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Astronomy & Astrophysics manuscript no.

Trabalho2 c ESO 2019



December 20, 2019

Modelo politrópico de uma estrela


Filipe Costa
Faculdade de Ciência da Universidade do Porto
December 20, 2019

ABSTRACT

Aims. Descrição e cálculo de um modelo politrópico para estrelas da sequência principal, em particular da GJ 725A e
Rho Geminorum.
Methods. Usou-se a integração da equação de Lane-Emden, estimando os parâmetros estelares das estrelas. Além disso
foi calculado o indíce politrópico para cada estrela, assim como a respetiva incerteza. A incerteza calculada é feita a
partir de simulações de Monte-Carlo. Foram usados dois métodos diferentes de validação do código: comparação com
os valores analíticos conhecidos e comparação com o indíce politrópo estimado a partir da energia gravitacional do
sistema.
Results. Foi obtido um n = 1.941884 ± 0.076155e n = 3.848409 ± 0.006423 para as estrelas GJ 725A e Rho Geminorum,
respetivamente. O código passou os dois métodos de validação,obtendo uma precisão da ordem de 10−10 e 10−9 para
os valores análiticos para n=0 e n=1, respetivamente, e adquiriu-se também ∆n = 2.294 ∗ 10−7 e ∆n = 1.255 ∗ 10−6
quando comparando com a estimativa feita através da energia gravitacional do sistema.
Conclusions. Conclui-se que as quantidades termodinâmicas evoluiam de maneira esperada quando analisado o seu indice
politropo. Além disso, vericou-se que as incertezas de medição constituiam o maior erro no cálculo dos n's, pois o erro
numérico é várias ordens de grandeza abaixo das incertezas calculadas por Monte-Carlo. O factor mais limitante neste
programa será o tempo que demora a calcular as simulações de Monte-Carlo, demorando certa de 2 horas para um
cálculo de 500 simulações, valor aproximado onde existe convergência de valor.
Key words. Modelo, Politrópico, estrela, estrutura interna

1. Introdução

Para estudarmos a estrutura interna de uma estrela, precisamos de descrever quais são as hípoteses e leis que regem uma
esfera de gás sujeita á sua própria gravidade. Para isso vamos supor que a estrela têm simetria esférica, transpondo o
nosso problema 3D para 1D, e que, na estrutura interna, não são relevantes as interações electro-magnéticas, ou seja,
as únicas interações tidas em conta serão a gravidade e o gradiente de pressão.Além disso também vamos assumir que
a estrela não evolui no tempo, estando no equilíbrio. Desta maneira conseguimos denir duas equações: a equação de
contínuidade, de onde podemos derivar a equação da massa:
dm
= 4πr2 ρ (1)
dr
que nós dá a relação entre a massa e a densidade, e a equação de conservação de momento ou de equilíbrio hidrostático:
dP Gmρ
=− 2 (2)
dr r
que relaciona a pressão com a massa . Porém, com estas duas equações fundamentais, temos três grandezas físicas
por relacionar (ρ, P, m), o que faz com que este conjunto de equações seja não fechada. Para fecharmos as equações
precisamos de encontrar uma relação entre P e ρ. Uma simples solução, e de especial interesse no estudo estelar, é uma
relação politrópica da forma:
(3)
1
P = Kρ1+ n

onde n é o índice politrópico e K uma constante de proporcionalidade.Agora com três equações, podemos fechar e criar
uma equação diferencial de segunda ordem da forma:
1 d 2 dρ1/n 4πG
2
(r )=− ρ (4)
r dr dr K(n + 1)
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Porém, de maneira a tornar a nossa equação mais geral e para facilitar no método de implementação a nível computacional,
podemos retirar as dimensões da equação escolhendo as seguintes trocas de variáveis ρ ≡ ρc θn ; r ≡ aξ e, se escolhermos
1/n , obtemos uma equação diferencial de segunda ordem adimensional, também conhecida como equação de
a2 = K(n+1)
4πGρc
Lane-Emden:
1 d 2 dθ
(ξ ) = −θn (5)
ξ 2 dξ dξ

Esta equação pode ser resolvida se for imposto duas condições iniciais, que neste caso será θ(ξ = 0) = 1, ou seja, a pressão
dξ |ξ=0 = 0, condição impondo que as derivadas das quantidades termodinâmicas
quando o raio é 0 é a pressão central e dθ
sejam nulas no centro.
Resolvendo a equação diferencial e sabendo as soluções adimensionais, podemos agora descobrir como se comporta
as restantes quantidades no interior da estrela através das equações:

3M ξs
ρ= θn (6)
4πR3 3(−θs0 )

