada vez mais utilizada, nomeadamente através de redes sociais, como
por exemplo o Facebook, que conta já com cerca de 300 milhões de utilizadores. Esta
forte aderência, poderá em parte ser explicada pelas vantagens que este tipo de
comunicação apresenta e que são evidenciadas por alguns autores, tal como Barak que
afirma que a CMC apresenta algumas primazias, como a possibilidade das mensagens
poderem ser facilmente salvas, recuperadas, copiadas e encaminhadas, e o facto de ao
escreverem, os sujeitos expressarem algumas emoções que não expressariam através de
outros meios de comunicação. Existem ainda evidências de que a CMC quebra algumas
barreiras de comunicação, nomeadamente tornar os indivíduos menos sensíveis perante
restrições de contexto relativamente aos comportamentos (McGuire, Kiesler, & Siegel,
1987, cit, in., Zhou, et.al., 2004), e encoraja-os ainda a transmitir informação que por
vezes ocultam em contexto de CFaF (Sproull & Kiesler, 1986, cit, in., Zhou et.al.,
2004).
Desta forma, algumas questões começam a ser levantadas. Existirão diferenças na forma
como as pessoas comunicam numa CMC e numa comunicação face a face? Serão as
nossas conversas numa CMC menos intensas emocionalmente ou menos íntimas que
numa CFaF? De entre estas questões procuramos avaliar as diferenças na expressão de
emoções numa CFaF e numa CMC. Posto isto, é necessário então caracterizar
experiências emocionais, emoções positivas e negativas, Redes Sociais, Comunicação
mediada por computador e Comunicação face a face.

1.1Experiências Emocionais

Todos os indivíduos têm a necessidade de falar e reflectir sobre as suas experiências


emocionais, que tal como refere Derks, Fischer & Bos (2008) este fenómeno é definido
como partilha social.
As emoções dão cor à nossa vida e às nossas experiências, dando-lhes significado e
relevância para nós próprios e para o nosso bem-estar (Matsumoto, Yoo & LeRoux. In
press).
Sabe-se que “emoção” é um conceito multidimensional, que é conhecido por ter quatro
componentes básicos: (a) subjectivo, que se refere à experiência fenomenológica; (b)
biológico, que se refere à excitação do corpo; (c) intencional, que se refere ao estado
motivacional para a acção; e (d) social, que se refere aos aspectos comunicativos
(Reeve, 2005). É importante então começar por fazer uma abordagem sobre as
experiências emocionais de acordo com a perspectiva social.
Segundo uma perspectiva social, as emoções são percebidas como um fenómeno social
(Strongman, 2004). São espontâneas, auto-induzidas ou reproduzem externamente
sentimentos, como exemplos podemos encontrar a lealdade, alegria, orgulho, amor,
entusiasmo, simpatia, medo, raiva, tristeza, ciúme, vergonha, nojo ou ódio, possuindo
cada uma destas, expressões simbólicas próprias, como seja na voz, gestos, palavras e
tons (Ekman, 1992; Kaszniak, 2001; Stongman, 2004). Sendo que as teorias de
avaliação vêem as emoções como reacções de curto tempo a eventos internos ou
externos que são avaliados por exemplo, de acordo com o grau de prazer, orientação de
objectivo, habilidade para enfrentar, justiça, etc. (e.g., Scherer, 1986; Frijda, 1986)
(Kaszniak, 2001).
Os autores Chulvi e Perez (2003) e Leyens et al.,(2000) fazem uma distinção entre
emoções primárias e secundárias. Sendo que estas emoções primárias, ditas também
universais, correspondem a expressões faciais que se encontram em todas as sociedades,
de que são exemplos a alegria, tristeza, medo, repulsa e a surpresa (Ekman, 1992), tendo
uma base fisiológica e sendo consideradas importantes ao nível evolutivo, na medida
em que estão associadas a resultados positivos nas relações sociais (Kemper, 1987). Por
outro lado, as emoções secundárias, ou tipicamente humanas, são produtos socialmente
construídos (Kemper, 1987), sendo exemplo destas emoções a afeição, a admiração, o
orgulho, a nostalgia, os remorsos, a vaidade, etc.
Sempre que interagimos com outra pessoa experimentamos e expressamos emoções,
sendo este aspecto muito importante para a forte regulação de relações; ocorrendo
sempre uma simultânea avaliação das expressões emocionais da outra pessoa (Kaszniak,
2001; Strongman, 2004), que tal como Strongman (2004) refere “…este é um processo
complexo, subtil e frequentemente inconsciente que dá à interacção social alguma da
sua profundidade”.
Kaszniak (2001) e Rimé, Herbette e Corsini (2004 cit. in Figueiras & Marcelino, 2008)
referem que é o contexto social que dá indicações em relação às emoções que devem ser
expressas, por quem devem ser expressas e em que situações, afirmando desta forma
que as emoções são reguladas socialmente e por normas culturais que nos fazem
controlar ou até mesmo suprimir certas emoções por causa de consequências negativas
que poderiam advir da sua expressão. Tal como Harré e Parrot (1996 cit. in Kaszniak,
2001) afirmaram, as emoções fazem parte de padrões de comportamentos, estando a sua
expressão subjacente a regras e convenções; elas estão incluídas culturalmente em
ordens morais específicas e sistemas normativos que permitem a avaliação da exactidão
e a inconveniência das emoções, expressando assim os valores da sociedade. Esta
afirmação remete-nos para a relatividade cultural das emoções, isto é as emoções que
estão subjacentes a estas condições podem variar de cultura para cultura (Kaszniak,
2001). Kaszniak (2001) refere que as funções interpessoais das emoções estão
relacionadas com a comunicação e com a manutenção das redes sociais, tendo um papel
preponderante na definição e elaboração de relações sociais (Derks et al., 2008; Rimé et
al., 1991 cit. in Kaszniak, 2001).
O contexto em que a comunicação é realizada Face a Face, caracteriza-se por haver uma
presença física daqueles que estabelecem uma comunicação; e o contexto em que a
comunicação é Mediada por Computador, caracteriza-se por uma comunicação em que,
tal como o nome nos sugere, é o computador que possibilita que ocorra comunicação,
com ausência de uma presença física entre os sujeitos que comunicam.

