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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o d o I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e s q u i s a e E n si n o e m F i s i o l o g i a d o E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

TREINAMENTO DE FORÇA COMO TERAPIA PARA ADOLESCENTES


DEPRESSIVOS E COM BAIXA AUTO-ESTIMA

RESISTENCE TRAINING AS THERAPY FOR TEENS WITH


DEPRESSIVE AND LOW SELF-ESTEEM

1
Kim Samuel Tavares ,
1
Francisco Navarro ,
2
Carlos Franzen

RESUMO ABSTRACT

Os adolescentes nos dias de hoje estão cada Nowadays teenagers have taken on the social
vez mais precocemente assumindo o papel role of adults earlier and earlier. Because of
social de adultos. Por causa deste, os mesmos that, they suffer the action of stressful agents
sofrem com a atuação de agentes estressores and, since they are not able to deal with the
e por não saberem lidar com essas pressões pressure, they end up having a low self-
acabam tendo uma queda na sua auto-estima, esteem, they get depressive. We will deal with
tornando-se depressivos. Trataremos aqui da the self-esteem and the depression of
questão da baixa auto-estima e da depressão teenagers, considering the behavior and
em adolescentes nos aspectos maturity. In this context, it is suggested that
comportamentais e maturacionais. Dentro they can benefit from strength training by
deste contexto, é sugerida a idéia de que a improving their self-esteem and reducing their
partir do treinamento de força estes podem ser level of depression. Moreover, they may
beneficiados com o aumento da sua auto- improve their self-image. The physiological
estima e a redução de seus níveis de effects and the metabolic changes observed in
depressão, além de melhorar sua auto- strength training improve their self-image, and
imagem. Os efeitos fisiológicos e alterações consequently their self-esteem. Due to this fact
metabólicas observadas pelo treinamento de they enhance their biopsychosocial quality. It
força promovem a melhoria da sua auto- has been observed that some teenagers show
imagem e através deste, com uma boa auto- aggressive behavior while others suffer from
estima, melhora sua qualidade biopsicosocial. introspectiveness. This way, strength training
É observado que alguns adolescentes may help them improve their behavior and, at
apresentam um comportamento agressivo e the same time, reintegrate them into society
outros sofrem uma retração comportamental. where values are based on their body image.
Deste modo o treinamento de força pode It also helps them strengthen their feeling of
auxiliar-los a melhorar sua conduta e ao interests, pride, safety, doubt, concern and
mesmo tempo reintegra-lo numa sociedade inferiority according to their own body structure
que lhe impõe que seu corpo é o símbolo de and growth pattern.
seu valor como pessoa, fortalecendo o seu
sentimento de interesses, orgulho, segurança, Key-words: Teenage, Self-esteem,
dúvida, preocupação e inferioridade, de Depression, Strenght trainning.
conformidade com o físico particular de cada
um e sua forma de crescimento. Endereço para Correspondência:
Av. Borges de Medeiros nº 1141 apt 95
Palavras-chave: Adolescência, Auto-estima,
Fone: 51-92068390
Depressão e Treinamento de força.
E-mail: kimsamuel@terra.com.br
1- Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu
da Universidade Gama Filho Especialização
2- Mestre em Ciências Aplicadas A Atividade
em Fisiologia do Exercício: Prescrição do
Física e ao Esporte (Universidade de Córdoba
Exercício
– Espanha)

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INTRODUÇÃO Estabelecer os benefícios do treinamento de


força para o estado psicológico dos
Nos dias de hoje, observa-se um adolescentes; 3) Pontuar a importância de
grande número de adolescentes com baixa uma auto-imagem positiva.
auto-estima, elevados níveis e freqüentes
crises de depressão. Este fato geralmente se 1 ADOLESCÊNCIA
dá pela influência negativa dos meios de
comunicação e pessoas que se tornam o Assis e colaboradores (2003) define
espelho destes que, pelas características como um periodo de mudança e transição, que
turbulentas da fase, não sabem ao certo qual é afeta os aspéctos físicos, sexuais, cognitívos e
o padrão de comportamento que querem emocionais que segundo Ferreira (1984) pode
seguir. Muito se fala sobre auto-estima, mas ser viusalisado dos 13 aos 19 anos. Mais
poucos entendem o seu verdadeiro significa- precisamente organizar exigências e expecta-
do. Todos conhecemos, em tese, a definição tivas conflitantes da família, da comunidade e
básica de auto-estima: é a estima que tenho dos amigos; desenvolver percepções das
por mim mesmo, ou seja, o quanto me mudanças que se operam no corpo e no leque
valorizo. de necessidades, estabelecer independência e
Mecca e colaboradores (1989) conceber uma identidade para a vida adulta.
enfatizam que a saúde da sociedade depende Caracteriza-se por uma crise de identidade na
em grande parte do estado psicológico com qual se debatem entre questionamentos
que as pessoas se colocam frente a um relativos ao seu corpo, aos valores
desafio. Atualmente temos visto, cada vez exeistentes, às escolhas que devem fazer, ao
mais precocemente, crianças que assumem o seu lugar na sociedade, etc.
papel social de adolescentes e estes, por sua Para Davidoff (2001), o adolescentes se
vez, cada vez mais precocemente, assumem o afasta da identidade infantil e vai construindo
papel social de adultos. Entende-se então que pouco a pouco uma nova definição de sí
essa adolescência precoce tem arrastado mesmo. É um periodo de reorganização
consigo uma puberdade precoce, pessoal e social que indica, na maioria das
principalmente a feminina, com meninas de 9 vezes, com contestações, rebeldia, rupturas
– 10 anos menstruando e desenvolvendo inquietações, podendo passar por
seios mais sedo do que o esperado transgressões, para desembocar uma reflexão
biologicamente (Ballone, 2002). Verificaremos sobre os valores que o cercam, sobre o mundo
aqui as respostas do adolescente depressivo e e seus fatos e sobre o seu próprio existir
com baixa auto-estima em relação ao nesse mundo. Uma série de desafios,
treinamento de força e suas atitudes dentro exigências e mudanças emergem durante a
deste contexto biopsicopatológico. Dentro adolescência. Ele é confrontado com
deste, quero enfatizar este método que creio mudanças muito rápidas em altura e
que futuramente será muito bem utilizado até dimensões do corpo, maturação sexual, novas
mesmo como terapia para auxiliar-los a reduzir capacidades cognitivas e diferentes exigências
seus níveis de depressão melhorar sua auto- e expectativas do seu meio.
estima. A partir do treinamento de força, Para Carrara (2004), o adolescente
acredito que o adolescente conseguirá reverter passa por um período de questionamentos e
ou melhorar um pouco esta situação de de exploração chamado de moratória que vai
maneira satisfatória, justamente pelos até o momento da conquista de sua
benefícios que a estimulação da força identidade. Entretanto, Erikson (1987) assinala
promove ao ser humano. O avançar da idade que os adolescentes que não passam pelo
é acompanhado de uma tendência ao declínio período de questionamento e de exploração
do gasto energético médio diário à custa de própria da etapa, não conseguem estabelecer
uma menor atividade física. Isso decorre uma identidade, ou seja, segundo o autor, um
basicamente de fatores comportamentais e período de pré-fechamento de identidade ou
sociais como o aumento dos compromissos difusão de identidade. Newcombre apud
estudantis e/ou profissionais. Este estudo tem Carrara (2004), caracteriza o adolescente que
como objetivo: 1) Investigar os benefícios do vive a difusão de identidade como um sujeito
treinamento de força para os adolescentes que vive para obtenção de aprovação, e com
com depressão e baixa auto-estima; 2) isso o senso de auto-estima estaria baseado

