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Capitulo II AS QUESTÕES DO RECONHECIMENTO NA SOCIEDADE


EM AXEL HONNETH
No capítulo anterior podemos observar e evolução normativa do
indivíduo nas relações intersubjetivas nas esferas do reconhecimento, no qual
ele procura um reconhecimento recíproco, ou seja, a busca de sua
autoconfiança, autorrealização e da autodeterminação, e de uma vida boa
pautada na consciência de que todos têm sua vontade livre, visto que, ela é
concebida em uma ordem social justa, a qual permite que seus indivíduos
tenham o direito de expressar sua própria liberdade.
Na obra Sofrimento de indeterminação Axel Honneth procura reatualizar
a filosofia do direito do jovem Hegel, o qual procura na sua filosofia prática do
“espírito objetivo” e na “eticidade” fundamentar os princípios normativos de uma
sociedade justa e uma ideia de vontade livre universal.
3.1 Realização da liberdade individual
Em Sofrimento por indeterminação Axel Honneth conduzirá sua teoria
normativa na esfera do direito e na autorrealização do sujeito com base na
eticidade para sua construção social, propondo também a construção de um
conceito de justiça e liberdade nessa esfera do reconhecimento intersubjetivo e
seus valores comunitários. Para o filósofo frankfurtiano reconstruir a filosofia do
direito de Hegel é melhorar a discussão da filosofia política contemporânea,
reatualizando aquilo que foi abandonado por outros pensadores devido a vários
preconceitos:
[...]. O que se convencionou como primeiro preconceito frente à
Filosofia do direito de Hegel exprime-se na afirmação que a
obra traz consigo, voluntária ou involuntariamente,
conseqüências antidemocráticas, uma vez que os direitos de
liberdade individual são subordinados à autoridade ética do
Estado; [...]. A segunda reserva, que impede hoje aquele
discurso atualizador da Filosofia do direito, possui antes um
caráter metodológico e relacionas-se com a estrutura de
argumentação do texto como um todo; os passos de
fundamentação desenvolvido por Hegel, objeta-se, só podem
se adequadamente reconstruído e avaliados se forem referidos
às partes correspondentes a sua “Lógica”, mas que entretanto
se tornou completamente incompreensível em razão do seu
conceito ontológico de espírito; [...]. (Honneth, 2007, p. 48-49)

Segundo Axel Honneth essas objeções acima foram apenas políticas,


para ele Hegel ao afirmar que a autonomia do indivíduo está subordinada a
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autoridade ética do Estado, apenas o conceito de Estado talvez não fosse


muito adequado para nossa atualidade, pois dá a conotação de um Estado
burguês, poderíamos dizer que no Estado democrático de direito seria a esfera
mais adequada para ao desenvolvimento da liberdade individual, pois é nele
que temos um contexto ético-político mais abrangente e sua pluralidade étnica.
Axel Honneth procura em sua teoria normativa de reconhecimento que todos
os cidadãos sejam autônomos na sua individualidade, porém ele só realiza
essa autonomia plena na sociedade civil.
Nosso autor procura na filosofia do direito de Hegel fundamentar a
filosofia política atual, principalmente na ideia de uma vontade livre universal
que se desenvolve na esfera do direito, a qual quer garantir condições para que
seus indivíduos tenham sua autorrealização, ou podemos dizer que todos
devem ter a possibilidade da realização de sua liberdade individual.
Para Axel Honneth que a filosofia do direito de Hegel mostra que o
espírito objetivo está pautado na ideia de liberdade individual e direito racional
em quatro premissas, a saber:
[...] primeiramente, em razão do fato de os sujeitos já se
encontrarem constantemente ligados em relações
intersubjetivas, uma tal justificação dos princípios universais de
justiça não deve partir da representação atomista [...]. Decorreu
disso em segundo lugar, o objetivo, [...] como justificação
daquelas condições sociais sob as quais os sujeitos podem ver
reciprocamente na liberdade do outro um pressuposto de sua
auto-realização individual. [...] em terceiro lugar, [...] princípios
normativos de liberdade comunicativa na sociedade moderna,
não devem estar ancorados em preceitos externos voltados
para o comportamento ou em meras leis de coerção [...]; e
finalmente, em quarto lugar [...] que uma tal cultura de uma
liberdade comunicativa denominada de “eticidade” teria que
poder ser previsto um espaço essencial para aquelas esferas
sociais de ação nas quais os sujeitos, sob condições do
mercado capitalista, pudessem perseguir reciprocamente seus
interesses egoístas. (Honneth, 2007, p. 54-55)