1.3 Emoções Positivas e "egativas

Como foi referido anteriormente as emoções podem ser definidas como reacções de
curto tempo a eventos internos ou externos que são avaliados por exemplo, de acordo
com o grau de prazer, orientação de objectivo, habilidade para enfrentar, justiça, etc.
(e.g., Scherer, 1986; Frijda, 1986) (Kaszniak, 2001). Podemos considerar que o que
difere das emoções positivas para as negativas é o bem-estar que estas nos provocam ou
não. Assim sendo, pode-se considerar como emoções positivas a Excitação, Alegria,
Divertimento, Entusiasmo, Orgulho, Felicidade, Descontração, Paciência,
Tranquilidade, Esperança, Imaginação, Alívio, etc. Como emoções negativas entenda-se
a Culpa, Vergonha, Embaraço, Inveja, Agressividade, Ofensa, Impanciência,
Intimidação, Preocupação, Receio, Tristeza, Desânimo, Arrependimento, entre outras.
As emoções positivas são expressas ao mesmo nível tanto numa comunicação face a
face como numa comunicação mediada por computador, enquanto que as emoções
negativas são mais facilmente expressas numa comunicação mediada computador
(Derks et al., 2008).

1.4 Redes Sociais


Nos dias de hoje as redes sociais tornaram-se um serviço de Web importante com um
grande número de aplicações como o trabalho colaborativo, serviço de avaliação
colaborativo, recursos de partilha, pesquisa de novos amigos, etc (Staab, Domingos,
Mika, Golbeck, Ding, Finin, Joshi, Nowak & Vallacher, 2005 cit. in Domingo-Ferrer,
Viejo, Sebé & González-Nicolás, 2008). Assim, tornou-se um objecto de estudo, tanto
para a área da informática como para a área das ciências sociais. As redes sociais podem
assim ser definidas como uma comunidade de utilizadores de internet, onde cada
utilizador pode publicar e partilhar informação e serviços (dados pessoais, blogs e, em
geral, recursos) (Domingo-Ferrer et al., 2008). Segundo Domingo-Ferrer et al. (2008) é
ainda possível estabelecer vários tipos de relações entre utilizadores.

