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José Carlos de Araújo Almeida Filho

Advogado no Rio de Janeiro – Professor na Universidade Católica de Petrópolis

ATOS PROCESSUAIS POR MEIO ELETRÔNICO

SUMÁRIO: 1. Introdução – 2. O Direito Eletrônico no campo processual – 3. As chaves públicas e


o veto presidencial ao parágrafo único do art. 154 do CPC; 3.1 O que são as chamadas chaves
públicas 3.2 Independência entre a redação do parágrafo único do art. 154 com as chaves públicas
– 4. A criação das chaves públicas independem das reformas no CPC – 5. Conclusão

INTRODUÇÃO

O que se tratará inicialmente não é novidade alguma para os estudiosos do direito. Duas são as
grandes fases que visualizamos no campo processual neste momento: as reformas que vêm sendo
realizadas de forma impecável pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual em conjunto com a
Escola Nacional da Magistratura e o crescente reclamo da sociedade para que haja uma justiça
rápida, eficaz e segura. Tratam-se de fatores visíveis e atuais.

Cândido Rangel Dinamarco1 aponta, ainda, duas macrotendências no campo processual para a
América Latina, que são a adoção de regras próprias da common law e o Código de Processo Civil-
modelo para a América Latina. Ambas são tendências atuais, porque em nosso sistema muito se vê
de procedimentos próprios da common law, a exemplo dos Juizados Especiais, da Ação Civil
Pública, da Arbitragem, dentre tantos outros institutos.

Quanto ao Código de Processo Civil-modelo, somente o Uruguai o adota, com modificações


próprias de sua cultura.

Recentemente passamos por três grandes alterações no nosso CPC, por certo que pontos
importantes – que não serão tratados neste artigo – ficaram marginalizados por conta dos
feudalistas do Século XXI2 . Ao analisar o Projeto de Lei 3475/2000, visualizando o parágrafo
único do art. 154, imaginamos que nosso sistema legal – e principalmente o sistema judiciário -,

1 Cf. Aspectos Modernos do Novo Processo Civil – Malheiros Editores: SP - 2000


2 N.A. ou corporativistas. E, neste ponto, lamentamos a não aplicação completa do contempt of court no Brasil.
ganharia um impulso próprio da nova era jurídica que emerge neste século, que é o Direito
Eletrônico.

Como bem assinalava o Ministro Gregori, na Exposição de Motivos3 do aludido Projeto, a


atividade processual não poderia permanecer anacrônica. Contudo, diante do veto presidencial,
venceu o anacronismo. E o anacronismo foi vencedor com base em uma Medida Provisória, que
institui as denominadas chaves públicas – totalmente inacessíveis ao cidadão comum.

Novas Reformas, contudo, se apresentam e a se adotar o entendimento do veto presidencial, o


anacronismo permanecerá – o que nos parece uma contrariedade a todo um conjunto de idéias que
emergem, fazendo surgir o Direito da Informática ou Direito Eletrônico e que muitos subsídios
podem trazer ao Direito Processual.

As denominadas chaves públicas serão quase que inacessíveis, porque se tratam de meios
informáticos e cujos conhecimentos a maioria dos usuários – notadamente para os advogados, que
somam 2% de usuários da Internet no Brasil – desconhece.

Parece uma pequena e despretensiosa exclusão a do parágrafo único do art. 154 do CPC. Mas não
é. Trata-se, sim, de um grande atraso para nosso desenvolvimento tecnológico e maior agilidade ao
Judiciário. Tanta credibilidade deram ao fax, com a edição da Lei dos Recursos4 e, agora, quando os
meios são mais eficazes, simplesmente os desmoronamos. Seria a intenção da MP 2200/2001 ser
mais interessante e inovadora, permanecendo a vaidade?

Não se trata de uma crítica à Lei de Recursos – até porque não seria merecida -, mas um ponto
padrão para demonstrar o despropósito do veto presidencial.

E o próprio Professor Cândido Rangel Dinamarco já assinala a resistência que há em empregar


meios eletrônicos no Processo Civil5 .

