Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
CDD – 796.3348
1ª EDIÇÃO
Henrique Miguel
Mestrando em Ciências da Saúde, com área de concentração na
Ciência da Motricidade Humana; Especialista em Treinamento Desportivo;
Docente do Departamento de de Educação Física da FEUC (São José do
Rio Pardo - SP) e da UNIPINHAL (Espírito Santo do Pinhal - SP).
Colaborador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Futebol
e Futsal da USP (GEPEFFS-USP);
Participa de importantes cursos, palestras e simpósios na área do
Treinamento Desportivo, voltando-se especialmente para os processos
de treinamento do rendimento, e na área de preparação física nos desportos
coletivos, com ênfase nas modalidades de Futebol e Futsal.
2015
© Editora Sport Training
Capa e imagens:
Alane Calmon dos Santos
Preparação do original:
Luiz Antonio de Oliveira Ramos Filho
Leitura nal:
Nanci Glade Gomes
Luiz Antonio de Oliveira Ramos Filho
Supervisão editorial:
Danhara Glade Gomes
Supervisão nal:
Antonio Carlos Gomes
Projeto e editoração:
Fernando Henrique de Valentin Aguiar
CONSELHO EDITORIAL
Os originais da presente obra foram submetidos à comissão consultiva editorial, tendo
sido aprovados pelos consultores ad hoc responsáveis, e recomendada a sua publicação
na forma atual.
COMISSÃO EDITORIAL
Prof. Dr. Abdallah Achour Junior (UEL)
Prof. Dr. Antonio Carlos da Silva (UNIFESP)
Prof. Dr. Antonio Carlos Gomes (CBAt)
Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes (UEL)
Prof. Dr. Edson Marcos de Godoy Palomares (Estácio de Sá)
Prof. Dr. Emerson Farto Ramirez (Universidade de Vigo – Espanha)
Prof. Dr. Enrico Fuini Puggina (USP)
Prof. Dr. Hélcio Rossi Gonçalves (UEL)
Prof. Dr. Hugo Tourinho Filho (USP)
Prof. Dr. João Paulo Borin (UNICAMP)
Profa. Dra. Ligia Andréa Pereira Gonçalves (UNIPAR)
Prof. Dr. Paulo Cesar Montagner (UNICAMP)
Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira (UNICAMP)
Profa. Dra. Rosângela Marques Busto (UEL)
Prof. Dr. Sérgio Gregório da Silva (UFPR)
Prof. Dr. Tácito Pessoa de Souza Júnior (UFPR)
Prof. Dr. Valdomiro de Oliveira (UFPR)
Prof. Dr. Wagner de Campos (UFPR)
Prof. Me. Clovis Alberto Franciscon (CBAt)
Prof. Me. Pedro Lanaro Filho (UEL)
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me abençoar todas as e Dr. Cortez. Aos meus primeiros mestres
manhãs e mostrar-me os caminhos certos no futsal, professor Aécio e Tidu, que me
nos momentos de dúvida e escuridão; mostraram como um esporte pode ser tão
Aos atletas de futsal do DERLA/Aguaí, marcante na vida de uma pessoa;
que serviram de instrumento de indagação A todos os meus familiares que podem
para elaboração e nalização desse proje - dividir comigo o sabor de mais essa
to; conquista nessa ainda recente, porém
Aos alunos e professores da Faculdade vitoriosa carreira, em especial aos meus
de Filosoa, Ciências e Letras de São José avós paternos Waldemar e Terezinha e
do Rio Pardo (SP) – FEUC e da UNIPINHAL maternos, Marlene e Oswaldo;
(SP), pela convivência e questionamen- Aos colegas de prossão, Marcelo
tos que puderam servir de base para o Rodrigues, Estevam Oscar, Celso Bertozzi,
interesse na discussão desse assunto. Em Júlio, Luís Felipe, Sidnei de Parólis,
especial, aos professores e demais pros- Raphael Carneiro, Silvio César, Rogério
sionais das instituições: Ricardo Taveira, e, em especial, ao amigo Marcus Vinícius
Roque, Gustavo, Chico, Cleide e Germano; Campos;
A todos os companheiros de graduação Aos professores do Curso de Educação
do Curso de Educação Física da Unifae, Física da Unifae, da Pós-Graduação
do Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu Lato-Sensu em Treinamento Desportivo
em Treinamento Desportivo da UniFMU, e da UniFMU, e da Pós-Graduação Stricto-
do Curso de Pós-Graduação Stricto-Sensu Sensu, pelos ensinamentos repassados
em Motricidade Humana (UCA) pela convi- com veracidade;
vência sempre produtiva nas aulas; Em especial aos professores Antonio
Aos companheiros do Grupo de Carlos Gomes, Paulo Roberto de Oliveira,
Estudos e Pesquisas em Futebol e Futsal Fabiano Pinheiro Peres, pelos ensinamen-
da USP (GEPEFFS – USP), em especial tos, propostas e conceitos, que propicia-
aos amigos Renê, Bruno Folmer, Alonso ram a organização desse projeto.