Método

Participantes
A amostra é constituida por 128 participantes de Nacionalidade Portuguesa utilizadores
de Redes Sociais, recolhidos através do envio de um questionário disponibilizado
online, por meio de Redes Sociais como o Facebook, Hi5, MSN.

A tabela 1 apresenta (a distribuição da amostra segundo sexo, a idade e a situação


profissional dos respondentes. Indica-se ainda a distribuição dos inquiridos em função
da Rede Social que mais utilizam.
Tab1 Caracterização sociodemográfica da amostra: distribuição segundo o sexo, a
idade, a situação profissional e rede social preferida

N %
Sexo
Masculino 39 30,5
Feminino 89 69,5
Idade
Menos de 30 anos 98 76,6
30 anos ou mais 27 21,1
Situação profissional
Estudantes 60 46,9
Não estudantes 68 53,1
Redes Sociais
Facebook 88 68,8
Hi5 10 7,8
MSN 27 21,1
Outros 3 2,3

É possível observar que a maioria dos participantes são do sexo feminimo (69,5%). No
que respeita à idade, esta situou-se entre os 18 e os 60 anos (média etária ± desvio-
padrão: 26.07±7.24 anos), situando-se a maioria dos sujeitos abaixo dos 30 anos. No
que respeita à Situação Profissional, a maioria exerce actividade profissional (53,1 %),
variando as suas profissões entre Psicólogos, Professores, Domésticas, Jornalistas entre
outros. Finalmente, a rede social mais utilizada é o Facebook (68,8 %), seguindo-se o
MSN (21,1%) com um fracção marcadamente inferior de adeptos na amostra.

Instrumento
Para avaliar a percepção e o reconhecimento de emoções na Comunicação mediada por
computador e na comunicação face a face foi elaborado um questionário com 22
proposições sobre as quais os sujeitos tinham de assinalar o seu grau de concordância
numa escala de sete níveis, em que 1 correspondia a Discordo Totalmente e 7 a
Concordo Totalmente.
As proposições foram redigidas de forma a abordar diversos aspectos que a literatura
tem relacionado com as diferenças e especificidades da comunicação face a face e da
comunicação mediada por computador, respectivamente a facilidade na expressão
emocional, a facilidade no reconhecimento de emoções, a confiança na veracidade da
informação transmitida e no interlocutor.
Um exemplo disso é a inserção de preposições que avaliam as diferenças entre as
emoções positivas e negativas (Exprimo mais facilmente emoções positivas na
comunicação face a face do que na comunicação mediada por computador; Exprimo
mais facilmente emoções negativas na comunicação mediada por computador do que
numa comunicação face a face).

Com o objectivo de proceder a uma avaliação prévia do questionário, foi pedido a dez
consultores de formação universitária de diversas áreas (tais como: Psicologia, Biologia,
Marketing, Turismo) que o preenchessem e comentassem tendo-se procedido
posteriormente às reformulações necessárias.

O questionário foi enviado por meio de mensagem pessoal via online através de redes
sociais como o Facebook e Hi5. Os sujeitos eram informados acerca da
confidencialidade e colaboração voluntária para o preenchimento do mesmo. Foram
enviadas mensagens tanto a sujeitos conhecidos como a sujeitos que não conheciamos.