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no reconhecimento por parte dos outros, além estão as pessoas de desenvolver um


de apresentar um comportamento mais Transtorno da Personalidade Anti-Social na
passivo, menos autônomo. Para o autor, o idade adulta (Ballone, 2002). Segundo o
jovem que passa por este processo tem mais autor, o adolescente possui uma tendência
dificuldade em lidar com as mudanças tanto natural para comunicar-se através da ação,
físicas como psíquicas, o que pode afetar sua em detrimento da palavra. Por isso, na busca
auto-imagem, e conseqüente baixa auto- de uma solução para seus conflitos, podem
estima. recorrer às drogas, ao álcool ou à sexualidade
precoce ou promíscua. Tudo isso na tentativa
1.2 Puberdade de aliviar a angústia ou reencontrar a
harmonia perdida. Angustiados e confusos,
Segundo Ballone (2002), é um aspecto podem adotar comportamentos agressivos e
biológico e universal, caracterizado por destrutivos contra si e contra a sociedade. Por
modificações visíveis, como por exemplo: o isso tem sido comum observarmos o
crescimento de pêlos pubianos, auxiliares, adolescente manifestar sua depressão através
torácicos, aumento da massa corporal, de uma série de atos anti-sociais.
desenvolvimento das mamas, evolução do Ao se abandonar a atitude infantil e
pênis, menstruação. Mas a puberdade, tanto ingressar no mundo adulto, há uma série de
no menino quanto na menina, não proporciona acréscimos no seu rendimento psíquico. O
apenas mudanças físicas e alterações intelecto, por exemplo, apresenta maior
hormonais, mas sobre tudo, mudanças no seu eficácia, rapidez e elaborações mais
estado psicológico. Geralmente a fase inicial complexas, a atenção pode se apresentar com
das mudanças no aspecto físico é contrária aumento da concentração e melhor seleção de
aos modelos de estética ideais para eles. Essa informações, a memória adquire melhor
distonia entre o corpo e a aspiração a ele, capacidade de retenção e evocação, a
pode desencadear sérias dificuldades de linguagem torna-se mais completa e complexa
adaptação, baixa auto-estima, falta de com aumento do vocabulário e da expressão.
aceitação pessoal, resultando em problemas Esses acréscimos na performance global do
depressivos, anoréticos, obsessivo- adolescente produz uma típica inflação do
compulsivos. ego. Para Ballone (2002), quando o
Apesar da maioria dos adolescentes adolescente de ego agigantado se depara com
serem dependentes economicamente dos forças contrárias, ocorrerá a inevitável disputa
pais, normalmente sentem grande desejo de para ver quem pode vencer. Ocorrendo o
exprimir a sua própria personalidade, e formar confronto de maneira saudável, ele
seu caráter definitivo. Nessa fase, costumam internalizará o valor desta experiência de
ansiar entusiasticamente por sensações forma positiva, o qual passará a fazer parte de
novas, chegando a fumar, tomar bebidas sua identidade. Caso o confronto migre para o
alcoólicas ou usar drogas, tudo isso como trauma, perderá seu valor e o processo todo
forma de auto-afirmar uma certa perde sua função, apenas dando lugar à
independência. Portanto, a puberdade é mágoa e ressentimentos que normalmente se
marcada por significativas mudanças descarregam sob a forma de agressão, raiva,
biopsicosociais (Ballone, 2002). disputa, etc.