DEDICATÓRIA
Ao meu pai, Orlando Miguel e minha seria insuciente para mostrar minha
mãe, Kátia Crivelari Miguel, pela real imensa gratidão.
demonstração de afeto, amor, carinho, À minha irmã, Gisele Miguel, pelo conví-
compreensão, honestidade e apoio em vio sempre produtivo e pela demonstração
todos os momentos da minha caminhada. de respeito e orgulho.
Sem eles, todos estes momentos tornar- À Thayrine, pelo carinho, apoio, afeto e
se-iam impossíveis, portanto, uma vida partilha.
APRESENTAÇÃO
Tiago Volpi Braz*
Prefaciar um livro é uma honra e uma capítulo, em que são descritos os aspec-
responsabilidade enorme, mas quando o tos físicos, técnicos, psicológicos e sua
autor é um amigo, esta responsabilidade, o inuência no desenvolvimento tático do
prazer e a honra se tornam ainda maiores. atleta e da equipe.
Tenho observado de perto o avanço O quarto capítulo traz ao leitor os
acadêmico de Henrique Miguel, e a sua sistemas de jogo, que são os responsá-
preocupação em não levantar teoria, sem veis diretos na estruturação tática de uma
a qual não exista vivência prática. equipe. O autor deixa evidente os princi-
O livro “Treinamento Tático no Futsal” pais aspectos de cada sistema e suas
é uma obra onde observo esta sua marca. aplicações.
Aqui, com uma linguagem simples e clara, Uma reexão quanto aos métodos de
embasada na ciência do treinamento ensino global e sintético é proposta pelo
desportivo, a teoria do treinamento tático autor no quinto capítulo, discutindo a
é proposta de forma aplicável, dentro da tendência atual, porém de uma forma que
realidade do leitor. o leitor se sinta livre para trabalhar com o
No primeiro capítulo, onde o conceito método que julgar melhor.
de tática é denido, o autor descreve de Os conceitos teórico-cientícos da
maneira clara as principais diferenças dos periodização tática (PT), algo muito discuti-
atletas nas várias ações táticas ofensivas do no desporto coletivo atual, são aborda-
e defensivas, além de abordar variadas dos no sexto capítulo, onde de maneira
situações de jogo, trazendo dados recen- simples e prática o autor discorre sobre as
tes de competições dos diversos níveis. características, conceitos metodológicos
No segundo capítulo, o autor aborda o e princípios da PT, bem como possíveis
processo ensino-aprendizagem dos fatores inadequações a sua utilização.
táticos, destacando o que há de mais No capítulo nal, são propostos exercí-
importante ao trabalhar o ensino tático à cios práticos, onde a teoria dos capítulos
atletas de futsal. anteriores pode ser trabalhada em diver-
As condições inuenciadoras no desen- sas situações e objetivos.
volvimento tático do atleta e de uma Uma boa leitura e desfrutem ao máximo
equipe de futsal são abordadas no terceiro dessa obra.