3 “Art. 154. A fim de que a atividade processual não permaneça anacrônica em relação aos novos estágios da
tecnologia, ao art. 154, relativo à forma dos atos processuais, é aditado um parágrafo único, facultando-se aos tribunais
disciplinar, no âmbito das respectivas jurisdições e atendidos os requisitos de segurança e autenticidade, a prática e a
comunicação de atos processuais mediante a utilização de meios eletrônicos.”

4 Lei 9800/99
5 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, em Reforma da Reforma, Ed. Malheiros – 2002 – SP: “Vetadas estas
disposições ... c) o emprego da informática continua sendo admissível para a realização de atos (Lei 9800, de
O DIREITO ELETRÔNICO NO CAMPO PROCESSUAL

Não é novidade o uso de meios eletrônicos para a transmissão de informações aos órgãos judiciais e
comunicação dos atos processuais. O fax já era previsto quando da edição da Lei 8.245/916 . Com a
Lei dos Recursos7 , o meio passou a ser adotado para fins de envio de recursos.

Os meios eletrônicos, como o e-mail – ou mensagem eletrônica – e outros, são mais seguros e
eficazes que a utilização do fax. As razões do veto presidencial, como analisaremos a seguir, se
deram por motivo de relevante interesse público, conforme ali exposto. Mas não visualizo, com
sinceridade, qualquer “motivo de relevante interesse público”. Pode ter havido um interesse – não
legítimo – de ordem administrativa, até mesmo com o fim de implantar a tão mencionada chave
pública.

Muito se fala da efetividade do processo e há um grande reclamo da sociedade quanto à


morosidade da justiça. Contudo, quando meios hábeis a coibir abusos processuais 8 , nos
deparamos com lobby ou mesmo um veto presidencial, como é o caso do estudo sob análise,
que em nada contribuem para o avanço de uma sistemática moderna. Se afirmarem que a
segurança é necessária, não duvidamos. Contudo, esta “segurança” que foi o mote do veto
presidencial, nos parece mais um anacronismo que propriamente garantia de uma
estabilidade jurídica.

O Direito Eletrônico9 – ou Direito da Informática – é uma realidade imutável. Avanços vêm


sendo conquistados neste campo do direito que jamais existirá sem os demais. Na realidade, o

25.5.1999 ) mas provavelmente, em relação a sua comunicação ‘as partes, procuradores etc., continuará
havendo resistência. Que pena!”
6 “ Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em
pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação, observar - se - á
o seguinte: ... IV - desde que autorizado no contrato, a citação, intimação ou notificação far-se-á mediante
correspondência com aviso de recebimento, ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, também
mediante telex ou fac-símile, ou, ainda, sendo necessário, pelas demais formas previstas no Código de Processo
Civil; ...”
7 Lei 8950/94
8 Vide art. 14 do CPC
9 N.A. – Conforme escrevi na obra Introdução ao Estudo do Direito da Informática ( Ed. Forense, no prelo ):
Desta forma, entendemos por Direito Eletrônico o conjunto de normas e conceitos doutrinários, destinados ao
estudo e normatização de toda e qualquer relação onde a informática seja o fator primário, gerando direitos e
deveres secundários. É, ainda, o estudo abrangente, com o auxílio de todas as normas codificadas de direito, a
regular as relações dos mais diversos meios de comunicação, dentre eles os próprios da informática.
que existe é um conjunto de avanços na informática que trouxeram para o direito suas
conseqüências e, desta forma, um conjunto de pequenas normas e alguns atos administrativos
isolados.

Ainda que o estudo do Direito Eletrônico seja de tal forma tímido, com poucos e corajosos
doutrinadores tentando estudar seus conceitos e aplicações, havendo, ainda, grande discussão
acerca de temas meramente conceituais, não pode ele ser descartado agora nesta fase do
Direito Processual, quando a grande preocupação é com a efetividade da entrega da prestação
jurisdicional.

Duas formas, analisadas sob o ponto que ora se debate, acelerarão o processo – a adoção de
meios modernos para a comunicação de atos processuais e, sem dúvida, a ética, notadamente
com a adoção plena do contempt of court 10 em nosso sistema legal. Mas não são as únicas
formas.