Instrumento
Para avaliar a percepção e o reconhecimento de emoções na Comunicação mediada por
computador e na comunicação face a face foi elaborado um questionário com 22
proposições sobre as quais os sujeitos tinham de assinalar o seu grau de concordância.
Para avaliar a concordância dos sujeitos com as proposições foi utilizada uma escala de
Likert tipo 7, em que 1 correspondia a Discordo Totalmente e 7 a Concordo Totalmente.
As proposições usadas pertenciam a diversas categorias, respectivamente: Facilidade de
expressão, Perceber Emoções , Confiar na pessoa; Veracidade da Informação.
A formulação do questionário foi baseada na literatura existente sobre o tema, através
da recolha dos principais resultados encontrados noutros artigos. Ou seja, de acordo
com as evidências mostradas da importância de determinados temas relativos à temática
da comuniação mediada por computador vs comunicação face a face, assim construimos
preposições para o questionário. Um exemplo disso é a inserção de preposições que
avaliam as diferenças entre as emoções positivas e negativas (Exprimo mais facilmente
emoções positivas na comunicação face a face do que na comunicação mediada por
computador; Exprimo mais facilmente emoções negativas na comunicação mediada por
computador do que numa comunicação face a face). Visto termos encontrado na
literatura estudos que referem diferenças entre a percepção de emoções positivas e
negativas na comunicação mediada por computador e na comunicação face a face
consideramos que essa seria uma àrea importante a explorar.
Com o objectivo de verificar a consistência interna do questionário, foi pedido a 10
consultores de formação universitária de diversas áreas (tais como: Psicologia, Biologia,
Marketing, Turismo), que o preenchessem e dessem depois um feedback.

Procedimentos

Os dados foram recolhidos através do envio do questionário por meio das Redes Sociais
Facebook, Hi5 e MSN, tendo sido depois inseridos numa base de dados efectuada no
programa de análise estatistica SPSS (Statistic Program for Social Sciences).
Posteriormente procedeu-se à sua análise estatistica para obtenção dos resultados.

Resultados

Tab 2. Facilidade de Expressão

Item Amostra total Homem Mulher Teste t


Média ± DP Média ± DP Média ± DP (sig.)
Tenho dificuldades em exprimir 3.49±1.57 * 3.28±1.52 3.58±1.59 .916
emoções numa CMC.
Tenho dificuldades em exprimir 2.63±1.68 * 2.95±1.78 2.49±1.63 .252
emoções numa CFaF.
Exprimo mais facilmente emoções 5.16±1.67** 4.67±1.78 5.38±1.58 .301
positivas na CFaF do que na
CMC
Exprimo mais facilmente emoções 3.88±2.01* 4.10±1.96 3.78±2.04 .708
"egativas na CFaF do que na
CMC
Exprimo mais facilmente emoções 2.70±1.58* 3.10±1.67 2.53±1.52 .358
positivas numa CMC do que
numa CFaF
Exprimo mais facilmente emoções 2.85±1.60* 3.31±1.73 2.65±1.50 .416
negativas numa CMC do que
numa CFaF
* média significativamente abaixo do valor central da escala de resposta (p < 0.05)

Em relação à facilidade de expressão permitida pelos dois tipos de comunicação


considerados (tabela 2), verifica-se que em ambos os casos os respondentes mostram
tendência para discordar com as afirmações, embora a sua posição de discordância seja
mais marcada quando se referem à dificuldade sentida na expressão de emoções numa
comunicação face a face (média: 2.63) do que numa comunicação mediada por
computador (média: 3.49). As diferenças entre sexos não são estatisticamente
significativas para estas duas perguntas, embora os homens discordem mais quanto à
dificuldade de expressão de emoções numa CMC comparativamente às mulheres,
enquanto que estas revelam menos discordância do que os homens quanto à dificuldade
em exprimir emoções em contexto FaF.
A comparação das respostas aos itens relativos à expressão de emoções positivas e
negativas nos dois tipos de comunicação (CMC e CFaF) permite verificar que os
sujeitos concordaram com a afirmação “Exprimo mais facilmente emoções positivas na
CFaF do que na CMC” e discordaram da afirmação “Exprimo mais facilmente emoções
negativas na CFaF do que na CMC” (t=6.664, 127gl, p=000).
Os sujeitos discordaram da preposição “Exprimo mais facilmente emoções positivas na
CMC do que na CFaF” e da preposição “Exprimo mais facilmente emoções negativas
na CMC do que na CFaF”, (t=-0.928, 127gl, 0.355), no entanto, a discordância foi mais
forte nesta última preposição.
Tab 3. Perceber Emoções

Item Amostra total Homem Mulher Teste t


Média ± DP Média ± DP Média ± DP (sig.)
Experiências emocionais que 2.41±0.12* 2.59±1.52 2.33±1.31 .216
exprimo numa CMC são mais
intensas do que na CFaF.
As experiências emocionais que 6.00±0.12** 5.79±1.23 6.09±1.25 .436
exprimo numa CFaF são mais
intensas do que numa CMC.

