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Upaniṣad
O ensinamento secreto sobre
Gaṇapati, o cume do Atharva-
Veda
Tradução
Roberto de A. Martins
VERSÃO INTEGRAL
Serra da Mantiqueira, MG
www.shri-yoga-devi.org
info.shriyogadevi@gmail.com
2
Shri Yoga Devi
Serra da Mantiqueira, MG
www.shri-yoga-devi.org
info.shriyogadevi@gmail.com
Apresentação ..............................................................1
Gaṇapati Atharva Śīrṣa Upaniṣad ...............................4
Mitologia e simbolismo de Gaṇeśa ..........................19
Nascimento de Gaṇeśa..........................................22
Gaṇeśa, o senhor das tropas ..................................25
Como Gaṇeśa perdeu um dente ............................27
O simbolismo da imagem de Gaṇeśa ...................29
Meditação utilizando a Gaṇeśa Mudrā ....................31
O yantra de Gaṇeśa ..................................................34
Gaṇeśa Mahā Mantra ...............................................36
Gaṇeśa Kirtam ......................................................38
Apresentação
Flávia Bianchini
1
Não se sabe com certeza a época em que Gaṇeśa
apareceu, na cultura indiana. Embora nos Vedas apareça
uma menção a Gaṇapati, a divindade com esse nome não
parece ter as características atribuídas posteriormente a
Gaṇeśa.
As menções mais claras e antigas a Gaṇeśa, com
suas características atuais, aparecem na literatura indiana
aproximadamente nos séculos IV e V da era cristã. Sua
popularidade aumentou rapidamente e, no século IX
(época em que viveu Śaṅkara), ele já era considerado
uma das cinco principais divindades, juntamente com
Śiva, Viṣṇu, Devī (a Grande Deusa) e Sūrya (o Sol).
2
Durante esse período surgiu a seita dos Gaṇapatya,
devotos que consideram Gaṇeśa como a divindade
suprema, uma representação do Absoluto (Brahman)
revestido de características (Saguṇa Brahman), a
divindade imanente, presente no universo. Na tradição
hindu, mesmo os devotos de outras divindades costumam
respeitar Gaṇeśa e invocá-lo no início de qualquer ritual,
pedindo a remoção dos obstáculos.
As principais escrituras dedicadas a Gaṇeśa são o
Gaṇeśa Purāṇa, o Mudgala Purāṇa e a Gaṇapati
Atharva Śīrṣa Upaniṣad (também chamado de Gaṇapati
Upaniṣad). Este último texto, da tradição Gaṇapatya,
apresenta claramente Gaṇeśa como sendo a divindade
suprema, o Absoluto, presente no universo que nos cerca
e também dentro de nós, sob a forma do Eu supremo
(Ātman). É um texto muito respeitado, embora pareça
relativamente recente. Pode ter sido composto
aproximadamente no século XVI d.C.
3
Gaṇapati Atharva Śīrṣa Upaniṣad
Tradução
Roberto de A. Martins
4
गणपत्यथर्वशीर्षोपनिर्षद्
gaṇapatyatharvaśīrṣopaniṣad
॥ शान्ति पाठ॥
ॐ भद्रं कणेनभिः शृणुयाम दे र्ािः।
भद्रं पश्येमाक्षनभयवजत्ािः॥
न्तथथरै रं गैस्तुष्टु र्ां सस्तिूनभिः।
व्यशेम दे र्नितं यदायुिः॥
|| śānti pāṭha ||
oṁ bhadraṁ karṇebhiḥ śṛṇuyāma devāḥ |
bhadraṁ paśyemākṣabhiryajatrāḥ ||
sthirairaṁgaistuṣṭuvāṁsastanūbhiḥ |
vyaśema devahitaṁ yadāyuḥ ||
[Seção da paz]
Oṁ. Que possamos ouvir com nossos ouvidos o que é
auspicioso. Que possamos ver com nossos olhos o que é
auspicioso. Que possamos desfrutar da longa vida que
nos está destinada, oferecendo louvor aos Devas com
nossos corpos fortes.