Como dito, segundo Axel Honneth, Hegel mostra que o individuo apesar
de desenvolver sua vontade livre, ele só ira se realizar de forma mais plena, na
medida em que sua ação livre resultar numa autodeterminação racional, a qual
ele porá em prática na sociedade.
De acordo com a filosofia do direito o “espírito objetivo” tem como
competência de poder saber que é necessário a reconstrução da auto-reflexão
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do que acontece nas instituições e nas práticas sócias, aos olhos de Axel
Honneth a sua interpretação da filosofia hegeliana, o espírito objetivo reconstrói
sistematicamente tudo que é necessário para realizar a vontade livre de cada
um de seus indivíduos, ou como podemos chamar “vontade livre universal”.
A vontade livre seria também uma ação reflexiva por parte do individuo,
que pode se autodeterminar, e assim se satisfazer sua vontade através de uma
reflexão em si mesmo podendo dessa forma se reconhecer no outro em si
mesmo.
Também na teoria hegeliana na Filosofia do direito Axel Honneth a
existência de uma vontade livre está ligada às relações comunicativa, no qual o
sujeito individualmente tem sua liberdade própria, isso faz com sua capacidade
de se relacionar com os demais membros de sua sociedade e capacitando
melhor para participar de forma igual nas discussões sociais, e assim
proporcionando uma autorrealização pessoal nas esferas do reconhecimento
intersubjetivo.

3.2 O sofrimento e a libertação


As questões da liberdade parte da compreensão que nos encontramos
relações sociais que temos por princípio direito e dever a que devem ser
observados. Entretanto o indivíduo para Hegel a libertação tem o seguinte
significado:
Nesse duplo significado da expressão “libertação”  a qual
indica ao mesmo tanto negativamente o desvincular de duas
perspectiva que restringem a liberdade e são altamente
unilaterais, como também positivamente o volta-se para a
liberdade real (eticidade) deve ser reconhecida pela primeira
vez em todo o volume a função terapêutica que Hegel procurou
atribuir à sua doutrina da eticidade. Em sua Filosofia do direito,
Hegel desenvolveu em referência à compreensão moderna da
liberdade um procedimento com o qual desde Wittigenstein
também na filosofia se empregou o conceito “terapia”: partindo
da verificação de um “sofrimento” determinado no mundo da
vida social, segue-se primeiramente que esse “sofrimento” é o
resultado de uma perspectiva equivocada derivada de uma
confusão filosófica que visa apresentar então a proposta
terapêutica de uma mudança de perspectiva que consistisse na
recuperação de uma familiaridade com o conteúdo racional de
nossa práxis da vida. (Honneth, 2007, p. 99-100)

Em Sofrimento de indeterminação Axel Honneth procura abordar o


conceito de “sofrimento” e “libertação” para Hegel, seria algo como se libertar
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de um sofrimento “[...] em uma teoria da justiça como conceito de ‘libertação’: a