O novel Direito Eletrônico em muito contribuirá com os demais campos de aplicação do


Direito e por esta razão é que afirmo ser ele um sistema dependente dos demais institutos
jurídicos. Jamais viverá isolado. Mas, certamente, em muito contribuirá para o
aperfeiçoamento de nossas instituições.

Parece – e este é o motivo do veto presidencial, calcado em uma Medida Provisória 11 -, que a
segurança na transmissão de dados seja o grande problema a ser enfrentado. Quando a citação
pelo correio passou a ser o meio padrão de comunicação inicial no processo, houve muita
discussão e não raras as vezes, ao silêncio da parte, determina o juiz que a citação se dê por
oficial de justiça. No sistema trabalhista a citação por correio sempre foi acatada e respeitada,
por certo que, em raríssimos casos, é que se realiza o ato por meio de oficial de justiça.

Se a comunicação dos atos pode ser realizada por correio, por que não por correio eletrônico
ou outra forma de transmissão de dados eletrônicos, independente das “chaves públicas”?

10 Lamentavelmente, houve alteração substancial no art. 14 do CPC – e este admito ser mais grave que o veto
do parágrafo único do art. 154 -, quando apreciado pelo Congresso e aniquilada a aplicação do contempt of court
em nosso sistema processual. Ética e modernidade. E ambas foram deixadas para um segundo momento – se é
que este segundo momento se apresentará. Copiando a frase do Professor Cândido Rangel Dinamarco, “que
pena!”.
11 Que, na realidade, de “provisória” nada têm, face às inúmeras reedições.
Imaginemos uma barbaridade, somente para efeito de defesa ao uso dos meios eletrônicos
para a comunicação de diversos atos processuais e, futuramente, quem sabe, no próprio
processo de execução: - Suponhamos que um ato processual seja realizado por carta. Só que
dentro do envelope nada conste, por um erro do cartório, ou mesmo por má-fé (já que esta
nunca poderá ser descartada ). Como agir? Quando estamos diante de uma comunicação por
meio eletrônico, tanto o remetente quanto o destinatário sempre poderão comprovar se a
“mensagem” está ou não “em branco”. E através de simples procedimentos, muito ao
contrário das complicadas “chaves públicas”.

Não se pode descartar, ainda mais com o avanço da informática, que este meio seja
descartado de nosso sistema. E menos ainda no campo do Direito Processual, quando
podemos utilizar meios mais rápidos para a comunicação processual.

A EXPERIÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE


JANEIRO

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro possuí um excelente sistema de envio de


peças processuais por meio eletrônico.
Para que as peças sejam remetidas ao Tribunal e aos juízes de primeira instância, basta um
simples cadastro no sitio do Tribunal, quando se adquire uma senha e um login – número ou
nome que identifique aquele usuário.

Através do sistema denominado “push”, também é possível que advogados e até mesmo as
partes, tenham prévio conhecimento de decisões e despachos havidos nos feitos. Por que não
ampliar o que já existe e bem funciona ao nosso sistema codificado?

Esta resposta será apresentada quando analisarmos o próximo item.


3. AS CHAVES PÚBLICAS E O VETO PRESIDENCIAL AO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART.
154 DO CPC

Ainda que possa parecer pouco acadêmico, é importante transcrevermos partes do veto
presidencial, com o fim de entendermos o relevante interesse público alegado12 .

Apesar de a Exposição de Motivos do Projeto de Lei 3475/2000 ter sido da lavra do Exmo.
Sr. Dr. Ministro da Justiça, o veto presidencial assim se inicia:

Senhor Presidente do Senado Federal,

o
Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1 do art. 66 da Constituição Federal, decidi
o o
vetar parcialmente, por contrariar o interesse público, o Projeto de Lei n 118, de 2001 (n 3.475/00
o
na Câmara dos Deputados), que "Altera dispositivos da Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -
Código de Processo Civil, relativos ao processo de conhecimento".