॥ उपनिर्षत््॥
िररिः ॐ िमस्ते गणपतये॥
त्वमेर् प्रत्यक्षं तत्त्वमनस॥ त्वमेर् केर्लं कताव ऽनस॥
त्वमेर् केर्लं धताव ऽनस॥ त्वमेर् केर्लं िताव ऽनस॥
त्वमेर् सर्ं खन्तिदं ब्रह्मानस॥
त्वं साक्षादात्माऽनस नित्यम््॥ १॥
|| upaniṣat ||
hariḥ om namaste gaṇapataye ||
tvameva pratyakṣaṁ tattvamasi || tvameva kevalaṁ
kartā'si ||
tvameva kevalaṁ dhartā'si || tvameva kevalaṁ hartā'si ||
tvameva sarvaṁ khalvidaṁ brahmāsi ||
tvaṁ sākṣādātmā'si nityam || 1||
[Upaniṣad]
Oṁ. Saudações a você, Gaṇapati. Você é realmente a
essência (tattva) da manifestação. Apenas você é o
criador. Apenas você é o mantenedor. Apenas você é o
destruidor. Você é certamente o Brahman em tudo. Você
é o Eu (ātmā) eterno em tudo. || 1 ||
6
॥ स्वरूप तत्त्व॥
ऋतं र्न्ति॥ सत्यं र्न्ति॥ २॥
|| svarūpa tattva ||
ṛtaṁ vacmi || satyaṁ vacmi || 2||
7
त्वं सन्तिदािंदानितीयोऽनस॥
त्वं प्रत्यक्षं ब्रह्मानस॥
त्वं ज्ञािमयो नर्ज्ञािमयोऽनस॥ ४॥
8
a água, o fogo, o ar e o éter. Você é a divisão quádrupla
da palavra. || 5 ||
Você está além dos três poderes (guṇa), você está além
dos três estados de consciência, você está além dos três
corpos. Você está além dos três tempos. Você está
sempre estabelecido no mūlādhāra. Você é a essência
(ātma) da Poderosa (Śakti) tríplice. É sobre você que os
Yogins sempre meditam. Você é Brahmā, você é Viṣṇu,
você é Rudra. Você é Indra, você é Agni (o Fogo), você é
Vāyu (o Vento), você é Sūrya (o Sol), você é Caṁdrama
(a Lua). Você é Brahman, a terra, a atmosfera, o céu e o
OM. || 6 ||
॥ गणेश मंत्॥
9
गणानदं पूर्वमुिायव र्णाव नदं तदिंतरं ॥
अिुस्वारिः परतरिः॥ अधेन्दु लनसतं॥ तारे ण ऋद्धम््॥
एतत्तर् मिुस्वरूपं॥ गकारिः पूर्वरूपं॥
अकारो मध्यमरूपं॥ अिुस्वारश्चान्त्यरूपं॥
नबन्दु रुत्तररूपं॥ िादिः संधािं॥
संनितासंनधिः॥ सैर्षा गणेशनर्द्या॥
गणकऋनर्षिः॥ निचृद्गायत्ीच्छं दिः॥
गणपनतदे र्ता॥ ॐ गं गणपतये िमिः॥ ७॥
|| gaṇeśa mantra ||
oṁ gaṁ gaṇapataye namaḥ || 7 ||
[Mantra de Gaṇeśa]
GA é o início, então vem a primeira letra (A), depois o
anusvāra (M) e então a meia-Lua. Seu coração é o
transportador (tāra). Esta é a forma (rūpa) do seu mantra.
A letra GA é a primeira forma. No meio, a forma da letra
A. No fim, a forma do anusvāra (M). A semente (bindu)
é a forma mais elevada. O som cósmico (nāda) é a união.