eticidade liberta-se de uma patologia social, na medida em que cria igualmente
para todos os membros da sociedade as condições de uma realização da
liberdade” (Honneth, 2007, p. 106).
De acordo com Axel Honneth esse conceito de libertação está ligado no
conceito de eticidade para Hegel, é compreendida na forma negativa e positiva
de liberdade, pois o individuo só pode se desprender desse sofrimento por
indeterminação quando ele tiver a possibilidade de se autorrealizar, assim
conseguido também se autodeterminar. Podendo assim, afirmar sua vontade
livre, como conduz Axel Honneth em Patologia de la libertad, no qual fala sobre
o reino da liberdade realizada:
Considerando que, como o próprio Hegel diz no § 4: "a base do
[...] direito é a vontade, que é livre, de uma maneira que [o
sistema [legal]] é o domínio da liberdade realizada". Com esta
expressão, Hegel já revela que ele quer algo mais que uma
mera determinação ou a proteção ou a garantia da liberdade
individual; o sistema do direito deveria antes ser um reinado, no
qual a liberdade dos indivíduos pode ser realizada, de tal forma
que tenha que incluir determinações ou elementos públicos que
possam valer como objetivos dessa auto-realização livre. .
(Honneth, 2016, p.30)1

Vemos então que é na vida pública que o individuo pode alcançar sua
libertação do sofrimento e realiza sua vontade livre, pois é através das relações
intersubjetivas que o sujeito social reconhece o outro em si mesmo. Com isso
Axel Honneth opõe-se ao pensamento atomista individual do pensador
estadunidense John Rawls que em sua obra Uma Teoria da Justiça, que ele
afirma que o caminho a ser desenvolvido pela sociedade partiria de dois
princípios que seriam: o primeiro princípio é que todos os indivíduos que fazem
parte dessa sociedade teriam direito a liberdade mais ampla possível, esse
princípio chama-se de princípio de liberdades iguais; outro princípio é o
princípio da igualdade, Rawls vai afirmar que existem desigualdades inevitáveis
numa sociedade, entretanto ela pode ser amenizada de uma forma que
promova a equidade de oportunidade que aqui ele chamará de princípio de
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En tanto que, como el mismo Hegel dice en el §4: la base del derecho […] es la voluntad, que es
libre, detal manera que […] [el sistema jurídico] es el reino da libertad realizada. Con esta expresión,
Hegel ya da conocer que quiere algo más que una mera determinación o de la protección o de la garantía
de la libertad individual; el sistema del derecho debe más bien un reino , en el que pueda realizarse
la libertad de los individuos, de tal manera que tenga que incluir determinaciones o elementos públicos
que puedan valer como metas de esa autorrealización libre. . (Honneth, 2016, p. 30; trad. minha)
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justiça igualdade e oportunidade e também para estreitar essas diferenças ele


conduz que os membros menos privilegiados dessa sociedade têm que ter o
máximo de benefícios que outros membros mais privilegiados, assim podendo
ter uma sociedade mais equitativa, além disso, Rawls afirma que o princípio da
igualdade jamais deve se sobre por sobre o princípio da liberdade.
Essa diferença do pensamento do pensador estadunidense que se
preocupa com o indivíduo e a realização de boa vida, que através de sua
individualidade vai elaborar sua questão de justiça, já Axel Honneth está focado
mais na questão da vida boa de todos os indivíduos na sociedade, e sua
vontade livre através da eticidade e do reconhecimento intersubjetivo, como ele
explica:

Se a realização da liberdade individual está ligada à condição


de interação, uma vez que os sujeitos somente podem se
experienciar como livres em suas limitações em face de outro
humano, então deve valer para toda a esfera da eticidade o
fator de ter de residir nas práticas de interação intersubjetiva;
aquelas possibilidades de auto-realização individual,que essa
esfera pôs à disposição, devem ser compostas em certa
medida pelas formas de comunicação nas quais os sujeitos
podem ver reciprocamente no outro uma condição de sua
própria liberdade. (Honneth, 2007, p. 107).