Ouvido, o Ministério da Justiça assim se manifestou sobre os dispositivos a seguir vetados:

O veto presidencial quanto à redação do parágrafo único do art. 154 foi total, porque o
Projeto de Lei 3475/2000 – exposto pelo Ministro da Justiça, como dito -, nesta parte, em
nada alterou o caput do artigo, mas acresceu o parágrafo único, que teria a seguinte redação:

Parágrafo único. Atendidos os requisitos de segurança e autenticidade, poderão os tribunais


disciplinar, no âmbito da sua jurisdição, a prática de atos processuais e sua comunicação às partes,
mediante a utilização de meios eletrônicos."

Sem dúvida, era um grande passo a ser dado no campo do Direito Processual e dentro das
tendências inovadoras e até mesmo corajosas de nossos processualistas. A razão do veto,
contudo, não é de interesse público, como mencionado alhures e como poderemos visualizar
neste momento:

Razões do veto

12 A íntegra do veto será apresentada após a conclusão do artigo.


o
"A superveniente edição da Medida Provisória n 2.200, de 2001,
que institui a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-
Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade
jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de
suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados
digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras,
que, aliás, já está em funcionamento, conduz à inconveniência da
adoção da medida projetada, que deve ser tratada de forma
uniforme em prol da segurança jurídica."

Apesar de ser tão importante a questão, e sua natureza ser de relevante interesse público, a
aludida Medida Provisória, datada de 29 de junho de 2001, já foi alterada e reeditada.
Contudo, o aspecto das sucessivas e intermináveis reedições de Medidas Provisórias não vem
ao caso. O importante é afirmar que inexiste qualquer instabilidade na redação proposta ao
parágrafo único do art. 154. Redação esta proposta, discutida e elaborada pela Comissão
instituída pelo Ministério da Justiça e com a indispensável batuta do Instituto Brasileiro de
Direito Processual.

As chaves públicas serão analisadas a posteriori, mas desde já se pode afirmar inexistir
necessidade de uniformização de utilização de meios eletrônicos. Aliás, quando se está diante
de um país de dimensões continentais, como o nosso, será impossível a adoção de um sistema
uniforme no campo da realização de transmissão por dados eletrônicos.

E assim se afirma porque há inúmeros sistemas de informática; há uma infinidade de


programas de computador e, finalmente, cada Tribunal possuí um sistema próprio de
utilização de banco de dados arquivados em seus sitios na Internet.

Por outro lado, a denominada chave pública nada mais é que um conjunto de caracteres, a
partir do momento em que for instalada, com o fim de criptografar as mensagens. Inexiste,
assim, segurança quanto a forma de envio e recebimento.

A preocupação processual é relativa à eficácia da medida e não se a mesma foi lida em um


sistema “A” ou “B”, próprio da informática. E como não há uniformização na utilização de
um sistema operacional informático, as chaves públicas poderão ser letra morta no campo
processual e, mais uma vez, perdemos a oportunidade de utilizarmos meios modernos para a
realização de atos processais. Novamente, “que pena!”.

O art. 1º da Medida Provisória que embasa o veto presidencial está assim redigido:

Art. 1º Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, para


garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma
eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados
digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras.

A mesma Medida Provisória, por força do art. 12, define o que venha a ser documento
eletrônico, nos seguintes termos: “Consideram-se documentos públicos ou particulares, para
todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.” Só que
inexiste uma definição do que venha a ser documento eletrônico.

Aliás, definir documento eletrônico por força de lei é um perigo sem análise de suas
dimensões, porque a informática não é estática, assim como o direito também não o é.
Contudo, até que novas leis sejam editadas, podemos dizer que as leis, muitas vezes, são
estáticas. E o veto em questão é um exemplo deste engessamento legislativo.

3.1 O QUE SÃO AS CHAMADAS CHAVES PÚBLICAS

Nada mais são as chaves públicas que um certificado digital de autenticidade. Quando
superamos a burocracia do reconhecimento de firma na primeira reforma do CPC, criamos a
burocracia cibernética, com a necessidade de autenticidade de documentos transmitidos pela
Internet.