O conjunto (saṁhitā) é a fusão (saṁdhi). Esse é o
conhecimento sobre o Senhor Gaṇeśa. O vidente (ṛṣi) é
Gaṇaka. A métrica é nicṛdgāyatrī. A divindade é
Gaṇapati. Oṁ gaṁ gaṇapataye namaḥ. || 7 ||
10
de recitar o mantra Oṁ gaṁ gaṇapataye namaḥ
• Gaṇapati devatā – coloca a palma da mão direita
sobre o coração, introjetando o deva Gaṇapati
dentro de si
• Oṁ bījam – toca a região dos órgãos genitais, ou
o ombro direito, ou a parte inferior das costas,
com a mão direita, colocando dentro de seu
próprio corpo a semente (bīja) do mantra Oṁ
gaṁ gaṇapataye namaḥ, que é o próprio Oṁ
• Gaṃ śaktiḥ – toca os dois pés, ou o ombro
esquerdo, com a mão direita, colocando dentro de
seu próprio corpo o poder (śakti) do mantra Oṁ
gaṁ gaṇapataye namaḥ, que é a palavra gaṃ
(caminhar, avançar)
• Gaṇapataye kīlakam – toca o umbigo com a ponta
dos dedos, lembrando que a palavra Gaṇapataye
é a trava (kīlaka) que abre ou fecha o poder do
mantra, e conectando-a ao cakra da região do
umbigo
• caturvidha-puruśārtha-siddhyarthe nyāse
viniyogaḥ – mover as duas mãos, abertas, sobre
todo o corpo, da cabeça para os pés, incorporando
o significado ou objetivo da recitação do mantra
Oṁ gaṁ gaṇapataye namaḥ, que é obter a
perfeição dos quatro objetivos humanos (kāma,
artha, dharma, mokṣa)
॥ गणेश गायत्ी॥
एकदं ताय नर्द्मिे । र्क्रतुण्डाय धीमनि॥
तन्नो दं नतिः प्रचोदयात््॥ ८॥
|| gaṇeśa gāyatrī ||
ekadaṁtāya vidmahe | vakratuṇḍāya dhīmahi ||
11
tanno daṁtiḥ pracodayāt || 8||
|| gaṇeśa gāyatrī ||
ekadaṁtāya vidmahe | vakratuṇḍāya dhīmahi ||
tanno daṁtiḥ pracodayāt || 8 ||
[Gāyatrī de Gaṇeśa]
Pensemos sobre aquele que tem uma só presa (ekadanta),
meditemos sobre aquele que tem a tromba curvada, que
aquele dente nos ilumine. || 8 ||
॥ गणेश रूप॥
एकदं तं चतु िवस्तं पाशमंकुशधाररणम््॥
रदं च र्रदं िस्तैनबवभ्राणं मूर्षकर्ध्जम््॥
रक्तं लंबोदरं शूपवकणवकं रक्तर्ाससम््॥
रक्तगंधािुनलप्ां गं रक्तपु ष्ैिः सुपूनजतम््॥
भक्तािुकंनपिं दे र्ं जगत्कारणमच्युतम््॥
आनर्भूवतं च सृष्यादौ प्रकृतेिः पुरुर्षात्परम््॥
एर्ं ध्यायनत यो नित्यं स योगी योनगिां र्रिः॥ ९॥
|| gaṇeśa rūpa ||
ekadaṁtaṁ caturhastaṁ pāśamaṁkuśadhāriṇam ||
radaṁ ca varadaṁ hastairbibhrāṇaṁ mūṣakadhvajam ||
raktaṁ laṁbodaraṁ śūrpakarṇakaṁ raktavāsasam ||
raktagaṁdhānuliptāṁgaṁ raktapuṣpaiḥ supūjitam ||
bhaktānukaṁpinaṁ devaṁ jagatkāraṇamacyutam ||
āvirbhūtaṁ ca sṛṣṭyādau prakṛteḥ puruṣātparam ||
evaṁ dhyāyati yo nityaṁ sa yogī yogināṁ varaḥ || 9||
[A forma de Gaṇeśa]
Um dente, quatro braços, segurando o laço, o gancho e a
presa, que faz o gesto apaziguador, com o camundongo
como seu veículo, com um grande ventre e longas
orelhas, vestido de vermelho, ungido com sândalo
12
vermelho, cultuado com flores vermelhas, compassivo
para com os devotos, aquele que construiu o mundo, o