1.3 Transtornos de conduta na 1.4 Imagem Corporal – Repercussão Sobre


adolescência a Emocionalidade (Auto-Imagem)

Caracteriza-se pela ausência de sinais É a percepção que a pessoa tem sobre o


característicos da conduta sociavel antes dos seu corpo formada e estruturada na mente do
10 anos de idade. Em comparação com o mesmo indivíduo, ou seja, a maneira pela qual
transtorno de conduta no início na infância, o corpo se apresenta para si próprio (Davidoff,
esses indivíduos estão menos propensos a 2001). É o conjunto de sensações sinestésicas
apresentar comportamentos agressivos e construídas pelos seu sentidos, oriundos de
tendem a ter relacionamentos mais normais experiências vivenciadas pelo indivíduo, onde
com seus familiares e colegas. Quanto mais o referido cria um referencial do seu corpo,
tardío for o início do quadro, menos propensos para o seu corpo e para o outro. A falta de

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capacidade de controlar a ingestão de comida angústia, vergonha e rejeição ao próprio


e a enganjar num consistente programa de corpo. O adolescente obeso passa a se
exercícios, pode determinar repetidos perceber de maneira diferente perante a
episódios de ganho de peso podendo causar sociedade, afetando negativamente a sua
perturbações de humor e de apetite diárias, auto-estima e auto-imagem corporal. Numa
semanais ou episódicas. Segundo Ferreira pesquisa realizada pela autora, constatou-se
(1984), as preocupações do jovem se ainda a influência negativa do corpo obeso nos
manifestam na sua aparência. Preocupa-se relacionamentos sociais dos adolescentes, o
com a maneira como é visto pelos outros, e que foi comprovado pela dificuldade desses
como realmente sente que é. Esta em relacionar-se com os colegas de escola,
preocupação com a maneira pela qual os assim como em fazer novas amizades. É
outros lhe percebem, em contraste com o que notado o estigma social perante o excesso de
ele sente que é, ameaça a sua imagem física peso, que foi constatado pelos apelidos
e a identidade do Ego. pejorativos pelos quais os adolescentes
Afirma Tavares (2004) que é pelo obesos são freqüentemente chamados. Essas
corpo que o adolescente mostra algumas situações acabam por retirar do adolescente
características da sua personalidade. É no de sua própria identidade, o que às vezes lhe
modo de se vestir, se alimentar, conversar, em dá a sensação de estranheza de si próprio. O
atitudes e também na sua postura estática ou adolescente obeso começa a perceber que
em movimento, que podemos observar o quão seu corpo não corresponde ao idealizado para
perigoso, ou quão positiva é seu estado si e também para o grupo de iguais e, via de
psicológico. A sociedade em geral ensina ao regra, é através da comparação com os outros
jovem a preocupar-se com sua aparência adolescentes que ele começa a assumir um
física. Incute-lhe o conceito de que seu corpo importante papel de insatisfação com o próprio
é o símbolo de seu valor como pessoa, corpo e rejeição por parte da turma.
fortalecendo o seu sentimento de interesses, É notória em academias de ginástica e
orgulho, segurança, dúvida, preocupação com musculação a presença em grande número de
inferioridade, de conformidade com o físico adolescentes de ambos os sexos e das mais
particular de cada um e sua forma de variadas idades. Essa procura tão precoce por
crescimento. Allon (1979) cita que atividade física nesta idade geralmente não
adolescentes com sobrepeso freqüentemente decorre por fatores relacionados à saúde, mas
referem-se ao peso como um fator agravante sim por mudanças no seu corpo para obter
na interação social, sofrendo discriminações uma aceitação melhor entre seus amigos,
que interferem em seus relacionamentos chamar a atenção do sexo oposto, deixar de
sociais e afetivos. Afirma o autor que o ser alvo de piadas sem graça, etc. Pela gana
adolescente apresenta constante preocupação de querer obter massa muscular, emagrecer
com seu peso, visando um ideal de beleza ou perder peso mais rapidamente, muitos são
imposto pelo corpo magro e/ou robusto, e a levados a ingerir remédios para emagrecer,
não aceitação de seu corpo, o que o leva a inibidores de apetite, diuréticos, suplementos
sentir-se discriminado na sociedade. alimentares de maneira errônea e até mesmo
Segundo Ferrian e colaboradores, esteróides anabólicos, hormônios sintéticos e
(2005), adolescente obeso apresenta medicamentos de uso veterinário. Muitas
sentimentos conflituosos com relação ao seu vezes são iludidos com imagens de pessoas
corpo, manifestando o receio explícito de ver a com corpos bonitos e também por
sua imagem diante de um espelho. A maioria propagandas que prometem milagres como
das falas citadas revela a insatisfação do dietas absurdas, aparelhos que dão choque ou
adolescente com seu corpo diante do estigma cremes que reduzem gordura (Tavares, 2004).
social, que dita o corpo em forma como sendo Na opinião de Oehlschlaeger e
o padrão de beleza. A interferência da mídia colaboradores (2004) os adolescentes são
na imposição do corpo em forma faz com que alvo de estudos em todo o mundo, por
cada vez mais os adolescentes busquem para apresentarem altos índices de comportamento
si esse estereótipo considerado como o da de risco, como o decréscimo do hábito regular
perfeição. Mas quando se trata de de praticar atividade física, hábitos alimentares
adolescentes obesos, essa imposição social irregulares e transtornos psicológicos, e além
ocasiona insatisfação corporal, sentimentos de disso, os hábitos de atividade física na

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adolescência podem determinar parte dos si próprio.