Engana-se, contudo, quem admita uma extrema segurança em termos de transmissão de


dados por meio eletrônico, porque o simples fato de teclar os códigos ao redigir um
documento, cada “batida” de dedo no teclado fica arquivado como “log” no software – ou
programa de computador – utilizado pelo processador de textos. Qualquer “pirata”
cibernético conseguirá acessar a máquina que digitou aquelas letras e cifras e decodifica-las.
E seria uma ingenuidade pensar de forma diversa, quando é de conhecimento notório que o
Pentágono e a NASA – sistemas americanos tidos como invioláveis – foram invadidos por
adolescentes.

Não fica aqui uma crítica às chaves públicas, até mesmo porque elas poderão ser de grande
utilidade no sistema de informatização e certificação on line desejada por muitos cartórios.
Sem dúvida, trata-se de um grande passo a ser percorrido e incentivado, mas não a ponto de
prejudicar a aplicação de normas que facilitem o processo nos Tribunais e uma maior
agilidade na comunicação dos atos processuais.

3.2 INDEPENDÊNCIA ENTRE A REDAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 154 COM


AS CHAVES PÚBLICAS

Por tudo quanto afirmado até o presente momento, independem a redação contida na Medida
Provisória que institui as chaves públicas e a redação suprimida do parágrafo único do art.
154, do CPC.

Afirmar o que venha a ser documento eletrônico é tarefa para a doutrina, porque, a cada dia,
este conceito vem se modificando e adaptando-se ao que ocorre no rápido mundo da
informática.

Mas é preciso ousar. E as novas tendências mundiais, além das próprias tendências do nosso
processo civil, reclamam esta ousadia.

Desformalizar13 o processo é tarefa árdua, porque ainda há grande necessidade de mantermos


a instrumentalidade de algumas formas. Contudo, esta é uma tendência moderna e que já
exige estudos – como estão sendo realizados – urgentes.

Nos Estados Unidos, por exemplo, os documentos eletrônicos vêm tendo grande importância,
a ponto de as Cortes começarem a discutir sobre a possibilidade de arquivamento de feitos
através do e-filing, ou, em tradução livre, arquivamento eletrônico.

13 Aconselhamos a leitura da obra Princípios Fundamentais do Processo Civil Moderno – Cândido Rangel
Dinamarco – Malheiros Editores – São Paulo - 2000
E esta tendência vem sendo estudada com o apoio da American Bar Association e, ainda que
tenha sofrido grande resistência14, parece que a técnica virá a tornar-se uma realidade em
breve. É impossível, desta forma, ignorar a importância dos mecanismos eletrônicos em toda
a sistematização legal no Brasil.

Por esta razão, até mesmo porque o que estamos presenciando, como já afirmado, é uma
maior integração dos princípios adotados pela common law, não há como afirmar uma
necessidade de integração entre a Medida Provisória e o parágrafo único do art. 154 do CPC.

Até mesmo porque as chaves públicas, uma vez instituídas, deverão adaptar-se, exatamente
como regia o aludido parágrafo, aos dispositivos próprios de cada Tribunal. É que temos
sistemas operacionais como o Linux? , Windows? , dentre outros. E a norma federal jamais
poderá impingir este ou aquele sistema, ainda que haja uma regulamentação geral sobre as
chaves.

Sem dúvida, são preceitos dissociados, devendo ser repensada a inovação contida no
parágrafo único do art. 154.

4. A CRIAÇÃO DAS CHAVES PÚBLICAS INDEPENDEM DAS REFORMAS NO CPC

O Instituto Brasileiro de Direito Processual e a Escola Nacional da Magistratura,


responsáveis pelas reformas que vêm sendo realizadas no Código de Processo Civil,
certamente não ficarão inertes, até mesmo porque o trabalho da Comissão é permanente.

Conforme se pode visualizar no sitio do Instituto Brasileiro de Direito Processual15 , na parte


destinada à Revista Eletrônica de Direito Processual, em matéria datada de 29 de agosto de
2002, após o encontro havido em Brasília entre os dias 26 e 27 do mesmo mês, o processo de
execução se encontra em fase de reformas.