senhor imperecível, que se manifesta no início da
criação, que está além da Natureza (Prakṛti) e da
Consciência (Puruṣa). O yogin que medita sempre assim
é o melhor de todos os yogins. || 9 ||
॥ फलश्रुनत॥
एतदथर्वशीर्षं योऽधीते॥ स ब्रह्मभूयाय कल्पते॥
स सर्वतिः सुखमेधते॥ स सर्व नर्घ्नैिवबाध्यते॥
स पंचमिापापात्प्रमुच्यते ॥
सायमधीयािो नदर्सकृतं पापं िाशयनत॥
प्रातरधीयािो रानत्कृतं पापं िाशयनत॥
13
सायंप्रातिः प्रयुंजािो अपापो भर्नत॥
सर्वत्ाधीयािोऽपनर्घ्नो भर्नत॥
धमाव थवकाममोक्षं च नर्ंदनत॥
इदमथर्वशीर्षवमनशष्याय ि दे यम््॥
यो यनद मोिाद्दास्यनत स पापीयाि््भर्नत
सिस्त्रार्तविात््यं यं काममधीते
तं तमिेि साधयेत््॥ ११॥
|| phalaśruti ||
etadatharvaśīrṣaṁ yo'dhīte || sa brahmabhūyāya kalpate ||
sa sarvataḥ sukhamedhate || sa sarva vighnairnabādhyate
||
sa paṁcamahāpāpātpramucyate ||
sāyamadhīyāno divasakṛtaṁ pāpaṁ nāśayati ||
prātaradhīyāno rātrikṛtaṁ pāpaṁ nāśayati ||
sāyaṁprātaḥ prayuṁjāno apāpo bhavati ||
sarvatrādhīyāno'pavighno bhavati ||
dharmārthakāmamokṣaṁ ca viṁdati ||
idamatharvaśīrṣamaśiṣyāya na deyam ||
yo yadi mohāddāsyati sa pāpīyān bhavati
sahastrāvartanāt yaṁ yaṁ kāmamadhīte
taṁ tamanena sādhayet || 11||
15
yaḥ sājyasamidbhiryajati
sa sarvaṁ labhate sa sarvaṁ labhate || 13||
अष्टौ ब्राह्मणाि््सम्यग्ग्रािनयत्वा
सूयवर्चवस्वी भर्नत॥
सूयवरिे मिािद्यां प्रनतमासंनिधौ
र्ा जप्त्त्वा नसद्धमंत्ो भर्नत॥
मिानर्घ्नात्प्रमुच्यते ॥ मिादोर्षात्प्रमुच्यते॥
मिापापात््प्रमुच्यते॥
स सर्वनर्द् ्भर्नत स सर्वनर्द् भर्नत॥
्
य एर्ं र्ेद इत्युपनिर्षत््॥ १४॥
॥ शान्ति मंत्॥
ॐ सििार्र्तु॥ सििौभुिक्तु॥
सि र्ीयं करर्ार्िै ॥
तेजन्तस्विार्धीतमस्तु मा नर्निर्षार्िै ॥
|| śānti maṁtra ||
oṁ sahanāvavatu || sahanaubhunaktu ||
saha vīryaṁ karavāvahai ||
tejasvināvadhītamastu mā vidviṣāvahai ||
[Mantra da paz]
Que nós ambos sejamos protegidos. Que nós ambos
recebamos benefícios juntos. Que nós ambos nos
esforcemos juntos. Que nosso estudo seja luminoso, que
não haja ódio ou discussões entre nós.
18
Mitologia e simbolismo de Gaṇeśa
Flávia Bianchini
19
No hinduísmo, Gaṇeśa é uma das divindades mais
conhecidas e amadas. O nome "Gaṇeśa" pode ser
decomposto em gana+iśa = "senhor das tropas". É
também chamado de Gaṇapati, que tem o mesmo
significado (gaṇa+pati = "senhor das tropas"). Muitas
vezes seu nome é precedido por Śri ("reverendo"), um
tratamento respeitoso utilizado geralmente para mestres e
sábios.
20
Assim como acontece com todas as outras divindades
indianas, Gaṇeśa é um arquétipo cheio de múltiplos
sentidos. Sendo o filho de Śiva e de Pārvatī, ele é
considerado a fusão dos dois grandes poderes
complementares do universo. Quando Śakti (a Poderosa)
e Śiva (o Consciente) se encontram, nascem o Som
(simbolizado por Gaṇeśa) e a Luz (simbolizada por
Skanda, o outro filho de Śiva e Pārvatī).