níveis de atividade física na idade adulta. A baixa auto-estima geralmente está
relacionada a falsos valores. Crença que é
2 AUTO-ESTIMA necessária aprovação da mãe ou pai. Ela tem
as seguintes caracteristicas: insegurança,
Segundo Coopersmith apud Gobitta e inadequação ao meio que vive,
Guzzo (2002), é a avaliação que o indivíduo perfeccionismo, dúvidas constantes, incerteza
faz e habitualmente mantém em relação à sí do que se é, sentimento vago de não ser
mesmo. Expressa uma atitude de aprovação e capaz de realizar nada (depressão), não se
desaprovação e indica o grau em que o permite errar, necessidade de agradar
indivíduo se concidera capaz, importante e (aprovação reconhecimento), irritabilidade e
valioso. Já para Mosquera apud Carrara hostilidade, dificuldade em expressar
(2004), a auto-estima é um conjunto de sentimentos e emoções, incomodo com sua
atitudes que cada pessoa tem a respeito de si aparência física, necessidade de criticar algo e
mesma e também a percepção avaliativa agressividade (Strochi e Voli apud Carrara,
sobre si própria. Deste modo, é um estado ou 2004). Mas o que pode diminui-la? Críticas e
modo de ser, no qual participa a própria autocríticas, sentimento de culpa, abandono,
pessoa, com idéias que podem ser positivas rejeição, carência, frustração, vergonha,
ou negativas a seu próprio respeito. Trata-se inveja, timidez, insegurança, medo,
de um termo empregado em muitas humilhação e raiva, são alguns fatores que
publicações sobre saúde e auto-ajuda, sendo podem causar baixa auto-estima. São
o princípio mais importante na determinação importantes para o aumento da auto-estima
da saúde mental de uma pessoa. Gobitta e questões motivacionais (Tavares, 2004).
Guzzo (2002) afirmam que pessoas com boa Coopersmith (1967) e Rosemberg (1989),
auto-estima, apenas reconhecem que, como afirmam que adolescentes de elevada auto-
qualquer ser humano, tem o direito de estima tendem a um afeto positivo, acreditam
valorizar e satisfazer suas vontades. na sua competência e no seu valor.
Entretanto, a auto-estima não pode ser Demonstram capacidade para lidar com
analisada isoladamente, pois está relacionada desafios, são auto-eficientes e conseguem se
a fatores sociais, psicológicos, físicos e adaptar mais facilmente a uma situação.
econômicos. Portanto, com o objetivo de Essas pessoas são mais independentes,
melhorar a auto-estima, deve-se dar autônomas e percebem a realidade mais
preferência a uma abordagem holística, dentro apuradamente. Já os adolescentes com baixa
de um contexto social (Davidoff, 2001). Ela auto-estima são mais sensíveis a críticas
também deve ser abordada sob um enfoque dirigidas a eles. Sofrem de um “afeto
científico, como sugere Mruck na obra de negativo”, com sentimentos de inferioridade,
Gobitta e Guzzo (2002). O autor expõe que a menos valia, isolamento e insegurança. Para
auto-estima está fortemente relacionada com Tavares (2004), muitos pais contribuem com
outros aspéctos da personalidade, com a uma auto-estima baixa para seus filhos, pois
saúde mental ou bem estar psicológico. Sua sempre criticam ou constantemente chamam
carência está relacionada com fenômenos sua atenção. Os pais com certeza pensam que
mentais negatívos (depressão). corrigindo os filhos a cada passo estão
Davidoff (2001), extima que a auto- ensinando a eles o comportamento certo.
estima começa a se formar na infância a partir Porém, mais provavelmente, o que acontece é
de como as outras pessoas nos tratam. que a criança começa a pensar que não sabe
Quando criança pode-se alimentar ou destruir fazer nada certo, que é um fracasso e assim
a auto-confiança. Ou seja, as experiências do vai se construindo uma auto-imagem negativa
passado exercem influência significativa na (ou melhor, destruindo a sua auto-estima).
auto-estima quando adultos. Perde-se a auto- Não podemos culpar somente os pais. Às
estima quando se passa por muitas vezes são professores ou amigos ou a
decepções, frustrações, em situações de natureza da própria pessoa que lhe trouxe
perda, ou quando não se é reconhecido por este problema. Costa (2000) enfatiza que a
nada que faz. O que abala não é só a falta de auto-estima é talvez a variável mais crítica que
reconhecimento por parte de alguém, mas afeta a participação exitosa do adolescente
principalmente a falta de reconhecimento por com outros grupos. Os adolescentes com

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baixa auto-estima desenvolvem mecanismos funções imunológicas são menos eficazes


que podem vir a distorcer a comunicação de durante a depressão do que ordinariamente.
seus pensamentos e sentimentos, dificultando Os sintomas de depressão são muito
a interação grupal. variados e muito diferentes entre as diferentes
pessoas. Por isso a psicopatologia recomenda
2.3 Depressão como válido a existência de apenas três
sintomas depressivos básicos e suficientes
A depressão tem sido compreendida para sua detecção, no entanto, esses
como um distúrbio que apresenta alterações sintomas básicos darão origem a infinitas
afetivas, cognitivas, psicomotoras e manifestações dessa alteração afetiva. Trata-
vegetativas, que podem variar desde um se, esta tríade, da: 1) Inibição Psíquica; 2) Do
estado afetivo de tristeza até a doença. A Estreitamento do Campo Vivencial; 3) Do
etiologia da depressão compreende fatores Sofrimento Moral (Ballone, 2002).
como experiências traumáticas, temperamento Em crianças e adolescentes, por exemplo,
e relações interpessoais, levando a um modelo o humor pode ser irritável ao invés de triste. O
multifatorial no desencadeamento deste adulto deprimido também pode experimentar
transtorno de humor. Ela tem sido freqüente- sintomas adicionais durante a depressão.
mente associada a eventos estressores tais Estes incluem alterações no apetite e/ou peso,
como morte dos pais, privação afetiva, alterações do sono e da atividade
separação ou divórcio dos pais e também psicomotora; diminuição da energia;
obesidade (Dell’ Angio e colaboradores, 2004). sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldades
Ela afeta a forma como você se alimenta e para pensar concentrar-se, ou tomar decisões,
dorme, como se sente em relação a sí próprio ou pensamentos recorrentes sobre morte ou
e como pensa sobre as coisas. Além disso, é ideação suicida, planos ou tentativas de
uma doença que pode atingir pessoas de suicídio (Davidoff, 2001). Segundo Ballone
todas as idades, mesmo aqueles jovens em (2002), ela deve ser acompanhada por
que a variação de humor, crises emocionais e sofrimento ou prejuízo clinicamente
a rebeldia possam parecer normais para a significativo no funcionamento social,
idade. É um transtorno que pode ser profissional ou outras áreas importantes da
caracterizado por baixa energia, sentimento de vida do indivíduo.
tristeza prolongado, irritabilidade, falta de
interesse nas atividades diárias, perda de 2.4 Depressão na Adolescencia
prazer, alteração no sono, dificuldade de
concentração, pensamentos de morte, senti- Atualmente sabemos que os adolescentes
mentos de inutilidade e culpa (Davidoff, 2001). são tão suscetíveis à depressão quanto os
Fleck e colaboradores (2002) alertam que adultos e ela é um distúrbio que deve ser
atualmente, o transtorno depressivo maior é encarado seriamente em todas as faixas
reconhecido como um problema de saúde etárias. Pode interferir de maneira significativa
pública no seu atendimento primário, por sua na vida diária, nas relações sociais e no bem-
prevaléncia e seu impácto cotidiano de estar geral do adolescente, podendo até leva-
pacientes e familiares envolvidos. Davidoff lo ao suicídio. De modo geral, os adolescentes
(2001), explica que a depressão pode ser se deparam com várias situações novas e
causada por uma combinação de fatores tais pressões sociais, favorecendo condições
como: desequilíbrio químico no cérebro, próprias para que apresentem flutuações de
herança genética, características psicológicas humor e mudanças expressivas no
e situações emocionais estressastes. Durante comportamento. Alguns, entretanto, mais
a depressão profunda, as pessoas sentem-se sensíveis e sentimentais, podem desenvolver
desesperançosas e desanimadas e o tempo quadros depressivos com notáveis sintomas
custa a passar. Comida, sexo, hobis, trabalho de descontentamento, confusão, solidão,
e recreação, tudo parece desinteressaste. incompreensão e atitudes de rebeldia (Ballone,
Como conseqüência, talvez, as pessoas 2002).
deprimidas isolam-se dos outros, Durante a adolescência é comum à
negligenciando deveres e responsabilidade. A manifestação de oscilações de humor, no
esse estado de sofrimento acrescenta-se um entanto apenas 5% dos adolescentes teriam
risco maior de doenças, uma vez que as sintomas de uma síndrome depressiva e