GM 2 1
P = θn+1 (7)
R 4π(n + 1)(θs0 )2
4

GM 1
T =µ θ (8)
RR (n + 1)ξs (−θs0 )
0
ξ 2θ
m = M( ) (9)
ξs θs0
com as letras maísculas representando as quantidades da estrela, ξs , θs os seus respetivos valores na supercie e µ '
5X−Z+3 , onde X e Z representam as frações de massa do hidrogénio e dos elementos pesados, respetivamente.
1

Podemos ir mais além destas quantidades se restringirmos a nossa hípoteses de estrela para uma estrela da sequência
principal sem atmosfera, pois assim sabemos a equação para a luminosidade nas variávies adimensionais:
Z ξ
Lr 1 M
= 2 ξ 2 θn ( )dξ (10)
L ξs (−θs0 ) 0 L

onde a emissivade  = total = pp + cno pode ser calculada através das expressões:

Fig. 1. Expressões do cálculo da emissivade

Conhecendo como se comporta a luminosidade dependendo de r, podemos encontrar qual o melhor indíce politrópico
se ajusta ás condições inciais de uma estrela de massa M, raio R e luminosidade L quando LrL(R) = 1.
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2. Implementação do método

Para implementarmos a física computacionalmente e obtermos soluções numéricas, teremos primeiro de reformular o nosso
problema, passando de uma equação diferencial de segunda ordem para duas equações diferenciais de primeira ordem
utilizando as mudanças de variavéis: y1 (ξ) ≡ θ(ξ) e y2 ≡ dθ
dξ . Outro problema está na singularidade quando ξ = 0, que
2
podemos resolver começando a intregração num δξ , mudando as condições iniciais para y1 (δξ) ' 1 − (δξ)
2 e y2 (δξ) ' −δξ
. Agora conseguimos efetivamente resolver as equações e integrar até θatingir valores negativos, onde já não faz sentido
adquirir mais dados pois estes não têm signicado físico. Agora com todos os valores θ e θ para cada ξ podemos calcular
0

todas as quantidades necessárias para estimar a luminosidade de forma a achar o melhor indíce politrópico que se ajusta
á estrela em estudo.Para estimar o n, usamos o método da bisseção para achar o zero da função y(n) = 1 − LrL(R) com
uma precisão de 10−8 .

2.1. Validação do método

De forma a validar o nosso método, podemos comparar valores de algumas soluções√ analíticas conhecidas da equação de
Lane-Emden. A solução analítica para ξs quando n = 0 e n = 1 é, respetivamente, 6e π . Calculando o erro entre o valor
téorico e o valor calculado obtêm-se
Erron=0 = 1.065 ∗ 10−10 e Erron=1 = 5.97 ∗ 10−9
Outra maneira alternativa de conrmar o método utilizado será calcular a energia graviticional do sistema. Essa energia
tem a expressão:
M
3 GM 2
Z
Gm
V ≡− dm = − (11)
0 r 5 − ng R
Podemos espressar esta quantidade em termos das quantidades númericas calculadas, obtendo a expressão:
Z ξs
3 1 0
= 3 0 2 ξ 3 θn (−θ )dξ (12)
5 − ng ξs (θs ) 0

Através da comparação deste valor de ng com o valor obtido através das bisseções podemos estimar o quão preciso
estamos a ser com o nosso resultado, e quanto erro numérico estamos a acumular com os sucessivos cálculos.

2.2. Estimativa da incerteza do índice politrópico-Simulação de Monte Carlo

A precisão do valor obtido apenas tem em conta a convergência de n para o código estabelecido. Para complementarmos o
resultado, teremos que ter em conta as incertezas de medição de cada parametro estelar: a massa, o raio, a luminosidade e
a metalicidade. Para percebermos como ocorre a propagação destas incertezas, implementamos uma simulação de Monte
Carlo. Esta simulação consiste em gerar parâmetros estelares aleatórios dentro da incerteza dada e calcular o índice
politrópo correspondente. Tendo uma coletancia de n's, podemos representar os dados num histograma e aproximar estes
dados a uma gaussiana.Por m, associamos a largura σ da guassiana como a incerteza do índice obtido anteriormente.