O reconhecimento intersubjetivo de Axel Honneth necessita


primordialmente da consciência humana, pois é através dela que o indivíduo
pode bem se relacionar com a sociedade, ou seja, ter uma boa interação social
para poder começar a libertar do sofrimento em que vive. Para Honneth esse
lado prático do reconhecimento está ligado sobre o comportamento do
indivíduo na sociedade, pois ele interagindo na sociedade faz com que perceba
que suas ações possam determinar o tratamento intersubjetivo. Entretanto há
diversas coisas que constrói o reconhecimento além da consciência humana,
ela apesar de ser primordial, é apenas um dos elementos da construção do
reconhecimento intersubjetivo.
Segundo Axel Honneth, Hegel diz que o indivíduo só é digno do
reconhecimento intersubjetivo quando ele mesmo se faz reconhecer o que vale
(C.f. Honneth, 2007, p. 108), assim esse comportamento o faz ficar consciente
do seu relacionamento com o outro.
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A expressão “comportamento”, utilizada aqui, esclarece a


tentativa de Hegel ao empregar adicionalmente no mesmo
lugar o conceito de “tratamento”: reconhecer-se reciprocamente
não significa somente se relacionar-se com o outro numa
atitude determinada de aceitação, mas implica também, e
sobretudo, comportar-se diante do outro de um modo que exija
moralmente a forma correspondente de reconhecimento.
(Honneth, 2007, p.108)

As atitudes de eticidade do indivíduo podem fazer gradualmente ser


reconhecido reciprocamente, mas também, podemos colocar na construção na
esfera da ética do reconhecimento intersubjetivo, alem da questão de ser
“digno”, além do que, têm as questões do dever, pois ele será o próximo passo
da ação intersubjetiva de reconhecimento, deveres esses que para Hegel tem
como efeito libertador para indivíduo e uma ferramenta para uma melhor
interação social possibilitando com que o indivíduo possa alcançar a
autorrealização. Axel Honneth diz que para Hegel o dever seria algo vazio,
então deveria ser preenchido por uma determinação ética:
[...] A conexão esboçada desse modo salta aos olhos logo que
são consumadas as modificações conceituais que Hegel efetua
diante a ideia kantiana de “dever”: o quanto em Kant, tal como
se lê novamente no §148, o “dever” representa um “princípio
vazio da subjetividade moral”, na Filosofia do direito “as
determinações éticas” [devem] se apresentar como relações
necessárias”; isso dispensa, continua Hegel, ter de acrescentar
a cada determinação ética a conclusão de que “assim essa
determinação é um dever para os homens”. (Honneth, 2007,
110-111)

As relações intersubjetivas de reconhecimento seguem os deveres


morais segundo a interpretação de Axel Honneth da filosofia hegeliana, algo
como uma ação social que se prende a algumas normas obrigatórias, ou seja,
seguir uma doutrina do dever.

3.3 A doutrina do dever ético e o reconhecimento intersubjetivo.


No subtítulo 2.2.2 do capítulo anterior desta monografia abordamos o
reconhecimento intersubjetivo na esfera do direito que estava fundamentada na
autonomia formal da pessoa e buscando a autorrealização, aqui tentaremos
abordar de uma forma mais voltada para explicar como a “doutrina do dever
ético” possibilita através da reflexão conseguir essa autorrealização tanto
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almejada de forma normativa de reconhecimento intersubjetivo nessa esfera


que é o direito.
Se nessas determinações incluirmos ainda a reflexão que
antes havia valido em referência à necessidade de possibilitar
a auto-realização, então já surge um quadro relativamente
completo de pressuposto que a esfera da eticidade tem de
poder cumprir. Hegel parece estar convencido de que só
podemos falar de estruturas éticas, de relações éticas da vida,
onde são dadas ao menos as seguintes condições: deve ter um
padrão de práticas intersubjetivas que possibilite aos sujeitos
se realizarem na medida em que se relacionam mutuamente,
de modo a expressar reconhecimento por meio de sua
consideração moral. (Honneth, 2007, p. 112)