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aproximadamente 3% estariam, segundo a sentimentos de culpa, perda do prazer em


psicologia, nos critérios diagnósticos para viver e também pode apresentar alterações do
algum transtorno depressivo (Steinberg apud sono.
Dell’ Angio, 2004). Dados epidemiológicos
indicam uma freqüência entre 4 a 10% de 3 TREINAMENTO DE FORÇA
adolescentes deprimidos e um aumento
considerável no índice de depressão durante a É um componente comum dos
adolescência (Bahls apud Dell’ Angio, 2004). programas de condicionamento físico em
Segundo Davidoff (2001), o adolescente adultos, crianças e adolescentes e tem sido
deprime de maneira diferente, muitas vezes aceito por profissionais na área da saúde
não facilmente observável pelos adultos. O devido aos seus benefícios na qualidade de
rapaz é nesse sentido parecido com a moça, vida. Estudos têm demonstrado que o
pois pode estar deprimido mantendo-se treinamento de força, independente de sexo,
trancado no seu quarto, não procurando quando adequadamente estruturado em
relacionamento interpessoal, apresentando relação à freqüência, intensidade e duração do
perda de apetite ou perda de interesse pelas programa, pode aumentar a força sem
coisas em geral, uma certa apatia, mau humor concomitante hipertrofia muscular (Rosa e
mais ou menos prevalente, respostas cruza- colaboradores, 2001). É indiscutível a
das ou mal-educadas, falta de cuidado pessoal importância do exercício na vida de qualquer
revelado através do desleixo no cuidado indivíduo, como elemento capaz de contribuir
corporal. Quando o jovem fica deprimido, de forma significativa para o bem estar físico e
tipicamente tem um comportamento agitado, também mental (Garret e Kirkendal apud Rosa
agressivo e as vezes violento, inclusive com e colaboradores, 2001).
características de delinqüência. Ela também Segundo Komi apud Bacurau e
pode ser mascarada por problemas físicos e colaboradores (2005), pode ser definido como
queixas somáticas que parecem não ter o uso de protocolos de resistência progressiva
relação com as emoções. Estes problemas como levantamento de pesos livres, que
podem incluir alterações de apetite ou aumentam a capacidade de exercer uma força
distúrbios de alimentação, tais como anorexia ou resistir a ela. Os termos carga, peso e
nervosa, bulimia ou até mesmo obesidade. treinamento de força têm sido usados para
Ballone (2002) diz que as alterações descrever um tipo de exercício que requer que
hormonais e as eventuais incapacidades ou os músculos se movam ou tentem se mover
relutâncias em adaptar-se às alterações contra uma força de oposição, normalmente
físicas, contribuem também para alguns representada por algum tipo de equipamento.
estados de depressão característicos dos Bacurau e colaboradores (2005) complementa
adolescentes. Observa-se períodos de intensa dizendo que a exposição repetida a exercícios
energia física, entusiasmo e inquietação sem específicos pode promover adaptações nos
limites e também uma reação de rebeldia, de mecanismos fisiológicos neurais, musculares
oposição e irritabilidade. Tavares (2004) endócrinas e energéticas que permitem a
expressa que um adolescente com depressão execução posterior do mesmo esforço com
tende a fechar-se e mutilar-se de diversas uma maior eficiência. Isto se dá através da
maneiras. Estas podem ser pela ingestão combinação de variáveis como a escolha e
excessiva de alimentos, uso de drogas, faltar ordem dos exercícios, resistência ou
com respeito, sentir medo constante e até intensidade utilizada, número de séries,
mesmo pode vir a cometer delitos. Davidoff repetições e períodos de repouso entre às
(2001) denomina isto de fase de turbulência da séries e os exercícios.
adolescência. Deixemos bem claro que essa Wilmore e Costill (2001) falam que os
denominação da autora não é sinônimo e nem programas de treinamento de força podem
um indicativo de depressão. produzir ganhos de força substanciais. De três
Durante um episódio depressivo o jovem a seis meses, você pode perceber um
costuma se sentir inquieto ou irritado, Isola-se aumento de 25% a 100%, algumas vezes
de amigos e familiares, tem dificuldade de se ainda mais. As pessoas que participam um
concentrar nas tarefas, perde o interesse ou o programa de treinamento de força esperam
prazer em atividades que antes gostava de que este produza alguns benefícios, tais como
realizar, sente-se desesperançado e constrói aumento de força, aumento do tamanho dos