14 “Three years ago, when the topic of electronic filing or “e-filing” as it is commonly termed, was suggested
as a program topic for the ABA Annual Meeting, it was considered too novel and experimental to be of much
interest to Judicial Division members and was rejected. E-filing just wasn’t timely or important at the time.
Today, nothing could be further from the truth. E-filing has arrived! It is one of the most important issues
that courts are grappling with today.” ... “ E-filing cannot be ignored – it is coming to a court near you – in
the very near future.” N.A. – texto extraído do periódico JUDGES JOURNAL – da American Bar
Association – Summer 2001, Vol. 40. No. 3 – Robert E. McBeth – Juiz da Corte Distrital de Washington
15 http://www.direitoprocessual.org.br
E, dentre estas reformas, a possibilidade de o credor poder efetivar a alienação do bem
penhorado16 . Como os meios eletrônicos – em especial a Internet – facilitaram por demais os
meios de comunicação, além de haver um “seguro” comércio eletrônico, esta alienação
poderá ser realizada eletronicamente.

Contudo, a se manter o posicionamento adotado pelo Exmo. Sr. Dr. Presidente da República,
mais uma reforma que possibilitará agilidade no processo será “emperrada” pela burocracia.
Antes vivenciávamos uma burocracia por conta dos papéis, carimbos etc. A partir de agora,
teremos a burocracia cibernética.

Ainda que possa parecer de pequena monta o veto presidencial, na realidade constituí um
grande atraso nas futuras reformas e em meios mais ágeis e eficazes para a consecução do
que se pretende, que é a rápida prestação jurisdicional.

Por todos estes motivos é que se deve analisar o Direito Eletrônico juntamente com os demais
ramos do Direito e afirmar, categoricamente, que as reformas do CPC não poderão ficar
atreladas ao que ora se denomina chave pública.

5. CONCLUSÃO

O Direito não é estático. É ele um fenômeno tão mutante e dinâmico quanto as próprias
relações humanas. É o Direito parte integrante das ciências sociais aplicadas e, como tal, não
pode ficar alheio às inovações trazidas, agora, pela informática e, além dela, pela Internet.

O mundo se comunica instantaneamente através de linhas telefônicas, cabos, rádios etc., tudo
ligado a um computador. E até mesmo computadores que cabem na palma da mão.

16 “A alteração que se nota à primeira vista é o fim do processo autônomo de execução quando se tratar de
título executivo judicial. De acordo com a proposta, a sentença condenatória não porá fim ao processo, que será
concluído com uma fase de cumprimento. Esta alteração proporcionará enorme agilidade ao processo.
Segue-se, ainda, a limitação da possibilidade de impugnação da execução, que, em regra, não suspenderá o
procedimento. Quanto à execução de título extrajudicial a maior inovação se refere à alienação do bem
penhorado, que será, prioritariamente, efetivada pelo próprio credor.”
Fonte: http://www.direitoprocessual.org.br - Revista Eletrônica de Direito Processual
Excluir as inovações tecnológicas, ainda mais com argumentos pueris, é desprezar toda forma
de evolução humana.

Espero, sinceramente, que o motivo que levou o Presidente a vetar o parágrafo único do art.
154 não se repita quando das profundas mudanças que deverão ser inseridas no processo de
execução. E, finalmente, que não seja repetida a mudança brutal no art. 14...

O VETO PRESIDENCIAL

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

MENSAGEM Nº 1.446, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2001.

Senhor Presidente do Senado Federal,

o
Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1 do art. 66 da Constituição Federal, decidi
o o
vetar parcialmente, por contrariar o interesse público, o Projeto de Lei n 118, de 2001 (n 3.475/00
o
na Câmara dos Deputados), que "Altera dispositivos da Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -
Código de Processo Civil, relativos ao processo de conhecimento".

Ouvido, o Ministério da Justiça assim se manifestou sobre os dispositivos a seguir vetados:

o o
Art. 154, parágrafo único, da Lei n 5.869/73, alterado pelo art. 1
do projeto

"Art. 154 ...........................................................