Aqui Axel Honneth conduz que a autorrealização do sujeito dar-se


primeiramente nas relações intersubjetivas através de suas experiências da
liberdade individual e na reflexão que ele faz consigo mesmo, ou como nosso
autor denomina de experiência do “ser-consigo-mesmo”, pois esse sujeito é
livre de quaisquer coerções externas para que ele possa realizar sua vontade
livre.
O filosofo alemão diz que Hegel faz referencia em seus escritos que o
indivíduo pode ser ajustado conforme sua formação, que ele através de um
processo de configuração moldando seu caráter, ou seja, uma socialização
pela eticidade o indivíduo tem sua construção de um sujeito social consciente
dos deveres e direitos.
Essa formação que é construída na esfera da eticidade nas práticas
intersubjetivas o indivíduo vai preenchendo e adquirindo através das
experiências recíprocas de reconhecimento intersubjetivo condições para
alcançar a autorrealização individual.
Podemos dizer que a filosofia de Axel Honneth através da reconstrução
da teoria social de Hegel nessa parte procura esclarecer que esse indivíduo
tem que conviver com diferentes vontades e saber que cada indivíduo que nem
ele parte da vontade singular que também quer ser realizada, e isso pode
ocorrer como o próprio Axel Honneth chama de luta por reconhecimento e se
esse reconhecimento não for efetivado isso pode causar mazelas sociais. Por
isso um sujeito social esclarecido e sua vontade pautada em suas ações éticas
podem ajudar na construção de uma sociedade mais ética, justa e livre como
podemos ver:
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[...]. Se a série das condições enumeradas em meras palavras-


chaves, então vale para a esfera da ética que ela que ela tem
que residir em práticas de interações interação que têm de
poder garantir a auto-realização individual, o reconhecimento
recíproco e o processo de formação correspondente; e entre
as três afirmações principais têm que existir nesse caso
entrelaçamentos estreitos, no momento em que Hegel parece
estar convencido de que se encontrar em si numa relação de
condição recíproca. Ora o fato de que já estamos em
condições de reconstruir essa pretensão normativa antes
mesmo de toda prova de implementação da teoria nos deve
levar ao prejulgamento de que Hegel procederia em seguida
como um tipo de construtivismo moral; não é verdade que ele
esboça primeiramente uma série de princípios de justiça bem
fundamentados para depois se perguntar como têm de ser
arranjada as condições sociais de sua realização. (Honneth,
2007, p. 115)

Esse processo de construção social para Axel Honneth seria algo que
daria ao indivíduo a capacidade de reflexiva de agir pelo dever ético, isso faria
com que as patologias tais como alienação, anomia e reficação perdurasse na
sociedade e ameaçasse a autorrealização do sujeito e sua vontade livre, o que
o incapacitaria de reconhecer intersubjetivamente a vontade do outro. Será que
poderíamos abrir um parêntese aqui no escrito dessa monografia e poder
imaginar (visto que Axel Honneth apesar de propor uma teoria normativa, mas
ela tem que ser algo que possa se realizar na práxis social) nossos filósofos
alemães analisando e tentando por em prática a filosofia do reconhecimento
intersubjetivo em nossa sociedade civil brasileira, onde impera o pluralismo
étnico, religioso, ideológico e etc; sociedade essa que o abismo social e a
estratificação social mostram a abrupta diferença de classes sociais e grupos
sociais diversos. Mas vamos sair do devaneio e voltar à análise da teoria do
reconhecimento intersubjetivo de Axel Honneth.
O diagnóstico que a teoria crítica de Axel Honneth faz é uma crítica das
patologias sociais ditas anteriormente, patologia essas que prejudicam a
formação social normativa de uma sociedade, por isso o dever ético, o
reconhecer o outro-em-si-mesmo, são tijolos na construção social do indivíduo
moderno, e porque não podemos dizer também do sujeito social
contemporâneo, através da ação ética e da experiência do “ser-consigo-
mesmo”.
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Nosso autor diz que as relações sociais esta de uma forma tripartida
onde ela contempla as ações sociais na primeira esfera que é a “família” em
sua singularidade do indivíduo; na segunda esfera social que é a “sociedade
civil” e sua pluralidade da pessoa e a terceira esfera social que é o “Estado” na
sua universalidade do sujeito social.
[...] Entre a “família”, a “sociedade civil” e o “Estado” não deve
haver relações de nivelamento normativo, mas uma relação
hierárquica; as esferas individuais encontram-se aí dispostas
ao longo de uma linha ascendente para cuja escala deixam-se
encontrar na Filosofia do direito uma série de razões que
podem ser mantidas sem referência ao silogismo
(Schlussformen) lógico. (Honneth, 2007, p. 117)