*Docente do Curso de Educação Física da Faculdade de
Filosoa, Ciências e Letras de São José do Rio Pardo – FEUC
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 15
PARTE 1
BASES E CONCEITOS DO TREINAMENTO TÁTICO NO FUTSAL
CAPÍTULO I
1. CONCEITOS TÁTICOS NO FUTSAL................................................................. 19
Denição ............................................................................................................... 19
Tática ofensiva ..................................................................................................... 20
Tática defensiva ................................................................................................... 20
O futsal como esporte de cooperação/oposição ............................................... 21
Funções dos atletas na organização tática do futsal ....................................... 22
Função em relação à zona de posicionamento ................................................. 25
Situações de jogo e ações táticas ...................................................................... 26
Contra-ataques .................................................................................................... 26
Ações do goleiro linha ......................................................................................... 28
CAPÍTULO II
2. INTELIGÊNCIA TÁTICA NOS JOGADORES DE FUTSAL ............................... 31
CAPÍTULO IV
4. SISTEMAS DE JOGO NO FUTSAL ................................................................... 45
PARTE 2
TENDÊNCIAS ATUAIS PARA O TREINAMENTO TÁTICO NO FUTSAL
CAPÍTULO V
5. TREINAMENTO TÁTICO GLOBAL E ANALÍTICO SINTÉTICO. ....................... 51
CAPÍTULO VI
6. PERIODIZAÇÃO TÁTICA NO FUTSAL ............................................................. 55
PARTE 3
METODOLOGIAS PRÁTICAS APLICADAS AO TREINAMENTO TÁTICO NO
FUTSAL
CAPÍTULO VII
7. EXERCÍCIOS PRÁTICOS................................................................................... 66
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 78
“Quanto mais aumenta nosso
conhecimento, mais evidente ca
nossa ignorância”.
(John F. Kennedy)
Treinamento Tático no Futsal 15
INTRODUÇÃO
necessita para se recuperar, no que diz sua disseminação para a proliferação dos
respeito ao seu aporte siológico, para padrões de jogo da modalidade.
sair e entrar durante o jogo e conseguir Penso que o futsal atualmente no
um rendimento ideal (o maior tempo e da Brasil, assim como o futebol, já é um
melhor forma possível). fator cultural. Nasce e cresce regionaliza-
Os fatores técnicos, por sua vez, preci- do com o ambiente ao qual está inserido.
sam ser treinados e trabalhados desde a Dessa forma, em cada lugar do país há
seleção e preparação do atleta nas catego- uma maneira diferente de se trabalhar, de
rias que iniciam a modalidade. A automa- se jogar e de se aprender futsal. Porém,
ção desses fatores na sua forma de reali- felizmente não há um modelo xo, que
zação ideal leva o jogador a patamares decida o que cada jogador aprenderá ou o
essenciais para a prática do futsal. Nas que cada equipe deverá fazer durante uma
categorias maiores, o atleta irá lapidar e partida. Os fatores táticos estão envolvidos
maximizar suas potencialidades a m de nessa proposta.
tornar-se extremamente eciente na reali- É necessário que haja um direciona-
zação das mesmas durante uma partida. mento de atitudes que possa surpreender o
Em suma, um atleta destro precisa ter adversário em determinados momentos do
eciência também nas habilidades exigidas jogo, onde possa haver um desequilíbrio
com sua perna esquerda, ou vice-versa. defensivo que acarretará numa superiori-
Como o futsal tornou-se uma modali- dade ofensiva. Em contrapartida, é neces-
dade muito rápida durante sua evolução, sário que uma equipe possua manobras
os processos defensivos de marcação defensivas que impeçam as investidas do
dão poucos espaços para as investidas ataque adversário, evitando jogadas que
de ataque, fazendo com que os atletas levem perigo à sua meta.
busquem alternativas imediatas para O treinamento tático na literatura inter-
desestabilizar esse sistema. Assim, as nacional é pouco discutido, porém, tem
noções técnicas juntamente com os papel fundamental durante um macroci-
processos de consciência corporal, são clo de trabalho dentro das modalidades
fundamentais para o êxito esportivo indivi- coletivas. Há duas maneiras distintas de
dual e coletivo. se trabalhar os fatores táticos durante um
Todavia, um fator pouco estudado no período de treinamento. O primeiro deles,
âmbito do futsal é a proposta de trabalho e mais utilizado, é trabalhar de maneira
tático de uma equipe. Por ser de difícil visua- fracionada junto a outras capacidades, ou
lização durante uma partida e de complexo seja, trabalhar os fatores físico, técnico e
entendimento por parte de muitos estudio- tático em sessões de treino separadas.
sos do esporte, essa proposta é bem Nessa proposta, embora o controle do
menos evidente quando comparada aos trabalho seja mais preciso, perde-se um
fatores físicos e técnicos. Pouquíssimos pouco a conabilidade quanto ao aspecto
estudos reetem os paradigmas táticos de sua especicidade.