É-me mais fácil perceber emoções 1.71±0.10* 1.79±1.06 1.67±1.16 .722


nos outros numa CMC do que
numa CFaC.

É-me mais fácil perceber emoções 5.95±0.11** 5.59±1.57 6.11±1.05 .028


nos outros numa CFaF do que
numa CMC.

* média significativamente abaixo do valor central da escala de resposta (p < 0.05)


** média significativamente acima do valor central da escala de resposta (p < 0.05)

Relativamente à intensidade das emoções expressas, tanto em contexto CMC como em


FaF, a comparação das respostas aos dois primeiros itens da tabela 3 permite verificar
que a globalidade da amostra revela expressar mais intensamente emoções em contextos
CFaF do que em contextos CMC. Não se observam diferenças significativas entre sexos
neste padrão de resposta, embora as mulheres tendam a afirmar-se exprimirem-se com
menos intensidade do que os homens em contexto CMC, enquanto que os homens
revelam uma grau de concordância mais ténue do que o das mulheres quanto à maior
intensidade das emoções expressas em contexto CFaF.

No que se refere à percepção das emoções expressas pelos seus interlocutores, a


comparação dos dois últimos itens da tabela 3 revela a maior facilidade que o contexto
CFaF permite relativamente ao contexto CMC. Quanto ao facto de perceber emoções
mais facilmente numa CMC, ambos os sexos estão em discordância, no entanto, os
homens (1.79±1.06) apresentam ligeiramente mais facilidade na percepção de emoções
quanto as mulheres (1.67±1.16). Em relação ao mesmo ponto, mas numa CFaF, sendo
mais fácil perceber emoções numa CMC comparativamente a CFaF, quanto a este
aspecto, ambos os sexos concordem, no entanto, as mulheres (6.11±1.05) apresentam
mais facilidade em perceber as emoções nos outros, em contexto FaF quando
comparadas com os homens (5.59±1.57). Referente as experiencias emocionais
expressas, no que diz respeito a sua intensidade, para além de ambos os sexos
concordarem, as mulheres (6.09±1.25) tendem a exprimir as suas experiencias
emocionais com mais intensidade em contexto FaF do que os homens (5.79±1.23).

Tab 7. Confiar na pessoa

Item Amostra total Homem Mulher Teste t


Média ± DP Média ± DP Média ± DP (sig.)
Consigo fazer confidências acerca
da minha vida pessoal mais
facilmente numa CMC do que 3.22±1.83* 3.82±1.90 2.96±1.74 .824
numa CFaF.

Consigo fazer confidências acerca 4.59±1.84 4.62±1.58 4.58±1.95 .097


da minha vida pessoal mais
facilmente numa CFaF do que
numa CMC.

Confio mais facilmente em alguém 1.66±1.26* 1.97±1.90 1.72±1.26 .958


que conheço através de uma CMC
do que numa CFaF.

Confio mais facilmente em alguém 5.46±1.61** 5.28±1.36 5.54±1.71 .070


que conheço através de uma CFaF
do que numa CMC.

Faço mais facilmente amigos 2.66±1.69* 3.36±1.63 2.36±1.63 .824


numa CMC do que numa CFaF.

Faço mais facilmente amigos 5.41±1.58** 4.82±1.65 5.66±1.49 .193


numa CFaF do que numa CMC.