Uma descrição das características e atributos de
Gaṇeśa podem ser encontradas na Gaṇapati Atharva
Śīrṣa Upaniṣad (uma Upaniṣad dedicada a Gaṇeśa), onde
Gaṇeśa é identificado com o Absoluto (Brahman e
Ātman).
21
Nascimento de Gaṇeśa
Existem muitas versões diferentes sobre o nascimento
de Gaṇeśa. Em algumas delas ele é filho apenas de
Pārvatī, em outras é filho apenas de Śiva, em outros é
filho de ambos, e há também histórias em que não é filho
de nenhum deles, tendo sido adotado pelo casal.
A mais conhecida história é provavelmente aquela
encontrada no Śiva Purāṇa. Uma vez, quando Pārvatī
queria tomar banho, Śiva estava ausente e não havia
ninguém disponível para protegê-la de alguém que
poderia entrar na sala. Então ela criou um ídolo na forma
de um garoto, esse ídolo foi feito da pasta de sândalo que
Pārvatī havia preparado para lavar seu corpo. A deusa
infundiu vida no boneco e assim nasceu Gaṇeśa. Pārvatī
ordenou a Gaṇeśa que não permitisse que ninguém
entrasse na casa e Gaṇeśa obedientemente seguiu as
ordens de sua mãe, postando-se na entrada.
Dali a pouco Śiva retornou da floresta e tentou entrar
na casa, mas foi impedido por Gaṇeśa, que não o
conhecia. Śiva se enfureceu com esse garotinho estranho
que tentava desafiá-lo. Ele disse a Gaṇeśa que era o
esposo de Pārvatī e que Gaṇeśa poderia deixá-lo entrar.
Mas Gaṇeśa não obedecia a ninguém que não fosse sua
mãe. Śiva perdeu a paciência e teve uma feroz batalha
com Gaṇeśa. No fim, ele decepou a cabeça de Gaṇeśa
com seu Triśula (tridente).
Quando Pārvatī saiu e viu o corpo sem vida de seu
filho, ela ficou triste e com muita raiva. Ela ordenou que
Śiva devolvesse a vida de Gaṇeśa imediatamente. Mas,
infortunadamente, o Triśula de Śiva foi tão poderoso que
a cabeça de Gaṇeśa não podia mais ser recuperada. Como
último recurso, Śiva foi pedir ajuda para Brahma que
sugeriu que ele substituísse a cabeça de Gaṇeśa pela do
primeiro ser vivo que aparecesse em seu caminho,
22
dormindo com a cabeça voltada na direção norte. Śiva
então mandou seu exército celestial (Gaṇa) para
encontrar e tomar a cabeça de qualquer criatura que
encontrarem dormindo com a cabeça na direção norte.
Eles encontraram um elefante moribundo que dormia
desta maneira e após sua morte, tomaram sua cabeça, e a
colocaram no corpo de Gaṇeśa trazendo-o de volta à
vida.
Este mito tem um significado simbólico importante. O
corpo inicial de Gaṇeśa foi produzido apenas por Pārvatī,
a Deusa poderosa que controla todas as forças da
Natureza. Na filosofia indiana Sāṅkhya, a Natureza
(Prakṛti, o poder feminino) é apenas uma das metades da
Realidade, que é complementada pela Consciência
(Puruṣa, o poder masculino, representado por Śiva). O
filho de Pārvatī era incompleto, não tinha o
conhecimento de Śiva (a Consciência), e precisou "perder
a cabeça" para se tornar completo, com uma nova cabeça
fornecida pelo próprio Śiva.
Outra versão diz que em uma ocasião, a água de
banho usada de Pārvatī foi jogada no Ganges e esta água
foi bebida por Malinī, a Deusa com cabeça de elefante,
que logo após deu à luz um bebê de quatro braços e cinco
cabeças de elefante. Gangā, a Deusa do rio o reivindicou
como seu filho, mas Śiva declarou que ele era filho de
Pārvatī, reduziu suas cinco cabeças a uma e o intitulou
Senhor dos obstáculos (Vigneśvara). Dali em diante ele é
chamado de Gaṇapati, ou o chefe do exército celestial,
que deve ser adorado antes de iniciar qualquer atividade.