A família seria o ponto de partida para que o indivíduo possa a se


relacionar de forma ética, seja uma relação de amor ou amizade, segundo Axel
Honneth para Hegel seria uma forma de “eticidade na forma natural”, essa
esfera trabalharia como fosse uma inclusão, representa o primeiro local onde o
indivíduo pode superar sua carência, podemos exemplificar essa forma de
relação pela amizade de um homem e uma mulher, através da carência de
ambos isso pode começar um relacionamento de amizade que pode acarretar
na união de ambos e transformar essa relação de reconhecimento
intersubjetivo em um casamento, dessa forma a singularidade de um suprirá a
singularidade do outro, podendo deste modo um se reconhecer no outro, assim
satisfazendo os seus impulsos individuais na relação sexual entre os parceiros,
que isso resulta na vinda de um filho vindo a formar uma pequena família.
Por essa razão, a família deve seu lugar como base elementar
de toda eticidade ao fato da relação à natureza da carência
humana; sem o reconhecimento intersubjetivo ao qual chegam
as pulsões no espaço interior da família, a formação de uma
“segunda natureza”, de um fundo socialmente partilhado em
costumes e comportamentos, não seria possível. (Honneth,
2007, pg. 118)

A partir da formação da família faz com que as relações éticas entre os


indivíduos passam a ser mais consolidadas nessa esfera de reconhecimento
intersubjetivo, o dever ético entre esses indivíduos passa ser um ponto
primordial para estabelecer outras relações intersubjetivas nas demais esferas.
Na esfera da sociedade civil que no sistema de Lógica de Hegel é
aproxima esfera de reconhecimento e do dever ético, que também está
baseada no “sistema de carência” podemos exemplificar com as relações de
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mercado, onde as relações de trocas procuram suprir as carências que não


podem ser supridas na esfera da família, passando assim esse indivíduo fazer
parte de uma comunidade
Hegel deixa-se conduzir pela idéia de que lá no âmbito da
circulação medida pelo mercado o sujeito se apresenta como
pessoa de direito individualizada, enquanto aqui, no espaço
interior da família, existe apenas como membro dependente de
uma comunidade que não escolheu. Trata-se, em outras
palavras, de um nível superior de individualização, de chances
de realização de interesses egocêntricos que, na visão da
“sociedade civil” de Hegel, proporcionam uma certa
reflexividade diante dos espaços de comunicação da família.
[...]. Neste sentido, pode ser correto numa primeira
aproximação insistir na diferença entre satisfação de interesses
egoístas e de carências intersubjetivas como a diferença
central; além disso, esboçam-se também já as diferenças que
ambas as esferas residem simultaneamente no tipo de
entrelaçamento entre reconhecimento e auto-realização.
(Honneth, 2007, p. 120)