* média significativamente abaixo do valor central da escala de resposta (p < 0.05)


** média significativamente acima do valor central da escala de resposta (p < 0.05)

Quanto a categoria “Confiar na pessoa”, e relativamente ao facto de se poder fazer


confidências acerca da vida pessoal mais facilmente numa CMC, ambos os sexos estão
em desacordo, no entanto, verifica-se uma diferença significativa entre estes. Os
homens (3.82±1.90) aproximam-se do ponto central (não concordo nem discordo) o que
significa que, conseguem fazer mais confidências acerca da sua vida pessoal pela CMC
quando comparados ao sexo feminino (2.96±1.74). Relativamente ao facto de fazer
amizades online mais facilmente, mais uma vez os dois sexos estão em desacordo, mas
existe uma diferença significativa nos resultados quanto aos dois sexos. Os homens
(3.36±1.63) têm mais facilidade em fazer amizades online em relação às mulheres
(2.36±1.63). Ao que concerne ao ponto, “Confio mais facilmente em alguém que
conheço através de uma CMC do que numa CFaF”. Enquanto os dois sexos estão de
desacordo com esta proposição, há uma diferença entre estes, pois, os homens
(1.97±1.90) conseguem confiar mais facilmente numa pessoa que conheceram em
contexto online comparativamente às mulheres (1.72±1.26).
Dentro da mesma categoria, mas agora em relação ao contexto FaF, quanto ao facto de
se poder fazer mais facilmente confidências da vida pessoal, ambos os sexos
concordem, apesar de os homens (4.62±1.58) achar mais fácil a partilha da sua vida
pessoal em relação às mulheres (4.58±1.95). Em relação ao facto de se poder confiar
mais numa pessoa que se conheceu numa CFaF, mais uma vez ambos os sexos estão de
acordo, no entanto as mulheres (5.54±1.71) conseguem confiar mais do que os homens
(5.28±1.36). Ao que se refere, a facilidade em fazer amigos mais facilmente em
contexto FaF, os dois sexos estão de acordo, no entanto as mulheres (5.66±1.49) têm
significativamente mais facilidade em fazer amigos em contexto FaF, em relação aos
homens (4.82±1.65).

Tab 8. Veracidade da Informação

Item Amostra total Homem Mulher Teste t


Média ± DP Média ± DP Média ± DP (sig.)
Considero as pessoas que conheço 1.82±0.96* 1.92±0.96 1.78±0.96 .826
numa CMC mais verdadeiras do
que numa CFaF.

Considero as pessoas que conheço 4.96±1.64 5.08±1.36 4.91±1.75 .049


numa CFaF mais verdadeiras do
que numa CMC.

Sou menos verdadeiro numa 3.24±1.76* 3.54±1.62 3.11±1.82 .255


CMC do que numa CFaF.

Sou menos verdadeiro numa 2.08±1.38* 2.33±1.46 1.97±1.33 .445


CFaF do que numa CMC.

* média significativamente abaixo do valor central da escala de resposta (p < 0.05)


** média significativamente acima do valor central da escala de resposta (p < 0.05)
Analisando a categoria (tabela 8), Veracidade da informação, os resultados revelam que
não se considera uma pessoa mais verdadeira quando se conhece através da CMC do
que quando numa CFaF; e que em ambos os contextos de comunicação, os sujeitos
discordam que sejam mais verdadeiros num tipo de comunicação do que noutro. No que
se Refere ao ponto “considero as pessoas que conheço numa CMC mais verdadeiras do
que numa CFaF” ambos os sexos estão de desacordo, no entanto, os homens
(1.92±0.96) quando comparados com as mulheres (1.78±0.96) acham que as pessoas
que conhecem via net podem ser mais verdadeiras.
Em relação ao ser-se menos verdadeiro numa CFaF do que numa CMC, tanto os
homens como as mulheres estão em desacordo, mas existem diferenças entre estes,
sendo que os homens (2.33±1.46) conseguem ser menos verdadeiros em contexto FaF
comparativamente as mulheres (1.97±1.33). Quanto ao ponto, ser-se menos verdadeiro
numa CMC do que numa CFaF, mais uma vez os dois sexos estão em desacordo, no
entanto, estão perto do nosso ponto central. Sendo que os homens (3.54±1.62), expõem
a mesma veracidade de informação tanto em contexto CMC como em contexto CFaF
em relação às mulheres (3.11±1.82). Quanto ao ponto de consideram que as pessoas que
se conhecem através de uma CFaF como sendo mais verdadeiras do que numa CMC.
Ambos os sexos estão de acordo, no entanto, os homens (5.08±1.36) acham as pessoas
que conhecem através de uma CFaF, como sendo mais verdadeiras em relação às
mulheres (4.91±1.75).

