Você está na página 1de 5
ANTONIO AGOSTINHO NETO ne eu propria, jas as quitandas da Vida finico: do-me ajast h SAGRADA ESPERANCA VELHO NEGRO Vendido ¢ transportado nas galeras vergastado pelos homens JiiChAdo nas grandes cidades ‘esbulhado até ao tiltimo tostao huittithado até ao pé sempre sempre vencido E forgado a obedecer a Deus e aos homens perdeu-se Perdew a patria © 2 nogio de ser Reduzido a farrapo macaquearam seus gestos ofa sua alm. oe Velho farrapo 7 negro perdido no tempo ¢ dividido no espago! ‘Ao passar de tanga com 0 espfrito bem escondido no siléncio das frases cOncavas murmuram eles: Pobre negro! E 08 poetas dizem que sio seus irmaos. 1948 sopezanepe> sodios sop eioproguives ‘ebz0y eysauosap ep ‘133 ap ofaxP ov wjoHs9 a6 epeafoIA spepzaa e apUo 80[1998 ap O10 © 98204 Sens seu Soxlapepr9A SOLOYD Ses UBUT se oeprsios eu opeyuanut ‘s0pnogs ap axoy> suauoy sop oagnaysuoo oyfeqey op ezapeq eur ousoUE so8r] sop of'assos ou no sjtazs00 sep wruoUlrEY Pu ‘oqrasap op emsas eu exqoz ep apeprfe eu oanay ou ‘eypoy eu omsout \sou0y ep opezpeMOe 1HOT Ou OUISsTE ogyp op oj2e]u09 oF anSiues op ays0Ur wu OWES 2 OUFY op sepliay sep soUREE sop seiBeix0UrDy Sep a rewe se sepoy ap 9 ayred epar op @ santos sep arueziol epra ep > ‘e1s9} vp vsorepod viSeur vu ouisau sopuyIO1A sep Ofna OW punssnpy o8twe a pany opm nour [Hour epBare esson eu cursaur axoy> 0 ardurog, HTY op o10y> wpra eu oUTEqLT} OU SoMIsEDIES SOU BoHTY ap o10y> seston Soy seu. oUF ap o10Y> sosELIDS sou eoniyy ap oxoyp sanbnieq sou seoquguios sepeyny 2 soghiqure ant openroune ofssap ou suawoy sop oepiaras ead sasopren soujo snas sou sojnags arernp oro O VORLY Ia OXOHD G Yvouvenkisi vaviows 096r ap ourme vpuren] ap Adild &P ¥PPED seanyp © wxrpaduty won SiN eq0istHf ep oxdos 8 suaanu sep sepnumoe 0 squowaqusped ords> omjad ou epquos wayes ® araougo ou mby apepryay © ureseyrense sou anb w0> sequaur se 9 seprAas se asseoprad sauy a8 soquts so erztedox na axooayo ow mby orpracioso & eSeuso onod ossou o anb wo> sexrason$ sagdue> se sesuyueo aqrouaxBaye as sioray so eumadax na areouyo ou mby ‘ouruour wun 2 gAe eum woD ese efanbew o curreyy H wo ossesuad a8 yours eumadax no promo ou mby TUEDUYD ON INDY (LAN OF NIESODY OINOINY ANTONIO AGOSTINHO NETO A RECONQUISTA ‘Nio te voltes demasiado para ti mesma Nio te feches no castelo das lucubragbes infinitas Das recordacées e sonhos que podias ter vivido Vem comigo Africa de calgas de fantasia desgamos a rua ¢ dancemos a danca fatigante dos homens o batuque simples das lavadeiras ‘oucamos o tam-tam angustioso enquanto os corvos vigiam 08 vivos esperando que se tornem cadaveres ‘Vem comigo Africa dos palcos ocidentais descobrir o mundo real onde milhées se irmanam na mesma miséria atrés das fachadas de democracia de cristianismo de igualdade ‘Vem comigo Africa dos gabinetes de estudo ¢ reentremos na casinha de latas esquecida no musseque da Boavista até onde jé nos empurraram ‘20 nos quebrarem as casas de meia agua do Cayatte ‘@ A volta do fogo consolador das nossas aspiragées mais justas examinemos a injustiga inoculada no sistema vivo em que giramos. ‘Vem comigo Africa de colchdes de molas regressemos & nossa Africa onde temos um pedaco da nossa carne calcado sob as botas dos magalas onde cafram gratuitamente as gotas do suor do nosso rosto —anossa Africa ‘Vem comigo Africa do jitterbug até a terra até o homem até o fundo de nos ver quanto de tie de mim faltou quanto da Africa esquecen e morrou na nossa pele mal coberta sob o fate emprestado pelo mais miseravel dos ex-fidalgos. Nio chores Africa dos que partiram ‘olhemos claro para os ombros encurvados do povo que desce a calgada negro negro de miséria negro de frustragio negro de Ansia e démos-Ihe o coracio entreguemo-nos através da fome da prostituigao das cubatas esfuracadas das chanfalhadas dos cipaios através dos muros das prises através da Grande Injustica. ‘Ninguém nos fard calar Ninguém nos podera impedir © sorriso dos nossos labios nao é agradecimente pela morte com que nos matamn. ‘Vamos com toda a Humanidade conquistar o nosso mundo ¢ a nossa Paz. 1958 ANTONIO AGOSTINHO NETO carregadores com quilos as costas ‘so 0s motores que se queimam sob as cargas © pretos submissos, humildes ou timidos sem lugar nas cidades ‘ou nos escaninhos da honestidade ‘0u nos recantos da forea com a alma poisada no sinal menos, polfgamos declarados dancarinos de batuques sensuais Sabei que subistes todos de valor atingistes 0 Zero sois Nada e salvastes 0 Homem, Acabou-se 0 édio de ragas 0 trabalho de civilizagio ea néusea de ver meninos negros sentados na escola a0 lado de meninos de olhos azuis, eas extorsées ¢ as compulsdes eas palmatoadas e torturas para obrigar inocentes a confessar crimes 05 medos de revolta as complicadas demarches politicas para iludir as almas simples. Acabaram-se as complicagies sociais! Atingi o Zero. ‘Cheguei & hora do inicio do mundo e resolvi nao existir. ARENONCTA IMPOSSIVEL Cheguei ao Zero-Espaco a0 Nada-Tempo a0 Eu coincidente com vés-Tudo. Eo que é mais importante: Salvei o mundo. I~ Afirmagéo Ant Faga-se luz. no meu espirito Luz Calem-se as frases loucas Desta rendincia impossivel. Buctodos nunca me negarei nunca coincidirei como nada no me deitarei nunca debaixo dos comboios Nao fui eu quem falou da salvacéo do mundo A custa da minha existéncia da transformacao do valor negativo em Zero por meio do castigo ao inocente ‘em super-suicidio novidade histérica ‘Quem falou nao fui ew foi a minha loucura ‘Omeu lugar est marcado no campo da luta para conquista da vida perdida ANTONIO AGOSTINHO NETO Eu sou. Existo ‘As minhas maos colocaram pedras nos alicerces do mundo Tenho direito a0 meu pedago de pio Sou um valor positive da humanidade Seguirei com.os homens livres © meu caminko para a liberdade e para a Vida, Perdoem-me os cinco minutos de loucura que vivi. Do poema “Afirmacio”, In Michel Laban, Mério Pinto de Andrade — um intelectual na Politica. Da Negagio a Afirmagio, pp. 87-99, Edighes Colibri.

Você também pode gostar