Assim este indivíduo que vem de um reconhecimento na esfera da


singularidade suprindo sua carência no contexto familiar começa a ter um
contato com algo novo e passa a ter novas carências nas relações de mercado
de trabalho, desta forma ele pode desenvolver suas habilidades e capaz de se
tornar útil a sua sociedade, sendo dessa forma reconhecido e reconhecendo os
demais membros como cidadãos que têm direitos e deveres, deixando de ser
um individuo preocupado com seus desejos singulares, passando dessa forma
a exercer funções públicas despreocupado com sua carência natural de cunho
privado, tornando assim um membro da sociedade.
Axel Honneth diz que as relações da linha do reconhecimento
intersubjetivo “família”e “sociedade civil” buscam construir um sujeito que
estará incluído dentro de um “Estado”, o indivíduo de forma racional poderá
desenvolver suas habilidades possam ser empregadas em um benéfico
universal, é nesta esfera que nosso autor diz que o indivíduo realmente
consegue se reconhecer como um sujeito social em sua universalidade, aqui
ele pode fazer uso de seus direitos e deveres, ou como nosso autor diz, se
autodeterminar.
Como vimos às relações de reconhecimentos em cada uma de suas
esferas tem como ligação uma necessidade de suprir uma carência, uma vez
que na família as relações entre as necessidades dos cônjuges ou pais e filhos,
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são dispostas através de uma carência natural, ou a relação intima entre esses
indivíduos que confiam uns nos outros: “[...] amar uma outra pessoa significa
comporta-se em face desta tendo consciência de que eu sem ela ‘eu me’
sentiria insuficiente e incompleto (§ 158, Adeno); (HONNETH, 2007, p. 125),
na sociedade civil o reconhecimento dar-se através das relações de mercado
de trabalho podendo assim o indivíduo se autorrealizar desenvolvendo sua
autonomia tornando-se uma pessoa de direito individualizado; no Estado a
universalidade do sujeito social seus interesses particulares não se sobre põem
ao interesse coletivo, surgindo assim o conceito de “liberdade pública”, no qual
as relações políticas tem interesses da “vontade” democrática.

Conclusão

A teoria crítica de Honneth tem como objetivo reatualizar a teoria social


de Hegel, mostrando a evolução de sua teoria crítica através da luta pelo
reconhecimento, no qual o indivíduo tende a reconhecer que o outro possui as
mesmas vontades de realizações que as suas. Nas esferas do
reconhecimento, Honneth procura delinear bem a evolução do reconhecimento,
desde a parte mais singular que é o amor, a qual mostra a necessidade do
indivíduo e sua carência, de forma que, através do reconhecimento
intersubjetivo, ele passa a ter sua autoconfiança, passando pela sua
particularidade no direito, no qual a pessoa evolui à sua autorrealização até o
reconhecimento intersubjetivo da solidariedade em sua universalidade, esfera
essa que o sujeito adquire sua autodeterminação.

Axel Honneth mostra que a teoria critica procura superar as patologias


sociais próprias de nossa modernidade política, cultural, econômica etc.; além
disso, procura mostrar como o reconhecimento intersubjetivo individual e social
pode mudar a forma como cada um trata seus pares, procurando, através de
uma concepção de justiça normativa, respeitar a liberdade de seus indivíduos,
podendo assim formar uma sociedade com mais dignidade e respeito à pessoa
humana, as quais possam exercer seus direitos sociais de uma forma plena.

Para Honneth, em cada esfera social, há um conceito de justiça; a


liberdade, para Honneth, é legitima na medida em que é conseguida de forma
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dialógica, de modo que, para além do bem-estar do indivíduo, é a realização da


sociedade, através de sua autodeterminação, que é o cerne da ação e da
reflexão em termos de justiça social.

quando Charles Taylor ou Jürgen Habermas, por exemplo, perseguem de maneiras distintas o
projeto de um diagnóstico das patologias sociais. É típica dessa forma de diagnóstico de
época, ou seja, da tentativa de uma crítica das patologias sociais, sua construção conceitual
essencialmente exigente: ela começa categorialmente pelas pretensões normativas de uma
determinada época para em seguida se perguntar se no processo de realização dessas
pretensões não surgiram fendas ameaçadoras na autorelação e na relação social humanas,
para as quais são empregados conceitos tão diversos como "alienação", "reificação", "anomia"
ou, justamente, "patologia".

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