que são utilizados no futsal de alto nível, Em contrapartida, uma nova tendência
deixando apenas aos processos do cotidia- de treinamento tático vem assumindo papel
no de treinamento seu conhecimento e importante na periodização desportiva da
Treinamento Tático no Futsal 17
BASES E CONCEITOS DO
TREINAMENTO TÁTICO NO FUTSAL
Treinamento Tático no Futsal 19
1
CONCEITOS TÁTICOS NO FUTSAL
A tática ofensiva tem início quando a A tática defensiva diz respeito às ações
equipe detém a posse de bola e necessita em que a equipe não detém a posse de
de situações-problema para desequilibrar bola, tentando impedir que o adversá-
o sistema defensivo adversário. O conceito rio consiga o desequilíbrio em seu setor
principal para essa situação é a realização defensivo.
de uma manobra que possibilite a criação de A marcação pode ser realizada indivi-
superioridade numérica sobre a defesa. dualmente ou em zona, aumentando ou
Este processo visa a troca rápida de diminuindo os espaços da quadra de jogo
passes entre os componentes de uma equipe, adversária. Essa proposta pode ser feita
as movimentações diferentes no espaço da sob pressão, meia pressão, quadra inteira,
quadra (ambiente de jogo), gerando confu- meia quadra, marcação com dobra, marca-
são entre os defensores oponentes. Também ção sem dobra, e outras inúmeras termi-
faz parte das táticas ofensivas às inltrações nologias que são vistas nas instruções dos
no sistema defensivo, o desequilíbrio gerado vários prossionais que trabalham com a
pela ação ofensiva coletiva ou individual de modalidade.
forma racional e planejada e a utilização A Tabela 1 explica com mais clareza
inteligente dos fatores técnicos que possam os fatores encontrados nas propostas de
gerar benefícios frente ao adversário. ações táticas ofensivas e defensivas no
Todas essas propostas visam o objetivo de futsal atual.
marcar o gol e buscar uma vantagem real na Contudo, visualizando todos os termos
partida e no placar nal, culminando na vitória. descritos anteriormente, é importante que
Treinamento Tático no Futsal 21
equipe, desde o treinamento até os jogos futsal utilizam-se, na maior parte das vezes,
propriamente ditos. dos mesmos recursos físicos durante uma
É importante esses posicionamentos partida; portanto, descrevo a seguir esses
serem aprendidos já nas categorias de jogadores e suas principais características
base, sendo apenas aprimorados poste- quanto à sua função tática no jogo de futsal.
riormente nos vários anos de vivência
da modalidade. Dessa forma, exige-se
a atuação dos jogadores em diferentes O goleiro
posições, desempenhando funções múlti-
plas. • É o atleta responsável por impedir a
Esse complexo processo deve ser pauta- entrada da bola em sua baliza (Figura 2);
do na versatilidade, exigindo dos técnicos • Quando fora de sua área de meta,
e responsáveis da área novas condutas e trabalha a bola com seus pés e passa
propostas pedagógicas (Santana, 2004). a ser um jogador de linha como os
O aprendizado tático adquirido pelo atleta demais, atuando no sistema ofensivo
necessita de vários momentos importan- que é designado dentro do padrão de
tes, passando por adaptações e readap- jogo da equipe;
tações neurosiológicas, culminando num • É peça fundamental no futsal atual,
processo de inteligência tática do jogo. pois, além de ser o principal jogador do
Podemos observar, em vários momen- sistema defensivo de uma equipe, pode
tos de um jogo de futsal, situações táticas auxiliar de forma efetiva nos movimen-
que podem modicar a organização normal tos de ataque e contra-ataque;
de uma equipe. Contudo, a maior parte dos • Possui padrões e aspectos siológi-
prossionais da modalidade procura ter em cos diferentes dos demais jogadores
quadra, na maior parte do tempo (quando em uma partida de futsal.
em condições normais de jogo), a seguin-
te denição de elenco: um goleiro, um xo,
dois alas e um pivô. O xo
Por ser um esporte intermitente, dinâmi-
co e de diversas movimentações por parte • Responsável pelo processo funda-
dos jogadores durante a realização do jogo, mental de destruição de jogadas adver-
vários atletas têm buscado exercer mais de sárias, sendo peça essencial na inicia-
uma função dentro de quadra, facilitando a ção de um contra-ataque (Figura 3);
organização tática de sua equipe. • Serve de referência aos demais
O equilíbrio defensivo e ofensivo de companheiros na montagem do sistema
uma equipe necessita do entendimento defensivo, bem como diculta qualquer
tático colocado em questão. As respostas armação de ataque da equipe adversá-
dadas pelos atletas durante a partida é de ria;
extrema responsabilidade dos integrantes • Ocupa sempre uma região frontal à
da comissão técnica que prescrevem e sua meta, utilizando-se do referencial
repassam o treinamento. da sua meia quadra até a área penal a
Com exceção do goleiro, os jogadores de qual defende.