Tab 9. Necessidade de acesso às redes sociais / Convívio em CFAF

Item Amostra total Homem Mulher Teste t


Média ± DP Média ± DP Média ± DP (sig.)
Sinto necessidade de aceder às 4.30±1.82 4.23±1.65 4.09±1.89 .209
minhas redes sociais online.

Convivo mais frequentemente 5.50±1.72** 5.33±1.64 5.57±1.76 .821


com pessoas em contexto CFaF do
que em contexto online.

* média significativamente abaixo do valor central da escala de resposta (p < 0.05)


** média significativamente acima do valor central da escala de resposta (p < 0.05)

Relativamente à tabela 9, pode dizer-se que não existe acordo quanto à necessidade de
se aceder às redes sociais e que as pessoas convivem mais com outras em contexto FaF.
Os resultados revelam que os sujeitos concordam com a afirmação “Sinto necessidade
de aceder às minhas redes sociais”, no entanto, são os homens (4.23±1.65) que mostram
a ter mais necessidade em relação às mulheres (4.09±1.89). Em relação ao convívio, as
mulheres (5.57±1.76) dizem conviver mais frequentemente com pessoas em contexto
FaF do que em contexto online em comparação com os homens (5.33±1.64).

A análise das respostas em função do grupo etário dos inquiridos permitiu identificar
apenas duas diferenças estatisticamente significativas relativamente aos diversos
aspectos da percepção e reconhecimento de emoções tanto num tipo de comunicação
face a face como numa comunicação mediada por computador. Quanto à intensidade
das experiências emocionais, tanto os jovens (menos de 30 anos) como os adultos (mais
de 30 anos) não estão de acordo com o facto destas serem mais intensas numa CMC,
mas ainda assim existem diferenças entre os dois grupos etários, não estando os Adultos
tão em desacordo quanto os Jovens quanto à vantagem da CMC (t=-2.008, 123gl,
p=0.047). ). Já no que concerne ao aspecto de se fazerem confidências acerca da própria
vida, os resultados indicam-nos que apesar de todos os participantes discordarem no que
se refere ao ser mais fácil fazer confidências numa CMC, existem diferenças entre os
dois grupos etários, situando-se mais os Adultos em desacordo que os Jovens (t=0.711,
123gl, p=0.478). relativamente ao considerarem-se as pessoas que se conhecem num
dos contextos de comunicação como mais verdadeiras, tantos os Jovens como os
Adultos discordam quanto às pessoas que se conhecem numa CMC serem mais
verdadeiras, no entanto existe uma ligeira diferença, sendo que os Jovens estão em mais
desacordo que os Adultos (t=-2.097, 123gl, p=0.038). No que se refere à percepção de
emoções nos outros, tanto os Jovens como os Adultos estão de acordo que é mais fácil a
percepção numa CFaF, no entanto os Jovens ainda apresentam um grau de concordância
superior aos Adultos (t=0.809, 123gl, p=0.420). Quanto ao ser-se menos verdadeiro
numa CFaF os participantes discordam da afirmação, sendo que os Adultos discordam
mais desta afirmação do que os Jovens (t=1.394, 123gl, p=0.166). No que concerne à
maior facilidade de expressão de emoções negativas, numa CMC os Jovens estão em
desacordo enquanto que os Adultos não estão em desacordo nem de acordo (t=-1.409,
123gl, p=0.161). Quanto ao aspecto de se confiar mais facilmente em alguém que se
conhece em determinado contexto de comunicação, no que se refere à CMC, tantos os
Jovens como os Adultos estão em desacordo com a proposição, no entanto são os
Jovens que estão mais em desacordo (t=-0.868, 123gl, p=0.387). Relativamente à
dificuldade em exprimir emoções, tanto os Jovens como os Adultos discordam com a
proposição quando esta se refere ao contexto CFaF (t=1.452, 123gl, p=0.149), apesar
dos Adultos estarem mais em desacordo que os Jovens.