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músculos, melhor desempenho nas atividades Becker Junior (2000), é estimado que somente
diárias, crescimento da massa livre de gordura uma pessoa, entre cinco que sofrem de
e diminuição da gordura corporal. depressão, busca ajuda profissional. Entre as
condutas de auto-ajuda, está a realização de
3.1 Benefícios do Treinamento de Força exercícios regulares que podem auxiliar na
redução da depressão. North e colaboradores
Segundo Rosa e colaboradores (2001), o apud Becker Junior (2000) realizando uma
programa de treinamento de força não parece meta-análise com oitenta voluntários, verificou
afetar o crescimento linear e não parece ter, a que o exercício é capaz de reduzir a
longo prazo, nenhum efeito prejudicial na depressão, tanto em sujeitos normais como
saúde cardiovascular. Santarem (2002), em populações clínica. Três aspectos são
explica que o treinamento de força, quando ressaltados nestes estudos: a) As pessoas
sobre supervisão adequada, apresenta uma mais velhas apresentam uma redução maior
excelente opção para a manutenção da saúde da depressão do que as mais novas; b) O
e melhoria da qualidade de vida, pois qualquer exercício é mais útil para pessoas deprimidas
indivíduo pode beneficiar-se de mesma desde clinicamente do que para deprimidos em níveis
que o protocolo seja ajustado a sua realidade normais; c) O exercício combinado com
e objetivos. sessões de psicoterapia apresenta uma maior
O treinamento de força apresenta eficácia na redução da depressão do que o
benefícios como: 1) Aumento do metabolismo exercício isolado.
basal; 2) Diminuição da perda de massa
muscular; 3) Redução do percentual de 3.3 Hipóteses para os Benefícios
gordura; 4) Diminuição das dores lombares; 5) Emocionais do Exercício
Melhora da qualidade do sono; 6) Minimização
da ansiedade e da depressão; 7) Prevenção As razões para os ganhos emocionais dos
de doenças cardiovasculares; 8) Controle do praticantes de exercícios são hipóteses
diabetes; 9) Redução dos sintomas de artrite- explicativas divididas por Plante apud Becker
reumatóide; 10) Diminuição de riscos de Jr (2000) em biológicas e psicológicas. Às
quedas e fraturas; 11) Controle da pressão hipóteses biológicas podemos atribuir: o
arterial; 12) Combate à osteoporose; 13) aumento na liberação de endorfinas; aumento
Melhora da confiança e da auto-estima; 14) da temperatura corporal; aumento da atividade
Melhora das capacidades mentais; adrenal (catecolaminas); ações da
15)Redução dos níveis de LDL e aumento do Norepinifrina, Serotonina e Dopamina;
HDL; 16) Previne varizes; 17) Melhora da aumento do fluxo sanguíneo e da oxigenação
auto-imagem; 18) Previne lesões; 19) Corrige e o aumento da aptidão cardiovascular. Às
e minimiza a má postura; 20) Auxilía no hipóteses psicológicas podemos atribuir:
combate à obesidade. distração; auto-eficácia; apoio social;
regulação da ativação fisiológica e o estado de
3.2 Exercício e Depressão consciência.
Para Becker Junior (2000), atividade
O efeito do exercício sobre a depressão física é causadora de uma melhora na auto-
tem sido minuciosamente investigado. estima que causa benefícios em vários
Pessoas que apresentam um quadro de transtornos psíquicos. O autor considera como
depressão media ou leve, após realizarem um efeito do exercício os seguintes benefícios
programa de exercício durante um período de individuais: redução da ansiedade de estado;
três semanas, pode reduzir este sintoma. Os redução de níveis baixos e moderados de
que apresentam um quadro de depressão depressão; redução de níveis de estresse;
severa devem fazer uso de medicamentos redução de níveis de neuroticismo; é um
apropriados até baixar a nível médio, para auxiliar no trabalho profissional na depressão
então o exercício entrar como um auxiliar no severa e apresenta benefícios psicológicos em
processo (Becker Junior, 2000). Mas muito ambos os sexos e todas as idades.
pouco se fala de exercícios de força. Daí se vê Crianças e jovens precisam
a necessidade de serem realizadas mais movimentar-se para que seu desenvolvimento
pesquisas sobre este assunto (Tavares, 2004). psíquico e físico seja harmônico. Como a
Segundo Shapiro e colaboradores, apud escola e o ambiente doméstico são

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limitadores, as crianças necessitam participar associado a um aumento na produção de