24 Henrique Miguel
Os alas O pivô
na estrutura de jogo, pois o erro em empregá- a realização dessa ação não é feita por um
la pode acarretar uma ação contrária, com goleiro de fato, e sim, por um atleta de linha
igual ou maior perigo à meta defendida. que busca um ponto diferencial no balanço
ofensivo da equipe, sendo quase sempre
usada nas partidas em que o resultado não
Ações do goleiro-linha é favorável, e necessita-se reverter esse
quadro.
No futsal atual, a atuação do goleiro Quando colocada em prática, a ação do
deixou de ser vista como a de um atleta goleiro-linha no futsal modica toda a estru-
que está restrito apenas às funções de tura tática, não apenas da equipe que está
defesa dentro da área de meta. Esse realizando a movimentação, mas também,
jogador, ultimamente, tem papel impor- da equipe que atua contra esse sistema.
tantíssimo nos contra-ataques, após uma Uma maior demanda siológica por parte
defesa ou uma rápida reposição de bola; dos defensores é requerida, pois a marca-
no futsal de alto nível, pode ser um jogador ção sempre deverá ser feita com um atleta
a mais dentro do sistema de jogo ofensi- a menos (situação de 5x4), mesmo esse
vo de sua equipe (Soares, 2012). A partir embate ocorrendo em uma quadra reduzi-
do momento em que sai de sua área, pode da (na maioria das vezes meia quadra,
jogar com os pés como se fora os demais chegando a um terço de quadra em alguns
jogadores de linha, podendo ter contato de momentos).
quatro segundos com a bola em sua meia A equipe que mantém o poder ofensivo
quadra e posse ilimitada na quadra adver- também deverá sofrer modicações duran-
sária. te o processo, pois as movimentações
Para buscar uma situação tática ofensiva deverão ser mais intensas e a procura por
de mais ecácia, em muitas oportunidades, um espaço melhor e uma chance ótima
Treinamento Tático no Futsal 29
para a marcação do tento deverão ocorrer um atleta a mais na quadra de ataque para
com mais veemência. um engajamento que resulte no gol.
Soares et al. (2012) observaram que Contudo, há divergências entre a utili-
muitos técnicos de elite do futsal brasileiro zação desse sistema, pois, apesar de ser
adotam com frequência a ação do goleiro- favorável ao ataque, 83,3% dos técnicos
linha. Dessa forma, investigaram a utiliza- que responderam à pesquisa, disseram
ção desse sistema de jogo e sua importân- também já terem perdido jogos devido
cia para os treinadores, na Liga Nacional à utilização dessa tática. O fato ocorreu
de Futsal do ano de 2011. principalmente no erro de passes no
Os autores do estudo entrevistaram os ataque, na nalização deciente ou na falta
comandantes de equipes de elite do futsal de atenção do engajamento de ataque.
brasileiro e notaram, através das respostas A Figura 7 representa a ação tática
dos técnicos, que a função do goleiro-linha, capaz de gerar uma situação de 5 jogado-
em sua totalidade, é a tentativa da mudan- res contra 4 adversários (5x4 na linha), com
ça do resultado da partida, através da o goleiro colocado de diversas formas pela
variação tática ofensiva, somando sempre quadra de jogo.
30 Henrique Miguel
Treinamento Tático no Futsal 31
2
INTELIGÊNCIA TÁTICA NOS
JOGADORES DE FUTSAL
3
FATORES QUE INTERFEREM NO
DESENVOLVIMENTO TÁTICO
4
SISTEMAS DE JOGO
NO FUTSAL
PARTE 2
TENDÊNCIAS ATUAIS PARA O
TREINAMENTO TÁTICO NO FUTSAL
Treinamento Tático no Futsal 51
5
TREINAMENTO TÁTICO GLOBAL
E ANALÍTICO SINTÉTICO
6
PERIODIZAÇÃO
TÁTICA NO FUTSAL
visa a propostas que desenvolvam diferen- de trabalho. Com isso, o treinador deve
tes tipos e escalas de organização, fugindo condicionar atividades que realizem o
de uma alternância vertical, para escapar máximo de vezes os comportamentos de
do overtrainning (Figuras 32 e 33). jogo pretendidos para a equipe.