O facto de se sentir necessidade em aceder às redes sócias online está correlacionado


com os seguintes aspectos : o facto de se poder confiar em alguém que se conhece
através de uma CMC (r = 0.234**, sig = 0,008); as experiencias emocionais que se
exprime numa CMC como sendo mais intensas (r = 0.243**, 0.006); o facto de ser mais
fácil de perceber emoções nos outros (r = 0,211*; sig = 0,017); a facilidade em se fazer
amigos numa CMC (r = 0,233**; sig = 0,008) e exprime-se mais facilmente emoções
negativas em contexto online (r = 0,181*; sig = 0,041).

O facto de se conviver com mais frequência com pessoas em contexto FaF do que em
contexto online correlaciona-se com as proposições que se seguem: exprime-se mais
facilmente emoções positivas na CFaF (r = 0,196*; sig = 0,027); exprime-se emoções
negativas mais facilmente na CFaF (r = 0,375**; sig = 0,00); faz-se confidências acerca
da vida pessoal com mais facilidade numa CFaF (r = 0,276**; sig = 0,002); as pessoas
que se conhece numa CFaF, são mais verdadeiras (r = 0,175*; sig = 0,049); é fácil
perceber emoções nos outros numa CFaF (r = 0,279**; sig = 0,001); faz-se amigos mais
facilmente numa CFaF (r = 0,323**; sig = 0,000); e experiências emocionais que se
exprimem numa CFaF são mais intensas (r = 0,235**; sig = 0,008).

Discussão
No que respeita à discussão de resultados é possivel referir o facto de ter sido inseridas
no questionário preposições que avaliam as diferenças entre emoções positivas e
negativas (Exprimo mais facilmente emoções positivas na CFaF do que na CMC;
Exprimo mais facilmente emoções negativas na CMC do que numa CFaF). Visto termos
encontrado na literatura estudos que revelam diferenças entre a percepção de emoções
positivas e negativas na CMC e na CFaF consideramos que essa seria uma àrea
importante a explorar (Derks et al., 2008).

De grosso modo, é possivel sublinhar que os sujeitos tendem a previligiar a CFaF em


comparação com a CMC em todas as categorias exploradas, o que não coincide com o
que é referido anteriormente por outros autores (Derks et al., 2008) que consideram que
uma vez que a presença social é menos notória na maioria dos casos de CMC,será mais
facil expressarem-se emoções negativas relativamente aos outros porque o próprio não
conheçe o outro a quem dirige a emoção, ou porque o próprio está menos consciente dos
efeitos sociais das suas expressões emocionais. Verifica-se também que as mulheres
exprimem mais facilmente emoções positivas na CFaF em comparação com os homens
e exprimem mais facilmente emoções positivas do que negativas numa CFaF. Estes
resultados estão em parte de acordo com os encontrados por Birnhaum Nosanchuck, e
Croll; Stoppard e Gunn Grchy; Mehl e Pennenbaker (1980; 1993 cit, in Derks, 2008;
2003 cit, in Figueiras & Marcelino, 2008) que referem que é mais característico a
expressão de sentimentos positivos por parte de pessoas do sexo feminino do que de
pessoas do sexo masculino, no entanto, no nosso estudo tal verifica-se apenas no
contexto de CFaF. Verificou-se que os inquiridos têm mais facilidade em perceber
emoções nos outros numa CFaF o que corresponde ao referido por Derks et al., (2008)
que assume que a visibilidade reduzida das emoções expressas através de uma CMC
torna dificil o reconhecimento das mesmas neste contexto principalmente quando estas
não são muito intensas.
As diferenças entre o presente estudo e os demais publicados referentes ao mesmo tema,
poderão dever-se às diferenças culturais, uma vez que todos os outros estudos se
reportam a uma cultura que não a Portuguesa.
Seria interessante em futuros estudos fazer a comparação entre duas culturas para
avaliar possiveis diferenças na percepção e reconhecimento da expressão de emoções.
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