de programas de exercícios físicos e esportes hormônio de crescimento (GH) (Fleck e
para atingirem sua plenitude de bem estar Kraemer, 2001).
(Weineck, 2003). Segundo Bar-Or (2003), ao O treinamento para hipertrofia também
contrario dos adultos, as crianças e os tem sido apontado como indesejável para
adolescentes no início da fase raramente adolescentes com a justificativa de que pode
fazem exercícios apenas pelos benefícios que produzir lesões ou mesmo doenças. No
trazem à saúde. Elas precisam se sentir entanto, não há evidências de que o
gratificadas pela atividade e, portanto, a treinamento para hipertrofia esteja associado
atividade deve ter elementos que as atraem, com prejuízos para a saúde. A tendência atual
sem que isso seja enfatizado em excesso. é utilizar treinamento para hipertrofia para
todos os objetivos da musculação. O aumento
3.4 Treinamento de Força na Adolescência da taxa metabólica basal e uma melhor
capacidade homeostática bioquímica
Durante muitos anos, o uso do dependem diretamente da massa muscular.
treinamento de força para aumentar a força e Os exercícios com baixas repetições oferecem
a resistência muscular dos meninos e meninas uma melhor associação de qualidades
pré-puberes era extremamente controverso. possíveis de serem estimuladas pelo
Os meninos e as meninas foram treinamento de hipertrofia (Santarém, 2001).
desencorajados a utilizar halteres pelo receio Abaixo veremos, orientações básicas
de provocarem lesões e interromperem para o progresso do treinamento de força para
prematuramente o processo do crescimento. adolescentes, conforme idade, descritos por
Além disso, muitos cientistas especularam que Fleck e Kraemer (2001) e Weineck (2003) com
o treinamento de força teria pouco ou nenhum adaptações de Tavares (2004): a) 11 – 13
efeito sobre os músculos dos meninos pré- anos - Ensinar todas as técnicas básicas;
puberes porque o nível de androgênios aumentar progressivamente a carga para cada
circulantes ainda é baixo. Uma das afirmações exercício; utilizar exercícios mais avançados
mais comuns encontradas em publicações não com pouca ou nenhuma sobrecarga; b) 14 –
especializadas é a de que o desejo dos 15 anos - Progredir para programas de
adolescentes aumentarem a massa muscular exercício de força mais avançados; enfatizar
é anormal ou patológico (Santarém 2002). as técnicas; aumentar o volume; c) 16 ou mais
Segundo Weineck (2003), o aumento - Passar o adolescente para os níveis iniciais
das dimensões anatômicas; a maturidade dos programas destinados aos adultos após
sexual e a maturação das estruturas do dominar todos os conhecimentos básicos e ter
sistema nervoso são os principais fatores que adquirido uma experiência de treinamento de
aumentam a força na adolescência. Na nível básico.
puberdade há diferenciação nos homens
devido à testosterona; para mulheres, o 3.5 Recomendações Sobre o Treinamento
aumento de força antes da puberdade e o pico de Força para Adolescentes
de força após a puberdade, sem ganho
significativo a partir desse período. Dois Inicialmente deve ser esclarecido que os
grandes estudiosos nessa área específica riscos do treinamento de força para
afirmam com base em pesquisa, que o risco adolescentes já estão bem estabelecidos em
de lesão no treinamento de força com literatura científica e são menores do que em
adolescentes é muito baixo, mais, ainda muitas outras atividades físicas consideradas
assim, é recomendável uma abordagem seguras (Fleck e Kraemer, 2001; Weineck,
conservadora na prescrição de exercícios de 2003; Tavares, 2004).
força para estes. Os ganhos de força na
adolescência são decorrentes, sobretudo das 3.5.1 Equipamentos do Treinamento de
adaptações neurais e dos aumentos do Força
tamanho muscular e da tensão específica. O
aumento da massa muscular nos pós-puberes Dentro dos padrões de segurança para a
provavelmente está relacionado ao aumento realização de um treinamento de força, deve-
da produção do hormônio masculino se enfatizar que: 1) Deve ser adequado para
(testosterona) que se inicia na fase puberal se acomodar ao tamanho e ao grau de

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maturidade do adolescente; 2) Deve ser séries de cada exercício; 5) O aumento do


seguro, sem defeitos e freqüentemente peso, ou resistência, ou redução dos
inspecionado; 3) Deve estar localizado numa intervalos entre uma série e outra, somente
área de pouco movimento, livre de obstruções pode ser alcançado após o adolescente
e com iluminação e ventilação adequadas. realizar todas as repetições prescritas em boa
forma; 6) Encerrar a sessão sempre com uma
3.5.2 Considerações Sobre o Programa conversação sobre a sessão do dia com
perguntas sobre o treinamento (feed back) ,
1) É obrigatória a realização de um exame para que a relação professor – aluno seja
físico antes do início da participação num sempre mantida.
programa de treinamento; 2) O adolescente Um fator que pode ser levado em
não necessita apresentar uma maturidade consideração é se o adolescente deve (ou
emocional para aceitar orientações técnicas e pode) ter a companhia de um colega para a
ordens do professor; 3) Deve haver uma realização da sessão. Isto pode variar de
supervisão adequada realizada por acordo com o comportamento do adolescente
professores de educação física com em relação ao seu desempenho durante a
conhecimentos sobre o treinamento de força e sessão, ou com a autorização do professor
os problemas específicos de cada que trabalhará com o adolescente.
adolescente; 4) O treinamento de força deve
ser parte de um programa global destinado a
CONCLUSÃO
melhorar as habilidades motoras e o nível de
condicionamento físico; 5) O treinamento de
A fase da adolescência tende a
força deve ser precedido por um período de
apresentar uma grande mudança no aspecto
aquecimento e seguido por um período de
da sua auto-estima em relação à fase da
resfriamento; 6) A ênfase deve ser sobre as
infância. A influência dos grupos com quem
ações dinâmicas concêntricas e excêntricas da
vive ou interage, a má adequação dos
musculatura; 7) Todos os exercícios devem
processos educacionais na relação pai – filho
ser realizados com a amplitude máxima do
e professor – aluno, ou pelo fato do mesmo
movimento; 8) A competição está proibida; 9)
não aceitar seu corpo da maneira como ele se
Nenhum esforço máximo deve ser tentado.
apresenta (salvas as exceções), pode ser um
O adolescente poderá também anotar o
grande gerador de baixa auto-estima,
seu desempenho após cada sessão para
conseqüentemente, tornando-se um
verificar o quanto está evoluindo dentro de um
adolescente mais suscetível a apresentar um
programa de treinamento de força. Essa
quadro crônico de depressão. Isso pode ser
informação é útil de diversos modos. Além de
observado de diversas maneiras, como foram
registrar o seu progresso, é uma informação
citadas anteriormente. Assim, faço uso do
que pode ser um fator motivante para a
treinamento de força como uma terapia para
continuação do adolescente nesse processo.
tentar minimizar os efeitos negativos da
depressão e da baixa auto-estima em
3.5.3 Programa Prescrito
adolescentes através da melhora da sua auto-
imagem. A imagem extremamente positiva que
Através de um consenso entre os autores, os jovens têm de si, pode funcionar como uma
foram feitas algumas conciderações para defesa perante a sociedade que transparece
seguir este procedimento com exito. São uma visão negativa sobre juventude.
estes: 1) O treinamento recomendado é de Observamos ao longo deste que os
duas a três vezes por semana, com períodos processos maturacionais na perspectiva dos
de 45 minutos à uma hora; 2) Explicar para o adolescentes não são satisfatórios, devido à
adolescente, antes, durante e após o termino demora do aparecimento dos resultados.
da sessão, o por quê e para que servem todos Dessa maneira, o indivíduo poderá proceder
os exercícios e todas as etapas do para uma prática ilícita da manipulação de seu
treinamento; 3) Deve-se iniciar o programa corpo e seu organismo, fazendo uso de
sempre com um aquecimento geral e de substâncias sem uma devida orientação ou
origem aeróbica; 4) Não deve ser aplicada então manipular sua carga de trabalho
qualquer carga até que seja observada uma indevidamente. Este aspecto também poderá
forma adequada, devendo ser realizados 1 a 6 levá-lo à desistência da prática.