De acordo com Frade (2006), esse As atividades propostas durante uma
princípio consiste na realização de uma semana de trabalho na periodização
repetição sistemática daquilo que se tática podem ser montadas, desmonta-
pretende que o atleta adquira durante o das e hierarquizadas de acordo com a
treino. Essa atitude tende a levar o jogador necessidade da equipe. A progressão
a uma compreensão efetiva de determina- desses padrões de trabalho é observada
dos padrões e princípios de jogo propostos pela complexidade dos modelos de jogos
pela atividade. propostos. Os princípios e subprincípios
Oliveira (2009) ainda cita que o princí- devem estar articulados entre si, transmi-
pio das propensões dene a densidade tindo informações que procuram transfor-
dos princípios e subprincípios do que se mar hábitos em padrões de jogo (Oliveira,
pretende treinar numa proposta horizontal 2009).
62 Henrique Miguel
Dessa forma, a complexidade das infor- jogadores, sujeitos à PT, são dados de
mações deve ser aumentada progressiva- forma diferenciada das demais propostas
mente, saindo de um padrão generalizado de elaboração do treinamento.
(que procura dar uma visão global daqui- O subprincípio da intensidade tende a
lo que se pretende) para uma proposta provocar no atleta uma grande pressão
especíca que aumente os critérios de competitiva que possa chegar o mais
exigência dos atletas (como chegar àquilo próximo possível dos aspectos do jogo
que se pretende). propriamente dito. Porém, o desgaste
energético não é fator primordial desse
subprincípio, focando aspectos como
Subprincípio da intensidade concentração (fator decisivo para esportis-
e concentração decisional tas de alto nível) e minimizando a “fadiga
tática” (incapacidade dos atletas mante-
Quando aplicada a Periodização Tática, rem um padrão de atenção durante toda a
é importante que os conceitos de inten- partida) que impede um melhor rendimento
sidade sejam bem entendidos, principal- (Carvalhal, 2003).
mente nos propósitos siológicos que Na proposta da PT temos a intensida-
englobam a modalidade, buscando, assim, de como padrão de comando do treino e o
uma melhor aplicação da proposta compe- volume como fator a ser gerido dentro do
titiva. Os tipos de estímulos colocados aos período de treinamento de acordo com o
Treinamento Tático no Futsal 63
PARTE 3
7
EXERCÍCIOS PRÁTICOS
A UTILIZAÇÃO DOS
JOGOS REDUZIDOS • EMPB: exercícios de manutenção de
posse de bola;
Principalmente na estruturação do • ESIN: exercícios de superioridade e
treinamento da periodização tática, os inferioridade numérica;
jogos reduzidos vêm ganhando cada dia • ETP: exercícios de transição e
mais espaço. Tal processo requer que a progressão;
montagem do trabalho desportivo seja • EUEP: exercícios de utilização efetiva
inuenciada nas ênfases da proposta do do pivô;
Modelo de Jogo Adotado. Abordando os • ELP: exercícios de largura e profun-
princípios e subprincípios dessa proposta didade;
de treinamento, podemos evidenciar vários • EUGL: exercícios de utilização do
tipos de atividades que poderão ser usadas goleiro-linha.
no contexto do jogo do futsal, de acordo
com o padrão de jogo de cada equipe.
A seguir, serão colocados alguns JOGOS DE MANUTENÇÃO
exemplos de atividades de jogos reduzi- DE POSSE DE BOLA
dos (atividades de espaços reduzidos)
que servirão de modelo para seu traba- Um dos fatores importantes para que
lho. Porém, é importante termos sempre uma equipe evite as ações ofensivas
em mente que um dos fatores fundamen- adversárias, é a manutenção da posse
tais para um prossional de sucesso é a de bola o maior tempo possível. Porém,
criatividade que ele consegue exercer em apenas manter a posse de bola não signi-
seu trabalho, buscando desenvolver ativi- ca obter vantagem sobre a equipe adver -
dades que tenham efetiva conexão dos sária. É necessário que os atletas saibam o
processos de jogo e de treino. Para facilitar que fazer com essa bola, e como manipu-
a compreensão dos leitores, as atividades lá-la de forma adequada buscando sempre
foram denidas por siglas, bem como suas uma nalização que resulte num processo
legendas: efetivo de ataque.