2.3. Estrelas em análise

As duas estrelas em estudo são a estrela GJ 725A e Rho Geminorum. Estas estrelas percebem ambas á sequencia principal,
satisfazendo a condição necessária para podermos analísa-las com o código implementado anteriormente. Na tabela 1,
está presente os parâmetros observados de cada uma das estrelas:

Estrelas Massa(M ) Luminosidade(L ) Raio(R ) Metalicidade([Fe/H])


GJ 725A(Estrela1)[1] 0.45 ± 0.04 0.0326 ± 0.0004 0.0453 ± 0.019 0.00 ± 0.16
Rho Geminorum(Estrela2)[2] 1.355 ± 0.013 5.542 ± 0.089 1.655 ± 0.028 −0.25 ± 0.04
Table 1. Tabela com parâmetros estelares

3. Resultados

Implementando assim o código, obtemos um n = 1.94188449 ± 0.07615576e n = 3.84840932 ± 0.00642367, com uma
diferença do valor estimado pelo cálculo da energia graviticional de ∆n = 2.294 ∗ 10−7 e ∆n = 1.255 ∗ 10−6 , para a estrela
GJ 725A e Rho Geminorum, respetivamente. Como podemos vericar, temos uma diferenças entre o valor obtido e ng é
de ordem de grandezas inferior á incerteza devido ás incertezas dos parâmetros.Isto permite-nos concluir que os erros
acumulados de origem numérica são muito menores quando comparados com as incertezas das medições em si, o que
valida, mais uma vez, o método apresentado.
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Para estudarmos como as várias quantidades se alteram para cada uma estrela, representamos as grandezas nos
grácos na gura 2,3 e 4:

.
Fig. 2. Emissividades das estrelas

Fig. 3. Luminosidade das estrelas

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Fig. 4. Parâmetros estelares em função do Raio

Com a observação dos grácos, podemos notar várias diferenças entre as estrelas.Primeiramente, a estrela 1, menos
massiva e com uma metalicidade próxima do Sol, não parece produzir um número signicativo da sua energia por ciclo
CNO,o que contrasta com a estrela 2. Além disso, é de notar que uma parte maior da estrela 1 produz emissividade
do que a estrela 2. No entanto, a luminosidade, grandeza associada á emissividade, tem uma evolução relativamente
igual nas duas estrelas. Isto indica que a densidade da estrela desce muito mais rápidamente na estrela mais massiva,
comportamento esperado . Além disso, observado os grácos dos parametros, vericamos também que isso acontece com
o resto das quantidades termodinâmincas. Estas informações coincidem com os valores esperados de um comportamente
politrópico com os n's obtidos: existe uma queda mais acentuada das quantidades em índices n mais altos, resultante da
própria denição de relação politrópica (eq. 3).
Quando temos em atenção á propragação de erros do programa, notamos que a maior fonte de erro são as incertezas
de medição da estrela, factores que não foram o foco neste trabalho e que foram apenas retirado de textos cienticos. De
facto, quando comparado com as diferenças entre os valores de ng , estas incertezas são ordens de grandeza acima, mais
precisamente, por volta de 104 vezes maior. Este factor representa a maior limitação no cálculo da precisão do código.
Um aspecto também importante de considerar é o tempo que demora a calcular as simulações de Monte-Carlo. Para
obtermos valores satisfatórios no cálculo das incertezas, é necessário haver pontos sucientes no histograma para se fazer
o ajuste á guassiana. Este número de pontos foi estimado por voltas das 500 simulações. Porém, como o cálculo do indice
politropo com precisão de 10−8 demora 16 segundos, estas 500 simulações demorariam 2 horas para ser concluidas, tempo
exurbitante . Para resolvermos o problema seria baixar a precisão do cálculo do índice para a mesma ordem de grandeza
da incerteza, já que mais precisão não afetaria de maneira signicativa os dados obtidos.

4. Conclusão

Concluimos que as estrelas estudadas,GJ 725A e Rho Geminorum, têm um índice politrópico de n = 1.941884±0.076155e
n = 3.848409 ± 0.006423, respetivamente. O código foi validado, pois comparando com valores analíticos conhecidos e
através do cálculo da energia gravitacional do sistema, obtiveram-se erros de ordem de grandeza muito inferior às das
incertezas calculadas por Monte-Carlo. Com os resultados obtidos, conseguimos perceber que as quantidades como a
pressão, temperatura, densidade e emissividade se comportam no interior da estrela. O parâmetro que mais limita a
precisão do cálculo do índice politropo é as incertezas de medição dos parâmetros, pois estes têm a dimensão maior. Um
factor importante em ter em conta é o tempo que o código demora a executar, pois para 500 simulações, valor no qual a
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incerteza converge, o código demora cerca de 2 horas. Sugere-se diminuir a precisão na qual se acha o índice (10−8 ) para
a ordem de grandeza esperada da incerteza calculada.
Acknowledgements. Màrio João P.F.G.Monteiro

5. Referências

[1]-The CARMENES search for exoplanets around M dwarfs. A Neptune-mass planet traversing the habitable zone
around HD 180617, https://arxiv.org/abs/1808.01183
[2]-Stellar Diameters and Temperatures I. Main Sequence A, F, & G Stars,https://arxiv.org/abs/1112.3316
[3]-Astronomia Computacional, Mário João P. F. G. Monteiro

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