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Percebi que através do treinamento de conceqüentemente melhora a sua auto-estima;


força, o adolescente pode elevar sua auto- 10) Auxilia no combate à obesidade;
estima, por conseqüência de algumas relacionado à auto-imagem;
observações em relação aos seus benefícios. 11) A melhora da confiança e da auto-estima;
Outro aspecto que pude observar, também, é é um fator que pode ser decorrente da
o agigantamento do ego do adolescente. Isso robustez, gerada pelo aumento da massa
pode ser explicado a partir das relações do muscular, do agigantamento do ego e da
estado psicológico do mesmo com os sensação de satisfação proporcionado pela
benefícios do treinamento de força. Creio maior liberação de endorfinas.
plenamente na utilização deste, pois são É valido dizer que a mudança de sua
satisfatórios os resultados no momento da vida aparência e seus hábitos através de um
do adolescente em que ele se apresenta trabalho do corpo, buscando estabelecer um
vulnerável a oscilações constantes de padrão de conduta positivo e mantendo um
temperamento. Porém, é a fase em que desgaste energético pré-estabelecido e
apresentam, também, uma maior capacidade potenciazado conforme o avanço do seu
para armazenar novas informações, desempenho frente ao treinamento de força,
aumentando assim sua bagagem cognitiva. pode elevar a auto-estima de um adolescente
Dentre os benefícios do treinamento através da melhora da auto-imagem seja ele
de força em questão, em relação à melhora da homem ou mulher, dês de que este seja
auto-estima e a redução dos níveis de devidamente orientado por profissionais
depressão dos adolescentes, ressalto, e creio competentes que compreendam e respeitem
na sua correta utilização: seu processo maturancional, tomando as
1) O Aumento do metabolismo; o adolescente devidas precauções para que não haja falhas
terá um alto gasto energético, que lhe no trabalho proposto.
proporcionará um melhor desempenho das
funções diárias; REFERÊNCIAS
2) A Redução do percentual de gordura; lhe
proporcionará uma melhor aparência física 1- Allon, N. Self-perceptions of stigma of
(estética) e uma melhora da auto-imagem; overweight in relation to weight-patterns. Am J
3) Uma melhor qualidade do sono; devido a Clin Nutr. Nº 32. Pag 470 – 480. Princeton.
constantes pensamentos positivos e negativos 1979.
e a problemas criados por eles próprios que
lhes incomoda por não saberem como resolvê- 2- Assis, Simone G; Avanci, Joviana Q; Silva,
los, maior ativação do sistema nervoso Cosme M. F. P; Malaquias, Juaci V; Santos,
parassimpático e aumento da produção de Nilton C; Oliveira, Raquel V.C. A
triptofano e serotonina; Representação Social do se Adolescente: Um
4) A diminuição dos riscos de quedas e Paso Decisivo na Preomoção da Saúde.
fraturas; relacionado a comportamentos Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de
agressivos e desvios de conduta e também ao Janeiro. Pag 669 – 680. 2003.
equilíbrio muscular;
5) A melhora as capacidades mentais; 3- Bacurau, Reury Frank; Navarro, Francisco;
reflexos, raciocínio e concentração; Uchida, Marco Carlos. Hipertrofia Hiperplasia:
6) A prevenção de lesões; devido ao Fisiologia, Nutrição e Treinamento do
comportamento agitado, músculos mais fortes; Crescimento Muscular. 2ª ed. São Paulo.
7) A corressão e minimização da má postura; Phorte editora. Pág 68. 2005.
é um dos fatores onde a baixa auto-estima é
mais facilmente indentificada; 4- Ballone, G.J.; Ortolani, I.V.E.; Pereira Neto,
8) A minimização da ansiedade e da E. Da Emoção à Lesão. Barueri. Editora
depressão; através do desgaste energético, do Malone, 2002.
agigantamento do ego e da sensação de
satisfação proporcionado pela maior liberação 5- Bar-Or, Oded. A Epidemia de Obesidade
de endorfinas; Juvenil: A Atividade Física é Relevante?.
9) A melhora da auto-imagem; a maneira Gatorade Sports Science Institute. Nº 38. Pag
como o adolescente percebe o seu corpo, que 1 – 5. 2003.
para ele se torna um atrativo e

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7- Carrara, Maria Christiane Quillfeldt. A Barueri. Editora Manole, 2001.
influência da Aarte-Educação na Auto-Estima
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Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do auto-estima (SEI) – Forma A. Psicologia:
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15- Fleck, Marcelo Pio De Almeida; Lima, Ana
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Schestasky, Gustavo; Henriques, Alexandre; Fisiologia do Esporte e do Exercício 2ª ed. São
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