Treinamento Tático no Futsal 67
se ataca. Os jogadores que estão fora de fundo. Esse, por sua vez, deve fazer
dela buscam uma situação de superio- com que a bola chegue aos companheiros
ridade numérica ativando o jogador que colocados na zona intermediária da quadra
está posicionado na diagonal de passe. (Figura 44).
Se o jogador de defesa intercepta esse Finalizando o exercício, a bola preci-
passe, por sua vez, passarão a realizar a sa chegar ao jogador o qual se encontra
movimentação ofensiva, seguindo a ativi- na zona de pivô, que pode ser auxiliado
dade (Figura 41). pelos atletas que se encontravam na zona
ESIN4: dois quadrantes são denidos central, podendo fazer a nalização. Caso
na quadra. Entre eles, há uma situação os jogadores que desempenham o papel
de 1x1 onde o jogador que detém a posse defensivo recuperem a bola, essa deve ser
de bola precisa acionar um companheiro solta pelo goleiro, iniciando novamente a
que está colocado dentro do quadrante. mecânica do exercício.
Quando acionado, ocorre uma situação ETP2: a quadra de jogo é divida em
de 2x1 em direção ao gol. Se esse passe 6 porções preferencialmente iguais. A
for interceptado pelo defensor, por sua mecânica desse exercício é semelhante
vez, passarão a realizar a movimentação ao anterior, porém, a bola necessita passar
ofensiva, seguindo a atividade (Figura 42). pelos atletas colocados nos 6 quadrantes
ESIN5: são denidos 3 quadrantes na para ser nalizada ao gol (Figura 45).
quadra de jogo. Em cada um deles, há uma ETP3: a quadra de jogo é divida em
situação de 1x1, assim como fora deles. O dois quadrantes de defesa, um quadrante
jogador que detém a posse de bola precisa central e dois quadrantes de ataque. A bola
acionar pelo menos dois companheiros de é solta pelo goleiro para um dos jogado-
quadrantes diferentes para fazer a naliza- res que estejam nos quadrantes defen-
ção. Se a bola for interceptada pelos defen- sivos. Por sua vez, esse atleta necessita
sores, por sua vez, passarão a realizar a passar a bola ao companheiro que está
movimentação ofensiva, seguindo a mesma no setor central da quadra. Quando isso
mecânica da atividade (Figura 43). ocorre, o primeiro jogador pode acompa-
nhar o ataque até os quadrantes ofensivos,
sem ser acompanhado pelo seu marcador
JOGOS DE TRANSIÇÃO inicial (Figura 46).
de escanteio, fazendo o papel de pivôs. bola, o pivô realiza uma proposta de 1x1
No centro da quadra, acontece um proces- em relação ao seu marcador buscando a
so de inferioridade numérica, em que os nalização (Figura 51).
jogadores que detêm a posse de bola
precisam acionar os jogadores posiciona-
dos no fundo da quadra. Assim que aciona- JOGOS DE LARGURA E
dos, os “pivôs” podem fazer a nalização PROFUNDIDADE
ou procurar uma melhor situação de nali -
zação para os companheiros (Figura 47). Ações que procuram utilizar tanto as
Caso a bola seja recuperada, os laterais da quadra, quanto a profundidade
jogadores de defesa passam a atacar com de ataque.
a mesma mecânica do exercício. ELP1: numa situação de igualda-
EUEP2: o pivô é liberado para se de numérica, a bola deve ser tocada ao
movimentar livremente na zona do fundo companheiro que se encontra na zona
da quadra, enquanto seus companhei- lateral da quadra. Esse atleta não pode
ros buscam uma melhor oportunidade de ser marcado dentro de sua zona e pode
fazer-lhe um passe. Assim que acionado, movimentar-se livremente no setor. Com
o pivô pode fazer a nalização ou procurar a bola em seu domínio, pode buscar uma
uma melhor situação de nalização para os nalização cruzada ou uma melhor situa-
companheiros (Figura 48). ção de nalização para seus companheiros
EUEP3: o pivô é liberado para movimen- de equipe. Caso a bola seja interceptada,
tar-se livremente na zona do fundo da os jogadores que faziam a marcação, por
quadra, porém, tem a marcação individual sua vez, passam a atacar obedecendo a
de um xo. Seus companheiros buscam mesma mecânica do exercício (Figura 52).