Uma história menos conhecida, do Brahma Vaivarta
Purāṇa, narra uma versão diferente do nascimento de
Gaṇeśa. Por insistência de Śiva, Pārvatī jejuou por um
ano para agradar Vishnu, para que este lhe desse um
filho. O Senhor Kṛṣṇa, após o fim do sacrifício, anunciou
23
que ele mesmo encarnaria como seu filho em cada kalpa
(era). Então, Kṛṣṇa nasceu de Pārvatī como uma criança
encantadora. Esse evento foi celebrado com grande
entusiasmo e todos os deuses foram convidados para ver
o bebê. Śani, o filho de Sūrya, hesitou em olhar ao bebê
pois é dito que o olhar de Śani é prejudicial.
24
Porém Pārvatī insistiu que ele olhasse para o bebê,
então Śani o fez, e imediatamente a cabeça da criança
caiu e voou para Goloka. Vendo Śiva e Pārvatī feridos de
aflição, Viṣṇu montou em Garuḍa, sua águia divina, e
apressou-se para a ribeira do rio Puṣpa-Bhadra, de onde
ele trouxe a cabeça de um jovem elefante. A cabeça do
elefante foi unida ao corpo do filho de Pārvatī,
revivendo-o. A criança foi chamada Gaṇeśa e todos os
Deuses abençoaram Gaṇeśa e desejaram a ele poder e
prosperidade.
Outro conto do nascimento de Gaṇeśa relata um
incidente no qual Śiva matou Āditya, o filho de um sábio.
Porém Śiva restaurou a vida ao corpo da criança morta,
mas isso não conseguiu pacificar o sábio enfurecido
Kaśyapa, que era um dos sete grandes Ṛṣis. Kaśyapa
amaldiçoou Śiva e declarou que o filho de Śiva perderia
sua cabeça. Quando isto aconteceu, a cabeça do elefante
de Indra (Airavata) foi colocada em seu lugar.
25
Dali a pouco apareceu à sua frente o sábio Nārada
(filho de Brahma), que perguntou a ele aonde estava
indo. Gaṇeśa estava muito aborrecido e entrou em fúria
porque é considerado um sinal de má-sorte encontrar um
Brāhmaṇa solitário no começo de uma viagem. Mesmo
que Nārada seja o maior dos Brāhmaṇas, filho do próprio
Brahma, isso ainda era um mau presságio. Além disso,
não é considerado um bom sinal ser perguntado aonde
está indo quando já se está no caminho. Por isso, Gaṇeśa
se sentiu duplamente infeliz. No entanto, o grande
Brāhmaṇa conseguiu acalmar sua fúria. O filho de Śiva
explicou a ele os motivos de sua tristeza e seu desejo de
vencer. Nārada o consolou, exortando-o a não entrar em
desespero, e deu a ele um conselho:
26
"Assim como uma grande árvore nasce de uma única
semente, o nome de Rāma é a semente da qual emergiu
aquela grande árvore chamada Universo. Então, escreva
no chão o nome "Rāma", ande ao seu redor uma vez, e
corra para Śiva para pedir seu prêmio."
Gaṇeśa retornou a seu pai, que perguntou a ele como
conseguiu terminar a corrida tão rapidamente. Gaṇeśa
contou a ele de seu encontro com Nārada e do conselho
do Brāhmaṇa. Śiva, satisfeito com essa resposta, declarou
seu filho como vencedor e, daquele momento em diante,
ele foi aclamado com o nome de Gaṇapati (Dirigente do
exército celestial).
Em uma outra versão, Gaṇeśa apenas dá a volta em
torno de seus pais, que representam todo o universo,
ganhando assim o direito de ser o Senhor das tropas.
27
Vyasa começou a ditar e Gaṇeśa escrevia depressa,
pois tinha uma compreensão perfeita de tudo. Mas no
corre-corre de escrever, a pena de Gaṇeśa se quebrou.