Parágrafo único. Atendidos os requisitos de segurança e


autenticidade, poderão os tribunais disciplinar, no âmbito da sua
jurisdição, a prática de atos processuais e sua comunicação às
partes, mediante a utilização de meios eletrônicos." (NR)

Razões do veto

o
"A superveniente edição da Medida Provisória n 2.200, de 2001,
que institui a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-
Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade
jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de
suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados
digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras,
que, aliás, já está em funcionamento, conduz à inconveniência da
adoção da medida projetada, que deve ser tratada de forma
uniforme em prol da segurança jurídica."

o o
Art. 175 da Lei n 5.869/73, alterado pelo art. 1 do projeto
"Art. 175 São feriados, para efeitos forenses, os sábados, os
domingos e os dias assim declarados por lei." (NR)

Razões do veto

"O atual art. 175 do CPC preceitua que são feriados, para efeitos
forenses, os domingos e os dias declarados por lei.

Por sua vez, o art. 172 desse ordenamento codificado estabelece


que os atos processuais realizar-se-ão em dias úteis, das seis às
vinte horas, sendo que a citação e a penhora só poderão ocorrer em
domingos e feriados ou nos dias úteis fora do horário estabelecido
o
nesse artigo, observado o disposto no art. 5 , XI, da Constituição
Federal, em casos excepcionais e mediante expressa autorização do
o
juiz ( § 1 ).

Observa-se, assim, que a inclusão do sábado como feriado


acarretará a impossibilidade do cumprimento de mandados de
citação e de penhora, salvo nos casos excepcionais a que se refere
o
o § 1 do art. 172 acima mencionado. Evidentemente, expurgada
essa possibilidade de cumprimento de ordem, estar-se-á trazendo
mais delongas ao processo. Note-se que a intenção da inclusão do
sábado como feriado, quando do envio do projeto, era alterar a
contagem do prazo que se propôs no art. 178 do CPC, também
vetado na presente Mensagem."

o o
Art. 178 da Lei n 5.869/73, alterado pelo art. 1 do projeto

"Art. 178. O prazo legal ou judicial, contado em dias, suspender-se-á


nos dias feriados e naqueles em que não houver expediente forense,
salvo nos casos previstos no art. 188." (NR)

Razões do veto

o
"No que diz respeito ao projetado art. 178 do CPC, pelo art. 1 da
proposta, que manda suspender a contagem do prazo nos dias
feriados e naqueles em que não houver expediente forense, salvo
nos casos dos prazos contados em dobro e quádruplo,
estabelecidos no art 188, tem sido dirigidas a este órgão
considerações que nos parecem relevantes e que podem ter o
condão de alterar o entendimento do Poder proponente acerca da
conveniência da adoção de tal norma.

Tais ponderações dizem respeito às conseqüências negativas que o


acolhimento de tal prática acarretará nos trabalhos de secretaria e,
em especial, nos Tribunais Superiores, quando da análise de
processos oriundos de comarcas diversas, levando-se em conta o
número de feriados locais e os casos que podem ter ensejado o
fechamento do fórum, que deverão ser do conhecimento do
magistrado, principalmente porque o decurso dos prazos
peremptórios impede a prestação jurisdicional. Some-se a isso, na
primeira instância, por exemplo, o caso de exceções de
incompetência serem acolhidas e, portanto, deslocadas as causas
para localidades distintas das quais são oriundas as demandas.
Ciente de que as Secretarias terão grande dificuldade para o
cumprimento da norma, uma vez que, como se sabe, o Poder
Judiciário encontra-se cada vez mais assoberbado e, portanto, mais
desaparelhado, e, também, de que a busca da celeridade da justiça
estará mais comprometida, principalmente se considerado o número
de recursos que poderão advir da contagem equivocada dos prazos,
contagem essa, frise-se, que é feita por servidores, parece-nos que
deveria haver nova avaliação sobre a matéria, agora diante de
opiniões que só se fizeram conhecer posteriormente ao
encaminhamento da propositura ao Congresso Nacional. A par do
elevado propósito que norteou a elaboração do novo texto, a
majoração do prazo poderia ser obtida não pela modificação da
forma de sua contagem, mas pela própria majoração objetiva dos
prazos estabelecidos no ordenamento codificado, sem causar
nenhum prejuízo ao bom andamento da justiça."

Estas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar os dispositivos acima


mencionados do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada apreciação dos Senhores
Membros do Congresso Nacional.
Brasília, 27 de dezembro de 2001

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