uma melhor oportunidade para fazer-lhe o ELP2: dois gols são colocados de forma
passe. Assim que acionado, o pivô podem assimétrica na quadra de jogo, de forma
fazer a nalização ou procurar uma melhor que os atletas possam utilizar a largura
situação de nalização para os companhei- para se deslocarem. Essa proposta vai
ros (Figura 49). objetivar a utilização de passes laterais e
EUEP4: o pivô é liberado para movimen- a ocupação do espaço na quadra (Figura
tar-se livremente na zona do fundo da 53).
quadra, porém, tem a marcação individual ELP3: dois gols são colocados na
de um xo. Se o pivô sai da zona que lhe é quadra de jogo de forma invertida, fazen-
compreendida, outro jogador precisa entrar do com que os atletas busquem uma
na mesma e compor o setor ofensivo. É movimentação mais profunda, objetivando
importante que haja sempre um jogador a utilização de passes profundos e uma
dentro da zona do pivô (Figura 50). melhor ocupação do espaço na quadra
EUEP5: o pivô é liberado para movimen- (Figura 54).
tar-se numa zona intermediária da quadra, ELP4: numa situação de igualda-
onde receberá o passe dos seus compa- de numérica, a bola deve ser tocada ao
nheiros que saem de uma situação de companheiro que se encontra na zona
superioridade numérica. Após receber a lateral da quadra. Esse atleta não pode ser
Treinamento Tático no Futsal 73
74 Henrique Miguel
Treinamento Tático no Futsal 75
marcado dentro de seu quadrante, onde sua vez, esse último jogador procura uma
pode movimentar-se livremente. Com a melhor situação de nalização para seus
bola em seu domínio, pode buscar uma companheiros de equipe (Figura 57).
nalização cruzada ou uma melhor situa- EUGL2: um quadrante é colocado
ção de nalização para seus companheiros no fundo da quadra próximo à zona de
de equipe. Caso a bola seja interceptada, escanteio de ataque. No quadrante estará
os jogadores que faziam a marcação, por colocado o goleiro-linha que não poderá
sua vez, passam a atacar obedecendo a ser marcado desde que esteja posicionado
mesma mecânica do exercício (Figura 55). dentro do mesmo. Busca-se uma efetivida-
ELP5: quatro quadrantes são coloca- de maior de passes com o goleiro no fundo
dos próximos às zonas de escanteio da da quadra, enquanto os demais jogado-
quadra de jogo. O objetivo é fazer com res movimentam-se de forma constante
que a bola chegue até os atletas coloca- (Figura 58).
dos dentro desses quadrantes, após uma EUGL3: um quadrante é colocado no
situação de superioridade numérica, fundo da quadra, próximo à zona de escan-
buscando uma profundidade no ataque. teio de ataque (onde estará inserido o golei-
Com a bola em seu domínio, os atletas ro) e outro é colocado lateralmente num setor
procuram uma melhor situação de nali- central da quadra (onde estará colocado
zação para seus companheiros de equipe outro jogador de linha). Quando o jogador
(Figura 56). posicionado no quadrante mais central da
quadra recebe o passe, esse precisa trocar
de setor com o goleiro, buscando o desequilí-
JOGOS DE UTILIZAÇÃO brio do setor defensivo (Figura 59).
DO GOLEIRO LINHA EUGL4: este exercício realiza-se com
a mesma mecânica da atividade anterior,
Jogos que procuram o trabalho efetivo porém, os quadrantes de troca estão
do goleiro como jogador de linha, auxilian- colocados próximos à zona de escanteio
do nas propostas ofensivas da equipe. de ataque (Figura 60).
EUGL1: com o goleiro posicionado EUGL5: um quadrante é colocado
paralelamente à linha lateral da quadra, ao centro do setor ofensivo de ataque, e
tem-se um corredor que se estende por o atleta que está dentro dele não poderá
toda a lateral da quadra, onde o goleiro receber marcação no interior do mesmo. A
não poderá ser marcado. Busca-se a efeti- bola deve ser passada entre os jogadores
vidade de passes com o goleiro e o passe do ataque e só poderá ser nalizada após
profundo ao jogador que se encontra ser recebida pelo atleta que está dentro do
próximo à linha de fundo adversária. Por quadrante central (Figura 61).
76 Henrique Miguel
Treinamento Tático no Futsal 77
78 Referências
REFERÊNCIAS