Então ele quebrou uma de suas presas e a usou como
caneta; só assim a transcrição pôde prosseguir sem
interrupções, permitindo que ele mantivesse sua
promessa.
28
O simbolismo da imagem de Gaṇeśa
29
* A grande barriga de Gaṇeśa contém infinitos universos.
Simboliza a benevolência da natureza e equanimidade, a
habilidade de Gaṇeśa de sugar os sofrimentos do
Universo e proteger o mundo.
30
Meditação utilizando a Gaṇeśa
Mudrā
Esta é uma prática simples de Tantra Yoga,
associada ao deva Gaṇeśa, que é invocado para proteger
o praticante e destruir todos os obstáculos. Trabalha para
a ativação de forças associadas ao cakra do coração e ao
fogo.
Prática:
Assente-se em uma postura firme e confortável, com a
coluna e a cabeça eretas. Coloque as duas mãos
enganchadas uma na outra, na altura do coração,
conforme mostrado na figura acima, formando a Gaṇeśa
Mudrā.
Para prender as mãos dessa fora, primeiramente
coloque a mão esquerda diante do peito, com a palma
para a frente e o polegar para baixo. Dobre um pouco os
dedos. Prenda nesses dedos os da mão direita, que ficará
com o polegar para cima. As duas mãos devem ficar
bem presas, de modo que você possa puxá-las sem que
elas se soltem uma da outra.
31
Expire com força, puxando os braços como se
quisesse separar as mãos. Isso vai tencionar os músculos
dos braços e do peito.
Inspire suavemente, relaxando os braços, mas
mantendo as mãos presas na altura do coração.
32
Depois, realize uma retenção, que não precisa ser
longa, com as mãos encostadas no peito. Solte o ar e
fique respirando suavemente. Concentre-se durante
algum tempo em sentimentos de amor e confiança.
Permaneça depois um pouco com a mente em silêncio.
Efeitos:
Esta prática liberta a pessoa de sentimentos negativos de
tristeza, fraqueza, depressão, raiva, frustração; e ativa
sentimentos positivos como auto-confiança, coragem,
força, bem como as conexões amorosas positivas. Sob o
ponto de vista fisiológico, estimula e fortalece o coração
e dilata os brônquios.
33
O yantra de Gaṇeśa
O diagrama místico (yantra) de Gaṇeśa,
representado abaixo, pode ser utilizado em práticas de
meditação.
34
O lótus de oito pétalas, vermelho, representa a
dinâmica da natureza (Prakṛti): as pétalas representam os
cinco elementos (éter, ar, fogo, água, terra) e os três
poderes (guṇas) da natureza: sattva, rajas, tamas.
Os dois triângulos amarelos entrelaçados centrais
representam a união e o equilíbrio dos poderes masculino
(triângulo com a ponta para cima) e feminino (ponta
voltada para baixo). Estão dentro de um triângulo
vermelho (fogo) com a ponta para cima, que representa a
consciência e a imortalidade.
O ponto dourado (bīndu) no meio do yantra
representa o próprio Gaṇeśa. Ele é o centro de tudo, todas
as coisas do universo se movem em torno dele. Este é o
ponto central no qual a pessoa deve se concentrar para
meditar sobre este yantra.
Pode-se utilizar este Yantra na prática de meditação
utilizando o Gaṇeśa Mudrā; ele também pode ser
utilizado em uma prática utilizando o principal mantra de
Gaṇeśa, descrito a seguir.
35
Gaṇeśa Mahā Mantra
Há diversos mantras (e hinos) dedicados a Gaṇeśa,
e este é um dos principais mantras dedicados a ele que foi
apresentado no início do ebook. Ele é descrito e elogiado
na Gaṇapati Atharva Śīrṣa Upaniṣad
36
O texto do mantra é este:
|| gaṇeśa mantra ||
oṁ gaṁ gaṇapataye namaḥ || 7 ||
37
Prática:
Gaṇeśa Kirtam
۞
38
۞
۞
۞
۞
۞
39
Jaya Gaṇeśa Jaya Gaṇeśa Jaya Gaṇeśa
rakṣāmam
Śrī Gaṇeśa Pahimām
Jaya Gaṇeśa rakṣāmam
۞
40